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1 PLANEJAMENTO, PROGRAMAÇÃO E CONTROLE DA PRODUÇÃO AULA 2 Prof.a Dayse Mendes 2 CONVERSA INICIAL Caros alunos! Nesta segunda aula de Planejamento, Programação e Controle da Produção se têm por objetivos: Compreender que uma boa previsão de demanda garante melhores planejamento e programação da produção; Conhecer vários métodos de previsão de demanda. Estes objetivos nos remetem a um real problema para quem trabalha com planejamento da produção, qual seja, saber da demanda futura com antecedência suficiente para que o sistema de produção tenha condições de atendê-la sem a formação de estoques que não serão consumidos ou em quantidade além da demanda. (BEZERRA, 2010, p. 50). Assim, nesta aula vamos conhecer mais sobre o que significa Demanda, como gerir esta demanda, qual as ações necessárias para fazer uma boa previsão qualitativa ou quantitativa e aprenderemos a fazer os cálculos necessários para as previsões quantitativas. TEMA 1: GESTÃO DE DEMANDA Para que as empresas tomem decisões sobre quanto produzir, elas precisam ter conhecimento do quanto irão vender. No caso dos sistemas empurrados, esse conhecimento não é prévio, a empresa não sabe exatamente quanto irá vender de um determinado produto. Se a empresa não tem esta informação, como ela decide sobre quanto produzir? É neste momento que surge o conceito de demanda e de previsão de demanda. Demanda é a quantidade de um produto que os consumidores desejam adquirir, ao longo do tempo. Previsão de demanda é uma inferência sobre o futuro do que a empresa acredita que os consumidores queiram em termos de quantidade de produto. 3 Como as empresas não podem esperar até ter certeza de quanto vão vender, elas precisam se antecipar. Assim, para Corrêa et al. (2000, p. 227- 229), a demanda da empresa precisa ser gerenciada, não pode ser simplesmente imaginada, deduzida. Os autores entendem que os principais elementos desta gestão são: Habilidade para prever a demanda: a empresa precisa ter e saber utilizar ferramentas para cálculo de demanda futura que sejam adequados ao comportamento de vendas desta empresa. Para tanto há a necessidade de constituir uma boa base de dados históricos de vendas, bem como de informações sobre as variações de comportamento do produto ao longo do tempo. Além disso, é preciso acumular informação sobre as variáveis externas que possam influenciar no comportamento da demanda. Canal de comunicação com o mercado: este canal deve ser utilizado pela empresa não somente com o intuito de vender, mas também o de colher informações com o cliente e o mercado como um todo para auxiliar de forma mais direta na construção da base de dados necessária à previsão da demanda. Poder de influência sobre demanda: não basta prever a demanda. Uma boa gestão de demanda em qualquer organização passa pela ação de modificar a demanda de acordo com a capacidade da empresa para tanto. Habilidade de prometer prazos: quem gere a demanda deve garantir a confiabilidade das entregas. A atividade relacionada aos prazos de entrega depende do tipo de produção (para estoque, sob encomenda ou montagem contra pedido). Habilidade de priorização e alocação: pode ocorrer de a empresa não conseguir atender a toda a demanda em um determinado período. Assim há a necessidade de decidir a quais clientes atender no prazo e quais clientes não atender no prazo. 4 Todas estas informações e ações são elementos importantes para que a empresa possa elaborar um plano mestre de produção que seja coerente com as ações da área comercial da empresa, bem como com um plano de vendas adequado à situação da área de produção. Assim a empresa atua com uma visão sistêmica, que possibilita menos problemas de gestão em todas as áreas. A gestão de demanda deve ser atribuída a uma pessoa ou área responsável dentro da organização. Para a escolha desta pessoa/área, deve se levar em conta que, independentemente de quem será o responsável pela área, o importante é que o processo em si seja estabelecido por meio de informação de todas as áreas envolvidas, e que estas trabalhem de forma cooperativa e estejam comprometidas em repassar informações fidedignas, no tempo adequado. De um modo geral, as organizações preferem que esta responsabilidade seja atribuída à área comercial, tendo em vista seu conhecimento do mercado de atuação da empresa. No entanto, se a área comercial for muito voltada somente às vendas, vale a pena a empresa pensar em treinar a força de trabalho desta área ou criar uma área específica para cuidar da gestão da demanda. Para Corrêa et al. (2000, p. 233), esta área específica pode estar ligada a uma diretoria comercial, industrial ou até mesmo financeira, desde que tenha autonomia para captar e seja capaz de articular todas as informações necessárias. Para que se possa gerir a demanda de maneira adequada, também é necessário que se entenda com que tipo de demanda se está trabalhando. Conforme Jacobs e Chase (2009), a demanda pode ser dividida em dois tipos: dependente e independente. A demanda dependente diz respeito àquela ocasionada em um produto ou serviço pela demanda de outros produtos ou serviços. Por exemplo, para se produzir 1000 patins, há a necessidade de se ter disponíveis 4000 rodas. Assim, a demanda das rodas depende da demanda dos patins. Já a 5 demanda independente não será obtida de outros produtos, mas sim das vendas futuras. (JACOBS; CHASE, 2009, p. 263). Os autores complementam que, no caso da demanda dependente, a empresa não tem poder de decisão ou de interferência. Apenas deve supri-la. Já para a demanda independente, a empresa pode, como já dito neste capítulo, gerenciá-la. Dessa forma, tudo o que foi comentado até o momento vale para demanda independente. Para Tubino (1999), a demanda ainda pode ser classificada de acordo com o prazo de previsão. Previsões de demanda de longo prazo seriam usadas em estratégia de produção, para o desenvolvimento de planos de produção. Previsões de médio a curto prazos seriam usadas em situação de nível operacional, para o planejamento mestre de produção e o plano mestre de produção. TEMA 2: SISTEMA DE PREVISÃO DE DEMANDA Já sabemos que as empresas precisam ter uma noção de suas demandas futuras para que possam planejar adequadamente sua produção. Como este é um processo dinâmico, ou seja, com mudanças ao longo do tempo, é necessário que a empresa se prepare para que a previsão de demanda aconteça de forma eficaz e adequada. O processo de previsão de demanda acontecerá de maneira mais consistente se a empresa tiver um sistema para tanto. De acordo com Corrêa et al. (2000, p. 234), um “sistema de previsão de demanda é o conjunto de procedimentos de coleta, tratamento e análise de informações que visa gerar uma estimativa das vendas futuras [...]”. Esta estimativa pode estar relacionada ao produto especificamente, medido em unidades, ou famílias de produtos, em algum tipo de unidade de tempo como semanas, meses, trimestres, semestres, etc. Um sistema de previsão de demanda necessita de uma série de informações. Inicialmente é necessário definir o objetivo que está associado a esta previsão de demanda. É a partir da definição do objetivo que se determina qual o nível de precisão necessária, quem estará envolvido no processo de 6 determinação da demanda, quais são os prazos que se tem para realizar a previsão, bem como outros recursos necessários para se realizartodo o processo. A partir da determinação do objetivo, pode-se iniciar o levantamento das principais informações que sustentarão a previsão de demanda. Segundo Corrêa et al. (2000, p. 234-235), a coleta de dados deve conter os seguintes itens: Dados históricos de vendas, de todos os períodos a serem considerados na previsão; Informação de comportamento anormal ou irregular em situações de vendas anteriores; Dados de variáveis que auxiliem no entendimento do comportamento relativo a vendas passadas; Dados do momento atual relativos a variáveis que afetam a demanda agora ou no futuro; Previsão de situação futura de variáveis que afetam a demanda futura; Informação sobre a situação econômica atual e futura na qual a empresa está imersa; Informações de clientes que possam sugerir como será seu comportamento em compras futuras; Informações sobre a concorrência e como ela afeta a demanda da empresa; Informações sobre a área comercial que possam alterar o comportamento de compras futuro. Resumindo, a empresa precisa ter dados históricos de vendas e informações sobre fatos passados, presentes e futuros que possam influenciar no comportamento de compras do cliente. Na figura 1, Corrêa et al. (2000) ilustram um sistema genérico de previsão de vendas. Nesta figura, os autores explicam como funciona este sistema, em que inicialmente se tem a coleta e um tratamento estatístico dos 7 dados de vendas e outros dados e informações relevantes que possam auxiliar no entendimento do comportamento de venda, de acordo com o que foi descrito no parágrafo acima. Os responsáveis das principais áreas envolvidas no processo devem se reunir para realizar este tratamento de todas as informações e dados coletados de modo que haja comprometimento de todos com a previsão, para que haja maior qualidade no processo e legitimação dos resultados alcançados. Figura 1: Sistema genérico de previsão de vendas Fonte: Corrêa et al. (2000, p. 236). 8 Este é um modelo genérico. Para os cálculos da previsão de demanda, devemos observar o horizonte de tempo em que pretendemos trabalhar. Cada horizonte de tempo possui um modelo mais adequado para o cálculo da previsão. A forma mais simples de se calcular demanda é realizada pelo método do último período, em que simplesmente se repete o valor de vendas do período anterior como previsão para o período seguinte. Este método não leva em consideração informações internas e externas importantes, citadas anteriormente, que afetam o histórico de consumo dos produtos da empresa. Existem métodos mais elaborados, que levam em consideração outras informações além da venda do período anterior. Veremos estes métodos nos próximos temas. Além dos métodos que se utilizam de dados numéricos e de cálculos para previsão de demanda, ou seja, métodos quantitativos, também é possível inferir a demanda por meio de métodos qualitativos. Os métodos qualitativos utilizam a experiência de pessoas que conhecem o comportamento de compras dos clientes e que podem ter uma ideia sobre a demanda futura quando não há dados disponíveis ou os dados não são confiáveis. Mas antes de conhecermos mais profundamente os métodos mais comuns de previsão de demanda, vamos assistir ao vídeo sobre Sistemas de Previsão de Demanda, com a professora Dayse. TEMA 3: PREVISÃO COM BASE EM MÉDIAS De acordo com Santos (2015, p. 30), a previsão com base em médias é mais utilizada para antever demanda de curto prazo. Por curto prazo se entende até cerca de quatro meses. Por ser curto prazo, tomamos como base a ideia de que haverá uma continuidade do passado em relação ao futuro. Entende-se que tendências de crescimento, estabilidade ou redução, 9 sazonalidade ou repetições cíclicas possivelmente se apresentarão como em ciclos anteriores. Assim, estas características nos levam à busca de um modelo que se adeque a elas. Primeiro deve se observar o comportamento dos dados. Para Corrêa et al. (2000), são quatro as possibilidades de comportamento: Permanência: sem aumento, decréscimo ou sazonalidade observada nas vendas; Sazonal com permanência: sem aumento ou decréscimo nas vendas, mas com sazonalidade; Trajetória: observa-se aumento ou decréscimo com taxa uniforme nas vendas, sem sazonalidade; Trajetória com sazonalidade: observa-se aumento ou decréscimo com taxa uniforme nas vendas, com sazonalidade. Cada uma destas situações conduz à utilização de um modelo matemático diferente. Para a situação mais simples, o método mais básico, o da média móvel aritmética. A média móvel aritmética consiste na soma das demandas anteriores dividida pela quantidade de períodos escolhidos. A escolha da quantidade de períodos para o cálculo da previsão deve ser realizada de acordo com a continuidade da demanda. Assim, a média móvel aritmética pode ser obtida pela seguinte fórmula: 𝑀𝑚𝑛 = ∑ 𝐷𝑖 𝑛 𝑖=1 𝑛 Em que: 𝑀𝑚𝑛= média móvel de n períodos. 𝐷𝑖 = demanda ocorrida no período i. 𝑛 = número de períodos. 𝑖 = índice do período (i = 1, 2, 3, ...). 10 Por exemplo: Vamos admitir que a demanda de um determinado produto nos últimos quatro meses teve o seguinte comportamento: Período 1 2 3 4 Demanda 30 27 35 40 Qual será a demanda para o período 5, empregando para o cálculo da previsão a média móvel aritmética dos quatro últimos períodos? Resolvendo: Usando a fórmula de média móvel aritmética teremos: 𝑀𝑚4 = 27 + 30 + 35 + 40 4 𝑀𝑚4 = 33 Resposta: a previsão de demanda do produto para o próximo período (período 5) é de 33 unidades. Outra possibilidade é o uso da média móvel geométrica. A média móvel geométrica, assim como a média móvel aritmética, envolve cálculos simples, e a escolha da quantidade de períodos a ser utilizada baseia-se na comparação da demanda prevista com a demanda efetiva, pois quanto mais distante o período de previsão em relação ao período de coleta de dados menor a confiabilidade destes dados. O modelo de cálculo de média móvel geométrica é o seguinte: 𝑀𝑚𝑛= √𝐷…𝑛 Por exemplo: Vamos utilizar os mesmos valores do exemplo anterior: 11 Período 1 2 3 4 Demanda 27 30 35 40 Qual será a demanda para o período 5, empregando para o cálculo da previsão a média móvel aritmética? Resolvendo: Usando a fórmula de média móvel geométrica teremos: 𝑀𝑚4 = √27 ∗ 30 ∗ 35 ∗ 40 4 𝑀𝑚4 = 32,63 Resposta: a previsão de demanda do produto para o próximo período (período 5) é de 32,63 unidades. Caso se queira considerar os valores de venda mais recentes, mais relevantes para a previsão de demanda, é possível usar o método da média móvel ponderada, considerando pesos distintos para os valores de demanda disponíveis, fazendo com que os últimos resultados sejam mais relevantes do que os resultados mais afastados no tempo. Assim, considera-se que os valores mais recentes serão mais confiáveis para a previsão da demanda do que os valores mais afastados no tempo. A média móvel ponderada pode ser obtida pela seguinte fórmula: 𝑀𝑚𝑛 = ∑ 𝐷𝑖 𝑛 𝑖=1 ∗ 𝑝𝑖 Em que: 𝑀𝑚𝑛= média móvel de n períodos. 𝐷𝑖 = demanda ocorrida no período n. 𝑝𝑖 = peso atribuído ao período n. 𝑛 = número de períodos. 12 𝑖 = índice do período (i = 1, 2, 3, ...). Por exemplo: Vamos utilizar os mesmos valores do primeiro exemplo. Período 1 2 3 4 Demanda 27 30 35 40 Vamos admitir que, para a média móvel, o período mais recente tenhaponderação de 50%, o período 3 tenha 30%, o período 2 tenha 20% e o período 1 tenha 10%. Qual será a demanda para o período 5, empregando para o cálculo da previsão a média móvel ponderada? Resolvendo: Usando a fórmula de média móvel ponderada teremos: 𝑀𝑚4 = 27 ∗ 0,1 + 30 ∗ 0,2 + 35 ∗ 0,3 + 40 ∗ 0,5 𝑀𝑚4 = 39,2 Resposta: a previsão de demanda do produto para o próximo período (período 5) é de 39,2 unidades. TEMA 4: PREVISÃO DE DEMANDA COM TENDÊNCIA DEFINIDA O modelo de previsão com base em regressão linear costuma ser usado em estimativas de médio prazo em que há uma tendência quanto à demanda. O cálculo da estimativa da tendência é feito por meio de uma equação que descreve este movimento futuro. Pela maior aplicabilidade, devido à maior facilidade do método, usa-se com mais frequência a análise de tendência linear. A técnica mais simples para esta análise baseia-se no uso de equação linear. 13 Conforme Santos (2015), este método consiste em manipular uma variável independente. Essa variável é um fator que vai sendo testado de forma experimental, enquanto as variáveis dependentes são as respostas, que serão medidas ou registradas ao longo do uso do método. Usa-se neste método uma equação linear de primeiro grau do tipo: Y = a + bX Figura 2: regressão Y = a + bX Fonte: <http://estatisticax.blogspot.com.br/2008/05/regresso-linear-simples-mtodo-dos.html>. Nesta equação, “Y” é a variável dependente, e “X” é a variável independente. O “a” representa a intersecção da reta com o eixo y, e o “b” representa a inclinação da reta, como podemos ver na Figura 2. Mais precisamente: Y = previsão de demanda para o período X; a = ordenada à origem, ou intercepção no eixo dos Y; b = coeficiente angular; X = período (partindo de X = 0) para previsão. 14 Conforme Santos (2015, p. 36), o método de previsão de demanda com base em regressão linear simples é uma excelente ferramenta matemática para realizar as projeções futuras da demanda, tornando possível para a empresa planejar adequadamente suas ações de mercado. Vale lembrar que as previsões envolvem probabilidade estatística e, portanto, não são exatas. Por isso, é necessário que o gestor realize o monitoramento constante dos dados e faça as projeções rotineiramente. Por exemplo: Vamos utilizar os mesmos valores do primeiro exemplo. Qual será a demanda para o período 5, empregando para o cálculo a previsão de demanda com tendência definida? Resolvendo:’ Inicialmente temos que calcular os coeficientes “a” e “b” da equação linear: 𝑏 = 𝑛 (∑𝑋𝑌) − (∑𝑋)(∑𝑌) 𝑛(∑𝑋2) − (∑ 𝑋)² 𝑎 = ∑𝑌 − 𝑏 (∑𝑋) 𝑛 Semana (X) Demanda (Y) ∑ X ∑ X2 XY 1 27 1 1 27 2 30 3 5 60 3 35 6 14 105 4 40 10 30 160 ∑ 132 352 15 Empregando as fórmulas: 𝑌 = 𝑎 + 𝑏𝑋 𝑌 = 22 + 4,4 ∗ 5 = 44 Resposta: a previsão de demanda do produto para o próximo período (período 5) é de 44 unidades. TEMA 5: PREVISÃO COM BASE NO MÉTODO DELPHI Até o momento vimos métodos de previsão quantitativos que se baseiam em dados históricos para poder antever o futuro. Estes métodos funcionam muito bem para períodos estáveis no curto e médio prazo, e atendem as necessidades de planejamento das empresas nestas situações (estabilidade e prazos não muito longos). No entanto, a complexidade de nossa sociedade tem aumentado de tal forma que, em muitos momentos, é impossível para uma empresa contar com estas condições para prever sua demanda, utilizando somente métodos quantitativos. As turbulências políticas e econômicas, a velocidade das mudanças tecnológicas e da modificação dos desejos e necessidades das pessoas contribuem para que o uso de técnicas tradicionais não seja suficiente para uma adequada previsão de demanda. Dessa forma, é necessário buscar uma visão prospectiva, em que o futuro possa ser determinado por tendências históricas interligadas a eventos incertos. Assim, Cardoso et al. (2005, p. 64) propõe que, se o futuro não está definido pelo passado, é possível agir sobre as variáveis que o afetam para construir futuros desejados e/ou nos afastar de futuros indesejados, envolvendo não somente técnicas quantitativas, mas também a comunicação e a negociação entre os diversos agentes que possam atuar sobre este futuro. 16 O método Delphi é uma das técnicas mais utilizadas para realizar estudos prospectivos. Seu nome é uma referência ao oráculo de Delfos, famoso local histórico no qual se faziam predições que determinaram muitas decisões de líderes da Grécia Antiga. O método Delphi é um método qualitativo de previsão que, conforme Santos (2015, p. 37), consiste na aplicação de questionários a especialistas, em várias rodadas, buscando identificar possíveis cenários futuros de acordo com o conhecimento que estes especialistas têm acerca da situação que se pretende prever. Após cada uma das rodadas, faz-se uma análise estatística dos dados obtidos. Com base nesses resultados se faz um novo questionário para distribuir ao grupo. Após cada iteração, observa-se se há variação significativa nas respostas. Quando acabam as variações entende-se que o processo está encerrado. Cardoso et al. (2005, p. 67) comentam que são necessárias três condições para assegurar a autenticidade do método: (a) deve ser assegurado o anonimato dos respondentes, para evitar a influência prévia de uns sobre os outros e eventuais constrangimentos devido a mudanças de opinião durante o processo; (b) retorno (feedback) das respostas, para que os especialistas possam, conhecendo as opiniões do grupo, reavaliar e aprofundar suas visões; e (c) tratamento estatístico das respostas, para que cada especialista possa se posicionar em relação ao grupo. O tratamento estatístico também é necessário para que a equipe de coordenação possa acompanhar a evolução das respostas em direção ao consenso. Quanto ao consenso é importante ressaltar que nem sempre ele acontecerá em todas as questões, sem que isso prejudique o processo em sua totalidade. Entre as principais vantagens do método Delphi, Cardoso et al. (2005, p. 68) destacam: (a) a reflexão individual e coletiva sobre os temas tratados, sem as desvantagens que reuniões presenciais costumam apresentar, em especial o 17 predomínio de algumas opiniões individuais em detrimento das opiniões dos demais indivíduos e do grupo; (b) a integração e a sinergia de ideias e visões entre os especialistas e consequentemente dos setores, organizações e visões que estes representam; (c) a agregação de conhecimento ao processo, não só pelas respostas, que incorporam esforço de reflexão e opiniões de especialistas nos temas tratados, mas também porque o próprio processo propõe, por meio das rodadas, a reformulação e o aprimoramento das questões formuladas. Mas também há desvantagens que devem ser levadas em consideração ao se escolher o método: Dificuldade na elaboração do questionário: é necessário um grande conhecimento do tema em pauta para a elaboração do questionário, determinando o uso de dados disponíveis sobre o assunto, com o cuidado de não se ter nenhum tipo de viés ou ambiguidade nas questões; Dificuldades nas respostas: as respostas exigem grande grau de concentração dos especialistas e as sucessivas rodadas acabam por causar fadiga e, por consequência, uma alta desistência dos especialistas ao longo do processo. Há também a possibilidade de alguns especialistas não se sentirem confortáveis para responder algumas das perguntas; Prazos: considerando todos osprocedimentos, como elaboração do questionário, aplicação, tabulação, entre outros, o prazo é da ordem de 4 a 6 meses. Assim, há necessidade de um planejamento adequado para que o método possa ser válido. A aplicação do Método Delphi deve seguir algumas etapas pré-estabelecidas para aumentar a confiabilidade do método e a consistência das informações geradas. A Figura 3 explica a sequência de etapas do método. 18 Figura 3: Etapas do Método Delphi Fonte: Santos, 2015, p.38 19 SÍNTESE Nesta aula abordamos uma etapa fundamental do PPCP, a previsão de demanda. Em especial nos sistemas empurrados de produção, nos quais ainda não sabemos qual a demanda real. Para que possamos planejar as ações de produção, precisamos estimar quanto devemos produzir. Esta estimativa pode ser obtida por uma série de métodos, tanto quantitativos quanto qualitativos. Dentre os métodos quantitativos destacamos as séries temporais, utilizando média, e as técnicas com base em correlações. Para os métodos qualitativos, exemplificamos o Método Delphi. Vale ressaltar que existe uma série de outros métodos não exemplificados aqui, posto que buscamos mostrar dentre os mais utilizados, aqueles de mais simples execução. É fundamental observar a sequência para realizar uma previsão correta, que é: escolher o modelo de previsão; coletar e analisar os dados; selecionar a técnica de previsão – qualitativa ou quantitativa – séries temporais ou correlações; obter as previsões; monitorar o modelo. REFERÊNCIAS BEZERRA, C. A. Técnicas de planejamento, programação e controle da produção: aplicações e planilhas eletrônicas. Curitiba: IBPEX, 2010. CARDOSO, L. R. A. et al. Prospecção de futuro e Método Delphi: uma aplicação para a cadeia produtiva da construção habitacional. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 5, n. 3, p. 63-78, jul./set. 2005. CORRÊA, H. L. et al. Planejamento, programação e controle da produção: MRP II/ERP. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. JACOB, F. R.; CHASE, R.B. Administração da produção e operações: o essencial. Porto Alegre: Bookman, 2009. 20 SANTOS, A. P. L. Planejamento, programação e controle da produção. Curitiba: Intersaberes, 2015.
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