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Resumo Direito Constitucional até Contrlole Difuso e Concentrado

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CAPÍTULO I
Direito Constitucional: 1- Conceito. 2 - Classificação.
I.1. CONCEITO 
O objeto de estudo do Direito Constitucional é a Constituição. Mas o que é a Constituição? Qual papel deve desempenhar?
A concepção de uma lei fundamental está relacionada ao contexto histórico-social dos indivíduos a qual é dirigida. 
A tarefa, como se percebe desde o início, não é nada fácil. Definir constituição passa necessariamente pela delimitação de quais tarefas ou funções devem ser confiadas à constituição de um determinado Estado. Em outras palavras, é necessária a demarcação das matérias que merecem ter dignidade constitucional.
Diz Canotilho que na formulação do que deva consistir uma constituição, deve-se decidir entre um conceito que coloque a constituição como uma lei do Estado, e só dele, ou seja, uma lei que se limite a enumerar uma ordem de competências, bem como a disciplinar a forma como o Estado se organiza, ou, por outro lado, deve a constituição ser o estatuto jurídico do fenômeno político em sua totalidade, que não cuide apenas do Estado, mas também de toda a sociedade.
I.2. CLASSIFICAÇÃO 
Afinal, para que algo possa ser chamado de Constituição quais matérias necessariamente devem estar presentes (conceito material de Constituição)? 
A idéia de um núcleo material mínimo que toda Constituição deve ter vem da Revolução Francesa de 1789, movimento que culminou no surgimento do constitucionalismo, o qual significava que o Estado, antes absolutista e ilimitado em seu poder, passava, agora, a estar submisso a uma Constituição. Foi o nascimento do Estado de Direito (Estado que busca seu fundamento de validade não mais no poder divino do monarca, mas no direito).
De acordo com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em sua cláusula XVI (1789 – texto integral pode ser consultado em http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/declaracao.htm), “Toda a sociedade na qual a garantia dos direitos não é assegurada, nem a separação dos poderes determinada, não tem Constituição.” Logo, naquele momento inicial do constitucionalismo, fixou-se a idéia de que a Constituição teria que ter disciplinada em seu corpo, no mínimo, a separação de poderes e os direitos e garantias individuais (no estudo dos direitos fundamentais abordaremos a diferença entre direitos e garantias fundamentais).
Define-se como formalmente constitucional (conceito formal) tudo o que está escrito na Constituição ou subentendido. Numa concepção moderna (atual) tudo o que está escrito (formal) adquire automaticamente status de norma materialmente constitucional.
Dessa forma, no Brasil, atualmente, os conceitos de constituição formal e material praticamente se equivalem, tendo em vista a característica da Constituição brasileira (prolixa). No entanto, em outros Estados que adotam Constituições sintéticas, muitas vezes ainda identificadas com a idéia de núcleo mínimo material fixado na Revolução Francesa (ex: Constituição dos EUA), a Constituição formal (tudo o que está escrito na Carta) e a material não se equivalem, tendo em vista que existem atualmente outros direitos de dignidade constitucional que não fazem parte dos conceitos de separação de poderes e rol de direitos e garantias individuais (ex: meio ambiente). Um bom exemplo de normas materialmente constitucionais que não são formalmente constitucionais, na Constituição de 1988, são os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos (art. 5.º, §§ 2º e 3º). 
Importante: a idéia de que existem normas na Constituição que não seriam materialmente constitucionais está ultrapassa, pois não existe hierarquia entre as normas previstas na Constituição (princípio da Unidade da Constituição).
As classificações seguintes seguem proposta elaborada por JOSÉ AFONSO DA SILVA.
As Constituições são classificadas, também, quanto à forma/modo de elaboração: escritas/dogmática e não escritas/históricas. Diz-se ESCRITA quando codificada e sistematizada num único texto. Por sua vez, será NÃO ESCRITA a Constituição cujas normas não constam de um documento único e solene, mas se baseie principalmente nos costumes, leis esparsas, jurisprudência e convenções (ex: Constituição inglesa).
Quanto à origem: populares e outorgadas. POPULARES são as que se originam de um órgão constituinte composto de representantes do povo, eleitos para o fim de elaborar e estabelecer uma Constituição. OUTORGADAS são as elaboradas sem a participação popular, impostas por um governante (Rei, Imperador, Presidente, Junta Governativa, Ditador).
Finalmente, quanto à estabilidade: rígidas, semi-rígidas e flexíveis. RÍGIDA é a Constituição somente alterável mediante processos, solenidades e exigências formais especiais, diferentes e mais difíceis que os da formação/alteração das leis ordinárias e complementares (ex: Constituição brasileira de 1988). FLEXÍVEL quando pode ser livremente modificada, não existindo qualquer diferença no processo de formação/alteração em relação às leis infraconstitucionais. (ex: Constituição inglesa) SEMI-RÍGIDAS quando contém parte das normas submetidas aos critérios rígidos e outra parte podendo ser livremente modificada (flexível). Ex: Constituição do Brasil Imperial (1824).
	
CAPÍTULO II
1 - Concepções de Constituição. 2 - Força Normativa. 3 - Constituição Garantia e Constituição Dirigente.
II.1- CONCEPÇÕES DE CONSTITUIÇÃO 
Existem três principais concepções de Constituição: sociológica, política e jurídica.
CONCEPÇÃO SOCIOLÓGICA – o expoente maior dessa corrente foi o advogado e sindicalista alemão FERDINAND LASSALLE, com sua obra “A essência da Constituição” publicada com base em sua célebre conferência realizada em 1863 no Sindicato dos Trabalhadores da Prússia. Para Lassalle, existiam duas constituições diferentes as quais denominou de Constituição real (efetiva, integralizada pelos fatores reais de poder que regem a sociedade) e outra Constituição, escrita, a qual denominou Constituição folha de papel.
Em sua concepção, uma constituição escrita seria boa e duradoura quando correspondesse à Constituição real, possuindo suas raízes fincadas nos fatores reais de poder que regem o país. Do contrário, não havendo essa identidade entre a Constituição escrita e Constituição real, aquela inevitavelmente, sendo mera folha de papel, sucumbiria perante a Constituição real.
CONCEPÇÃO POLÍTICA – defende-a CARL SCHMIT. A Constituição é o estatuto jurídico do político. Nessa perspectiva, há uma institucionalização do poder. Toda matéria relacionada a governantes e governados é matéria essencialmente política. A Constituição é mera criação do poder político.
Carl Schmitt (Teoria da Constituição), propugnando uma Teoria Material da Constituição, distinguiu Constituição e Lei Constitucional. Nas palavras de Durval Carneiro Neto, Carl Schmitt atribuiu à Constituição “caráter exclusivamente político, reservando à segunda (Lei Constitucional) a natureza jurídica normativa. Assim, o conteúdo material da Constituição se restringe aos aspectos fundamentais da criação do Estado, enquanto os demais assuntos, ainda que estejam formalmente inseridos no texto da Carta Magna, compõem a Lei Constitucional, eis que poderiam ser perfeitamente tratadas pela legislação inferior.”
CONCEPÇÃO JURÍDICA – temos o clássico e polêmico HANS KELSEN, que formulou uma Teoria Pura do Direito, dissociado de toda e qualquer influência social e/ou política. Para Kelsen, o fundamento de validade de uma norma apenas pode ser a validade de uma outra norma, contrapondo-se, dessa forma, a idéia de fatores reais de poder, expurgando do Direito as influências político-sociais. Cria a idéia de um ordenamento jurídico escalonado (ordem normativa/sistema de normas), onde as normas inferiores buscam sua validade nas superiores. No topo de todo o sistema encontra-se a norma fundamental, “pressuposta, visto que não pode ser posta por uma autoridade, cuja competência teria que se fundarnuma norma ainda mais elevada.” 
Kelsen identifica duas espécies de Constituição: uma em sentido lógico-jurídico e outra em sentido jurídico-positivo. A Constituição positivada, escrita ou costumeira, a qual conhecemos, é identificada como Constituição em sentido jurídico-positivo, que encontra seu fundamento de validade na norma fundamental (Constituição em sentido lógico-jurídico), não sendo esta última uma norma positiva, mas pressuposta, sendo considerada o fato fundamental da criação jurídica.
II.2 FORÇA NORMATIVA 
Contrapondo-se essencialmente à idéia lançada por Lassalle, o jurista alemão Konrad Hesse, em sua clássica obra “A força Normativa da Constituição”, defende que o embate travado entre a Constituição Folha de Papel e os fatores reais de poder, nem sempre terminará em sucumbência da Constituição Jurídica. Para Hesse, a Constituição não se resume a meras folhas de papel, existindo em sua essência pressupostos realizáveis que, em caso de confronto com os fatores reais de poder, permitem assegurar aquilo que denominou de força normativa da Constituição.
Hesse lança uma série de questionamentos fundamentais: 1) Existiria, ao lado do poder determinante das relações fáticas, expressas pelas forças políticas e sociais, também uma força determinante do Direito Constitucional? 2) Qual o fundamento e o alcance dessa força do Direito Constitucional? 3) Não seria essa força uma ficção necessária para o constitucionalista, que tenta criar a suposição de que o direito domina a vida do Estado, quando, na realidade, outras forças mostram-se determinantes?
Propõe, inicialmente, que sejam abandonadas as concepções radicais nas quais a norma é considerada isoladamente, ou, no outro extremo, a realidade política e social abandona qualquer normatividade, posto que, “eventual ênfase numa ou noutra direção leva quase inevitavelmente aos extremos de uma norma despida de qualquer elemento de realidade ou de uma realidade esvaziada de qualquer elemento normativo”. 
Nesse sentido, a Constituição real e a Constituição Jurídica estão numa relação de coordenação, sendo que a Constituição Jurídica tem significado próprio, possuindo força normativa sempre que observar determinados pressupostos concernentes às realidades culturais, sociais, políticas e econômicas dominantes em seu tempo, adquirindo força ativa sempre que existir no seio da sociedade a vontade de Constituição, no sentido de orientar a própria conduta segundo a ordem jurídica nela estabelecida.
Dessa forma, a Constituição Jurídica terá mais força normativa na medida em que mais se aproximar do espírito de seu povo, da realidade histórica concreta do seu tempo. Deve ter caráter sintético, a fim de mais facilmente se adaptar às mudanças na realidade sócio-política (constantes revisões constitucionais levam a uma inevitável desvalorização da força normativa da Constituição). Precisa haver respeito à Constituição - vontade de Constituição - por parte, principalmente, dos responsáveis pela ordem jurídica (fatores reais de poder). Finalmente, deve-se aplicar o princípio da máxima efetividade (ótima concretização da norma) na interpretação dos preceitos constitucionais, exercitando-se interpretações construtivas, respeitada a finalidade da norma constitucional.
Assim, somente quando os pressupostos acima não puderem ser realizados é que o problema de eficácia da Constituição se converterá numa questão de poder, ocorrendo, efetivamente, tal como preconizado por Lassalle, a derrota da Constituição Jurídica em face da Constituição real.
II.3. CONSTITUIÇÃO GARANTIA E CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE 
Com o surgimento do Constitucionalismo (normatização e limitação do poder político) no século XVIII, nasce o conceito de CONSTITUIÇÃO GARANTIA, que significava a limitação do poder político – reação da burguesia ao absolutismo - e a garantia de direitos individuais. Tem-se que ter em mente o momento histórico no qual aflorou tal conceito (final do século XVIII). Assim, a Constituição Garantia era um documento que estruturava o Estado, fundando, normatizando e limitando o poder político, além de estabelecer um rol de direitos e garantias individuais (Direitos Fundamentais de 1ª Geração), consubstanciados em direitos negativos (postura passiva do Estado em face de tais direitos. Ex: direitos à liberdade e propriedade). O conceito de Constituição Garantia se identifica com a idéia de núcleo material mínimo da Constituição, não se confundindo, entretanto, com as chamadas cláusulas pétreas existentes na maior parte das Constituições, que enunciam matérias imutáveis nas Constituições.
Já no século XX, aquele núcleo mínimo (Constituição Garantia), passou a conviver com a necessidade de constitucionalização de outras matérias não concernentes à limitação do poder político e direitos individuais. Nasce o conceito de CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE, que além de assegurar os direitos e garantias individuais e versar sobre a estrutura do Estado, traça caminhos, metas, ou seja, dirige a nação no sentido de realização de projetos. A 2ª Guerra Mundial é o marco histórico do surgimento de tal concepção, culminando com a inclusão dos direitos sociais (2ª Geração) nas Constituições modernas.
CAPÍTULO III
1 – Normas Constitucionais: a) distinção entre regras e princípios; b) conflito de normas; c) aplicabilidade. 2 - Princípios de Interpretação Constitucional.
III.1. a) DISTINÇÃO ENTRE REGRAS E PRINCÍPIOS 
O constitucionalista português GOMES CANOTILHO propõe a superação da tradicional distinção entre normas e princípios. Ensina que há uma relação de gênero/espécie entre as normas (gênero) e as regras e princípios (espécies). Assim, todos os princípios são necessariamente normas, mas nem todas as normas são princípios. 
Para distinção de regras e princípios (espécies de normas) deverão ser analisados alguns aspectos. O mais fundamental de todos é o grau de abstração. 
Os princípios têm um grau de abstração maior, possuem pouca densidade (menor certeza quanto ao conteúdo), encerrando normas mais gerais. Quando se fala em maior grau de abstração se quer dizer que os princípios não têm como função regular situações determinadas, demandando, dessa forma, para sua aplicação aos casos concretos, uma mediação (complementação), que pode ser de ordem legislativa (lei) ou concretizadora (intérprete – aplicador do direito). Concretizar um princípio é buscar a norma genérica que ele propõe e aplicá-la ao caso concreto. Quanto maior o grau de abstração das normas, maior será a necessidade de mediação, seja legislativa, seja concretizadora. Exemplos de princípios com alto grau de abstração: isonomia (art. 5º, I), dignidade da pessoa humana (art. 1.º, III), Estado democrático (art. 1.º, caput). 
Fala-se, ainda, que os princípios são normas de natureza fundamental no ordenamento jurídico devido à sua posição hierárquica no sistema das fontes (os princípios criam regras – caráter normogenético).
Por sua vez, as regras possuem um menor grau de abstração, sendo mais específicas, possuindo maior densidade, maior grau de determinabilidade. No trabalho de aplicação da regra não haverá grande dificuldade de o intérprete determinar o alcance de seu conteúdo. Exemplo de regra de baixo grau de abstração: art. 18, § 1.º (Brasília é a Capital Federal).
Traçando uma conhecida analogia entre o sistema jurídico e um edifício, os princípios formariam a base de sustentação do edifício, seus pilares. Dessa forma, edifício completo não é formado apenas de princípios, mas também de regras. Um sistema jurídico formado unicamente de princípios geraria pouca segurança jurídica, valor essencial em todo sistema de normas, pois seu alto grau de abstração não permitiria a fácil e segura resolução de problemas mais corriqueiros. Por sua vez, um sistema formado unicamente de regras seria extremamente limitado, pois não permitiria uma ação concretizadora do intérprete, impedindo que o direito se adaptasse às evoluções sociais.
Conclui-se, portanto,que o sistema jurídico constitucional é um sistema aberto de regras e princípios, no qual as normas captam as mudanças na realidade social, incorporando-as ao sistema jurídico. É o que Canotilho denominou de Constituição Aberta.
III.1.b) CONFLITO DE NORMAS 
Tratando as normas de regras e princípios, teremos as seguintes possibilidades de conflitos: a) regras X regras; b) princípios X princípios.
Quando houver um conflito entre regras, temos uma ANTINOMIA, que se resolve pela lógica do tudo ou nada, ou seja, duas regras não podem coexistir quando estiverem em conflito, resolvendo-se a antinomia pela aplicação dos seguintes critérios:
Critério hierárquico – prevalece a regra de hierarquia superior. Assim, utilizando-se da pirâmide normativa traçada por Kelsen, regras previstas na Constituição prevalecem sobre as previstas em leis. Estas prevalecem sobre os Decretos;
Critério temporal – tratando-se de regras de mesma hierarquia, prevalece a mais recente (posterior);
Critério da especialidade – a regra especial prevalece sobre a regra geral.
Se o conflito de regras pode ser resolvido pela aplicação dos critérios acima, trata-se de um conflito aparente, posto que o próprio sistema jurídico prevê a solução do suposto conflito. No entanto, quando os critérios supra não se mostrarem suficientes para a resolução do conflito, temos um conflito real, uma antinomia, resolvendo-se o conflito pela prevalência de uma regra sobre a outra, cabendo ao intérprete solucionar tal conflito, através da aplicação dos princípios de interpretação (ex: numa mesma lei os artigos 2º e 14 tratam do mesmo assunto de forma conflituosa).
Se o conflito detectado é entre princípios, a lógica a ser observada não é a do tudo ou nada, pois os princípios, ao contrário das regras, podem coexistir mesmo que encerrando valores contraditórios, que se opõem, devendo o intérprete buscar uma harmonização entre os mesmos, realizando uma ponderação de interesses (valores) quando for resolver o caso concreto. Não há, portanto, uma antinomia entre princípios, mas sim uma coexistência, embora conflituosa, resolvendo-se os conflitos somente diante dos valores concretos detectados, sem que a prevalência de um signifique a aniquilação do outro princípio.
Havendo conflito entre regras a solução é dada pela validade da regra, excluindo-se uma das regras em conflito. Tratando-se de conflito entre princípios, sua solução é ditada pelo peso de cada princípio no caso concreto, não resultando, tal solução, na invalidade de um dos princípios, mas, tão-somente, na sua prevalência (precedência) diante do problema concreto.
Podemos exemplificar a colisão natural entre princípios nos casos de liberdade de expressão (art. 5.º, IV e IX) e o direito à privacidade (art. 5.º, X). São valores que naturalmente se opõem. Somente diante do caso concreto é que o intérprete, levando-se em consideração o peso de cada um dos princípios em conflito, definirá qual deve prevalecer, sem que isso signifique a invalidade do outro.
Todas as normas constitucionais, sejam elas regras ou princípios, têm força normativa (eficácia), diferindo, somente, no que tange ao grau de aplicabilidade (item seguinte).
III.1. c) APLICABILIDADE 
O professor JOSÉ AFONSO DA SILVA, em sua obra Aplicabilidade das Normas Constitucionais tornou célebre a classificação das normas constitucionais, quanto à sua aplicabilidade, em: I – normas de eficácia plena; II - normas de eficácia contida; III – normas de eficácia limitada.
São de eficácia plena as normas que produzem ou têm possibilidade de produzir todos os efeitos a que se prestam, sem que haja a necessidade de complementação legislativa. Exemplo: art. 37, III (prazo de validade dos concursos públicos).
As normas constitucionais de eficácia contida, na lição de José Afonso da Silva, são aquelas que o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a determinada matéria, mas deixou margem à atuação restritiva por parte da competência discricionária do poder público, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nelas enunciados. Em outras palavras, são de eficácia contida as normas constitucionais que produzem normalmente os seus efeitos previstos pelo poder constituinte, mas poderão tais efeitos ser restringidos pelo legislador infraconstitucional. Exemplo: art. 5º, XIII (livre exercício da profissão de advogado e as respectivas restrições legais – Lei nº 8.906/94).
Finalmente, são de eficácia limitada as normas constitucionais que somente estão aptas a produzirem seus efeitos após uma complementação infraconstitucional que lhes completem e lhes confiram plena aplicabilidade. Sem referida normatividade ulterior, as normas constitucionais de eficácia limitada produzem efeitos mínimos (ler observação abaixo). Não estão, ainda, hábeis a produzir ou restringir direitos e obrigações. Exemplo: Direito de greve para os servidores públicos (art. 37, VII). Há quem divida as normas de eficácia limitada em normas de princípio institutivo (contém um esquema geral, um início de estruturação de determinados institutos jurídicos. Ex: art. 37, VII) e normas programáticas (estabelecem um programa de ações a serem adotadas pelo Estado – legislador e executor).
Obs: as normas de eficácia limitada produzem uma espécie de efeito negativo, na medida em que tais normas servem de orientação para o legislador, impedindo que seja editada lei em sentido contrário à norma de eficácia limitada. Caso ocorra tal comportamento, mesmo que ainda não complementada a norma de eficácia limitada, esta poderá fundamentar a declaração de inconstitucionalidade da lei que contiver cláusula contrária ao que prescreve. São, portanto, paradigma para controle de constitucionalidade.
Vale mencionar, ainda, a classificação das normas constitucionais como auto-aplicáveis e não auto-aplicáveis. São auto-aplicáveis as normas constitucionais que dispensam uma complementação ulterior por parte do legislador infraconstitucional. A contrario sensu, não são auto-aplicáveis as normas que, para produzirem seus efeitos, demandam referida intervenção legislativa.
III.2 - PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL 
Na árdua tarefa de interpretação das normas constitucionais o hermeneuta não pode prescindir dos princípios de interpretação constitucional, que funcionam como vetores, guiando o aplicador do direito na busca do alcance da norma. São princípios de interpretação constitucional:
PRINCÍPIO DA UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO – a Constituição não é um emaranhado de normas. Trata-se, na realidade, de um documento orgânico, formando um corpo único. Ao se interpretar determinada norma constitucional deve-se levar em conta todo o sistema constitucional e não unicamente a norma interpretada, objetivando compatibilizar as diversas normas previstas na Constituição. Assim, não existem normas constitucionais originárias inconstitucionais (as emendas constitucionais, como veremos adiante, podem ser objeto de controle de constitucionalidade). Não há falar em conflito real (antinomia) entre as normas constitucionais, pois todas compõem um sistema harmônico. 
PRINCÍPIO DA CONCORDÂNCIA PRÁTICA OU HARMONIZAÇÃO - Tampouco existe hierarquia entre as normas constitucionais, devendo-se buscar uma harmonização entre as normas (bens jurídicos no caso concreto) em conflito, de modo a evitar o sacrifício de uma em relação a outra. 
PRINCÍPIO DO EFEITO INTEGRADOR – é aplicado, muitas vezes, juntamente com o princípio da unidade da constituição. Significa que, na resolução dos problemas jurídico-constitucionais prevalecerá um ponto de vista que favoreça a integração política e social. Realça o papel político da interpretação constitucional.
PRINCÍPIO DA MÁXIMA EFETIVIDADE – também denominado máxima eficiência ou princípio da interpretação efetiva, significa que no trabalho de interpretar uma norma constitucional, o hermeneuta deve optar pelo caminho (sentido) que dê maior eficácia anorma constitucional. É bastante utilizado quando da interpretação de normas que encerram direitos fundamentais, no sentido de que, havendo dúvida na sua interpretação, deve-se reconhecer a maior eficácia possível aos direitos fundamentais.
PRINCÍPIO DA FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO – na solução dos problemas jurídico-constitucionais deve-se dar prevalência às soluções que, observando a historicidade das estruturas constitucionais, possibilitam a atualização normativa, garantindo, assim, a eficácia e permanência das normas constitucionais.
PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO DA LEI CONFORME A CONSTITUIÇÃO (PRINCÍPIO DA CONSTITUCIONALIDADE) – na tarefa de interpretar determinada norma infraconstitucional, possuindo tal norma mais de um significado, deve-se optar por aquele que esteja em conformidade com a Constituição. O intérprete, na sua tarefa, deve procurar dar um sentido à norma que seja coerente (conforme) com a Constituição. Desse conceito básico derivam as seguintes proposições: a) dentre as várias possibilidades de interpretação, só se deve escolher uma interpretação não contrária ao texto e programa da norma constitucional; b) uma norma não deve ser declarada inconstitucional quando for possível extrair-se um significado que possa compatibilizá-la com a Constituição, desde que atendida a finalidade para a qual foi criada (o intérprete não pode chegar a ponto de criar uma nova lei); c) quando for possível duas ou mais interpretações que estejam em conformidade com a Constituição, deve-se optar pela interpretação que esteja melhor orientada para a Constituição. Este princípio é nitidamente direcionado ao controle de constitucionalidade das leis, consubstanciando poderoso instrumento de interpretação. Não se confunde, portanto, com a técnica de declaração de constitucionalidade com ou sem redução de texto (será estudada em controle de constitucionalidade), que não é princípio de interpretação, mas técnica de controle de constitucionalidade.
CAPÍTULO IV
1 – Poder Constituinte: a) originário; b) recepção; c) derivado; d) direito adquirido e poder constituinte. 2 – Cláusulas Pétreas. 3 – Mutação Constitucional. 
IV.1.a - PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO 
Em determinados momentos históricos há uma ruptura na situação jurídica vigente, resultante de um movimento revolucionário que instaura uma nova ordem jurídica, cria uma nova constituição, sem que o fundamento de validade de referida Carta Política seja a ordem jurídica até então vigente, mas o próprio poder que a criou, que é denominado de poder constituinte originário.
Esse poder é dotado de três grandes prerrogativas: É INICIAL, ILIMITADO OU AUTÔNOMO E INCONDICIONADO.
É inicial porque inaugura uma nova ordem jurídica. É ilimitado ou autônomo porque não se submete a qualquer limite de conteúdo traçado pela ordem jurídica anterior. Finalmente, é incondicionado porque não se encontra submetido a qualquer regra de forma, podendo se expressar sob qualquer forma (assembléia constituinte ou por meio de ato, constituição escrita ou costumeira, etc).
O poder constituinte, para que seja considerado como originário (inicial, ilimitado e incondicionado) deve ser dotado de eficácia social, isto é, deve se constituir em uma força histórica efetiva apta a realizar os fins a que se propõe. GENARO CARRIÓ, constitucionalista argentino, bem sintetizou a questão da eficácia social dizendo que: “O poder constituinte originário é exercido por quem pode e não por quem quer”, ou seja, por quem detém poder para impor sua vontade à população, seja por consenso, seja por meio da força. Na Constituição de 1988 (art. 5.º, XLIV) a tentativa fracassada de exercício de poder constituinte intitulado originário, ou seja, um atentado contra a ordem jurídica vigente, constitui crime inafiançável e imprescritível.
Tais características foram expostas inicialmente pelo ABADE SIEYÈS em sua obra “O que é o Terceiro Estado?”. Nela, Sieyès vislumbra a possibilidade de se instaurar uma assembléia geral com a presença dos representantes dos três estados (classes), nobreza, alto clero e a burguesia (terceiro estado), a fim de que se estabeleça uma nova ordem jurídica.
Embora a regra para que haja manifestação do poder constituinte originário seja a existência de uma ruptura na ordem constitucional vigente, pode ocorrer, também, uma outra forma de manifestação desse poder constituinte originário, que não pela revolução. Tal se dá com uma reforma política, na qual há a instituição de uma nova ordem jurídica dotada das características típicas do poder constituinte originário (inicial, ilimitado e incondicionado), desde que dotada de eficácia social. Como exemplo temos a nossa Constituição atual (1988), que surgiu não de um movimento revolucionário, mas de uma emenda à Constituição anterior. Tal emenda, a priori, deveria estar submetida aos limites impostos pela ordem jurídica anterior. No entanto, dotada de eficácia social e atendendo aos anseios histórico-sociais, investiu-se nas prerrogativas inerentes ao poder constituinte originário.
A supremacia da Constituição surge do poder constituinte originário, ilimitado. Ocupando a Constituição o ponto mais alto da ordem jurídica, todas as outras normas buscam seu fundamento de validade na Carta Magna. Assim, se determinada norma não respeita a Constituição essa norma não é jurídica, pois toda norma para ser jurídica tem que necessariamente buscar sua validade na Constituição.
IV.I.b RECEPÇÃO 
Por sua vez, o fenômeno da RECEPÇÃO ocorre quando normas editadas anteriormente a Constituição são materialmente compatíveis com a nova ordem jurídica fundada pela nova Constituição, continuando, portanto, a ter normal vigência e eficácia. A recepção por ser expressa ou implícita (tácita). A recepção preocupa-se unicamente com a compatibilidade do conteúdo da norma a Constituição vigente e não com a forma (processo legislativo) pela qual foi elaborada. Assim, embora a Carta vigente exija outra forma para determinada matéria constitucional, se a norma anterior não padeceu de nenhum vício de forma quando editada, sob égide da Constituição anterior e sua matéria é compatível com a Constituição atual, será naturalmente recepcionada. 
O exemplo mais clássico dessa hipótese de recepção é o Código Tributário Nacional (Lei n.º 5.172/66), editado sobre a forma de lei ordinária. Com o advento da Constituição de 1988, a matéria “normas gerais tributárias” passou a exigir a edição de Lei Complementar (art. 146, III), sem que isso impedisse a recepção da Lei n.º 5.172/66 (lei ordinária), que materialmente era compatível com a nova ordem constitucional. As alterações ao CTN, no entanto, a partir da Constituição de 1988, passaram a exigir lei complementar.
Outro é o problema se detectado que a norma anterior é materialmente incompatível com a nova Constituição. A doutrina traça duas respostas: 1) há a revogação da norma; 2) há a inconstitucionalidade superveniente da norma em face da Constituição atual.
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI nº 2/DF, Relator Min. PAULO BROSSARD, confirmou entendimento já fixado sob a égide de Constituições anteriores, no sentido de que há a revogação hierárquica da norma anterior pela Constituição posterior, se com esta materialmente incompatível. Segue a ementa:
“CONSTITUIÇÃO. LEI ANTERIOR QUE A CONTRARIE. REVOGAÇÃO. INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE. IMPOSSIBILIDADE. 
1. A lei ou é constitucional ou não é lei. Lei inconstitucional é uma contradição em si. A lei é constitucional quando fiel à Constituição; inconstitucional na medida em que a desrespeita, dispondo sobre o que lhe era vedado. O vício da inconstitucionalidade é congênito à lei e há de ser apurado em face da Constituição vigente ao tempo de sua elaboração. Lei anterior não pode ser inconstitucional em relação à Constituição superveniente; nem o legislador poderia infringir Constituição futura. A Constituição sobrevinda não torna inconstitucionais leis anteriores com ela conflitantes: revoga-as.Pelo fato de ser superior, a Constituição não deixa de produzir efeitos revogatórios. Seria ilógico que a lei fundamental, por ser suprema, não revogasse, ao ser promulgada, leis ordinárias. A lei maior valeria menos que a lei ordinária. 2. Reafirmação da antiga jurisprudência do STF, mais que cinqüentenária. 3. Ação direta de que se não conhece por impossibilidade jurídica do pedido.”
A conseqüência da adoção de referido entendimento (revogação hierárquica) é que a norma em tela, editada sob a égide da Constituição anterior, não poderá ser objeto de controle de constitucionalidade pela via direta (ADI), porque tal ação só se presta a examinar a compatibilidade (validade) de norma com a Constituição vigente (constitui exceção a tal preceito a possibilidade de controle de norma anterior à Constituição através da Ação por Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF). Outra conseqüência, é o afastamento do princípio da reserva de plenário (art. 97 da CF/88), que exige o voto da maioria absoluta dos membros do tribunal ou respectivo órgão especial para declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo. Assim, tratando-se de lei ou ato normativo anterior à Constituição de 1988 e com esta incompatível, o Tribunal poderá declarar a sua revogação (não se trata de inconstitucionalidade, como assinalado supra) através de seus órgãos fracionários (Turmas, Câmaras, Seções).
Se o STF tivesse adotado o outro entendimento, da inconstitucionalidade superveniente, tal norma anterior à Constituição de 1988 poderia ser objeto de controle de constitucionalidade via Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) em face do texto da Constituição de 1988, sendo que o controle difuso exercido nos Tribunais teria que ser exercitado com observância da cláusula de reserva de plenário (art. 97).
Em relação às normas previstas na Constituição anterior (1969), prevalece o entendimento de que ficam automaticamente revogadas pela nova Constituição (1988), mesmo que com esta compatíveis. Não há falar em recepção de normas da Constituição anterior.
IV.1.c. PODER CONSTITUINTE DERIVADO 
Também chamado de poder constituinte instituído, se manifesta através do poder de reforma (revisão) da Constituição e nos Estados Federalistas, no poder de auto-organização dos Estados-membros, tal como no Brasil, Estado Federal no qual os Estados-membros possuem suas Constituições, que são expressão do poder constituinte derivado.
Esse poder é derivado porque tem como fundamento de validade a própria Constituição (fruto do poder constituinte originário), sendo, portanto, limitado pelos preceitos ditados pelo constituinte originário, estando subordinado a regras e formas traçadas, no caso do Brasil, no texto da Constituição Federal.
Como conseqüência dessa definição, concluiu-se que o poder constituinte exercido pelos Estados-membros não poderá jamais confrontar a Constituição Federal, posto que subordinada a seus preceitos. Como veremos adiante, em tais casos, cabe, inclusive, controle de constitucionalidade de normas dispostas nas Constituições Estaduais em face da Constituição Federal, expurgando-se do mundo jurídico tal norma se restar configurado o desrespeito à Carta Magna Federal.
O art. 25 da CF/88 prescreve que os Estados-membros, ao se organizarem, deverão observar os princípios adotados pela Constituição Federal. 
De acordo com classificação adotada por José Afonso da Silva, existem duas categorias de princípios constitucionais de observância obrigatória pelos Estados-membros: 1) sensíveis; 2) estabelecidos.
Os princípios constitucionais sensíveis restringem a atividade do poder constituinte derivado e são assim denominados porque a sua inobservância gera a mais traumática de todas as medidas cabíveis no Estado Federal, a intervenção federal. Estão previstos no art. 34, VII da Constituição Federal, de maneira taxativa.
Os princípios constitucionais estabelecidos regulam aspectos da organização interna dos Estados-membros, limitando a atividade do constituinte derivado, no que tange à autonomia organizatória dos Estados-membros. Exemplo de tais princípios são os previstos no art. 37, caput da CF/88 (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência na Administração Pública), de observância obrigatória pelos Estados-membros. Podem expressamente conter o comando que vincula o constituinte derivado ou não, sendo exemplo, no último caso, as regras de reserva de iniciativa de lei conferidas ao Presidente da República quando a matéria versar sobre aumento de remuneração de servidor público (art. 61, § 1.º, II, a), que se estende aos Chefes do Executivo Estadual (Governadores) quando a lei estadual versar sobre aumento de remuneração de servidor público estadual (ADI nº 1060 MC/RS, Relator Min. CARLOS VELLOSO). Aliás, quando o tema versar sobre reserva de iniciativa e limites do poder de emenda parlamentar o STF tem entendido que o modelo federal (previsto na Constituição Federal) é de observância obrigatória pelos Estados-membros, tendo em vista que tais matérias guardam estreita relação com o próprio princípio democrático (princípio constitucional sensível), do qual deriva o princípio da repartição dos poderes (independência e harmonia entre os poderes). Em outros termos, o Excelso Pretório fixou o entendimento de que toda a matéria prevista na Constituição Federal que diga respeito ao relacionamento (harmonia) entre os poderes é de observância necessária pelo constituinte derivado.
Alguns autores ainda falam dos princípios constitucionais extensivos, sendo que, na lição de José Afonso da Silva, tal categoria perdeu sua importância na Constituição atual, restando unicamente a regra prevista no art. 93, V, que trata dos subsídios dos magistrados.
Uma característica marcante do federalismo brasileiro é sua elevada concentração de poderes no ente central (União), o que limita sobremaneira o poder dos Estados-membros. 
A existência dos princípios constitucionais sensíveis e estabelecidos não significa dizer que todos os princípios adotados pela Constituição Federal deverão/poderão ser adotados pelas Constituições Estaduais. O Supremo Tribunal Federal já se manifestou no sentido de que determinados princípios não são de observância obrigatória pelos Estados-membros, ou sequer podem ser seguidos pelo constituinte derivado. Exemplo do último caso diz respeito à norma prevista no art. 86, § 4º da CF/88, que estabelece espécie de imunidade temporária à persecução penal do Presidente da República, que não poderá ser processado por crime decorrente de ato estranho ao exercício de suas funções durante a vigência de seu mandato. No julgamento da ADI nº 978 (Rel. Min. Celso de Mello, DJ 24/11/95), o STF entendeu que “os Estados-membros não poderiam reproduzir em suas próprias Constituições o conteúdo normativo dos preceitos inscritos no art. 86, §§ 3º e 4º, da Carta Federal, pois as prerrogativas contempladas nesses preceitos da Lei Fundamental — por serem unicamente compatíveis com a condição institucional de Chefe de Estado — são apenas extensíveis ao Presidente da República”
Além do poder de auto-organização dos Estados-membros, o poder constituinte derivado se manifesta, também, através do poder constituinte de reforma. Dessa forma, a fim de prevenir um engessamento do texto constitucional, o próprio poder constituinte originário prevê na Constituição a possibilidade de reforma do texto, através de emendas, devendo ser observado um procedimento próprio estabelecido na Constituição. Assim, sendo poder constituinte derivado, o poder de reforma é limitado e condicionado.
Na Constituição Federal existem diversas espécies de limitações ao poder de reforma. Exige-se um quórum qualificado para votação das emendas (votação em dois turnos em cada casa do Congresso Nacional, com aprovação de três quintos dos respectivos membros – art. 60, § 2.º), sendo que a proposta de emenda constitucional – PEC que for rejeitada ou tida como prejudicada só poderá ser objeto denova deliberação na sessão legislativa seguinte (art. 60, § 5º), chamadas de limitações procedimentais. Existem limitações de ordem circunstancial, não se admitindo que a Constituição seja reformada durante a vigência de intervenção federal, estado de defesa ou estado de sítio (art. 60, §1.º). Algumas Constituição (não a Constituição brasileira atual) trazem cláusula estabelecendo limitação temporal (vedam o exercício do poder de reforma durante determinado período. Ex: Constituição imperial - 1824). Finalmente, há as limitações de ordem material (serão abordas mais a frente), que estabelecem a intangibilidade de determinadas matérias do texto constitucional (cláusulas pétreas), que não poderão ser objeto de reforma (art. 60, § 4.º).
IV.1.d. DIREITO ADQUIRIDO E PODER CONSTITUINTE 
Trata-se seguramente de um dos assuntos mais polêmicos em direito constitucional, demandando um exame específico em face do poder constituinte originário e outro exame em face do poder constituinte derivado (reformador).
A pergunta fundamental é: existe direito adquirido em face do poder constituinte originário?
Uma corrente minoritária defende ser possível alegar direito adquirido frente à norma constitucional resultante do poder constituinte originário. Fundamentam tal entendimento em face da previsão contida no art. 5.º, XXXVI da CF/88 que assegura que a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
No entanto, a posição majoritária na doutrina e jurisprudência é no sentido de que não há direito adquirido frente ao poder constituinte originário. A razão é bem simples. Sendo o poder constituinte originário inicial e ilimitado, ele inaugura uma nova ordem jurídica, criando uma nova Constituição, que servirá de fundamento de validade para todas as outras normas existentes. Assim, se determinada norma é contrária à nova Constituição, dessa norma não poderá advir direito adquirido, pois para a nova ordem constitucional, tal norma não gera qualquer direito. A CF/88 ao consagrar a proteção ao direito adquirido dirige tal norma unicamente as leis que gerem direitos que não afrontem a própria Constituição. A chave para tal entendimento está na característica de ausência de limites do poder constituinte originário.
Pode ocorrer que o próprio constituinte originário ressalve determinando direito adquirido sob a égide da Constituição anterior e contrário a Constituição atual. Em tais casos, homenageando a segurança jurídica, asseguram-se tais direitos. No entanto, referida ressalva deve vir expressa na Constituição. Ex: art. 19 do ADCT (possibilidade dos membros do Ministério Público que ingressaram antes da CF/88 advogarem). Nesse sentido, vale a pena conferir o seguinte precedente: RE nº 94.414, Rel. Min. Moreira Alves.
A questão se torna mais complicada se o direito adquirido é oposto frente à emenda constitucional. Nesse caso, não há uma posição dominante, inexistindo, ainda, jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que ponha termo à discussão. O debate em torno da matéria esquentou recentemente, tendo em vista a alteração realizada no art. 37, XI da Constituição Federal pela Emenda Constitucional nº 41, de 19.12.2003, que trata da aplicação do chamado “teto remuneratório” aos servidores públicos.
Parcela significativa da doutrina e jurisprudência têm entendido que a garantia fundamental do direito adquirido não é dirigida ao poder constituinte, originário ou reformador. É garantia do cidadão frente ao legislador infraconstitucional, utilizável para impedir a eficácia derrogatória da lei nova em face de situações constituídas no passado por leis ordinárias ou leis complementares (Paulo Modesto) não se confundindo “lei” com “emenda” à Constituição (RE n.º 94414/SP, relator Ministro Moreira Alves).
Para os que defendem a oponibilidade do direito adquirido em face de emenda constitucional, a garantia insculpida no art. 5.º, XXXVI da CF/88, ao proteger a “lei” pretende a proteção de toda e qualquer norma jurídica, inclusive a decorrentes de emenda à Constituição. 
Em recente decisão (MS n.º 24.875), o Ministro Sepúlveda Pertence, ao indeferir liminar pleiteada pelos Ministros aposentados do STF, objetivando a não incidência do “Corte Teto”, consignou que : “É pedra angular do raciocínio desenvolvido com brilho na impetração a oponibilidade à própria emenda constitucional de cada direito adquirido concreto, seja qual for a sua fonte - e não apenas da garantia constitucional dos direitos adquiridos contra a incidência de normas infraconstitucionais supervenientes. É tema, contudo, no qual a solução afirmativa - não obstante o peso das adesões doutrinárias conquistadas nos últimos anos - ainda pende de madura reflexão do Supremo Tribunal, dada sua altíssima ressonância institucional.”
IV.2. CLÁUSULAS PÉTREAS 
O poder constituinte originário, a fim de preservar determinado núcleo material mínimo da Constituição contra momentos futuros difíceis, de maior instabilidade social, momentos em que o cumprimento das normas constitucionais se torna mais árduo, enumerou um rol de cláusulas intangíveis, um núcleo duro, que não pode ser objeto, sequer, de deliberação por parte do poder constituinte de reforma (derivado), a qual a doutrina denominou cláusulas pétreas.
Na Constituição Federal de 1988, essas limitações materiais expressas ao poder de reforma vêm previstas no art. 60, § 4.º. Assim, não poderão ser objeto de deliberação pelo Congresso Nacional a proposta de emenda à Constituição (PEC) tendente a abolir a forma federativa de Estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, a separação dos poderes e os direitos e garantias individuais.
A doutrina majoritária entende que o próprio art. 60, § 4.º, constituiu espécie de limitação material implícita ao poder de reforma, não podendo o constituinte derivado, por meio de emenda, retirar ou alterar qualquer das cláusulas enumeradas pelo constituinte originário como intangíveis. Existem, ainda, outros limites implícitos ao poder de reforma, considerados como tais os princípios básicos da Constituição consagrados pelo constituinte originário. Tais limites seriam aqueles que, caso ultrapassados pelo constituinte reformador, afetariam a própria identidade e continuidade da Constituição. Finalmente, constituem limitações implícitas as normas referentes ao processo legislativo (procedimento de emenda à Constituição Federal).
A cláusula que proíbe a abolição da FORMA FEDERATIVA DE ESTADO diz respeito à organização dos poderes de forma descentralizada, ou seja, a existência de um Estado Federal pressupõe a existência necessária de entes federados regionais que detenham autonomia política e administrativa, que possuam poderes para criar e executar leis dentro de um certo limite (espacial e material). Deve existir um rol de competências constitucionalmente repartidas entre os entes da federação. A existência de um Senado Federal (participação dos Estados-membros no processo de elaboração da vontade nacional) também compõe a cláusula pétrea em comento. Proíbe-se, também, o direito de secessão (desvinculação de Estado-membro da Federação). Configura-se, ainda, como típico do Estado Federal a existência de uma Corte incumbida de resolver os conflitos entre os diversos entes da federação, bem como a previsão na Constituição do mecanismo de intervenção federal.
Nota importante consiste em assinalar que o art. 60, § 4.º proíbe a abolição das cláusulas ali enumeradas. Nesse sentido, haveria ofensa à cláusula pétrea se a emenda à Constituição somente alterasse determinado princípio ali protegido? Não há uma resposta válida para todos os casos nesse questionamento. A Corte Constitucional, caso a caso, analisará se aquela proposta de mudança fere ou não a cláusula de eternidade. O STF, por diversas vezes, já se pronunciou no sentido de que determinada emenda à Constituição não ofende cláusula pétrea, porque embora altere o conteúdo de determinada cláusula, não lhe altera a essência a pontode comprometer sua forma. O que o Supremo tem taxativamente repelido são alterações que possam desfigurar o sentido da cláusula protegida.
O intérprete se vê diante de mesmo problema quando chamado a concretizar a cláusula pétrea que protege os DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS. Uma primeira corrente, baseada na evolução histórica dos direitos fundamentais (direitos de primeira, segunda e terceira geração), defende que o alcance da cláusula em comento limita-se aos direitos de primeira geração (direitos negativos), consubstanciados na proibição do Estado intervir na autonomia do indivíduo. Ex: direito de liberdade, de propriedade. Em sua maior parte dispostos no art. 5º da CF/88. O próprio STF, no julgamento da ADI nº 939, já afirmou que existem direitos e garantias individuais previstos em outros artigos da Constituição, ou seja, além daqueles previstos no art. 5º (princípio da anterioridade tributária – art. 150, III, b).
Para uma segunda corrente, fazem parte também desses direitos e garantias individuais os direitos sociais (direitos de segunda geração), que envolvem um agir por parte do Estado (direitos positivos). Ex: art. 6.º da CF/88.
O STF ainda não se pronunciou conclusivamente quando ao real alcance desses direitos e garantias individuais, se abarcariam ou não os direitos sociais.
O Supremo Tribunal Federal já pacificou o entendimento de que cabe controle de constitucionalidade das emendas à Constituição, não significando isso, entretanto, que exista uma hierarquia entre as diversas normas constitucionais. Uma vez incorporadas ao texto da constituição, todas as normas têm igual grau hierárquico.
Cabe também uma espécie de controle preventivo de constitucionalidade, exercido pelo STF, quando a emenda posta em votação fere cláusula pétrea. Nesse caso, a medida adequada é um Mandado de Segurança impetrado por parlamentar contra ato coator da Mesa Diretora do Congresso ou da respectiva Casa, a fim de tutelar seu direito líquido e certo de não ser chamado a votar uma emenda tendente a abolir cláusula pétrea. A outra forma de exercer o controle de constitucionalidade da emenda é através de Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI. Nesse caso, o controle não é prévio, mas somente após a promulgação da emenda.
IV.3. MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL 
Há mutação constitucional toda vez que se muda o sentido da norma sem que seu texto seja alterado. É um trabalho estritamente hermenêutico, no qual o intérprete, considerando as mudanças sociais, promove uma nova leitura do texto Constitucional, dando-lhe novo significado. A mutação constitucional é movida pela força da mudança dos fatos sociais, que obriga os Tribunais a procederem a uma nova interpretação da Constituição. Anote-se: não há qualquer alteração no texto da norma.
No entanto, o fenômeno da mutação constitucional encontra limites. Não é aceitável que se proceda à mudança do sentido da norma de tal forma que contrarie o próprio sentido literal das palavras. Assim, se a Constituição diz que não é permitida qualquer espécie de pena perpétua, não se válido interpretar tal norma no sentido de aceitar prisão com um limite máximo de cem anos. Ora, tal interpretação terminaria por contrariar o próprio sentido literal do texto, que proíbe a prisão perpétua.
Exemplo De mutação constitucional no Brasil é o entendimento quanto à inflação. Inicialmente, entendia-se que somente nas hipóteses previstas em lei é que era cabível a correção monetária. Num segundo momento, a jurisprudência dos Tribunais passou a admitir a correção também em relação às dívidas de valor. Finalmente, considerando o peso real dos fatos (inflação), fixou-se o entendimento de que a correção monetária é devida para toda e qualquer dívida. Da interpretação inicial a última não houve qualquer alteração no texto da norma. O que se deu foi uma nítida mutação, na qual o intérprete conferiu ao texto interpretação diversa, em face da importância dos fatos sociais. O instituto da mutação constitucional é instrumento essencial à duração das Cartas Magnas.
CAPÍTULO V
1 – Controle de Constitucionalidade. 2 – Controle difuso. 3 – Controle concentrado. 4 – Efeitos e Extensão. 5 – Representação de Inconstitucionalidade nos Estados. 6 - ADC. 7 – ADI por omissão e Mandado de Injunção.
V.1. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
O controle de constitucionalidade das leis e atos normativos é mecanismo essencial para que se possa assegurar a eficácia das normas constitucionais. Se não houvesse qualquer mecanismo de controle, que coibisse os ataques a Constituição, a supremacia da Constituição está em xeque, colocando em perigo o próprio sistema jurídico, posto que a Constituição funciona como fundamento de validade de todas as normas infraconstitucionais.
O sistema de controle de constitucionalidade funciona a partir de três regras básicas: 1) A Constituição encontra-se no topo da pirâmide jurídica, sendo superior a todas as demais normas, que lhe devem obediência; 2) Em caso de confronto entre a Constituição e as demais normas jurídica, prevalece a Constituição; 3) Cabe ao Judiciário a função de intérprete final da Constituição, razão pela qual os demais poderes devem acatar as suas decisões.
Existem três sistemas diferentes de controle de constitucionalidade. O primeiro, o controle de constitucionalidade é exercido unicamente no caso concreto, cabendo a qualquer magistrado declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo. É chamado de controle difuso, incidental ou por via de exceção. É adotado nos EUA
Num segundo sistema, somente a Corte Constitucional poderá declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, sem levar em consideração um caso em concreto. O objeto do julgamento da Corte Constitucional é unicamente a declaração de inconstitucionalidade da lei ou ato normativo. É o denominado controle concentrado, abstrato ou por via direta. É adotado na Alemanha, Itália e Áustria.
Finalmente, existem os países, como o Brasil, que adotam um sistema misto, no qual assegura-se não só o exercício do controle difuso de constitucionalidade, como também o controle pela via direta (concentrado).
V.2. CONTROLE DIFUSO 
No Brasil, qualquer juiz pode declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, desde que o faça na resolução de um caso concreto. Assim, o pedido não pode ser a declaração de inconstitucionalidade, que funciona apenas como meio essencial para que seja julgado procedente o pedido. No controle difuso o que se pede é o bem da vida, que para ser deferido precisa que o juiz, resolvendo o caso concreto, em sua fundamentação, afaste a incidência de determinada norma jurídica, declarando sua inconstitucionalidade.
Quando a declaração, no caso concreto, tiver que ser feita por tribunal, incide o PRINCÍPIO DA RESERVA DE PLENÁRIO (art. 97 da CF/88). Significa dizer que os órgãos fracionários daquele tribunal (turmas, câmaras) não poderão declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo para resolver um caso concreto. Nessa hipótese, instaura-se um incidente de inconstitucionalidade, no qual a turma ou câmara, entendendo que o caso é de declaração de inconstitucionalidade da lei ou ato normativo, suspende o julgamento do caso concreto e remete o incidente ao plenário do tribunal (ou órgão especial, caso possua), que apreciará o incidente, declarando ou não a inconstitucionalidade da lei ou ato normativo. Esse julgamento do pleno vincula os órgãos fracionários, que prosseguirão no julgamento do caso concreto levando em consideração a decisão do pleno pela inconstitucionalidade ou não da lei.
Tal incidente instaura-se uma única vez, num primeiro caso paradigma. Após a decisão do plenário pela inconstitucionalidade da lei, as câmaras não precisarão mais suspender os julgamentos e remeter o incidente para o plenário. Nesses casos, como já houve uma decisão do pleno, a câmara decidirá o caso levando em consideração a decisão pela inconstitucionalidade da lei proferida pelo pleno, fazendoapenas referência à decisão proferida no incidente de inconstitucionalidade.
Para efeito de interposição de recurso extraordinário, tal cláusula de reserva de plenário é importantíssima, posto que embora a declaração de inconstitucionalidade tenha sido proferida pelo plenário ou órgão especial do tribunal, a decisão que será objeto do recurso extraordinário é a decisão proferida pelo órgão fracionário (câmara ou turma), posto que foi essa que resolveu o caso concreto (Súmula nº 513/STF). Entretanto, é absolutamente essencial que o recurso extraordinário seja instruído com uma cópia do acórdão que decidiu o incidente de inconstitucionalidade, sob pena do Supremo Tribunal Federal não conhecer do recurso (RE nº 260143 AgR/RS, Relator Min. CARLOS VELLOSO, DJ de 08-03-2002). Caso a câmara não junte ao acórdão cópia do precedente do plenário, cabe a interposição de embargos de declaração para que seja tomada tal providência – suprir omissão (RE nº143619/PE, Relator Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, DJ de 21-05-1993).
Pode ocorrer, ainda, que após a decisão do plenário pela constitucionalidade da lei, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento posterior proferido em sede de Recurso Extraordinário (controle difuso), decida pela inconstitucionalidade da lei. Nessa circunstância, a câmara do tribunal a quo, em julgamento posterior, não precisará remeter ao plenário o incidente de inconstitucionalidade, para que se discuta novamente o assunto. Pode, o próprio órgão fracionário declarar a inconstitucionalidade da lei, tendo como base o precedente do STF. Positivando tal entendimento é que a Lei nº 9.756/98 acrescentou o parágrafo único ao art. 481 do CPC. Nesse caso, para que se interponha recurso extraordinário, não há necessidade de instruir o recurso com cópia da decisão do plenário do tribunal, que tenha decidido anteriormente em sentido contrário ao STF.
No controle difuso, quando o juiz ou tribunal julga inconstitucional uma lei ou ato normativo, essa decisão só vinculará as partes (efeito inter partes). Como conseqüência, mesmo uma decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal (em sede de recurso extraordinário, por exemplo) não vinculará quem não foi parte no processo, podendo o mesmo STF, em julgamento posterior, decidir de forma contrária, sem que esta nova decisão produza qualquer efeito quanto a julgamentos a serem proferidos em outros processos nos quais se exercite o controle difuso de constitucionalidade. Tampouco os demais tribunais e juizes estão obrigados a seguir a decisão tomada pelo STF em controle difuso, mesmo que tal entendimento tenha sido sumulado (exceto no caso das súmulas vinculantes, que serão estudas no capítulo referente à reforma do Judiciário – EC nº 45/2004). 
Essa característica do controle difuso tem uma grande desvantagem, pois gera uma certa insegurança jurídica, com a possibilidade de existirem decisões conflitantes nas diversas instâncias sobre a constitucionalidade de lei ou ato normativo. Em compensação, ganha-se com a democratização do processo de controle.
Para diminuir a insegurança jurídica, a própria Constituição prevê um mecanismo (art. 52, X), que assegura ao Senado Federal a possibilidade de suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal. O Supremo, após julgar um caso concreto, declara a inconstitucionalidade de determinada lei. Referida decisão só produz efeitos em relação às partes do processo. Em seguida, o STF remete cópia da decisão ao Senado Federal, que, num juízo político (o Senado não está obrigado a suspender a execução) pode baixar Resolução na qual suspende, total ou parcialmente, a lei em comento. A decisão do Senado tem efeito contra todos (erga omnes) e passa a valer a partir do momento de sua publicação (ex nunc). Essa decisão do Senado pode atingir ato normativo federal, estadual e municipal.
Ponto importante, também, é a possibilidade de ajuizar ação rescisória quando o STF, em controle difuso, posiciona-se pela constitucionalidade de determinada lei e posteriormente, em outro julgamento, declara a mesma lei inconstitucional. Nesse caso, a parte interessada, desde que dentro do prazo de dois anos para ajuizar ação rescisória, pode tentar rescindir o julgamento anterior do STF que tenha lhe prejudicado. 
No exercício do controle de constitucionalidade difuso o magistrado deve seguir algumas premissas básicas. Não deve ser declarada a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo se essa declaração não é absolutamente essencial para o julgamento do caso concreto ou se a lei questionada não atinge diretamente direito do autor. Deve-se prestigiar o método de interpretação conforme, todas as vezes que da lei possa ser extraído sentido que se compatibilize com a Constituição.
O Tribunal de Constas da União, mesmo não sendo órgão jurisdicional (é órgão auxiliar do Congresso Nacional), conforme entende o Supremo Tribunal Federal, também pode exercer o controle difuso de constitucionalidade (Súmula nº 347/STF).
V.3. CONTROLE CONCENTRADO 
Também denominado controle pela via direta ou em abstrato. Nesse sistema, não se discute a solução para um caso concreto. Apenas um órgão escolhido pela Constituição poderá exercer referido controle. Ademais, somente um número reduzido de pessoas/órgãos terão legitimidade para dar início ao processo de controle pela via direta. O que se objetiva no controle concentrado não é a proteção de determinado bem da vida, mas a conservação da autoridade das normas constitucionais. Faz-se a proteção do próprio sistema jurídico.
No Brasil, cabe ao Supremo Tribunal Federal, como órgão de cúpula do Poder Judiciário e guardião máximo da Constituição, exercer o controle concentrado. Na Constituição Federal de 1988 (art. 102, I, a), houve a previsão de duas ações, uma objetivando a declaração de inconstitucionalidade (Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADI) e a outra, ao inverso, buscando a declaração de constitucionalidade (Ação Direta de Constitucionalidade – ADC, esta última, acrescentada pela EC n.º 3/93).
A AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – ADI tem por objeto lei ou ato normativo federal ou estadual. Logo, conclui-se que não cabe ADI contra lei ou ato normativo municipal. A lei ou ato normativo será confrontado com norma da Constituição Federal.
Os legitimados para propor ADI estão enumerados no art. 103 da CF/88. Não são considerados partes do processo, pois o Supremo entendeu que este processo não possui partes, mas somente interessados, sendo denominado de processo objetivo. Não cabe pedido de desistência.
Questão interessante envolvendo a legitimidade em ADI diz respeito à possibilidade do Presidente da República, mesmo após sancionar determinada lei, poder ou não entrar com uma ADI. O STF entende que não há qualquer problema que o Presidente proponha a ADI.
A representação dos partidos políticos no Congresso Nacional independe do número de representantes. Assim, se o partido tem um único Senador, para os fins de propor Ação Direta de Inconstitucionalidade, ele está legitimado.
Para alguns legitimados, o Supremo Tribunal Federal passou a exigir o que chamou de PERTINÊNCIA TEMÁTICA, assim entendida como a relação entre a pessoa ou órgão que propõe a ADI e um prejuízo, ao menos em tese, advindo da lei ou ato normativo questionado. Os Governadores de Estado, as Mesas das Assembléias Legislativas, assim como as confederações sindicais e entidades de classe de âmbito nacional estão sujeitos à pertinência temática.
Assim, se o Governador do Estado de Goiás pretende propor uma ADI contra uma lei de outro Estado ou mesmo uma lei federal, tem que demonstrar que a lei ou ato normativo discutido afeta, de alguma forma, os interesses do seu Estado. Um bom exemplo dessa situação é a ADI n.º 2656/SP (Relator Min. MAURÍCIO CORRÊA, DJ de 01-08-2003), na qual o Governador do Estado de Goiás questiona a constitucionalidade de lei ordinária do Estado de São Paulo que estabeleciarestrições à comercialização de amianto, com evidentes reflexos na economia de Goiás, Estado onde está localizada a maior reserva natural do minério (Município de Minaçu).
O Supremo demarcou o que entende por entidade de classe, consignando no julgamento da ADI nº 108 QO/DF (Relator Min. CELSO DE MELLO, DJ de 05-06-1992) que “não se qualificam como entidades de classe aquelas que, congregando pessoas jurídicas, apresentam-se como verdadeiras associações de associações. Em tais hipóteses, tem-se-lhes negado a qualidade reclamada pelo texto constitucional, pois pessoas jurídicas, ainda que coletivamente representativas de categorias profissionais ou econômicas, não formam classe alguma. A jurisprudência desta Corte tem salientado, ainda, que pessoas jurídicas de direito privado, que reúnam, como membros integrantes, associações de natureza civil e organismos de caráter sindical, desqualificam-se - precisamente em função do hibridismo dessa composição - como instituições de classe, cuja noção conceitual reclama a participação, nelas, dos próprios indivíduos integrantes de determinada categoria, e não apenas das entidades privadas constituídas para representá-los. Não se configuram, em conseqüência, como entidades de classe aquelas instituições que são integradas por membros vinculados a estratos sociais, profissionais ou econômicos diversificados, cujos objetivos, individualmente considerados, revelam-se contrastantes. Falta a essas entidades, na realidade, a presença de um elemento unificador que, fundado na essencial homogeneidade, comunhão e identidade de valores, constitui o fator necessário de conexão, apto a identificar os associados que as compõem como membros efetivamente pertencentes a uma determinada classe. - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem consignado, no que concerne ao requisito da espacialidade, que o caráter nacional da entidade de classe não decorre de mera declaração formal, consubstanciada em seus estatutos ou atos constitutivos. Essa particular característica de índole espacial pressupõe, além da atuação transregional da instituição, a existência de associados ou membros em pelo menos nove Estados da Federação. Trata-se de critério objetivo, fundado na aplicação analógica da Lei Orgânica dos Partidos Políticos, que supõe, ordinariamente atividades econômicas ou profissionais amplamente disseminadas no território nacional. Precedente: ADIN-386.” As centrais sindicais, por exemplo (CUT, Força Sindical), não se enquadram no conceito constitucional traçado pela jurisprudência do STF, não possuindo legitimidade para propor ADI.
NOTA: Inicialmente, o Tribunal considerou a ADEPOL como parte legítima (ADI's 146, 1.037, 1.138, 1.159, 1.336, 1.386, 1.414 e 1.488). Mais tarde, declarou a ilegitimidade ativa da Associação (ADI 23), posição reiterada na ADI 1.869-MC. Por outro lado em julgamento recente, o Tribunal reconheceu a legitimidade de "associação de associações" para propor Ação Direta (ADI 3.153-AgR). ESTÁ, PORTANTO, É A POSIÇÃO ATUAL DO STF.
Já as Confederações Sindicais, para deterem legitimidade, têm que congregar, no mínimo, três federações e ter sede na capital Federal (ADI n.º 505).
A Lei n.º 9.868/99 veio disciplinar o processo e julgamento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade – ADI e Declaratórias de Constitucionalidade – ADC, tendo incorporado boa parte da jurisprudência construída pelo Supremo no período pós Constituição de 1988.
O STF, no exercício do controle de constitucionalidade (tanto no difuso como o concentrado), atua como legislador negativo, ou seja, não pode, sob o pretexto de exercer controle de constitucionalidade, agir como verdadeiro legislador, criando direitos que a lei ou o ato normativo não criou (Súmula nº 339/STF - Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia). Quando o juiz exerce o controle de constitucionalidade, afastando determinada gratificação prevista em lei, ele está agindo como legislador negativo. No entanto, se ao declarar a inconstitucionalidade de determinada lei ele estende uma gratificação deferida por lei somente a uma categoria “X”, para alcançar também uma categoria “Y”, nesse caso, ele age como legislador positivo, o que o Supremo entende indevido.
A petição inicial da ADI deve indicar o dispositivo da lei ou do ato normativo impugnado e os fundamentos jurídicos do pedido em relação a cada uma das impugnações, sob pena de ser considerada inepta (art. 3.º da Lei nº 9.868/99 e ADI nº 1.775, Relator Min. MAURÍCIO CORRÊA, DJ de18-05-2001).
No entendimento do STF, as leis de efeito concreto não estão sujeitas a controle de constitucionalidade pela via direta, pois não possuem a carga mínima de abstração e generalidade. Podem, no entanto, ser declaradas inconstitucionais pela via de exceção (controle difuso). De outra parte, a lei para ser objeto de ADI tem que ser eficaz. Dessa forma, uma lei que já tenha exaurido seus efeitos antes do julgamento da ADI não pode ser objeto de controle abstrato. Se a ADI já tiver sido proposta, será julgada prejudicada (perda do objeto), pois o escopo do controle concentrado não é resolver casos concretos, mas proteger o sistema jurídico. Os casos concretos serão resolvidos por meio de controle difuso.
Não cabe controle concentrado de constitucionalidade em face de normas da própria constituição estabelecidas pelo poder constituinte originário, pois inexiste hierarquia entre as normas constitucionais. Nesse sentido, conferir ADI n.º 815, Relator Min. MOREIRA ALVES, DJ de 10-05-1996.
V.4. EFEITOS E EXTENSÃO 
A decisão tem efeito declaratório, ou seja, apenas declara uma situação já existente, qual seja, a inconstitucionalidade, que vem desde o advento da lei ou ato normativo. Assim, em regra, lei ou ato normativo inconstitucional é nulo ad initio, ou seja, desde seu nascimento. Trata-se de nulidade absoluta, sendo que a decisão apenas declara a nulidade. Como conseqüência da declaração de inconstitucionalidade, a norma será retirada do mundo jurídico, retroagindo esse efeito até a data da sua criação. Em outras palavras, é como se a norma nunca tivesse existido. Diz-se que a declaração de inconstitucionalidade tem efeito ex tunc (retroage até a criação da lei), fulminando-a.
Em didático precedente (ADI nº 652), o Min. Celso de Mello consignou que: “o repúdio ao ato inconstitucional decorre da Supremacia da Constituição. Esse postulado fundamental de nosso ordenamento jurídico impõe esses preceitos revertidos de menor grau de positividade jurídica criarem necessariamente relação de conformidade vertical com as regras descritas na Carta Política, sob pena de ineficácia e conseqüente inaplicabilidade. Os atos inconstitucionais são por isso mesmo nulos, e destituídos em conseqüência, de qualquer carga de eficácia jurídica. A declaração de inconstitucionalidade de uma lei alcança inclusive os atos pretéritos com base nela praticados. Esse reconhecimento do supremo vício inquina de total nulidade os atos emanados pelo Poder Público, desamparam as situações constitucionais sob sua égide e inibem a possibilidade de invocação de qualquer direito.”
Acontece que determinadas situações terminavam por deixar o Supremo Tribunal Federal em situação difícil, diante da insegurança jurídica que poderiam causar. Imagine uma lei “Y” criada em 1991 que vem a ter sua constitucionalidade questionada em julgamento no STF somente em 2001 (dez anos após sua vigência), hipótese esta comum diante do número de processos que tramitam na Corte Maior do País. Após todo esse período, milhares ou mesmo milhões de situações jurídicas já haviam se consolidado diante da norma prevista, que goza de presunção relativa de constitucionalidade. Vem o Supremo, apreciando Ação Direta e Inconstitucionalidade – ADI e concluiu que aquela norma “Y” efetivamente fere a Constituição, declarando, assim, sua inconstitucionalidade. Como resultado desse julgamento, a lei “Y” vai ter sua validadefulminada desde o início (1991), como se nunca tivesse existido. E então, como ficam as situações jurídicas já consolidadas com base nessa norma? Perdem o amparo legal, pois a norma “Y” é tida como inexistente. A lei inconstitucional não cria direitos, nem pode impor obrigações. Isso gerava, sem dúvida, bastante perplexidade e insegurança jurídica, pois poderia prejudicar pessoas que agiram de boa-fé, confiantes na presunção de constitucionalidade das leis.
Reagindo a essa realidade, o legislador, na Lei nº 9.868/99, em seu art. 27, disse que ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros (foi exigida uma maioria mais qualificada do que a exigida para a simples declaração de inconstitucionalidade – maioria absoluta – art. 23) restringir os efeitos da declaração de inconstitucionalidade ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. 
Tem eficácia erga omnes (contra todos), pois sendo o controle concentrado de constitucionalidade um processo objetivo, sem partes, a eficácia natural de suas decisões é atingir a todos.
A declaração de inconstitucionalidade ou constitucionalidade, inclusive a interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, tem efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal (art. 28, parágrafo único da Lei n.º 9.868/99). Significa que uma vez declarada a inconstitucionalidade da lei “Y”, em julgamento de uma ADI (controle abstrato), todos os órgãos do Poder Judiciário (Tribunais e magistrados de primeira instância) devem obrigatoriamente seguir (aplicar) essa decisão. Da mesma forma, a Administração Pública, em todas as suas esferas, está vinculada ao entendimento proferido pelo STF no julgamento da ADI. Se a lei foi declarada inconstitucional, a Administração Pública não pode praticar qualquer ato administrativo com base em referida lei. 
Se houve desrespeito por parte de órgão do Poder Judiciário à decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal que tenha efeito vinculante, a via adequada para cassar tal decisão é a RECLAMAÇÃO, espécie de ação de competência originária do STF que visa a resguardar a autoridade das decisões emanadas da Corte Suprema e sua competência, sempre que usurpada por outro órgão judicante (para um melhor estudo da Reclamação, sugiro uma leitura dos artigos 156 a 162 do Regimento Interno do STF, disponível no site do Tribunal - http://www.stf.gov.br/institucional/regimento/ - que traz, inclusive, remissão à legislação correlata).
No que tange à EXTENSÃO DA NULIDADE na decisão que declarada a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, ele pode atingir integralmente o ato normativo atacado ou apenas parte dele. Assim, o Supremo Tribunal Federal pode declarar a inconstitucionalidade apenas de um artigo, de um parágrafo, de um inciso ou até mesmo de uma ou mais expressões contidas em determinado artigo, por exemplo.
A decisão que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em ação direta ou em ação declaratória é irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos declaratórios, não podendo, igualmente, ser objeto de ação rescisória (art. 26 da Lei n.º 9.868/99).
Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado (art. 27 da Lei n.º 9.868/99). Excepciona-se, dessa forma, o efeito retroativo (ex tunc) das decisões de mérito proferidas em controle abstrato de constitucionalidade, que expurga a norma jurídica desde o seu nascedouro, a fim de que se permita que tal norma, declarada inconstitucional, produza efeitos até determinada data a ser fixada pelo STF no julgamento, tendo em vista a insegurança jurídica que adviria do julgamento caso produzisse efeitos ex tunc, ou mesmo, o excepcional interesse social existente no caso concreto.
A declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, inclusive a interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, têm eficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal (art. 28, parágrafo único da Lei n.º 9.868/99).
V.5. REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE NOS ESTADOS 
Nos termos do art. 125, § 2.º da Constituição Federal, “cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.” 
A Representação de Inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual é novidade trazida pela Constituição Federal de 1988. Antes os Estados-membros não possuíam qualquer instrumento de controle de constitucionalidade abstrato em face de sua própria Constituição. Cabe, portanto, as Constituições Estaduais a instituição de referido instrumento, vedada a legitimação a apenas um órgão.
No Estado de Goiás, a Constituição Estadual, em seu art. 46, VIII, “a”, dispõe que compete privativamente ao Tribunal de Justiça processar e julgar originariamente a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo estadual e municipal, em face da Constituição do Estado, e o pedido de medida cautelar a ela relativo. Cabe, portanto, ao TRIBUNAL DE JUSTIÇA o julgamento da ADI estadual.
De acordo com o previsto no art. 60, são legitimados para propor esta Ação Direta o Governador do Estado, a Mesa da Assembléia Legislativa, os Tribunais de Contas do Estado e dos Municípios, o Procurador-Geral de Justiça, o Procurador-Geral de Contas, o Prefeito e a Mesa da Câmara do respectivo Município, em se tratando de lei ou ato normativo local, a Ordem dos Advogados do Brasil, os partidos políticos com representação na Assembléia Legislativa, federações sindicais e entidades de classe de âmbito estadual. Nota-se que o constituinte estadual, embora não estivesse obrigado, preferiu adotar modelo idêntico ao da ADI em face da Constituição Federal. Há nítida simetria entre os legitimados.
Nota importante é que o Governador do Estado, na ADI estadual, não necessita demonstrar pertinência temática, pois todas as leis e atos normativos estaduais e municipais são de interesse do primeiro mandatário estadual.
O parâmetro para o exercício desse controle abstrato é a Constituição Estadual e não a Federal. Assim, as leis e atos normativos estaduais ou municipais têm que ser confrontados com norma da Constituição Estadual e não com norma da Constituição Federal, mesmo que a norma supostamente violada na Constituição Estadual seja mera repetição de norma da Constituição Federal (grande probabilidade de ocorrer, devido ao nosso federalismo concentrado – princípios constitucionais sensíveis de repetição obrigatória). Nesse caso (repetição de norma da Constituição Federal na Estadual), contra a decisão do Tribunal de Justiça em Ação Direta de Inconstitucionalidade caberá Recurso Extraordinário para o Supremo Tribunal Federal, havendo violação de norma da Constituição Federal. A legitimidade para recorrer é da pessoa ou órgão que propôs a ADI estadual.
Pode ocorrer que determinada lei estadual seja objeto de ADI estadual sob fundamento de que viola determinado artigo da Constituição Estadual que é mera repetição da Constituição Federal e o Tribunal de Justiça entenda que a norma é válida, que não fere a Constituição

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