Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
55 UNIDADE 2 ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO DEMOCRÁTICA E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • compreender a problemática das identidades de gênero e étnico-raciais no contexto escolar e histórico-social; • identificar a importância da inclusão social e escolar na diversidade; • abordar o tema diversidade no espaço escolar relacionado às questões le- gais do Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei nº 10.639/03 e a Lei nº 11.645/07. Esta unidade está dividida em três tópicos e em cada um deles você encontra- rá atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados. TÓPICO 1 – DIREITOS E CIDADANIA NA LEGISLAÇÃO: O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE TÓPICO 2 – A INCLUSÃO SOCIAL E A EDUCAÇÃO TÓPICO 3 – DESAFIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA: DIVERSIDADE E INCLUSÃO Assista ao vídeo desta unidade. 56 57 TÓPICO 1 DIREITOS E CIDADANIA NA LEGISLAÇÃO: O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, na Unidade 1 você foi apresentado ao contexto geral da relação entre educação e diversidade. Neste tópico, nossa reflexão será dedicada à compreensão da garantia à educação e ao respeito da diversidade como direitos da criança e adolescente previstos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. A educação e o respeito à diversidade como direito resultam de lutas pelos direitos humanos em todo o mundo. A trajetória no que se refere às crianças e aos adolescentes não é diferente. A conquista desses direitos partiu do reconhecimento de um contexto social excludente e da luta pela garantia de cidadania e proteção a esses sujeitos. A legislação brasileira prevê a educação como direito de todos e dever do Estado. Por esta razão, conceber uma educação de qualidade perpassa pela inclusão de todos, sem distinção, na rede de ensino e no respeito às necessidades de cada indivíduo ao longo de seu percurso formativo. 2 DIVERSIDADE E EDUCAÇÃO: RETRATOS DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO BRASIL Caro acadêmico, na Unidade 1 foram discutidas as temáticas referentes aos diferentes tipos de diversidade e como o respeito à diversidade é fundamental para a garantia da cidadania. Não há cidadania sem o acesso e o respeito aos direitos humanos. No caso brasileiro, o direito à educação remete ao texto da Constituição Federal de 1988. A CF prevê a educação como direito de todos e dever do Estado. Contudo, historicamente, os caminhos de nossa sociedade configuraram uma realidade de exclusão social, de invisibilidade das crianças e adolescentes, especialmente aqueles em condições de vulnerabilidade. UNIDADE 2 | ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO DEMOCRÁTICA E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 58 As estatísticas apontam para uma configuração social em que a diversidade representa, em muitos casos, um sinônimo para falta de acesso à saúde, à educação, ao mercado de trabalho, às tecnologias, ou seja, representa um sinônimo para exclusão social. Os infográficos a seguir são indicadores que representam as desigualdades e o acesso aos direitos sociais estratificados por cor/raça e sexo. FIGURA 13 - RENDA MÉDIA DA POPULAÇÃO SEGUNDO SEXO E COR/RAÇA FONTE: IPEA (2011). Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/ images/stories/PDFs/livros/livros/livro_retradodesigualdade_ ed4.pdf>. Acesso em: 12 out. 2016. Quando observamos as diferenças na renda média da população brasileira, nos deparamos com uma realidade que nos mostra que a diversidade não é apenas uma característica cultural da identidade brasileira. A diversidade coloca determinados grupos – nesse caso em particular, negros e mulheres – em uma situação de exclusão. A distância entre a renda média de brancos e negros significa também uma distância de oportunidades, como no acesso às tecnologias que podem facilitar os estudos ou no acesso a recursos de saúde quando não há atendimento no Sistema Único de Saúde. Em outras palavras, a diversidade significa uma desvantagem para grande parte da população brasileira. E a educação? Como a diversidade pode ser observada quando analisamos o acesso à educação em nosso país? TÓPICO 1 | DIREITOS E CIDADANIA NA LEGISLAÇÃO: O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 59 FIGURA 14 - MÉDIA DE ANOS DE ESTUDO DA POPULAÇÃO OCUPADA COM 16 ANOS OU MAIS DE IDADE, SEGUNDO SEXO E COR/RAÇA - 1999 E 2009 FONTE: IPEA (2011). Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/ portal/images/stories/PDFs/livros/livros/livro_ retradodesigualdade_ed4.pdf>. Acesso em: 12 out. 2016. Duas características importantes para a compreensão da realidade da educação brasileira devem ser consideradas a partir dos dados apresentados acima: a diferença entre a média de anos de estudo de brancos e negros e o fato de que, mesmo diante do aumento da média de anos de estudo em uma década, a distância entre cor/raça ainda persiste. A população branca passa maior tempo na escola que a população negra. Não é suficiente ampliar o acesso à educação sem conhecer e considerar a diversidade de nossa população e o que ela representa em termos de desigualdades. Um dos desafios da educação se encontra na necessidade de superar nossas desigualdades históricas para que a educação como direito de todos não seja apenas uma utopia, mas a possibilidade de mudanças reais na vida da população. Por que o direito à educação é tão importante? Por que garantir educação de qualidade a todos é fundamental para superar as desigualdades sociais? Porque o reflexo da desigualdade no acesso à educação atinge outras áreas da vida das pessoas, como o mercado de trabalho. Observe o infográfico a seguir: UNIDADE 2 | ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO DEMOCRÁTICA E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 60 FIGURA 15 - TAXA DE DESEMPREGO DA POPULAÇÃO DE 16 ANOS OU MAIS DE IDADE, SEGUNDO SEXO E COR/ RAÇA FONTE: IPEA (2011). Disponível em: <http://www.ipea. gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/livro_ retradodesigualdade_ed4.pdf>. Acesso em: 12 out. 2016. Os índices de desemprego mostram que, proporcionalmente, os negros sofrem mais que os brancos com essa questão. Assim como entre mulheres e homens, elas somam maior número de desempregados. As mulheres negras são o grupo mais vulnerável ao desemprego. Outra situação para exemplificar as consequências da restrição ao acesso à educação? O percentual de indivíduos que necessita de apoio das políticas de assistência social para garantir condições mínimas de vida para suas famílias. Mercado de trabalho Taxa de desemprego da população de 16 anos ou mais de idade, segundo sexo e cor/raça. Brasil, 2009. TÓPICO 1 | DIREITOS E CIDADANIA NA LEGISLAÇÃO: O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 61 FIGURA 16 - DISTRIBUIÇÃO DOS DOMICÍLIOS QUE RECEBEM BOLSA FAMÍLIA, SEGUNDO COR/RAÇA DO/DA CHEFE FONTE: IPEA (2011). Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/ images/stories/PDFs/livros/livros/livro_retradodesigualdade_ed4. pdf>. Acesso em: 12 out. 2016. Mais uma vez observamos a diversidade cultural de nossa população convertendo-se em desigualdade social: do total de famílias que recebem o Bolsa Família, 70% são formadas por negros. Ainda há muito que devemos conhecer para compreender o que representa a diversidade para a população brasileira, contudo, conhecer esses indicadores nos permite entender o protagonismo da educação em relação à garantia dos direitos e da cidadania.O respeito à diversidade exige de nós, educadores, compreender que para alcançar esse ideal devemos reconhecer em nossos alunos o que significa ser diverso. São diversos porque vivem em realidades diferentes, com contextos sociais, têm oportunidades, experiências de vida e expectativas diferentes em relação à escola. Respeitar a diversidade exige incluir todos no processo de ensino e aprendizagem, e incluir é muito mais que inserir alunos no espaço da escola. A educação é direito de todos. Como a legislação garante esse direito? Vamos conhecer esses pormenores na sequência. Legenda domicílios chefiados por brancos/as domicílios chefiados por negros/as Previdência e assistência social Distribuição dos domicílios que recebem Bolsa Família, segundo cor/ raça do/da chefe. Brasil, 2006. UNIDADE 2 | ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO DEMOCRÁTICA E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 62 3 BREVE HISTÓRIA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE A luta de movimentos sociais ao redor do mundo para transformar realidades como a que analisamos acima foi responsável por levantar o debate dos direitos da criança e do adolescente. Afinal, como garantir a cidadania, como preparar o sujeito para ser crítico e autônomo quando suas necessidades mínimas não são atendidas? O reflexo desse movimento levou à elaboração de uma série de documentos que garantem os direitos de crianças e adolescentes. O histórico da exclusão de crianças e adolescentes refere-se também ao tratamento que a lei previa, pois eram considerados como figuras incapazes, que necessitavam da tutela do Estado. Nas palavras de Veronese (2006, p. 7, grifo do original), esse direito: [...] tem sua origem a partir do questionamento dos movimentos sociais indignados com a realidade da criança e do adolescente brasileiros, afrontados na quase totalidade de sua cidadania. Essa indignação tornava-se maior à medida que se analisava o modo com que foram historicamente tratados pela legislação brasileira, ou seja, como meros objetos de intervenção, tutelados pela lei e pela justiça; situação essa que, pouco a pouco, desejamos que se transforme [...]. A representação da criança e do adolescente como sujeitos vem sofrendo alterações de acordo com as dinâmicas sociais. Destaca-se no trecho acima a representação presente na legislação brasileira dos sujeitos nessa faixa de idade como objetos de intervenção, em outras palavras, pela lei estavam distantes das noções de cidadania. TÓPICO 1 | DIREITOS E CIDADANIA NA LEGISLAÇÃO: O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 63 História Social da Criança e Família (1981) Os termos criança e família não possuíram sempre o mesmo significado que conhecemos hoje. Para conhecer as diferentes representações desses termos na história, Philippe Ariès nos mostra como as ações dos sujeitos moldam as sociedades. Entre os argumentos presentes na obra estão: a visão da criança como um adulto em miniatura sem vontade ou opinião própria que perdurou por muito tempo ao longo da trajetória de nossa sociedade; a infância como um sentimento da modernidade, pois a criança passa a ser útil para a sociedade; a crença de não haver diferenças entre adultos e crianças e, por esse motivo, crianças presenciavam todos os aspectos da vida social – inclusive jogos sexuais –; e a formação das instituições de ensino passando de asilos para instituições com hierarquia autoritária. FONTE: Disponível em: <http://www.historiadigital.org/livros/livro-historia-social- da-crianca-e-familia/>. Acesso em: 6 set. 2016. O contexto histórico nos permite compreender quais forças atuaram na direção da proteção à criança e ao adolescente. Inicialmente, é preciso reconhecer os desafios que se expressam em relação à criminalidade e à violência que atinge crianças e adolescentes em nosso país. Desse contexto social surge a necessidade de transformar a visão do Estado sobre tais questões. As transformações que iremos observar no Estado brasileiro estão incluídas em um contexto mais amplo de luta pela garantia dos direitos da criança e do adolescente em todo o mundo que tem expressão nos marcos institucionais e serão apresentados a seguir. A Declaração de Genebra é considerada o marco inicial para o debate da questão dos Direitos da Criança e do Adolescente, a partir dessa declaração foi estabelecida internacionalmente a garantia de uma proteção especial à criança. Essa proteção especial exigiu dos Estados uma reflexão sobre a forma como a infância era tratada na sociedade (VERONESE, 2006). Em 1948, mais um avanço no sentido da garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente tomou espaço na Organização das Nações Unidas (ONU): A Declaração Universal de Direitos Humanos. A declaração é o norte para a IMPORTANT E UNIDADE 2 | ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO DEMOCRÁTICA E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 64 elaboração de políticas públicas e para o avanço das legislações que passam a contemplar os direitos humanos como fundamentais. Para as crianças e adolescentes ficaram garantidos cuidados especiais. A Declaração Universal dos Direitos da Criança e do Adolescente de 1959 representou avanços importantes ao colocar como responsabilidade dos Estados princípios e obrigações referentes ao tratamento prioritário de crianças e adolescentes. A declararão inicia garantindo o direito à igualdade sem distinção, ou seja, todas as crianças devem ter o mesmo acesso aos direitos, independentemente de suas particularidades de raça, religião ou posição econômica, por exemplo. Ainda nesse texto são garantidos o direito à proteção especial, oportunidades, condições de dignidade e liberdade, benefícios da previdência, direito à educação e cuidados especiais para crianças tanto física quanto mentalmente deficientes, além de amor e compreensão da família e da sociedade, direito à educação gratuita e ao lazer e a prioridade no atendimento em todas as circunstâncias. De maneira geral, as crianças passam a ter acesso ao direito de receber condições para seu pleno desenvolvimento. A questão da justiça para a infância e juventude ganhou centralidade através das normas estabelecidas pelas Regras de Beijyng, de 1985. As regras preveem a promoção do bem-estar da criança e do adolescente e de sua família, condições para o afastamento do crime e da violência, o reconhecimento desse grupo como parte integrante e ativa no processo de desenvolvimento social, além de delimitar as regras jurídicas para o tratamento de crianças e adolescentes. As regras de Beyjing fomentaram o debate e a elaboração de leis e políticas públicas ao redor do mundo. As medidas de proteção às crianças e adolescentes são reafirmadas na Convenção Americana de Direitos Humanos de 1992. No texto resultante dessa convenção, os Estados americanos retomam os direitos garantidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, reforçando que o direito humano é garantido pelo simples fato de sermos humanos, independentemente do país em que vivemos ou de outras características particulares. O marco mais recente em relação à proteção e garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente foi a Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989, que estabeleceu a Doutrina da Proteção Integral. Os Estados signatários assumem o pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes como fundamental e, mais uma vez, esse direito é garantido independentemente de suas particularidades. TÓPICO 1 | DIREITOS E CIDADANIA NA LEGISLAÇÃO: O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 65 FIGURA 17 - CARACTERÍSTICAS MARCANTES DA HISTÓRIA DOS DIREITOSDAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES NO MUNDO FONTE: Adaptado de Veronese (2006) O direito à educação é mencionado como direito fundamental em todos os textos considerados como marcos históricos dos Direitos Humanos. A educação é capaz de permitir o pleno desenvolvimento do indivíduo. No caso das crianças e adolescentes, a educação é capaz de transformar suas realidades. Por esta razão, a importância do direito à educação garantida por lei é consenso em todo o mundo. Podemos destacar também marcos representativos para a garantia dos Direitos das Crianças e Adolescentes na América Latina. Na figura a seguir destacamos iniciativas latino-americanas para a proteção dos Direitos das Crianças e Adolescentes. FIGURA 18 - CARACTERÍSTICAS MARCANTES DA HISTÓRIA DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA AMÉRICA LATINA FONTE: Adaptado de Saliba (2006) Declaração de Genebra de 1924 - garantia de proteção especial à criança. Declaração Universal de Direitos Humanos das Nações Unidas de 1948 - previa direitos e cuidados especiais para a infância. Declaração Universal dos Direitos da Criança de 1959- representou princípios e não obrigações para os Estados. Regras de Beijyng de 1985 - estabeleceram normas para a Justiça da Infância e da Juventude. Convenção Americana de Direitos Humanos de 1992 - estabeleceu medidas de proteção para as crianças. Convenção Internacio- nal sobre os Direitos da Criança de 1989 – consagrou a Doutrina da Proteção Integral. UNIDADE 2 | ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO DEMOCRÁTICA E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 66 A partir da Convenção Americana dos Direitos Humanos, em toda a América Latina tornou-se obrigatório o respeito a princípios jurídicos básicos. Essa mudança levou à substituição da doutrina da situação irregular para uma nova doutrina, chamada de doutrina da proteção integral. Com a doutrina da proteção integral a legislação passou a apresentar maneiras eficientes de defesa e promoção dos Direitos Humanos para crianças e adolescentes (SALIBA, 2006). Doutrina da Situação Irregular: Com essa doutrina havia uma distinção entre crianças e adolescentes e menores. Quem eram os menores? Aquelas crianças e adolescentes excluídos da sociedade, da escola, da saúde, da família. Com essa visão a pobreza era criminalizada, pois em caso de infrações, os menores eram privados de sua liberdade. Nessa doutrina a infância era objeto de proteção e o poder de ação sobre ela estava concentrado na figura do juiz (SALIBA, 2006). Doutrina da Proteção Integral: Em oposição à situação irregular, a proteção integral seria uma situação na qual os direitos ao bem-estar e vida digna estivessem à disposição de crianças e adolescentes. Partindo desse pressuposto, a situação irregular é tida como anormal - nesses casos ocorrem as privações econômicas, físicas e sociais. As medidas socioeducativas são protagonistas na recuperação e reinserção social dessas crianças e adolescentes (SALIBA, 2006). Mesmo diante dos avanços observados até aqui, é importante ressaltar que o atendimento e a proteção de crianças e adolescentes nos moldes estabelecidos pelos textos legais estão distantes de alcançar a todos. Por esse motivo ressaltamos a diversidade como tema fundamental para a educação. Todos os dias, nas escolas, surgem desafios relacionados à restrição no acesso aos direitos fundamentais e às consequências da exclusão de determinados grupos sociais. 4 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, conhecido como ECA, representa um significativo avanço da legislação brasileira no sentido de superar entraves históricos no que compete à realidade de exclusão vivida por crianças e adolescentes em nosso país. A essa altura você já deve ter se perguntado: Por que é importante conhecer o ECA? Como o ECA pode influenciar no contexto educacional? Nosso propósito nesse tópico é apresentar a você, acadêmico, o universo da criança e do adolescente pela visão do ECA e suas implicações para o direito à diversidade. NOTA TÓPICO 1 | DIREITOS E CIDADANIA NA LEGISLAÇÃO: O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 67 Chegou o momento de conhecer melhor o ECA e os desafios que persistem mesmo após os significativos avanços promovidos pela mudança da visão do Estado a respeito das crianças e adolescentes em nosso país. FIGURA 19 - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ECA FONTE: Disponível em: <http://petitebox.com.br/blog/wp- content/uploads/2016/07/eca-300x300.png>. Acesso em: 29 set. 2016. É importante ressaltar que o Direito da Criança e do Adolescente surge a partir da organização popular diante da realidade social na qual as crianças e adolescentes brasileiros estavam inseridos. Dessa forma, mesmo representando um avanço no sentido de garantir direitos e deveres a esse grupo social, o ECA se depara com a constituição social historicamente excludente do Brasil. Diante dessa realidade, como caminha a legislação brasileira? Quais direções são apontadas para a garantia do direito à diversidade e à cidadania? Como a educação pode ser um instrumento para promover o acesso e a garantia a esses direitos? Em termos conceituais é desafiador elaborar uma definição restrita para o Direito da criança e do adolescente, contudo, é possível afirmar que cabe a essa área do Direito garantir os direitos fundamentais de crianças e adolescentes. Nessa visão, entende-se por criança e adolescente o sujeito em processo de desenvolvimento. Vale lembrar que os direitos da criança e do adolescente não é contemplado apenas no ECA, porém esse é o instrumento central de proteção dos direitos e garantia da cidadania (VERONESE, 2006). O ECA brasileiro é reconhecido internacionalmente por seu caráter inovador e avançado, porém ainda distante de uma consolidação prática: O Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei nº 8.069/1990 é reconhecido internacionalmente como um dos mais avançados diplomas legais dedicados à garantia dos direitos da população infantojuvenil. No entanto, suas disposições - verdadeiramente revolucionárias em muitos UNIDADE 2 | ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO DEMOCRÁTICA E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 68 aspectos - ainda hoje são desconhecidas pela maioria da população e, o que é pior, vêm sendo sistematicamente descumpridas por boa parte dos administradores públicos, que fazem da prioridade absoluta e da proteção integral à criança e ao adolescente, princípios elementares/ mandamentos contidos tanto na Lei nº 8.069/1990 quanto na Constituição Federal, que como tal deveriam ser o foco central de suas preocupações e ações de governo, palavras vazias de conteúdo, para perplexidade geral de toda sociedade (DIGIÁCOMO; DIGIÁCOMO, 2013, p. 1). O ECA encontra-se dividido em dois tomos: no Livro I – Parte Geral e no Livro II – Parte Especial. Na Parte I são apresentados os direitos fundamentais: à vida e à saúde, à liberdade, ao respeito e à dignidade, à convivência familiar e comunitária, à educação, ao esporte e ao lazer, à profissionalização e à proteção do trabalho e à prevenção. No Livro II são apresentadas a política de atendimento, das entidades de atendimento, das medidas de proteção, das medidas específicas de proteção, da prática do ato infracional, dos direitos individuais, das garantias processuais, das medidas socioeducativas, das medidas pertinentes aos pais ou responsáveis, do conselho tutelar e do acesso à justiça da infância e da juventude. Caro acadêmico, quais seriam então os princípios a serem seguidos a partir de uma interpretação do ECA? De acordo com Veronese (2006, p. 17): [...] os fins sociais,o bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos e a condição da pessoa humana em desenvolvimento. Esse último princípio estabelece uma condição relevante para diferenciar o tratamento da criança e adolescente a partir de um ponto de vista privilegiado, ou seja, prioritário [...]. Assim, os preceitos do direito comum são válidos no que concerne ao Estatuto e, ainda: a) Exigência do bem comum – com o escopo de atender aos interesses de toda a sociedade. b) Direitos e deveres individuais e coletivos – levando em consideração a sistemática dos direitos resguardados pelo Estatuto. c) Condição peculiar da criança e do adolescente como pessoa em desenvolvimento – considerado como o norte basilar do Estatuto, deve seu aplicador sempre procurar medidas mais adequadas à proteção da criança e do adolescente. Por tratar-se de um ser em desenvolvimento, merece toda atenção propiciada aos adultos, mais algumas peculiares à sua condição. Pode o julgador, inclusive, contrariar certos dispositivos legais a fim de melhor proteger à criança e ao adolescente no caso concreto. Em outras palavras, a partir do ECA a forma como o Estado e a sociedade se relacionam com crianças e adolescentes se transforma, pois crianças e adolescentes passam a ser prioridade. Isso significa que direitos e deveres individuais e coletivos desse grupo devem ser privilegiados. O atendimento direcionado a crianças e adolescentes deve respeitar as necessidades mais adequadas ao seu desenvolvimento. TÓPICO 1 | DIREITOS E CIDADANIA NA LEGISLAÇÃO: O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 69 FIGURA 20 - DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE FONTE: A autora. Pode-se perceber avanços significativos em relação à proteção de crianças e adolescentes com o ECA. Entretanto, as críticas e as declarações de apoio ao ECA remetem a um paradoxo: Na sociedade brasileira, o Estatuto da Criança e do Adolescente sofre uma crítica ambígua: por um lado, ele supostamente protege em demasia o infrator, sendo conivente com suas práticas e extremamente permissivo; por outro, é bastante elogiado por um segmento que vê na suposta função educativa a expressão da democracia (SALIBA, 2006, p. 16). Ainda que considerado inovador e reconhecido pelo potencial transformador, fica evidente que o caminho a ser percorrido para que a legislação de proteção integral da criança e do adolescente seja colocada em prática é longo. Na figura a seguir você pode observar os direitos presentes no ECA mais conhecidos e divulgados em nossa sociedade. UNIDADE 2 | ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO DEMOCRÁTICA E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 70 ECA comemora 25 anos com desafios no campo da educação E-book gratuito "Salvar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)" é lançado em São Paulo. Para conhecer mais sobre os avanços e desafios dos 25 anos do ECA, a obra traz especialista da área de educação para avaliar os impactos da legislação no campo educacional brasileiro. FONTE: VALLE, Leonardo. ECA comemora 25 anos com desafios no campo da educação. Instituto NET Educação. Disponível em: <http://www.neteducacao. com.br/noticias/Reportagem/eca-comemora-25-anos-com-desafios-no-campo- da-educacao>. Acesso em: 28 set. 2016. Outro tema polêmico em relação ao ECA é a adoção das medidas socioeducativas diante de uma infração cometida por crianças e adolescentes. O objetivo dessas medidas é educar o sujeito que cometeu a infração, reconhecendo que o formato de pena até então utilizado não era capaz de educá-los. Dessa forma, além da valorização da educação ao reforçá-la como direito das crianças e adolescentes, o caráter pedagógico do ECA pode ser considerado pela concepção das medidas socioeducativas. Essas medidas devem educar o infrator, proporcionar a ele a oportunidade de aprender com seus erros. Medidas Socioeducativas Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semiliberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. § 1º. A medida aplicada ao adolescente levará em conta sua capacidade de cumpri-la, às circunstâncias e à gravidade da infração. § 2º. Em hipótese alguma e sob pretexto algum será admitida a prestação de trabalho forçado. § 3º. Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições. As medidas socioeducativas são destinadas aos adolescentes acusados de práticas infracionais, DICAS NOTA TÓPICO 1 | DIREITOS E CIDADANIA NA LEGISLAÇÃO: O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 71 porém, é importante destacar que mesmo as medidas pertencendo ao gênero de sanção estatal não podem ser consideradas como penas. As penas possuem características punitivas, enquanto as medidas socioeducativas são consideradas pedagógicas, o objetivo é educar o adolescente (DIGIÁCOMO; DIGIÁCOMO, 2013). Nesse sentido, a função educativa do ECA é concebida como forma de promover a democracia, porém, como ocorre a função educativa nas práticas judiciais? No ECA, a ‘função educativa’ tem lugar privilegiado, pelo menos teoricamente, no conjunto das práticas judiciais. Preconiza que todas as medidas a serem aplicadas aos adolescentes infratores devem ter por objetivo sua reeducação, visando ao ‘preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho’. Dessa forma, os técnicos judiciais (assistente social, psicólogo e eventuais educadores que trabalham no programa de liberdade assistida) são responsáveis pela aplicação de medidas socioeducativas e pela avaliação de seus resultados (SALIBA, 2006, p. 17). Em outras palavras, cabe à aplicação das medidas socioeducativas promover um processo de reeducação do menor infrator, visando, através dessas atividades, preparar esse sujeito para o exercício da cidadania e a inserção no mercado de trabalho. A construção do ECA foi resultado de uma mudança de concepção da sociedade ao reconhecer que o tratamento conferido a crianças e adolescentes pela legislação ampliava a exclusão social. Com o ECA o tratamento de crianças e adolescentes se torna prioritário através da Doutrina da Proteção Integral e as medidas socioeducativas imprimem um caráter pedagógico no tratamento daqueles que cometem infrações. 5 O DIREITO À EDUCAÇÃO NO ECA Já vimos até aqui que, a partir do ECA, a criança e adolescente possuem atendimento prioritário e que a estrutura do ECA prevê medidas pedagógicas para lidar com as infrações. E como a educação é tratada no texto do estatuto? O direito à educação é garantido como direito fundamental pelo ECA juntamente com a garantia da cultura, esporte e lazer como direitos: CAPÍTULO IV - DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes: UNIDADE 2 | ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO DEMOCRÁTICA E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 72 I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuitapróxima de sua residência. Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais (DIGIÁCOMO; DIGIÁCOMO, 2013, p. 74, grifos do original). A educação como direito tem por objetivo proporcionar o pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes. No contexto desse pleno desenvolvimento estão o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. Como foi mostrado no início desse tópico, para que todos possam ter seu pleno desenvolvimento garantido é preciso reconhecer as desigualdades sociais. Nesse sentido, o ECA prevê o direito de acesso e permanência na escola para todos, o direito de ser respeitado – independentemente de suas particularidades –, o direito a participar das discussões pedagógicas na escola e o direito de ter uma escola próxima à sua residência. Esses direitos só poderão ser garantidos se houver o respeito às diversidades, caso contrário a educação não será um direito de todos, mas privilégio de poucos. Além disso, o ECA estabelece alguns princípios que deverão direcionar a educação brasileira em consonância com a Constituição Federal de 1988 (ver Unidade 1). Entre as direções estabelecidas está a superação da educação como sinônimo de ensino dos conteúdos tradicionais – divididos em disciplinas como português, matemática, história, geografia etc. A educação deverá construir as bases necessárias ao exercício da cidadania (DIGIÁCOMO; DIGIÁCOMO, 2013). Meu amigo Nietzsche (2013). Direção de Fáuston da Silva. O curta-metragem brasileiro Meu Amigo Nietzsche mostra uma maneira sarcástica e irresistivelmente divertida de abordar o analfabetismo funcional e a síndrome crônica que abate a educação no Brasil. Crítico às instituições formadoras e conservadoras da sociedade brasileira – a escola, a família e a igreja –, o filme de Fáuston da Silva conta a guinada do menino Lucas, que encontra um exemplar de “Assim Falou Zaratustra”, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, no lixão e começa a lê-lo. Logo o curta se revela uma trama de maturação, pois Lucas, antes considerado um “péssimo aluno”, realmente devora o livro e passa a dominar conceitos, a falar bonito e a expor raciocínios exuberantes. Mas, ao invés de colher admiração, acaba assustando sua mãe e sua professora, agora aflitas na tentativa de diagnosticar o mal que atormenta o garoto: para a mãe, aquilo é coisa do demônio e só a igreja o salvará; para a professora, é o surgimento de uma potencial liderança nociva. Feito a partir de recursos evidentemente limitados, Meu Amigo Nietzsche é um sopro de autenticidade se considerarmos que a maioria dos filmes sobre a periferia (o curta se passa DICAS TÓPICO 1 | DIREITOS E CIDADANIA NA LEGISLAÇÃO: O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 73 na Cidade Estrutural, periferia do Distrito Federal) assinala a violência como protagonista na denúncia da desigualdade social. Ao apontar sua câmera para a educação e tratar do tema com humor e muita fluência narrativa, Fáuston já se diferencia e conquista a plateia. O sucesso da abordagem vem acumulando prêmios, com boas passagens pelo Festival de Brasília e pelo Clermont-Ferrand, tradicional festival francês dedicado aos curtas- metragens, onde Meu Amigo Nietzsche faturou o prêmio do público e o de melhor comédia da competição. A obra cria expectativa sobre o nome de Fáuston e sugere que o cinema do Distrito Federal, que recentemente nos trouxe o ótimo Branco Sai Preto Fica, vive um bom momento. FONTE: Meu amigo Nietzsche. Cine Festivais. Disponível em: <http:// cinefestivais.com.br/criticas/meu-amigo-nietzsche-de-fauston-da-silva/>. Acesso em: 16 set. 2016. A educação é essencial para o exercício da cidadania e, devido à sua relevância para nossa sociedade, não pode ser tomada como tarefa exclusiva do Estado através da escola: A Constituição Federal de 1988 trouxe várias mudanças que aprimoram o conceito do direito à educação. Além de reiterar a obrigatoriedade e a gratuidade, o texto constitucional considera que o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo, podendo compelir autoridade competente a responder pelo seu não cumprimento. Com isto, os pais têm uma poderosa arma na defesa do direito de educar seus filhos, caso prefeitos, governadores ou secretários da educação não estejam oferecendo oportunidade de educação gratuita a todos [...] O art. 55 refere-se à obrigação dos pais ou responsável de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino, de forma que os que não cumprirem o dispositivo em apreço deverão ser chamados a responder pela não matrícula, podendo, nessas hipóteses, o Conselho Tutelar Municipal adotar medidas que considere adequadas ao caso (VERONESE, 2006, p. 45-46). O acesso à educação é dever do Estado e os pais devem lutar para que seus filhos tenham esse direito garantido, bem como devem ser atuantes no acompanhamento das atividades de seus filhos na escola, contribuindo para seu sucesso. De acordo com o ECA (1990), a tarefa de educar não é de responsabilidade única da escola, a educação também é tarefa da família e da comunidade, ou seja, cabe ao Estado a garantia do acesso à educação, porém a tarefa de educar é de toda a sociedade: da escola, da família e da comunidade. UNIDADE 2 | ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO DEMOCRÁTICA E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 74 A importância da participação de pais e alunos nas decisões da escola será retomada ao fim dessa unidade. Tendo como norte a construção da cidadania, a educação deve, também, preparar o sujeito para o mundo do trabalho. Como realizar essa tarefa? É necessário preparar o sujeito para o trabalho através da qualificação profissional e, ao mesmo tempo, prepará-lo para conhecer seus direitos fundamentais (DIGIÁCOMO; DIGIÁCOMO, 2013). Observe na charge de Amâncio a representação da distância que persiste entre a garantia do acesso à educação na legislação e a realidade da sociedade brasileira. FIGURA 21 - DESAFIOS DA EDUCAÇÃO EM RELAÇÃO ÀS DESIGUALDADES SOCIAIS FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-tlvkbpoF2ro/ Tvc05jzSWuI/AAAAAAAAARQ/sV79BegImGA/s1600/ensino- publica-charge-de-amancio.jpg>. Acesso em: 29 set. 2016. O conhecimento dos seus direitos fundamentais é previsto também pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) - Lei nº 9.394, de 1996. A LDB prevê de forma obrigatória o ensino de conteúdos vinculados aos direitos das crianças e dos adolescentes (DIGIÁCOMO; DIGIÁCOMO, 2013). Sintetizando as informações analisadas até aqui, pode-se afirmar que o ECA prevê: • direito à educação; • direito ao acesso e permanência na escola; ATENCAO TÓPICO 1 | DIREITOS E CIDADANIA NA LEGISLAÇÃO: O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 75 • direito ao respeito dos educadores para com os alunos; • direito à participação nos processos de decisão, como o questionamento dos critérios de avaliação; • direito à participação nas esferas de atuação estudantil no espaço da escola; • direito do acesso a uma escola próxima do local em que vive; • direito ao Ensino Fundamental obrigatório e gratuito. Esses direitos se estendem a todos sem qualquer distinção ou preconceito em relação às características individuais das crianças e adolescentes. A educação como direito contempla o respeito à diversidade. 6 A DIVERSIDADE NO ECA A diversidade é um aspecto marcante da cultura brasileira. A histórica miscigenação da nossa população, baseada no tripé: indígenas, europeus e negros, formou o Brasil que conhecemos hoje. Somos uma sociedade multirracial e esta multiplicidade de cores, raças e etnias pode ser interpretadade variadas formas. Para além da questão étnico-racial, a escola recebe indivíduos com multiplicidade de características religiosas, de orientação sexual, de posicionamento político, ou seja, com crenças e valores diversos. Logo, se a escola é para todos, a multiplicidade deve integrar o processo de ensino e aprendizagem em todos os seus momentos e espaços. As garantias referentes ao respeito à diversidade são reforçadas em diversos momentos no texto do ECA. Como mencionado no item anterior, no artigo referente à educação fica garantido o acesso e a permanência na escola para todas as crianças e adolescentes, o direito de ser tratado de forma respeitosa pelos professores, da possibilidade de discutir as questões pedagógicas, como os processos avaliativos, e o direito à participação nas entidades estudantis, como o grêmio estudantil. FIGURA 22 - DIVERSIDADE NA ESCOLA FONTE: Disponível em: <https://3.bp.blogspot. com/-K6g6AVluASo/VziGxvD1teI/AAAAAAAACAU/_ Rt5XFunWY04uv6Dl9IpXZvcicMkbnLqwCKgB/ s1600/o%2Brespeito.jpg>. Acesso em: 29 set. 2016. UNIDADE 2 | ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO DEMOCRÁTICA E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 76 Ainda no que diz respeito ao direito à educação, é previsto pelo ECA o atendimento na rede regular de ensino de crianças e adolescentes com deficiência. O acesso desses sujeitos à educação deverá ocorrer através da sua inserção no ensino regular. Para além dessas garantias, também integram o ECA: Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade de criação e o acesso às fontes de cultura. Art. 59. Os Municípios, com apoio dos Estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude (DIGIÁCOMO; DIGIÁCOMO, 2013, p. 84). No ECA, o respeito à diversidade cultural integra o aporte dos direitos das crianças e dos adolescentes. Em outras palavras, as diversas formas culturais devem ser respeitadas e, além disso, deve-se estimular o contato com diferentes representações culturais. Nesse sentido, enquanto a diversidade não for reconhecida como um desafio que persiste em nossa sociedade, as desigualdades apresentadas no início desse tópico permanecerão. O direito à diversidade é garantido pela lei porque é fundamental para o desenvolvimento pleno das crianças e adolescentes. Uma educação de qualidade deve contemplar aspectos culturais, artísticos e históricos de diversos grupos. É necessário superar a primazia de conteúdos que privilegiam grupos específicos e valorizar conteúdos que mostrem a diversidade pela qual nossa sociedade é composta. Entre os desafios para alcançar o respeito à diversidade, como previsto no ECA, está a dificuldade em reconhecer as diferenças sem classificá-las, compreender que cada indivíduo possui características e necessidades que advêm da sua trajetória de vida e do grupo social ao qual pertence. Respeitar a diversidade exige que nossas ações se guiem pela ética. Nenhum grupo humano e social pode ser considerado como melhor que outro. O reconhecimento de que cada grupo é diferente é um avanço significativo para a construção dos direitos sociais (GOMES, 2007). LEITURA COMPLEMENTAR Convenção dos Direitos da Criança - Direito de Todos A Convenção dos Direitos da Criança é o mais amplo tratado internacional de direitos humanos já ratificado na história. TÓPICO 1 | DIREITOS E CIDADANIA NA LEGISLAÇÃO: O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 77 É composta de um Preâmbulo e 54 artigos divididos em três partes: a Parte I, definidora e regulamentadora, dispõe em substância sobre os direitos da criança; a Parte II estabelece o órgão e a forma de monitoramento de sua implementação; a Parte III traz as posições regulamentares do próprio instrumento. O Preâmbulo explicita a base jurídica da Convenção, definindo também sua filosofia, ao afirmar que a criança deve, por um lado, "crescer no seio da família, em um ambiente de felicidade, amor e compreensão" e, por outro, "Estar plenamente preparada para uma vida independente na sociedade". O artigo 1º define juridicamente a criança como "todo ser humano com menos de dezoito anos de idade". Observa-se que a Convenção articula todos os direitos civis, políticos, culturais, sociais e econômicos das crianças: liberdade de expressão, de pensamento, de consciência e de crença, de acordo com sua idade e sua maturidade; direito à proteção e assistências especiais do Estado; direito de gozar do melhor padrão de vida possível; direito à pensão alimentícia; direito à educação; direito de serem protegidas contra o uso ilícito de drogas; direito à proteção contra a tolerância econômica e contra o desempenho de qualquer trabalho que possa interferir no seu desenvolvimento físico e mental. A Convenção é baseada em quatro princípios fundamentais: não discriminação; ações que levam em conta o melhor interesse da criança; direito à vida, à sobrevivência e ao desenvolvimento; respeito pelas opiniões da criança, de acordo com a idade e maturidade. Esses princípios orientam as ações de todos os interessados, inclusive das próprias crianças, na realização de seus direitos. Portanto, foi concebida com as seguintes preocupações e observações: 1. A participação da criança em suas próprias e destinadas decisões afetivas. 2. A proteção da criança contra a discriminação e todas as formas de desprezo e exploração. 3. A prevenção de ofensa à criança. 4. A provisão de assistência para suas necessidades básicas. A Convenção foi ratificada por 192 países (apenas Estados Unidos e a Somália ainda não aderiram). Desde 1990, mais de 70 países já incorporaram na sua legislação nacional estatutos sobre o tema, e efetuaram reformas jurídicas baseadas nos dispositivos da Convenção. [...] DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Essa doutrina era adotada pelo Código de Menores de 1979 e deu origem a um conjunto de regras jurídicas que se dirigiam a um tipo de criança específico, os que se encontravam em situação irregular, como os infratores. O Código de Menores, baseando-se nessa doutrina, não enxergava a criança como sujeito de direitos, observando-a apenas no âmbito penal. Ele se colocava UNIDADE 2 | ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO DEMOCRÁTICA E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO 78 como uma legislação tutelar do qual resultou um sistema processual punitivo inquisitório. Dessa forma, percebemos a importância da Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, que deu origem ao Estatuto da Criança e do Adolescente, que significou uma verdadeira revolução, ao adotar a doutrina da proteção integral. DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL Foi preciso que a sociedade, como tal, reconhecesse que era extremamente importante o tratamento da criança e do adolescente como uma questão prioritária. Assim, muitos teóricos do Direito, como também aqueles envolvidos nas questões relativas à criança e ao adolescente, estabeleceram a Doutrina da Proteção Integral, que consiste no tratamento da questão da criança e do adolescente como prioridade absoluta. Portanto, proteção integral significa que toda criança deve ser protegida e ter seu pleno desenvolvimento garantido pela família, pelo Estado, pela comunidade e pela sociedade. Esta doutrina tem presença marcante nos documentos internacionais. De tanto ter sido consagrada em nível mundial, foi incorporada na Constituição de 1988, e, consequentemente, no ECA. Este, logo em seu artigo 1º, ressalta este princípio como sendoa orientação para todo o restante de seu conteúdo. Todavia, a criação da doutrina da proteção integral não é recente, pois já era encontrada na Declaração de Genebra de 1924, que falava da "necessidade de proporcionar à criança uma proteção especial", como também na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, referindo-se ao direito da criança a cuidados e assistência especiais. Nesse mesmo sentido, há a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (San José, 1969), dizendo que o menor, por sua própria condição, tem direito a medidas de proteção. Mais recentemente, as Diretrizes das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude (1985) e as Regras Mínimas para a Proteção dos Jovens Privados de Liberdade (1990), que decorreram de Assembleias Gerais da ONU, versaram sobre esse tema. O texto constitucional, em especial nos artigos 227 e 228, "destruiu" a antiga rotina das crianças em "situação irregular", onde suas opiniões eram postergadas e o Estado/Juiz definia, de forma absoluta, seus destinos, para construir a moderna doutrina da "proteção integral", onde, de fato, as crianças passaram a ser sujeitos de direitos e não meros espectadores dos deslindes do Estado sobre suas vidas. [...] AS FORMAS PELAS QUAIS O ESTADO ASSEGURA A PROTEÇÃO DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS As ações do Estado visando implementar os direitos da criança têm de ser profundas, garantindo o acesso à escola, através de investimentos e, também, TÓPICO 1 | DIREITOS E CIDADANIA NA LEGISLAÇÃO: O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 79 de incentivos aos pais, garantindo a sua saúde, através de políticas de vacinação, saneamento básico, habitação digna, manutenção do sistema público, a sua segurança por um acompanhamento direto do Estado, da sociedade, e apoio judiciário. Os desdobramentos para a garantia dos direitos da criança levam à necessidade da funcionalidade da sociedade, pois estas são, de todos, as que mais necessitam de sua proteção. O Estado deve agir em conjunto com a sociedade, sanando seus problemas para que a sua semente nasça e cresça em um país melhor, onde as futuras sementes gozem de suas liberdades e deveres como verdadeiros seres humanos que são. PROBLEMAS RELACIONADOS À MORTALIDADE INFANTIL, EVASÃO ESCOLAR, DESNUTRIÇÃO, FOME E MISÉRIA DAS CRIANÇAS NO BRASIL PROSTITUIÇÃO INFANTIL É um problema que existe na maioria dos países do Terceiro Mundo. Segundo cálculos do Unicef, no Brasil, cerca de 2 milhões de jovens entre 10 e 15 anos estão em prostituição ou em vias de se prostituir. O Brasil assinou, mas não ratificou o Protocolo Opcional para a Convenção dos Direitos da Criança e do Adolescente para a venda, prostituição e pornografia infantil, assim como as medidas básicas necessárias para a prevenção e erradicação dessas violações ou o Protocolo para a Prevenção, Supressão e Punição do Tráfico de pessoas, especialmente mulheres e crianças, suplementando a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional. [...] FONTE: CORBELLINI, Gisele. Convenção dos Direitos da Criança - Direito de Todos. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/conven%C3%A7%C3%A3o- dos-direitos-da-crian%C3%A7a-direito-de-todos>. Acesso em: 6 set. 2016. 80 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • O ECA representou um avanço para a legislação ao priorizar a questão da criança e do adolescente. • O Direito da Criança e do Adolescente surgiu através da organização popular. • As transformações na legislação garantiram o direito à cidadania para crianças e adolescentes antes excluídos desse contexto. • Entre os documentos internacionais criados para proteger os direitos das crianças e dos adolescentes destaca-se a Convenção Internacional dos Direitos das Crianças como elemento central para a consolidação desse movimento na América Latina. • A Doutrina da Situação Irregular estabelecia uma divisão da infância entre crianças, adolescentes e menores. Os menores eram o grupo excluído socialmente em decorrência de seu contexto de vulnerabilidade. • A Doutrina da Proteção Integral garante a prioridade absoluta no tratamento das crianças e dos adolescentes. • O Direito da Criança e do Adolescente pode ser definido como a área do Direito que visa garantir os direitos fundamentais desse grupo. • As críticas ao ECA no Brasil apontam para a proteção excessiva de crianças e adolescentes que cometem infrações. • Em contraponto às críticas, o ECA é elogiado por suas medidas educativas em relação àqueles que cometem infrações. • O direito à educação no ECA prevê a educação como base para a construção da cidadania. • No texto do ECA fica garantido o acesso à educação, mas a tarefa de educar é entendida como responsabilidade da escola, da família e da comunidade. • O direito à diversidade é contemplado no ECA, pois o Estatuto garante o acesso e a permanência na escola, o tratamento respeitoso, a participação na construção do projeto pedagógico e a representação nas entidades estudantis a todos. 81 AUTOATIVIDADE 1 O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê o atendimento de todas as crianças e adolescentes da rede de ensino. Partindo desse pressuposto, a educação escolar é garantida pela lei a crianças e adolescentes com deficiências. Considerando esse contexto, analise as sentenças e assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O atendimento às crianças e adolescentes com deficiência deve ocorrer através de sua inserção na rede regular de ensino. b) ( ) As crianças e adolescentes serão inseridos na educação básica através do atendimento em instituições especiais de ensino. c) ( ) O ensino domiciliar deverá ser a forma de atendimento de crianças e adolescentes com deficiência. d) ( ) A rede de ensino regular poderá optar pelo atendimento ou não de crianças e adolescentes portadores de deficiência em suas turmas regulares. 2 O contexto histórico da luta pela proteção dos direitos da criança e do adolescente inicia com o reconhecimento dos desafios relacionados ao contexto de criminalidade e violência no qual muitos desses sujeitos encontram-se inseridos. A partir dessa realidade impõe-se a mudança de visão do Estado sobre a questão. Esse processo ocorreu em todo o mundo e foi marcado por diversos acordos internacionais. Considerando esse contexto, classifique as alternativas utilizando o código a seguir: I – Declaração de Genebra. II – Declaração Universal dos Direitos da Criança. III – Convenção Americana de Direitos Humanos. IV – Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança. ( ) Garantiu medidas de proteção para as crianças. ( ) Estabeleceu a Doutrina da Proteção Integral. ( ) Representou a garantia de proteção especial à criança. ( ) Estabeleceu os princípios e obrigações para o Estado. Agora, assinale a alternativa que representa a sequência CORRETA: a) ( ) IV – II – I – III. b) ( ) II – IV – III – I. c) ( ) III – IV – I – II. d) ( ) I – III – II – IV. 3 A partir do reconhecimento da sociedade em relação à importância do tratamento prioritário à questão da criança e do adolescente, surgiu a Doutrina da Proteção Integral. Considerando as características da Doutrina da Proteção Integral, analise as afirmações a seguir e assinale V para verdadeira e F para falsa: 82 ( ) A Doutrina da Proteção Integral resultou do esforço dos governantes, independente do contexto das lutas sociais. ( ) O tratamento da criança e do adolescente como prioridade absoluta é o princípio da Doutrina da Proteção Integral. ( ) A Doutrina da Proteção Integral é elemento marcante em diversos documentos internacionais sobre a criança e o adolescente. ( ) A Doutrina da Proteção Integralé realidade nos países da América Latina devido a suas características diversas em relação aos demais continentes. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – F – V – F. b) ( ) V – F – V – F. c) ( ) V – F – F – V. d) ( ) F – V – V – F. 83 TÓPICO 2 A INCLUSÃO SOCIAL E A EDUCAÇÃO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O direito à educação é garantido pela legislação a todos. Para tornar o texto da lei em realidade é preciso transformar a educação e buscar recuperar o atraso deixado por séculos de segregação social. Caro(a) acadêmico(a), na Unidade 1 você conheceu os desafios teóricos da relação entre inclusão e educação, bem como foi apresentada em linhas gerais a política de inclusão. Neste tópico, abordaremos os pormenores dessa política e suas implicações para a educação. No primeiro tópico você foi apresentado à legislação que garante os direitos das crianças e adolescentes, agora iremos conhecer as políticas criadas para garantir o acesso e a permanência de todos na escola através da noção de inclusão social. Caro acadêmico, o termo inclusão social é utilizado em diferentes contextos. Você conhece alguma iniciativa de inclusão social em sua comunidade? Converse com seus colegas a respeito de iniciativas que promovam a inclusão de pessoas com necessidades especiais em diferentes situações e reflita sobre a importância dessas ações na garantia do direito à diversidade. 2 INCLUSÃO COMO POLÍTICA PÚBLICA A inclusão social é reconhecida como ferramenta para a garantia do direito à diversidade na sociedade. As ações de inclusão social são usualmente destinadas às pessoas com deficiência tendo por objetivo garantir seu espaço na sociedade. O uso do termo inclusão remete a processos que visam incluir pessoas ou grupos sociais que por algum motivo encontram-se marginalizados na sociedade. Partindo desse pressuposto, a inclusão social deve proporcionar oportunidades iguais para os indivíduos que por uma determinada característica encontram-se ATENCAO 84 UNIDADE 2 | ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO DEMOCRÁTICA E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO excluídos socialmente, por exemplo, pessoas com deficiências físicas e intelectuais ou grupos que pela posição econômica não têm acesso aos mesmos direitos e oportunidades previstos pela legislação. As crianças e adolescentes que devem ser incluídos socialmente são aqueles que não têm acesso aos direitos previstos pela CF e pelo ECA, como o direito ao acesso à educação. O debate sobre inclusão social é importante porque a exclusão decorre da distância entre a garantia dos direitos prevista na legislação e a realidade da população brasileira. Como vimos no Tópico 1, indicadores mostram que a diversidade social se encontra convertida em desigualdades no acesso a direitos humanos fundamentais, como saúde e educação. Inclusão Social A Secretaria Especial dos Direitos Humanos[1] resume alguns dados que podemos considerar como exemplos de exclusão social: - 125 milhões de crianças no mundo não frequentam a escola, sendo dois terços delas mulheres. - Somente 1% dos deficientes físicos frequentam a escola em países subdesenvolvidos e emergentes. - 12 milhões de crianças morrem por problemas relacionados à falta de recursos por ano. Vale lembrar que, por exemplo, se uma pessoa é de determinada etnia, ou cor, ou se ela possui algum tipo de deficiência física ou é portadora de necessidades especiais, ela não é automaticamente uma pessoa socialmente excluída. No entanto, se a sociedade não oferece condições e faz com que qualquer uma dessas características se torne um impeditivo à liberdade humana, então há um caso de exclusão social. Portanto, mais do que uma expressão, a exclusão social é, de certo modo, uma forma de violência ao ser ou à dignidade humana, pois impede que um indivíduo exerça a sua cidadania por razões eticamente não justificáveis. [1] Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Ética e cidadania: construindo valores na escola e na sociedade. Brasília: Ministério da Educação, SEIF, SEMTEC, SEED, 2003. Disponível em: <http://www.oei.es/quipu/brasil/ec_inclu.pdf>. FONTE: Mundo Educação. Inclusão Social. Disponível em: <http:// mundoeducacao.bol.uol.com.br/educacao/inclusao-social.htm>. Acesso em: 17 set. 2016. Na relação entre inclusão social e educação é preciso considerar que existem no universo da escola diferentes representações de necessidades especiais que necessitam da atenção do Estado, da gestão e do corpo docente. O próprio uso do termo necessidades especiais necessita de reflexão: NOTA TÓPICO 2 | A INCLUSÃO SOCIAL E A EDUCAÇÃO 85 Necessidades Educacionais são as demandas apresentadas pelos sujeitos para aprender o que é considerado importante para a sua faixa etária, pela comunidade à qual a escola faz parte. Necessidades Educacionais Especiais são aquelas demandas exclusivas dos sujeitos que, para aprender o que é esperado para o seu grupo de referência, precisam de diferentes formas de interação pedagógica e/ou suportes adicionais [...] (GLAT; BLANCO, 2007, p. 25-26, grifo do original). Deste modo, a necessidade educacional especial remete a duas esferas: às questões subjetivas e ao contexto histórico e cultural do qual o sujeito faz parte. Podemos identificar necessidades educacionais especiais em alunos que migram para comunidades com língua, valores e costumes distintos da sua comunidade de origem, bem como em alunos que frequentam escolas com currículos de baixa flexibilidade voltados para as expectativas das camadas hegemônicas da população e distantes do seu cotidiano (GLAT; BLANCO, 2007). Outro grupo de alunos que possui necessidades educacionais especiais é formado por aqueles que apresentam diferenças qualitativas de desenvolvimento devido a deficiências físicas, motoras, sensoriais e/ou cognitivas, distúrbios psicológicos e/ou de comportamento (condutas típicas), e com altas habilidades (GLAT; BLANCO, 2007, p. 26). Para o sucesso da inclusão social as necessidades educacionais especiais precisam ser identificadas e respeitadas. Por exemplo, matricular um aluno em uma escola e garantir que ele frequente as aulas pode não significar que esse aluno irá aprender e/ou pertencer àquele grupo. Estar no mesmo espaço que outras crianças e frequentar a mesma série não é suficiente para incluir o aluno, é preciso conhecê-lo e proporcionar a ele oportunidades de aprendizagem de acordo com suas necessidades. Para compreender as implicações da inclusão social na escola é fundamental estabelecer a diferenciação entre deficiência e necessidade educacional especial. Quando nos referimos à deficiência entramos no campo das condições orgânicas de cada indivíduo. E quando nos referimos às necessidades educacionais especiais damos conta dessas questões orgânicas, mas também consideramos outros fatores que influenciam nas condições de aprendizagem de cada indivíduo (GLAT; BLANCO, 2007). A noção de necessidades educacionais especiais está mais próxima do que é almejado com a inclusão social, pois é admitido que as diferenciações e necessidades dos seres humanos não estão restritas a aspectos biológicos. Padrões sociais, históricos, culturais e econômicos também exercem influência na vida social. E com a educação não é diferente. As necessidades educacionais especiais não estabelecem um padrão único, pois cada necessidade parte da condição individual e particular de um indivíduo, ou seja, podemos nos deparar com dois alunos que apresentam o mesmo tipo e grau de deficiência, porém, cada um deles poderá apresentar necessidades particulares, exigindo adaptações curriculares e metodológicas diferenciadas. Emoutra situação possível, nos deparamos com alunos que não possuem deficiências 86 UNIDADE 2 | ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO DEMOCRÁTICA E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO físicas, mas necessitam de apoio diferenciado para percorrer o processo de ensino- aprendizagem (GLAT; BLANCO, 2007). Observe na charge de Ricardo Ferraz como diferentes indivíduos possuem necessidades especiais. A acessibilidade, por exemplo, não é necessidade exclusiva de deficientes físicos. FIGURA 23 - DESAFIOS DA EDUCAÇÃO EM RELAÇÃO À DIVERSIDADE E À ACESSIBILIDADE FONTE: Disponível em: <http://www.somostodosnos.com.br/wp- content/uploads/2015/03/charge-sobre-acessibilidade.jpg>. Acesso em: 29 set. 2016. No caso das pessoas com deficiência física, a legislação garante seu acesso às escolas, pois historicamente o atendimento a esse grupo acontecia em instituições especiais. No Brasil a história do atendimento às pessoas com deficiência remete ao período colonial e, em grande parte dessa trajetória, as ações do Estado voltadas para esse atendimento acabaram por criar uma cultura de exclusão, já que as pessoas com necessidades especiais eram atendidas em instituições à parte da educação regular. A criação de instituições para atendimento de pessoas com deficiência e as mudanças na legislação marcaram a história da inclusão e da exclusão na sociedade brasileira. Como marcos dessa história, podem ser destacados, segundo o MEC (2008): • Imperial Instituto dos Meninos Cegos (1854) - atual Instituto Benjamin Constant (IBC) e Instituto dos Surdos-Mudos (1857) - atual Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), ambos no Rio de Janeiro. • Instituto Pestalozzi (1926) - atendimento de pessoas com deficência mental, onde foi criado o primeiro atendimento educacional especializado. Em 1954 foi fundada TÓPICO 2 | A INCLUSÃO SOCIAL E A EDUCAÇÃO 87 a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). • A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) – Lei nº 4.024/61 – prevê o direito dos "excepcionais" à educação, preferencialmente na rede regular de ensino. • A Lei nº 5.692/71 estabeleceu o tratamento especial para alunos com deficiência física, mental, atraso na relação idade/série e superdotação, porém, não alterou a estrutura das escolas para receber esses alunos. • O Centro Nacional de Educação Especial (CENESP) foi criado em 1973 e era responsável por gerir a educação especial no Brasil. Porém, permaneceram ações isoladas e assistencialistas. • A Constituição Federal de 1998 estabelece a promoção do bem de todos, educação como direito de todos e a igualdade de condições de acesso à escola. • O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069/90, reforça os termos da Constituição Federal e determina a responsabilidade dos pais em matricular os filhos nas instituições de ensino. • A Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994) passam a influenciar as políticas de educação inclusiva. • A Política Nacional de Educação Especial (1994) prevê o acesso dos portadores de necessidades especiais às classes regulares de ensino e mantém a responsabilidade no âmbito de uma educação especial. • A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96, assegura ações específicas para atender às necessidades dos alunos de acordo com suas especificidades. • O Decreto nº 3.928 dispõe sobre a Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e define a educação especial como modalidade transversal. • As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Especial, Resolução CNE/CEB nº 2/2001, possibilitam a educação especial como ação complementar ou suplementar à escolarização. • O Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº 10.172/2001, elabora como meta a construção de uma escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade. • A Convenção da Guatemala (1999), promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que as pessoas com deficiência possuem os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que toda a população. • A Resolução CNE/CP nº 1/2002, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, prevê a formação de docentes com atenção à diversidade. • A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Sinais - Libras como forma legal de expressão e comunicação. • A Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência assegura o sistema de educação inclusiva. A inclusão das pessoas com deficiências no ensino regular é prevista por lei desde a CF de 1988; desde então, uma série de leis foram criadas tendo como objetivo a garantia desse direito. A Lei 7.853, de 1989 – Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social é um desses exemplos. Através dessa lei ficou 88 UNIDADE 2 | ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO DEMOCRÁTICA E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO garantido o acesso dos portadores de deficiência à rede pública e particular de ensino tendo por direito os mesmos benefícios que outros alunos e a oferta obrigatória e gratuita da educação especial na rede pública de ensino. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional prevê, no Capítulo V, a educação especial como modalidade de educação escolar a ser ofertada preferencialmente na rede regular de ensino. Dando ênfase ao atendimento das necessidades especiais de cada indivíduo para seu sucesso escolar. A inclusão educacional das pessoas com deficiência é uma questão polêmica. Como incluir esses alunos requer uma adaptação da escola em diferentes sentidos, por vezes, persiste a resistência da comunidade escolar. De forma mais ampla, o texto da Declaração Mundial de Educação para Todos de 1990 visou apontar objetivos para garantir a premissa da Declaração Universal dos Direitos Humanos de educação para todos. Esses objetivos se referem à satisfação das necessidades básicas de aprendizagem – cada pessoa deve ter condições de aproveitar as oportunidades de aprendizagem; expandir o enfoque – fazer uso do que há de melhor nas práticas educacionais existentes; universalizar o acesso à educação e promover a equidade; concentrar atenção na aprendizagem; ampliar os meios de e o raio da educação básica; propiciar um ambiente adequado à aprendizagem; e fortalecer as alianças entre os níveis nacional, estadual e municipal. O Plano Nacional de Educação também prevê a inclusão e a redução das desigualdades como objetivos. No plano há um conjunto de metas voltadas para a redução da desigualdade e valorização da diversidade para universalização do ensino e a ampliação da média de escolaridade da população. O Plano Nacional para a Educação em Direitos Humanos de 2013 parte do princípio de que a educação básica inclui o desenvolvimento social e emocional dos sujeitos que se encontram no processo de ensino e aprendizagem. A universalização da educação básica abre caminho para que o conhecimento socialmente produzido seja compartilhado e fomenta a democracia social. A educação em direitos humanos contempla o conhecimento formal de modo a valorizar a diversidade, as dimensões da sustentabilidade e cidadania. Entre os princípios que norteiam a educação para os direitos humanos está a construção de pilares para a educação através do respeito à diversidade cultural e ambiental, garantia da cidadania, do acesso, permanência e conclusão da educação básica, a equidade – étnico-racial, religiosa, cultural, territorial, físico-individual, geracional, de gênero, de orientarão sexual, de opção política, de nacionalidade, entre outras – e a qualidadeda educação. As orientações para as práticas educacionais que atendam às diversidades se encontram nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Na concepção apresentada no documento, a educação escolar tem uma responsabilidade diante do reconhecimento e valorização da diversidade humana. TÓPICO 2 | A INCLUSÃO SOCIAL E A EDUCAÇÃO 89 A partir da evolução da legislação ficam garantidos o acesso e a permanência de todos na rede de ensino regular. Esse direito levou a uma série de adequações nas escolas que incluem a adaptação do espaço físico a fim de atender aos alunos com necessidades especiais por exemplo, adequação de acessos com rampas e das estruturas de banheiros e salas de aula. Bem como, adequações curriculares e de metodologias que proporcionem igualdade de oportunidades no processo ensino- aprendizagem. Essas adequações devem favorecer o acolhimento e o aprendizado dos alunos. O termo "Portador de deficiência" utilizado no livro de estudos, é mencionado apenas num contexto histórico. O termo atual passa a ser "pessoa com Deficiência . A tendência é no sentido de parar de dizer ou escrever a palavra “portadora” (como substantivo e como adjetivo). A condição de ter uma deficiência faz parte da pessoa e esta pessoa não porta sua deficiência. Ela tem uma deficiência. Tanto o verbo “portar” como o substantivo ou o adjetivo “portadora” não se aplicam a uma condição inata ou adquirida que faz parte da pessoa. Por exemplo, não dizemos e nem escrevemos que uma certa pessoa é portadora de olhos verdes ou pele morena. Nesse sentido, o Conselho Nacional da Pessoa com Deficiência definiu através da portaria 2.344, o termo correto para o tratamento das pessoas com necessidades especiais. Por lei, elas devem ser tratadas como Pessoa com Deficiência. Foi retirado oficialmente do termo a palavra “portador”. A publicação do decreto aconteceu no Diário Oficial da União no dia 5 de novembro. Fonte: https://acessibilidade.ufg.br/up/211/o/TERMINOLOGIA_SOBRE_DEFICIENCIA_NA_ ERA_DA.pdf?1473203540 Atualmente, a política de inclusão social parte do reconhecimento de um paradoxo no campo da educação, composto pela ampliação do acesso à educação e pelo caráter exclusivo e elitista da educação brasileira ao longo de sua história. A escola historicamente se caracterizou pela visão da educação que delimita a escolarização como privilégio de um grupo, uma exclusão que foi legitimada nas políticas e práticas educacionais reprodutoras da ordem social. A partir do processo de democratização da escola, evidencia-se o paradoxo inclusão/ exclusão quando os sistemas de ensino universalizam o acesso, mas continuam excluindo indivíduos e grupos considerados fora dos padrões homogeneizadores da escola (MEC, 2008, p. 9). Nesse cenário, a exclusão tomou formas e características diversas em processos de segregação e integração; esses processos, por sua vez, construíram formas de seleção que naturalizam o fracasso escolar. Analisando esse processo pela perspectiva dos Direitos Humanos e da cidadania, verifica-se como se formam os processos de hierarquização e estratificação social. DICAS 90 UNIDADE 2 | ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS, GESTÃO DEMOCRÁTICA E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO Os processos normativos no âmbito das escolas levam à distinção entre os alunos baseada em características intelectuais, físicas, culturais, sociais e linguísticas que compõem a estrutura tradicional da educação nas escolas. Através dessa classificação a educação especial conforma uma modalidade que substitui o ensino regular. Esse formato cria uma dualidade de normalidade/anormalidade definida no atendimento clínico dos alunos e define as práticas em relação aos portadores de deficiência (MEC, 2008). Diante da evolução das noções de educação especial e educação inclusiva ao longo de nossa história, ficam evidentes alguns padrões característicos. Em um primeiro momento, as propostas governamentais apontam para avanços na inclusão e no atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais. Contudo, o avanço desses discursos em práticas não ocorreu no mesmo passo que o avanço da legislação e dos programas governamentais (BATALHA, 2009). Filmes para abordar a inclusão de pessoas com deficiência A inclusão de pessoas com deficiência é prevista na Constituição e figura entre os direitos dos cidadãos. Na prática, no entanto, realizar essa inclusão não se resume apenas a garantir a presença dessas pessoas em todos os espaços. Ainda nesses contextos, vemos alguns erros que terminam por reforçar práticas excludentes e discriminatórias. Em muitos casos, isso acontece porque a deficiência toma um lugar central. Dito de outro modo, a pessoa passa a ser mais definida pelo que não tem do que pelos diversos outros elementos que tem. Para quebrar esse paradigma, é necessário que as deficiências sejam lidas em um contexto de diversidade. Todos temos perfis e necessidades específicas. Todos vivemos e aprendemos cada um à nossa maneira [...] Intocáveis (2012) Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos O filme conta a história de Philippe, um homem rico que, após sofrer um grave acidente, fica tetraplégico. Precisando contratar um assistente, sua história cruza com a de Driss, jovem de baixa renda e sem nenhuma experiência na função de cuidador. O percurso trilhado pelos dois é de aprendizagem mútua. Driss contribui para a retomada da identidade e da autoestima de Philippe a partir de um trabalho que mostra o cuidado com as deficiências, mas também uma atenção ímpar com as potencialidades envolvidas. Meu nome é Radio (2003) Classificação indicativa: inadequado para menores de 12 anos Todos os dias, ao redor da quadra de uma escola secundária na Carolina do Sul, circula James Robert Kennedy. Acompanhado de um carrinho de supermercado e um rádio, o jovem tinha por prática observar os intensos treinos de futebol americano liderados por Harold Jones, um treinador competitivo, que não tinha olhos para nada além do trabalho, tampouco para sua mulher e filha. Um dia, uma brincadeira de mau gosto do time com James o deixa ainda mais assustado e o fecha ainda mais em seu silêncio – o jovem não fala. Até que um dia, o treinador resolve convidá-lo para assistir a um treino e pouco a pouco o insere na equipe. O filme mostra a inclusão de “Rádio” – nome pelo qual James passa a atender – numa dinâmica antes marcada pela competição e altas habilidades, trazendo sensivelmente a possibilidade de aprendizagem em outros tempos e maneiras. DICAS TÓPICO 2 | A INCLUSÃO SOCIAL E A EDUCAÇÃO 91 Colegas (2012) Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos Aninha, Stalone e Márcio protagonizam uma história de amizade e sonhos. Os três fogem do instituto em que viviam para perseguir seus respectivos desejos de casar, ver o mar e voar. Ao longo da trama, os três trilham um percurso de aventura, contribuindo para que a Síndrome de Down seja retratada dentro de um contexto de autonomia, superação e aprendizagem. Cordas (2014) Classificação indicativa: livre O curta animado “Cordas” narra a amizade entre Maria, uma garotinha muito especial, e Nicolás, seu novo colega de classe, que sofre de paralisia cerebral. A pequena, vendo algumas das impossibilidades do amigo, não desiste e faz de tudo para que ele se divirta e consiga brincar. Reconfigurando e recriando jogos e atividades, Maria celebra a vida do colega, aprende ao passo que ensina e emociona a todos – inclusive os espectadores –, com as possibilidades do sonho e de uma amizade verdadeira. Ao final, uma surpresa especial, que lembra a todos da importância do educar e da relação que se estabelece no ensino e aprendizagem. FONTE: Centro de Referências
Compartilhar