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RESUMO: DOS CRIMES CONTRA A VIDA

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Homicídio 
É a eliminação da vida de uma pessoa provocada por outra. Tem por ação nuclear o 
verbo “matar”, que significa destruir ou eliminar, no caso a vida humana, utilizando-se 
de qualquer meio capaz de execução. 
É um crime comum, pois o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, não exigindo a Lei, 
nenhum requisito especial, sendo excluídos aqueles que atentam contra a própria 
vida, já que o suicídio, por si mesmo, é fato atípico. Admite a coautoria ou 
participação, por ação ou omissão. 
Desse modo, o agente pode lançar mão de todos os meios, não só materiais, para 
realizar o núcleo da figura típica. Portanto, pode-se matar por meios físicos 
(mecânicos, químicos ou patogênicos), morais ou psíquicos, com emprego de palavras, 
direta ou indiretamente, por ação ou omissão. 
O sujeito passivo do crime de homicídio é “alguém”, ou seja, qualquer pessoa, 
independentemente de idade, sexo, condição social etc. É o titular do bem jurídico 
lesado ou ameaçado. 
Pode ser praticado com dolo (vontade e consciência na produção do resultado) ou com 
culpa (por imprudência, negligência ou imperícia). Dá-se o nome de homicídio doloso 
no primeiro caso e de homicídio culposo no segundo. 
O Código Penal distingue várias modalidades de homicídio: simples (artigo 121, caput), 
privilegiado (§ 1°), qualificado (§ 2°) e culposo (§ 3°). 
Por homicídio simples, entende-se que é aquele que constitui o tipo básico 
fundamental, ou seja, contém os componentes essenciais do crime. 
O homicídio privilegiado é aquele que, em virtude de certas circunstâncias subjetivas, 
conduzem a uma menor reprovação social da conduta do homicida e, por este motivo, 
a pena é atenuada. 
Já o homicídio qualificado é aquele que tem sua pena majorada (aumentada). Diz 
respeito aos motivos determinantes do crime e aos meios de execução, reveladores de 
maior periculosidade ou perversidade do agente. 
O homicídio culposo há uma ação voluntária dirigida a uma atividade lícita, porém, 
pela quebra do dever de cuidado a todos exigidos, sobrevém um resultado ilícito não 
querido, cujo risco nem sequer foi assumido. 
O crime de homicídio tem por objeto jurídico a vida humana extrauterina. Não é 
necessário, para a existência de um crime de homicídio, que se trate de vida humana 
viável, bastando, apenas, a prova de que a vítima tenha nascido viva. 
Ressalta-se que só os crimes dolosos contra a vida, na sua forma consumada ou 
tentada, são julgados pelo Tribunal do Júri. Os crimes culposos contra a vida são de 
competência do juiz singular. 
Homicídio simples 
Art. 121. Matar alguém: 
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 
Caso de diminuição de pena 
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou 
moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da 
vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
Homicídio qualificado 
§ 2° Se o homicídio é cometido: 
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; 
II - por motivo fútil; 
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou 
cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte 
ou torne impossível a defesa do ofendido; 
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: 
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. 
Homicídio culposo 
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) 
Pena - detenção, de um a três anos. 
Aumento de pena 
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de 
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de 
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, 
ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é 
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) 
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as 
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a 
sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977) 
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por 
milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de 
extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012) 
 
Induzimento, instigação ou auxílio ao Suicídio 
O suicídio é a deliberada destruição da própria vida. Suicida, segundo o Direito, é 
somente aquele que busca direta e voluntariamente a própria morte. 
O tipo previsto no artigo 122 do código penal, de participação de suicídio alheio, é 
crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa que execute uma das 
condutas descritas no tipo. 
Por ser um tipo misto alternativo (crime de ação múltipla ou de conteúdo variado), o 
agente, ainda que realize todas as condutas, responde por um só crime. 
Três são as ações previstas pelo tipo penal: 
a) Induzir: significa suscitar a ideia, sugerir o suicídio. É fazer surgir, na mente da 
vítima, um desejo de suicídio que não existia. 
b) Instigar: significa reforçar, estimular, encorajar um desejo já existente. Aqui, o 
sujeito ativo potencializa a ideia de suicídio que já havia na mente da vítima. 
c) Auxiliar: consiste na prestação de ajuda material (e moral), que tem caráter 
meramente secundário. Em regra, se traduz por ato material (fornecimento de arma, 
veneno etc), mas pode ser também de ordem moral (instruções para pôr termo à vida 
etc). 
Por se tratar de crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa que tenha 
capacidade de induzir, instigar ou auxiliar alguém, de modo eficaz e consciente, a 
suicidar-se. 
Qualquer pessoa pode ser vítima do crime em tela, desde que possua capacidade de 
resistência e discernimento. 
Tratando-se de doente mental, sem capacidade de discernimento, ou menor sem 
compreensão, haverá homicídio, falando-se no caso de autoria mediata. A pessoa que 
tenta suicídio não pode ser responsabilizada criminalmente. 
O crime consuma-se com o resultado naturalístico, ou seja, a morte ou lesão corporal 
de natureza grave. 
A tentativa no crime, aqui exposto, é inadmissível, embora, em tese, fosse possível. Se 
não ocorrer a morte ou lesão corporal de natureza grave, o fato é atípico. 
Dessa forma, o ato de induzir, instigar ou auxiliar que alguém se suicide, sem que deles 
decorram os eventos naturalísticos acima mencionados, não constitui crime. 
O elemento subjetivo do delito de participação em suicídio é somente o dolo, direto 
ou eventual, consistente na vontade livre e consciente de concorrer para que a vítima 
se suicide. 
Não há previsão legal da modalidade culposa do crime de participação em suicídio. Há 
posicionamento na doutrina no sentido de que se alguém, por culpa, dá causa a que 
alguém se suicide, responderá por homicídio culposo, se o evento morte for previsível. 
Pode ser praticado de forma simples ou qualificada. Na primeira, é a figura descrita 
no caput do artigo 122 do Código Penal. Na segunda, é a figura prevista no parágrafo 
único do artigo 122, onde a pena será duplicada nos seguintes casos: 
a) Motivo egoístico: elemento subjetivo que demonstra interesses personalíssimos no 
evento morte (herança, competição nos negócios etc). 
b) Vítima menor: em termos de outros dispositivos, seria a pessoa entre os 14 e 18 
anos. Apesar de não haver indicação expressa na Lei indicando a menoridade a que ela 
se refere, funda-se a agravante em tela na menor capacidade de resistência moral da 
vítima à criação ou estímulo do propósito suicida por parte do agente. 
Induzimento, instigação
ou auxílio a suicídio 
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o 
faça: 
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três 
anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. 
Parágrafo único - A pena é duplicada: 
Aumento de pena 
I - se o crime é praticado por motivo egoístico; 
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de 
resistência. 
Infanticídio 
É a vida do ser nascente ou neonato ceifada pela própria mãe, que se encontra sob 
influência do estado puerperal. 
Trata-se de uma espécie de homicídio doloso privilegiado, cujo privilegium é concedido 
em virtude da “influência do estado puerperal” sob o qual se encontra a parturiente. 
É que o estado puerperal, por vezes, pode acarretar distúrbios psíquicos na genitora, 
os quais diminuem a sua capacidade de entendimento ou autoinibição, levando-a a 
eliminar a vida do infante. 
Conforme Mirabete, “o estado puerperal é o período que vai do deslocamento e 
expulsão da placenta à volta do organismo materno às condições normais, havendo 
discordância quanto a seu limite de duração (de 6 a 8 dias a 6 semanas)”. 
Não se trata, especificamente, de uma perturbação psíquica, mas de eventual 
diminuição da capacidade de a parturiente determinar-se, livremente, causa de sua 
incriminação por infanticídio e não homicídio, fundando-se o tipo especial em um 
critério psicofisiológico (critério adotado pelo Código Penal) e não em motivo de 
honra, como já se decidiu. 
Tutela o artigo 123 do Código Penal o direito à vida, contudo, a vida humana 
extrauterina, assim como no delito de homicídio. 
Por ser um crime próprio, somente a mãe puérpera pode praticar o crime em tela, 
porém, nada impede que terceiro responda por este delito na modalidade de 
concursos de pessoas: a) mãe que mata o próprio filho com, contando com o auxílio de 
terceiro; b) o terceiro mata o recém-nascido, contando com a participação da mãe; c) 
mãe e terceiro executam e coautoria a conduta principal, matando a vítima. 
O sujeito passivo do crime é, somente, o filho “durante o parto ou logo após”. 
Por se tratar de crime de execução de forma livre, pode ser praticado por qualquer 
meio comissivo (enforcamento, estrangulamento, afogamento...) ou omissivo (deixar 
de amamentar a criança, abandonar recém-nascido em lugar ermo com o fim de 
praticar sua morte - animus necandi - ...). 
O elemento subjetivo do crime de infanticídio é o dolo, ou seja, a vontade consciente e 
voluntária de produzir o resultado. Não existe a modalidade culposa neste crime. 
Sobre esta questão, há duas posições na doutrina: 
a) O fato será penalmente atípico (posição adotada por Damásio E. de Jesus); 
b) Responderá pelo delito de homicídio culposo (posição adotada por Nélson Hungria, 
Julio Fabbrini Mirabete, Cezar Roberto Bitencourt e E. Magalhães Noronha); 
Vale citar a posição de Fernando Capez que entende que o tipo se amolda à segunda 
conduta (homicídio culposo), pois a capacidade pessoal de previsão do agente (afetada 
pelo estado puerperal) pertence ao terreno da culpabilidade e não do fato típico. 
A consumação do delito se dá com a morte do neonato ou nascente. Por se tratar de 
um crime plurissubsistente, admite a tentativa quando, por circunstâncias alheias a 
sua vontade, não logra eliminar a vida do ser nascente ou neonato. 
Infanticídio 
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto 
ou logo após: 
Pena - detenção, de dois a seis anos. 
 
Aborto 
É a interrupção da gravidez com a morte do produto da concepção. Consiste na 
eliminação da vida intrauterina. 
Pode ser espontâneo, natural ou provocado, sendo neste último caso criminoso, 
exceto se praticado em uma das formas do artigo 128 do Código Penal. 
No auto aborto só há um bem jurídico tutelado, que é o direito à vida do feto. É, 
portanto, a preservação da vida humana intrauterina. 
No abortamento provocado por terceiro, além do direito à vida do produto da 
concepção, também é protegido o direito à vida e à incolumidade física e psíquica da 
própria gestante. 
No auto aborto ou aborto consentido, artigo 124 do Código Penal, somente a 
gestante pode ser autora desse crime, pois trata-se de crime de mão própria. 
É discutida a possibilidade de coautoria ou participação no crime previsto no artigo 
124, mas nada impede o concurso de agentes, por instigação, auxílio moral ou 
material. Se o agente atua em consonância com a gestante, por instigação, 
acompanhamento etc, responderá por este delito; se presta colaboração à conduta de 
terceiro, pelo artigo 126. 
No aborto provocado por terceiro, com ou sem o consentimento da gestante, artigos 
125 e 126 do código penal, por tratar-se de crime comum, o sujeito ativo pode ser 
qualquer pessoa. 
Por ser crime de ação livre, a provocação do aborto pode ser realizada de diversas 
formas, seja por ação, seja por omissão. 
A ação provocadora poderá dar-se por meio dos seguintes executivos: 
a) meios químicos: substâncias que atuam por via de intoxicação, como o arsênio, 
fósforo, mercúrio, quinina, estricnina, ópio etc; 
b) meios psíquicos: susto, terror, sugestão etc; 
c) meios físicos: são os meios mecânicos (curetagem); térmicos (aplicação de bolsas de 
água quente e fria no ventre); e elétricos (emprego de corrente galvânica ou farádica). 
O elemento subjetivo do crime de aborto é o dolo (vontade livre e consciente de 
interromper a gravidez) de causar a morte do produto da concepção. Não se admite a 
modalidade culposa. 
Por se tratar de crime material, a tentativa é perfeitamente admissível. 
Não podemos ignorar os outros dois dispositivos que tratam do crime de aborto: 
artigos 127 e 128. 
No primeiro, os crimes previstos nos artigos 125 e 126 constituem causas especiais de 
aumento de pena, quando provoca lesão corporal de natureza grave, quando a pena é 
acrescida de um terço, ou morte, quando é ela duplicada. 
Não se aplica o dispositivo à gestante nem àquele que é coautor ou partícipe de seu 
crime, previsto no artigo 124. Responsabilizado, porém, como autor ou partícipe dos 
crimes previstos nos artigos 125 e 126, a pena também deve ser acrescida. 
No segundo, o dispositivo trata do aborto legal. No inciso I, dispõe do aborto 
necessário, que é aquele em que não há outro meio de salvar a vida da gestante, 
senão o aborto. Dessa forma, havendo perigo para a vida da gestante, o crime está 
excluído pela excludente de ilicitude (estado de necessidade). 
Já no inciso II, dispõe sobre o aborto sentimental, que é autorizado quando a gravidez 
resulta de estupro e há o consentimento da gestante ou de seu representante legal. 
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento 
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque: Pena - 
detenção, de um a três anos. 
Aborto provocado por terceiro 
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: 
Pena - reclusão, de três a dez anos. 
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos. 
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 
quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido 
mediante fraude, grave ameaça ou violência 
Forma qualificada 
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um 
terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a 
gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer 
dessas causas, lhe sobrevém a morte. 
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: 
Aborto necessário 
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
Aborto no caso de gravidez
resultante de estupro 
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da 
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 
Todos os crimes, aqui elencados, são da competência do Tribunal do Júri para 
julgamento, desde que cometidos dolosamente na forma consumada ou tentada. 
 
Lesão Corporal 
Lesão corporal consiste em todo e qualquer dano produzido por alguém, sem animus 
necandi, à integridade física ou à saúde de outrem. Ela abrange qualquer ofensa à 
normalidade funcional do organismo humano tanto do ponto de vista anatômico 
quanto do fisiológico ou psíquico. Na verdade é impossível uma perturbação mental 
sem um dano à saúde, ou um dano à saúde sem uma ofensa corpórea. O objeto da 
proteção legal é a integridade física e a saúde do ser humano. 
O crime de lesão corporal pode ocorrer por seis modalidades diferentes, a saber: 
Lesão corporal leve – art.129, caput do CP. 
Lesão corporal grave – art. 129, §1.º. 
Lesão corporal gravíssima – art. 129, §2.º. 
Lesão corporal seguida de morte – art. 129, §3.º. 
Lesão corporal culposa – art. 129, §6.º. 
Violência doméstica – art.129, § 9.º. introduzida pela lei nº 10.886 de 17 de junho de 
2004, em caso de delito cometido contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou 
companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda prevalecendo-se o 
agente das relações domésticas de coabitação ou de hospitalidade. 
Artigo 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. 
O tipo usa o verbo ofender, utilizado no sentido de fazer mal a alguém, lesar, ferir, 
atacar contra a dignidade corporal ou à saúde de outrem. Há o dano ocasionado por 
alguém, porém, sem animus necandi (intenção de matar), pois do contrário, se 
caracterizará tentativa de homicídio. 
O tipo ataca toda e qualquer ofensa causada a normalidade funcional do corpo ou 
organismo humano, seja do ponto de vista anatômico, fisiológico ou psíquico. Também 
englobam a agravação de uma situação já existente. 
O “outrem”, inserido no caput do artigo, se refere somente ao indivíduo, este pessoa 
humana. Não há possibilidade de se cogitar lesão corporal em pessoa jurídica, animais, 
ou ainda em coisas inanimadas, ou até mesmo em cadáveres. 
Rogério Greco coloca em questão sobre a necessidade de se auferir a partir de quando 
um ser vivo já se encontra sob a proteção do artigo 129. O referido artigo protege o 
ser humano com vida intrauterina? 
Existe controvérsia doutrinária nesse sentido. Luiz Regis Prado, apud Rogério Greco, 
afirma ser “o ser humano vivo, a partir do momento do início do parto até sua morte”, 
descartando assim, pelo visto, a possibilidade do crime de lesões corporais contra o 
feto, ainda em formação no útero materno. 
Em sentido contrário posiciona-se Ney Moura Teles: 
“Evidente, pois, que também o ser em formação possui uma integridade corporal que 
sustenta sua vida. Se esta é protegida aquele também o é. *…+ Também é absurdo 
considerar o ser humano em formação apenas uma parte do corpo da gestante e 
incriminar a conduta apenas por ter atingido também a gestante. Ainda porque é 
perfeitamente possível uma lesão atingir tão somente o feto, deixando íntegro o corpo 
ou a saúde da gestante”. 
A ausência de dor ou efusão de sangue não descaracterizam as lesões corporais. 
 
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA 
Crime comum quanto ao sujeito ativo; crime comum também quanto ao sujeito 
passivo, com exceção das hipóteses previstas no inciso IV do §1.º, V do §2.º e do §9.º; 
Crime material; de forma livre; pode ser comissivo. Omissivo impróprio; instantâneo 
(também instantâneo de efeitos permanentes); monossubjetivo; plurissubsistente; não 
transeunte. 
SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO 
Não há individualização do sujeito ativo para os crimes de lesões corporais, sendo que 
qualquer pessoa pode gozar desse status. 
No que diz respeito ao sujeito passivo, há exceção do inciso IV do § 1.º e do V do §2.º, 
que preveem como resultado qualificador das lesões corporais a ocorrência de 
aceleração do parto e aborto, respectivamente. Em tais casos, por óbvio, somente a 
gestante poderá ser considerada sujeito passivo. Também o §9.º que prevê 
modalidade qualificativa relativa à violência doméstica que em verdade a razão da 
qualificadora é justamente a ocorrência do crime com o sujeito passivo, seja ele 
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro. 
OBJETO MATERIAL E BEM JURIDICAMENTE PROTEGIDO 
O bem juridicamente protegido pelo delito de lesão corporal é a integridade corporal e 
a saúde do ser humano. O objeto material é a pessoa humana, mesmo que com vida 
intrauterina, sob a qual recai a conduta do agente no sentido de ofender-lhe a 
integridade corporal ou a saúde. 
EXAME DE CORPO DE DELITO 
Sendo um crime que deixa vestígios, há necessidade de ser produzida prova pericial, a 
fim de comprovar a natureza das lesões se leve, grave ou gravíssima. 
Artigo 168 do CPP. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido 
incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade 
policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido 
ou do acusado, ou de seu defensor. 
Trata-se da confecção de um diagnóstico correspondente ao estado em que a vítima se 
encontra no momento em que é submetida ao exame de corpo de delito. 
ELEMENTO SUBJETIVO 
Em razão das seis modalidades diferentes do crime de lesão corporal, o autor optou 
por analisar o elemento subjetivo de cada um no detalhamento pormenorizado de 
cada inciso e parágrafos do tipo penal, só ressalvando que a figura simples, presente 
no caput do artigo, somente pode ser praticada a título de dolo, seja ele direto ou 
eventual. 
MODALIDADES QUALIFICADAS 
São modalidades qualificadas os §1.º e 2.º do artigo 129, na medida em que o 
legislador, de antemão, cominou as penas mínima e máxima para essas lesões, em 
patamar superior àquelas cominadas no caput. 
Lesão corporal de natureza grave 
1.º Se resulta: 
I – incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias; 
II – perigo de vida; 
III – debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
IV – aceleração do parto: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos. 
2.º Se resulta: 
I – incapacidade permanente para o trabalho; 
II – enfermidade incurável; 
III – perda ou inutilização de membro, sentido ou função; 
IV – deformidade permanente; 
V – aborto: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos. 
Com a lei 10.886 de 17 de junho de 2004 foi criada mais uma modalidade qualificada 
de lesão corporal, o §9.º do artigo 129 (violência doméstica). 
LESÕES CORPORAIS GRAVES 
I – INCAPACIDADE PARA AS OCUPAÇÕES HABITUAIS, POR MAIS DE 30 (TRINTA) DIAS. 
Inicialmente, merece destaque para o fato de que o resultado que conduz à 
qualificação corporal deve ter sido produzido a título de dolo, ou mesmo 
culposamente. Assim, pode ter o agente agido com a finalidade de impossibilitar a 
vítima ou pode decorrer que o resultado adveio culposamente, o que em ambos ele 
responde pela qualificadora. 
A expressão ocupações habituais abrange quaisquer atividades, até mesmo as de 
lazer? 
O CP não faz distinção. Qualquer ocupação de natureza habitual está abrangida pelo 
inciso I. 
A doutrina, porém, faz distinção entre as atividades ilícitas que não estariam 
abrangidas pelo inciso. Exemplo do estelionatário que fica impossibilitado por mais de 
30 dias de praticar o crime de estelionato em razão de ter perdido a habilidade em 
suas mãos, o que o impede de enganar as pessoas com as quais jogava na rua. Neste 
caso, não incide a qualificadora. A atividade pode ser eticamente desvalorada (a 
prostituta que teve seu braço fraturado pode ser sujeito passivo do tipo agravado). 
Necessário um exame de corpo
de delito complementar para que os peritos possam 
atestar que as lesões corporais sofridas pela vítima incapacitaram para as suas 
ocupações habituais. Exame este determinado para o período de 30 dias após a 
ocorrência do fato, conforme o § 2.º do artigo 168 do CPP. 
Art. 168 *…+ 
2.º Se o exame tiver por fim precisa a classificação do delito no artigo 129, §1.º, I, do 
Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 (trinta) dias, contado da 
data do crime. 
3.º a falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal. 
Rogério Greco defende que somente deve ser suprido o exame por prova testemunhal, 
se as circunstâncias justificarem de modo a impossibilitar a vítima de realizar o exame, 
pois do contrário, este deve ser feito. 
II – PERIGO DE VIDA 
Ao contrário da qualificadora incapacidade para as ocupações habituais, onde o agente 
pode agir com dolo quanto ao resultado ou culposamente, ou seja, pode ter a intenção 
de deixá-lo incapaz, ou sem intenção, causar o resultado por culpa; nesta 
qualificadora, o perigo de vida somente pode ocorrer culposamente, pois se o agente 
agir no sentido de colocar a vida da vítima sob perigo, incide este na verdade, em 
tentativa de homicídio. 
Trata-se de qualificadora de natureza culposa, sendo então um crime preterdoloso, 
por agir com dolo no cometimento das lesões corporais e culpa quanto ao resultado 
agravador. Assim, somente responderá pela qualificadora a título de culpa, desde que 
seja também previsível que seu comportamento pudesse causá-lo, em respeito ao 
artigo 19. 
Ocorre a lesão grave se em um dado momento, a vida do sujeito passivo esteve 
efetivamente em perigo. Compete ao médico legal essa verificação. 
 
III – DEBILIDADE PERMANENTE DE MEMBRO, SENTIDO OU FUNÇÃO. 
Pode ser atribuída ao agente a título de dolo, direto ou eventual, ou mesmo 
culposamente, desde que tal resultado tenha sido previsível (artigo 19). 
O agente pode dirigir sua conduta no sentido de arrancar um dos olhos da vítima ou 
mesmo sem essa intenção, pode ter produzido o resultado depois de agredi-la 
violentamente no rosto. 
Debilidade é o enfraquecimento ou redução da capacidade funcional. Permanente não 
se confunde com perpetuidade, eternidade, sem capacidade de retorno ao original. Ou 
seja, se a vítima conseguir retornar a situação original, este fato não tem o condão de 
afastar a qualificadora. 
A debilidade deve estar ligada aos membros, sentidos ou função. Por exemplo: se a 
vítima ficar surda de um dos ouvidos é caso de lesão corporal de natureza grave; se 
ficar completamente surda é caso de perda ou inutilização do sentido, caso de lesão 
corporal gravíssima. 
IV – ACELERAÇÃO DO PARTO 
Se refere aos casos em que a lesão corporal cometida a gestante ocorre a antecipação 
do parto. Somente ocorrerá a qualificadora a título de culpa, pois se o agente atuar no 
sentido de interromper a gestação, incorre no tipo do artigo 125 do CP, aborto 
provocado sem o consentimento da gestante. E nesse caso, ainda que o feto sobreviva, 
responderá por tentativa de aborto. É, desse modo, um crime também preterdoloso. O 
dolo deve ser dirigido a ofender a integridade corporal e a saúde da 
gestante. Exemplo: gestante que em virtude de um soco no rosto, cai, começa a sentir 
contrações e é encaminhada ao hospital mais próximo, onde ocorre a expulsão 
prematura do feto, que sobrevive. É preciso ressaltar que só haverá essa qualificadora 
se o feto sobreviver, se morrer, haverá aborto e caso será de lesão corporal gravíssima. 
A gravidez, porém, deve ser previsível ao agente, pois se não for, estará 
descaracterizada a culpa. Se ele não tiver o conhecimento da gravidez de sua esposa, 
terá de responder somente pelas lesões nela produzidas, afastando-se a qualificadora 
de aceleração, nos termos do artigo 19 do CP. 
LESÕES CORPORAIS GRAVÍSSIMAS 
I – INCAPACIDADE PERMANENTE PARA O TRABALHO 
Essa qualificadora pode ser produzida dolosa ou culposamente, o agente pode agir no 
sentido de produzi-la, ou dar causa, por ter agido com culpa. De ambos os modos, será 
responsabilizado nos moldes das penas previstas para a qualificadora. A incapacidade 
diz respeito a impossibilidade de caráter duradoura para o trabalho. 
Alguns autores defendem que a expressão trabalho neste inciso deve ser vista sob o 
âmbito do gênero, ou seja, de deixar o agente privado de possibilidade de qualquer 
atividade lucrativa, como entende Hungria. 
Damásio de Jesus, também citado por Rogério Greco, considera o trabalho como 
genérico. Só funciona a qualificadora quando o ofendido, em face de ter sofrido lesão 
corporal, ficar permanentemente incapacitado para qualquer espécie de trabalho. 
Rogério Greco discorda desse entendimento, pois se fizermos uma interpretação 
muito elástica do inciso em questão, basicamente ninguém responderá por essa 
modalidade de lesão corporal qualificada. Como regra, sempre podemos visualizar 
uma situação em que a vítima poderia trabalhar. Exemplo de pessoas que ficaram 
tetraplégicas e que conseguem fazer pinturas prendendo o pincel entre os dentes. 
Assim, entende que o inciso deve ser encarado especificamente sobre o trabalho em 
que a vítima se dedicava. 
II – ENFERMIDADE INCURÁVEL 
A medicina aponta algumas doenças que são entendidas como incuráveis, a exemplo 
da lepra, tuberculose, sífilis, epilepsia, etc. 
Admite-se que a qualificadora de enfermidade incurável possa resultar do 
comportamento doloso ou mesmo culposo do agente. 
III – PERDA OU INUTILIZAÇÃO DO MEMBRO, SENTIDO OU FUNÇÃO. 
Pode ser atribuída ao agente a título de dolo ou mesmo culposamente. A perda implica 
em destruição ou privação de algum membro ou função. 
Perda do membro = arrancar um braço; 
Perda do sentido = aniquilamento dos olhos; 
Perda da função = ablação da bolsa escrotal, impedindo a função reprodutora. 
Inutilizar está ligado ao fato de que o membro ainda se mantém ao corpo, porém, sem 
as funções que lhe são próprias. Como por exemplo, a perda do movimento da mão. 
Exige mais do que o simples enfraquecimento, mas a perda ou mesmo a sua completa 
inutilização. Quando uma vítima, por exemplo, sofre lesões no braço tornando-o débil, 
mas ainda pode ser utilizada não com a força e a capacidade anteriores, a hipótese 
será considerada como debilidade. 
III – DEFORMIDADE PERMANENTE 
Grande parte dos doutrinadores, como relata Rogério Greco, exige para que possa 
aplicar a qualificadora ora em estudo, a necessidade de a deformação ser aparente, a 
ponto de causar constrangimento à vítima perante a sociedade. 
A lei penal não exige, porém, que o dano seja visível, que esteja ao alcance de todos. 
Pode a lesão ser visto tão somente por um número limitado de pessoas, a exemplo das 
lesões ocorridas em lugares que só serão vistos por pessoas íntimas a vítima. 
Exige-se que ela tenha certo significado, não seja um dano insignificante, quase que 
desprezível. É necessário que modifique de forma visível e grave o corpo da vítima. 
Não é necessário que a lesão seja perpétua, ou seja, sem possibilidade de retornar a 
capacidade original. Pode ser reversível, com recurso à cirurgia plástica, fato que não 
inibe a incidência da qualificadora. 
Poderá esta qualificadora também ser atribuída ao agente, a título de dolo ou culpa. 
V – ABORTO 
É um crime preterdoloso. O resultado não poderá ter sido querido pelo agente, pois do 
contrário será classificado como delito de aborto cometido por terceiro sem o 
consentimento da gestante, artigo 125 do CP. 
 
LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE 
3.º Se resulta morte e as consequências evidenciam que o agente não quis o resultado, 
nem assumiu o risco de produzi-lo: 
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. 
Na lesão corporal seguida de morte o agente não deve agir com intenção de matar, 
mas apenas de lesionar. Seu
dolo deve ser nesse sentido. Acontece que o resultado 
morte ocorre por sua culpa, por ter sido imprudente, negligente ou imperito. 
Ressalta-se que a morte obrigatoriamente deve ser previsível para o agente, pois, caso 
contrário, o agente somente será responsabilizado pelas lesões corporais praticadas, 
sem a incidência da qualificadora. Rogério Greco cita um exemplo daquele que em 
desafeto com seu amigo, o dá uma rasteira na praia, momento em que este cai e bate 
com a cabeça em uma grande pedra, que estava por debaixo da areia, e em virtude 
disso, tem traumatismo craniano, vindo a falecer. Por não ser previsível que esteja 
uma pedra dessas proporções por debaixo de uma areia, não deve o agente ser 
responsabilizado, pois não agiu com culpa, já que não era previsível o resultado, 
devendo responder somente por lesões corporais. 
LESÃO CORPORAL CULPOSA 
6.º Se a lesão é culposa: 
Pena – detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano. 
Uma vez concluído que o fato submete-se ao delito de lesão corporal, tal resultado 
terá repercussão quando da aplicação da pena, não modificando a natureza do delito. 
Se a lesão tiver ocorrido pelo agente que se encontrava na direção de seu veículo 
automotor, em razão do princípio da especialidade, deverá ser aplicado o art. 303 do 
CTB, que aduz: 
Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: 
Penas – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e suspensão ou proibição de se 
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. 
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço à metade, se ocorrer qualquer das 
hipóteses do parágrafo único do artigo anterior. 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
9.º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou 
companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o 
agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. 
A lei 10.886 de 17 de junho de 2004 acrescentou os §9.º e 10.º do artigo 129 do CP, 
criando o delito de violência doméstica. 
Todas essas situações previstas já figuravam em nosso CP como circunstância 
agravante, previsto nas alíneas E e F do inciso II do art. 61. 
Para Damásio, não se pode restringir a aplicação da qualificadora somente ao regime 
de união estável. Deve-se que o tipo fala expressamente em “companheiro”. Por isso, 
a convivência, desde que seja doméstica, faz incidir a qualificadora. Exemplo: 
moradores de um aposento de república de estudantes. 
Rogério Greco entende que a violência doméstica é um problema social que sempre 
aconteceu, de modo que não se pode deixar a cargo exclusivamente do direito penal 
essas situações, como se este fosse o salvaguarda de todos os problemas. Programas 
devem ser implementados pelo Estado, a exemplo da lei 11.340 de 7 de agosto de 
2006 que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. 
O §9.º do CP ainda se configura como lesão corporal leve, embora qualificada. 
De acordo com a posição majoritária da doutrina, seria possível a aplicação das penas 
substitutivas previstas no art. 44 do CP. Tese impossível se o sujeito passivo for 
mulher, em virtude do art. 17 da lei 11.340 de 7 de agosto de 2006. 
DIMINUIÇÃO DA PENA 
4.º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral 
ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, 
o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
Idêntica àquela utilizada para a diminuição de pena na hipótese do delito de 
homicídio, considerado privilegiado. Seria então, no dizer, uma lesão corporal 
privilegiada. 
Obrigatória à redução pelo juiz se presente os requisitos que a autorizem. É aplicável a 
todas as modalidades de lesão corporal, inclusive à doméstica. 
SUBSTITUIÇÃO DA PENA 
5.º O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela 
de multa: 
I – se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; 
Ou seja, quando o agente, praticando a lesão corporal de natureza leve, cometer o 
crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de 
violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima. Em verdade, na 
hipótese da lesão corporal privilegiada, sendo a lesão de natureza leve, o juiz poderá 
aplicar tanto a diminuição da pena, como sua substituição. Deverá se pautar pela 
determinação do artigo 59 do CP, aplicando a pena “*…+ conforme seja necessário e 
suficiente para reprovação e prevenção do crime *…+”. 
Se o sujeito passivo for mulher, estará impossível a substituição da PPL pela de multa 
(art. 17 da lei 11.340 de 7 de agosto de 2006). 
II – se as lesões são recíprocas. 
Parte o CP do pressuposto que ambas as agressões sejam injustas, isto é, no caso 
concreto, nenhum dos contendores atua em legítima defesa, o que resultaria, por 
certo, na condenação de um e absolvição do outro. 
Se um deles sofrer lesão corporal grave ou gravíssima, não mais terá aplicação o 
parágrafo em estudo, visto que a substituição só se aplica em caso de lesões de 
natureza leve. 
AUMENTO DE PENA 
7.ºAumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4.º 
e 6.º do art. 121 deste Código. 
Art. 121 *…+ 
4.º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de 
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de 
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, 
ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é 
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. 
6.º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por 
milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de 
extermínio. 
Assim, sendo, por exemplo, a lesão corporal de natureza leve cometida contra um 
menor de 14 (quatorze) anos, a pena deve ser aplicada com o aumento de 1/3 sobre a 
pena-base. 
A lei 10.886/2004 acrescentou o §10.º do artigo 129 do CP, que assim dispõe: 
10. Nos casos previstos nos §§ 1.º a 3.º deste artigo, se as circunstâncias são as 
indicadas no §9.º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). 
No caso de terem sido as lesões graves ou gravíssimas, ou seguida de morte, ainda que 
o fatos seja cometido contra ascendente, descendente *…+ (§9.º do 129), se aplicará a 
pena correspondente ao tipo de lesão, aumentada, como quer esse parágrafo, de um 
terço. 
A lei 11.340 de 7 de agosto de 2006 inseriu o §11 ao artigo 129 do CP, in verbis: 
11. Na hipótese do §9.º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime 
for cometido contra pessoa portadora de deficiência. 
Pessoa portadora de deficiência deve ser entendida como aquela especificada no 
decreto n.º 3.928 de 20 de dezembro de 1999. 
PERDÃO JUDICIAL 
8.º Aplica-se à lesão culposa o disposto no §5.º do art. 121. 
Art. 121. *…+ 
5.º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as 
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção 
penal se torne desnecessária. 
Rogério Greco solicitou a leitura do tópico do Perdão judicial no delito de homicídio 
culposo, por se tratar de mesmo conteúdo. 
 
MODALIDADES COMISSIVA E OMISSIVA 
Pode ser praticado comissiva ou omissivamente, sendo que neste caso o agente 
deverá gozar do status de garantidor, amoldando-se a qualquer das alíneas do §2.º do 
artigo 13 do CP. São garantidores quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, 
proteção ou vigilância; b) de outra forma assumiu a responsabilidade de impedir o 
resultado; c) com o seu comportamento anterior, criou o risco da
ocorrência do 
resultado. 
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
Consuma-se a lesão corporal com a efetiva ofensa à integridade corporal ou à saúde da 
vítima, incluindo seus resultados qualificadores. Tentativa será sempre admissível na 
hipótese de lesão corporal de natureza leve. 
Sendo grave ou gravíssima as lesões, será possível a tentativa, desde que o crime não 
seja classificado como preterdoloso: perigo de vida; aceleração do parto; aborto; lesão 
corporal seguida de morte. 
PENA, AÇÃO PENAL, TRANSAÇÃO PENA, COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO E 
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. 
O delito de lesão corporal leve – pena de 3 (três) meses a 1 (um) ano, lesão corporal de 
natureza culposa – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e violência doméstica – 
pena de detenção de 3 (três) meses a 3 (três) anos, são necessários a representação do 
ofendido, conforme o artigo 88 da lei 9099/95, que aduz: 
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da Legislação especial, dependerá de 
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões 
culposas. 
O legislador, nesse sentido, fez depender da vontade da vítima a possibilidade de 
trazer ao público as lesões por ela resolvidas. Tendo em vista a pena máxima cominada 
em abstrato, regra geral é que os delitos de lesão corporal de natureza leve (exceção 
da violência doméstica e familiar contra a mulher) e culposa sejam de competência dos 
juizados especiais criminais, havendo possibilidade de composição de danos ou 
transação penal, nos termos dos arts. 72 a 76 da lei 9.099/95. 
Não realizada a composição de danos, bem como não aceita a transação penal, para os 
delitos de lesões corporais leves ou culposas, ainda resta a possibilidade de ser 
procedida a suspensão condicional do processo, desde que atendidos os demais 
requisitos pelo agente, em conformidade com o art. 89 da lei 9.099/95, in verbis: 
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a 1 (um) ano, 
abrangidas ou não por esta lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá 
propor a suspensão do processo, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que o acusado 
não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes 
os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do 
Código Penal). 
DESTAQUES 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA, LESÕES CORPORAIS E VIAS DE FATO. 
O princípio da insignificância é visto sob três aspectos: 
Entendido como um princípio auxiliar de interpretação; 
Aplica-se em grande parte dos tipos; 
Finalidade de afastar do tipo penal os danos de pouca ou nenhuma importância. 
Nem todos os tipos penais, porém, permitem o raciocínio da insignificância, como por 
exemplo, no homicídio. 
É na análise da tipicidade material, que deverá ser realizada a análise e aplicação do 
princípio da insignificância, bem como a antinormatividade do comportamento levado 
a efeito pelo agente. 
Apesar de a integridade corporal e a saúde serem bens que merecem, efetivamente, a 
proteção do estado por intermédio do Direito Penal, no caso concreto, muitas vezes, 
tal proteção se faz desnecessária, dada pouca ou nenhuma importância da lesão 
sofrida pela vítima. 
O problema se encontra em tentarmos conciliar a aplicação do princípio da 
insignificância, trabalhando com o delito de lesão corporal como também da 
contravenção penal de vias de fato, prevista no artigo 21 do decreto-lei 3.688/41. 
Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém: 
Pena – prisão simples, de 15 `(quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa, de cem mil réis a 
um conto de réis, se o fato não constitui crime. 
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é 
maior de 60 (sessenta) anos. 
O que distingue o delito de lesão corporal da contravenção vias de fato é o dolo do 
agente. Na lesão corporal, o agente quer ofender a integridade corporal ou a saúde da 
vítima. A contravenção já não tem a magnitude da primeira. Exemplo: quem desfere 
um soco no rosto da vítima age com dolo do art. 129 do CP; aquele que empurra tão 
somente pratica a contravenção penal vias de fato. 
Ocorre é que a aplicação do princípio da insignificância nas lesões corporais esbarra na 
contravenção penal vias de fato. Assim, Rogério Greco, em conformidade com o 
entendimento de Ferrajoli, preconiza que todas as contravenções penais devem ser 
revogadas, se quisermos realmente aplicar as teses minimalistas, com seus 
correspondentes princípios, como os da intervenção mínima e da insignificância. 
Conclui ser possível a aplicação a aplicação do princípio, desde que seja negada a 
realidade da contravenção penal vias de fato, que contraria a lógica do raciocínio 
minimalista. 
CONSENTIMENTO DO OFENDIDO COMO CAUSA SUPRALEGAL DE EXCLUSÃO DA 
ILICITUDE 
O consentimento do ofendido traz duas finalidades importantes: atipicidade, quanto 
esta faz parte do núcleo do tipo e exclusão da ilicitude, que será analisada no caso 
concreto. 
São requisitos da validade do consentimento do ofendido: 
Que o bem seja disponível; 
Que a vítima tenha capacidade para consentir, sendo hoje corrente preponderante 
que essa capacidade é adquirida aos 18 anos. 
Consentimento prévio, ou no mínimo, concomitante ao comportamento do agente. 
Resta a seguinte questão: a integridade corporal ou a saúde, são bens disponíveis? 
Rogério Greco entende que depende. Se for leve a lesão, é disponível. Agora se for 
grave ou gravíssima, entende que o bem nessas condições não é disponível. 
Poderá, ao contrário, a própria vítima se mutilar, mas não solicitar a terceiro que 
pratique esse comportamento. 
Atendido os requisitos, o consentimento do ofendido afasta a ilicitude, desde que, 
repito, a lesão corporal praticada seja de natureza leve.

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