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Renata Bittar MEDICINA UNIT MODIFICAÇÕES GRAVÍDICAS As alterações fisiológicas decorrem, principalmente, de fatores hormonais e mecânicos. Modificações Gravídicas SISTEMA ESQUELÉTICO A postura da mulher se desarranja e pode preceder a expansão volumétrica do útero. O centro da gravidade se desvia para diante (aumento do volume abdominal e mamas dilatadas e engrandecidas pesam no tórax). Por instinto e para manter o equilíbrio de pé, empina o ventre e surge a hiperlordose e hipercifose da coluna vertebral. Há ampliação da base de sustentação, os pés se afastam, a articulação do ombro se projeta para trás. Apresenta passos mais curtos, menor amplitude, lembrando a deambulação de gansos – Marcha Anserina. Existe, dessa forma, a participação de novos grupos musculares que não são rotineiramente utilizados. O direcionamento cervical para frente comprime as raízes cervicais que originam os nervos ulnar e mediano, acarretando fadiga muscular, dores lombares e cervicais e paresetesias de extremidades. As articulações sofrem processo de embebição gravídica – acúmulo de líquido proveniente da ação da progesterona e estrógeno é um processo adaptativo de aumento da mobilidade da pelve que prepara o organismo para a parturição (a RELAXINA parece não estar envolvida nesse processo). Nas articulações dos membros inferiores, a embebição gravídica pode predispor a dores crônicas, luxações, fraturas e entorses. As articulações da bacia (sacroilíaca, sínfise púbica e sacrococcígea) ficam com maior elasticidade, aumentando a capacidade pélvica e modificando a postura e a deambulação materna. Essa alteração é mais proeminente na sínfise púbica que pode afastar os ramos púbicos em até 2cm. Ligamentos mais frouxos e mais complacentes à movimentação fundamental para a expulsão fetal. Aumento do PTH e Calcitonina. PELE E ANEXOS Angiogênese estimulada pelo produção placentária de estrógeno. Associada ao estado hiperprogestogênico, ocorre vasodilatação de toda a periferia do organismo. Eritema palmar, telangiectasias (estrógeno), hipertricose (pelos na face e em outras regiões, maior crescimento dos cabeos) e aumento da secreção sebácea e sudorese – eventos vasculares da pele e anexos. Alopecia é rara, podendo acontecer somente por causa das alterações hormonais, mais na região temporal (aumento da secreção sebácea e cortisol alto) Hiperpigmentação da pele está relacionada aos altos níveis de progesterona. A progesterona parece aumentar a produção e secreção do hormônio melanotrófico da hipófise, induzindo a produção excessiva de melanina, o que provoca máculas hipercrômicas = cloasmas ou melasmas face, fronte, projeção cutânea da linha alba (passa a ser linha nigra), aréola mamária e regiões de dobras. Os cloasmas podem piorar com a exposição ao sol e costumam desaparecer após a gravidez. SINAL DE HUNTER: pigmentação periareolar que determina o surgimento da aréola secundária nas gestantes. As estrias são mais frequentes no período gestacional. Elas aparecem devido à hiperfunção das glândulas adrenais produzindo cortisol, ou Sistêmicas Órgãos genitais Renata Bittar MEDICINA UNIT seja, ao hipercortisolismo típico da gravidez. Diminuição da hidratação e estiramento da pele. A distenção da pele do abdome, das mamas e do quadril pode provocar o aparecimento de estrias nessas regiões. Unhas muito quebradiças SISTEMA DIGESTÓRIO Aumento de apetite e sede devido à elevação da produção de leptina (hormônio da saciedade – grelina é o hormônio do apetite) e as alterações da secreção de ADH, em nível de osmolaridade diverso da não grávida. Mudanças nas preferências alimentares são comuns e podem chegar a configurar verdadeiras perversões de paladar, com desejo de ingerir terra, sabão, carvão, dentre outro síndrome de pica ou malacia. Náuseas e vômitos são as ocorrências mais prevalentes no 1º trimestre, que desaparecem ao longo da gravidez, podendo ser acompanhada de importante perda de peso, configurando a hiperêmese gravídica. A hiperêmese gravídica está associada a altos níveis de hCG circulante e alterações laboratoriais da função tireoidiana (Zugaib). A base fisiológica da náusea, habitualmente matinal, é desconhecida, conquanto possa estar relacionada a níveis crescentes e súbitos de estrogênios no sangue (Rezende). A sialorreia é desencadeada por estímulo neurológico do nervo trigêmeo e nervo vago e relaciona-se mais à dificuldade de deglutição decorrente de náuseas que ao aumento de secreção salivar. As adaptações vasculares orais decorrentes dos altos níveis de esteroides sexuais circulantes causam hipertrofia e hipervascularização gengival = gengiva edemaciada e sangrante, o que dificulta a limpeza local. O pH salivar é mais baixo, o que pode causar proliferação bacteriana. Diminuição da capacidade tampão da saliva, contribuindo para o pH baixo. OBS: esses fatos podem aumentar o risco de ocorrência de cáries, mas APENAS naquelas mulheres em que os hábitos de higiene são deficientes. Ou seja, gravidez não causa cárie e nem doença periodontal, mas deixa mais vulnerável a isso. Doença periodontal está relacionada a parto prematuro. A hipertrofia gengival acentuada com proliferação das papilas intermediárias e dos vasos locais pode eventualmente formar pseudotumores ou granulomas, os quais são denominados epúlides gravídicos (granuloma piogênico). A progesterona é potente relaxante de fibras musculares lisas. O estrógeno age como indutor dos efeitos progestogênicos no organismo materno. Tais efeitos levam ao relaxamento do esfíncter esofágico inferior e redução de seu peristaltismo com aumento da incidência do refluxo gastroesofágico. A pirose é, portanto, queixa comum da gestante. A contratilidade da musculatura lisa do estômago, da vesícula biliar e dos intestinos encontra-se reduzida, gerando empachamento e constipação (diminuição da motilidade gastrointestinal). A secreção gástrica está reduzida em gestantes normais, explicando a incidência reduzida de úlcera péptica e a remissão das porventura existentes; a ingestão de substâncias ácidas costuma aliviar sintomas de empachamento e náuseas. A hipotonia da vesícula biliar predispõe ao surgimento de litíase biliar, em especial por estar associada ao aumento do colesterol total desde o início da gestação. A permanência do bolo fecal por mais tempo no lúmen intestinal expõe os alimentos ao contato com enzimas digestivas por tempo mais prolongado, mas aumenta a absorção de água, o que contribui para o surgimento da constipação. Renata Bittar MEDICINA UNIT Alterações hepáticas e pancreáticas desencadeadas pela gravidez são eminentemente funcionais e relacionadas ao metabolismo energético e às modificações na excreção de substâncias, secundárias ao hiperestrogenismo gestacional. A função hepática permanece igual à da não grávida, com exceção do transporte intraductal de sais biliares que se apresenta parcialmente inibido, efeito secundário às ações do estrógeno e da progesterona. As concentrações séricas de fosfatase alcalina são significativamente mais elevadas (2-4x) no 3º trimestre, principalmente devido à síntese placentária de fosfatase alcalina. Os níveis séricos de gama GT são significativamente reduzidos. As outrasprovas bioquímicas hepáticas são normais ou levemente aumentadas ou diminuídas. Assim, o aumento das transaminases séricas, das bilirrubinas ou dos ácidos biliares durante a gravidez pode ser patológico e deve motivar investigação diagnóstica. Esses fenômenos parecem estar envolvidos no processo de COLESTASE GRAVÍDICA e PRURIDO GESTACIONAL. Tempo de protrombina mantém-se inalterado, aumento do nível sérico de fibrinogênio ao final da gestação. Com o aumento do volume uterino, ocorrem alterações anatômicas que desviam o estômago e o apêndice para cima e para a direita da sua localização habitual, e os intestinos para a esquerda. Por vezes, o apêndice cecal ocupa o flanco direito, dificultando o diagnóstico clínico de apendicite na gravidez. Sintomas intestinais e anorretais são comuns na gravidez e pós-parto: constipação intestinal, incontinência e doença hemorroidária. TGO e TGP Normal Fosfatase Alcalina Aumentada Gama GT Reduzido Tempo de protrombina Inalterado Fibrinogênio Aumentado no final da gestação Albumina aumenta devido ao aumento da volemia. SISTEMA RESPIRATÓRIO As alterações anatômicas da caixa torácica podem ser notadas tão logo se inicia a gestação. Elevação diafragmática de aproximadamente 4cm e maior capacidade de excursão desse músculo, mas a função do diafragma não é comprometida. A amplitude de movimento do diafragma reduz devido ao aumento do volume abdominal. Caixa torácica apresenta aumento de 6 cm em sua circunferência e 2 cm em seu diâmetro, com consequente ampliação dos ângulos costofrênicos. Complacência da parede pulmonar diminui, incrementando o trabalho respiratório. Em virtude do relaxamento dos ligamentos intercostais, o ângulo subcostal aumenta de 70º para 100º. Os diâmetros AP e transverso do tórax aumentam. Essas alterações anatômicas supracitadas melhoram o intercâmbio gasoso nos pulmões e o volume corrente. A expiração torna-se mais completa e maior a quantidade de ar inspirado. Capacidade vital inalterada (reserva pulmonar expiratória + inspiratória + volume corrente). Ocorre readaptação dos volumes distribuídos nos seus diversos componentes. Dessa forma, presencia-se o aumento do volume corrente com redução da reserva expiratória e preservação da reserva inspiratória. A elevação do volume corrente pretende suprir as demandas de oxigênio, que se encontram aumentadas por conta de haver maior massa eritrocitária e quantidade total de hemoglobina circulante. O consumo de oxigênio aumenta em 15 a 20% para suportar a massa maternofetal adicional e o trabalho cardiorrespiratório. O oxigênio que participa das trocas pulmonares excede em 20 a 30% as novas necessidades. Renata Bittar MEDICINA UNIT A hemodiluição e a queda da hemoglobina induzem o aumento do volume corrente para compensar o fato de que a frequência respiratória em si não se altera, mas as necessidades de oxigênio estão maiores, e esse aumento do volume corrente determina aumento do volume-minuto. Aumento do volume corrente aumento da capacidade inspiratória Diminuição da capacidade inspiratória diminuição na capacidade residual funcional. A capacidade pulmonar total está reduzida devido à elevação do diafragma, às custas da redução do volume residual. O espaço morto não se altera. A FR sofre pouca ou nenhuma mudança. A PO2 alveolar e arterial estão igualmente elevadas. Essa hiperventilação fisiológica diminui a PCO2 e cria maior gradiente entre feto e gestante, facilitando a excreção fetal. Não há alteração de pH arterial pois há excreção renal aumentada de bicarbonato. A progesterona parece desempenhar papel fundamental nessa hiperventilação (tira CO2 e bota O2), seja diminuindo a sensibilidade ao oxigênio no centro respiratório, seja agindo primariamente como estimulante respiratório. A facilidade de movimento do ar nos brônquios e alvéolos é resultado da ação da progesterona no centro respiratório, diminuindo o limiar de estímulo desse centro pelo dióxido de carbono, além da ação direta desse hormônio na musculatura lisa dos brônquios. Essas alterações causam à gestante sensação de dispneia, queixa comum que pode estar associada somente à conscientização da respiração. A gravidez promove edema e hipervascularização da mucosa nasal, responsável por boa parte das queixas de rinite. Uma infecção das vias aéreas superiores podem ser motivo de dificuldade respiratória pela congestão nasal. Alterações do fluxo sanguíneo e a vasodilatação da gravidez resultam em hiperemia e edema das mucosas das vias aéreas superiores, distúrbios que predispõem à congestão nasal e à epistaxe. FR não se altera Volume corrente aumenta VER diminui CV não se altera Capacidade residual funcional diminui Volume minuto aumenta Hiperventilação fisiológica Dispneia (60 a 70%) SISTEMA URINÁRIO A vasodilatação que ocorre na gravidez resulta do relaxamento da musculatura lisa (progesterona) e é universal = diminuição da resistência vascular periférica. Dilatação significativa dos ureteres e pelve renal que se inicia precocemente (10 semanas). Fluxo da urina está retardado e é a maior causa de predisposição à infecção urinária ascendente que têm as grávidas. No 3º trimestre, cerca de 97% mostram alguma evidência de estase ou hidronefrose. Modificações vasculares das arteríolas são frutos das adaptações circulatórias maternas. Aumento da volemia + redução da resistência vascular periférica = elevação do fluxo plasmático glomerular = aceleração do ritmo de filtração glomerular Essas alterações podem ser observadas logo na 10ª semana de gestação, com aumento gradativo ao longo desta e redução discreta próximo ao termo. O fluxo plasmático glomerular chega a um acréscimo de 50 a 80% dos níveis pré-gravídicos, enquanto o acréscimo do ritmo de filtração glomerular fica entre 40 e 50%. Esse aumento na taxa de filtração glomerular determina que maior quantidade de substâncias se apresente aos túbulos renais, logo, as concentrações de ureia e creatinina estão diminuídas no plasma. Ureia: 10-20mg/dl Creatinina: 0,73; 0,58 e 0,53mg/dl, respectivamente no 1º, 2º e 3º trimestres. Renata Bittar MEDICINA UNIT A glicosúria é fisiológica na gravidez e se deve ao aumento da taxa de filtração glomerular de tal forma a exceder o limite de reabsorção tubular, explicando o aumento dessa substância na urina. Esse valor não pode ser utilizado para diagnóstico de diabetes gestacional. A osmolaridade plasmática também se modificada devido à ativação do sistema renina-angiotensina- aldosterona e da redução do limiar de secreção do ADH. A liberação de ADH e o mecanismo de sede são, portanto, desencadeados por menores níveis osmóticos menor capacidade renal de concentrar a urina. As grávidas, em geral, filtram maiores quantidades de sódio e água no glomérulo, que são compensados por maior reabsorção tubular desses elementos, resultante da ação da aldosterona e do ADH. As taxas de fluxo plasmático glomerular e ritmo de filtração glomerular também sofrem influência da posição materna, da mesma forma que a PA. A depuração renal é até 20% menos na posição supina que em decúbito lateral. O padrão de excreção urinária é maior à noite, em razão do repouso e decúbito, com maiormobilização dos fluidos extravasculares e menor capacidade de reabsorção de água livre. Tais alterações se devem à influência da posição materna sobre o débito cardíaco, que se apresenta particularmente aumentado nas ocasiões em que a gestante se encontra em decúbito lateral esquerdo, principalmente no 3º trimestre. Essas alterações também se relacionam com substâncias produzidas localmente: óxido nítrico, relaxina e endotelina. Embora seja potencial vasoconstritor, a endotelina nos vasos renais atua com a estabilização do tônus vascular. A relaxina, produzida pelo corpo lúteo, age na osmolaridade plasmática, aumentando o ritmo de filtração glomerular. Manobra de Leopoldo a partir de 30 semanas BCF e altura de fundo do útero = antes e após 30 semanas Acima cicatriz umbilical: mioma, polidramnia, cálculo errado, GIG Abaixo: oligodrâmnia, cálculo errado, PIG Sonar = 12ª semana Pinard = 20ª semana MS: não é obrigatório, só para calcular idade gestacional 1 quando descobre gravidez e 2º no final do 2º trimestre até o final da 30ª semana 1= 1º trimestre em torno de 12 semanas (ducto venoso, TN e osso nasal) – mais importante: idade gestacional. US mais fidedigna p idade. MAIS IMORTANTE: gravidez tópica ou não. 2º = próxima de 30 semanas, placenta, morfológica Indicação absoluta: placenta prévia, desproporção cefalopélvica, prolapso do cordão umbilical, situação transversa e apresentação córnica Progesterona e Estrógeno Atonia da musculatura lisa RVP diminui Vasodilatação Diminuição da PA Aumento da volemia Aumento do fluxo plasmático renal Aumento do ritmo de filtração glomerular
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