Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
I. MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS Fernanda Alvim Ribeiro de Oliveira1 SUMÁRIO: 1 – Introdução. 2 – Conceito de recurso. 3 – Classificação dos recursos. 3.1. Quanto ao reexame da matéria decidida: recurso total ou recurso parcial (art. 1.002). 3.2. Quanto aos motivos da impugnação. 3.3. Quanto aos efeitos dos recursos. 4 – Princípios recursais. 4.1. Princípio do duplo grau de jurisdição. 4.2. Princípio da taxatividade. Princípio da singularidade. 4.4. Princípio da dialeticidade. 4.5. Princípio da voluntariedade. 4.6. Princípio da vedação da reformatio in pejus. 5 – Juízo de admissibilidade e juízo de mérito dos recursos. 5.1. Objeto do juízo de admissibilidade: requisitos intrínsecos e requisitos extrínsecos. 6 – Principais efeitos dos recursos. 6.1. Efeito devolutivo. 6.2. Efeito suspensivo. 6.3. Efeito substitutivo. 6.4. Efeito regressivo. 1 – Introdução Os meios de impugnação das decisões judiciais estão previstos no Livro III da parte especial do Novo Código de Processo Civil, onde também se regula o trâmite processual nos tribunais. Os recursos são um dentre os meios que integram o sistema de impugnação das decisões judiciais, ao lado das ações autônomas de impugnação e dos chamados sucedâneos recursais. De modo sintético, pode-se dizer que os recursos têm previsão legal expressa e sua interposição se dá na mesma relação jurídica processual2 na qual foi proferida a decisão impugnada (arts. 994 e seguintes, NCPC). Já as ações autônomas de impugnação dão origem a um novo processo, cujo escopo será desconstituir ou modificar a decisão proferida em processo diverso, isso é, constituem nova relação jurídica processual (e.g. a ação rescisória, o mandado de segurança, os embargos de terceiro etc.).3 Os sucedâneos recursais, por sua vez, correspondem aos meios de impugnar decisões judiciais que não estão previstos no rol normativo de recursos, 1 Mestre em Direito pela UFMG. Advogada. Professora universitária. Membro do IBDP. 2 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. v. V, n. 137, p. 235-236). 3 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. 9. ed. Salvador: JusPodivm, 2011. v. 3 p. 26. tampouco geram nova relação jurídico-processual (e.g. pedido de reconsideração de decisões que permitam a retratação do julgador; pedido de suspensão da segurança do art. 15 da Lei 12.016/2009; na correição parcial presente nos regimentos internos dos tribunais e remessa necessária do art. 496 do NCPC).4 2 – Natureza e classificação dos recursos Na clássica definição de José Carlos Barbosa Moreira, recurso é “o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna”.5 A decomposição dos elementos dessa definição, permite uma boa compreensão do instituto. Ao se falar em remédio voluntário e idôneo, tem-se a alusão, no primeiro adjetivo, ao exercício do direito de ação (do qual o recurso é um desdobramento) e, no segundo, à necessidade que seja expressamente previsto em lei. A esses requisitos, deve se somar a necessidade de interposição por algum dos legitimados no art. 996 do NCPC.6 A necessidade de que seja veiculado no mesmo processo foi abordada no tópico anterior e serve, como visto, para distinguir o recurso das ações autônomas de impugnação. Os demais componentes referem-se aos pedidos passíveis de serem veiculados por meio dos recursos: reforma, invalidação, esclarecimento ou integração. A esse respeito, vale considerar que a reforma da decisão impugnada ocorre quando se busca obter novo pronunciamento, que implique em solução concreta diversa da contida no julgado atacado. A invalidação, por sua vez, consiste no pedido de reconhecimento de vício na decisão atacada de forma a cassá-la impondo que outra seja proferida em seu lugar, atendidas as condições de validade. Já o esclarecimento ou a integração da decisão ocorrem conforme exista respectivamente obscuridade ou contradição e omissão na decisão atacada. Nesse último caso (integração da decisão) não há o intuito de se obter novo julgamento da matéria decidida e nem tampouco a cassação da decisão, é tão somente o aperfeiçoamento da decisão objurgada por meio da eliminação da falta de clareza, esclarecimento eventual contradição ou integração em caso de omissão na avaliação de alguma questão suscitada no processo. 4 ASSIS, Araken de. Introdução aos sucedâneos recursais. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; NERY JR., Nelson (Coord.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos e de outros meios de impugnação às decisões judiciais. São Paulo: RT, 2002. v. 6, p.17-19; DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito processual civil, cit. p. 26. 5 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil, cit., n. 135, p. 207. 6 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. São Paulo: Método, 2010. p. 30. Inúmeras são as classificações existentes a respeito dos recursos, merecendo destaque as seguintes: 2.1. Quanto ao reexame da matéria decidida: recurso total ou recurso parcial (art. 1.002) A interposição de um recurso não necessariamente implica na obrigação de se impugnar todo o conteúdo de uma decisão. Daí o art. 1.002 do Novo Código de Processo Civil dispor que “a decisão pode ser impugnada no todo ou em parte”. Nessa ótica, fala-se em recurso total quando se ataca todo o conteúdo da decisão recorrida e em recurso parcial quando o recorrente não atacar todo o conteúdo da decisão, ou seja, quando o recorrente impugnar apenas parcela do que restou decidido. Se o recurso não identificar qual parte da decisão foi impugnada, será considerado como um recurso total. A matéria tem relevo para fins de formação da coisa julgada, pois o capítulo da sentença (decorrente do julgamento de pedidos cumulados) não impugnado no recurso passará em julgado e poderá, eventualmente, ser objeto de execução, ainda que haja recurso parcial quanto ao restante da decisão. Ou seja, a consequência do inconformismo parcial do recorrente será restringir as questões que serão trabalhadas pelo Tribunal àquelas objeto do recurso (tantum devolutum quantum appelatum). Isso porque a parte não atacada da sentença que abarque questões de mérito transita em julgado e tratando-se de questões processuais, será operada a preclusão. 2.2. Quanto aos motivos da impugnação Em relação aos motivos da impugnação, tem-se recursos de fundamentação livre e de fundamentação vinculada. Os primeiros são aqueles cujos argumentos e admissibilidade não se prendem a matérias especificadas pela lei; os segundos são aqueles admissíveis só para temas que se enquadrem na previsão legal de cabimento do recurso. A maior parte dos recursos permite impugnar e veicular qualquer matéria jurídica, de mérito ou de preliminar processual. A restrição acontece, por exemplo, nos embargos de declaração, adstritos à alegação de obscuridade, contradição, omissão ou erro material na decisão impugnada (cf art. 1.022 do NCPC) e nos recursos extraordinário e o especial, nos quais a parte deverá apontar afronta a norma de natureza constitucional ou lei federal, respectivamente (art. 102, III, da CF c/c o art. 105, III, da CF). 2.3. Quanto aos efeitos dos recursos Trata-se, aqui, de uma classificação preocupada com a eficácia da decisão objeto do recurso pendente. São suspensivos os recursos que impedem o início da execução do julgado, cujo exemplo típico é a apelação (art. 1.012 do NCPC). Não suspensivos são os recursosque admitem o processamento da execução da sentença ou decisão interlocutória impugnada enquanto ainda pendentes de julgamento. O agravo de instrumento, o recurso especial e o recurso extraordinário seriam exemplos, eis que não suspendem a eficácia da decisão recorrido, permitindo, portanto, o prosseguimento do feito por meio da execução. O Novo Código de Processo Civil, na linha de incentivo a uma política não suspensão da eficácia das decisões recorridas como regra geral, prevê que “os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso” (NCPC, art. 995) 3 – Princípios recursais São vários os princípios que se aplicam aos recursos do processo civil brasileiro, contudo, serão examinados adiante apenas os de maior destaque na doutrina, conforme detalhado a seguir. 3.1. Princípio do duplo grau de jurisdição Trata-se de princípio que justifica a própria existência do recurso, pois impõe a possibilidade de a parte submeter a controvérsia a outro órgão julgador, como forma de prevenir abusos de poder por parte de julgadores.7 A reconhecida falibilidade do ser humano impõe a cautela de se prevenir contra possíveis erros no âmbito dos julgamentos das questões submetidas ao poder judiciário. Para isso, há que se franquear à parte o questionamento de determinada decisão. O duplo grau, portanto, decorre da garantia do contraditório, que, além de seus aspectos tradicionais, compreende, sem dúvida, o direito de fiscalizar, controlar e criticar a decisão judicial. 3.2. Princípio da taxatividade Os recursos existentes são aqueles taxativamente previstos em lei federal. No atual Código de Processo Civil, o rol de recursos existentes consta do art. 994. Não é, 7 VEIGA, Pimenta da. Direito público brasileiro e análise da Constituição do Império. Rio de Janeiro, 1958, reimp. da ed., 1857. n. 470, p. 331. porém, um rol exaustivo, tendo em vista que outras leis também preveem recursos, criando modalidades próprias, além daquelas constantes do CPC (e.g. os embargos infringentes previstos no art. 34 da Lei 6.830/1980, que trata das execuções fiscais) 3.3. Princípio da singularidade O princípio da singularidade, unirrecorribilidade ou da unicidade dos recursos determina que, para cada decisão recorrível, haverá somente um único recurso admitido pelo ordenamento jurídico. Conquanto não haja menção expressa a esse princípio no Código de Processo Civil, pode-se dizer que foi este adotado implicitamente, já que, para cada espécie recursal se trouxe a previsão de um único recurso cabível (e.g: para a sentença, a apelação; para a decisão interlocutória, o agravo). Mesmo os embargos declaratórios não seriam exceção à unirrecorribilidade, considerando que a parte deverá valer-se, primeiro destes (art. 1.022 do NCPC), cuja oposição interromperá o prazo do outro recurso, e, só depois de julgados os embargos, manejar novo recurso. Ou seja, não serão recursos concomitantes ou simultâneos, mas, sim, sucessivos. A exceção que poderia ser levantada é a necessidade de simultânea interposição do recurso especial e do recurso extraordinário, para o Superior Tribunal de Justiça (questão federal) e para o Supremo Tribunal Federal (questão constitucional) contra a mesma decisão. Todavia, ainda que exista interposição simultânea, as questões atacadas em cada um dos recursos são distintas. De toda sorte, é a própria lei que excepciona a regra, permitindo a quebra do princípio da unirrecorribilidade.8 Mas, mesmo quando exista a previsão em lei (pluralidade de recursos contra uma só decisão) há que se verificar que as pretensões impugnativas são distintas e com objetivo próprio. 3.4. Princípio da dialeticidade Pelo princípio da dialeticidade, exige-se que, em todo recurso, o recorrente indique os motivos de fato e de direito pelos quais requer a modificação do julgado atacado.9 A dialeticidade se concretiza ao permitir que a parte contrária se contraponha por meio de contrarrazões, uma vez que a petição recursal desprovida das respectivas razões inviabilizaria eventual direito de defesa pois, somente ciente dos motivos pelos 8 MARQUES, José Frederico. Instituições de direito processual civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, v. IV, p. 55. 9 O Código se refere à necessidade da motivação do recurso nos seguintes dispositivos: art. 1.010, II e III, do NCPC; art. 1.016, II e III, do NCPC; art. 1.029, I e II, do NCPC etc. quais o recorrente intenta modificar a decisão, poderá o recorrido atacá-los. Trata-se, em verdade, de corolário do contraditório, já que este se impõe sobre todo o processo, assinalando-o profundamente pela dialeticidade. Ademais, a fundamentação faz-se necessária para que o próprio tribunal avalie o recurso, apreciando-lhe o mérito. Com efeito, o julgamento do recurso exige um cotejo entre os fundamentos da decisão impugnada e as razões do recurso. Nesse contexto, não sendo apresentada a fundamentação no recurso, ou seja, os argumentos pelos quais se pleiteia a reforma da decisão, não poderá o tribunal sequer conhecê-lo.10 Isso porque, para negar provimento a um recurso , o órgão ad quem terá que explicitar as razões pelas quais formou seu convencimento em sentido diverso do pretendido pelo recorrente, o que somente será possível mediante análise e resposta aos fundamentos anteriormente apresentados pelo recorrente. Tal princípio é de fundamental importância para a sistemática recursal do Novo Código de Processo Civil, que prevê como norma fundamental do direito processual civil a necessidade de que as decisões se revistam de fundamentação adequada, de modo a propiciar a efetiva participação das partes no processo, o que somente será possível caso conhecidas as razões recursais (arts. 10 e 11 do NCPC). 3.5. Princípio da voluntariedade A reapreciação da matéria existente na decisão impugnada requer a indispensável provocação da parte. Isto é, sem a formulação do recurso pela parte, não é possível que o tribunal o aprecie. Assim, transcorrido o prazo recursal, sem o manejo do respectivo recurso, ocorrerá a preclusão ou a coisa julgada da matéria. É por conta desse princípio que se a parte desistir do recurso, não poderá o tribunal prosseguir em sua avaliação (art. 998 do NCPC).11 3.6. Princípio da vedação da reformatio in pejus A parte não pode ter a sua situação piorada em virtude do seu próprio recurso. Quando apenas uma parte recorre, o tribunal ad quem somente poderá alterar a decisão impugnada de forma a não prejudicar o recorrente. Nesse sentido, agravar a situação do 10 BARBOSA MOREIRA. Juízo de admissibilidade no sistema dos recursos civis. Rev. da Proc.-Geral do Estado da Guanabara, Rio, v. 19, p. 170-172, 1968. 11 A exceção a essa regra será tão somente os casos de repercussão geral presentes no parágrafo único do art. 998 do NCPC, mas que não enseja uma apreciação e modificação do caso in concreto, servindo tão somente para os demais: “A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos”. recorrente sem que haja recurso da parte contrária, implica em decisão extra ou ultra petita, já que se teria ultrapassando o objeto do próprio pleito recursal. Existem, porém, questões de ordem pública (ex.: condições da ação, pressupostos processuais, coisa julgada, decadência etc.) que podem e devem ser conhecidas independentemente de provocação da parte, em qualquer fase ou grau de jurisdição.A decisão dessas questões não se sujeita à vedação da reformatio in pejus, pois podem ser apreciadas de ofício pelo tribunal, ainda que disso resulte prejuízo ao próprio recorrente. Há que se ressalvar, todavia, quanto à apreciação de questão de ordem pública, o respeito ao contraditório e à ampla defesa, os quais reclamam a prévia manifestação das partes sobre a matéria, para que, só então, o julgador se pronuncie (arts. 9.º e 10, NCPC). 4 – Juízo de admissibilidade e juízo de mérito dos recursos As pretensões deduzidas em juízo sujeitam-se a um duplo exame pela autoridade judicial: primeiro verifica-se a regularidade processual da postulação (juízo de admissibilidade) e, em um segundo momento a análise de seu conteúdo (juízo de mérito). O juízo de admissibilidade é, pois, o controle dos requisitos extrínsecos e intrínsecos de cabimento do recurso. Por conseguinte, o juízo de admissibilidade tem prioridade lógica sobre o juízo de mérito,12 ou seja, será sempre preliminar e determinante no exame ou não do mérito.13 4.1. Objeto do juízo de admissibilidade: requisitos intrínsecos e requisitos extrínsecos Os requisitos avaliados no juízo de admissibilidade do recurso se dividem em: (i) requisitos intrínsecos, que são os concernentes à própria existência do poder de recorrer, quais sejam, cabimento, legitimação, interesse e inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer; (ii) requisitos extrínsecos, relativos ao modo de exercício do direito de recorrer, quais sejam, preparo e regularidade formal.Cada um será objeto de análise nos tópicos seguintes. I- Cabimento 12 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. v. V, n. 144, p. 261. 13 DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito processual civil, cit., v. 3, p. 43. Para que um recurso seja considerado cabível é necessário que a decisão seja recorrível e que o recurso veiculado seja o correto. O art. 203 do Novo Código de Processo Civil determina que os pronunciamentos do juiz de primeiro grau consistem em “sentenças”, “decisões interlocutórias” e “despachos”. Ressalva, todavia, que apenas as sentenças e decisões serão recorríveis (arts. 1.009 e 1.015 do NCPC). Despachos que apenas impulsionam a marcha processual e que teoricamente, não prejudicam ou favorecem qualquer das partes, não o são (art. 1.001 do NCPC). Nas instâncias superiores serão recorríveis os acórdãos (art. 204 do NCPC) e as decisões singulares de relator (art. 1.021 do NCPC), nos casos previstos em lei. Quanto ao acerto do recurso, há que se observar se correto o recurso interposto de acordo com o Princípio da Taxatividade (os recursos e hipóteses de cabimento serão somente aqueles previstos em lei federal) e Singularidade (sempre haverá um único recurso cabível contra determinada decisão) anteriormente expostos. II- Legitimação (art. 996) Quanto aos legitimados a recorrer, não se verificam grandes alterações em relação ao atual art. 499 do CPC na medida em que, nos termos do art. 996 do Novo Código de Processo Civil, continuam ocupando o posto o vencido, o terceiro prejudicado e o Ministério Público. O Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no processo em que é parte, como naqueles em que oficiou como fiscal da lei (art. 996 do NCPC). Quanto ao terceiro, embora não seja vencido – não é parte no processo – pode vir a sofrer efetivos prejuízos em face da decisão. Isto se dá quando ocorre “o nexo de interdependência entre o seu interesse de intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial” (art. 996, parágrafo único, do NCPC). Dessa maneira, o terceiro que tem legitimidade para recorrer é aquele que poderia ter ingressado no processo como assistente ou litisconsorte e não o fez. Ou seja, o recurso de terceiro prejudicado é forma interventiva em grau de recurso, uma assistência na fase recursal (já que no mérito, o terceiro não pleiteará decisão a seu favor e sim em benefício da parte que lhe seja interessante vencer pois é “a vitória do assistido que beneficia indiretamente o assistente”).14 O prazo para recorrer desse terceiro prejudicado será o mesmo da parte a que ele assiste. O termo inicial do prazo será fixado pela data da intimação da parte assistida. Novidade prevista no parágrafo único do art. 996 do NCPC consiste em regra processual que atribui legitimidade recursal ao substituto do terceiro prejudicado como 14 ARAGÃO, Moniz de. Parecer. Revista Forense, v. 251, p. 164, ago.-set. 1975; BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Direito processual civil. Rio de Janeiro: Borsoi, 1971. p. 25. apto a participar da demanda. Exemplos desses substitutos processuais do “terceiro prejudicado” seriam sindicatos, partidos políticos etc.15 III- Interesse recursal O interesse recursal relaciona-se com o interesse de agir (condição da ação). Possui interesse em recorrer a parte que demonstre ser o seu recurso útil e necessário. A utilidade significa que o recurso deve propiciar algum proveito ao recorrente, deve ser apto a melhorar a situação do recorrente do ponto de vista prático. Já a necessidade determina que tal proveito somente possa ser alcançado por meio da via recursal. Costuma-se relacionar o interesse recursal à existência de sucumbência. De certo que o vencido, no todo ou em parte, tem interesse para interpor recurso. De igual modo, em existindo sucumbência recíproca estariam ambas as partes legitimadas para recorrer. Então é correto afirmar-se que se o sujeito sucumbe há interesse recursal. Contudo, é de se observar que pode não haver sucumbência e ainda assim haver interesse recursal. Observe-se, por exemplo que, um terceiro pode recorrer ainda que não tenha sucumbido. Isso porque, embora não seja vencido, por não ser parte no processo, pode vir a sofrer prejuízo em decorrência da sentença. Isto ocorre em virtude do nexo de interdependência entre o seu interesse de intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial. Assim, para que um terceiro interfira no processo por meio de um recurso, é necessário demonstrar prejuízo em decorrência da sentença, a partir de uma relação jurídica com o vencido. Seu interesse para recorrer portanto, não adviria da sucumbência e sim do nexo existente entre as duas relações jurídicas. Outra hipótese seria aquela do réu que, diante de uma sentença terminativa, não sucumbe, porém, tem interesse recursal para que o Tribunal julgue o mérito da causa para que não venha novamente a ser importunado com nova demanda sobre tema idêntico. 15 A este respeito assevera Gaio Junior: “Em sintonia com o próprio sistema recursal que condiciona o interesse jurídico como fundamental para se intervir em uma relação jurídica processual, o parágrafo único do art. 1.009 do PL 8.046/2010, expressa em bom sentido, dita possibilidade interventiva recursal, inclusive, estendendo-a a hipóteses não somente relativas a um terceiro prejudicado como titular do direito, como também a um possível substituto processual do referido ‘terceiro prejudicado’ apto a participar da demanda enquanto tal, conforme se observa em situações triviais – v.g., sindicatos, partidos políticos etc. (...)” (GAIO JÚNIOR, Antônio Pereira. Teoria geral dos recursos: breve análise e atualizações à luz do PL 8.046/2010). IV- Inexistência Fatos impeditivos e extintivos do direito de recorrer (arts. 998,999 e 1.000) Trata-se, aqui, de fatos que impedem o direito de recorrer. Daí serem chamados de “pressupostos negativos”, já que, caso existam,o recurso não será conhecido. São eles: a) desistência: ocorre quando interposto o recurso, a parte venha a se manifestar posteriormente requerendo que não seja submetido a julgamento. A desistência do recurso pressupõe que o recurso tenha sido interposto. É exercitável a qualquer tempo e não depende de anuência do recorrido ou dos litisconsortes nos termos do art. 998 do NCPC. A desistência deve ser requerida em petição; b) renúncia: ocorre quando a parte vencida previamente manifesta-se previamente abrindo mão do seu direito de recorrer. Refere-se, portanto, à renúncia expressa, que se traduz em manifestação de vontade da parte, antes de esgotado o prazo hábil para recorrer. Enquanto a desistência é posterior à interposição do recurso, a renúncia é prévia. O Novo Código de Processo Civil estatui que a renúncia ao direito de recorrer também independe da aceitação da outra parte (art. 999 do NCPC). A renúncia pode ser manifestada em petição ou oralmente em audiência. A lei não exige forma especial; c) aceitação expressa ou tácita da sentença: a parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá recorrer. É expressa a aceitação em qualquer manifestação direcionada ao julgador ou à parte contrária. “Considera-se aceitação tácita a prática, sem reserva alguma, de um ato incompatível com a vontade de recorrer” (art. 1.000, parágrafo único, do NCPC). A aceitação pode ser anterior ou posterior à interposição do recurso. Com a aceitação dá-se o imediato trânsito em julgado da sentença. V- Tempestividade do recurso (arts. 1.003 e 1.004) O recurso deve ser interposto no prazo legalmente previsto. Transcorrido o prazo estipulado pela lei, torna-se precluso o direito de recorrer. Trata-se de prazo peremptório, insuscetível de dilação convencional pelas partes (art. 223 do NCPC). O art. 1.003, § 5.º, do NCPC determina que “excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-lhes é de 15 (quinze) dias”. Ou seja, no regime proposto pelo Novo Código, apenas os embargos de declaração dispõem de prazo menor, prevalecendo o prazo comum de quinze dias para as demais espécies recursais.16 Cada espécie de recurso tem um prazo determinado para o manejo, idêntico e comum para ambas as partes. Por exceção, concede-se à Fazenda Pública e ao Ministério Público o prazo em dobro para recorrer (art. 183 do NCPC). Continuará ainda a contagem em dobro do prazo, quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos (art. 229 do NCPC). A contagem em dobro do prazo para recorrer não se aplicará, porém, se havendo apenas dois réus, for oferecida defesa por apenas um deles por razões óbvias que não justificam a contagem do prazo em dobro (art. 229, § 1.º, do NCPC). Nos termos do art. 1.003 do NCPC, o prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público forem intimados da decisão. Contudo, da decisão proferida em audiência, serão considerados intimados a partir dessa data. Há, ainda, previsão expressa no sentido de que a tempestividade de recursos remetidos pelo correio será aferida pela data de postagem (art. 1.003 §4º do NCPC), ainda que, com a existência hoje do processo eletrônico, tornem-se cada vez mais raros. Por fim, chama-se a atenção para o regramento de interrupção de prazo constante no art. 1.004 do NCPC: “se, durante o prazo para a interposição do recurso, sobrevier o falecimento da parte ou de seu advogado ou ocorrer motivo de força maior que suspenda o curso do processo, será tal prazo restituído em proveito da parte, do herdeiro ou do sucessor, contra quem começará a correr novamente depois da intimação”. Note que a redação do artigo enuncia “durante o prazo para a interposição do recurso”, ou seja, exige que o fato ocorra dentro do prazo de recurso para que seja justificável a interrupção. Nesse caso, o interessado deverá provar a ocorrência do fato, para que o julgador possa, apreciando o pedido, restituir-lhe o prazo recursal, que voltará a ser computado a partir da intimação que acolhe a arguição de interrupção. VI- Preparo (art. 1.007) Preparo é o pagamento das despesas relacionadas ao processamento de um recurso. Essas despesas são de duas ordens: pagam-se as custas e as despesas postais.17 No ato de interposição do recurso, o recorrente deverá comprová-lo, quando exigido 16 Uma novidade relevante do CPC projetado diz respeito à forma de contar os prazos processuais, que não mais será por dias corridos, mas sim, por dias úteis (art. 219). 17 Pelo novo regramento é dispensado o recolhimento do porte de remessa e de retorno no processo em autos eletrônicos (art. 1.007, § 3.º, do NCPC). pela legislação pertinente, sob pena de deserção (art. 1.007 do NCPC). Contudo, a ausência ou insuficiência do recolhimento do preparo não geram a deserção automática (inadmissão do recurso por ausência de preparo): a) a insuficiência no valor do preparo, enseja a intimação do recorrente para supri-lo no prazo de cinco dias. Apenas se não cumprir tal determinação é que o recurso será julgado deserto (art. 1.007, § 2.º, do NCPC); b) a ausência no recolhimento do preparo enseja o seu recolhimento em dobro, também sob pena de deserção (art. 1.007, § 4.º, do NCPC). Nesse caso, é vedada a complementação em caso de insuficiência parcial do preparo. Uma vez aplicada a pena de deserção, caso prove o recorrente justo impedimento para o seu recolhimento, o relator relevará a pena por decisão irrecorrível, fixando ao recorrente o prazo de cinco dias para efetuar o preparo (art. 1.007, § 6.º, do NCPC). Importante novidade trazida pelo novo regramento foi no sentido de que eventuais equívocos no preenchimento da guia de custas não implicarão a aplicação da pena de deserção imediata, cabendo ao relator, na hipótese de dúvida quanto ao recolhimento, intimar o recorrente para sanar o vício no prazo de cinco dias (art. 1.007, § 7.º, do NCPC). Por fim, prevê a lei que são dispensados do recolhimento do preparo os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos Municípios, e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal. VII- Regularidade formal Autor e réu devem ofertar seus recursos mediante petição subscrita por advogado18, na qual, obrigatoriamente, deverão constar o pedido e os fundamentos que o sustentam. A petição recursal deve, pois, conter pedido expresso de nova decisão, de cassação ou integração/esclarecimento da decisão recorrida, sob pena de inépcia, haja vista que a jurisdição só atua quando provocada pela parte e nos limites por ela conferidos (salvo casos que envolvam matéria de ordem pública). As razões do recurso devem, também, ser fundamentadas de modo completo, permitindo que a outra parte possa compreender e, eventualmente, se contrapor a elas 18 Mesmo nos Juizados Especiais, onde a ação pode ser proposta sem a assistência de advogado, quando se trata de impugnar a sentença o recurso obrigatoriamente terá de ser subscrito por advogado legalmente habilitado (Lei 9.099/1995). meio das contrarrazões (princípio da dialeticidade dos recursos), como consectário natural da aplicação do princípio do contraditório e da ampla defesa na esfera recursal. 5 – Principais efeitos dos recursos 5.1. Efeito devolutivo Os recursos obstam a imediata ocorrência da preclusão ou o trânsito em julgado da decisão. Trata-se do chamado efeito devolutivo, o qual permite que a questão decididaseja reapreciado, em rega, por órgão judicial distinto, ou, como ocorre no recurso de embargos de declaração, pelo próprio juízo prolator da decisão. Logo, todo recurso tem o efeito devolutivo, variando-se apenas sua extensão e profundidade. Em outros termos, é inerente à lógica do sistema recursal a possibilidade de rejulgamento da causa, ainda que parcialmente. A extensão do efeito devolutivo (ou sua dimensão horizontal) delimita a matéria que será devolvida ao tribunal para nova decisão, ou seja, determina o que o juízo ad quem poderá julgar. A rigor, cabe ao recorrente determinar a extensão do efeito devolutivo de seu recurso. Trata-se da aplicação da máxima tantum devolutum quantum appellatum, refletida na norma do art. 1.013 do NCPC: “a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada”. Daí dizer-se que a extensão do efeito devolutivo segue o modelo dispositivo, já que depende de provocação do recorrente (qual a área, a extensão do recurso). Já profundidade do efeito devolutivo (dimensão vertical) delimita as questões com as quais o juízo ad quem trabalhará para decidir o que foi devolvido. O tribunal, ao apreciar os capítulos impugnados, deverá examinar uma série de outras questões chamadas incidentes, indispensáveis à compreensão do pedido. São as alegações, fundamentos e questões referentes à matéria devolvida (art. 1.013, §§ 1.º e 2.º, do NCPC). 5.2. Efeito suspensivo O efeito suspensivo prolonga a ineficácia da decisão recorrida, isso é, impede que haja a execução do julgado durante a tramitação do recurso. O Novo Código de Processo Civil segue, em regra, a executividade imediata das decisões recorridas (art. 992 do NCPC), sendo excepcionais os casos de recursos dotados de efeito suspensivo (como a apelação prevista no art. 1.012 do NCPC). Contudo, o relator do recurso poderá sempre suspender a eficácia da decisão recorrida, quando sua imediata execução puder acarretar risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e for provável o provimento do pleito recursal (art. 992, parágrafo único, do NCPC). 5.3. Efeito substitutivo Uma vez julgado o recurso, a nova decisão proferida substitui a decisão recorrida, nos limites da impugnação feita pelo recorrente. É a última decisão, relativa ao julgamento do recurso, a que prevalecerá. Nesse sentido, o art. 1.008 do Novo Código de Processo Civil determina que “o julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver sido objeto de recurso”. Trata-se do efeito substitutivo, existente em todos os recursos. Todavia, para que se opere a substituição, o recurso precisa ser conhecido e enfrentar, ao menos em parte, o mérito da causa. Decisões de inadmissão de recurso ou anulação do julgado recorrido não substituem a decisão originária. Porém, mesmo se não provido o recurso, haverá a incidência do efeito substitutivo. 5.4. Efeito regressivo O efeito regressivo permite que a causa retorne à avaliação do próprio órgão prolator da decisão. Trata-se do juízo de retratação por quem proferiu a decisão, previsto em algumas situações, a exemplo do que ocorre no recurso de agravo (art. 1.018, § 1.º, do NCPC) e nos casos de apelação contra indeferimento da petição inicial (art. 331 do NCPC) e contra julgamento de improcedência liminar do pedido (art. 332, § 3.º, do NCPC). II. RECURSOS EM ESPÉCIE: APELAÇÃO Fernanda Alvim Ribeiro de Oliveira19 SUMÁRIO: 1 – Introdução. 2 – Cabimento (art. 1.009). 3 – Interposição e processamento da apelação (art. 1.010). 4 – Procedimento no segundo grau de jurisdição (art. 1.011). 5 – Efeitos do recurso de apelação (arts. 1.012 e 1.013 §§1º e 2º). 6 – Teoria da Causa Madura (art. 1.013 §§ 3º e 4º) 7 – Novas questões de fato (art. 1.014). 1. Introdução O Novo Código de Processo Civil promoveu alterações em relação às espécies recursais previstas no art. 496 do CPC de 1973. Houve redução do número de recursos existentes considerando-se que (art. 994 do NCPC): o agravo retido e o recurso de embargos infringentes foram retirados do rol de espécies recursais. Ademais, o agravo de instrumento, consoante será demonstrado, sofreu singelas, mas significativas, alterações. Vejamos cada uma das espécies recursais constantes no novo CPC, iniciando- se pelo recurso de apelação. 2. Cabimento (art. 1.009) A apelação continua a ser o recurso cabível contra as sentenças20 no Novo Código de Processo Civil, pouco importando a espécie de procedimento (art. 1.009 do NCPC),21 ou o fato de haver ou não resolução do mérito. Qualquer matéria constante na sentença (ainda que uma das hipóteses elencadas no artigo 1.015, será atacável por meio de apelação). 19 Mestre em Direito pela UFMG. Advogada. Professora Universitária. Membro do IBDP. 20 O artigo 203, §1º do NCPC determina que sentença “é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução” 21 Art. 1.009. Da sentença cabe apelação. “No Código anterior, os recursos variavam: da sentença terminativa cabia agravo de petição, e da sentença definitiva, apelação. O Código Buzaid, em seu texto originário, unificou os conceitos de sentença e de recurso cabível. Se se põe termo ao processo, haja ou não decisão do mérito, o caso será sempre de sentença (ART. 162, §1º). E o recurso interponível também será sempre um só: o de apelação (art. 513)” in THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. Vol I, Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 615. Há ainda que se considerar um novo caso de cabimento do recurso de apelação. Como o NCPC aboliu a figura do agravo retido (interposto em face de decisão interlocutória proferida pelo juiz de primeiro grau), decisões que não sejam atacáveis por agravo de instrumento - por não constarem expressamente no rol do artigo 1.015 – deverão ser impugnadas em preliminar de apelação ou nas contrarrazões (art. 1.009, § 1º). Ou seja, não mais será necessário interpor o recurso de agravo retido para evitar a preclusão da referida decisão interlocutória que somente ocorrerá caso não impugnada a matéria em preliminar do recurso de apelação. E, uma vez arguida a matéria em preliminar de apelação, a parte contrária será intimada para contrarrazoar todo o recurso. Contudo, sendo a sentença favorável á parte prejudicada pela decisão interlocutória, a impugnação poderá ocorrer em sede de contrarrazões de eventual apelação interposta pela parte contrária. E, para cumprir-se o contraditório, sendo a matéria suscitada em preliminar de contrarrazões, o apelante será intimado para, em quinze dias, manifestar- se a respeito (art. 1.009, § 2º). Note que, nesse caso, o vencedor interporá recurso eventual e subordinado que só será apreciado caso o recurso do vencido tenha condições de ser provido e reformar a sentença. Assim, teriam os julgadores de efetuar o prévio exame das preliminares suscitadas nas contrarrazões da parte vencedora em primeiro grau antes de julgar a pretensão do apelante. 3. Interposição e processamento da apelação (art. 1.010) A apelação é um recurso interposto perante o primeiro grau de jurisdição. Os requisitos da legislação anterior foram mantidos (art. 1.010 do NCPC) e, assim, o recurso deverá ser apresentado por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, contendo: a) os nomes e a qualificação das partes, b) a exposição do fato e do direito; c) as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade; d) o pedido de nova decisão. O pedido de nova decisão formulado na apelação pode referir-se a um novo pronunciamento demérito favorável ao apelante, ou apenas à invalidação da sentença por nulidade. Documentos, em regra, só poderão acompanhar a petição da apelação, ou suas contrarrazões, quando se destinarem a provar fatos novos, dentro da exceção permitida pelo 1.014 do NCPC. Não são admitidos documentos que se refiram a fatos já alegados perante o órgão a quo, eis que deveriam ter sido acostados aos autos pelas partes nas oportunidades próprias (arts. 434 e 435 do NCPC). A regra, contudo, não se aplica ao recurso do terceiro prejudicado. Não tendo sido parte no processo e, portanto, sem a oportunidade anterior de produzir prova, o terceiro poderá instruir seu recurso com os documentos necessários. Interposto o recurso, o apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias e, logo em seguida, os autos serão remetidos ao tribunal (art. 1.010 §§1º e 3º do NCPC). Verifica-se, aqui, uma importante alteração: suprimiu-se o primeiro juízo de admissibilidade do recurso, até então efetuado pelo órgão prolator da decisão. Assim, nos termos do novo regramento, recebido o recurso, o juiz deverá tão somente intimar o apelado para apresentar contrarrazões no prazo de quinze dias, após o qual os autos serão necessariamente remetidos ao tribunal. A avaliação acerca do preenchimento dos requisitos de admissibilidade do recurso, portanto, passa a ser efetuada tão somente pelo Tribunal ad quem. 4. Procedimento no segundo grau de jurisdição (art. 1.011) A competência funcional para julgar o recurso de apelação é da câmara ou turma do tribunal, por voto de três de seus juízes, que formam a denominada “turma julgadora” (art. 941 §2º). Contudo, existem hipóteses que autorizam ao relator, ao receber o recurso, decidi-lo monocraticamente. Tais casos encontram-se listados no art. 932, incisos III a V do NCPC e foram abordados no tópico atinente à ordem dos processos nos tribunais. É de se destacar que o Novo Código de Processo Civil ampliou de maneira considerável a competência do relator para julgar os recursos por decisão monocrática (art. 932 do NCPC). Contra a decisão monocrática do relator caberá agravo interno cuja finalidade será insistir-se na obtenção do pronunciamento do colegiado do tribunal (art.1.021 do NCPC). Contudo, tal postura, se descabida, ensejará o risco de ampliação da verba advocatícia sucumbencial (art. 85, §§ 1º e 11º do NCPC). Ademais, poderá ainda a parte sofrer sanções por litigância de má-fé, caso a demanda seja inadmitida ou improvida à unanimidade (art. 1.021 §4º do NCPC). Não sendo caso de julgamento monocrático do processo, caberá ao relator elaborar o voto para julgamento do recurso pelo órgão colegiado. Em seguida, restituirá o processo à secretaria acompanhado de relatório, para inclusão na pauta de julgamento. Foi extinta a figura do revisor na apelação (art. 551 do CPC/1973), de modo que os demais julgadores somente terão ciência prévia do recurso antes da sessão de julgamento. 5. Efeitos do recurso de apelação (arts. 1.012 e 1.013 §§1º e 2º) O artigo 1.012 do NCPC manteve o efeito suspensivo como regra geral do recurso de apelação. Assim, interposto o recurso restarão suspensos os efeitos da sentença, seja esta condenatória, declaratória ou constitutiva. Algumas sentenças, contudo, representam exceções ao efeito suspensivo. Muitas já vinham previstas no artigo 520 do CPC de 1973 e foram mantidas pelo novo regramento. Foram feitas, porém, novas inserções: não haverá efeito suspensivo na apelação interposta em razão da sentença que concede ou revoga tutela provisória (já que a atual previsão legal é tão somente para os casos que confirmem os efeitos da tutela antecipada de mérito). Há ainda menção à sentença que decreta a interdição que, apesar de incluída como exceção no regramento geral do artigo 1.012, já vinha prevista no artigo 1.184 do CPC de 1973. Nesses casos, o apelado poderá formular o pedido de cumprimento provisório depois de publicada a sentença (art. 1.012, §2º). De todo modo, nos casos de apelações interpostas contra sentenças desprovidas de efeito suspensivo, será possível formular pedido de suspensão dos efeitos da decisão por requerimento dirigido: ao tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição (ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la); ao relator, se já distribuída a apelação. Nesse caso, poderão ser suspensos os efeitos da decisão se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação. O efeito devolutivo do recurso de apelação encontra-se enunciado no artigo 1.013 do NCPC: “a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada”. Trata-se da dimensão horizontal ou extensão do efeito devolutivo que determina que, em seu julgamento, o acórdão deverá se limitar a acolher ou rejeitar o que lhe for requerido pelo apelante (por exemplo: se se requereu a reforma parcial, não poderá haver a reforma total). Também serão objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado. Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais (artigo 1.013 §§1º e 2º do NCPC). Trata-se da dimensão vertical ou profundidade do efeito devolutivo da apelação. Tal disposição permite que sejam abarcados pelo recurso os antecedentes lógico-jurídicos da decisão impugnada, de maneira que, fixada a extensão do objeto do recurso pelo requerimento formulado pela parte apelante, todas as questões suscitadas no processo que podem interferir em seu acolhimento/rejeição terão de ser apreciadas pelo tribunal. Em vista do exposto, qualquer que seja o pedido do recorrente, terá sempre o tribunal possibilidade de examinar as questões relacionadas aos pressupostos processuais e às condições da ação, visto que são matérias de ordem pública condicionadoras da formação e desenvolvimento válidos do processo. Ademais, também em razão do efeito devolutivo, quanto à multiplicidade de fundamentos para o pedido, tendo o juiz acolhido apenas um deles, impugnada a sentença em apelação, o tribunal poderá reconhecer a procedência do apelo quanto ao fundamento da sentença, mas deixar de dar-lhe provimento, se a matéria não acolhida pelo juiz de primeiro grau (leia-se demais fundamentos) apresentar-se suficiente para assegurar a procedência da ação. O mesmo pode acontecer se a defesa se fundar em múltiplas razões e seja acolhida em face de apenas uma delas. 6. Teoria da Causa Madura (art. 1.013, §§ 3º e 4º) A Teoria da Causa Madura inserida no parágrafo terceiro do art. 515 do CPC de 1973 permite que, em caso de procedência de apelações interpostas contra sentenças terminativas, possa o tribunal julgar o mérito da causa, desde que satisfeitos dois requisitos: a) se a causa versar sobre questão exclusivamente de direito; e b) o feito estiver em condições de imediato julgamento. Não é, portanto, a simples circunstância de envolver o mérito da causa questão unicamente de direito que autoriza o julgamento, mas também a necessidade de cumprir o contraditório, permitindo-se o debate amplo em primeiro grau entre os litigantes. Destaque-se que, pela redação constante no art. 1.013, §3º do NCPC, outras razões autorizam que o tribunal adentre o julgamento de mérito da causa independente de se tratar exclusivamente de sentença terminativa. Nessa hipótese, o Tribunal poderá julgar o mérito da ação - estando a causa em condições de julgamento (madura) - seja quando modifique sentenças terminativas(hipótese atual), como também para o julgamento de questões atinentes à sentenças citra ou ultra petita ou ainda para casos de error in procedendo, em virtude de falta de fundamentação da decisão. Pelo regramento do CPC/1973, para essas três últimas hipóteses, o processo haveria necessariamente de retornar à primeira instância para que fosse proferido novo julgamento. Por certo, mais uma vez, o legislador primou pela celeridade processual e pela efetividade na prestação da tutela jurisdicional de forma a reduzir os maléficos efeitos ocasionados pelo tempo de duração dos processos. Permitiu assim, que avance o tribunal no julgamento de mérito da questão. Seguindo essa mesma linha de efetividade processual, definiu ainda o artigo 1.013, §4º do NCPC que, acolhido o recurso de apelação interposto para reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, poderá o tribunal, sendo possível, julgar o mérito processual, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau. No caso em apreço, deverá ser respeitado o contraditório, e ocorrer tão somente se a causa estiver em condições de julgamento. 7. Novas questões de fato (art. 1.014) Por fim, há que se consignar que, conforme ocorre atualmente, eventuais questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser suscitadas na apelação, desde que a parte comprove que deixou de fazê-lo por motivo de força maior (art. 1.014 do NCPC). No tocante aos fatos supervenientes, deve ser ainda observado o artigo 933 do NCPC: se o relator constatar a ocorrência de fato superveniente à decisão recorrida ou a existência de questão apreciável de ofício ainda não examinada que devam ser considerados no julgamento do recurso, intimará as partes para que se manifestem no prazo de 5 (cinco) dias. Se a constatação ocorrer durante a sessão de julgamento, esse será imediatamente suspenso a fim de que as partes se manifestem especificamente. Se a constatação se der em vista dos autos, deverá o juiz que a solicitou encaminhá-los ao relator, que determinará a intimação das partes para se pronunciarem e, em seguida, solicitará a inclusão do feito em pauta para prosseguimento do julgamento, com submissão integral da nova questão aos julgadores (artigo 933 §§1º e 2º do NCPC). III. RECURSOS EM ESPÉCIE: AGRAVO DE INSTRUMENTO Fernanda Alvim Ribeiro de Oliveira22 SUMÁRIO: 1 – Cabimento (art. 1.015). 2 – Procedimento do recurso (arts. 1.016 a 1.019). 3 – 3. Aspectos formais do recurso. 4 – Prazo para interposição (arts. 1.003 §5º c/c 1.019, II). 5 – Efeitos do recurso. 1. Cabimento (art. 1.015) Agravo é o recurso cabível contra as decisões interlocutórias (art. 1.015 do NCPC). Este foi o recurso que mais sofreu modificações com a entrada do Novo Código de Processo Civil. O legislador retirou o agravo na forma retida como espécie recursal e delimitou as hipóteses de cabimento do agravo por instrumento. Ou seja, o NCPC, ao invés de prever um regramento geral condicionando o cabimento às hipóteses de dano grave ou de difícil reparação, passou a enunciar um rol de decisões interlocutórias cujo conteúdo passará a ser atacável por meio deste recurso. Assim, caberá agravo de instrumento contra decisão interlocutória que contenha qualquer das matérias previstas no artigo 1.015 do Novo Código. Ou seja, o que se verifica é uma enumeração casuística que tenta antever as hipóteses em que seja exigível a utilização deste recurso. Aquelas que não constam dessa lista deverão ser questionadas em sede de preliminar de apelação ou contrarrazões de apelação. Será, portanto, cabível, o recurso de agravo de instrumento contra decisão que verse sobre: (a) tutelas provisórias (inciso I); (b) mérito do processo (inciso II)23; (c) rejeição da alegação de convenção de arbitragem (inciso III); (d) incidente de desconsideração da personalidade jurídica (inciso IV); (e) rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação (inciso V); (f) exibição ou posse de documento ou coisa (inciso VI); (g) exclusão de litisconsorte (inciso VII); 22 Mestre em Direito pela UFMG. Advogada. Professora Universitária. Membro do IBDP. 23 Artigos 355 e 356 do Novo Regramento: “O NCPC admite o julgamento parcial, ainda que de mérito. No CPC/1973 não se consagrava, como regra no modelo de processo, o julgamento parcial do mérito, sendo esse excepcional na hipótese de acolhimento da prescrição/decadência parcial da pretensão ou do acolhimento do pedido incontroverso também quanto a um ou alguns dos pedidos cumulados” vide capítulo sentença. (h) rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio (inciso VIII); (i) admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros (inciso IX); (j) concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução (inciso X); (k) redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º (inciso XI); (l) outros casos expressamente referidos em lei (inciso XIII); Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário tendo em vista que em tais procedimentos é indispensável que ocorra a reavaliação imediata da decisão pelo provável gravame que ocasionam (art. 1.015 parágrafo único do NCPC). Por fim, há previsão para cabimento do recurso de agravo de instrumento, se o processo estiver em primeiro grau, contra a decisão que resolver o requerimento de prosseguimento do processo nos casos em que tenha sido sobrestado quando da interposição do recurso especial ou extraordinário desde que demonstrada a distinção entre a questão submetida e questão afetada à apreciação (art. 1.037, §13º, I do NCPC). 2. Procedimento do recurso (arts. 1.016 a 1.019) O processamento do recurso continua o mesmo: o agravo de instrumento será veiculado por meio de petição dirigida diretamente ao tribunal competente, contendo os nomes das partes, a exposição do fato e do direito, as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido, o nome e o endereço completo dos advogados constantes do processo (art. 1.016 do NCPC). O protocolo poderá ser: realizado diretamente no tribunal competente para julgá-lo ou, o que é novidade, na própria comarca, seção ou subseção judiciárias (conforme normas de organização judiciárias). Há previsão assim da existência de um protocolo integrado entre primeiro e segundo graus para fins de interposição de agravo de instrumento. Poderá ainda ser efetuado por postagem, sob registro, com aviso de recebimento ou por transmissão de dados tipo fac-símile, nos termos da lei (ressalvadas outras hipóteses previstas em lei - art. 1.017 §2º). Lei especial poderá ainda prever outras formas de protocolo. Com exceção dos processos que tramitem pela forma eletrônica, a petição de agravo de instrumento deverá ser instruída com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a decisão agravada (que são novidades em relação ao regramento anterior), além da decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a sua tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado (art. 1.017, I do NCPC). Facultativamente, outras peças que o agravante reputar úteis poderão ser inseridas no instrumento. Na falta de qualquer desses documentos poderá o advogado declarar sua inexistência, sob pena de responsabilização pessoal (art. 1.017, I e II do NCPC). Dessa forma, não há necessidade de que seja extraída certidão no cartório para atestar a ausência de documentonecessário que não conste no instrumento. Existem autores que defendem que tal declaração seria, inclusive, mais uma peça obrigatória na interposição do agravo de instrumento, cuja ausência ensejaria sua inadmissão24. Sendo eletrônicos os autos do processo, como o julgador terá acesso à totalidade dos autos, a lei dispensa a juntada das peças obrigatórias e da declaração de inexistência de documentos, ressalvando ao agravante a possibilidade de anexar outros documentos que entender úteis para a compreensão da controvérsia (art. 1.017 §5º do NCPC). Aplicando-se a mesma lógica, estarão ainda dispensadas as peças facultativas a que alude o inciso III, devendo o agravante tão somente fazer menção às páginas no processo já que a consulta poderá ser feita pelo Tribunal quando do julgamento do recurso. Acompanhará a petição do recurso o comprovante do pagamento das respectivas custas e do porte de retorno, quando devidos, conforme tabela publicada pelos tribunais (art. 1.017 §1º do NCPC). Para processos físicos, será indispensável ao recorrente, no prazo de três dias requerer a juntada, aos autos do processo em primeira instância, de cópia da petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação dos documentos que instruíram o recurso - atualmente conhecida como petição do artigo 526 – sob pena de inadmissibilidade do agravo. A hipótese estará dispensada para autos eletrônicos. De todo modo, em quaisquer dos casos, remanesce a previsão de efeito regressivo do recurso de agravo, permitindo ao juiz que prolatou a decisão retratar-se comunicando o fato ao relator (art. 1.018 do NCPC). Uma vez recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído imediatamente, se não for o caso de julgamento monocrático previsto no art. 932, III a IV do NCPC, o relator, no prazo de 5 (cinco) dias, avaliará atribuição de eventual efeito suspensivo ao recurso, comunicando ao juiz sua decisão. Após, abrirá prazo para contrarrazões, determinará a intimação do Ministério Público para que se manifeste em 15 (quinze) dias sendo hipótese de sua intervenção e, por fim, solicitará dia para julgamento em prazo não superior a um mês da intimação do agravado (art. 1.019 c/c art. 1.020 do NCPC). 3. Aspectos formais do recurso 24 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 7ª ed., São Paulo: Método, 2015, 2015, p.779. As maiores e mais importantes alterações promovidas no recurso de agravo referem-se a seus aspectos formais. Foram inseridas diversas normas visando evitar que o recurso não seja admitido em virtude de irregularidades ou defeitos formais, seja na formação do instrumento, seja no que toca à sua interposição. Nesse sentido, o NCPC trouxe as seguintes novidades: a) na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de algum outro vício que comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento, o recurso não será inadmitido de imediato25. Nesse caso, será conferido o prazo de cinco dias para a parte sanar o vício26. b) se o recurso for interposto por sistema de transmissão de dados tipo fac- símile ou similar, as peças somente deverão ser juntadas no momento de protocolo da petição original, evitando-se assim que eventuais defeitos na transmissão dos documentos sejam motivos para a inadmissão dos recursos (por faltarem peças na formação do instrumento). Tal entendimento já vinha sendo adotado pelo Superior Tribunal de Justiça. c) a petição atualmente prevista no artigo 526 do CPC de 1973 (comprovação da interposição do agravo em primeira instância) não será obrigatória para processos eletrônicos27. Assim, considerando-se que em um futuro próximo todos os processos passarão a ser processados eletronicamente, tal petição será uma faculdade da parte para que o magistrado a quo exerça o juízo de retratação restando a obrigatoriedade apenas para processos físicos cujo descumprimento acarretará a inadmissibilidade do recurso (desde que alegado e comprovado pela agravado)28. 4. Prazo para interposição (arts. 1.003 §5º c/c 1.019, II) 25 Note-se que o dispositivo legal impõe a intimação do agravante para a juntada das peças obrigatórias nos termos do art. 932, parágrafo único do NCPC o que torna a norma aplicável também, por uma interpretação lógica, para a falta de peças que a lei considere facultativas, mas que o relator julgue necessárias para a compreensão da causa, evitando que o recurso venha a ser inadmitido por má-formação do instrumento. Tal norma visa a evitar o não conhecimento do recurso por falta de cópias das peças dos autos, minorando, assim, uma das principais causas de inadmissibilidade do agravo, principalmente diante do excesso de rigor com que os tribunais vêm procedendo à análise deste requisito de admissibilidade in GUEDES, Cintia Regina. Os recursos cíveis no Projeto de Novo Código de Processo Civil. Revista de Processo nº. 207, 2012, pg. 265-278. 26 Art. 932, parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível. 27 Segundo SILVA, Bruno Campos a subtração da imposição prevista no atual artigo 526 do CPC importa de forma explícita, o objetivo da norma, qual seja, o “juízo de retratação”. (...) Assim, caso a parte recorrente deixe de cumprir o preceito legal, ou seja, juntar aos autos cópia da petição representativa do recurso, do comprovante de interposição e relação de documentos que o instruíram, perderá a oportunidade e instauração do juízo de retratação e, com isso, a possibilidade de reconsideração da decisão interlocutória recorrida in O Recurso de Agravo de Instrumento na Sistemática do Novo Código de Processo Civil. Primeiras Impressões. ROC nº 78, jul-ago/2012, pg.26-41. 28 Em processos eletrônicos não será necessária a formação do instrumento, facultando-se ao agravante anexar outros documentos que entender úteis para a compreensão da controvérsia. O prazo para interposição do recurso e consequente apresentação de contrarrazões passará de 10 (dez) para 15 (quinze) dias, conforme previsto nos arts. 1.003 §5º c/c 1.019, II do NCPC. 5. Efeitos do recurso De acordo com o art. 995 do NCPC, o recurso de agravo de instrumento limitar-se-á ao efeito devolutivo. No entanto, há ressalva no sentido de que poderá ser conferido efeito suspensivo, em determinados casos, pelo relator, se da imediata produção de efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso. Assim, a pretensão recursal deverá manifestar-se como escorada em fundamentos convincentes e relevantes, capazes de evidenciar a verossimilhança do direito da parte e a intensidade do risco de lesão séria. E, para que tal efeito suspensivo seja concedido, terá o agravante de formular requerimento ao relator, o qual poderá ser incluído na petição do agravo ou em peça separada. Se for deferido o efeito suspensivo, o relator ordenará a imediata comunicação ao juiz da causa, para que, de fato, se suste o cumprimento da decisão interlocutória (art. 1.019, I do NCPC). O próprio artigo 1.019, inciso I do Novo Código traz a ressalva para os casos de antecipação da tutela recursal: em alguns casos, o relator também poderá conceder medida liminar positiva, se a decisão agravada for denegatória de providência urgente e de resultados gravemente danosos para o agravante. Caberá, nesse caso, ao relator tomar providência pleiteada pela parte, para que se dê o inadiável afastamento do risco de lesão. IV. RECURSOS EM ESPÉCIE: AGRAVO INTERNO Fernanda Alvim Ribeiro de Oliveira29SUMÁRIO: 1 – Cabimento (art. 1.021). 2 – Procedimento (art. 1.021 §§1º a 3º). 3 – Do agravo procrastinatório (art. 1.021 §4º do NCPC) 1. Cabimento (art. 1.021) Contra decisões proferidas pelo relator, caberá agravo interno para o respectivo órgão colegiado (art. 1.021 do NCPC). A nova codificação admitiu o agravo interno contra qualquer decisão proferida pelo relator ao contrário do Código de 1973 que o admitia apenas se veiculado contra as seguintes decisões: (i) despacho do relator que indefere de plano os embargos infringentes (art. 532); (ii) indeferimento de recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do STF ou do STJ (art. 557); (iii) não conhecimento do agravo contra inadmissão de recurso especial ou extraordinário, por ser manifestamente inadmissível ou que não tenha atacado especificamente os fundamentos da decisão agravada (art. 544, § 4º, I); e (iv) conhecimento do agravo de inadmissão de recurso especial ou extraordinário para negar-lhe provimento, para negar-lhe seguimento ou para dar provimento ao recurso. Outra novidade trazida pelo novo regramento é que tal previsão encontra-se agora em capítulo autônomo, unicamente dedicado ao recurso. Contudo, em que pese a previsão em capítulo apartado, o CPC se restringiu a delimitar o regramento geral do agravo interno (cabimento e procedimento), remetendo especificidades de seu processamento ao regimento de cada Tribunal30. O sistema foi idealizado dessa forma 29 Mestre em Direito pela UFMG. Advogada. Professora Universitária. Membro do IBDP. 30 Como já ocorre no art. 392 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça de Minas Gerais: Art. 392. Caberá agravo interno, no prazo de cinco dias: I - das decisões proferidas em processos jurisdicionais pelo Presidente, pelo Primeiro Vice-Presidente ou pelo Terceiro Vice-Presidente do Tribunal; II - das decisões proferidas pelo relator do processo nos casos previstos neste regimento e na lei processual civil. para reduzir eventuais discrepâncias existentes no regramento dos diferentes regimentos internos dos tribunais.31 2. Procedimento (art. 1.021, §§1º a 3º) O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado para se manifestar sobre o recurso no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual, não havendo retratação, será levado a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta (art. 1.021, §2º do NCPC). Note que com o intuito de simplificar a tramitação do agravo, o Código evidencia a possibilidade de retratação do relator, de modo a evitar o julgamento do colegiado, sempre que possível (art. 1.021, § 2º). Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os fundamentos da decisão agravada. Na esteira do que já vinha sendo preconizado pela jurisprudência nacional, o Novo Código de Processo Civil traz previsão expressa no que tange à necessidade de impugnação específica dos fundamentos da decisão agravada pelo recorrente sob pena de inadmissibilidade do recurso (art. 1.021 §1º do NCPC). Outra novidade constante no projeto refere-se ao prazo para interposição do recurso, que passa a ser de quinze dias (art. 1.003 §5º do NCPC). No julgamento do recurso, será vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão agravada para julgar improcedente o agravo interno (art. 1.021 §3º do NCPC). Tal fato, que vinha se tornando corriqueiro nos tribunais do país, vem em consonância com o artigo 489 §1º do Novo Código que determina a necessária fundamentação das decisões judiciais. 3. Do agravo procrastinatório (art. 1.021, §4º do NCPC) Outro ponto de relevo do novo regramento refere-se à possibilidade de aplicação de multa para os casos de agravos internos manifestamente inadmissíveis ou que sejam julgados improcedentes em votação unânime (art. 1.021 §4º do NCPC).32 O intuito da disposição é coibir o uso do agravo com fins meramente procrastinatórios, podendo o julgador aplicar pena pecuniária severa para o recorrente temerário ou de má-fé. Ademais, o litigante ímprobo ficará, na espécie, sujeito a recolher o valor da multa como condição para a interposição de qualquer outro recurso no processo (art. 31 Nesse sentido: THEODORO JUNIOR, Humberto. As principais inovações do Projeto de Código de Processo Civil já aprovado no Senado federal, no âmbito do sistema de recursos (Primeiro e Segundo Graus de Jurisdição). Revista magister de Direito Civil e Processual Civil nº 43, jul-ago/2011, pg. 5 a 24. 32 A multa poderá ser fixada entre um e cinco por cento do valor da causa atualizado. 1.021, §5º). Excetua-se dessa obrigação a Fazenda Pública e o beneficiário de gratuidade da justiça, que somente farão o pagamento ao final (art. 10.21, §5º, in fine). 33 33 GUEDES, Cintia Regina. Os recursos cíveis no Projeto de Novo Código de Processo Civil. Revista de Processo nº. 207, 2012, p. 265-278. V. RECURSOS EM ESPÉCIE: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO Fernanda Alvim Ribeiro de Oliveira34 SUMÁRIO: 1 – Cabimento (art. 1.022). 2 – Procedimento (arts. 1.023 e 1.024). 3 – Embargos declaratórios e prequestionamento (art. 1.025). 4 – Efeitos dos embargos (art. 1.026). 5 – Embargos de declaração e direito ao aditamento do recurso (art. 1.024 §4º). 6 – Embargos protelatórios (art. 1.026 §2º). 1. Cabimento (art. 1.022) Nos termos do artigo 1.022 do Novo Código, cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; suprir omissão de ponto ou questão sobre a qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; ou para corrigir erro material. O NCPC traz algumas alterações no que tange aos embargos declaratórios. Grande parte destas representam soluções para questões sobre as quais pairavam dúvidas para aplicação do diploma processual de 1973 e emanaram de posicionamentos jurisprudenciais e doutrinários em resposta àquelas.35 De início, quanto ao cabimento, a novidade se deu nos termos do entendimento há muito preconizado pela jurisprudência, inserindo-se definitivamente a existência de erro material como hipótese de oposição dos declaratórios.36 De longa data os tribunais já aceitavam a tese de ser necessário conferir maior utilidade ao recurso integrativo de forma a permitir a sua oposição em caso de erro material. Baseavam-se, para tanto, no princípio da economia processual, já que os embargos teriam o papel de evitar o ajuizamento de futura ação rescisória. Um bom exemplo encontrado na 34 Mestre em Direito pela UFMG. Advogada. Professora Universitária. Membro do IBDP. 35 Nesse sentido: GONÇALVES, Gláucio Ferreira Maciel e VALADARES, André Garcia Leão Reis. O Sistema Recursal à Luz do Projeto do Novo Código de Processo Civil, Ver. SJRJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 35, p. 167-189, dez-2012. 36 Contudo, em que pese tal inserção, preconiza GONÇALVES, Gláucio Ferreira Maciel e VALADARES, André Garcia Leão Reis: Diga-se, a propósito, que a extensão do erro material não pode alcançar, obviamente o rejulgamento da causa, o que deve ser um cuidado dos julgadores (in O Sistema Recursal à Luz do Projeto do Novo Código de Processo Civil, Ver. SJRJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 35, p. 167-189, dez-2012). jurisprudência estaria na invocação de premissas equivocadas no acórdão admitida como “erro material” capaz de justificar a oposição de embargos de declaração.37 Ainda com relação ao cabimento, houve uma delimitação mais precisa do que venha a sera omissão nos julgados. Pelo novo regramento, restou estabelecido que serão assim consideradas não apenas as decisões que deixem de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência, como também o julgado que contenha deficiência de fundamentação nos termos do artigo 489 parágrafo primeiro do NCPC (art. 1.022 parágrafo único do NCPC).38 Verifica-se que a intenção do legislador evidenciada no dispositivo é claramente coibir decisões com conteúdos genéricos ou que estejam limitadas a repisar argumentos anteriormente abordados. 2 – Procedimento (arts. 1.023 e 1.024) Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida ao juiz, com indicação do erro, obscuridade, contradição ou omissão, e não se sujeitam a preparo (art. 1.023 do NCPC). Nesta espécie recursal não há apresentação de contrarrazões após a interposição do recurso. A justificativa para essa orientação reside no fato de que os embargos não se destinam a modificar a decisão, e sim a aperfeiçoar o decisório já proferido. Contudo, havendo casos em que o suprimento de lacuna, a eliminação de contradição ou a retificação do erro, leve à modificação do julgamento anterior para nova decisão da causa (caráter infringente), o órgão julgador deverá intimar o embargado para, querendo, manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sobre os embargos opostos. Tal ponto, que já vinha sendo aceito pela jurisprudência, passa a ser expressamente previsto com o intuito de enaltecer o Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa além de favorecer a efetividade e celeridade da prestação jurisdicional 37STJ, 1ª T., AgRg nos EInf nos EDcl no REsp. nº 912.564/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, ac. 08.04.2008, DJe 17.04.2008; STJ, 3ª T., REsp. nº 883.119/RN, Rel. Min. Nancy Andrighi, ac. 04.09.2008, DJe 16.09.2008. TJMG, 10ª Câm. Cív., ED- Cv nº 1.0024.01.566861-9/004, Rel. Des. Paulo Roberto Pereira da Silva, j. 26.02.2013. 38 Art. 489 § 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: I – se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V – se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. visto que, por óbvio, a modificação do julgado sem que seja ofertada a oportunidade ao embargado de se pronunciar a seu respeito, enseja a nulidade do ato processual (art. 1.023 §2º)39. Após, o juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias (art. 1.024 do NCPC). Nos tribunais, o relator apresentará os embargos em mesa na sessão subsequente, proferindo voto, e, não havendo julgamento nessa sessão, será o recurso incluído em pauta automaticamente (art. 1.023 §1º do NCPC). Lado outro, em sentido oposto ao que apregoa a atual jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, consigna-se expressamente a possibilidade de cabimento dos embargos declaratórios contra decisões singulares do relator. Nesses casos de decisões unipessoais proferidas em tribunal, o órgão prolator da decisão embargada decidi-los-á monocraticamente (art. 1.024 §2º do NCPC). 3 – Embargos declaratórios e prequestionamento (art. 1.025) Especial destaque deve ser conferido a ponto enfrentado pelo Novo Código e que diz respeito à atual controvérsia existente entre STJ e STF quanto à questão do prequestionamento como requisito de admissibilidade dos recursos especiais e extraordinários. Tal posicionamento, consubstanciado nas atuais súmulas 211 do STJ e 356 do STF, traz implicações de ordem prática que evidenciam a diferença de tratamento conferido por cada um destes Tribunais no que tange à ocorrência ou não do prequestionamento. Enquanto na Suprema Corte entende-se prequestionada uma questão pelo simples fato de que seja instado o tribunal a quo a se pronunciar (independente de que tenha ou não vindo a se posicionar sobre o ponto), no STJ a recusa do tribunal de origem a se pronunciar sobre determinada questão suscitada, implica anulação da decisão por omissão no julgamento (ofensa ao art. 535 do CPC) e retorno dos autos para novo julgamento. Ou seja, no segundo caso, não se considera prequestionada a questão e o processo despenderia um tempo muito maior para ser julgado em vista da necessidade de remessa à instância inferior. Para solucionar o problema, o Novo Código claramente adotou a atual posição do Supremo Tribunal Federal, determinando que sejam considerados incluídos 39 (...) AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DA PARTE CONTRÁRIA PARA SE MANIFESTAR. NULIDADE RECONHECIDA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (...) 3. Nas excepcionais hipóteses em que se admite a atribuição de efeitos infringentes aos aclaratórios, é indispensável a oitiva do embargado, sob pena de malferimento aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. (REsp 680329 / RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, Data do Julgamento 22/04/2014, DJe 29/04/2014). no acórdão os elementos suscitados, para fins de prequestionamento, ainda que as questões suscitadas não tenham sido enfrentadas ou que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados. Dessa forma, assenta-se um posicionamento, no que tange ao requisito necessário para que determinada questão seja, de fato, considerada prequestionada, que independe da efetiva manifestação do tribunal acerca da discussão veiculada (art. 1.025 do NCPC)40. 4 – Efeitos dos embargos (art. 1.026) Como a disciplina dos embargos de declaração no CPC de 1973 não continha restrição alguma quanto à eficácia do recurso, a doutrina entendia que teria força suspensiva, já que a regra básica até então era o duplo efeito dos recursos como regra geral.41 Contudo, o Novo Código de Processo Civil estatuiu expressamente sobre a inocorrência de efeito suspensivo ao recurso de embargos de declaração (art. 1.026). Essa inclusão afasta qualquer discussão acerca do tema. Tal escolha parece ser acertada, visto que a ausência de efeito suspensivo desestimula as partes a se utilizarem dos aclaratórios tão somente para procrastinar o início dos efeitos da decisão recorrida. 42 De toda forma, não fica afastada a possibilidade de suspensão da decisão monocrática caso demonstrada a probabilidade de provimento do recurso, ou, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação (art.1.026 e §1º do NCPC). Outro efeito decorrente da oposição de embargos de declaração, inalterado no novo regramento, é o interruptivo em relação ao prazo dos demais recursos (art. 1.026 do NCPC). Interrompe-se o prazo do recurso principal na data do ajuizamento dos embargos e permanece sem fluir até a intimação do aresto que os decidir. Em vista disso, após o julgamento dos declaratórios recomeça-se a contagem por inteiro do prazo para interposição de outro recurso que seria cabível, na espécie, contra a decisão 40 A este respeito já assevera a doutrina: “Trata-se de admirável novidade, atenta à celeridade processual.
Compartilhar