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1 Professora: Selva Maria Guimarães Barreto EMENTA Conceitos de anatomia e cinesiologia. Conhecimentos do corpo humano em nível micro e macroscópico: células, tecidos, órgãos e sistemas. Identificação e classificação dos ossos, músculos e articulações. Planos, eixos e complexos articulares. PROGRAMA DA DISCIPLINA CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ANATOMIA E CINESIOLOGIA 1.1) CONSIDERAÇÕES GERAIS. 1.2) VARIAÇÃO ANATÔMICA E NORMAL. 1.3) NOMENCLATURA ANATÔMICA. 1.4) POSIÇÃO ANATÔMICA. 1.5) DIVISÃO DO CORPO HUMANO. 1.6) PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO. 2 OBSERVAÇÕES: lembramos que devido à densidade dos conteúdos aqui explanados o estudo, a assimilação e o aproveitamento profissionalda disciplina BaseAnátomoCinesiológicas do Movimento (Humano) só serão devidamente maximizados se você (estudante) se reportar,a todo o momento de estudo ou de dúvida, ao Atlas de Anatomia que está disponibilizado na plataforma. Tal condição se deve ao fato deste livro se ater à exposição, explicação e aplicação dos conhecimentos referentes à disciplina em foco no âmbito da Licenciatura em Educação Físicasem se utilizar de imagens, uma vez que o referido Atlas as apresenta de forma adequadíssima às nossas exigências e necessidades docentes. 3 CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ANATOMIA E CINESIOLOGIA 1.1) CONSIDERAÇÕES GERAIS O produto esperado de um curso de licenciatura (formação profissional em nível superior para a Educação Básica) é a transmissão, a assimilação ea(re)construção de conhecimentos, de conteúdos, de habilidades, de procedimentos e de atitudes culturais, científicas, sociais e corporais que permitam a ação eficiente e eficaz do educador nos setores em que atua. Esta constatação se baseia no fato de que não basta ao graduado dominar um conjunto de habilidades que, no caso da Licenciatura em Educação Física, está relacionado aos jogos, aos exercícios, aos esportes, às ginásticas, às atividades lúdicas e às danças. Ele também, e necessariamente, deve ser capaz de transformar, de forma ética e política, conteúdos como teorias, conceitos, regras e métodos em instrumentos conceituais de análise e solução de problemas edilemas que permeiam nossa realidade (LIBÂNEO, 2001). Sendo assim, a formação do Licenciado em Educação Física é claramente de orientação multidisciplinar e normalmente constituída por três esferas gerais do estudo acadêmico, ou como prefere Tani (1996), por três diferentes e complementares “tipos de conhecimentos”, apresentados a seguir: a)conhecimentos de orientação acadêmica ou de formação ampliada, derivados das ciências humanas e biológicas, com ênfase nas relações interdisciplinares entre eles e a área de estudo da Educação Física; b)conhecimentos de orientação às atividades ou identificadores da Educação Física, que abrangem as dimensões da cultura corporal e dos aspectos técnicos instrumentais; e 4 c)conhecimentos de orientação pedagógica ou do campo de intervenção da Educação Física, que enfocamos aspectos relativos à elaboração, implantação e avaliação das ações acadêmico-profissionais que constituem os processos de ensino-aprendizagem próprios da Educação Física. No tocante à disciplina a ser aqui enfatizada, Base AnátomoCinesiológicas do Movimento, esta se constitui na junção de duas áreas pertencentes ao primeiro grupo de conhecimentos: a)a primeira se constitui na Anatomia, do grego ana (em partes) e tomein (cortar), definida por Dângelo e Fattini (2009, p.01) como“aciência que estuda macro e microscopicamente, a constituição e o desenvolvimento dos seres organizados”ou, como elegem Castro (1985) e Souza (2001), é a ciência que estuda a forma e a estrutura dos seres vivos. Ressaltamos que o presente texto abordará exclusivamente a Anatomia Funcional Humana, tendo em vista as várias áreas de interesse constituintes dessa ciência e por ser foco de nosso interesse o conhecimento e a capacidade de análise dos movimentos gerados pelos seres humanos e não apenas a localização dos músculos ou grupamentos musculares utilizados para tais fins. Somado a isso esclarecemos que apesar do método usual para o ensino e aprendizagem da Anatomia Funcional Humana se fazer valer do estudo via exame de peças anatômicas fixadas e dissecadas, atualmente estão sendo utilizados modelos de material plástico e acesso on-line a bibliotecas e centros anatômicos virtuais, lembrando que os conhecimentos próprios dessa área também podem ser obtidos diretamente no corpo humano vivo, por meio da inspeção e/ou palpação e também via análise de radiografias, tomografias e imagens de ressonância magnética (SOUZA, 2001); b) Já a segunda área, contemplada pela Cinesiologia, palavra constituída pelos verbosgregoskinein (mover) e logos (estudar), é apresentada por Hamilton, Weimar e Luttgens (2013, p. 02) como “o estudo do movimento humano do ponto de vista da física”,etem por objetivo o conhecimento e a análise das forças internas (tensão 5 muscular, por exemplo) e externas (força da gravidade e atrito) que afetam as ações motoras realizadas pelo ser humano, de modo a favorecer a minimizaçãoda ocorrência de lesões e à maximizaçãodo desempenho apresentado pelo executor. Desta forma, a disciplinaBaseAnátomoCinesiológicas do Movimento, objetiva apresentar ao Licenciando em Educação Física conhecimentos e entendimentos referentes ao corpo humano, de suas partes constituintes e suas relações, dos sistemas que o integra, suas funções, divisões e componentes; e dos complexos articulares e das relações destes com as ações humanas voluntárias. Tal situação se deve aos seguintes motivos: a disciplina em foco se constitui de conhecimentos imprescindíveis para a identificação, localização e, principalmente, para o entendimento do movimento humano, como explicitam Hamill e Knutzen (2012, p. 05): a abordagem da anatomia funcional utilizada na análise de uma elevação lateral do braço com um haltere, identifica os músculos deltóide, trapézio, levantador da escápula, rombóide e supraespinhal como contribuidores para a rotação para cima e elevação do cíngulo do membro superior e para a abdução do braço. Este entendimento é essencial na organização e no sequenciamento dos conteúdos a serem apresentados nas aulas de Educação Física, seja no Ensino Fundamental, seja no Ensino Médio, assim como do conhecimento potencial de lesão de uma determinada ação motora esportiva,ou não, durante a sua realização; o entendimento de como, quando e onde as forças internas e externas atuam em relação às posições e movimentos realizados, é essencial para que o Licenciado em Educação Física saiba estruturar ações educativas que possam viabilizar a capacidade de produção, estudo, ensino-aprendizagem e alteração das ações realizadas por seus alunos. A partir dessas colocações, apresentaremos a seguir os conteúdos que compõem nossa disciplina, sendo estes expostos da maneira que nos pareceu mais compreensível e semqualquerpretensão de esgotar as 6 temáticas abordadas, devido não só à amplitude destas como também pelas limitações espaço-temporais aqui vivenciadas. 1.2) VARIAÇÃO ANATÔMICA E NORMAL É fácil verificarmos a diversidade humana. Basta que nos olhemos ao espelho e depois visualizemos nossa mãe, pai, irmãos e amigos. Somos muito parecidos, mas ao mesmo tempo muito diferentes na estatura, na estruturação corporal e também na forma que alguns de nossos órgãos internos se apresentam já que, por exemplo,o estômago do indivíduo A pode ser mais alongado e com grande eixo vertical quando comparado ao estômago do indivíduo B, que se apresenta mais horizontalmente.Entretanto, estes indivíduos não apresentam problemas digestórios, como afirmam Dângelo e Fattini(2009). Como a Anatomia Funcional Humana apresenta como objeto de estudo o nosso corpo, as diferenças morfológicas existentes entre as pessoas, que em nada prejudicam ou auxiliam funcionalmente os indivíduos, são denominadas de variação anatômica e normal, sendo classificadas como externas ou internas segundo os exemplos anteriores. De forma complementar, Souza (2001) afirma que em anatomia o aspecto morfológico tido como normal é aqueleque se apresenta de forma mais frequente e que permite a realização adequada das funções preconizadas para uma determinada estrutura. Um exemplo que ilustra essa afirmaçãoestá vinculado à localização da divisão da artéria do braço, normalmenteencontrada na altura do cúbito (cotovelo), mas que em alguns indivíduos pode estar presente em um nível mais baixo ou mais alto do braço sem, contudo, apresentar prejuízo para a função. Salientamos que fatores como idade cronológica, gênero, grupo étnico e biótipo são condições que podem condicionar o aparecimento de variações anatômicas, sendo que Souza (2001) apresenta os seguintes exemplos: 7 -nossos órgãos apresentam características distintas no “correr” do nosso processo de desenvolvimento, como no caso de nossa pele facial e de nossa estrutura ocular (e, por consequência, de nossa capacidade visual); -as evidentes diferenças de sexo vinculadas ao sistema genital e também ao menor tamanho da laringe da mulher quanto comparada à do homem; -as variações quanto aos formatos dos olhos em indivíduos de origem ocidental e oriental; -as conformidades corporais apresentada pelos indivíduos longilíneos (pessoas altas, magras, com pescoço longo e membros longos em relação ao tronco) e brevilíneos (sujeitos mais baixos, atarracados, com pescoço curto e com membros mais curtos em relação ao tronco). Por outro lado, quando nos deparamos com um desvio anatômico que gera perturbação da função, como no caso da falta do polegar em uma das mãos, diz-se que se trata de uma anomalia, e quando esta é muito acentuada e incompatível com a vida, como no caso da agenesia (não formação) do encéfalo, esta diferença recebe o nome de monstruosidade (DÂNGELO; FATTINI, 2009). Dessa forma, somente essa última impossibilita o processo de desenvolvimento do indivíduo. 1.3) NOMENCLATURA ANATÔMICA Assim como as demais áreas do conhecimento, a área da saúde possui uma linguagem própria e incluída nela podemos citar a chamada Terminologia Anatômica, entendida como o conjunto de termos oficiais e convencionados usados na descrição do organismo humano e seus componentes. Por ser uma linguagem padronizada ela permite a comunicação clara entre os profissionais de diversas partes do mundo,sendoAndreasVersalius, um belga,o primeiro a utilizá-la de forma ampla, no livro De HumaniCorporisFabric, datado de 1573(CASTRO, 1985; DÂNGELO; FATTINI, 2009) 8 Entretanto, como não havia meios de difundir o conhecimento em massa na Idade Média, os centros científicos de cada país começaram a elaborar seus livros na língua de origem, o que gerou várias realidades e possibilidades linguísticas.Desta forma, até o final do século XIX, quando os conhecimentos adquiridos através de estudos e trabalhos das “escolas anatômicas” (principalmente da França, Inglaterra, Alemanha e Itália) da época já eram qualitativa e quantitativamente significativos, as estruturas do corpo recebiam diferentes nomes e denominações em cada um desses centros de estudo, sem um padrão, o que dificultava em muito a comunicação entre os anatomistas (DÂNGELO; FATTINI, 2009). De acordo com Castro (1985), foi somente no ano de 1895 que ocorreu a primeira tentativa de se criar uma nomenclatura anatômica internacional, sendo formada, então, a BasleNominaAnatomica (B.N.A), na Basileia. Durante o século XX várias atualizações e revisões foram feitas, sendo a que ocorreu no Congresso de Paris, em 1955, marcante para a unificação da nomenclatura, tendo em vista a aprovaçãoda Paris Nomina Anatomica (P.N.A). Um pouco mais tarde, no ano de 1980, durante o Congresso Federativo Internacional da Anatomia (CFIA), foi criada a FederativeCommiteeonAnatomicalTerminology (FCAT), que tem como objetivo promover a revisão anual da nomenclatura anatômica, já que esta pode ser sempre alterada, desde que haja argumentos válidos que justifiquem as mudanças, e que estas sejam aprovadas nos Congressos Internacionais de Anatomia realizados quinquenalmente. Ressaltamos que a última versão da Terminologia Anatômica foi estruturada em Roma e aprovada pela Assembleia Geral da Federação Internacional de Associações de Anatomistas, em 1999, sendo sua tradução no Brasil realizada no ano2000. De acordo com Dângelo e Fattini (2009), entre os princípios que caracterizam a Terminologia Anatômica vigente, pode-se citar a abolição dos epônimos (nomes de pessoas), determinada pelo Comitê Internacional de Nomenclatura Anatômica, em 1955, sendo que tal exclusão se deveu à imprecisão científica desse uso. 9 Assim, a terminologia atualmente utilizada prioriza termos que indicam forma, localização, trajeto, função, relação com órgãos e/ou sistemas, posição, ou mesmo uma mistura desses critérios, ou seja, evidencia termos que contenham alguma informação sobre a estrutura do corpo que nomeiam. Tal relação, segundo Dângelo e Fattini (2009), facilita a memorização e a aplicação dos termos, e como exemplos citamos: ducto pancreático (que indica localização); músculo trapézio(que indica forma), e músculo levantador da escápula (que indica função). Também algumas abreviações são utilizadas pela nova Terminologia: A. – artéria; Aa. – artérias; Lig. – ligamento; Ligg. – ligamentos; V. – veia; Vv. – veias; N. – nervo; Nn. – nervos etc., lembrando que o latim é a língua oficial, já que não pode sofrer alterações na sua forma escrita, já que é uma língua “morta” e, por isso, é a mesma em qualquer lugar do mundo. Lembramos queé possível traduzir os nomes oficiais para o vernáculo de cada país, sendo que, no nosso caso, como o português é uma língua latina, a tradução desses nomes difere pouquíssimo do original em latim (DÂNGELO; FATTINI, 2009; SIEGFRIED, 2010, SOUZA, 2001). 1.4) POSIÇÃO ANATÔMONICA Posição Anatômica é uma posição específica e de referência que dá significado aos termos direcionais utilizados na descrição das partes e regiões do corpo. Assim, quando se fala do corpo humano em textos, por exemplo, os autores consideram como se estivesse sempre na posição padronizada. Pode-se descrever a Posição Anatômica como um indivíduo em pé (posição ereta ou ortostática), com a cabeça e olhos direcionados para frente; membros inferiores justapostos e com os dedos direcionados anteriormente (para frente); e membros superiores estendidos aplicados 10 ao tronco, sendo que as palmas das mãos devem estar voltadas para frente (CASTRO, 1985; DÂNGELO; FATTINI, 2009; SIEGFRIED, 2010). 1 Imagem — Posição Anatômica. 1.5) DIVISÃO DO CORPO HUMANO Segundo Siegfried (2010), o corpo humano é classicamente dividido em: a)cabeça: subdividida em face e crânio; b)tronco: constituído pelo pescoço, tórax e abdome; 11 c)membros: superiores (direito e esquerdo), segmentados em ombro, braço,antebraço e mão, e inferiores (também direito e esquerdo), formados pelo quadril, coxa, perna e pé. Outra divisão também bastante utilizada é a seguinte: a)cabeça e pescoço: constituídos por toda a área acima da abertura torácica superior; b) tórax: composto pela região compreendida entre a abertura torácica superior e o diafragma torácico; c)abdome: secção do tronco entre o tórax e a pelve; d)costas: compostas pela coluna vertebral e seus constituintes, as vértebras e os discos intervertebrais; e)membro superior (direito e esquerdo): constituído pelas regiões escapular e peitoral, axila, ombro, braço, antebraço e mão; f)membro inferior (direito e esquerdo): compreende a região abaixo do ligamento inguinal, constituída pela articulação do quadril, coxa, perna e pé; g)pelve e períneo: área de transição entre o tronco e membros inferiores. Alguns outros termos descritivos anatômicos também muito utilizados de acordo com Siegfried (2010): anterior ou ventral: na parte da frente ou dianteira do corpo; posterior dorsal: atrás ou próximo da parte detrás do corpo. decúbito ventral (ou em pronação): deitado de bruços, com o rosto virado para baixo; decúbito dorsal (ou em supinação): deitado de costas, com o rosto virado para cima; caudal: próximo ou na direção do cóccix; central: próximo ao centro (mediano) do corpo ou no centro de um determinado órgão; periférico: distante do centro do corpo ou de um determinado órgão. lateral: de lado ou próximo a parte lateral do corpo; 12 medial (ou mediano): no centro do corpo; proximal: mais próximo do tronco ou de um ponto de referência indicado; distal: mais distante do tronco ou de um ponto de referência explicitado; superficial: próximo à superfície corporal; profundo: mais distante da superfície corporal; superior: localizado mais alto ou acima de uma parte do corpo indicada; inferior: localizada embaixo ou mais abaixo de uma determinada parte corporal indicada; cefálica: referente à cabeça; cervical: diz-se com relação ao pescoço; frontal: referente à testa; occipital: parte posterior da cabeça; oftalmológico: orbital, olhos; oral: com relação à boca; nasal: nariz; braquial: parte superior do braço; cárpica: punho; cubital: cotovelo ou cúbito; palmar: palma da mão; femoral: coxa; pedal; pé; poplíteo: parte posterior do joelho; celíaco: abdome; glúteo: nádegas; virilha: área do abdome perto da coxa; perineal: área entre o ânus e os órgãos sexuais externos; sacral: parte final da coluna vertebral. 13 OBSERVAÇÕES: 1)Raízes de termos anatômicos mais comuns em latim, segundo Siegfried (2010, p.19). ______________________________________________________________________ Raiz em latim Significado Exemplo Aden- glândula adenopatia (doença numa glândula) Angi- vaso angioplastia (técnica para abrir o tecido que reveste o vaso sanguíneo) Art- articulação artrite (inflamação na articulação) Bronco- traqueia bronquite (inflamação do tubo que leva o oxigênio da traqueia ao pulmão) Carcin- câncer Carcinógeno (substância que causa câncer) Cardi- coração parada cardíaca (parada do batimentodocoração) Carp- punho síndrome do túnel do carpo (condi- ção dolorosa causada pela compre- sãodo nervo entre os ossosdo punho) Col- bílis colesterol (produzido no fígado junto com o bílis) Derm- pele dermatite (inflamação da pele) Eritro- vermelho eritrócito (glóbulo vermelho do sangue) Gastr estômago suco gástrico (ácidos e enzimas que digerem a comida quimicamente) Hemat- sangue hematrócito (volume de hemácias presentesnumaamostra) Histo- tecido histocompatibilidade (compatibilidade entre o tecido de 14 um doador e o receptor) Pato- doença patógeno, patologia Sept- contaminação choque séptico (queda da pressão causadapelacontaminação do sangue) ______________________________________________________________________ 2) De acordo com Souza (2001, p. 06-07): Os membros são os superiores e inferiores. Cada membro compreende uma parte que fixa o membro no tronco, a cintura do membro e uma parte livre. O membro superior fixa-se ao tronco pelo cíngulo do membro superior e a parte livre é dividida em braço, antebraço e mão. Em cada uma dessas partes, consideram- se regiões anteriores e as posteriores. No caso da mão, a região anterior é a região palmar ou palma da mão e a região posterior é o dorso da mão. O ombro é a parte de transição ente a cintura escapular e o membro superior. A região do cotovelo é a região de transição entre o braço e o antebraço e o punho ente este e a mão. A parte que fixa o membro inferior ao tronco é o cíngulo do membro inferior. A transição entre esta e o membro inferior é o quadril. A parte livre do membro inferior compreende a coxa, a perna e o pé. No membro inferior, também consideram-se regiões anteriores e posteriores. No pé, temos a planta e o dorso do pé. A região de transição da coxa à perna é o joelho, e deste ao pé é o tornozelo. Não se desesperem com tantos nomes...você irá assimilá-los à medida que se dedicar à disciplina. 1.6) PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO O corpo humano em sua posição anatômica pode ser delimitado pelos seguintes planos (superfícies bidimensionais planas) imaginários: a)oplano sagital mediano ou vertical, que divide o corpo em duas metades: direita e esquerda, sendo que planos paralelos a esse são denominados de planos sagitais. 15 Os movimentos no plano sagital ocorrem em torno de um eixo médio lateral, avançando de um lado para outro através do centro de massa do corpo. Os movimentos no plano sagital que envolvem a rotação de todo o corpo em torno do centro de massa incluem, cambalhotas, saltos mortais (com o uso das mãos) para trás e para frente e flexão para a posiçãocarpada nos saltos ornamentais (HAMILL; KNUTZEN, 2012, p.19); b)oplano frontal ou coronal,quesepara o corpo nas partes ventral (anterior) e dorsal (posterior), sendo denominado de eixo anteroposterior aquele em torno do qual ocorrem os movimentos, e c)oplano transversal ou horizontal,que demarca o corpo em parte superior e inferior, sendo as rotações em torno do eixo longitudinal os movimentos que basicamente ocorrem nesse plano. 2 Imagem — Planos do corpo humano. 16 De forma semelhante, três eixos são utilizados para descrever os movimentos humanos. São eles: eixo sagital, anteroposterior ou dorsoventral,formado pela união do centro do plano anterior ao centro do plano posterior, sendo um eixo heteropolar visto que suas pontas atingem partes diferentes do corpo; eixo longitudinal ou craniocaudal, eixo que liga o centro do plano superior ao centro do plano inferior, sendoheteropolar como o eixo sagital; eixo transversal ou latero-lateral, eixo que liga o centro do plano lateral direito ao centro do plano lateral esquerdo. Diferentemente dos outros dois eixos, é homopolar, ou seja, suas extremidades atingem os pontos equivalentes de ambos os lados do corpo. 3 Imagem — Eixos do corpo humano. 17 De forma complementar, os movimentos humanos podem ser classificados em: A) Movimentosde deslizamento:Realizados pelas articulações sinoviais, ocorre em superfícies de contato planas ou ligeiramente curvas, tendo como exemplo as articulações intercuneiformes (no pé). B) Movimentos angulares:São movimentos onde ocorre a diminuição ou aumento do ângulo existente entre as partes que se articulam. B.1) Flexão e extensão:Ocorrem em plano sagital cujo eixo é látero- lateral. O primeiro movimento está relacionado à diminuição do ângulo entre os ossos e o segundo, ao aumento. B.2) Adução e abdução:São movimentos executados em eixo ântero- posterior cujo segmento é aproximado ou afastado do plano mediano. B.3) Circundação (circundução):é a combinação dos movimentos de adução, abdução, flexão e extensão em um único segmento, onde sua extremidade distal descreve um círculo, e o corpo desse, um cone, cujo vértice se localiza na articulação que realiza o movimento. B.4) Rotação:movimento realizado ao redor do eixo longitudinal do osso em movimento (vertical), podendo ser classificado como rotação medial ou rotação lateral. Chamamos a sua atenção para outros fatos que merecem destaque na “construção” do corpo humano: os princípios da antimeria, da metameria, da paquimeriaedaestratigrafia, segundo DângeloeFattini (2009). Aantimeriase relaciona ao fato de nosso corpo ser formado por duas metades direita e esquerda (antímeros) não simétricas, já que tanto externa como internamente a metade direita não apresenta imagens especulares das partes que a constitui quando comparada com as partes da metade esquerda. Como exemplos temos: comprimentos dos membros superiores, diferenças na forma, peso e posição dos dois rins, o fato de só termos um baço e um fígado, entre outros. 18 Já a metameriadiz respeito ao fato de alguns animais, como as minhocas, serem constituídos por partes semelhantes e justapostas, o que só acontece de forma evidente nos seres humanos durante o período embrionário. No ser humano adulto, exemplos da permanência desse princípio podem ser notados na coluna vertebral e nas artérias intercostais. A paquimeria se relaciona ao fato do corpo humano ser dotado de duas grandes cavidades: uma anterior (paquímero ventral e dividida em cavidades torácica, abdominal e pélvica) e uma posterior (paquímero dorsal, compreendendo a cavidade craniana e o canal vertebral). E, finalizando, a estratigrafia, que diz respeito ao fato do corpo humano ser formado por camadas sobrepostas, da superfície à profundidade: pele, tela subcutânea, fáscia lata(membrana fibrosa), camadas musculares e osso, no caso de observação de um corte transversal da coxa da superfície para o interior. A seguir apresentaremos o segundo capítulo intitulado “O todo é maior que a soma das partes”, mas antes responda as seguintes questões de revisão: 1)Por que o estudo das bases anátomocinesiológicas do movimento humano se faz necessário para a formação do Licenciado em Educação Física? Cite e explique pelo menos dois motivos. 2)Como diferenciar variação anatômica e normal de anomalia? 3)Descreva a posição anatômica normalmente utilizada nos estudos anatômicos e cinesiológicos e explique o porquê de sua utilização. 4)Escolha um movimento e o descreva considerando os planos sagital mediano, frontal e transversal e todas as ações corporais envolvidas segundo exemplo a seguir, apresentado por Hamill e Knutzen (2012, p. 20): 19 Numa corrida (...) o membro inferior parece se movimentar predominantemente no plano sagital, enquanto os membros oscilam para frente e para trás ao longo do ciclo do passo. Com um exame mais cuidadoso dos membros e articulações, constataremos a ocorrência de movimentos em todos os planos. Nas articulações do quadril, por exemplo, a coxa realiza flexão e extensão no plano sagital, abdução e adução no plano frontal e rotação medial e lateral no plano transverso.