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Transtorno do Espectro Autista Profa. Dra. Luciana pietro História 1952, a Associação Americana de Psiquiatria publica o Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais (DSM-I), com a finalidade de padronizar a nomenclatura e os critérios diagnósticos dos transtornos mentais. sintomas autistas foram classificados dentro da esquizofrenia infantil e não como uma entidade com diagnóstico próprio. 1968, é publicado o DSM-II, que, em geral, entendia os sintomas autistas por meio da psiquiatria dinâmica. predominava a ideia de que os sintomas seriam resultados de grandes conflitos inconscientes ou de dificuldades para se adaptar aos problemas do ambiente, e que seriam sediados entre as neuroses e as psicoses. História Em 1980, Rutter e Schopler, com grande experiência no acompanhamento de crianças com o transtorno, definiu autismo a partir de quatro critérios: Atraso e desvios sociais não só como deficiência intelectual; Problemas de comunicação não só como de deficiência intelectual associada; Comportamentos incomuns, tais como movimentos estereotipados e maneirismos; Início antes dos 30 meses de idade. Em 1980, no DSM-III,8 o autismo foi finalmente reconhecido como uma nova classe de transtornos do desenvolvimento, denominada transtornos invasivos do desenvolvimento (TID) História Em 1994, DSM-IV trouxe novos critérios na definição de autismo A síndrome de Asperger é adicionada ao DSM-IV, ampliando o espectro do autismo, que passa a incluir casos mais leves, em que os indivíduos tendem a ser mais funcionais. Em 2013, é lançado o DSM-5, no qual os subtipos dos transtornos do espectro autista são eliminados. Todos os casos são a partir daí diagnosticados em um único espectro com diferentes níveis de gravidade. O diagnóstico de TEA passa a pressupor uma definição a partir de duas categorias: de um lado, alteração da comunicação social; do outro, a presença de comportamentos repetitivos e estereotipados Transtorno do Espectro Autista Definido como transtorno do desenvolvimento que surge na infância e que se caracteriza por importante atraso na aquisição da linguagem, na interação social, com interesses restritos e comportamentos estereotipados ou repetitivos. Condições caracterizadas por prejuízos significativos na comunicação, comportamento e interação social que se iniciam dentro dos três primeiros anos de vida e que têm causas multifatoriais Fazem parte dessas condições: autismo infantil síndrome de Asperger transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação Transtorno do Espectro Autista os TEA são considerados, atualmente, transtornos do desenvolvimento de causas neurobiológicas definidos de acordo com critérios eminentemente clínicos as características básicas são anormalidades qualitativas e quantitativas que, embora muito abrangentes, afetam de forma mais evidente as áreas da interação social, da comunicação e do comportamento. os comportamentos são comuns entre todos os indivíduos do TEA o que muda é a intensidade das manifestações e a gravidade do acometimento. Epidemiologia Na década de 1980 tratava-se de um distúrbio raro, com incidência aproximada de 1 para 2.500 Atualmente 1 para 68 crianças nos EUA Autismo: Asperger: Afeta 3 a 5 vezes mais os meninos do que as meninas, mas as meninas autistas tendem a ser mais seriamente afetadas. Causas Atualmente, os TEA são considerados transtornos complexos, heterogêneos e de etiologia multifatorial grande número de patologias congênitas associadas Raramente um único fator genético ou ambiental é reconhecido como a causa do transtorno Os estudos ainda não são conclusivos, porém existem vários relatos de anormalidades orgânicas, neurológicas, biológicas, fatores genéticos, imunológicos e perinatais, bioquímicos e neuroquímica – sinalização molecular e celular neuro-anatômicos Genética Estudos mostram que as taxas de concordância entre gêmeos monozigóticos variam de 36% a 92% sendo de 10% gêmeos dizigóticos (Folstein e Rutter, 1977) O risco de recorrência é baixo: 2% a 8% porem cerca de 50-200 vezes maior do que o da população geral (Bailey,1996; Muhler et al., 2004) Estudos demonstram que os fatores ambientais são mais importantes do que se pensava anteriormente, sendo o risco determinado 50% por fatores genéticos e 50% por fatores ambientais Há mais de 100 genes e 40 regiões genômicas associadas ao TEA: genes relacionados: FMR1, neuroliguinas 3 e 4 (NLGN), neurexina 1 (NRXN1), anquirina (HANK3), CNTNAP2, protocaderina 10 (PCDH10), contactina 3 (CNTN3) supostos genes relacionados: MeCP2, DIA 1, PCDH10, NHE9A2BP1, UBE3A, NHE6, 5-HTT, MET Genética Muitos desses genes associam-se a proteínas envolvidas na sinapse na migração, no crescimento e na diferenciação neuronal na neurotransmissão excitatória e inibitória em canais iônicos de membrana regulação ou estrutura celular Na análise de um cariótipo padrão, podem ser detectadas anormalidades citogenéticas em até 5% dos casos, deleções ou duplicações submicroscópicas têm sido encontrados em 10% dos casos Aspectos Ambientais A possível associação de autismo com múltiplos fatores de risco ambientais tem sido muito estudada. Fatores pré-natais idade materna e paterna avançadas, diabetes gestacional, sangramento materno, gestação múltipla, primeiro na ordem de nascimento Estudos têm reportado associação entre TEA e a exposição pré-natal a toxinas. Já está bem determinada a associação de autismo com a exposição intrauterina a medicamentos teratógenos como a talidomida, o abortivo misoprostol e o anticonvulsivo ácido valproico Outro estudo demonstrou que crianças que residem em casas com altos níveis de poluição do ar são três vezes mais suscetíveis a desenvolver TEA do que crianças que residem em áreas de baixo nível de poluição. Aspectos Ambientais Fatores Perinatais e Neonatais apresentação fetal anômala, complicações no cordão umbilical, sofrimento fetal, hemorragia materna, tamanho pequeno para a idade gestacional, malformações congênitas, aspiração de mecônio, incompatibilidade ABO ou Rh hiperbilirrubinemia, baixo peso de nascimento (< 1.500 g), lesões associadas ao parto anemia neonatal Alterações Neuropatológicas Achados neuropatológicos tem sido repetidamente descrito, se referem às anormalidades na estrutura minicolunar no neocórtex Estudos mostram que as células do sistema límbico (hipocampo, amígdala, corpos mamilares, giro anterior do cíngulo e núcleos do septo) seriam menores nas crianças com TEA indicando atraso na maturação desse sistema Alterações cerebelares também têm sido descritas e incluem volume anormal Células de Purkinje com número e tamanho reduzidos Aumento das células da micróglia e de citocinas inflamatórias Alterações de Neuroimagem Aumento do volume cerebral total, dos hemisférios, do cerebelo e do núcleo caudado aumento de substância branca e cinzenta Isso estaria associado ao aumento no número, no tamanho e na quantidade de mielina na neuróglia, aumento na quantidade de dendritos e axônios e diminuição da poda neuronal Diminuição do volume de outras regiões cerebrais, como áreas do mesencéfalo, vérmis cerebelar e corpo caloso. Padrões anormais de crescimento nos lobos frontais e temporais e estruturas do sistema límbico, como a amígdala Alterações Eletrofisiológicas Estudos têm mostrado anormalidades no funcionamento da circuitaria cerebral compatíveis com o padrão de disconectividade e dissincronia em longas distâncias. Uma das alterações mais citadas são déficits no processamento temporal Esses achados indicam diferenças na velocidade do processamento auditivo e na transmissão da informação via núcleo auditivo ao córtex A prevalência de epilepsia em autistas é alta – 30%, sendo maior naqueles com grave comprometimento da linguagem e déficit cognitivo. A associação de autismo com epilepsia e retardo mental é um dos principais motivos para se acreditar em uma origem biológica para o TEA AlteraçõesNeuropeptídicas São pequenas moléculas regulatórias distribuídas em todo o sistema nervoso central. No cérebro, exercem múltiplas funções biológicas, tais como neurotransmissão, neuromodulação, regulação dos sistemas endócrinos e imunológic A oxitocina e a vasopressina são conhecidas como “peptídeos sociais” Há evidências de que o sistema que envolve a oxitocina possa estar alterado em indivíduos com TEA Alterações no Sistema Redox Algumas evidências recentes sugerem que crianças com TEA apresentam reduzida capacidade antioxidante e podem sofrer de estresse oxidativo crônico. São descritas anormalidades no metabolismo da metionina e da glutationa e no funcionamento das mitocôndrias, onde são produzidos os oxigênios reativos intracelulares. Os oxigênios reativos participam da fisiologia da plasticidade sináptica, da aprendizagem e da memória, e estão associados à disfunção celular encontrada nas doenças degenerativas associadas à idade Alterações Imunológicas Atualmente se tem estudado o papel do sistema imunológico na neurobiologia do autismo. Infecção materna, febre e uso de antibióticos na gestação, assim como infecção pós-natal, estão associados a um aumento na chance de a criança ser diagnosticada com TEA. A hipótese de uma disfunção imunológica é fortalecida pela alta prevalência de doenças autoimunes e alergias em indivíduos com autismo. Alguns estudos demonstraram que anticorpos maternos reagem com proteínas cerebrais fetais e podem se associar ao transtorno. Outras Alterações Há evidências de alterações em vários neurotransmissores, sendo as alterações da serotonina as mais consistentes. Os níveis de serotonina estão aumentados em um terço das crianças com autismo. Em crianças não autistas, sua síntese é maior do que 200% dos valores de adultos antes dos cinco anos, quando então declinam até atingir valores de adultos. Em crianças autistas, a capacidade de síntese aumenta gradativamente entre as idades de 2 e 15 anos até os valores normais de adultos. Esses dados sugerem que humanos são submetidos a um período na infância de grande síntese de serotonina e que este processo está alterado em indivíduos com TEA. Perfil Intelectual deficiência intelectual estaria presente em 70% dos pacientes (Fombonne, 2005) 29,3% deficiência leve/moderada 38,5% deficiência severa/profunda Segundo Baird (2006) 55% dos indivíduos com TEA apresentariam deficiência intelectual Características Clínicas Prejuízos na interação Social prejuízos no uso de comportamentos não verbais: contato visual direto expressão facial gestos comunicativos dificuldade para estabelecer relacionamentos com colegas dificuldades para compartilhar prazer, interesses ou desconforto falta de reciprocidade social/emocional Prejuízos na Comunicação atraso ou ausência da fala expressiva dificuldade para iniciar ou manter uma conversação uso estereotipado e repetitivo da linguagem; linguagem pedante dificuldade na compreensão, na contextualização alterações na prosódia e articulação Padrões Restritos de Comportamento, interesses e atividades preocupação insistente com um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesse maneirismos estereotipados e repetitivos apego excessivo a rotinas preocupação persistente com partes de objetos hiperatividade / Passividade; brincadeiras repetitivas, pouco imaginativas e sem variedade; os brinquedos são usados de forma pobre, sem simbolismos e sem criatividade; são raras as brincadeiras de faz-de-conta Diagnóstico Diagnóstico O diagnóstico raramente é feito antes dos dois anos, principalmente porque existem formas diferentes na trajetória do desenvolvimento dessas crianças. Ruggiere relata que seus casos têm chegado para a primeira consulta aos 18 meses, sendo que 22% dos casos era relacionada a transtorno de linguagem e de conduta; 22% dos casos era associado a transtorno de conduta 31% dos casos associado a atraso no desenvolvimento neuropsicomotor 17% dos casos por convulsões. Diagnóstico O acompanhamento de pacientes com TEA, por muitos anos, tem mostrado que, quando essas crianças desenvolvem linguagem e brinquedo simbólico até os 5 anos, têm prognóstico melhor. Mostram também que as intervenções antes dos três anos e meio têm um impacto maior do que depois dos cinco anos de idade Sabe-se que o diagnóstico de TEA é feito com base nas características comportamentais que podem tomar formas qualitativamente diferentes na primeira infância. A concomitância, a recorrência e a gravidade dos sintomas levam à suspeita diagnóstica. Diagóstico Precoce São indicações absolutas para referir imediatamente uma criança para avaliação mais detalhada quando: Não balbucia aos 12 meses; Não gesticula aos 12 meses (não aponta, não abana); Tem ausência de palavras com significado aos 16 meses; Não consegue fazer frases de duas palavras espontaneamente e não ecolálicas aos 24 meses; Sofreram alguma perda de linguagem ou habilidades sociais em qualquer idade. Critérios de Diagnóstico O modelo híbrido do DSM- 5, contempla, de um lado, comportamentos repetitivos e interesses restritos e, de outro, déficits sociais comunicativos, sendo cada caso classificado quanto ao nível de gravidade em: Nível 1 – crianças bastante funcionais que necessitam de pouca intervenção; Nível 2 – crianças relativamente funcionais que necessitam de muita intervenção; Nível 3 – crianças muito pouco funcionais apesar de muita intervenção. Tratamento Tratamento O tratamento da criança com TEA é multidisciplinar; Terapia fonoaudiológica; Terapia ocupacional; Terapia psicopedagógica; Terapia psicológica; Musicoterapia; Arteterapia; Hidroterapia; Técnicas de modificação do comportamento; Programas educacionais e/ou de trabalho. Tratamento É fundamental o entendimento de que as crianças são diferentes, as necessidades e as oportunidades são diferentes, o que significa terapias diferenciadas. As melhores intervenções nas crianças com TEA devem atingir dois objetivos: ajudar a criança a adquirir habilidades funcionais para poder usar todo seu potencial reduzir a rede de comportamentos mal-adaptativos que interferirem no comportamento. Prognóstico O acompanhamento do autista desde a infância até a idade adulta mostrou que o prognóstico se relaciona ao nível de habilidades cognitiva e de linguagem, e que era possível encontrar adultos independentes em 5% a 10% dos casos; com progresso considerável em 25%; e com déficits significativos em 65% a 70%. Já uma pesquisa japonesa, realizada em 1992, encontrou um prognóstico bem mais favorável, em que os adultos autistas, em 27% dos casos, estavam empregados e eram independentes. Sabe-se que a intervenção precoce e efetiva costuma resultar em ganhos significativos e duradouros. Transtorno de Asperger Muitas vezes é considerado como um autista de bom funcionamento. Apresentam o mesmo comportamento dos autistas, mas com capacidade intelectual normal ou superior Asperger chamou essas crianças de “pequenos professores” devido às excelentes condições intelectuais e interesses restritos, que lhes permitia um foco constante no seu interesse principal, o que os levava a saber mais sobre o assunto do que os outros. Prevalência: é mais comum do que inicialmente se pensava, muitas pessoas não foram ainda diagnosticadas ou foram diagnosticadas erroneamente. acredita-se que seja mais comum do que o autismo clássico. ocorre na proporção de 4 homens para 1 mulher. Síndrome de Asperger Obrigada!!