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Homicídio É a eliminação da vida de uma pessoa provocada por outra. Tem por ação nuclear o verbo “matar”, que significa destruir ou eliminar, no caso a vida humana, utilizando-se de qualquer meio capaz de execução. É um crime comum, pois o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, não exigindo a Lei, nenhum requisito especial, sendo excluídos aqueles que atentam contra a própria vida, já que o suicídio, por si mesmo, é fato atípico. Admite a coautoria ou participação, por ação ou omissão. Desse modo, o agente pode lançar mão de todos os meios, não só materiais, para realizar o núcleo da figura típica. Portanto, pode-se matar por meios físicos (mecânicos, químicos ou patogênicos), morais ou psíquicos, com emprego de palavras, direta ou indiretamente, por ação ou omissão. O sujeito passivo do crime de homicídio é “alguém”, ou seja, qualquer pessoa, independentemente de idade, sexo, condição social etc. É o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado. Pode ser praticado com dolo (vontade e consciência na produção do resultado) ou com culpa (por imprudência, negligência ou imperícia). Dá-se o nome de homicídio doloso no primeiro caso e de homicídio culposo no segundo. O Código Penal distingue várias modalidades de homicídio: simples (artigo 121, caput), privilegiado (§ 1°), qualificado (§ 2°) e culposo (§ 3°). Por homicídio simples, entende-se que é aquele que constitui o tipo básico fundamental, ou seja, contém os componentes essenciais do crime. O homicídio privilegiado é aquele que, em virtude de certas circunstâncias subjetivas, conduzem a uma menor reprovação social da conduta do homicida e, por este motivo, a pena é atenuada. Já o homicídio qualificado é aquele que tem sua pena majorada (aumentada). Diz respeito aos motivos determinantes do crime e aos meios de execução, reveladores de maior periculosidade ou perversidade do agente. O homicídio culposo há uma ação voluntária dirigida a uma atividade lícita, porém, pela quebra do dever de cuidado a todos exigidos, sobrevém um resultado ilícito não querido, cujo risco nem sequer foi assumido. O crime de homicídio tem por objeto jurídico a vida humana extrauterina. Não é necessário, para a existência de um crime de homicídio, que se trate de vida humana viável, bastando, apenas, a prova de que a vítima tenha nascido viva. Ressalta-se que só os crimes dolosos contra a vida, na sua forma consumada ou tentada, são julgados pelo Tribunal do Júri. Os crimes culposos contra a vida são de competência do juiz singular. Homicídio simples Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Caso de diminuição de pena § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Homicídio culposo § 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Pena - detenção, de um a três anos. Aumento de pena § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977) § 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012) Induzimento, instigação ou auxílio ao Suicídio O suicídio é a deliberada destruição da própria vida. Suicida, segundo o Direito, é somente aquele que busca direta e voluntariamente a própria morte. O tipo previsto no artigo 122 do código penal, de participação de suicídio alheio, é crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa que execute uma das condutas descritas no tipo. Por ser um tipo misto alternativo (crime de ação múltipla ou de conteúdo variado), o agente, ainda que realize todas as condutas, responde por um só crime. Três são as ações previstas pelo tipo penal: a) Induzir: significa suscitar a ideia, sugerir o suicídio. É fazer surgir, na mente da vítima, um desejo de suicídio que não existia. b) Instigar: significa reforçar, estimular, encorajar um desejo já existente. Aqui, o sujeito ativo potencializa a ideia de suicídio que já havia na mente da vítima. c) Auxiliar: consiste na prestação de ajuda material (e moral), que tem caráter meramente secundário. Em regra, se traduz por ato material (fornecimento de arma, veneno etc), mas pode ser também de ordem moral (instruções para pôr termo à vida etc). Por se tratar de crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa que tenha capacidade de induzir, instigar ou auxiliar alguém, de modo eficaz e consciente, a suicidar-se. Qualquer pessoa pode ser vítima do crime em tela, desde que possua capacidade de resistência e discernimento. Tratando-se de doente mental, sem capacidade de discernimento, ou menor sem compreensão, haverá homicídio, falando-se no caso de autoria mediata. A pessoa que tenta suicídio não pode ser responsabilizada criminalmente. O crime consuma-se com o resultado naturalístico, ou seja, a morte ou lesão corporal de natureza grave. A tentativa no crime, aqui exposto, é inadmissível, embora, em tese, fosse possível. Se não ocorrer a morte ou lesão corporal de natureza grave, o fato é atípico. Dessa forma, o ato de induzir, instigar ou auxiliar que alguém se suicide, sem que deles decorram os eventos naturalísticos acima mencionados, não constitui crime. O elemento subjetivo do delito de participação em suicídio é somente o dolo, direto ou eventual, consistente na vontade livre e consciente de concorrer para que a vítima se suicide. Não há previsão legal da modalidade culposa do crime de participação em suicídio. Há posicionamento na doutrina no sentido de que se alguém, por culpa, dá causa a que alguém se suicide, responderá por homicídio culposo, se o evento morte for previsível. Pode ser praticado de forma simples ou qualificada. Na primeira, é a figura descrita no caput do artigo 122 do Código Penal. Na segunda, é a figura prevista no parágrafo único do artigo 122, onde a pena será duplicada nos seguintes casos: a) Motivo egoístico: elemento subjetivo que demonstra interesses personalíssimos no evento morte (herança, competição nos negócios etc). b) Vítima menor: em termos de outros dispositivos, seria a pessoa entre os 14 e 18 anos. Apesar de não haver indicação expressa na Lei indicando a menoridade a que ela se refere, funda-se a agravante em tela na menor capacidade de resistência moral da vítima à criação ou estímulo do propósito suicida por parte do agente. Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. Parágrafo único - A pena é duplicada: Aumento de pena I - se o crime é praticado por motivo egoístico; II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. Infanticídio É a vida do ser nascente ou neonato ceifada pela própria mãe, que se encontra sob influência do estado puerperal. Trata-se de uma espécie de homicídio doloso privilegiado, cujo privilegium é concedido em virtude da “influência do estado puerperal” sob o qual se encontra a parturiente. É que o estado puerperal, por vezes, pode acarretar distúrbios psíquicos na genitora, os quais diminuem a sua capacidade de entendimento ou autoinibição, levando-a a eliminar a vida do infante. Conforme Mirabete, “o estado puerperal é o período que vai do deslocamento e expulsão da placenta à volta do organismo materno às condições normais, havendo discordância quanto a seu limite de duração (de 6 a 8 dias a 6 semanas)”. Não se trata, especificamente, de uma perturbação psíquica, mas de eventual diminuição da capacidade de a parturiente determinar-se, livremente, causa de sua incriminação por infanticídio e não homicídio, fundando-se o tipo especial em um critério psicofisiológico (critério adotado pelo Código Penal) e não em motivo de honra, como já se decidiu. Tutela o artigo 123 do Código Penal o direito à vida, contudo, a vida humana extrauterina, assim como no delito de homicídio. Por ser um crime próprio, somente a mãe puérpera pode praticar o crime em tela, porém, nada impede que terceiro responda por este delito na modalidade de concursos de pessoas: a) mãe que mata o próprio filho com, contando com o auxílio de terceiro; b) o terceiro mata o recém-nascido, contando com a participação da mãe; c) mãe e terceiro executam e coautoria a conduta principal, matando a vítima. O sujeito passivo do crime é, somente, o filho “durante o parto ou logo após”. Por se tratar de crime de execução de forma livre, pode ser praticado por qualquer meio comissivo (enforcamento, estrangulamento, afogamento...) ou omissivo (deixar de amamentar a criança, abandonar recém-nascido em lugar ermo com o fim de praticar sua morte - animus necandi - ...). O elemento subjetivo do crime de infanticídio é o dolo, ou seja, a vontade consciente e voluntária de produzir o resultado. Não existe a modalidade culposa neste crime. Sobre esta questão, há duas posições na doutrina: a) O fato será penalmente atípico (posição adotada por Damásio E. de Jesus); b) Responderá pelo delito de homicídio culposo (posição adotada por Nélson Hungria, Julio Fabbrini Mirabete, Cezar Roberto Bitencourt e E. Magalhães Noronha); Vale citar a posição de Fernando Capez que entende que o tipo se amolda à segunda conduta (homicídio culposo), pois a capacidade pessoal de previsão do agente (afetada pelo estado puerperal) pertence ao terreno da culpabilidade e não do fato típico. A consumação do delito se dá com a morte do neonato ou nascente. Por se tratar de um crime plurissubsistente, admite a tentativa quando, por circunstâncias alheias a sua vontade, não logra eliminar a vida do ser nascente ou neonato. Infanticídio Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos. Aborto É a interrupção da gravidez com a morte do produto da concepção. Consiste na eliminação da vida intrauterina. Pode ser espontâneo, natural ou provocado, sendo neste último caso criminoso, exceto se praticado em uma das formas do artigo 128 do Código Penal. No auto aborto só há um bem jurídico tutelado, que é o direito à vida do feto. É, portanto, a preservação da vida humana intrauterina. No abortamento provocado por terceiro, além do direito à vida do produto da concepção, também é protegido o direito à vida e à incolumidade física e psíquica da própria gestante. No auto aborto ou aborto consentido, artigo 124 do Código Penal, somente a gestante pode ser autora desse crime, pois trata-se de crime de mão própria. É discutida a possibilidade de coautoria ou participação no crime previsto no artigo 124, mas nada impede o concurso de agentes, por instigação, auxílio moral ou material. Se o agente atua em consonância com a gestante, por instigação, acompanhamento etc, responderá por este delito; se presta colaboração à conduta de terceiro, pelo artigo 126. No aborto provocado por terceiro, com ou sem o consentimento da gestante, artigos 125 e 126 do código penal, por tratar-se de crime comum, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Por ser crime de ação livre, a provocação do aborto pode ser realizada de diversas formas, seja por ação, seja por omissão. A ação provocadora poderá dar-se por meio dos seguintes executivos: a) meios químicos: substâncias que atuam por via de intoxicação, como o arsênio, fósforo, mercúrio, quinina, estricnina, ópio etc; b) meios psíquicos: susto, terror, sugestão etc; c) meios físicos: são os meios mecânicos (curetagem); térmicos (aplicação de bolsas de água quente e fria no ventre); e elétricos (emprego de corrente galvânica ou farádica). O elemento subjetivo do crime de aborto é o dolo (vontade livre e consciente de interromper a gravidez) de causar a morte do produto da concepção. Não se admite a modalidade culposa. Por se tratar de crime material, a tentativa é perfeitamente admissível. Não podemos ignorar os outros dois dispositivos que tratam do crime de aborto: artigos 127 e 128. No primeiro, os crimes previstos nos artigos 125 e 126 constituem causas especiais de aumento de pena, quando provoca lesão corporal de natureza grave, quando a pena é acrescida de um terço, ou morte, quando é ela duplicada. Não se aplica o dispositivo à gestante nem àquele que é coautor ou partícipe de seu crime, previsto no artigo 124. Responsabilizado, porém, como autor ou partícipe dos crimes previstos nos artigos 125 e 126, a pena também deve ser acrescida. No segundo, o dispositivo trata do aborto legal. No inciso I, dispõe do aborto necessário, que é aquele em que não há outro meio de salvar a vida da gestante, senão o aborto. Dessa forma, havendo perigo para a vida da gestante, o crime está excluído pela excludente de ilicitude (estado de necessidade). Já no inciso II, dispõe sobre o aborto sentimental, que é autorizado quando a gravidez resulta de estupro e há o consentimento da gestante ou de seu representante legal. Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque: Pena - detenção, de um a três anos. Aborto provocado por terceiro Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência Forma qualificada Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: Aborto necessário I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. Todos os crimes, aqui elencados, são da competência do Tribunal do Júri para julgamento, desde que cometidos dolosamente na forma consumada ou tentada. Lesão Corporal Lesão corporal consiste em todo e qualquer dano produzido por alguém, sem animus necandi, à integridade física ou à saúde de outrem. Ela abrange qualquer ofensa à normalidade funcional do organismo humano tanto do ponto de vista anatômico quanto do fisiológico ou psíquico. Na verdade é impossível uma perturbação mental sem um dano à saúde, ou um dano à saúde sem uma ofensa corpórea. O objeto da proteção legal é a integridade física e a saúde do ser humano. O crime de lesão corporal pode ocorrer por seis modalidades diferentes, a saber: Lesão corporal leve – art.129, caput do CP. Lesão corporal grave – art. 129, §1.º. Lesão corporal gravíssima – art. 129, §2.º. Lesão corporal seguida de morte – art. 129, §3.º. Lesão corporal culposa – art. 129, §6.º. Violência doméstica – art.129, § 9.º. introduzida pela lei nº 10.886 de 17 de junho de 2004, em caso de delito cometido contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda prevalecendo-se o agente das relações domésticas de coabitação ou de hospitalidade. Artigo 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. O tipo usa o verbo ofender, utilizado no sentido de fazer mal a alguém, lesar, ferir, atacar contra a dignidade corporal ou à saúde de outrem. Há o dano ocasionado por alguém, porém, sem animus necandi (intenção de matar), pois do contrário, se caracterizará tentativa de homicídio. O tipo ataca toda e qualquer ofensa causada a normalidade funcional do corpo ou organismo humano, seja do ponto de vista anatômico, fisiológico ou psíquico. Também englobam a agravação de uma situação já existente. O “outrem”, inserido no caput do artigo, se refere somente ao indivíduo, este pessoa humana. Não há possibilidade de se cogitar lesão corporal em pessoa jurídica, animais, ou ainda em coisas inanimadas, ou até mesmo em cadáveres. Rogério Greco coloca em questão sobre a necessidade de se auferir a partir de quando um ser vivo já se encontra sob a proteção do artigo 129. O referido artigo protege o ser humano com vida intrauterina? Existe controvérsia doutrinária nesse sentido. Luiz Regis Prado, apud Rogério Greco, afirma ser “o ser humano vivo, a partir do momento do início do parto até sua morte”, descartando assim, pelo visto, a possibilidade do crime de lesões corporais contra o feto, ainda em formação no útero materno. Em sentido contrário posiciona-se Ney Moura Teles: “Evidente, pois, que também o ser em formação possui uma integridade corporal que sustenta sua vida. Se esta é protegida aquele também o é. *…+ Também é absurdo considerar o ser humano em formação apenas uma parte do corpo da gestante e incriminar a conduta apenas por ter atingido também a gestante. Ainda porque é perfeitamente possível uma lesão atingir tão somente o feto, deixando íntegro o corpo ou a saúde da gestante”. A ausência de dor ou efusão de sangue não descaracterizam as lesões corporais. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA Crime comum quanto ao sujeito ativo; crime comum também quanto ao sujeito passivo, com exceção das hipóteses previstas no inciso IV do §1.º, V do §2.º e do §9.º; Crime material; de forma livre; pode ser comissivo. Omissivo impróprio; instantâneo (também instantâneo de efeitos permanentes); monossubjetivo; plurissubsistente; não transeunte. SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO Não há individualização do sujeito ativo para os crimes de lesões corporais, sendo que qualquer pessoa pode gozar desse status. No que diz respeito ao sujeito passivo, há exceção do inciso IV do § 1.º e do V do §2.º, que preveem como resultado qualificador das lesões corporais a ocorrência de aceleração do parto e aborto, respectivamente. Em tais casos, por óbvio, somente a gestante poderá ser considerada sujeito passivo. Também o §9.º que prevê modalidade qualificativa relativa à violência doméstica que em verdade a razão da qualificadora é justamente a ocorrência do crime com o sujeito passivo, seja ele ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro. OBJETO MATERIAL E BEM JURIDICAMENTE PROTEGIDO O bem juridicamente protegido pelo delito de lesão corporal é a integridade corporal e a saúde do ser humano. O objeto material é a pessoa humana, mesmo que com vida intrauterina, sob a qual recai a conduta do agente no sentido de ofender-lhe a integridade corporal ou a saúde. EXAME DE CORPO DE DELITO Sendo um crime que deixa vestígios, há necessidade de ser produzida prova pericial, a fim de comprovar a natureza das lesões se leve, grave ou gravíssima. Artigo 168 do CPP. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor. Trata-se da confecção de um diagnóstico correspondente ao estado em que a vítima se encontra no momento em que é submetida ao exame de corpo de delito. ELEMENTO SUBJETIVO Em razão das seis modalidades diferentes do crime de lesão corporal, o autor optou por analisar o elemento subjetivo de cada um no detalhamento pormenorizado de cada inciso e parágrafos do tipo penal, só ressalvando que a figura simples, presente no caput do artigo, somente pode ser praticada a título de dolo, seja ele direto ou eventual. MODALIDADES QUALIFICADAS São modalidades qualificadas os §1.º e 2.º do artigo 129, na medida em que o legislador, de antemão, cominou as penas mínima e máxima para essas lesões, em patamar superior àquelas cominadas no caput. Lesão corporal de natureza grave 1.º Se resulta: I – incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias; II – perigo de vida; III – debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV – aceleração do parto: Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos. 2.º Se resulta: I – incapacidade permanente para o trabalho; II – enfermidade incurável; III – perda ou inutilização de membro, sentido ou função; IV – deformidade permanente; V – aborto: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos. Com a lei 10.886 de 17 de junho de 2004 foi criada mais uma modalidade qualificada de lesão corporal, o §9.º do artigo 129 (violência doméstica). LESÕES CORPORAIS GRAVES I – INCAPACIDADE PARA AS OCUPAÇÕES HABITUAIS, POR MAIS DE 30 (TRINTA) DIAS. Inicialmente, merece destaque para o fato de que o resultado que conduz à qualificação corporal deve ter sido produzido a título de dolo, ou mesmo culposamente. Assim, pode ter o agente agido com a finalidade de impossibilitar a vítima ou pode decorrer que o resultado adveio culposamente, o que em ambos ele responde pela qualificadora. A expressão ocupações habituais abrange quaisquer atividades, até mesmo as de lazer? O CP não faz distinção. Qualquer ocupação de natureza habitual está abrangida pelo inciso I. A doutrina, porém, faz distinção entre as atividades ilícitas que não estariam abrangidas pelo inciso. Exemplo do estelionatário que fica impossibilitado por mais de 30 dias de praticar o crime de estelionato em razão de ter perdido a habilidade em suas mãos, o que o impede de enganar as pessoas com as quais jogava na rua. Neste caso, não incide a qualificadora. A atividade pode ser eticamente desvalorada (a prostituta que teve seu braço fraturado pode ser sujeito passivo do tipo agravado). Necessário um exame de corpo de delito complementar para que os peritos possam atestar que as lesões corporais sofridas pela vítima incapacitaram para as suas ocupações habituais. Exame este determinado para o período de 30 dias após a ocorrência do fato, conforme o § 2.º do artigo 168 do CPP. Art. 168 *…+ 2.º Se o exame tiver por fim precisa a classificação do delito no artigo 129, §1.º, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 (trinta) dias, contado da data do crime. 3.º a falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal. Rogério Greco defende que somente deve ser suprido o exame por prova testemunhal, se as circunstâncias justificarem de modo a impossibilitar a vítima de realizar o exame, pois do contrário, este deve ser feito. II – PERIGO DE VIDA Ao contrário da qualificadora incapacidade para as ocupações habituais, onde o agente pode agir com dolo quanto ao resultado ou culposamente, ou seja, pode ter a intenção de deixá-lo incapaz, ou sem intenção, causar o resultado por culpa; nesta qualificadora, o perigo de vida somente pode ocorrer culposamente, pois se o agente agir no sentido de colocar a vida da vítima sob perigo, incide este na verdade, em tentativa de homicídio. Trata-se de qualificadora de natureza culposa, sendo então um crime preterdoloso, por agir com dolo no cometimento das lesões corporais e culpa quanto ao resultado agravador. Assim, somente responderá pela qualificadora a título de culpa, desde que seja também previsível que seu comportamento pudesse causá-lo, em respeito ao artigo 19. Ocorre a lesão grave se em um dado momento, a vida do sujeito passivo esteve efetivamente em perigo. Compete ao médico legal essa verificação. III – DEBILIDADE PERMANENTE DE MEMBRO, SENTIDO OU FUNÇÃO. Pode ser atribuída ao agente a título de dolo, direto ou eventual, ou mesmo culposamente, desde que tal resultado tenha sido previsível (artigo 19). O agente pode dirigir sua conduta no sentido de arrancar um dos olhos da vítima ou mesmo sem essa intenção, pode ter produzido o resultado depois de agredi-la violentamente no rosto. Debilidade é o enfraquecimento ou redução da capacidade funcional. Permanente não se confunde com perpetuidade, eternidade, sem capacidade de retorno ao original. Ou seja, se a vítima conseguir retornar a situação original, este fato não tem o condão de afastar a qualificadora. A debilidade deve estar ligada aos membros, sentidos ou função. Por exemplo: se a vítima ficar surda de um dos ouvidos é caso de lesão corporal de natureza grave; se ficar completamente surda é caso de perda ou inutilização do sentido, caso de lesão corporal gravíssima. IV – ACELERAÇÃO DO PARTO Se refere aos casos em que a lesão corporal cometida a gestante ocorre a antecipação do parto. Somente ocorrerá a qualificadora a título de culpa, pois se o agente atuar no sentido de interromper a gestação, incorre no tipo do artigo 125 do CP, aborto provocado sem o consentimento da gestante. E nesse caso, ainda que o feto sobreviva, responderá por tentativa de aborto. É, desse modo, um crime também preterdoloso. O dolo deve ser dirigido a ofender a integridade corporal e a saúde da gestante. Exemplo: gestante que em virtude de um soco no rosto, cai, começa a sentir contrações e é encaminhada ao hospital mais próximo, onde ocorre a expulsão prematura do feto, que sobrevive. É preciso ressaltar que só haverá essa qualificadora se o feto sobreviver, se morrer, haverá aborto e caso será de lesão corporal gravíssima. A gravidez, porém, deve ser previsível ao agente, pois se não for, estará descaracterizada a culpa. Se ele não tiver o conhecimento da gravidez de sua esposa, terá de responder somente pelas lesões nela produzidas, afastando-se a qualificadora de aceleração, nos termos do artigo 19 do CP. LESÕES CORPORAIS GRAVÍSSIMAS I – INCAPACIDADE PERMANENTE PARA O TRABALHO Essa qualificadora pode ser produzida dolosa ou culposamente, o agente pode agir no sentido de produzi-la, ou dar causa, por ter agido com culpa. De ambos os modos, será responsabilizado nos moldes das penas previstas para a qualificadora. A incapacidade diz respeito a impossibilidade de caráter duradoura para o trabalho. Alguns autores defendem que a expressão trabalho neste inciso deve ser vista sob o âmbito do gênero, ou seja, de deixar o agente privado de possibilidade de qualquer atividade lucrativa, como entende Hungria. Damásio de Jesus, também citado por Rogério Greco, considera o trabalho como genérico. Só funciona a qualificadora quando o ofendido, em face de ter sofrido lesão corporal, ficar permanentemente incapacitado para qualquer espécie de trabalho. Rogério Greco discorda desse entendimento, pois se fizermos uma interpretação muito elástica do inciso em questão, basicamente ninguém responderá por essa modalidade de lesão corporal qualificada. Como regra, sempre podemos visualizar uma situação em que a vítima poderia trabalhar. Exemplo de pessoas que ficaram tetraplégicas e que conseguem fazer pinturas prendendo o pincel entre os dentes. Assim, entende que o inciso deve ser encarado especificamente sobre o trabalho em que a vítima se dedicava. II – ENFERMIDADE INCURÁVEL A medicina aponta algumas doenças que são entendidas como incuráveis, a exemplo da lepra, tuberculose, sífilis, epilepsia, etc. Admite-se que a qualificadora de enfermidade incurável possa resultar do comportamento doloso ou mesmo culposo do agente. III – PERDA OU INUTILIZAÇÃO DO MEMBRO, SENTIDO OU FUNÇÃO. Pode ser atribuída ao agente a título de dolo ou mesmo culposamente. A perda implica em destruição ou privação de algum membro ou função. Perda do membro = arrancar um braço; Perda do sentido = aniquilamento dos olhos; Perda da função = ablação da bolsa escrotal, impedindo a função reprodutora. Inutilizar está ligado ao fato de que o membro ainda se mantém ao corpo, porém, sem as funções que lhe são próprias. Como por exemplo, a perda do movimento da mão. Exige mais do que o simples enfraquecimento, mas a perda ou mesmo a sua completa inutilização. Quando uma vítima, por exemplo, sofre lesões no braço tornando-o débil, mas ainda pode ser utilizada não com a força e a capacidade anteriores, a hipótese será considerada como debilidade. III – DEFORMIDADE PERMANENTE Grande parte dos doutrinadores, como relata Rogério Greco, exige para que possa aplicar a qualificadora ora em estudo, a necessidade de a deformação ser aparente, a ponto de causar constrangimento à vítima perante a sociedade. A lei penal não exige, porém, que o dano seja visível, que esteja ao alcance de todos. Pode a lesão ser visto tão somente por um número limitado de pessoas, a exemplo das lesões ocorridas em lugares que só serão vistos por pessoas íntimas a vítima. Exige-se que ela tenha certo significado, não seja um dano insignificante, quase que desprezível. É necessário que modifique de forma visível e grave o corpo da vítima. Não é necessário que a lesão seja perpétua, ou seja, sem possibilidade de retornar a capacidade original. Pode ser reversível, com recurso à cirurgia plástica, fato que não inibe a incidência da qualificadora. Poderá esta qualificadora também ser atribuída ao agente, a título de dolo ou culpa. V – ABORTO É um crime preterdoloso. O resultado não poderá ter sido querido pelo agente, pois do contrário será classificado como delito de aborto cometido por terceiro sem o consentimento da gestante, artigo 125 do CP. LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE 3.º Se resulta morte e as consequências evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. Na lesão corporal seguida de morte o agente não deve agir com intenção de matar, mas apenas de lesionar. Seu dolo deve ser nesse sentido. Acontece que o resultado morte ocorre por sua culpa, por ter sido imprudente, negligente ou imperito. Ressalta-se que a morte obrigatoriamente deve ser previsível para o agente, pois, caso contrário, o agente somente será responsabilizado pelas lesões corporais praticadas, sem a incidência da qualificadora. Rogério Greco cita um exemplo daquele que em desafeto com seu amigo, o dá uma rasteira na praia, momento em que este cai e bate com a cabeça em uma grande pedra, que estava por debaixo da areia, e em virtude disso, tem traumatismo craniano, vindo a falecer. Por não ser previsível que esteja uma pedra dessas proporções por debaixo de uma areia, não deve o agente ser responsabilizado, pois não agiu com culpa, já que não era previsível o resultado, devendo responder somente por lesões corporais. LESÃO CORPORAL CULPOSA 6.º Se a lesão é culposa: Pena – detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano. Uma vez concluído que o fato submete-se ao delito de lesão corporal, tal resultado terá repercussão quando da aplicação da pena, não modificando a natureza do delito. Se a lesão tiver ocorrido pelo agente que se encontrava na direção de seu veículo automotor, em razão do princípio da especialidade, deverá ser aplicado o art. 303 do CTB, que aduz: Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do parágrafo único do artigo anterior. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 9.º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. A lei 10.886 de 17 de junho de 2004 acrescentou os §9.º e 10.º do artigo 129 do CP, criando o delito de violência doméstica. Todas essas situações previstas já figuravam em nosso CP como circunstância agravante, previsto nas alíneas E e F do inciso II do art. 61. Para Damásio, não se pode restringir a aplicação da qualificadora somente ao regime de união estável. Deve-se que o tipo fala expressamente em “companheiro”. Por isso, a convivência, desde que seja doméstica, faz incidir a qualificadora. Exemplo: moradores de um aposento de república de estudantes. Rogério Greco entende que a violência doméstica é um problema social que sempre aconteceu, de modo que não se pode deixar a cargo exclusivamente do direito penal essas situações, como se este fosse o salvaguarda de todos os problemas. Programas devem ser implementados pelo Estado, a exemplo da lei 11.340 de 7 de agosto de 2006 que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. O §9.º do CP ainda se configura como lesão corporal leve, embora qualificada. De acordo com a posição majoritária da doutrina, seria possível a aplicação das penas substitutivas previstas no art. 44 do CP. Tese impossível se o sujeito passivo for mulher, em virtude do art. 17 da lei 11.340 de 7 de agosto de 2006. DIMINUIÇÃO DA PENA 4.º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Idêntica àquela utilizada para a diminuição de pena na hipótese do delito de homicídio, considerado privilegiado. Seria então, no dizer, uma lesão corporal privilegiada. Obrigatória à redução pelo juiz se presente os requisitos que a autorizem. É aplicável a todas as modalidades de lesão corporal, inclusive à doméstica. SUBSTITUIÇÃO DA PENA 5.º O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa: I – se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; Ou seja, quando o agente, praticando a lesão corporal de natureza leve, cometer o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima. Em verdade, na hipótese da lesão corporal privilegiada, sendo a lesão de natureza leve, o juiz poderá aplicar tanto a diminuição da pena, como sua substituição. Deverá se pautar pela determinação do artigo 59 do CP, aplicando a pena “*…+ conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime *…+”. Se o sujeito passivo for mulher, estará impossível a substituição da PPL pela de multa (art. 17 da lei 11.340 de 7 de agosto de 2006). II – se as lesões são recíprocas. Parte o CP do pressuposto que ambas as agressões sejam injustas, isto é, no caso concreto, nenhum dos contendores atua em legítima defesa, o que resultaria, por certo, na condenação de um e absolvição do outro. Se um deles sofrer lesão corporal grave ou gravíssima, não mais terá aplicação o parágrafo em estudo, visto que a substituição só se aplica em caso de lesões de natureza leve. AUMENTO DE PENA 7.ºAumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4.º e 6.º do art. 121 deste Código. Art. 121 *…+ 4.º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. 6.º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. Assim, sendo, por exemplo, a lesão corporal de natureza leve cometida contra um menor de 14 (quatorze) anos, a pena deve ser aplicada com o aumento de 1/3 sobre a pena-base. A lei 10.886/2004 acrescentou o §10.º do artigo 129 do CP, que assim dispõe: 10. Nos casos previstos nos §§ 1.º a 3.º deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no §9.º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). No caso de terem sido as lesões graves ou gravíssimas, ou seguida de morte, ainda que o fatos seja cometido contra ascendente, descendente *…+ (§9.º do 129), se aplicará a pena correspondente ao tipo de lesão, aumentada, como quer esse parágrafo, de um terço. A lei 11.340 de 7 de agosto de 2006 inseriu o §11 ao artigo 129 do CP, in verbis: 11. Na hipótese do §9.º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. Pessoa portadora de deficiência deve ser entendida como aquela especificada no decreto n.º 3.928 de 20 de dezembro de 1999. PERDÃO JUDICIAL 8.º Aplica-se à lesão culposa o disposto no §5.º do art. 121. Art. 121. *…+ 5.º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Rogério Greco solicitou a leitura do tópico do Perdão judicial no delito de homicídio culposo, por se tratar de mesmo conteúdo. MODALIDADES COMISSIVA E OMISSIVA Pode ser praticado comissiva ou omissivamente, sendo que neste caso o agente deverá gozar do status de garantidor, amoldando-se a qualquer das alíneas do §2.º do artigo 13 do CP. São garantidores quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com o seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Consuma-se a lesão corporal com a efetiva ofensa à integridade corporal ou à saúde da vítima, incluindo seus resultados qualificadores. Tentativa será sempre admissível na hipótese de lesão corporal de natureza leve. Sendo grave ou gravíssima as lesões, será possível a tentativa, desde que o crime não seja classificado como preterdoloso: perigo de vida; aceleração do parto; aborto; lesão corporal seguida de morte. PENA, AÇÃO PENAL, TRANSAÇÃO PENA, COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO E SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. O delito de lesão corporal leve – pena de 3 (três) meses a 1 (um) ano, lesão corporal de natureza culposa – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e violência doméstica – pena de detenção de 3 (três) meses a 3 (três) anos, são necessários a representação do ofendido, conforme o artigo 88 da lei 9099/95, que aduz: Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da Legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas. O legislador, nesse sentido, fez depender da vontade da vítima a possibilidade de trazer ao público as lesões por ela resolvidas. Tendo em vista a pena máxima cominada em abstrato, regra geral é que os delitos de lesão corporal de natureza leve (exceção da violência doméstica e familiar contra a mulher) e culposa sejam de competência dos juizados especiais criminais, havendo possibilidade de composição de danos ou transação penal, nos termos dos arts. 72 a 76 da lei 9.099/95. Não realizada a composição de danos, bem como não aceita a transação penal, para os delitos de lesões corporais leves ou culposas, ainda resta a possibilidade de ser procedida a suspensão condicional do processo, desde que atendidos os demais requisitos pelo agente, em conformidade com o art. 89 da lei 9.099/95, in verbis: Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a 1 (um) ano, abrangidas ou não por esta lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal). DESTAQUES PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA, LESÕES CORPORAIS E VIAS DE FATO. O princípio da insignificância é visto sob três aspectos: Entendido como um princípio auxiliar de interpretação; Aplica-se em grande parte dos tipos; Finalidade de afastar do tipo penal os danos de pouca ou nenhuma importância. Nem todos os tipos penais, porém, permitem o raciocínio da insignificância, como por exemplo, no homicídio. É na análise da tipicidade material, que deverá ser realizada a análise e aplicação do princípio da insignificância, bem como a antinormatividade do comportamento levado a efeito pelo agente. Apesar de a integridade corporal e a saúde serem bens que merecem, efetivamente, a proteção do estado por intermédio do Direito Penal, no caso concreto, muitas vezes, tal proteção se faz desnecessária, dada pouca ou nenhuma importância da lesão sofrida pela vítima. O problema se encontra em tentarmos conciliar a aplicação do princípio da insignificância, trabalhando com o delito de lesão corporal como também da contravenção penal de vias de fato, prevista no artigo 21 do decreto-lei 3.688/41. Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém: Pena – prisão simples, de 15 `(quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa, de cem mil réis a um conto de réis, se o fato não constitui crime. Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. O que distingue o delito de lesão corporal da contravenção vias de fato é o dolo do agente. Na lesão corporal, o agente quer ofender a integridade corporal ou a saúde da vítima. A contravenção já não tem a magnitude da primeira. Exemplo: quem desfere um soco no rosto da vítima age com dolo do art. 129 do CP; aquele que empurra tão somente pratica a contravenção penal vias de fato. Ocorre é que a aplicação do princípio da insignificância nas lesões corporais esbarra na contravenção penal vias de fato. Assim, Rogério Greco, em conformidade com o entendimento de Ferrajoli, preconiza que todas as contravenções penais devem ser revogadas, se quisermos realmente aplicar as teses minimalistas, com seus correspondentes princípios, como os da intervenção mínima e da insignificância. Conclui ser possível a aplicação a aplicação do princípio, desde que seja negada a realidade da contravenção penal vias de fato, que contraria a lógica do raciocínio minimalista. CONSENTIMENTO DO OFENDIDO COMO CAUSA SUPRALEGAL DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE O consentimento do ofendido traz duas finalidades importantes: atipicidade, quanto esta faz parte do núcleo do tipo e exclusão da ilicitude, que será analisada no caso concreto. São requisitos da validade do consentimento do ofendido: Que o bem seja disponível; Que a vítima tenha capacidade para consentir, sendo hoje corrente preponderante que essa capacidade é adquirida aos 18 anos. Consentimento prévio, ou no mínimo, concomitante ao comportamento do agente. Resta a seguinte questão: a integridade corporal ou a saúde, são bens disponíveis? Rogério Greco entende que depende. Se for leve a lesão, é disponível. Agora se for grave ou gravíssima, entende que o bem nessas condições não é disponível. Poderá, ao contrário, a própria vítima se mutilar, mas não solicitar a terceiro que pratique esse comportamento. Atendido os requisitos, o consentimento do ofendido afasta a ilicitude, desde que, repito, a lesão corporal praticada seja de natureza leve.
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