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O HABEAS CORPUS E A PRESERVAÇÃO DA LIBERDADE E JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

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16/08/2005 
O HABEAS CORPUS E A PRESERVAÇÃO DA LIBERDADE E 
DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
HUGO DE BRITO MACHADO 
 Advogado, Professor Titular de Direito Tributário da 
Universidade Federal do Ceará e Desembargador 
 Federal do Tribunal Regional Federal da 
5.ª Região (Aposentado) 
 
 
Em sessão plenária de 10 de agosto de 2005, quando em 
apreciação o habeas corpus 85.185, impetrado contra o Ministro Roberto 
Luis Justus, relator do habeas corpus 39.955 impetrado no Superior 
Tribunal de Justiça, os Ministros do Supremo Tribunal Federal discutiram a 
respeito da Súmula 691 de sua jurisprudência, segundo a qual “não 
compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus 
impetrado contra decisão do Relator que, em habeas corpus requerido a 
tribunal superior, indefere a liminar”. O Ministro Cezar Peluso, relator do 
caso, argumentou que em certas situações, como entendia ser o caso em 
apreciação, não se justificava a omissão do Supremo Tribunal Federal. A 
final a pretensão do impetrante estava amparada pela jurisprudência já 
firmada pela Corte Maior, que não admite ação penal no crime de 
supressão ou redução de tributo sem que tenha sido concluído o 
respectivo processo administrativo. As instâncias inferiores, todavia, não 
adotam esse entendimento à consideração de que tal jurisprudência não 
tem caráter vinculante. E como estava em jogo a garantia do direito 
fundamental de liberdade, propôs o cancelamento da referida súmula, ou 
que fosse à mesma aditada a ressalva dos casos de flagrante ilegalidade. 
Esclareceu que o acréscimo seria incoerente porque o reconhecimento da 
flagrante ilegalidade implicava o conhecimento da impetração, mas 
permitiria superar esse obstáculo inadmissível em face da relevância do 
direito fundamental de liberdade, que o Supremo não poderia 
desconsiderar. O Ministro Sepúlveda Pertence manifestou-se contra o 
cancelamento da citada Súmula por razões de ordem prática. O Supremo 
O Habeas Corpus e a Preservação da Liberdade e da Jurisprudência do Supremo Tribunal 
Federal 
 
 
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teria de examinar tal quantidade de habeas corpus que ficaria 
inteiramente inviabilizado. Além disto, contra o desrespeito a sua 
jurisprudência o procedimento adequado seria a reclamação. Travou-se 
então demorado debate, no qual se pôde observar serem as divergências 
situadas em questões de forma, pois todos estavam de acordo quanto à 
importância do direito à liberdade e quanto ao dever do Supremo de 
prestar jurisdição para garanti-lo, tanto que ao final, restando já sem 
objeto a impetração na qual fora pedida apenas a suspensão do 
interrogatório, deferiram a ordem, de ofício, para o trancamento da ação 
penal respectiva. Embora a Súmula 691 não fosse, em sua literalidade, 
aplicável ao caso, posto que o ato coator não era o indeferimento de 
liminar, restou colocada a questão de saber se àquela súmula deve ser, ou 
não, aditada uma ressalva. A proposta pelo Ministro Peluso realmente não 
era adequada porque muito ampla e assim praticamente anulava o seu 
efeito prático. Uma ressalva, todavia, pode ser feita à Súmula 691, para 
evitar que o próprio Supremo tenha de lhe negar aplicação em certos 
casos. Poderia ser dada à referida Súmula a seguinte redação: “Salvo 
quando na impetração seja alegada afronta à sua jurisprudência, não 
compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus 
impetrado contra decisão do Relator que, em habeas corpus requerido a 
tribunal superior, indefere a liminar”. Seriam preservadas tanto a 
jurisdição que garante o direito à liberdade como a jurisprudência da 
Corte Maior. Sem desobediência à Súmula e sem incoerência, pois 
bastaria a alegação de contrariedade à sua jurisprudência. Seria o HC um 
substitutivo da reclamação, como pode ser do recurso, com as relevantes 
funções de preservar o direito à liberdade e de fazer prevalecer a 
jurisprudência da Corte Maior, como é desejável em um Estado de Direito.

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