Prévia do material em texto
Transtornos Psiquiátricos na Gestação e no Puerpério ● o ginecologista costuma fazer o pedido de avaliação psiquiátrica para pacientes em períodos pré-menstruais muito intensos, disruptivo ou com diagnóstico psiquiátrico ( que apresentem piora significativa dos sintomas emocionais durante esse período) e para pacientes em climatério (às mulheres costuma estar mais suscetíveis a quadros depressivos e ansiosos, mas o pedido costuma acontecer apenas com pacientes com antecedentes psiquiátricos). → PERÍODO PERINATAL E TRANSTORNO MENTAL ● período perinatal: da gestação ao primeiro ano de vida do nascido. ● apesar da depressão gestacional ser mais frequente que a puerperal, é subdiagnosticada (crença de que mulheres grávidas estão imunes a doenças psiquiátricas, por causa da flutuação dos hormônios e isso causar quadros de tristeza “normais da gestação”). ● a flutuação brusca dos hormônios no período perinatal favorece o aparecimento de doenças afetivas. ● a ansiedade patológica tem sido associada a uma variedade de complicações obstétricas ( aborto espontâneo, parto prematuro, complicações durante o parto). ● ansiedade e estresse podem podem afetar o desenvolvimento fetal pela hiperativação do sistema endócrino materno. ○ liberação de catecolaminas→ vasoconstrição→ transporte de gases deficitário para o feto→ crescimento fetal retardado e estresse fetal. ○ aumento dos hormônios adrenais→ desenvolvimento de receptores glucocorticóides cerebrais. ● uso de tratamento não farmacológico (terapias) pode ser uma grande ferramenta para atenuar sintomas de ansiedade e deve fazer parte do plano terapêutico da maioria das pacientes. ● estratégias de manejo do estresse→ melhorar a alimentação e o regime do sono, retirar psicoestimulantes (ex.: cafeína) e técnicas de relaxamento. ● a intervenção farmacológica pode ser levada em consideração em casos de transtornos de ansiedade prévios. ● os sintomas de pânico na gestação costumam ser os mesmo que ocorrem no período pós-parto e em outros momentos da vida, mas as manifestações costumam estar associadas ao feto, como medo de algo errado com o feto, ou de morte durante o parto, tanto do bebê como da mãe. Nas puérperas, o mais comum é o receio de ir para compromissos e atividades sem levar o bebê. ● diagnósticos diferenciais: devem ser investigados, principalmente em pacientes que desenvolvem transtornos durante a gestação. ○ disfunções na tireóide e anemia→ sintomas de pânico e ansiedade generalizada. ○ pré-eclâmpsia→ taquicardia, dispneia e ansiedade generalizada. ○ feocromocitoma (tumor raro na adrenal)→ sintomas parecidos com o Transtorno de Pânico (TP). TRANSTORNOS DE ANSIEDADE ● piora ou início de TOC durante o período perinatal tem sido notificado em pacientes sem depressão (sintomas mais comuns: obsessões de agressão e de contaminações, compulsões de checagem e de limpeza). ● mães que tem medo de agredir o filho podem evitá-los e isso pode prejudicar o desenvolvimento de uma relação afetiva saudável. DEPRESSÃO NA GESTAÇÃO ● é o transtorno mais frequente entre as gestantes (10-25%) com picos entre o 1º e 3º trimestre. ● apenas 1 em cada 5 gestantes procuram tratamento (devido ao estigma da depressão na gravidez). ● fatores de risco: pobreza, baixa escolaridade, o fato de ser solteira ou divorciada, histórico de violência, antecedentes psiquiátricos, eventos estressantes e carência social. ● sintomas comuns: cansaço, letargia, diminuição do desejo sexual, labilidade emocional, mudança de apetite, distúrbios do sono (são comuns à gestação e à depressão → dificulta o diagnóstico). ● o tratamento deve envolver o apoio familiar e social. ● características clínicas que ajudam no diagnóstico: anedonia (perda da capacidade de sentir prazer), sentimentos de culpa e desesperança, baixa autoestima e pensamento suicida. ● durante o pré-natal, o foco está mais voltado para os parâmetros clínicos→ é necessário haver uma maior atenção para queixas emocionais. INTERRUPÇÃO DA MEDICAÇÃO ● a maioria das gestantes interrompem a medicação quando se descobrem grávidas. ● alto índice de recaídas em pacientes depressivas. ● o índice de recaída ainda é maior em pacientes com transtorno bipolar (especialmente em pacientes com interrupção abrupta da medicação). ● em paciente que há a ocorrência de recaídas mesmo com a continuidade do tratamento, a sintomatologia costuma ser mais branda e o ocorrência episódica mais demorada. Está associado à diminuição do nível sérico da gestante devido às mudanças fisiológicas da gestação (aumento da volemia, do clearance renal e do metabolismo hepático). A resposta melhora com o ajuste de dose. ● as recaídas são mais rápidas nas gestantes que interrompem a medicação antes da concepção ou quando descobrem a gravidez. ● a gravidade da doença é o parâmetro mais importante para as decisões clínicas. ● avaliação da história psiquiátrica, sintomas atuais e atitude da paciente frente ao uso de medicamentos. ● avaliação de riscos para o início ou continuidade do tratamento: ○ risco do feto à exposição ao medicamento. ○ risco da doença não tratada para a mãe e para o feto. ○ risco de recaída associada à retirada de algum medicamento. ● decisões quanto ao uso de medicamentos psicotrópicos deve ser feita, idealmente, antes da concepção. ● não existe a possibilidade de não exposição. PUERPÉRIO ● durante esse período 85% das mulheres experimentam alguma alteração de humor. ● 10-15% das mulheres vivenciam algum sintoma clinicamente significante. ● os transtornos depressivos puerperais são tipicamente divididos em 3 tipos: ○ disforia (blues) puerperal: é considerada a forma mais leve dos quadros depressivos. Labilidade emocional, choro fácil, ansiedade, insônia, irritabilidade e sentimentos de inadequação que geralmente começam nos primeiros dias após o parto e desaparecem espontaneamente em até 2 semanas. Não há necessidade de tratamento específico. ○ depressão puerperal: pode ser a evolução do blues. Os sintomas persistem por mais de 2 semanas. Principal fator de risco: depressão ou ansiedade durante a gestação. Outros fatores: episódios depressivos no passado, complicações obstétricas durante a gestação (pré-eclâmpsia,, hospitalização durante a gestação e estresse fetal), ausência de apoio social. Culturas com práticas estruturadas no pós-parto facilitam a transição da mulher para o papel de mãe. A qualidade do relacionamento afetivo com o parceiro está associada a saúde mental da mulher no pós-parto. O comportamento do bebê também interfere. O início da DPP é insidioso, ocorre geralmente 6 semanas após o parto, mas pode surgir meses após. Depressão puerperal não tratada pode comprometer o tratamento do recém-nascido e o vínculo mãe-bebê. Além disso, aumenta o risco de suicídio materno e de cronificação da depressão. *TAB→ pistas para o diagnóstico: (a) presença de hipomania no pós-parto; (b) início da depressão imediatamente após o parto; (c) características atípicas, como pensamento acelerado e sintomas psicóticos; (d) presença de familiares de 1º grau com TAB; (e) respostas atípicas a antidepressivos. O período pós-parto é o de maior risco de ocorrência de TAB. O risco de psicose de pacientes puerperais é 100x maior em pacientes com TAB. ○ psicose puerperal: incidência: 2/1000 partos. Tendência de ocorrer nos próximos partos. Uma história prévia ou familiar de TAB aumenta substancialmente o risco de desenvolvimento de psicose puerperal. É UMA EMERGÊNCIA PSIQUIÁTRICA→ a ausência de tratamento adequado traz risco para a mãe e para a criança (casos de infanticídio). Sintomas prodrômicos: inquietação, irritabilidade e alteração do sono que evoluem rapidamente para quadro psicótico de humor depressivo ou eufórico, comportamento desorganizado, labilidade emocional, delírios e alucinações(delirium em alguns casos). Patologias orgânicas devem ser descartadas. A paciente deve ser acompanhada até 1 ano após a melhora do quadro. Acompanhamento psiquiátrico nas próximas gestações.