Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Microfotografia de varrimento colorida de fascículos nervosos que contêm feixes de axónios. O sistema nervoso central (SNC) consiste em encéfalo e medula es- pinhal, sendo a divisão entre estas duas partes, uma intracraniana e ou- tra raquidiana, definida, de modo um pouco arbitrário, ao nível do buraco occi- pital. O sistema nervoso periférico (SNP) consiste nos nervos e gânglios exteriores à caixa craniana e à coluna vertebral (ver o capítulo 11). Os nervos são feixes de axónios com as suas célu- las de Schwann, envolvidos em bainhas de tecido conjuntivo. Os gânglios são aglomerações de corpos celulares no SNP. O SNP inclui 12 pares de nervos cranianos e 31 pares de nervos raquidianos. O SNC recebe informação sensorial, avalia essa informação, armazena parte dela e desencadeia reacções. O SNP recolhe informação de numerosas fontes tanto no interior como no exterior do corpo e retransmite-a através dos axónios para o SNC. Os axónios dos neurónios motores no SNP retransmitem informação do SNC para várias partes do corpo, principalmente músculos e glân- dulas, regulando, assim, a actividade destas estruturas. Neste capítulo descrevem-se a medula espinhal e os nervos raquidianos. O encéfalo e os nervos cranianos são estudados no capítulo seguinte. Os tó- picos específicos deste capítulo são a medula espinhal (412), os reflexos (415) as vias espinhais (420), a estrutura dos nervos periféricos (420) e os nervos raquidianos (420). C A P Í T U L O Medula Espinhal e Nervos Raquidianos 12 Pa rt e 3 S is te m as d e In te gr aç ão e C on tr ol e Parte 3 Sistemas de Integração e Controle412 Medula Espinhal Objectivos ■ Descrever a estrutura geral e a localização da medula espinhal. ■ Descrever um corte transversal da medula espinhal, explicando as funções de cada área. A medula espinhal é de extrema importância para o fun- cionamento global do sistema nervoso. Constitui o elo de co- municação entre o encéfalo e o sistema nervoso periférico (SNP) abaixo da cabeça, integrando a informação que recebe e produ- zindo respostas através de mecanismos reflexos. Estrutura Geral A medula espinhal (figura 12.1) estende-se desde o buraco occi- pital até ao nível da segunda vértebra lombar. É consideravel- mente mais curta do que a coluna vertebral porque, durante o desenvolvimento, não atinge a mesma velocidade de crescimen- to que esta última. Compõe-se dos segmentos cervical, torácico, lombar e sagrado, designados de acordo com a área da coluna vertebral pela qual os seus nervos entram e saem. Trinta e um pares de nervos raquidianos originam-se na medula espinhal e passam para fora da coluna vertebral através dos buracos intervertebrais, também conhecidos por buracos de conjugação (ver a figura 7.15). Os nervos raquidianos dos segmentos inferio- res da medula descem numa certa extensão do canal raquidiano antes de abandonarem a coluna vertebral, porque a medula es- pinhal é mais curta do que a coluna vertebral que a envolve. A medula espinhal não tem um diâmetro uniforme em todo o seu comprimento. Há uma diminuição geral do diâmetro de cima para baixo, com dois alargamentos onde os nervos que ser- vem os membros entram e saem da medula espinhal (ver a figu- ra 12.1). A dilatação cervical na região cervical inferior corres- ponde ao local onde os nervos que servem os membros superio- res entram ou saem da medula, e a dilatação lombar ou crural, nas regiões torácica inferior e lombar superior é o sítio onde en- tram ou saem os nervos para os membros inferiores. E X E R C Í C I O Porque é que a medula espinhal alarga nas regiões cervical e lombar? Logo abaixo da dilatação lombar, a medula espinhal afunila formando uma região cónica chamada cone medular. A sua ponta está ao nível da segunda vértebra lombar e constitui a extremidade inferior da medula espinhal. Um filamento de te- cido conjuntivo, o filamento terminal, estende-se inferiormente desde o ápex do cone medular até ao cóccix e fixa a medula espinhal ao cóccix. Os nervos dos membros inferiores e outras estruturas inferiores do corpo, (raízes da segunda lombar à quin- ta sagrada), saem da dilatação lombar e do cone medular, per- correm a parte inferior do canal vertebral e saem através dos buracos de conjugação desde a segunda vértebra lombar (L2) à quinta vértebra sagrada (S5). O cone medular e os numerosos nervos que se estendem para baixo dele assemelham-se a uma cauda de cavalo e são por isso chamados cauda equina (ver a figura 12.1). Meninges da Medula Espinhal Três camadas de tecido conjuntivo, as meninges, envolvem e pro- tegem o encéfalo e medula espinhal (figura 12.2). A camada mais superficial e mais espessa é a duramáter (mãe firme). A dura- máter envolve a medula espinhal e está na continuidade do epinervo dos nervos raquidianos (estudado na p. 420). A dura- máter raquidiana está separada do periósteo do canal vertebral pelo espaço epidural. Trata-se de um espaço verdadeiro em tor- no da medula espinhal que contém vasos sanguíneos, tecido con- juntivo areolar e gordura. A anestesia epidural dos nervos ra- quidianos, frequentemente dada às parturientes, é induzida pela injecção de anestésicos neste espaço. A túnica meníngea que se segue é a aracnóideia (como uma aranha, isto é, uma teia de aranha), muito fina e delgada. O espaço entre esta camada e a duramáter é o espaço subdural que contém apenas uma quantidade muito pequena de líquido seroso. A terceira túnica meníngea, a pia (dedicada) máter (mãe), liga-se muito estreitamente à superfície do encéfalo e medula espinhal. Para lá do cone medular, a piamáter forma o filum terminale (também designado de filamento terminal), umFigura 12.1 Medula Espinhal e Raízes dos Nervos Raquidianos Raízes posteriores Nervos raquidianos T1 L1 S1 Dilatação cervical Dilatação lombar Nervo coccígeo Cone medular Cauda equina Filum terminal C1 Capítulo 12 Medula Espinhal e Nervos Raquidianos 413 filamento de tecido conjuntivo que se estende inferiormente até ao cóccix, onde a medula espinhal vem ancorar. Entre a arac- nóideia e a piamáter fica o espaço subaracnóideu, que contém fios emaranhados como teias de aranha, provenientes da arac- nóideia, vasos sanguíneos e líquido cefalorraquidiano (LCR), que será descrito no capítulo 13. A medula espinhal é mantida no seu lugar dentro do canal vertebral por séries de cordões de tecido conjuntivo que ligam a piamáter à duramáter, levando a aracnóideia a constituir pontes entre as emergências dos nervos. Como criam um aspecto “denteado”, estas fixações designam-se por ligamentos dentados (ver a figura 12.2). Secção Transversal da Medula Espinhal Uma secção cruzada da medula espinhal revela que esta consiste de uma porção cinzenta central e de uma porção branca perifé- rica (figura 12.3). A substância branca consiste em axónios mielinizados, formando feixes nervosos, e a substância cinzenta consiste em corpos celulares neuronais, dendrites e axónios. O sulco mediano anterior e o sulco mediano posterior são fen- das profundas que separam parcialmente as duas metades da me- dula. A substância branca de cada lado da medula espinhal está organizada em três cordões que se designam por anterior (ven- tral), lateral e posterior (dorsal). Cada cordão subdivide-se em feixes nervosos ou vias. Os neurónios que transportam poten- ciais de acção para o (ascendentes) ou do (descendentes) encéfalo agrupam-se habitualmente em feixes e os axónios de um dado feixe transportam basicamente o mesmo tipo de informação, embora os feixes se possam sobrepor em determinada extensão. Por exemplo, uma determinada via ascendente transporta po- tenciais de acção relacionados com as sensações de dor e tempe- ratura, enquanto outra transporta potenciais de acção relacio- nados com a sensibilidade táctil fina.A substância cinzenta central organiza-se em cornos. Cada metade da substância cinzenta da medula espinhal consiste num corno posterior (dorsal), relativamente delgado, e um corno anterior (ventral), mais largo. Existem também pequenos cor- nos laterais em certos níveis da medula, associados ao sistema nervoso autónomo (ver o capítulo 16). As duas metades da me- dula espinhal estão ligadas por comissuras cinzentas e brancas (ver a figura 12.3). As comissuras branca e cinzenta contêm axónios que cruzam de um lado para outro da medula espinhal. O canal central está no centro da comissura cinzenta. Os nervos raquidianos provêm de numerosos radicelos ao longo das superfícies dorsal e ventral da medula espinhal. (ver a figura 12.3)(*) Cerca de seis a oito destes radicelos combinam-se para formar cada raiz anterior no lado ventral (anterior) da medula espinhal e outros seis a oito formam cada raiz posterior no lado dorsal (posterior) de cada segmento medular. As raízes posterior e anterior juntam-se logo ao lado da medula espinhal e formam os nervos raquidianos. Cada raiz dorsal tem um gânglio, designado de gânglio da raiz posterior, gânglio raquidiano ou gânglio espinhal. Organização dos Neurónios na Medula Espinhal e nos Nervos Raquidianos Os corpos celulares de neurónios sensoriais situam-se nos gânglios da raiz posterior (ver a figura 12.3c). Os axónios destes neurónios unipolares estendem-se de várias partes do corpo e passam nos nervos raquidianos até aos gânglios da raiz posterior. Os axónios não fazem sinapse no gânglio da raiz posterior, mas atravessam a raiz posterior e projectam-se no corno posterior da Duramáter Piamáter Ligamento dentado Espaço subdural Epinervo do nervo raquidiano Espaço subaracnóideu Gânglio da raiz posterior Nervo raquidiano Aracnóideia Raiz anterior ou ventral Figura 12.2 Invólucros Meníngeos na Medula Espinhal (*) O que lhes tira a sensibilidade, mas também a força, acabando por impedir habitualmente um parto normal (N.R.). (**) Esta, para ser válida, tem que ser monitorizada durante horas (24, preferencialmente) (N.R.). (***) A introdução de corpos estranhos, como uma substância radiopaca, sempre de risco para o indivíduo, tem graves implicações éticas e médico-legais, pelo que se procura antes obter imagens por ressonância magnética (N.R.). Inserção de Agulhas no Espaço Subaracnóideu Diversos procedimentos clínicos pressupõem a inserção de uma agulha no espaço subaracnóideu abaixo do nível de L2, porque a medula espinhal se estende apenas até este nível, não sendo lesada pela agulha, enquanto que o espaço subaracnóideu se estende até S2. Os nervos da cauda equina são muito facilmente desviados pela agulha durante estas intervenções e normalmente não são atingidos. Na anestesia raquidiana, ou bloqueio espinhal, as drogas que bloqueiam a transmissão dos potenciais de acção são introduzidas no espaço subaracnóideu, impedindo as sensações de dor na parte inferior do corpo. Durante o parto, muitas mulheres recebem anestesia raquidiana(*). A punção lombar consiste na remoção do LCR do espaço subaracnóideu. Pode ser executada com a finalidade de examinar o LCR para pesquisar agentes infecciosos (meningite), presença de sangue (hemorragia), ou para medir a pressão do LCR(**). Pode, ainda, ser injectada uma substância radiopaca nesta área para execução de uma mielografia (radiografia da medula espinhal), permitindo visualizar defeitos ou lesões da medula espinhal(***). (*) Na nomenclatura anatómica mantém-se a opção por raízes anteriores e posteriores; nas referências clínicas, particularmente cirúrgicas, vai sendo corrente o uso de raiz dorsal e raiz ventral (N.T.). Parte 3 Sistemas de Integração e Controle414 III Corno posterior Sulco mediano posterior Raiz posterior ou dorsal Corno posterior Central canal Corno anterior Porção branca periférica Comissura cinzenta Comissura branca Sulco mediano anterior Corno anterior Corno lateral Raiz posterior Raiz anterior Gânglio da raiz posterior Neurónio sensorial Neurónio motor somático Nervo raquidiano Neurónio autonómico Corno posterior Corno lateral Corno anterior Substância cinzenta Cordão posterior Cordão anterior Cordão lateral Substância branca Radicelos Comissura cinzenta Raiz anterior ou ventral Nervo raquidiano Gânglio da raiz posterior Raiz posterior ou dorsal Canal central Comissura branca Sulco mediano anterior Sulco mediano posterior (a) (b) (c) Figura 12.3 Secção Transversal da Medula Espinhal (a) Desenho em 3 D de um segmento da medula espinhal, mostrando uma raiz posterior e uma anterior de cada lado e os radicelos que as formam. (b) Fotografia de uma secção transversal ao nível da região lombar média (x 20). As áreas mais escuras são de substância branca, onde se localizam os feixes. As áreas mais claras são de substância cinzenta, onde se localizam os corpos celulares neuronais. (c) Relação dos neurónios sensoriais e motores com a medula espinhal. Capítulo 12 Medula Espinhal e Nervos Raquidianos 415 substância cinzenta da medula espinhal. Os axónios fazem sinapse com neurónios de associação no corno posterior ou passam para a substância branca e sobem ou descem na medula espinhal. Os corpos celulares dos neurónios motores, que inervam músculos e glândulas, localizam-se nos cornos anterior e lateral da substância cinzenta da medula espinhal (ver a figura 12.3c). Os neurónios motores somáticos multipolares estão no corno ante- rior ou corno motor e os neurónios autonómicos estão nos cornos laterais. Os axónios dos neurónios motores formam a raiz anterior e passam nos nervos raquidianos. Assim, a raiz posterior contém neurónios sensoriais, a raiz anterior contém neurónios motores e os nervos raquidianos têm axónios sensoriais e axónios motores. 1. Descreva as dilatações cervical e lombar da medula espinhal, o cone medular e a cauda equina. Quantos pares de nervos raquidianos saem da medula espinhal? 2. Indique quais as meninges que envolvem a medula espinhal. O que se encontra nos espaços epidural, subdural e subaracnóideu? 3. Como é que a medula espinhal está segura no canal vertebral? 4. Explique a disposição da substância branca na medula espinhal. O que são comissuras? 5. Descreva a substância cinzenta medular. Onde se localizam, na substância cinzenta, os corpos celulares neuronais sensitivos, autonómicos e motores? 6. Onde é que as raízes posteriores e anteriores saem da medula espinhal? Que espécies de axónios se encontram nas raízes posteriores e anteriores e nos nervos raquidianos? E X E R C Í C I O Explique porque é que os gânglios das raízes dorsais têm um maior diâmetro que as raízes dorsais. Reflexos Objectivo ■ Listar as componentes e características de um reflexo. A unidade estrutural básica do sistema nervoso é o neu- rónio. O arco reflexo é a unidade funcional básica do siste- ma nervoso e a sua porção mais pequena e mais simples ca- paz de receber um estímulo e produzir uma resposta. Tem cinco componentes básicos: (1) um receptor sensorial, (2) um neurónio aferente ou sensorial, (3) um neurónio de asso- ciação, (4) um neurónio eferente ou motor e, (5) um órgão efector (figura 12.4). Os potenciais de acção iniciados nos receptores sensoriais propagam-se ao longo dos axónios de neurónios sensoriais para o SNC, onde habitualmente fazem sinapse com neurónios de associação. Os neurónios de associação fazem sinapse com neurónios motores que, por seu turno, enviam axónios para fora da medula espinhal e, através do SNP, para músculos ou glându- las, onde os potenciais de acção dos neurónios eferentes levam os órgãos efectores a responder. A resposta produzida pelo arco reflexo chama-se de reflexo. É uma resposta automática a um estímulo, que ocorre sem pensamentoconsciente. Os reflexos são, em geral, homeostáticos. Alguns deles fun- cionam no sentido de remover o corpo de estímulos dolorosos que poderiam provocar lesão dos tecidos e outros impedem o corpo de cair ou de se deslocar subitamente, em consequência de forças externas. Numerosos reflexos são responsáveis por man- ter relativamente estáveis a pressão sanguínea, os níveis sanguí- neos de dióxido de carbono e a ingestão de água. Os reflexos variam na sua complexidade. Alguns implicam vias neuronais simples e poucos ou nenhuns neurónios de asso- ciação, enquanto outros têm vias complexas e centros de inte- gração. Muitos são integrados na medula espinhal e outros são Raiz ventral de um nervo raquidiano Neurónio motor Orgão afectado Neurónio sensorial Receptor sensorial Neurónio de associação Medula espinhal Raiz dorsal de um nervo raquidiano Gânglio da raiz dorsal Pele Músculo esquelético Nervo raquidiano 1 2 3 4 5 Figura 12.4 Arco Reflexo As partes do arco reflexo estão numeradas pela ordem em que o potencial de acção passa através delas. As cinco componentes são (1) receptor sensorial, (2) neurónio sensorial, (3) neurónio de associação, (4) neurónio motor e (5) órgão efector. Parte 3 Sistemas de Integração e Controle416 integrados no encéfalo. Alguns reflexos envolvem neurónios excitatórios e resultam numa resposta, como quando um mús- culo se contrai (ver o capítulo 11). Outros reflexos envolvem neurónios inibitórios e resultam na inibição de uma resposta, como quando um músculo relaxa. Para além disso, centros encefálicos superiores influenciam os reflexos, suprimindo-os ou exagerando-os. Os principais reflexos medulares são o reflexo de extensão, o reflexo dos órgãos tendinosos de Golgi, o reflexo de retirada e o reflexo extensor contralateral. Reflexo de Extensão O mais simples dos reflexos é o reflexo de extensão (figura 12.5), em que o músculo se contrai em resposta a uma força de estiramento que lhe é aplicada. O receptor sensorial do reflexo é o fuso muscular, que consiste em três a dez pequenas células musculares esqueléticas especializadas. As células são contrácteis apenas nas extremidades e são inervadas por neurónios motores específicos que se chamam neurónios motores gama (o termo gama aplica-se a neurónios motores com axónios de pequeno diâmetro), originados na medula espinhal e que controlam a contracção das extremidades das células do fuso muscular. Os centros, não contrácteis, das células dos fusos musculares são inervados por neurónios sensoriais que transportam impulsos para a medula espinhal, onde fazem sinapse directamente com neurónios motores chamados neurónios motores alfa (o ter- mo alfa aplica-se a neurónios motores com axónios de grande diâmetro), que por sua vez inervam o músculo onde estão incluí- dos os fusos musculares. A particularidade do reflexo de exten- são é não exigir um neurónio de associação entre os neurónios sensoriais e motores. O estiramento de um músculo determina também a ex- tensão dos fusos musculares situados entre as suas fibras. A ex- tensão estimula os neurónios aferentes que inervam o centro de cada fuso muscular. O aumento de frequência dos potenciais de acção nos neurónios aferentes estimula os neurónios motores alfa na medula espinhal. Os neurónios motores alfa transmitem potenciais de acção ao músculo esquelético, provocando uma contracção rápida do músculo em extensão, o que gera uma re- sistência à extensão do músculo. Os músculos posturais demons- tram a natureza adaptativa deste reflexo. Se uma pessoa que está em pé, na vertical, se inclinar ligeiramente para um lado, os músculos posturais associados à coluna vertebral do outro lado são estendidos, em consequência do que se inicia nesses múscu- los um reflexo de extensão, que os faz contrair e recuperar a pos- tura normal. Os axónios colaterais dos neurónios aferentes dos fusos musculares também fazem sinapse com feixes nervosos ascendentes, o que permite ao encéfalo perceber que ocorreu a extensão do músculo (ver p. 422). Neurónios descendentes na medula espi- nhal fazem sinapse com os neurónios do reflexo de extensão e modulam a sua actividade. Esta actividade é importante para manter a postura e coordenar a actividade muscular. 1. Os fusos musculares detectam o estiramento do músculo. 4. A estimulação dos neurónios motores alfa faz o músculo contrair-se e resistir ao estiramento. 2. Os neurónios sensoriais conduzem potenciais de acção para a medula espinhal. 3. Os neurónios sensoriais fazem sinapse com neurónios motores alfa. Fibra muscular do músculo Fibra muscular do fuso muscular Neurónio motor gama Neurónio motor gama Neurónio sensorial Músculo Terminações nervosas sensoriais Terminações dos neurónios motores gama Fuso muscular Para o encéfalo Neurónio motor alfa Junção neuromuscular Neurónio sensorial Fuso muscular Reflexo de extensão 1 2 3 4 Figura 12.5 Reflexo de Extensão Capítulo 12 Medula Espinhal e Nervos Raquidianos 417 Os neurónios motores gama são responsáveis pela re- gulação da sensibilidade do fuso muscular. Quando um múscu- lo esquelético se contrai, a tensão no centro dos fusos muscula- res diminui, porque o fuso muscular encurta passivamente quan- do o músculo encurta. A diminuição da tensão no interior dos fusos musculares torna-os menos sensíveis ao estiramento. A sensibilidade é mantida porque, ao mesmo tempo que os neu- rónios motores alfa estimulam o músculo a contrair-se, os neu- rónios motores gama estimulam os fusos musculares a contraí- rem-se. A contracção das fibras musculares nas extremidades dos fusos musculares estira o centro dos fusos musculares e mantém a tensão adequada. A actividade do fuso muscular ajuda a con- trolar e coordenar a actividade muscular, como a postura, a ten- são muscular e o comprimento muscular. Reflexo dos Órgãos Tendinosos de Golgi O reflexo do órgão tendinoso de Golgi evita a produção de ex- cessiva tensão no tendão de um músculo em contracção. Os ór- gãos tendinosos de Golgi são terminações nervosas encapsu- ladas que têm nas extremidades numerosos ramos terminais com pequenas dilatações que se associam a feixes de fibras de colagé- nio dos tendões. Os órgãos tendinosos de Golgi localizam-se nos tendões perto da junção músculo-tendinosa (figura 12.6). Quan- do o músculo se contrai, os tendões que lhe estão ligados são estirados, o que provoca aumento de tensão no tendão. O au- mento de tensão estimula potenciais de acção nos neurónios sen- soriais dos órgãos tendinosos de Golgi. Os órgãos tendinosos de Golgi têm um limiar de estimulação elevado e só são sensíveis a estiramentos intensos. Os neurónios sensoriais dos órgãos tendinosos de Golgi passam através das raízes dorsais para a medula espinhal e entram na substância cinzenta posterior, onde se ramificam e fazem si- napse com neurónios de associação inibitórios. Os neurónios de associação fazem sinapse com neurónios motores alfa que inervam o músculo a que está ligado o órgão tendinoso de Golgi. Quando Reflexo de Extensão do Joelho O reflexo de extensão do joelho ou reflexo patelar (ou rotuliano) é um exemplo clássico do reflexo de extensão e é utilizado pelos clínicos para determinar se os centros superiores do SNC, que normalmente influen- ciam este reflexo, estão funcionais. Quando se estimula, por percussão, o ligamento patelar, o tendão do músculo quadricípite crural e o próprio músculo estiram-se. As fibras dos fusos musculares nestes músculos são também estiradas, sendo assim activado o reflexo de extensão. Conse- quentemente, a acção do músculo faz a extensão da perna, obtendo esta resposta característica. Quando o reflexo de extensão está muito exagerado, isso significa que os neurónios do encéfalo, que normalmente inervam os neurónios motores gama e reforçamo reflexo, estão hiper- activos. Pelo contrário, se os potenciais de acção facilitadores para os neurónios motores gama estiverem deprimidos, o reflexo de extensão está muito suprimido ou ausente. A ausência deste reflexo pode também indicar compromisso da via reflexa. Figura 12.6 Reflexo do Órgão de Golgi do Tendão Órgão tendinoso de Golgi A contracção muscular aumenta a tensão aplicada aos tendões. Em resposta, os potenciais de acção são conduzidos para a medula espinhal. Neurónio sensorial Tendão Músculo 1. Os orgãos tendinosos de Golgi detectam a tensão aplicada a um tendão. 4. A inibição dos neurónios motores alfa provoca relaxamento muscular, aliviando a tensão aplicada ao tendão. 2. Os neurónios sensoriais conduzem potenciais de acção para a medula espinhal. 3. Os neurónios sensoriais fazem sinapse com neurónios de associação inibitórios que sinapsam com neurónios motores alfa. Para o encéfalo Neurónio motor alfa Neurónio de associação inibitório Neurónio sensorial Reflexo dos órgãos tendinosos de Golgi Orgão tendinoso de Golgi 1 2 3 4 Parte 3 Sistemas de Integração e Controle418 uma grande tensão é aplicada ao tendão, os neurónios sensoriais dos órgãos de Golgi são estimulados. Os neurónios sensoriais estimulam os neurónios de associação a libertar neurotrans- missores inibitórios que inibem os neurónios motores alfa do músculo associado, provocando o relaxamento do músculo. Este reflexo protege os músculos e tendões dos danos resultantes da tensão excessiva. O relaxamento súbito do músculo reduz a ten- são aplicada a esse músculo e seus tendões. Um halterofilista que, de repente, deixa cair um grande peso depois de um esforço para o levantar fá-lo, em parte, pelos efeitos do reflexo tendinoso de Golgi. Os músculos e tendões dos membros inferiores podem ser sujeitos a tremendas quantidades de tensão. É frequente o refle- xo tendinoso de Golgi de um atleta não ser suficiente para pro- teger os músculos e tendões de uma tensão excessiva. Os grandes músculos e movimentos súbitos dos jogadores de futebol e dos velocistas estão associados a frequentes arrancamentos dos mús- culos isquiotibiais e lesões do tendão de Aquiles (calcaniano). Reflexo de Retirada A função de retirada, ou reflexo flexor, consiste em afastar um membro ou outra parte do corpo de um estímulo doloroso. Os receptores sensoriais são receptores da sensibilidade dolorosa ou álgica (ver o capítulo 15). Os potenciais de acção de um estímu- lo doloroso são conduzidos por neurónios aferentes através da raiz dorsal da medula espinhal, onde fazem sinapse com neurónios de associação excitatórios, que por sua vez fazem sinapse com neurónios motores alfa (figura 12.7). Os neurónios motores alfa estimulam músculos, habitualmente flexores, que afastam o membro do estímulo doloroso. Ramificações laterais dos neurónios aferentes fazem sinapse com fibras ascendentes para o encéfalo, o que garante o conhecimento consciente do estímulo doloroso. Inervação Recíproca A inervação recíproca associa-se ao reflexo de retirada e refor- ça a sua eficiência (figura 12.8). Axónios colaterais de neurónios sensoriais, que transportam potenciais de acção dos receptores da dor, fazem sinapses com neurónios de associação inibitórios no corno posterior da medula espinhal, os quais fazem sinapse com e inibem os neurónios motores alfa dos músculos extensores (an- tagonistas). Quando o reflexo de fuga é iniciado, os músculos flexores contraem-se e a inervação recíproca determina o rela- xamento dos músculos extensores. Desta forma, reduz-se a re- sistência ao movimento por parte dos músculos extensores. A inervação recíproca está também envolvida no reflexo de extensão, em que são inibidos os músculos opositores. No refle- xo patelar ou rotuliano, por exemplo, ao mesmo tempo que se dá a contracção do quadricípete crural, ocorre o relaxamento dos flexores da perna. Reflexo Extensor Contralateral O reflexo extensor contralateral é outro reflexo associado ao reflexo de retirada (figura 12.9). Os neurónios de associação que estimulam os neurónios motores alfa, levando à fuga de um membro, têm axónios colaterais que se estendem através da co- missura branca para o lado oposto da medula espinhal e fazem Figura 12.7 Reflexo de Fuga ou Retirada Reflexo de retirada 1. Os receptores da dor detectam um estímulo doloroso. 2. Os neurónios sensoriais conduzem potenciais de acção para a medula espinhal. 3. Os neurónios sensoriais fazem sinapse com neurónios de associação excitatórios que fazem sinapse com neurónios motores alfa. 4. A excitação dos neurónios motores alfa leva à contracção dos músculos flexores e à retirada do membro para longe do estímulo doloroso. Neurónio motor alfa Junção neuromuscular Neurónio de associação excitatório Neurónio sensorial Estímulo Para o encéfalo Neurónio sensorial 1 2 3 4 Capítulo 12 Medula Espinhal e Nervos Raquidianos 419 Figura 12.9 Reflexo de Retirada com Reflexo Extensor Contralateral 1 2 3 4 1. Durante o reflexo de retirada, os neurónios sensoriais conduzem potenciais de acção para a medula espinhal. 2. Neurónios sensoriais fazem sinapse com neurónios de associação excitatórios que são parte do reflexo de retirada. 3. Ramos colaterais também fazem sinapse com neurónios da associação inibitórios que são parte da inervação recíproca. 4. A inibição dos neurónios motores alfa que inervam os músculos extensores leva-os a relaxarem e a não se oporem aos músculos flexores do reflexo de retirada. Inervação recíproca Reflexo de retirada com inervação recíproca Ramo colateral do neurónio sensorial Neurónio de associação inibitório Neurónio sensorial Junção neuromuscular Neurónio motor alfa Neurónio de associação excitatório Para o encéfalo Figura 12.8 Reflexo de Retirada com Inervação Recíproca 1 2 3 3. A excitação dos neurónios motores alfa leva à contracção dos músculos flexores de um membro e a estimulação dos neurónios motores alfa que inervam os músculos extensores do membro oposto faz que estes se contraiam e suportem o peso do corpo durante o reflexo de retirada. 2. Neurónios sensoriais fazem sinapse com neurónios de associação excitatórios que são parte do reflexo de retirada. Ramos colaterais também fazem sinapse com neurónios de associação excitatórios que cruzam para o lado oposto da medula espinhal como parte do reflexo extensor contralateral. Neurónio sensorial Para o encéfalo Neurónio motor alfa Junção neuromuscular Neurónio de associação excitatório Neurónio motor alfa Reflexo extensor contralateral Reflexo de retirada Junção neuromuscular 1. Durante o reflexo de retirada, os neurónios sensoriais conduzem potenciais de acção para a medula espinhal Parte 3 Sistemas de Integração e Controle420 sinapse com neurónios motores alfa que inervam os músculos extensores do lado oposto do corpo. Se um reflexo de retirada é iniciado num membro inferior, o reflexo extensor contralateral causa extensão do membro inferior do lado oposto. O reflexo extensor contralateral é adaptativo, uma vez que evita a queda por transferir o peso do corpo do membro afecta- do para o membro não afectado. Um exemplo é o de uma pessoa que pisa um objecto aguçado. Se a pessoa pisa um objecto agu- çado com o pé direito, o peso do corpo é transferido do membro inferior direito para o membro inferior esquerdo. Iniciar um re- flexo de fuga em ambos os membros inferiores provocaria uma queda. 7. Compare e indique a função do reflexo de extensão e do reflexo dos órgãos tendinosos de Golgi. Descreva os receptores sensoriais de cada um. 8.Descreva a actuação dos neurónios motores gama. O que é que eles conseguem? 9. O que é um reflexo de retirada? Como é que os reflexos de inervação recíproca e extensor contralateral ajudam o reflexo de retirada? Vias Espinhais Objectivo ■ Descrever e dar exemplos da forma como vias convergentes e divergentes interagem com os reflexos. Os reflexos não operam como entidades isoladas no siste- ma nervoso por causa da existência de vias divergentes e conver- gentes (ver o capítulo 11). Ramos divergentes dos neurónios sen- soriais ou de associação de um arco reflexo enviam potenciais de acção ao longo das vias nervosas ascendentes para o encéfalo (figura 12.10). Um estímulo doloroso, por exemplo, não se limi- ta a iniciar um reflexo de retirada, removendo a parte afectada do corpo do estímulo doloroso, mas também causa percepção da sensação de dor, em consequência dos potenciais de acção enviados ao encéfalo. Axónios nas vias descendentes do encéfalo transportam potenciais de acção para o corno anterior da medula espinhal, convergindo com os neurónios do arco reflexo. Os neurotrans- missores libertados dos axónios dessas vias podem estimular ou inibir os neurónios motores no corno anterior. Os neurotrans- missores alteram a sensibilidade do reflexo por meio da estimulação (PEPS) ou inibição (PIPS) dos neurónios motores. Diversas vias ascendentes e descendentes ocupam áreas específi- cas da medula espinhal (figura 12.11). 10. Como é que as vias ascendentes e descendentes se relacionam com os reflexos e outras funções neuronais? Estrutura dos Nervos Periféricos Objectivo ■ Descrever a estrutura de um nervo periférico. Os nervos periféricos consistem em feixes de axónios, cé- lulas de Schwann e tecido conjuntivo (figura 12.12). Cada axónio, ou fibra nervosa, com a sua bainha de células de Schwann, é en- volvido por uma delicada camada de tecido conjuntivo, o endonervo. Grupos de axónios são rodeados por uma camada mais consistente de tecido conjuntivo, o perinervo, que forma os fascículos nervosos ou feixes nervosos. Uma terceira cama- da de tecido conjuntivo denso, o epinervo, liga uns aos outros os feixes nervosos, para formar um nervo. As camadas de tecido conjuntivo dos nervos tornam os nervos do SNP mais robustos que os feixes nervosos do SNC. 11. Descreva a estrutura dos nervos periféricos. Nervos Raquidianos Objectivos ■ Descrever a estrutura e explicar o nome dos nervos raquidianos. ■ Descrever as raízes posteriores e anteriores e ramos posteriores e anteriores dos nervos raquidianos. ■ Descrever plexos e delinear o padrão e distribuição dos nervos intercostais. ■ Descrever a estrutura geral, distribuição e função dos plexos cervical, braquial, lombossagrado e coccígeo. Todos os 31 pares de nervos raquidianos, excepto o primeiro par e os sagrados, saem da coluna vertebral através dos buracos intervertebrais (também denominados de conjugação) localizados entre duas vértebras adjacentes. O primeiro par de nervos raquidianos sai entre a caixa craniana e a primeira vértebra cervical. Os nervos do sacro saem deste osso único através dos buracos sa- grados (ver o capítulo 7). Oito pares de nervos raquidianos saem da coluna vertebral na região cervical, doze na região torácica,(*) cinco na região lombar, cinco na região sagrada e um na região coccígea (figura 12.13). Por motivos de conveniência, cada um dos nervos raquidianos é designado por uma letra e um número. A letra indica a região da coluna vertebral da qual o nervo emerge: C, cervical; T, torácica; L, lombar; e S, sagrada. O único nervo coccígeo muitas vezes não é designado mas, quando é, o símbolo utilizado é Co. O número indica a localização em cada região onde o nervo emerge da coluna vertebral, representando sempre o número mais pequeno a origem mais superior. Por exemplo, o mais superior dos nervos que saem da região torácica é designado por T1. Os nervos cervicais são nomeados de C1 a C8, os torácicos de T1 a T12, os lombares de L1 a L5 e os sagrados de S1 a S5. (**) (*) Na nomenclatura tradicional portuguesa, diz-se região dorsal (designada por D); para evitar confusões com a designação de dorsal dada às raízes posteriores e com o termo direccional dorsal, vai entrando em uso o termo torácico (NT.). (**) Nas doenças da coluna vertebral usa-se C0 (zero) como referência à base do occipital (N.R.). Capítulo 12 Medula Espinhal e Nervos Raquidianos 421 Músculo esquelético Órgão efector Neurónio motor Pele Receptor sensorial Neurónio sensorial Para o encéfalo Do encéfalo Axónio descendente Feixe descendente Axónio ascendente Feixe ascendente Local de divegência Local de convergência Figura 12.10 Reflexo Espinhal, com Axónios Ascendentes e Descendentes Figura 12.11 Secção Transversal da Medula Espinhal, a Nível Cervical, Mostrando as Vias Os feixes nervosos ascendentes estão a azul, os descendentes a rosa. As setas indicam a direcção de cada via. Feixes nervosos ascendentes Feixes nervosos descendentes Figura 12.12 Estrutura de um Nervo Periférico Estrutura do nervo, em que se podem observar os axónios rodeados por diversas camadas de tecido conjuntivo: o epinervo, à periferia, rodeando todo o nervo, o perinervo em torno dos feixes nervosos e o endonervo em torno das células de Schwann e dos axónios. Gordura Epinervo Perinervo Endonervo Célula de Schwann Axónio Feixe Artéria e veia 422 Parte 3 Sistemas de Integração e Controle422 A lesão da medula espinhal pode seccio- nar as vias ascendentes da medula espinhal para o encéfalo, o que determina perda sen- sorial e/ou as vias descendentes do en- céfalo para os neurónios motores da medu- la espinhal, o que leva a perda da função motora. Há cerca de 10.000 novos casos de traumatismo vertebromedular, em cada ano, nos EUA. As causas principais são os acidentes com automóveis e motociclos, seguidas por feridas por arma de fogo, que- das e acidentes de natação(*). A lesão ver- tebromedular classifica-se de acordo com o nível vertebral em que ocorreu o trauma- tismo, com o facto de toda ou apenas uma parte da medula ter sido lesada e com o mecanismo da agressão. A maior parte des- tas lesões ocorre a nível cervical ou na re- gião toracolombar e as lesões são habitual- mente incompletas. Os principais mecanis- mos são a concussão (traumatismo por im- pacto), a contusão (lesão que produz he- morragia) ou laceração (rasgão ou corte) e envolvem um excesso de flexão, extensão, rotação ou compressão da coluna vertebral. A maioria das lesões medulares consiste em contusões agudas devidas a deslocamen- to ósseo ou discal para dentro da medula e envolve uma combinação de movimentos direccionais excessivos, como flexão e com- pressão simultâneas. No momento do traumatismo, ocorrem duas espécies de lesões dos tecidos: (1) pri- Perspectiva Clínica Traumatismo Vertebromedular mária, lesão mecânica e (2) secundária, lesão dos tecidos. A lesão secundária da medula espinhal, com início poucos minutos após a lesão primária, é causada por isquemia, edema, desequilíbrio iónico, libertação de “excitotoxinas” como o glutamato e invasão celular inflamatória. A lesão secundária esten- de-se a uma região muito mais alargada da medula do que a lesão primária. Constitui o principal foco da investigação actualmente em curso. O único tratamento para a lesão primá- ria é a prevenção, como a utilização de cintos de segurança nos automóveis e não mergulhar em águas pouco profundas. Uma vez ocorrido o acidente, de facto, pouco se pode fazer quan- to à lesão primária. Por outro lado, sabe-se hoje que grande parte da lesão secundária pode ser prevenida ou revertida. Até aos anos 50, os traumatismos verte- bromedulares eram muitas vezes fatais. Hoje em dia, com um tratamento rápido, dirigido aos mecanismos da lesão secundária, grande par- te dalesão medular pode ser evitada. O trata- mento da medula espinhal lesada com metilprednisolona (esteróide sintético) em al- tas doses, no espaço de 8 horas após o aci- dente, pode reduzir dramaticamente a lesão medular secundária. O objectivo deste trata- mento é reduzir a inflamação e o edema. O tra- tamento actual consiste no realinhamento e estabilização da coluna vertebral, descom- pressão da medula espinhal e administração de metilprednisolona. A reabilitação baseia-se em retreinar o doente na utilização de todas as conexões residuais que existam através da porção lesada da medula. Durante muito tempo, pensou-se que a medula espinhal não tinha capacidade de regeneração após uma lesão grave. Sabe-se hoje que, após a lesão, a maioria dos neurónios da medula espinhal do adulto sobrevivem e começam a regenerar, crescen- do cerca de 1 mm no local do traumatismo, mas, eventualmente, regressam a um esta- do inactivo e atrófico. Além disso, os fetos e recém nascidos exibem uma considerável capacidade de regeneração e melhoria fun- cional. O principal bloqueio à regeneração da medula espinhal do adulto é a formação de uma cicatriz, constituída principalmente por mielina e astrócitos, no local da lesão. A mielina na cicatriz parece ser o principal inibidor da regeneração. A implantação de nervos periféricos, células de Schwann ou tecido do SNC de fetos pode ultrapassar a cicatriz e estimular alguma regeneração. Al- guns factores de crescimento também podem estimular um certo grau de regene- ração. A investigação em curso continua a procurar a combinação correcta de factores químicos e outros factores capazes de esti- mular a regeneração da medula espinhal após uma lesão. (*) Em Portugal e na Europa, aos acidentes de viação seguem-se os acidentes de trabalho e, depois, os desportivos (N.T.). Cada um dos nervos raquidianos, à excepção de C1, tem uma distribuição sensitiva cutânea específica. A figura 12.14 des- creve o mapa dos dermátomos para a distribuição sensitiva cutânea dos nervos raquidianos. Um dermátomo é a área de pele com inervação sensitiva por um par de nervos raquidianos. E X E R C Í C I O O mapa dos dermátomos é importante na apreciação clínica de lesões nervosas. O padrão de perda de sensação num dermátomo dá uma informação valiosa sobre a localização da lesão nervosa. Indique o sítio possível da lesão nervosa de um doente que sofreu um “golpe em chicotada” num acidente de automóvel e, subsequentemente, desenvolveu anestesia (ausência de sensação) no braço, antebraço e mão esquerdos (procure auxílio na figura 12.14). A figura 12.15 descreve uma secção idealizada do tronco. Cada nervo raquidiano tem um ramo dorsal e um ventral. Exis- tem ramos adicionais, chamados ramos comunicantes, que saem das regiões medulares torácica e lombar superior e que trans- portam axónios ligados ao sistema nervoso simpático (ver o capítulo 16). Os ramos dorsais inervam a maior parte dos mús- culos profundos dorsais do tronco, responsáveis pelo movimen- to da coluna vertebral. Também transmitem a sensibilidade do tecido conjuntivo e pele perto da linha média do dorso. Os ramos ventrais distribuem-se de duas maneiras. Na re- gião torácica, os ramos ventrais formam os nervos intercostais (entre as costelas), que se estendem ao longo da margem inferior de cada costela e inervam os músculos intercostais e a pele que recobre o tórax. Os ramos ventrais dos restantes nervos raqui- dianos formam cinco plexos. O termo plexo significa “trança” e Capítulo 12 Medula Espinhal e Nervos Raquidianos 423 descreve a organização produzida pelo entrelaçar dos nervos. Os ramos ventrais de diferentes nervos raquidianos, chamados raí- zes do plexo, juntam-se uns com os outros para formar um plexo. Estas raízes não devem ser confundidas com as raízes dorsais e ventrais da medula espinhal, que são mais internas. Os nervos que saem dos plexos têm habitualmente axónios de mais de um nervo espinhal e, consequentemente, originam-se em mais do que um nível da medula espinhal. Os ramos ventrais dos nervos raquidianos C1 a C4 formam o plexo cervical. De C5 a T1, for- mam o plexo braquial; de L1 a L4, o plexo lombar; de L4 a S4, o plexo sagrado; e S4, S5 e o nervo coccígeo (Co) formam o plexo coccígeo. Existem alguns plexos somáticos mais pequenos, como o plexo pudendo na pelve, derivados de ramos mais distais dos nervos raquidianos. Alguns dos plexos somáticos serão mencio- nados neste capítulo, quando apropriado. Também existem plexos autonómicos (descritos no capítulo 16) no tórax e no abdómen. 12. Descreva as camadas de tecido conjuntivo que formam e envolvem os nervos raquidianos. 13. Distinga radicelos, raízes dorsais, raízes ventrais e nervos raquidianos. Quais destas estruturas contêm fibras sensoriais, fibras motoras ou ambas? 14. Identifique todos os nervos raquidianos pelo nome e número. Onde é que cada um destes nervos sai da coluna vertebral? 15. O que é um dermátomo? Porque são clinicamente impor- tantes? 16. Compare os ramos dorsais, ventrais e simpáticos dos nervos raquidianos. Que músculos inervam os ramos dorsais? 17. Descreva a distribuição dos ramos ventrais da região torácica. 18. O que é um plexo? O que acontece aos axónios dos nervos raquidianos quando formam um plexo? 19. Nomeie os principais plexos raquidianos e os nervos raquidianos associados a cada um deles. Figura 12.13 Nervos Raquidianos (a) Medula espinhal e nervos raquidianos com os seus plexos e ramos destes. (b) Regiões da medula espinhal e suas funções gerais. Duramáter Cauda equina Cone medular S1 S2 S3 S4 S5 Co Plexo cervical (C1–4) Plexo braquial (C5–T1) C1 T1 2 3 4 5 6 7 8 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 L1 2 3 4 5 Plexo sagrado (L4–S4) Plexo coccígeo (S4–Co) Plexo lombar (L1–4) Nervos cervicais Nervos torácicos Nervos lombares Nervos sagrados Nervos coccígeos C1 T1 2 3 4 5 6 7 8 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 L1 2 3 4 5 Nervos cervicais Nervos torácicos Nervos lombares Nervos sagrados Nervo coccígeo Plexo lombosagrado (L1–S4) Funções Movimento do diafragma Movimento do pescoço e do ombro Movimento do membro superior Movimentos torácicos (costelas) na respiração Movimento da anca Movimento do membro inferior Movimentos da cabeça Tónus nos músculos posturais do dorso, movimento da coluna vertebral Parte 3 Sistemas de Integração e Controle424 Plexo Cervical O plexo cervical é um plexo relativamente pequeno com ori- gem nos nervos raquidianos C1 a C4 (figura 12.16). Os ramos derivados deste plexo inervam estruturas superficiais do pesco- ço, como vários dos músculos ligados ao osso hióide. O plexo cervical inerva a pele do pescoço e da porção posterior da cabeça (ver figura 12.14). Um dos ramos mais importantes do plexo cervical é o ner- vo frénico, com origem nos nervos raquidianos de C3 a C5. Os axónios deste nervo provêm, simultaneamente, dos plexos cervical e braquial. Os nervos frénicos descem ao longo de cada lado do pescoço e entram no tórax. Continuam a descer ao lon- go de cada lado do mediastino até alcançar o diafragma, que inervam. A contracção do diafragma é a principal responsável pela capacidade de respirar. E X E R C Í C I O Explique como é que a lesão ou compressão do nervo frénico direito pode afectar o diafragma. Descreva o efeito sobre a respiração de uma secção total da medula espinhal ao nível de C2, em comparação com uma secção ao nível de C6. Figura 12.14 Mapa dos Dermátomos As letras e números indicam os nervos raquidianos que inervam uma dada região da pele. C2 C3 C4 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12 L1 T2 T2 C5 C6 C7 C8 T1 S2 S5 Co L2 L5 L5 S1S1 L5 L5 S1 L4 L4 L3L3 L2 L2 S3 S3 C8 C8 T1T1 C7 C7 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12 L1 C6 C6 C5 C5 C4 C4 C3 C2 S1 S2 L3 L2 S3 S4 S1 L5 C7 C8 T2 T1C6 C5 S2 L4 L4 T1 T1 C6 S4 Lesão do Nervo Frénico A lesão do nervo frénico limita muito a capacidade respiratória. Como ele desce ao longo do mediastino, é preciso cuidado para não o atingir durante uma cirurgia torácica ou de coração aberto. O cancro do brônquio é o tipo mais comum de cancro no homem, representando cerca de 30% de todos os cancros masculinos e está associado, na maior parte das vezes, ao tabagismo. Os tumores na base do pulmão podem comprimir o nervo frénico. Capítulo 12 Medula Espinhal e Nervos Raquidianos 425 Figura 12.15 Nervos Raquidianos (a) Nervos raquidianos torácicos típicos. (b) Fotografia de quatro raízes dorsais dispostas ao longo da coluna vertebral. Gânglio da raiz dorsal (espinhal) Ramo dorsal do nervo raquidiano Ramo ventral do nervo raquidiano Nervo raquidiano Raiz dorsal do nervo raquidiano Ramos comunicantes Gânglio da cadeia simpática Raízes do nervo esplâncnico Radicelos Raiz ventral do nervo raquidiano Gânglio da raiz dorsal Radicelos dorsais Nervo raquidiano Apófise transversa da vértebra (seccionada) Buraco intervertebral (a) (b) Parte 3 Sistemas de Integração e Controle426 Plexo Braquial O plexo braquial tem origem nos nervos raquidianos de C5 a T1 (figura 12.17). Na origem do plexo braquial existe também um contributo de uma anastomose do ramo anterior de C4, fa- zendo este último parte do plexo cervical. Os cinco ramos ven- trais que integram o plexo braquial juntam-se para formar três troncos primários e cada um bifurca-se; estes seis ramos tor- nam depois a juntar-se para criar três troncos secundários (pos- terior, ântero-interno e ântero-externo), a partir dos quais emer- gem cinco nervos para o membro superior. Os cinco nervos principais que emergem do plexo braquial para o membro superior são o circunflexo, radial, musculo- cutâneo, cubital e mediano. O circunflexo inerva parte do om- bro; o radial inerva as regiões posteriores de todo o membro su- perior (braço, antebraço e mão); o musculocutâneo inerva a parte anterior do braço; o cubital e o mediano inervam a porção ante- rior do antebraço e da mão. O plexo braquial origina, ainda, ou- tros nervos, de pequenas dimensões, que inervam o ombro e os músculos peitorais. C1 C1 C4 Raízes (ramos ventrais) C2 C3 C4 Para o plexo braquial C5 Ramos Outros nervos (que não integram o plexo cervical) Nervo grande hipoglosso (XII) Nervo espinhal (XI) Pequeno nervo occipital Nervo para o esterno-cleido-mastoideu Nervo para o trapézio Nervo grande auricular Raiz superior da ansa cervical Ramo cervical transverso Ansa cervical Raiz inferior da ansa cervical Nervos supraclaviculares Nervo frénico Figura 12.16 Plexo Cervical, Vista Anterior As raízes do plexo são formadas pelos ramos ventrais dos nervos espinhais C1 a C4. Figura 12.17 Plexo Braquial, Vista Anterior As raízes do plexo são formadas pelos ramos ventrais dos nervos espinhais C5 - T1 e juntam-se de modo a formar os troncos primários superior, médio e inferior. Cada tronco bifurca-se num ramo anterior e posterior. Estes juntam-se de modo a formar os tronco secundários posterior, ântero-externo e ântero- -interno, a partir dos quais emergem os principais nervos do plexo braquial. Bloqueio do Plexo Braquial Por vezes é necessário anestesiar todo o membro superior; neste caso, o anestésico pode ser injectado junto do plexo braquial. A injecção, designada por bloqueio do plexo (braquial), é feita entre o pescoço e o ombro, posteriormente à clavícula. Raízes: C5, C6, C7, C8, T1 Divisões anteriores Divisões posteriores Troncos secundários: posterior, ântero-externo e ântero-interno Ramos: Nervo circunflexo Nervo radial Nervo musculocutâneo Nervo mediano Nervo cubital C4 C5 C6 C7 C8 3º tronco primário (inferior) 2º tronco primário (médio) 1º tronco primário (superior) Nervo do grande dentado Troncos: superior, médio, inferior Nervo do grande dorsal Nervo supra-escapular Nervo subclávio Nervo músculo-cutâneo Nervos grande e pequeno peitorais Nervo mediano Nervo cubital Tronco secundário ântero-externo Tronco secundário posterior Nervo radial Nervo circunflexo Nervo braquial cutâneo interno Tronco secundário ântero-interno T1 C5 T1 Capítulo 12 Medula Espinhal e Nervos Raquidianos 427 Nervo Circunflexo O nervo circunflexo inerva o deltóide e os músculos pequeno redondo (figura 12.18). Dá também inervação sensorial à arti- culação do ombro e a parte da pele que reveste o ombro. Tronco secundário ântero-externo Nervo secundário ântero-interno Tronco secundário posterior Pequeno redondo Nervo circunflexo Deltóide Nervo Circunflexo Origem Tronco secundário posterior do plexo braquial, C5-C6 Movimentos/Músculos Inervados Rotação externa do braço • Pequeno redondo Abdução do braço • Deltóide Inervação cutânea Porção infero-externa do ombro Figura 12.18 Nervo Circunflexo Percurso do nervo circunflexo e músculos que inerva. A figura menor representa a distribuição cutânea do nervo (área sombreada). Parte 3 Sistemas de Integração e Controle428 Nervo Radial O nervo radial emerge do tronco secundário posterior do plexo braquial e desce na porção profunda do braço posterior (figura 12.19). No terço médio da diáfise do úmero encosta-se ao osso, percorrendo a sua goteira de torção, também conhecida por go- teira radial. O nervo radial inerva todos os músculos extensores do membro superior, o longo e curto supinadores e, ainda, parte do braquial anterior. A sua distribuição sensitiva cutânea é para a porção posterior do membro superior, incluindo a superfície posterior da mão. E X E R C Í C I O A mão pendente pode também resultar de uma fractura composta do úmero. Explique como e onde é que a lesão do nervo radial pode ocorrer neste caso. Lesão do Nervo Radial Como o nervo radial está perto do úmero na axila, pode ser lesado, se for comprimido contra este osso. O uso inadequado de muletas (isto é, quando a muleta é muito apertada contra a axila) pode provocar a “paralisia da muleta”. Nesta doença, o nervo radial foi comprimido entre o topo da muleta e o úmero. Por isso, fica lesado e os músculos que inerva perdem a sua função. O sintoma principal é a “mão pendente”, em que os músculos extensores do punho e dos dedos, inervados pelo nervo radial, perdem a sua função; desta forma, o cotovelo, punho e dedos da mão ficam constantemente flectidos. Vasto externo Longo supinador Longo radial Curto radial Curto supinador Longo abdutor do polegar Curto e longo extensores do polegar Nervo radial Tronco secundário posterior Tronco secundário ântero-externo Tronco secundário ântero-interno Longa porção do tricípete Vasto interno Ancónio Extensor comum dos dedos Extensor próprio do dedo mínimo Cubital posterior Extensor próprio do indicador Figura 12.19 Nervo Radial Percurso do nervo radial e músculos que inerva. As figuras menores ilustram a distribuição cutânea do nervo (área sombreada). Nervo Radial Origem Tronco secundário posterior do plexo braquial, C5-T1 Movimentos/Músculos Inervados Extensão do antebraço • Tricípete braquial • Ancónio Flexão do antebraço • Braquial anterior (em parte; não se vê) • Longo supinador Extensão e abdução do punho • Primeiro radial externo ou longo radial • Segundo radial externo ou curto radial Supinação do antebraço • Curto supinador Extensão dos dedos • Extensorcomum dos dedos • Extensor próprio do dedo mínimo • Extensor próprio do indicador Extensão e adução do punho • Cubital posterior Abdução do polegar • Longo abdutor do polegar Extensão do polegar • Longo extensor do polegar • Curto extensor do polegar Inervação Cutânea Face posterior do braço e antebraço, dois terços externos do dorso da mão Capítulo 12 Medula Espinhal e Nervos Raquidianos 429 Nervo Músculo-cutâneo O nervo músculo-cutâneo dá inervação motora aos músculos anteriores do braço. Dá também inervação sensitiva cutânea a parte do antebraço (figura 12.20). Nervo Músculo-cutâneo Origem Tronco secundário ântero-externo do plexo braquial, C5-C7 Movimentos/Músculos Inervados Flexão do braço • Bicípete braquial • Coracobraquial Flexão e supinação do antebraço • Bicípete braquial Flexão do antebraço • Braquial anterior (tem também inervação do nervo radial, em pequena quantidade) Inervação Cutânea Face externa do antebraço Tronco secundário posterior Tronco secundário ântero-externo Tronco secundário ântero-interno Coracobraquial Nervo músculo-cutâneo Bicípite braquial Braquial anterior Figura 12.20 Nervo Músculo-cutâneo Percurso do nervo músculo-cutâneo e músculos que inerva. A figura menor representa a distribuição cutânea do nervo (área sombreada). Parte 3 Sistemas de Integração e Controle430 Nervo Cubital O nervo cubital inerva dois músculos do antebraço e, ainda, a maior parte dos músculos intrínsecos da mão, excepto alguns associados ao polegar. A sua distribuição sensitiva corresponde à porção interna da mão (figura 12.21). Lesão do Nervo Cubital O nervo cubital é o mais facilmente lesado de todos os nervos periféricos, mas essa lesão é quase sempre temporária. Pode dar-se uma pequena lesão do cubital no local onde passa posteriormente à epitróclea do úmero. Nesse ponto, o nervo pode ser palpado logo abaixo da pele e, se essa região bater contra um objecto duro, pode haver lesão temporária do cubital, produzindo sensações de formigueiro doloroso, que irradiam distalmente ao longo da porção medial do antebraço e mão. Esta sensação justifica que, na língua inglesa, se designe a porção interna do cotovelo como “funny bone” ou “crazy bone” (respectivamente, “osso engraçado” e “osso maluco”). Nervo Cubital Origem Tronco secundário ântero-interno do plexo braquial, C8-T1 Movimentos/Músculos Inervados Flexão e adução do punho • Cubital anterior Flexão dos dedos • Flexor comum profundo dos dedos (parte interna deste músculo que vai para as falanges distais dos dedos mínimo e anelar) Adução do polegar • Adutor do polegar Controle dos músculos hipothenares • Curto flexor do dedo mínimo • Abdutor do dedo mínimo • Oponente do dedo mínimo Flexão da articulação metacarpofalângica e extensão das articulações interfalângicas • Os dois lombricóides internos (cubitais) Abdução e adução dos dedos da mão • Interósseos palmares e dorsais Inervação Cutânea Terço interno da mão, dedo mínimo e metade interna do anelar Tronco secundário posterior Tronco secundário ântero-externo Tronco secundário ântero-interno Nervo cubital Cubital anterior Flexor comum profundo dos dedos Músculos hipothenares Adutores do polegar Todos os intersósseos dorsais e palmares Os dois lombricóides internos (cubitais) Figura 12.21 Nervo Cubital Percurso do nervo cubital e músculos que inerva. A figura menor representa a distribuição cutânea do nervo (área sombreada). Capítulo 12 Medula Espinhal e Nervos Raquidianos 431 Nervo Mediano O nervo mediano inerva todos os músculos flexores do ante- braço excepto um e a maior parte dos músculos da região da base do polegar, conhecida como região thenar. A sua distribui- ção sensitiva cutânea corresponde à porção externa da palma da mão (figura 12.22). Lesão do Nervo Mediano A lesão do nervo mediano ocorre, com mais frequência, na zona onde percorre o punho e que se chama túnel do carpo. Este túnel é criado pela organização côncava dos ossos do carpo e pelo ligamento anular anterior do carpo. Nenhum dos componentes do tecido conjuntivo se expande com facilidade. Uma inflamação do punho ou um aumento do tamanho dos tendões no túnel do carpo pode produzir aumento da pressão dentro do túnel, comprimindo o nervo mediano e provocando adormecimento, formigueiro e dor nos dedos. Esta situação é designa- da como síndroma do túnel do carpo. Esta síndrome é frequente em pessoas que desempenham movimentos repetitivos dos punhos e dos dedos, como os dactilógrafos. É muitas vezes necessária uma interven- ção cirúrgica para aliviar a pressão no túnel cárpico. O nervo mediano é habitualmente seccionado acima do túnel do carpo, quando se cortam os “pulsos” numa tentativa de suicídio. Nervo Mediano Origem Troncos secundários ântero-interno e ântero-externo do plexo braquial, C5-T1 Movimentos/Músculos Inervados Pronação do antebraço • Redondo pronador • Quadrado pronador Flexão e abdução do punho • Grande palmar Flexão do punho • Pequeno palmar Flexão dos dedos • Flexor comum profundo dos dedos (parte externa do músculo, que vai para as falanges distais do dedo médio e do indicador) • Flexor comum superficial dos dedos Controle de músculo do polegar • Longo flexor do polegar Controle dos músculos thenares • Curto abdutor do polegar • Oponente do polegar • Curto flexor do polegar Flexão das articulações metacarpofalângicas e extensão das articulações interfalângicas • Os dois lombricóides externos (radiais) Inervação Cutânea Dois terços externos da palma da mão, dedos polegar, indicador e médio, e metade externa do anelar; extre- midades dorsais dos mesmos dedos Figura 12.22 Nervo Mediano Percurso do nervo mediano e músculos que inerva. A figura menor representa a distribuição cutânea do nervo (área sombreada). Outros Nervos do Plexo Braquial Diversos nervos, para além dos cinco aqui descritos, têm origem no plexo braquial (ver a figura 12.16). Servem a maior parte dos músculos que actuam na omoplata e braço e incluem os nervos grande e pequeno peitorais, do grande dentado, do grande dorsal, do infra-escapular e supra-escapular. Além disso, os nervos do plexo braquial dão inervação cutânea às regiões internas do bra- ço e antebraço. 20. Indique as estruturas inervadas pelo plexo cervical. Descreva a inervação do nervo frénico. 21. Nomeie os cinco maiores nervos que emergem do plexo braquial. Enumere os músculos que inervam e as áreas da pele que servem. Indique os músculos e áreas da pele inervados por outros nervos do plexo braquial, para além destes cinco. Tronco secundário posterior Tronco secundário ântero-externo Tronco secundário ântero-interno Nervo mediano Redondo pronador Grande palmar Pequeno palmar Flexor comum superficial dos dedosFlexor comum profundo dos dedos Longo flexor do polegar Quadrado pronador Músculos thenares Os dois lombricóides externos (radiais) Parte 3 Sistemas de Integração e Controle432 Plexos Lombar e Sagrado O plexo lombar tem origem nos ramos ventrais dos nervos raquidianos L1 a L4, e o plexo sagrado de L4 a S4. No entanto, em virtude da sua relação de proximidade e sobreposição e da sua distribuição similar, os dois plexos são muitas vezes conside- rados em conjunto como um único plexo lombo-sagrado (L1 a S4; figura 12.23). Dois importantes nervos emergem do plexo lombar e entram no membro inferior: o obturador e o crural; do plexo sagrado emergem dois grossos troncos que vão constituir o nervo grande ciático. O obturador inerva a porção mediana da coxa; o crural, a porção anterior da coxa; o nervo grande ciático, pelo seu ramo ciático popliteu interno, inerva a face postero- interna da coxa, a perna e o pé; e, pelo seu ramo ciático popliteu externo, inerva a face póstero-externada coxa, anterior e externa da perna e o pé. Outros nervos lombares e sagrados inervam a parte inferior do dorso, a anca e o abdómen inferior. L1 L1 L2 L3 L4 L4 L5 S1 S2 S3 S4 S4 S5 Grande abdómino- genital Pequeno abdómino- genital Fémoro-cutâneo Génito-crural Anastomose lombo-sagrada Glúteo superior Glúteo inferior Ciático popliteu externo Ciático popliteu interno Crural Pudendo Obturador Raízes Divisões anteriores Nervos Divisões posteriores Nervo cutâneo femoral posterior Ciático Figura 12.23 Plexos Lombar e Sagrado, Vista Anterior As raízes do plexo lombar são formadas pelos ramos ventrais dos nervos raquidianos L1 - L4 e do plexo sagrado pelos das raízes L4 - S4, que se bifurcam em ramos anteriores e posteriores, os quais dão origem aos nervos lombares e sagrados. O tronco lombo-sagrado junta os plexos lombar e sagrado. Capítulo 12 Medula Espinhal e Nervos Raquidianos 433 Nervo Obturador O obturador inerva os músculos que fazem a adução da coxa. A sua distribuição sensitiva cutânea é para o lado interno da coxa (figura 12.24). Nervo Obturador Origem Plexo lombar, L2-L4 Movimentos/Músculos Inervados Rotação externa da coxa • Obturador externo Adução da coxa • Grande adutor (parcial) • Médio adutor • Pequeno adutor Adução e flexão do joelho • Recto interno Inervação Cutânea Porção superior interna da coxa Grande adutor Pequeno adutor Médio adutor Recto interno Obturador externo Nervo obturador L2 L3 L4 Figura 12.24 Nervo Obturador Percurso do nervo obturador e músculos que inerva. A figura menor representa a distribuição cutânea do nervo (área sombreada). Parte 3 Sistemas de Integração e Controle434 Nervo Crural O crural inerva o psoas ilíaco, costureiro e o quadricípete femoral. A distribuição cutânea sensorial é nas faces anterior e externa da coxa e na porção ântero-interna da perna e pé (figura 12.25). Psoas L2 L3 L4 Ilíaco Costureiro Vasto externo Recto anterior Crural Nervo crural Pectíneo Vasto interno Figura 12.25 Nervo Crural Percurso do nervo crural e músculos que inerva. A figura menor representa a distribuição cutânea do nervo (área sombreada). NNNNNervoervoervoervoervo CruralCruralCruralCruralCrural Origem Plexo lombar, L2-L4 Movimentos/Músculos Inervados Flexão da coxa • Psoas • Ilíaco • Pectíneo Flexão da coxa e da perna • Costureiro Extensão da perna • Vasto externo • Crural • Vasto interno Extensão da perna e flexão da coxa • Recto anterior Inervação Cutânea Os ramos anteriores e laterais inervam a coxa anterior e externa; o ramo safeno inerva e perna (face interna) e o pé Capítulo 12 Medula Espinhal e Nervos Raquidianos 435 Nervo Grande Ciático O nervo grande ciático é o único ramo terminal do plexo sa- grado e tem origem em dois grossos troncos que provêm dos segmentos espinhais L4 a S3 e percorrem, numa fascia de tecido conjuntivo, todo o comprimento da coxa. O termo ciático tem origem numa corruptela de “isquiático”, tendo uma “Conferên- cia Internacional de Anatomistas” decidido começar a usar o ter- mo correcto. O nervo ciático, de longe o maior nervo periférico do corpo, atravessa a grande chanfradura da bacia e desce na porção posterior da coxa para o escavado popliteu, onde se bi- furca, dando um ramo externo, o ciático popliteu externo (ou peroneal comum), e um ramo interno, o ciático popliteu in- terno (ou tibial). O ciático popliteu interno inerva a maioria dos músculos posteriores da coxa e da perna (ver figura 12.26). Ramifica-se no pé formando os nervos plantares interno e externo, que inervam os músculos plantares do pé e a pele que reveste a planta do pé. Outro ramo, o nervo safeno externo, fornece parte da inervação cutânea da face posterior da perna e superfície plantar do pé (figura 12.26). Semimembranoso Semitendinoso Grande adutor Popliteu Longo flexor comum dos dedos Longa porção do bicípete crural Nervo tibial Solhar Longo flexor do dedo grande Nervo plantar externo para os músculos plantares Gémeos L4 L5 S1 S2 S3 Tibial posterior Nervo plantar interno para os músculos plantares Nervo Ciático Popliteu Interno (ou Tibial) Origem Plexo sagrado, L4-S3 Movimentos/Músculos Inervados Extensão da coxa e flexão da perna • Bicípete crural (longa porção) • Semitendinoso • Semimembranoso Adução e extensão da coxa • Grande adutor (parcial) Extensão do pé • Plantar delgado • Gémeos • Solhar • Tibial posterior Flexão da perna • Popliteu Flexão dos dedos do pé • Longo flexor comum dos dedos do pé • Longo flexor do dedo grande do pé Inervação Cutânea Nenhuma Nervos Plantares Interno e Externo Origem Nervo ciático popliteu interno Movimentos/Músculos Inervados Flexão e adução dos dedos do pé • Músculos plantares do pé Inervação Cutânea Planta do pé Nervo Safeno Externo (não se vê) Origem Nervo ciático popliteu interno Movimentos/Músculos Inervados Nenhum Inervação Cutânea Terço externo e posterior da perna e face lateral do pé Figura 12.26 Nervo Ciático Popliteu Interno (Tibial) Percurso do nervo tibial e músculos que inerva. A figura menor representa a distribuição cutânea do nervo (área sombreada). Parte 3 Sistemas de Integração e Controle436 O ciático popliteu externo (ou peronial) divide-se nos ner- vos músculo-cutâneo e tibial anterior. Estes ramos inervam os músculos anteriores e laterais da perna e pé. A distribuição cutânea do ciático popliteu externo e seus ramos é na face antero- externa da perna e dorso do pé (figura 12.27). Peronial anterior Curto extensor comum dos dedos Longo peronial lanteral Curto peronial lateral Curta porção do bicípete crural Tibial anterior Longo extensor do dedo grande Longo extensor comum dos dedos Nervo ciático popliteu externo (peronial) Nervo músculo-cutâneo Nervo tibial anterior S1 S2 S3 L5 L4 Figura 12.27 Nervo Ciático Popliteu Externo (Peronial) Percurso do nervo peronial e músculos que inerva. A figura menor representa a distribuição cutânea do nervo (área sombreada). Nervo Ciático Popliteu Externo (ou Peronial) Origem Plexo sagrado, L4-S2 Movimentos/Músculos Inervados Extensão da coxa e flexão da perna • Bicípete femoral (cura porção) Inervação Cutânea Superfície lateral do joelho Nervo Tibial Anterior Origem Nervo ciático popliteu externo Movimentos/Músculos Inervados Flexão do pé • Tibial anterior • Peronial anterior Extensão dos dedos do pé • Longo extensor comum dos dedos do pé • Longo extensor do dedo grande do pé Inervação Cutânea Dedo grande e segundo dedo do pé Nervo Músculo-cutâneo Origem Nervo ciático popliteu externo Movimentos/Músculos Inervados Extensão e eversão do pé • Longo peronial lateral • Curto peronial lateral Extensão dos dedos do pé • Curto extensor comum dos dedos do pé Inervação Cutânea Terço dorsal anterior da perna e dorso do pé 437Capítulo 12 Medula Espinhal e Nervos Raquidianos Outros Nervos dos Plexos Lombar e Sagrado Além dos já descritos, os plexos lombar e sagrado dão origem aos nervos que inervam os músculos do abdómen inferior (ner- vos grande e pequeno abdominogenitais), os músculos glúteos que movem a anca (nervos glúteos) e os músculos do pavimento abdominal (nervo glúteo inferior; ver a figura 12.23). Os nervos grande e pequeno abdómino-genitais, génito-crural, fémoro- -cutâneo e glúteo inferior ou pequeno ciático inervam a pele da área suprapúbica, genitais externos, coxa superior, interna e posterior. Os nervos pequenos ciáticos desempenham um papel vital na estimulação e resposta sexual. Plexo Coccígeo O plexo coccígeo é um plexo muito pequeno formado pelosra- mos ventrais dos nervos raquidianos S4, S5 e o nervo coccígeo. Este pequeno plexo faz a inervação motora dos músculos do pavimento pélvico e a inervação sensitiva cutânea da pele que recobre o cóccix. Parte da pele que recobre o cóccix é inervada pelos ramos dorsais dos nervos coccígeos. 22. Designe os quatro principais nervos que saem dos plexos lombar e sagrado e descreva os músculos e áreas da pele que servem. Que nome se dá ao nervo que origina os nervos ciático popliteu interno e ciático popliteu externo? 23. Descreva as estruturas inervadas pelos outros nervos dos mesmos plexos. 24. Quais as estruturas inervadas pelo plexo coccígeo? Os doentes paralisados por Acidentes Vas- culares Cerebrais (AVC) ou traumatismo vertebromedular podem hoje em dia recu- perar algumas funções, ainda que de for- ma limitada. Estão a ser aperfeiçoados microcomputadores que estimulam certas actividades programadas como a preensão ou a marcha. Pequenos fios transportam impulsos eléctricos gerados pelo micro- computador ou para os nervos periféricos ou directamente para os músculos respon- sáveis pelo movimento desejado. O progra- Perspectiva Clínica Substituição de Nervos ma é iniciado pelo movimento subtil de mús- culos não afectados pela paralisia. Os sensores ligados ao microcomputador são colocados na pele que reveste os músculos funcionais e con- seguem detectar actividade eléctrica associa- da ao movimento dos músculos subjacentes. Por exemplo, uma pessoa que tem ambas as pernas paralisadas poderá ter um sensor des- tes ligado ao abdómen. Os músculos abdomi- nais, normalmente envolvidos na estabilização e movimento da bacia durante a marcha, são estimulados por feixes descendentes quando a marcha é iniciada pelos centros do SNC. A actividade resultante dos músculos abdomi- nais é detectada pelo sensor, que activa o programa que estimula a sequência muscu- lar apropriada, e a pessoa paralisada con- seguirá andar. Da mesma forma, um tetra- plégico é capaz de iniciar certas acções do membro superior e preensão, através de mo- vimentos subtis do ombro, pescoço ou face, onde podem ser colocados os sensores es- pecíficos. Lesão do Nervo Grande Ciático Quando uma pessoa se senta numa superfície dura por um período de tempo considerável, o nervo grande ciático pode ser comprimido contra a porção isquiática do osso coxal. Quando a pessoa se levanta, pode sentir uma sensação de formigueiro, descrita como “agulhas e alfinetes”, ao longo do membro inferior, e diz-se que o membro está “dormente”. O nervo grande ciático pode ser gravemente lesado por diversas formas. A rotura de um disco intervertebral ou a pressão exercida pelo útero durante a gravidez podem comprimir as raízes deste nervo. Outras hipóteses serão o traumatismo da anca ou uma injecção incorrectamen- te aplicada. Anestesia para Episiotomia Os ramos do nervo glúteo inferior ou pequeno ciático são anestesiados antes de o médico executar uma episiotomia durante o parto. A episiotomia consiste num corte no períneo que alarga o canal do parto. Parte 3 Sistemas de Integração e Controle438 Tipos Gerais de Perturbações do SNP A anestesia é a perda de sensação (a pala- vra grega esthesis significa sensação). Pode ser uma situação patológica, se surgir es- pontaneamente, ou ser induzida para faci- litar uma intervenção cirúrgica ou qualquer outro tratamento médico. A hiperestesia consiste numa agudiza- ção anormal da sensação – sensibilidade aumentada, especialmente à dor, à pressão ou à luz. A parestesia é uma sensação anormal espontânea, tal como cócegas, prurido ou queimadura. A nevralgia consiste em paroxismos graves de dor tipo pontada ou facada no território da distribuição de um nervo, re- sultando de inflamação ou lesão ao longo do trajecto desse nervo. A ciática é uma nevralgia do nervo gran- de ciático, em que a dor irradia ao longo da face posterior do membro inferior. A causa mais comum é a hérnia de um disco intervertebral na região lombar, produzin- do compressão nas raízes raquidianas do plexo lombar. A ciática pode ser também causada por uma nevrite ciática, que pode ser devida a numerosas causas, como o estiramento mecânico do nervo durante o exercício, défice vitamínico ou perturbações metabólicas (como a gota ou diabetes). Nevrite é um termo geral que designa a inflamação de um nervo devida a uma gran- de variedade de causas, incluindo a lesão ou pressão mecânica, infecção viral ou bacte- riana, lesão por medicamentos ou outros pro- Perspectiva Clínica Doenças do Sistema Nervoso Periférico – Nervos Raquidianos dutos químicos e défices vitamínicos. A nevrite dos nervos sensitivos caracteriza-se por nevralgia ou pode produzir anestesia e perda de reflexos na área afectada. A nevrite dos nervos motores leva a perda de função motora. Infecções O herpes é uma família de doenças caracteri- zadas por lesões da pele, causadas por um grupo de vírus estreitamente relacionados (os vírus herpes). O termo deriva da palavra grega herpo, que significa rastejar e designa uma erupção cutânea que se espalha. Os vírus re- sidem aparentemente nos gânglios dos nervos sensitivos e provocam lesões no território de distribuição periférica do nervo. O herpes simplex II ou herpes genital é habitualmente responsável por uma doença de transmissão sexual que provoca lesões nos órgãos genitais externos. O vírus da varicela provoca nas crianças a varicela e em adultos a “zona” ou herpes zoster. Normalmente, o vírus entra no organis- mo durante a infância, causando varicela. Fica depois alojado (quiescente) nos gânglios sen- sitivos (dos nervos cranianos e raquidianos) durante muitos anos e pode activar-se duran- te uma fase de reduzida resistência provocan- do a zona (vulgo cobrão), uma zona unilateral de vesículas e descoloração na pele no trajec- to de distribuição periférica de um ou mais nervos raquidianos ou pares cranianos com um componente sensitivo. As localizações mais frequentes são em torno da cintura ou na zona de inervação cutânea do trigémeo. Os sinto- mas podem persistir por três a seis meses. A poliomielite (“polio” ou paralisia in- fantil; o termo grego polio significa substân- cia cinzenta) é uma doença causada por um enterovírus. É, de facto, uma infecção do SNC, mas o seu principal efeito é sobre os nervos periféricos e músculos que eles inervam. O vírus infecta os neurónios moto- res do corno anterior da substância cinzen- ta central da medula espinhal. A infecção leva a degenerescência dos neurónios mo- tores, produzindo paralisia e atrofia dos músculos inervados por esses nervos. A anestesia leprosa é uma infecção bac- teriana dos nervos periféricos causada pelo Mycobacterium leprae. A infecção resulta em anestesia, paralisia, ulceração e gangrena. Doenças Genéticas e Auto-Imunes A distrofia miotónica é uma doença heredi- tária autossómica dominante que se carac- teriza por diminuição da força, disfunção e atrofia muscular, e défice visual resultante de degenerescência nervosa. A myastenia gravis (ou miastenia gra- ve) é uma doença auto-imune que resulta na redução do número de receptores da ace- tilcolina funcionais nas junções neuromus- culares. As células T do sistema imune des- dobram as proteínas receptoras da ace- tilcolina em dois fragmentos que desenca- deiam a produção de anticorpos pelo sis- tema imune. A miastenia gravis leva a fadi- ga e diminuição progressiva da força mus- cular, em consequência da disfunção neuro- muscular. Medula Espinhal (p. 412) Estrutura Geral 1. Saem da medula espinhal trinta e um pares de nervos raquidianos. A medula espinhal tem dilatações cervicais e lombares, onde os nervos dos membros entram e saem. 2. A medula espinhal é mais curta do que a coluna vertebral. Os nervos do fim da medula espinhal formam a cauda equina. Meninges da Medula Espinhal Três camadas meníngeas
Compartilhar