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07/06/2017 1 COMPREENSÃO HISTÓRICA -HISTÓRIA DAS CIDADES TRAÇADO URBANO -HISTÓRIA DA ARQUITETURA ESTILOS Colonial (até o século XIX) geralmente feitas em terra Casa Grande Velha de Itaquecetuba • Aparecimento de corpos elevados tipo “camarinha”e água furtada. Minas 07/06/2017 2 •As ruas eram definidas pelos lotes •As ruas sem edificações e definidas por cercas eram estradas •A rua existia sempre como um traço de união entre o conjunto de prédios. RUAS Neoclássico (substituem o colonial sec XIX) uso de platibandas 07/06/2017 3 Eclético, final do sec. XIX inicio do XX Abrange estilos academicos ART NOVEAU – fins do séc XIX Arte Nova, motivos florais 07/06/2017 4 Solar Marquesa de Santos Em 1802, foi dado como pagamento de dívidas ao Brigadeiro José Joaquim Pinto de Morais Leme, primeiro proprietário documentalmente comprovado. Os moradores anteriores residiram por 90 anos, mas não há registros da data de sua construção. Documentos do século XVII indicam a existência de quatro residências de taipa de pilão na Rua do Carmo entre 1739 e 1754 e a junção de duas delas dariam a origem ao solar. Conforme registros fotográficos do século XIX, além de prospecções arqueológicas e análises arquitetônicas realizadas pelo Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) e também é percebido na fachada. A Marquesa de Santos, Maria Domitila de Castro Canto e Melo, foi proprietária entre 1834 e 1867, adquirindo o imóvel da herdeira do Brigadeiro Leme No período que ficou no Rio de Janeiro ela residia em uma casa do sec. XVII que fora toda reformada em estilo neoclássico, com vitrais e pinturas bem mais requintadas do que do Solar de São Paulo que era mais sóbrio. Em 1880 a casa é vendida para a Mitra Diocesana de São Paulo e se torna a sede do Bispado de São Paulo. Alterações e adulterações são feitas neste período. A principal alteração foi na fachada, onde na época da Marquesa, era colonial com o telhado aparente. Histórico Óleo atribuído a F.P. do Amaral (acervo: Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro) Em 1880 a casa é vendida para a Mitra Diocesana de São Paulo e se torna a sede do Bispado de São Paulo. Alterações e adulterações são feitas neste período. A principal alteração foi na fachada, onde na época da Marquesa, era colonial com o telhado aparente. Foi vendida para a “The São Paulo Gaz Company” em 1909 que permaneceu no prédio ate 1967. Em 1967, a Companhia Paulista de Gás (sucessora da The São Paulo Gaz Company) foi desapropriada e todos os seus imóveis passaram à Prefeitura. Em 1975, já incorporado ao patrimônio municipal, o Solar foi sede da Secretaria Municipal de Cultura e alguns de seus departamentos, como o DPH, criado nesse ano. Apesar de todas as reformas, demolições, alterações e acréscimo pela qual passou o Solar, ele ainda conserva dignidade e grandeza entre os arranha-céus do centro da cidade que foi crescendo ao seu redor. Fachada da sede Cia. de gás por volta de 1920 Cronologia 07/06/2017 5 O Solar da Marques de Santos esta situado na esquina da Rua do Carmo nº 3 (uma das primeiras ruas de São Paulo que ligava o Pátio do Colégio a Igreja do Carmo) com o Beco o Colégio conhecido também como Beco do Pinto, que foi de grande importância na época e polemicas, pois era uns dos poucos acessos da colina a várgea do rio Tamanduateí, por onde se buscava água, passavam animais, lavadeiras e escravos que levavam o lixo. Localização A construção é típica das construções da época onde as paredes mais espessas são de taipa de pilão e as mais delgadas de pau-a-pique ou taipa de mão. As paredes de taipa de pilão são as que dão sustentação para o piso do pavimento superior e telhados. A parede externa da casa que faz divisa com o Beco do Colégio é mista, de taipa de pilão até a altura do peitoril e daí para cima de taipa de mão, que a primeira vista parece que a construção fosse térrea neste local. O solar da Marquesa é constituído por dois sobrados, que os historiadores acreditam que foram unidos pelo proprietário anterior a Marquesa. Essa união é percebida na fachada, verificando os espaçamentos diferentes entre as janelas. O solar teve diferentes usos durante os anos, sofrendo assim varias adaptações que levaram a sua descaracterização. Sobrado Possível local de junção entre os sobrados Fachada e implantação Provavelmente a partir do sec. XVII seguia- se um plano onde o andar térreo apresentava um vestíbulo dando acesso a escada e a um corredor que levava ao quintal nos fundos da casa e em muitos podia se encontrar até um tipo de quarto de hospedes que podiam funcionar como deposito, locais para escravos ou tipo armários. Na época do Brasil colônia, segundo John Bury, as casas urbanas tipo solar tinham uma característica bem comum entre elas. Evolução construtiva Pavimento térreo Legenda fases das paredes: Século XVIII Século XIX Início do século XX Final do século XX Pavimento superior No primeiro andar ficava uma grande sala de recepção com varanda ou portas janelas com balcões dando para a rua, um corredor central levava que ligava aos quartos. Ainda no pavimento superior muitas vezes se encontrava ao fundo do andar uma sala de jantar e a cozinha com escada externa que ia até o quintal. 07/06/2017 6 Taipa de pilão foi o material mais empregado nas construções coloniais no Brasil, devido sobretudo à abundância de matéria prima, o barro vermelho e também por ser facilmente de se executar, à satisfatória durabilidade e às excelentes condições de proteção que oferece quando recebem manutenção adequada. É uma técnica de origem mourisca praticada pelos portugueses e espanhóis desde tempos imemoriais, conhecida também pelos negros africanos. Era de uso comum na Europa, até meados do século XIX, na França recebia o nome de pisé. A técnica consiste em amassar com um pilão o barro colocado em formas de madeira, os taipais, semelhantes às formas de concreto utilizadas hoje. Os taipais têm somente os elementos laterais, e são estruturados por tábuas e montantes de madeira, fixados por meio de cunhas, em baixo, e um torniquete em cima. Suas dimensões são de aproximadamente 1,0 m de altura por 3,0 a 4,0 m lateralmente, e têm a espessura final da parede, 0,6 m a 1 m. Após a secagem, o taipa é desmontado e deslocado para a posição vizinha. A taipa de pilão foi mais utilizada nas regiões de São Paulo, Goiás e Minas Gerais. Pau-a-pique, taipa de sebe, taipa de mão, barro armado ou taipa de sopapo, são diversos nomes para um dos sistemas mais utilizados tanto nos tempos da colônia como ainda hoje em construções rurais, devido a suas qualidades – baixíssimo custo. Na sua versão mais depurada, consiste em uma estrutura mestra de peças de madeira, cuja seção pode variar 50 x 50 cm, 40 x 40 cm até 20 x 20 cm composta de esteios – peças verticais enterradas no solo, baldrames – peças horizontais inferiores, e frechais – peças horizontais superiores. Os esteios tem comprimento de até 15 m, dos quais 2 a 4 m são enterrados. Era a técnica muito utilizada também para divisórias internas, sobretudo nos pavimentos elevados, em construções cujas paredes externas eram de taipa de pilão. Materiais construtivos Na época o material de maior resistência e mais fácil de encontrar eram as pedras, muito utilizadas na construção de muros, fortificações, igrejas monumentais e nas construções oficiais As pedras utilizadas eram em geral calcários, arenitos ou pedra de rio e granitos. Como massa de liga se usava cal eareia ou o barro, as pedras eram de tamanho variável, até 40 cm na maior dimensão ou mais, e de acabamento irregular, sem qualquer trabalho de aparelhagem, junto com essa massa de junta também se colocava pedras menores para calçar as maiores. No caso do tipo pedras de mão, onde é feito de pedras maiores, contornadas por pedras menores, que recebe o nome de cangicado, muito parecido com a tipologia do Solar. Fundação Telhado A partir do século XVI começa substituição do sapé por telhas cerâmicas, de capa e canal, ou capa e bica, também chamadas telhas canal ou colonial. A fachada atual é a que o Bispado escolheu, Neoclássica, com os frontões triangulares típicos desse período e com platibanda. Foi construída uma capela e uma cripta sob o altar-mor, foi utilizada para casamentos e batizados. Não se sabe a sua localização, pois não há vestígios. detalhe beiral que tinham a função de proteger da chuva as paredes de taipa ou pau-a-pique. Cachorro Beiral Foto local exemplo de cobertura 2012 e da época ainda com beiral Detalhe cobertura que ainda mantém desenho original com telha capa e canal mais beiral Telhado 07/06/2017 7 Algumas intervenções da Marquesa foram no pavimento superior nos solões de festa, que eram dois, e o maior deles foi dividido com a construção de uma parede de taipa de mão e elevou o pé direito e criou um forro tipo junta saia e camisa no pavimento térreo e tipo apainelado no andar superior diferente do resto da casa. Forro Foto local forro tipo junta sai e camisa com roda teto 2012 Foto local forro tipo apainelado com roda teto 2012 Estes salões estão posicionados na frente da casa propositalmente, pois ela não era convidada para os eventos, ela fazia suas próprias festas e convidava essas pessoas. Abrindo todas as janelas para poder ver e ser vista, um jogo que ela sabia fazer muito bem. As folhas das portas e janelas eram sempre de madeira e geralmente as folhas podiam ser de réguas, de almofadas, de treliças (urupemas) ou rendas de madeira. As janelas eram constituídas em vergas, elemento superior, as ombreiras, laterais e os peitoris e soleiras, inferiores. Como as paredes de taipa de pilão eram feitas com uma maior espessura com fim estrutural. Na parte interna era usado como solução para uma maior iluminação interior o que conhecemos como janelas de rasgo ou janelas rasgadas. O uso de vergas curvas ou onduladas aparecem talvez pela primeira vez no Brasil, segundo Robert Smith, em 1743, no Paço dos Governadores do Rio de Janeiro. Janelas e portas “The São Paulo Gaz Company” fez modificações no térreo onde foi instalado o showroon, que era usado para expor os fogões e salamandras de ferro fundido e para isso foi necessário a demolição de parede de taipa de pilão que são percebidas no piso, onde foram colocados pisos diferentes. Janelas e portas, transformadas em vitrines. Para melhorar a iluminação e a ventilação, foi aberto um pátio na lateral direita do lote, demolindo vários cômodos do térreo e pavimento superior e alterando o desenho do telhado. Em um segundo momento a companhia instala uma grande porta no centro da fachada. Com essas alterações da distribuição dos cômodos e demolições de parede a estrutura começa a ser comprometida e sendo necessário o reforço com vigas e a colocação de duas colunas de ferro fundido, no final do sec. XIX, para a sustentação do piso superior, essas colunas são envolvidas por tijolos. Quando a casa se torna museu o revestimento de tijolos é retirado, porem uma das colunas que é mais delgada não foi possível a remoção pois ela não suportaria a carga do piso superior. Modificações 07/06/2017 8 A escada de mármore que foi instalada pelo Bispado foi desestruturada sendo necessária a construção de uma abóboda de tijolos para reforçar a estrutura. O piso do pavimento superior não é original pois deveria ser com pranchas mais largas, provavelmente de canela preta, que era utilizado na época. A COMGAS pediu autorização da prefeitura para a realização dessa reforma, essa situação não era comum na época. Mostrando que a companhia tinha noção de que o prédio deveria ter alguma importância histórica. Na década de 1930 foram construídos anexos à edificação original, aumentando sua área útil e alterando por completo a fachada posterior do imóvel. Os pisos de tábuas corridas de madeira eram os mais comuns em pavimentos elevados do solo. Em alguns lugares, a única solução possível. Os frisos de madeira tinham em torno de 40 cm de largura e espessura de 3 a 4 cm, apoiados em barrotes As paredes eram geralmente caiadas feitas em geral de cal de mariscos, de pedra ou tabatinga. As madeiras eram preferencialmente pintadas a cola, têmpera ou óleo. Os corantes mais comuns eram o anil ou índigo -indigueiro- leguminosa (azul), sangue de drago e urucum (vermelho), a açafroa (amarelo), a braúna (preto), o ipê e a cochonilha (cor de rosa). Nas pinturas decorativas, era comum a chamada “pintura de fingimento”, que procuravam imitar madeira ou mármore. Pintura Prospecção estrutural No ambiente sob a escada de alvenaria deixou-se aparentes os vestígios dos diversos momentos construtivos, assim como, das muitas modificações arquitetônicas. Ficaram aparentes partes de diversas paredes (“janelas”) para informação didática das antigas e novas técnicas construtivas encontradas no Solar, tais como: a taipa de pilão, executada com terra apiloada entre formas de madeira; o pau-a-pique, também conhecido como taipa de mão, executado com treliça de madeira roliça amarrada com cipó ou consolidada com cravos e preenchida com terra; a taipa francesa, executada com estrutura de tábuas de madeira de topo e varas pregadas e preenchida com terra; alvenaria de tijolos maciços; alvenaria de blocos cerâmicos furados; e alvenaria de blocos sílico-calcários. 07/06/2017 9 Localização das prospecções A Prospecção de parede externa de taipa de pilão correspondente ao segundo sobrado B Prospecção de taipa de mão ou pau-a-pique sobre a verga de porta nobre. C Prospecção de parede de alvenaria de bloco sílico- calcáreo, construída em 1992, em substituição à parede de pau-a-íque arruinada. D Prospecção de armário embutido vedado por alvenaria em época indeterminada E prospecção de taipa de pilão encamisada correspondente ao primeiro sobrado. F prospecção de vedação rudimentar de porta com travessas horizontais de madeira e barro, à semelhança de taipa francesa, realizada em época indeterminada. G Prospecção de antigo armário vedado com alvenaria de tijolos por “the san paulo gas company limited”, provavelmente na primeira metade do século 20. No Brasil, não existe uma Carta de Restauro, ou leis específicas a serem adotadas em obras de restauração de monumentos ou bens tombados. Os critérios utilizados no país são na verdade recomendações, encontradas nas Cartas Patrimoniais e também em algumas teorias da Restauração. As cartas patrimoniais são um conjunto de documentos internacionais, com diferentes abordagens, que sugerem procedimentos e normas a serem adotadas em diversas situações, entre elas na preservação e restauração do patrimônio. Uma das mais importantes Cartas Patrimoniais é a Carta de Veneza, escrita durante o II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, que aconteceu em maio de 1964, em Veneza. A Carta de Veneza, redigida e assinada por diversos países e também pela UNESCO é, ainda hoje, uma referência para todos os restauradores que entendem que a preservaçãode um monumento tem como finalidade salvaguardar tanto a obra de arte quanto seu testemunho histórico. Carta de Veneza Exemplo da carta de Veneza Neste sentido, podemos perceber a influência da Carta de Veneza nas obras de restauro do Solar da Marquesa de Santos. A unidade de estilo não foi o objetivo principal, mas o respeito às contribuições de todas as épocas pelas quais o monumento passou. Pinturas encontradas em prospecções no Solar da Marquesa Escadaria construída na época do Bispado Exemplo da carta de Veneza Outro fator importante que podemos perceber na restauração do Solar é o respeito com as gerações futuras. Em cada ambiente o testemunho das técnicas construtivas encontradas ou das evidências de que algo existiu anteriormente. Testemunho de técnicas construtivas e de intervenções anteriores Demarcação de parede existente anteriormente no piso superior 07/06/2017 10 LEVANTAMENTO ESTRUTURAL TÉCNICA CONSTRUTIVA DO EDIFÍCIO: CANTARIA A palavra cantaria, no âmbito da arquitetura, tem sua etimologia originada do latim “canthus” com o significado de “aresta”. No Brasil, como também em Portugal, devido à dificuldade de mão de obra qualificada e também devido ao custo a cantaria não era utilizada na totalidade do edifício, mas apenas nas suas partes mais importantes: paredes, pilastras, soleiras, frontispícios, nos portais, nas janelas e nos cunhais. No restante das vedações, utilizada outra técnica mural. Portal de cantaria. Imagem: RODRIGUES, 1979. Em ruínas, pode-se identificar com clareza em uma das paredes do Complexo Booth Line, que seu método construtivo foi realizado em cantaria com pedra jacaré. Nota-se também as intervenções que ocorreram alguns anos após este entrar em deterioração, com tijolos convencionais, objetivando sustentar as paredes da edificação. Intervenção com tijolo convencional e tijolo de 14 furos, respectivamente. Parede deteriorada do Booth Line em cantaria e pedra Jacaré. EXERCÍCIOS IDENTIFICAÇÃO DE PATOLOGIAS 07/06/2017 11 A espessura dessas paredes varia entre 55 e 60cm; 07/06/2017 12 .