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Resenha Crítica - Conflito e Negociação É sabido que não estamos inseridos em uma realidade cujos valores e atributos correspondem àqueles que prestigiamos e almejamos. Desta forma, estamos suscetíveis constantemente ao processo de conflito, pois discordâncias surgem a todo momento. Tendo isso posto, o autor Stephen Robbins discorre sobre os conflitos e a negociação (intrinsecamente relacionado ao processo conflituoso) em um capítulo denominado “Conflito e Negociação”. A intenção primordial desta seção do livro é permitir que os leitores compreendam que nem sempre o conflito é caracterizado como um fator ruim. Há, inclusive, teóricos que não apenas refutam o conflito em uma organização, como chegam a fomentá-lo até determinado nível. Outro importante propósito do autor ao propor esta discussão é possibilitar que saibamos identificar os tipos de conflitos e seus respectivos graus de aceitabilidade dentro das organizações. E além desses, Robbins também busca viabilizar a compreensão do processo de negociação, tema intimamente relacionado aos conflitos. Conforme enunciado pelo autor, o conflito pode ser caracterizado como o processo que se dá quando um ente (indivíduo ou grupos) identifica que um ente terceiro afeta ou pode vir a afetar negativamente algo que o primeiro considera como significativo. Apesar da abstração da definição dada, o conflito é algo mais concreto do que idealizamos. Isso porque conflito não envolve apenas grandes discussões e embates de ideias. O simples ato de identificar, por exemplo, que seus pais discordam com você em relação a determinado assunto, mas sua resposta limita-se a evitar um possível debate, é considerado também um conflito, pois ambos têm noção do impasse, e o comportamento adotado fora o de desviar-se. Transportando o conflito para o seio organizacional, percebe-se que esse ambiente é extremamente inclinado ao surgimento de conflitos. Como há inúmeros interesses em questão, e a todo momento decisões precisam ser tomadas, é inevitável que antagonismos ocorram continuamente. Segundo Robbins, a forma como os gestores abordam os conflitos pode ser caracterizada sob três diferentes perspectivas: a Visão Tradicional, a de Relações Humanas e a Visão Interacionista. De maneira sucinta, elas refutam, aceitam e instigam, respectivamente, o conflito. A Visão Tradicional identifica o conflito como produto de algo que não está funcionando corretamente na empresa - há falhas no processo, não existe abertura, falta confiança, executivos não conseguem suprir aspirações dos funcionários, entre outros problemas. Desta forma, o conflito é visto como negativo e deve, portanto, ser evitado. A escola de pensamento das Relações Humanas, por sua vez, vê o conflito como algo natural e inevitável em qualquer grupo, além de também ser passível de gerar efeitos positivos no desempenho dos mesmos. Logo, por não ser um fator negativo, aceita-se o conflito. Já a Visão Interacionista, opostamente à Visão Tradicional, chega a instigar o conflito dentro das organizações. É defendido por teóricos desta Escola que o conflito é positivo em determinados níveis, pois melhora a eficácia do grupo ao evitar a apatia, imobilização e insensibilidade às mudanças e inovações - são promovidas a autocrítica e criatividade. Apesar das diferenças quanto à interpretação do conflito inserido na organização, todas as escolas supracitadas consentem que altos níveis de conflito geram efeitos negativos. Para saber quando o conflito deixa de ser funcional para exercer o papel de algo disfuncional é necessário entender a natureza desse conflito. O conflito de relacionamento, por exemplo, é disfuncional. Conflitos desta natureza acabam por provocar choques interpessoais que reduzem a compreensão mútua. E, como visto anteriormente na discussão de Robbins sobre emoções, a percepção - que acaba por se tornar uma das bases de relações interpessoais - é fortemente influenciada por elementos de cunho subjetivo. Por sua vez, os conflitos de processos (relacionados a como um trabalho é executado), quando em baixo nível, são funcionais. Ele deixa de ser útil quando há incerteza sobre os papéis a serem desempenhados, mais tempo é demandado para realizar tarefas ou os membros de um grupo começam a trabalhar com propósitos difusos (algo completamente incoerente com as funções do grupo/organização). Por fim, o conflito de tarefas está relacionado ao conteúdo e propósito de uma tarefa. Conflitos dessa natureza, quando em níveis baixos a moderados, acabam por fomentar a troca de ideias que acabará por ajudar o trabalho em equipe. Apesar de não estar presente apenas no processo do conflito dentro de uma organização, Robbins apresenta quais estágios estão envolvidos em dissensões. São cinco os estágios: 1- oposição potencial ou incompatibilidade; 2- cognição e personalização; 3- intenções; 4- comportamento e 5- consequências. O primeiro estágio diz respeito ao que propicia o conflito. Surge quando há sistemas de valores e personalidades díspares, envolvendo questões como comunicação ineficaz ou existência de metas divergentes. Acaba por ser inerente à própria estrutura do processo de negócios. O estágio de cognição e personalização está relacionado ao conhecimento de ambas as partes sobre as condições explicitadas no estágio 1. Isso é, os entes envolvidos devem ter ciência de que há uma diferença entre eles e que, portanto, alguma das partes pode ser ou é afetada por essa desproporção. O estágio seguinte, de intenções, envolve o que será feito em relação ao conflito. As partes podem competir (busca-se interesse próprio, despreza o de terceiros), colaborar (busca-se tanto interesses próprios quanto de terceiros), acomodar-se (atender interesse do terceiro, não o seu), evitar (não pretendem nem afirmar interesses próprios nem satisfazer o de terceiros) ou conceder (quando não há uma lógica de soma-zero, como nas intenções anteriores. Aqui, aceita-se uma solução que satisfaça parcialmente as partes envolvidas). No estágio seguinte, de comportamento, residem as ações e implementação das intenções previamente definidas. Podem ir desde um desacordo/mal entendido leve ou questionamento explícito até à agressão física ou esforços explícitos de aniquilação das partes opostas. Por fim, há o estágio de consequências, quando verifica-se se o conflito melhorou o desempenho do grupo (promoveu mais criatividade, inovação e interesse dos membros) ou piorou (menor coesão grupal, descontentamento dos envolvidos e até mesmo dissolução do grupo). Após apresentar a definição de conflito, suas possíveis naturezas e as possíveis perspectivas das quais pode-se interpretar um processo conflituoso, Robbins trata da negociação. Segundo o autor, esse conceito é sinônimo de barganha e está estreitamente relacionado ao processode conflito. Essa relação entre negociação e conflito se dá porque as partes envolvidas trocam bens e serviços e, com isso, buscam determinar vantagens sobre essa troca através dos acordos possíveis. Há duas principais formas de barganha: a distributiva e a integrativa. Na barganha distributiva, insere-se o raciocínio de soma-zero. Neste caso, um ganho para uma das partes implica em perda, no mesmo nível, para a outra. Aqui, há um número fixo de recursos a serem distribuídos, geralmente estão envolvidos prazos mais curtos e os interesses primários se chocam. Já na barganha integrativa, os envolvidos finalizam o processo com um sentimento de vitória. Isso acontece porque neste tipo de barganha, usado para efeitos a longo prazo, há uma convergência e congruência dos interesses primários. E, geralmente, a quantidade de recursos a distribuir é variável. Apesar de se mostrar mais benéfica, o último tipo de barganha acaba por não ser utilizado nas organizações porque demanda franqueza nas informações e preocupações, requer sensibilidade às necessidades mútuas, exige confiança nas partes e que haja flexibilidade delas. Esses atributos, entretanto, dificilmente são encontrados nas empresas. Como verificado em sua discussão, o autor esclarece que o conflito e a negociação estão presentes costumeiramente em nossa rotina. E até mais na rotina de uma organização, antro do processo de tomada de decisões e irradiação de diferentes valores, interesses e personalidades. Assim sendo, é necessário que compreenda-se a natureza do conflito e que seja factível a interpretação do nível adequado do processo conflituoso dentro dos grupos e das empresas. Como visto, em níveis oportunos, algumas naturezas de conflito acabam por gerar impactos positivos. Além do conflito em si, é necessário conhecer de que forma negociações podem ocorrer, bem como saber tirar o melhor proveito dessas situações. Apesar de alguns considerarem a negociação um dom, é possível obter a defesa dos interesses primordiais ao atentar-se aos pontos e questões discutidos por Robbins sobre conflito e negociação.