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Sociedade, Comunicação e Cultura Aula 19 Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho Este material é parte integrante da disciplina oferecida pela UNINOVE. O acesso às atividades, conteúdos multimídia e interativo, encontros virtuais, fóruns de discussão e a comunicação com o professor devem ser feitos diretamente no ambiente virtual de aprendizagem UNINOVE. Uso consciente do papel. Cause boa impressão, imprima menos. Aula 19: Sociologia clássica — Max Weber Objetivo: Compreender a sociologia de Max Weber, como o pesquisador inovou o método científico e colocou o ser humano no centro das pesquisas sociológicas, bem como a importância da religião na conduta humana. O pensamento de Max Weber Max Weber (1864–1920) viveu na Alemanha no final do séc. XIX e começo do XX, período de grandes transformações na história mundial e de intensa industrialização na Alemanha. Como acadêmico, preocupou-se com as transformações sociais que ocorriam no período e como o pensamento e a prática científica poderiam interferir nesse processo de mudanças. No entanto, sempre se preocupou, como Durkheim, em conferir o caráter científico à Sociologia. Weber considerava que o sociólogo, enquanto cientista social, a partir do momento que se propusesse a ir a campo, deveria assumir uma posição neutra, não podendo ter preferências políticas e ideológicas para não contaminar o trabalho. A neutralidade científica é o que faria a diferença na análise dos fenômenos sociais. Sua maior preocupação foi em isolar a Sociologia dos movimentos revolucionários da época que tanto inflamavam os ânimos de todos, pois, em sua concepção, a ciência deveria oferecer a compreensão da conduta, das motivações e, assim, as consequências dos atos humanos. A Sociologia deveria ser, portanto, um conjunto de técnicas neutras para a compreensão da realidade social. Seu método Para Weber, o ponto-chave das investigações sociais era o indivíduo e a sua ação. Em sua concepção, era preciso analisar o papel das pessoas e as suas ações individuais. Pois a sociedade deveria ser entendida a partir das interações sociais. Julgava ser preciso compreender as intenções e as motivações dos indivíduos que vivenciam as situações sociais de forma clara e objetiva, pois a ação social é o que dá sentido à ação individual, que, por sua vez, é orientada pelo comportamento e valores dos indivíduos e dos grupos, sendo fundamental para a organização da sociedade humana. Em sua proposta metodológica, Weber quer colocar o ser humano no centro das preocupações sociológicas e por isso caminha contra a corrente, pois as teorias científicas desenvolvidas durante o século XIX privilegiavam os fenômenos coletivos, a exemplo de Marx e Durkheim, que buscavam compreender as classes e os agrupamentos sociais, os fenômenos trabalhistas a partir do coletivo e não do indivíduo. Ousadamente, Weber reformulou o método científico e propagou que a tarefa do sociólogo é captar o sentido das condutas humanas e extrair o conteúdo simbólico da ação que o configura, bem como as subjetividades, pois não considerava possível e nem suficiente explicar um fenômeno social apenas como resultado da relação entre causas e efeitos, como propunha as ciências positivistas naturais. Essa metodologia, chamada de método compreensivo, foi amplamente defendida por Weber e consiste em entender sob todos os aspectos o sentido que as ações de um indivíduo contêm e não apenas o aspecto exterior dessas mesmas ações. Para realizar esse tipo de análise compreensiva, o pesquisador formula o conceito de “tipo ideal”, que é o ponto de partida para a compreensão dos fenômenos sociais a partir de parâmetros estabelecidos de comportamento, de ação e de dominação, recursos considerados essenciais para a compreensão dos comportamentos sociais, permitindo analisar as formas de ação social. Tipos de ação social Weber definiu quatro tipos de ação social: • Ação tradicional: que se baseia nas tradições e costume. Ex.: festa de Natal, de aniversário. • Ação afetiva: baseada em sentimentos e afetividade, não racional. Ex.: torcer por um time. • Ação racional orientada para valores: racional, a ação é importante e não os fins. Ex.: trabalho voluntário ou missionário, em que o retorno não é o dinheiro ou prestígio final, mas a missão. • Ação racional orientada pra fins: racional, o importante é o resultado. Ex.: empresa capitalista. Apesar de existirem em todas as sociedades humanas, essas ações são exercidas de forma diferente em cada uma delas. Nas sociedades antigas e feudais, prevaleciam os tipos tradicionais e afetivos, pois tanto a família quanto a religião exerciam um papel fundamental nessas sociedades. Já nas sociedades capitalistas, o que predomina são as ações racionais, com planejamento eficiente e com metas orientadas pra fins lucrativos. Para Weber, o comportamento social pautado na racionalidade é o que caracteriza a sociedade moderna e a que subordinam a tradição, os afetos e os valores à racionalidade, levando ao “desencantamento do mundo”, pois o ser humano passa a maior parte do seu tempo em busca do trabalho de onde tirar todo a sua satisfação. Tipos de dominação e autoridade Weber descreveu também a existência de três tipos puros de dominação nas sociedades modernas: • A tradicional: que respeita os costumes e as regras. É o tipo em que o indivíduo ocupa posição de autoridade independentemente do controle de um corpo administrativo. A autoridade e as prerrogativas pessoais são mais extensas. Ex.: coronéis, soberanos e patriarcas antigos ou medievais. • As carismáticas: capacidade de liderança e comando, em que se almeja estabelecer uma nova ordem. • A Racional-legal: assentada na noção de direito que se liga aos aspectos racionais e técnicos da administração. Racionalidade e justiça se fundem. Ex.: sociedades modernas. Atua com base nas leis e regulamentos e precisa de formação técnica. Enquanto pesquisador da sociedade, Weber procurou dar conta de todos os temas que perpassam a sociedade e movem o ser humano, por isso sua produção acadêmica abrange vários temas, como: religião, direito, arte, economia, política, burocracia. Numa de suas produções mais famosas, A ética protestante e o espírito do capitalismo (1904–1905), Weber vincula o nascimento do capitalismo à doutrina calvinista da predestinação, na qual consideravam que todos nós nascemos com o destino traçado: uns nascem para servir e outros para ser servido; portanto Weber aponta à consequente interpretação do êxito material como garantia da graça divina e as implicações das orientações religiosas na conduta econômica do indivíduo, considerando as contribuições dos valores éticos protestantes na formação do moderno capitalismo que levaram o indivíduo a valorizar o trabalho e a considerar o sucesso econômico como bênção de Deus. O capitalismo Para Weber, o capitalismo é uma forte expressão da modernização e da racionalidade que se caracterizava pela busca contínua de rentabilidade por meio de empreendimentos científicos e racionais, associados à ética protestante com outros fatores políticos, tecnológicos e econômicos. O pesquisador observou que nas sociedades ocidentais, o protestantismo desenvolveu uma ética a partir do ascetismo e valorização do trabalho, que então passou a ser considerada uma virtude, em que o ideal era o trabalho baseado nas seguintesposturas: disciplina, parcimônia, discrição e poupança. Esses novos valores defendidos pelas seitas protestantes alteraram a conduta de diversos grupos dirigentes e elites econômicas. Diferente das sociedades da Idade Média, em que a nobreza considerava o trabalho ofício de escravo, indigno das elites e o ócio uma virtude e privilégio dotado por Deus, nesse novo processo de modernidade a sociedade passou a rejeitar o desperdício, o luxo e o ócio e a começa a valorizar o trabalho, a poupança, a pontualidade e a racionalidade, consolidando um novo estilo de vida que tinha significado religioso (fé no trabalho) e efeito econômico (acumulação e investimento). O que fica claro é que sem a ética protestante, o capitalismo moderno teria evoluído de forma diferente, pois para ser capitalista, não basta ao homem moderno ter dinheiro, era preciso desenvolver outras qualidades como conduta racional, metódica e científica. Rapidamente essa noção de trabalho como conduta que enobrece e dignifica o homem e o ócio e a preguiça como pecados a serem combatidos se expandem por outras culturas e diferentes religiões, passando a fazer parte de diversas classes sociais e culturas mundiais. Considerações finais Para finalizar, Weber prioriza em seus estudos o papel dos atores e as suas ações individuais. A sociedade deve ser entendida a partir do conjunto de ações e interações sociais. As estruturas sociais são a base das sociedades modernas e moldam o ser humano, no entanto, o que Weber priorizou sempre foi o estudo do indivíduo enquanto ser individual e social. * O QR Code é um código de barras que armazena links às páginas da web. 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