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Revisão Prova 1 Clínica Cirúrgica 1. Descrever a anatomia cirúrgica da tireoide. 2. Explicar a fisiologia da glândula tireoide. 3. Descrever Bócio tóxico e atóxico, nodular e difuso. 4. Descrever os distúrbios do metabolismo da tireóide, na vigência de hipotireoidismo. 5. Descrever os distúrbios do metabolismo da tireóide, na vigência de hipertireoidismo. 6. Descrever a conduta e os possíveis diagnósticos do nódulo solitário de tireóide. 7. Relacionar os principais fatores associados ao câncer de tireóide. 8. Discutir sobre os genes associados ao câncer de tireóide. 9. Discutir sobre o câncer de tireóide mais freqüente e descrever a classificação patológica - TNM, as manifestações clínicas, diagnóstico e o tratamento cirúrgico. 10. Discutir sobre as demais neoplasias da tireóide quanto á classificação patológica, a manifestação clínica, diagnóstico e o tratamento. 11. Prognóstico do câncer de tireoide. Tireoide se origina como um divertículo na linha média no assoalho da faringe. Forame cego se torna ducto tireoglosso, que depois é reabsorvido. A extremidade distal remanescente forma o lobo piramidal da tireoide. Tireoide: estrutura bilobar localizada nas mediações da cartilagem tireoideia em uma posição anterolateral à junção da laringe com a traqueia. Dois lobos laterais são unidos na linha média pelo istmo, situado anterior ou logo abaixo a cartilagem cricoide. Lobo piramidal: estende-se mais cefalicamente da linha média do istmo até o osso hioide. Existe camada fascial que coalesce com a cápsula da tireoide posterior e lateralmente para formar um ligamento suspensor, conhecido como ligamento de Berry, que é inserido à cartilagem cricoide, tem relação com o nervo laríngeo recorrente. Nervo laríngeo recorrente: localizam-se lateralmente ao ligamento de Berry. Lado direito: cruza com a artéria subclávia. Lado esquerdo: cruza com o arco da aorta. O nervo tem função mista motora, sensitiva e autonômica. Lesão causa paralisia da corda vocal do lado afetado. Corda vocal abduzida: ocorre perturbação grave das cordas vocais e tosse ineficiente. Nervo laríngeo superior: desce no polo superior da tireoide ao longo da artéria carótica interna. Ramo interno: em função sensitiva e inerva a laringe. Ramo externo: segue trajeto Amanda Batista – Turma XXII medial e entra no músculo cricotiroideo, lesão desse segmento pode resultar na perda da qualidade ou da potência da voz. Suprimento sanguíneo: efetuado por quatro artérias principais: duas superiores e duas inferiores. Artéria tireóidea superior: primeiro ramo da carótida externa. Artéria tireóidea inferior: origem no tronco tireocervical. Fisiologia: tireoide produz duas famílias de hormônios (hormônios tireóideos tiroxina – T4, tri- iodotironina – T3 e calcitonina). Folículo tireóideo: contém tireoglobulina. Células da crista neural são designadas de células C, que ficam em posição parafolicular, e produzem calcitonina, que atua principalmente por inibir a absorção do cálcio pelos osteoclastos e, desse modo, por diminuir os níveis do cálcio sérico periférico. Aumento dos níveis do cálcio sérico periférico estimula a secreção de calcitonina. Iodeto é capturado pelas células foliculares por meio de transporte ativo. Esse transporte é regulado pelo TSH (hormônio estimulante da paratireoide). O iodo orgânico é oxidado e conjugado com partes de tirosina para formar iodo-tirosina em conformação única (MIT) ou em conformação conjugada (DIT), reação esta catalisada por tireoperoxidase. Dois DIT formam T4 (a principal via de formação é de T4) e um MIT e um DIT forma T3. Tanto T3 quanto T4 são ligados à tireoglobulina e acumulados dentro do coloide. Maior parte do hormônio formado pela glândula é T4, que é desionizado em tecidos etratireoideos e convertido em T3. A liberação desses hormônios é regulada pela membrana apical da célula folicular, que resulta em hidrólise lisossômica do coloide que contém os hormônios ligados à tireoglobulina. Inibição da síntese pela tireoide: drogas (classe tioamida: propiltiouracil, metimazol), iodo em grandes doses (que pode inibir a liberação do hormônio tireóideo por uma alteração orgânica no processo de ligação orgânica – efeito Wolff-Chaikoff), esteroides e betabloqueadores. Teste da função tireóidea: avaliação da alça de retrorregulação hipófise-tireoide, níveis séricos de tri-iodotironina e de tiroxina, calcitonina, captação do iodo radioativo, níveis de autoanticorpos da tireoide (diagnostica doença de Graves e a tireoidite de Hashimoto). Hipotireoidismo: • Bócio endêmico: bócio causado por deficiência de iodo, que causa um decréscimo na produção de T3 e T4 levando a uma depuração gradualmente crescente das reservas de iodo da tireoide e a uma diminuição da excreção renal de iodo. Ocorre também uma crônica produção preferencial de T3 em vez de T4, bem como na maior facilidade de conversão periférica do T4 em T3. O bócio é causado pela resposta hipertrófica devido ao aumento do coloide. • Hipotireoidismo pós-radiação: terapia com 131I para pacientes com hipertireoidismo. • Hipotireoidismo pós-cirúrgico: usado em pacientes com hipertireoidismo. • Hipotireoidismo farmacológico: drogas antitireoideas (metimazol e PTU), amiodarona, lítio (inibe formação de hormônios dependentes da via do AMP cíclico e pode inibir a formação do hormônio tiroeideo), citocinas. • Quadro clínico: em crianças pode resultar cretinismo. Em adultos, é mais manifestado em mulheres. Sintomas: fadiga, cefaleia, perda de peso, secura da pele, cabelos Amanda Batista – Turma XXII quebradiços e câimbras musculares. Uma progressão grave da doença poderá resultar em sintomas cardiovasculares, incluindo hipertensão, bradicardia, derrames pericárdicos e pleurais, distensão abdominal e constipação. Em 12% dos casos poderá ocorrer anemia. • Diagnóstico: Decréscimo de T3 e de T4 com aumento dos níveis de TSH e colesterol. • Tratamento: uso de L-tiroxina. Hipertireoidismo: • Doença de Graves (bócio tóxico difuso): anticorpos estimuladores de TSH-R. Patologia: folículos pequenos, com epitélio colunar hiperplásico. A hiperplasia dessas células é exibida por um núcleo que se divide rapidamente e projeções papilares do epitélio folicular dentro dos folículos centrais. Há também aumento da deposição de tecido linfoide. Quadro clínico: massa cervical aumentada com ruído audível secundário ao aumento do fluxo vascular, tireotoxicose (síndrome clínica decorrente do excesso de hormônios tireoidianos circulantes, secundário à hiperfunção da glândula tireoide ou não – sudorese, perda de peso, intolerância ao calor e sede) e exoftalmia. Pode ter queda de cabelo, mixedema, ginecomastia e esplenomegalia. Diagnóstico: massa aumentada e lisa na tireoide, sinais e sintomas de tireotoxicose, elevação do níveis séricos de T3 e T4 e diminuição dos níveis de TSH. Tratamento: primeiramente terapia betabloqueadora e depois tionamida, ablação com iodo radioativo ou operação. Terapia radionuclídeo, medicação antitireóidea (PTU e metimazol), ressecção da tireoide. • Bócio nodular tóxico/adenoma tóxico (doença de Plummer): nódulo com função autônoma dentro de uma glândula tireoide bociógena. Em geral, ocorre em pacientes com bócio endêmico. Existe maior produção de hormônio tireóideo independente do controle do TSH. Diagnóstico: cintilografia com radionuclídeos 131I. Tratamento: tionamidas, radioiodoterapia ou operação. Bócio não tóxico: Bócio é o termo que designa aumento de volume da glândula tireóide. Os bócios são considerados atóxicos ou simples, quando não há hiperfunção da glândula. A causa mais comum é deficiência de iodo. • Bócio multinodular: glândula aumentada, difusamente heterogênea. Tem fibrose, que é extensa e que dá maior refratariedade à terapia. • Bócio subesternal: apresentação incomumda extensão intratorácica de uma tireoide aumentada, geralmente como resultado de bócio multinodular. Nódulo solitário da tireoide: • Quatro vezes mais prevalentes em mulheres do que homens. • Idade de risco para câncer em nódulo tireóideo: crianças, homens, adultos jovens com menos de 30 anos e idosos com mais de 60 anos e aqueles expostos à terapia de radiação. • Exames: avaliação laboratorial, ultrassonografia, estudo com radioisótopo, TC e RM, biópsia por agulha fina. Amanda Batista – Turma XXII • Tomada de decisão: se fizer teste de função da tireoide e der hipertireoidismo, deve-se fazer cintilografia para confirmar se o nódulo é “quente”. Se confirmado, o paciente deve ser submetido a uma cuidadosa monitorização com supressão da tireoide e novamente observado após 6 meses para confirmar a supressão. Se falhar, pode ser submetido a lobectomia. Câncer da tireoide • Representa menos de 1% das malignidades, acometendo cerca de 40 pessoas para cada milhão de indivíduos da população. • Aproximadamente 90 a 95% dos tumores são classificados como bem diferenciados (papilífero, folicular, carcinoma de Hurthle), tendo origem na célula folicular. • Carcinoma medular corresponde a 6% dos tumores, com um terço dos pacientes apresentando uma forma familiar da neoplasia. • Tumor mais agressivo: carcinoma anaplásico, que acomete mais idoso. Carcinoma bem diferenciado • Carcinoma papilífero: mais comum e mais presentes em pessoas expostas à radiação e em crianças. Tem maior prevalência no sexo feminino e a idade de apresentação está entra a terceira e quartas décadas. Histopatologia: arranjo das células foliculares tumorais em papilas, núcleos das células aumentados, que podem estar fissurados Amanda Batista – Turma XXII com aspecto de “grão de café”, cromatina hipodensa, que dá aspecto de “vidro fosco”, corpos de inclusão intranucleares, corpos psamomatosos. Apresentam bom prognóstico. Tem três subtipos: carcinoma insular, de céluas altas e colunar. Geralmente não é encapsulado, cresce lentamente, infiltra e se estende para linfonodos regionais do pescoço. Análise microscópica: células epiteliais com grandes núcleos irregulares. Manifestações clínicas: geralmente o indivíduo se encontra eutireoidiano, com uma massa de crescimento lento, não doloroso, em topografia de tireoide, podendo ou não ter linfonodos palpáveis. Diagnóstico: punção aspirativa por agulha fina seguida da citologia do material obtido, TC, RM. Tratamento: cirúrgico (tireoidectomia parcial – em pacientes com câncer menor que 1cm, unilateral, que não possuem histórico de irradiação cervical e evidências de envolvimento linfonodal). Em pacientes com menos de 15 anos, recomenda-se realizar tireoidectomia total. Em pacientes entre 15 e 40 anos, recomenda-se tireoidectomia total para câncer acima de 1cm. • Carcinoma folicular: comum no sexo feminino, ocorrendo mais em áreas deficientes em iodo. Associado a mutações pontuais no oncogene RAS e mutações do gene PAX8- PPAR gama. Patologia: acometimento do epitélio folicular, disseminação hematogênica, com metástases ósseas, pulmonares e hepáticas (ocorrendo em 33% dos casos). Propagação por via linfática é mais rara. Tipos: minimamente invasivos, de baixo grau e encapsulados e angioinvasivo de alto grau (invasão de cápsula e invasão vascular). Manifestações clínicas: nódulos tireoidianos solitários que apresentam rápido crescimento ou eventualmente dor por hemorragia em seu interior. Diagnóstico: aspiração por agulha fina e citologia geralmente não é firmado, devido a semelhança dos achados histopatológicos do adenoma folicular e do carcinoma papilífero, necessitando da identificação de invasão capsular ou angioinvasão para o diagnóstico de malignidade. Tratamento: tireoidectomia parcial para lesões menores que 2 cm e bem restritas à um lobo e se for confirmada que a lesão é benigna, não precisa fazer procedimento adicional. Se for confirmada lesão maligna, pacientes com alto risco deverão ser reoperados para totalização da tireoidectomia e submetidos à radioablação. Os de baixo risco poderão ser acompanhados clinicamente com ultrassonografia. Nas lesões maiores que 2cm, deve ser feite tireoidectomia total. • Carcinoma de células de Hurthle (derivadas do epitélio folicular e têm como caracerística seu grande tamanho e citoplasma eosinofílico e granular): variedade menos diferenciada e mais agressiva do carcinoma de células foliculares, que afeta uma população mais idosa. Este tumor contém uma abundância de células oxínfilicas, também chamadas de oncócitos, não capta 131I, é algumas vezes bilateral e múltiplo e envia metástases com frequência para linfonodos regionais. Tratamento: forma maligna – tireoidectomia total acompanhada de dissecção cervical central ipsilateral. Forma benigna – lobectomia ipsilateral e istmectomia. Carcinoma medular da tireoide • Origem a partir das células parafoliculares ou células C, produtoras de calcitonina. Ocorre invasão local, linfática e hematogênica. • Comum em indivíduos entre a quinta e a sexta décadas de vida, sendo o tumor unilateral. Amanda Batista – Turma XXII • Associado a mutações no proto-oncogene RET. • As células do carcinoma medular da tireoide possuem uma atividade biossintética exagerada, podendo produzir serotonina, prostaglandinas e corticotrofina (ACTH). Seu principal produto é a calcitonina. • Manifestações clínicas: massa palpável, podendo, se em estágio avançado, levar à rouquidão, disfagia e sinais de comprometimento respiratório. Pode estar presente diarreia, devido a maior secreção jejunal de água e eletrólitos induzida pela calcitonina. Pode-se encontrar hipertensão em casos associados à neoplasia endócrina múltipla. Radiografia pode mestrar áreas de hipotransparência correspondente à degeneração calcífica. • Diagnóstico: massa cervical palpável associada a níveis elevados de calcitonina. Confirmado por punção com agulha fina. • Tratamento: tireoidectomia total com ressecção de linfonodos da cadeia central junto com os paratraqueais. O carcinoma medular da tireoide não é responsivo à radioterapia, ablação com radioiodo, ou terapia supressiva com hormônio tireoidiano. Carcinoma indiferenciado ou anaplásico • Tumor de maior agressividade, com poucos pacientes sobrevivendo além de seis meses. • Apresenta incidência aumentada em áreas deficientes em iodo. • É mais comum em pacientes idosos acima de 60 anos e representa aproximadamente 1% das neoplasias tireoidianas. • Doença extremamente invasiva, acometendo rapidamente toda tireoide e estruturas vizinhas. • Patologia: crescimento tumoral rápido, com invasão de linfonodos e estruturas contíguas. A maior parte dos tumores anaplásicos origina-se de cânceres tireoidianos diferenciados. Disseminação ocorre por via linfática e via hematogênica acometendo linfonodos cervicais, cérebro, pulmões e ossos. Histologia: variedade de células pequenas, grandes e com graus diferentes de diferenciação. Subtipos: pequenas células, grandes células e escamosas. • Diagnóstico: história de nódulo tireoidiano presente por algum período, que aumenta de volume/ou torna-se doloroso. À palpação, o tumor se encontra aderido a estrturas vizinhas e pode estar ulcerado. Áreas amolecidas representando necrose podem ser palpadas no meio da massa tumoral e simulam abscessos. Recomendado punção por agulha fina. • Tratamento: realização de traqueostomia, radioterapia hiperfracionada e quimioterapia com doxorrubicina. Tireoidectomia está contraindicado devido à invasão extensa de estruturas do pescoço. Amanda Batista – Turma XXII 1. Descrever a anatomia cirúrgica do estômago. 2. Explicar a fisiopatologia da doença ulcerosa péptica. 3. Classificar as úlceras gástricas quanto à localização.4. Discutir o mecanismo de infecção pelo Helicobacter pylori, as consequências gástricas, o diagnóstico e o tratamento. 5. Discutir sobre as manifestações clínicas da doença ulcerosa péptica. 6. Discutir sobre os exames diagnósticos da doença ulcerosa péptica. 7. Discutir sobre o tratamento clínico e cirúrgico da doença ulcerosa péptica. 8. Discutir sobre os fatores epidemiológicos associados ao câncer gástrico. 9. Discutir sobre as manifestações clínicas do câncer gástrico. 10. Discutir sobre os exames diagnósticos do câncer gástrico. 11. Discutir sobre o estadiamento pela classificação TNM do câncer gástrico. 12. Discutir a classificação modificada de Borrmann para câncer gástrico precoce. 13. Discutir a classificação de Borrmann para o câncer gástrico: estádio avançado 14. Discutir sobre as opções terapêuticas e o prognóstico do câncer gástrico. Estômago Anatomia: região mais proximal do estômago é chamada de cárdia e faz continuidade com o esôfago. Imediatamente proximal à cárdia está um esfíncter esofagiano inferior. Distalmente, o piloro conecta a parte distal do estômago (antro) à parte proximal do duodeno. Apesar de o estômago ser fixo na junção gastroesofagiana (GE) e no piloro, sua porção medial mais larga é móvel. O corpo do estômago representa a sua maior porção e contém a maior parte das células parietais e tem como limites, à direita, a curvatura menor, relativamente reta, e à esquerda a curvatura maior, mais longa. Na incisura angular, a curvatura menor abruptamente se angula para a direita. Neste ponto que o corpo do estômago termina e o antro começa. Ângulo de His: ângulo formado entre o fundo do estômago com a borda esquerda do esôfago. Maior parte do estômago se localiza no quadrante superior esquerdo. Inferiormente, o estômago é ligado ao cólon transverso, ao baço, ao lobo caudado do fígado, às cruras diagragmáticas e aos nervos e vasos retroperitoneais. Superiormente, a junção gastroesofágica é encontrada aproximadamente 2 a 3cm abaixo do hiato esofagiano diafragmático, no plano horizontal da sétima articulação costocondral. O ligamento gastroesplênico une a grande curvatura proximal ao baço. Suprimento sanguíneo: maior parte do suprimento sanguíneo vem da artéria celíaca. Existem quatro grandes artérias: as artérias gástricas esquerda (maior artéria do estômago) e direita Amanda Batista – Turma XXII (provém da artéria hepática ou artéria gastroduodenal), ao longo da curvatura menor, e as artérias gastroepiploicas esquerda (origina-se da artéria esplênica) e direita (origina-se da artéria gastroduodenal), ao longo da curvatura maior. Inervação: extrínseca é parassimpática, através do plexo celíaco, e intrínseco ou entérico consiste nos plexos neuronais autonômicos de Auerbach e de Meissner. Doença ulcerosa péptica • Fisiopatologia: o Infecção por Helicobacter pylori: bastonete gram negativo espiralar ou helicoidal com quatro a seis flagelos e reside no epitélio do tipo gástrico, dentro ou abaixo da camada mucosa, que o protegia tanto de ácidos quando dos antibióticos. Lesões gastrointestinais podem ser induzidas pelo H. pylori: produção de produtos tóxicos que causam lesão tecidual local, indução de uma resposta imune na mucosa local, níveis de gastrina aumentados, com um resultante aumento na secreção ácida. Lesões causam reações inflamatórias locais na mucosa gástrica e de produção de fatores quimiotáticos que atraem os neutrófilos e os monócitos. Estes ativados produzem citocinas pró- inflamatórias e metabólitos reativos do oxigênio. o AINE: sua ingesta causa lesões crônicas e agudas. as agudas aparecem geralmente em duas semanas, e áreas de hiperemia da mucosa até erosões gástricas superficiais. A lesão crônica ocorre tipicamente após 1 mês e podem ser vistos no estômago erosões e ulcerações. As úlceras induzidas pelos AINES são mais encontradas no estômago, e não costumam causar gastrite crônica ativa. Com a suspensão do AINE, as úlceras não costumam recorrer. o Condições que predispões a ulceração gástrica: idade acima dos 40 anos, gênero feminino (2:1), ingestão de drogas que rompem a barreira (AINES), anormalidade na secreção de ácido ou pepsina, estase gástrica pelo atraso no esvaziamento gástrico, úlcera duodenal coexistente, refluxo gastroduodenal de bile, gastrite, infecção por H. pylori, ingestão crônica de álcool, tabagismo, terapia com corticosteroides de longa duração, infecção e terapia intra- arterial. o Localização úlcera gástrica: tipo I (úlcera da pequena curvatura – 55 a 60% dos casos) – mais comum e está associada à normo ou hipocloridria, com gastrite atrófica do corpo gástrico pelo H. pylori, maior parte ocorre até 1,5% da zona de transição histológica entre a mucosa fúndica e a antral e não está associada a anormalidades mucosas duodenais, pilóricas ou pré-pilóricas; tipo II (úlcera do corpo gástrico associada à úlcera duodenal – 15% dos casos) – relação direta com hipercloridria; tipo III (úlcera pré-pilórica – 20% dos casos) – relação direta com hipercloridria; tipo IV (úlcera de pequena curvatura, arte alfa, próximo à junção gastroesofágica – menor que 10% dos casos) – mais rara e relacionada com hipocloridria; úlceras podem aparecer na curvatura maior do estômago, mas a incidência é menor que 5%. Amanda Batista – Turma XXII Síndrome de Zollinger-Ellison: tríade clínica consistindo em hipersecreção do ácido gástrico (devido a tumores produtores de gastrina chamado gastrinomas), doença ulcerosa péptica grave e tumor de células não beta das ilhotas pancreáticas. Helicobacter pylori: • Coloniza apenas a mucosa gástrica e tem grande afinidade pelas células produtoras de muco localizadas no antro gástrico. Com o passar do tempo, podem migrar para regiões mais proximais do estômago. A urease é a principal enzima produzida, necessária para produzir um meio alcalino em volta do bacilo, de modo a neutralizar a acidez do lúmen gástrico. A colonização por H. pylori acomete igualmente homens e mulheres, e sua prevalência aumenta com a idade, baixo nível socioeconômico, más condições de moradia e baixo grau de instrução. • Manifestações clínicas: epigastralgia, em queimação que ocorre 2-3h após as refeições e à noite, que pode ser aliviada pelo uso de antiácidos ou pelo alimento, e que tipicamente irradia para o dorso (mais presente na úlcera duodenal). Pode haver náusea (mais comum na úlcera gástrica). • Diagnóstico: fazer endoscopia digestiva alta. Investigação do H. pylori: testes invasivos – teste rápido da urease do fragmento biopsiado (escolha inicial de avaliação para pacientes submetidos à endoscopia digestiva alta; deve ser feito depois de uma semana após a suspensão de antibióticos, bomba de prótons ou bismuto), histopatologia, cultura (menos usada); testes não invasivos: sorologia (detecta IgG anti H. pylori), teste de urease respiratória, pesquisa do antígeno fecal. Amanda Batista – Turma XXII • Tratamento: dieta adequada, evitar fumo ou álcool. • Tratamento farmacológico: uso de antissecretores (1°- Inibidores da bomba de prótons: usar de 7 a 14 dias para irradicação do H. pylori, após o término desse tempo, os antibióticos são suspensos e os inibidores da bomba de prótons é mantido ou trocado por bloqueador de H2 até completar de 4 a 8 semanas; 2° - Bloqueadores H2: prescrito de 4 a 8 semanas; 3° - antiácidos: não são mais usados no tratamento regular da doença ulcerosa péptica; 4° - Sucralfato) e antibióticos. Esquemas mais usados: se o esquema inicial com claritromicina tratar com omeprazol + sal de bismuto + amoxicilina + furazolidona (terapia quádrupla brasileira). Se o esquema inicial usou tetraciclina, fazer omeprazol + claritromicina + amoxicilina ou a terapia quádrupla brasileira. Usar por 14 dias. • Tratamento cirúrgico: indicado nos pacientescom úlcera hemorrágica refratária à terapia endoscópica, ou recidivante, perfuração ou obstrução, caso o tratamento clínico não cicatrize a úlcera, ou caso as recidivas sejam constantes após tratamento clínico, apesar da erradicação do H. pylori. Endoscopia estanca o sangramento em caso de úlceras pépticas perfuradas hemorrágicas. Úlcera péptica intratável é diagnosticada após um ano sem resolução do caso. Pesquisar se tem síndrome de Zollinger-Ellison. Pode ser realizada vagotomia (interrupção da estimulação das células parietais pela acetilcolina) ou antrectomia (interrupção da estimulação das células parietais pela gastrina; feita em úlceras tipo I, II e III). Câncer gástrico: • No Brasil, excetuando-se o câncer de pele não melanoma, é a terceira causa de câncer no sexo masculino e a quinta entre as mulheres. • Mais frequente no sexo masculino (2:1), com pico de incidência entre 50 a 70 anos para ambos os sexos. Câncer gástrico é raro antes dos 35 anos. • Tipo histológico mais comum (95% dos casos): adenocarcinoma gástrico. Adenocarcinoma gástrico • Classificação de Lauren: intestinal (bem diferenciado com formação estruturais glandulares, mais comum no Brasil, lesões polipodes e ulceradas na endoscopia, distribuição hematogênica) e difuso (tumor indiferenciado sem formações glandulares, com células em anel de sinete, infiltrativo, manifestando-se na endoscopia com úlceras infiltradas ou linite plástica, acomete mais o estômago proximal e tem pior prognóstico, mais comum em mulheres em torno de 40 a 48 anos, disseminação por contiguidade e pela via linfogênica. • Fatores de risco: dieta, gastrite atrófica pelo Helicobacter pylori e anemia perniciosa. A tendência é a formação de adenocarcinoma gástrico do tipo intestinal. • Aspecto macroscópio câncer gástrico invasivo: Borrmann I – carcinoma polipoide (lesão bem demarcada com áreas de tecido normal em toda a sua volta), Borrmann II – carcinoma ulcerado com margens bem demarcadas e nenhuma infiltração, Borrmann III – calcinoma ulcerado e infiltrante com margens rasas e pouco definidas (geralmente há infiltração da submucosa, muscular própria e serosa; é a apresentação mais comum Amanda Batista – Turma XXII do câncer gástrico), Borrmann IV – carcinoma infiltrativo difuso, Borrmann V – câncer gástrico cuja definição não se encaixa em nenhuma das descrições acima. • Manifestações clínicas: estágios iniciais são geralmente assintomáticos ou apresenta sintomas dispépticos inespecíficos. Sintomas comuns: perda ponderal, dor epigástrica, náusea, anorexia, disfagia, melena, saciedade precoce e dor semelhante à da úlcera péptica. Vômitos recorrentes sugerem obstrução antro-pilórica pelo câncer. Disfagia ocorre especialmente quando há invasão da cárdia e do esôfago distal. Adenocarcinoma gástrico envia metástase para o fígado, pulmão e principalmente para o peritônio. Podem linfonodo de Virchow, linfonodo da irmã Maria José, prateleira de Blumer, tumor de Krukenberg. • Diagnóstico: endoscopia digestiva alta associada à biópsia e a exame citológico do escovado de mucosa (indicada em pacientes com dispepsia com idade acima de 45 anos ou com sinais de alarme – perda ponderal, anemia, sangramento, disfagia, vômitos recorrentes, massa abdominal palpável, gastrectomia prévia, história familiar de CA gástrico). O tumor Borrmann IV pode não ser bem reconhecido na endoscopia. Pode ser feito exame baritado. • Tratamento: cirurgia curativa – feita na ausência de metástase ou em condições de alto risco cirúrgico por comorbidades. Tumores do terço distal podem ser tratados por gastrectomia subtotal e reconstrução a Bilroth II (gastrojejunostomia). Tumores do terço médi, corpo gástrico, fundo gástrico e cárdia necessitam de gastrectomia total com reconstrução tipo esofagojejunostomia término-lateral em Y-de-Roux. Terapia adjuvante – radioquimioterapia (5-fluorouracil + ácido folínico). Terapia paliativa: fornece alívio dos sintomas. 1. Descrever a anatomia cirúrgica das vias biliares. 2. Explicar a fisiologia das vias biliares. 3. Explicar a fisiopatologia da doença litiásica. 4. Discutir sobre a flora bacteriana das vias biliares. 5. Discutir sobre as causas de icterícia obstrutiva. 6. Diferenciar colelitíase de coledocolitíase. 7. Discutir sobre as manifestações clínicas da colelitíase. 8. Discutir sobre o diagnóstico diferencial da colelitíase. 9. Discutir sobre os exames diagnósticos da colelitíase. 10. Discutir sobre as complicações da colelitíase. 11. Discutir sobre o tratamento da colelitíase. 12. Discutir a apresentação e as complicações da coledocolitíase. Amanda Batista – Turma XXII 13. Discutir o tratamento da coledocolitíase. Anatomia • Vias biliares extra-hepáticas: confluência dos ductos hepáticos esquerdo e direito, no ducto hepático comum, no colédoco, no ducto cístico e vesícula biliar. • O colédoco estende-se da junção entre ducto cístico e o ducto hepático comum até a papila de Vater, onde se esvazia no duodeno. • Vesícula biliar: dividida em fundo, corpo, infundíbulo e colo, o qual se esvazia no ducto cístico. Ela divide anatomicamente o fígado em lobo direito e esquerdo, é recoberta por uma serosa e consiste em fina camada de musculatura lisa e tecido fibroso, e internamente é revestida por tecido epitélio colunar e glândulas produtoras de muco. No colo e no ducto cístico possui pregas de mucosa orientadas espiralmente conhecidas como as valvas de Heister (esta tenta impedir a passagem de cálculos biliares, distensão excessiva ou colabamento do ducto cístico). • Anatomia vascular: suprimento origina-se das artérias gastroduodenais, retroduodenais e pancreatoduodenal póstero-superior e proximalmente às artérias hepática direita e cística. Essas artérias suprem o colédoco e o ducto hepático comum. A vesícula biliar é suprida pela artéria cística (esta pode e originar da artéria hepática comum, da gastroduodenal ou da mesentérica superior). O ducto hepático comum, o fígado e o ducto cístico definem os limites do triângulo de Calot, onde dentro deste Amanda Batista – Turma XXII triângulo se encontram a artéria cística, a artéria hepática direita e o linfonodo do ducto cístico. Fisiologia • Os ductos biliares, a vesícula e o esfíncter de Oddi modificam, armazenam e regulam o fluxo de bile. • O fígado produz de 500 mL a 1000 mL de bile por dia e excreta nos canalículos biliares. Durante a passagem pelos ductulos biliares e ducto hepático, a bile canalicular é modificada pela absorção e secreção de eletrólitos e água. • Estímulo vagal aumente a secreção de bile enquanto o estímulo do nervo esplâncnico resulta em fluxo de bile reduzido. • O hormônio secretina aumenta o fluxo de bile através da secreção ativa de um líquido rico em cloreto, pelos ductos e ductulos biliares. Também é estimulada pela colecistocinina, gastrina e outros hormônios. O epitélio ductal é capaz de absorver água e eletrólitos. • Bile: possui água, eletrólitos, sais biliares (primários como colato e quenodesoxicolato são sintetizados no fígado a partir do colesterol e depois são conjugados com taurina ou glicina, funcionando como ânions que são equilibrados pelo sódio), proteínas, lipídeos e pigmentos biliares. 95% do conteúdo biliar é reabsorvido e volta através do sistema venoso porta do fígado, mecanismo conhecido como circulação enterro- hepática. 5% é excretado pelas fezes. • Esfíncter de Oddi: funciona independente da musculatura duodenal. Ela cria uma zona de alta pressão entre ducto biliar e o duodeno. O esfíncter regula o fluxo de bile e suco pancreático no duodeno, impede a regurgitação dos conteúdos duodenais para as vias biliares e também desvia bile para a vesícula biliar. Doença litiásica • Os cálculos biliares representam uma incapacidadede manter determinados soltos biliares, primariamente colesterol e sais de cálcio, em um estado solubilizado. • Cálculos de colesterol (amarelos): representam cerca de 75% do total. São amarelos únicos ou múltiplos e geralmente medem 1 mm a 4 cm. Podem ser puros (conter somente colesterol, mais raro) ou ser mista (contendo colesterol, sais de cálcio, sais biliares, proteínas e fosfolipídios, mais comum). Como o colesterol apresenta-se, em condições normais, solubilizado na bile, um pré-requesito para a formação dos cálculos é a presença de um excesso de colesterol em relação à capacidade carreadora. Entretanto, este desequilíbrio é relativo, ou seja, pode resultar tanto de um excesso absoluto de colesterol (mais comum), quanto de uma menor concentração de solubilizantes (como os sais biliares). O colesterol é relativamente insolúvel em água e mantém-se em solução na forma de micelas mistas com os sais biliares e fosfolipídios. Quando a capacidade de solubilização de colesterol por parte da bile é ultrapassada, esta bile e denominada supersaturada ou litogênica. • Cálculos de cálcio e bilirrubina (pigmentados): são constituídos principalmente por sais de cálcio bilirrubina, tendo menos de 25% de colesterol em sua composição. São subdivididos em castanhos e pretos. Os pretos são formados na vesícula e constituem Amanda Batista – Turma XXII basicamente de bilirrubinato de cálcio, não costumam ter mais de 1 cm e estão relacionados com hemólise crônica (pode ser causado por cirrose hepática). Nos castanhos, o bilirrubinato de cálcio é alternado por camadas de colesterol e outros sais de cálcio. Na maioria das vezes, os cálculos castanhos são formados no colédoco, anos após uma colecistectomia. Bactérias (especialmente E. coli) estão presentes em mais de 90% dos casos. Nos países orientais, os cálculos castanhos estão mais frequentemente envolvidos com presença de parasitas nos ductos biliares, como Ascaris lumbricoides. • Fatores de risco: predisposição genética, dismotilidade vesicular, fatores ambientais, dieta, estrogênio e progesterona, idade, obesidade, hiperlipemias e clofibrato, ressecção ileal e doença de Crohn, anemia hemolítica, cirrose e infecções. • Os níveis séricos de colesterol isoladamente não parecem representar fator de risco para colelitíase. • Lama biliar: massa fluida que se deposita nas porções de maior declive da vesícula, em correspondência com a gravidade, produzindo ecos de baixa frequência no ultrassom. Representa uma mistura de mucina, bilirrubinato de cálcio e cristais de colesterol, considerada um precursor da litíase. A bile na vesícula biliar ou ductos biliares, na ausência de cálculos ou qualquer outra doença das vias biliares, é normalmente estéril. Na presença de cálculos biliares ou obstrução biliar, a prevalência de bactibilia aumenta. A percentagem de culturas positivas de bile da vesícula biliar entre pacientes com cálculos biliares sintomáticos e colecistite crônica varia de 11 a 30%. A prevalência de culturas positivas de bile da vesícula biliar é mais alta em pacientes com colecistite aguda do que com colecistite crônica e aumenta mais na presença de cálculos do colédoco. Culturas positivas são mais presentes em idosos. Verifica-se presença de aeróbios gram-negativos como Escherichia coli e espécies de Klebsiella (mais comuns). Em pacientes com obstrução maligna, é mais frequente encontrar Pseudomonas e espécies de Enterobacter. Verificam-se também aeróbios gram positivos como Entrococcus e Streptococcus viridans. Bactérias anaeróbias são mais incomuns de serem achadas. Icterícia obstrutiva • O metabolismo dos pigmentos biliares revela a produção de bilirrubina como produto final da degradação do grupo heme, componente da hemoglobina, e, em menor parte, formada a partir da degradação de outros complexos proteicos (catalase, mioglobina e citocromo P-450). A bilirrubina é transportada pela albumina até o fígado, onde é recolhida pelos hepatócitos através de sistemas protéicos, transportadores de membrana (proteínas X e Y) num processo chamado captação. Após sua entrada na célula, a bilirrubina é conjugada por ação de enzimas microssomais (UDP glicuroniltransferase) com o ácido glicurônico e forma um composto mais polar e hidrossolúvel (bilirrubina conjugada) o qual, por sua vez, é excretado através do pólo biliar do hepatócito, em íntimo contato com os canalículos biliares. Passa, então, a for- mar um complexo lipídico-micelar, que é excretado no duodeno através do ducto biliar principal, e será desconjuado e reduzido, no cólon, por ação das glicuronidases bacterianas, formando os urobilinogênios. Estes são excretados nas fezes, em sua Amanda Batista – Turma XXII maioria, porém uma pequena parte é reabsorvida e volta ao fígado pelo sistema porta, constituindo o ciclo enteroepático da bilirrubina. • Classificação das icterícias obstrutivas: tipo I: obstrução completa da via biliar principal constituindo icterícia severa; tipo II: obstrução intermitente com alterações enzimáticas evidentes, com ou sem icterícia clínica; tipo III: obstrução crônica incompleta, com ou sem alterações enzimáticas ou icterícia clínica, apresentando eventual alteração da histoarquitetura canalicular ou do parênquima hepático; tipo IV: obstrução segmentar intra-hepática de um ou mais segmentos anatômicos, podendo assumir a forma progressiva, intermitente ou incompleta. • Causas mais comuns de icterícia obstrutiva: tipo I: tumores de cabeça do pâncreas, ligadura iatrogênica do ducto principal, colangiocarcinoma,tumores hepáticos; tipo II: coledocolitíase, tumores periampulares, divertículo duodenal, cistos de colédoco, doença policística hepática, parasitas intrabiliares, hemobilia; tipo III: estreitamentos da via biliar congênitos ou iatrogênicos, colangite esclerosante, pós- radioterapia, estreitamentos anastomóticos, pancreatite crônica, fibrose cística, discinesia do esfíncter de Oddi; tipo IV: trauma, litíase intra-hepática, colangiocarcinoma. Colelitíase • A colelitíase apresenta-se em uma das seguintes formas clínicas: assintomática, sintomática e complicada. O estado assintomático é muitas vezes um achado incidental cada vez mais frequente. • Quadro clínico: dor aguda contínua caracteristicamente localizada em hipocôndrio direito e/ou epigástrio, apresentando, às vezes, irradiação para escápula. A intensidade da dor é maior de 30 minutos a 5 horas de seu início, com melhora gradual ao longo de 24 horas. No início do quadro clínico, náuseas e vômitos encontram-se presentes. Os episódios se repetem em intervalos de dias a meses. A dor muitas vezes ocorre após refeição com alimentos gordurosos, após uma farta refeição que se segue a jejum prolongado ou mesmo após uma refeição habitual. Pode apresentar dispepsia após ingesta de alimentos gordurosos. Não ocorre febre ou outros sinais de reação inflamatória. O exame abdominal é pobre, com dor à palpação em hipocôndrio direito e/ou epigástrio. Não há massa palpável nesta topografia, uma vez que não existe processo inflamatório vesicular. Fosfatase alcalina e bilirrubinas elevadas falam a favor da presença de cálculo no colédoco. • Diagnóstico: realizar ultrassonografia (sensibilidade e especificidade acima de 95%). • Diagnóstico diferencial: colecistite calculosa aguda; colecistite calculosa crônica; coledocolitíase; neoplasia da vesícula biliar; úlcera péptica; pancreatite; refluxo gastroesofágico, apendicite e hepatite. • Complicações da colelitíase: colecistite aguda, íleo biliar (fístula colecistojejunal, com passagem de cálculo biliar que irá se impactar na porção mais distal do íleo, gerado um quadro de obstrução intestinal ao nível do delgado), coledocolitíase com ou sem colangite, pancreatite aguda, íleo paralítico, câncer de vesícula, vesícula “em porcelana” (calcificação difusada parede da vesícula, facilmente Amanda Batista – Turma XXII diagnosticada à radiografia simples de abdome, tem relação com surgimento de CA de vis biliares no futuro) e Síndrome de Bouveret (mais raro, fístula colecistoduodenal, com passagem de cálculo que irá se impactar no bulbo duodenal, gerando um quadro de obstrução pilórica). • Tratamento: analgesia com uso de AINES ou, se a dor for excruciante ou refratária, prefirir meperidina. Anticolinérgicos e antiespasmódicos também são utilizados com sucesso para alívio imediato da dor. Tratamento definitivo é cirúrgico – colecistectomia. Indicações para a cirurgia: paciente que tenha apresentado dor biliar, história de complicação prévia da doença calculosa independente do estado sintomático atual. Recomenda-se considerar a abordagem cirúrgica em pacientes assintomáticos que tenham: cálculos maiores que 3 cm, pólipos de vesícula biliar, vesícula em porcelana, anomalia congênita da vesícula biliar (vesícula dupla), microesferocitose hereditária com litíase comprovada. Coledocolitíase • Cerca de 90 a 95% dos casos de coledocolitíase resultam da passagem de um cálculo formado na vesícula biliar através do ducto cístico (coledocolitíase secundária). No restante dos casos, ocorre formação de cálculos no próprio colédoco (coledocolitíase primária – resultam em estase e infecção biliar secundária formando cálculos pigmentados castanhos). • Manifestações clínicas: dor do tipo biliar, idêntica à dor da colelitíase sintomática – dor no quadrante superior direito e/ou epigastro, contínua, durando menos de 4 horas, podendo irradiar para a escápula direita ou dorso. Esta dor pode ou não vir acompanhada de icterícia, geralmente leve a moderada, além de colúria e acolia fecal. O prurido não é frequente. O paciente apresenta surtos transitórios de sinfrome colestática e icterícia flutuante. • Exames laboratoriais: hiperbilirrubinemia, elevação da fosfatase alcalina e elevação moderada das transaminases. • Complicações: colangite bacteriana aguda (tríade de Charcot: dor tipo biliar, icterícia e febre com calafrios), abscesso hepático piogênico, pancreatite aguda biliar, cirrose biliar secundária. • Diagnóstico: primeiro exame – ultrassonografia transabdominal. Depois realizar colangiografia transoperatória (em pacientes com baixo risco), colangiorresonancia (em pacientes com médio risco) e colangiografia retrógrada endoscópica (em pacientes com alto risco). • Tratamento: a coledocolitíase deve sempre ser tratada mesmo se assintomática. Papilotomia endoscópica, cirurgia para retirada de cálculos por via laparoscópica ou aberta. Todo paciente com alguma suspeita de coledocolitíase, submetido à colecistectomia, deve ser submetido à colangiografia transoperatória durante o procedimento. A cirurgia para coledocolitíase é obrigatoriamente indicada após a falha do procedimento endoscópico. Amanda Batista – Turma XXII
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