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2017 TREINAMENTO, DESENVOLVIMENTO E COACHING 2018 TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO COACHING 2 Produzido pelo Núcleo de Ensino a Distância do Centro Universitário de Jaguariúna. COORDENADOR SILVIO PETROLI NETO CONTEÚDO CHRISTIANE NOVO BARBATO EDITORAÇÃO TIAGO NOGUEIRA DE SOUZA 3 Sumário MÓDULO 1 ....................................................................................... 6 Treinamento, Desenvolvimento e Educação Corporativa ......... 6 Desenvolvimento Individual e Desenvolvimento de Equipes .. 30 Referências Bibliográficas .............................................................. 44 MÓDULO 2 ..................................................................................... 48 Organizando um programa de treinamento ou de desenvolvimento de pessoas ........................................................... 48 Processos e Etapas de Treinamentos e de Desenvolvimentos de Pessoas ....................................................................................... 51 Referências ............................................................................. 98 MÓDULO 3 ................................................................................... 106 Modalidades, tipos, metodologias e ferramentas do treinamento e do desenvolvimento de pessoas ............................ 106 Tipos de Treinamentos e de Desenvolvimentos de Pessoas . 113 Referências Bibliográficas ............................................................ 139 MÓDULO 4 ................................................................................... 144 Acompanhamento de indicadores e mensuração de resultados144 Referências bibliográficas ..................................................... 184 MÓDULO 5 ................................................................................... 190 Coaching: o que é e em que contexto pode ser utilizado? .... 191 Alguns conceitos importantes do Coaching .......................... 195 Conceitos-Chave do Coaching ...................................... 195 Autoconhecimentos: o ponto de partida .............................. 208 Liderança e Coaching ............................................................ 216 4 Coaching como ferramenta de treinamentos e desenvolvimentos de pessoas ....................................................... 219 Referências bibliográficas ..................................................... 226 5 MÓDULO I TREINAMENTO DESENVOLVIMENTO E COACHING 6 MÓDULO 1 Treinar e desenvolver pessoas: eis a questão! Olá, querido (a) aluno (a). Bem-vindo (a) ao primeiro módulo desta disciplina! Neste módulo veremos o que é treinamento, o que é desenvolvimento de pessoas e as diferenças entre treinamento, formação e educação. Além disso, evidenciaremos a importância de se treinar e desenvolver pessoas e equipes. Treinamento, Desenvolvimento e Educação Corporativa Você sabe andar? Sabe correr? Sabe falar? Sabe andar de bicicleta? Sabe dirigir um carro? Sabe nadar? Toca algum instrumento musical? Se você respondeu sim a alguma das questões anteriores, saiba que você já recebeu algum treinamento em alguma época da sua vida. Vamos lá, então? 7 Atividades que atualmente consideramos simples, como beber água em um copo, utilizar talheres nas refeições, escrever à mão, ler, usar o computador para enviar uma mensagem, e milhares de outras, nos foram ensinadas por nossos familiares, amigos, professores, colegas, gestores, entre outros. E tem mais: Penso que não! Para executá-las de forma rápida e eficaz, precisamos de muito treino, não é mesmo? Dando um passo adiante, você pode se imaginar chegando a uma empresa, em seu primeiro dia de trabalho, e receber ordens para realizar determinada atividade sem que lhe deem qualquer orientação para tanto? Acredito que seria muito difícil que você, ou qualquer pessoa, se saísse bem, a não ser que já possuísse muita experiência naquela mesma atividade, certo? Pois bem, para desempenharmos atividades laborais, necessitamos de conhecimentos teóricos ou técnicos, habilidades Será que você se sairia bem em uma situação dessas? Para executar ações voluntárias não instintivas, precisamos de algum treinamento. Quando começou a aprender, você executava essas atividades tão bem quanto agora? 8 específicas e atitudes condizentes ao que se espera de nós naquela função, e, para desenvolvermos esse conjunto de competências, precisamos de treinamento, formação ou educação. Treinamento Chiavenato (1994, p. 126) conceitua treinamento como “o ato intencional de fornecer os meios para proporcionar a aprendizagem”. Isso quer dizer que o treinamento tem que ter uma intenção, um propósito estipulado, e deve proporcionar aprendizagem. Para responder a essa questão, vamos nos lembrar do início deste tópico: nós, seres humanos, precisamos de treinamento para adquirir conhecimentos (teóricos ou práticos) e desenvolvermos Mas o que a pessoa que passará pelo treinamento deve aprender? Vamos, então, entender o que é cada uma dessas intervenções que visam aprimorar ou desenvolver nossos conhecimentos, habilidades ou atitudes? Vamos lá! Dessa forma, podemos dizer que um treinamento é uma intervenção proposital que procura proporcionar aprendizado a quem está sendo treinado. 9 habilidades ou atitudes que nos levem às competências necessárias para desempenhar uma ou um conjunto de atividades, certo? Essas atividades podem ser profissionais, ou não. Aqui, consideraremos aquelas exigidas para desempenharmos um cargo ou uma função laboral. Exemplos de treinamento são: cursos livres, tais como utilização de planilhas financeiras, cursos de uso de softwares, cursos de aprimoramento em técnicas específicas de alguma profissão, como operação de determinada máquina de certa indústria, treinamento em liderança, em atendimento, em vendas, etc. Até a um tempo atrás, o treinamento era visto como um processo destinado à transmissão de informações ou aquisição de habilidades práticas. Contudo, com as mudanças do mercado e das formas de interação entre os diversos atores que nele atuam o que impactou em maiores exigências por parte dos clientes, com relação aos produtos e atendimento, as empresas começaram a perceber a necessidade de desenvolver seus talentos, de modo que eles pudessem constituir seu diferencial competitivo, ou seja, aquilo que a empresa possui ou consegue ser e que a distingue positivamente das demais. Nesse sentido, o treinamento começou a ser visto como possibilidade de desenvolver pessoas, tanto no que se refere a habilidades técnicas, quanto a atitudes e comportamentos. Você já pode pensar em um exemplo de uma demanda de treinamento? 10 Desenvolvimento No dicionário Priberam1, o termo “desenvolver” está ligado, entre outros, a crescer, progredir, aumentar, propagar-se, estender-se, prolongar-se. Desta forma, a palavra “desenvolvimento” remete a um processo de mudança que visa ao crescimento, ou progresso de alguém. É, portanto, um conceito mais amplo do que o de treinamento. 1 https://www.priberam.pt/dlpo/desenvolver [consultado em 11-02-2017]. E, afinal, o que é desenvolvimentoe qual é a diferença entre treinamento e desenvolvimento? Vamos pensar juntos? A partir desses conceitos, você já tem ideia do que é desenvolvimento de pessoas na organização? 11 No contexto organizacional, o desenvolvimento de pessoas traduz um conjunto de ações que a empresa executa, com o objetivo de proporcionar crescimento profissional ao colaborador, ou seja, a organização oferece oportunidades para que o colaborador desenvolva competências ligadas à sua carreira profissional. O quadro abaixo traz as principais diferenças entre treinamento e desenvolvimento de pessoas nas organizações. Treinamento Desenvolvimento Orientação Curto prazo Longo prazo Foco Cargo atual Futuro profissional Desenvolvimento De conhecimentos, habilidades e atitudes para uso imediato De conhecimentos, habilidades e atitudes para qualquer função ou cargo que o colaborador irá ocupar Função Mais operacional Mais estratégica Quadro 1 – Diferenças entre Treinamento e Desenvolvimento Fonte: Quadro organizado com base em Mello (2015). E então, você já imagina quais as diferenças entre treinamento, desenvolvimento e educação? 12 Educação Educação é um conjunto de métodos e práticas que, a médio ou longo prazo, garante ao educando uma formação intelectual e moral. No âmbito organizacional, a Educação é o conjunto de práticas proporcionadas pelas empresas que, a médio ou longo prazo, fornece ao colaborador uma formação sólida em alguma área do saber. Já vimos que o treinamento mira as competências mais específicas e necessárias a um cargo ou função que o colaborador ocupa no momento, ou está prestes a ocupar e, por sua vez, o desenvolvimento, mais abrangente que o treinamento, visa a aquisição de competências que poderão ser utilizadas em qualquer cargo ou função que o colaborador possa vir a ocupar ou executar. As práticas de treinamento são muito antigas e remontam ao início do Século XX, com a teoria de Taylor. Embora o conceito de treinamento tenha passado por mudanças substanciais, com o passar do tempo, as cada vez mais constantes inovações tecnológicas levaram as empresas a se darem conta que treinamentos não eram mais suficientes para manter seus colaboradores atualizados e competitivos no mercado. (MELLO, 2015). Afinal, para que uma empresa seja competitiva no mercado, é preciso ter pessoas competitivas também, ou seja, colaboradores que se mantenham constantemente atualizados, não são mesmo? Vamos conhecê-las? 13 Mello (2015) lembra que para atender à essa demanda empresarial, surgiu a Educação Corporativa. Por meio de ações que visam manter o pessoal conectado ao cenário mundial, as empresas proporcionam, através da Educação Corporativa, acesso rápido à informação atualizada. A educação corporativa, ao contrário do que alguns possam pensar, não é um simples treinamento ou qualificação de mão-de- obra. É uma prática coordenada de gestão de pessoas e de conhecimento, tendo como objetivo beneficiar uma estratégia de longo prazo da empresa. Além disso, esta modalidade de educação articula as características individuais e organizacionais em um contexto mais amplo na empresa, gerando um processo de grande inovação e permitindo o aumento da competitividade de seus produtos ou serviços. (COMO..., 2017, p.8) Muito bem! Agora você já pensou em um exemplo de necessidade de treinamento, outro de uma demanda de desenvolvimento, e um outro que exemplifique necessidade de Educação Corporativa? Vamos conferir! São exemplos de investimentos em Educação, os cursos profissionalizantes, os cursos de Graduação e Pós- Graduação (Lato Sensu ou Stricto Sensu), entre outros. 14 CASO 1: Treinamento, Desenvolvimento e Educação CorporativaCorporativa. A empresa “Lux e Bacana” está em vias de implantar um novo departamento de atendimento a clientes especiais. Para tanto, precisará selecionar dois de seus colaboradores, que estejam aptos a conhecer as necessidades dos clientes fidelizados à empresa, antecipando-lhes as necessidades e, ainda, que sejam capazes de buscar, em outros departamentos, aqueles colaboradores que poderão atender essas demandas. Breno e Talitha, dois colaboradores da empresa, já demonstraram a competência de estabelecer bons relacionamentos com os clientes, mas o staf, Dr. Wilson Campanha, acredita que eles ainda não estejam preparados para exercer a função no novo departamento; ele acredita que os dois colaboradores precisam aprender mais sobre fidelização de clientes e deseja prepará-los. Além disso, será preciso que o Dr. Wilson contrate novos colaboradores para ocuparem as funções daqueles que forem alocados no novo departamento. O Dr. Wilson aprecia muito uma das gerentes da “Lux e Bacana”, a Sra. Lígia Fagundes, que, além de trabalhar há anos na empresa, mostra-se sempre muito interessada em estudar novas estratégias para o bom posicionamento da organização no mercado nacional. Além dela, o Dr. Wilson notou que Leandro Di Carmo, um estagiário que agora foi contratado pela empresa, tem grande potencial para futuros cargos de liderança. A empresa possui verba para investir em programas de formação dos colaboradores. 15 Colaborador(es) Treinamento Desenvolvimento Educação Breno e Thalita Novos colaboradores Lígia Fagundes Leandro Di Carmo Quadro 2: Caso 1 Fonte: Produzido pela autora, 2017. Vamos auxiliar o Dr. Wilson a providenciar o que é mais acertado em cada caso? Marque, no quadro abaixo, um X na opção mais adequada para cada colaborador. 16 Por Que Investir em Treinamento, Desenvolvimento e Educação? A charge acima retrata uma situação que, infelizmente, até pouco tempo era muito comum: a maior parte das empresas não compreendia que subsidiar formação dos colaboradores é investimento e não despesa2. Como sabemos, no início da Era da Industrialização, os colaboradores eram vistos como uma força indispensável, mas não individualmente insubstituível, e, portanto, individualmente descartável. 2 Entendemos, aqui, que investimento é um montante gasto que irá gerar lucro futuro, e despesa é o gasto necessário com a administração da empresa e que, não necessariamente, impactará no lucro do negócio. 17 O filme de Charles Chaplin, “Tempos Modernos”3, aborda a visão que o empregador tinha do empregado, no início do Século XX. Naquela época, o diferencial das empresas encontrava-se na modernidade e na capacidade das máquinas que podiam ser adquiridas. Contudo, à medida que o trabalho foi se tornando mais especializado, o ser humano foi se mostrando como peça-chave do sucesso das empresas. Isso porque maquinário e tecnologia são facilmente reproduzidos; se uma organização adquire tecnologias e máquinas mais modernas, seus concorrentes podem adquiri-las também. Ao contrário, o ser humano possui conhecimentos, qualidades, potencialidades e competências que não podem ser copiadas. Você pode estar se perguntando: E minha resposta é: 3 Para assistir a um trecho emblemático deste filme, siga o link: https://www.youtube.com/watch?v=4PaGw4ZRmWY Mas qualquer pessoa pode buscar informações em diversas fontes! Sobretudo atualmente, o acesso à informação está cada vez mais fácil! Por que, então, o conhecimento de cada um é único? 18 Contudo, não é isso que está acontecendo: ao contrário, quanto mais se desenvolvem acomputação, a robótica e outras ciências que criam e melhoram máquinas que executam tarefas humanas, mais o ser humano se torna imprescindível para as organizações. É indiscutível que atualmente, haja uma gama incalculável de dados disponíveis na internet. Se nós quisermos saber sobre um assunto qualquer, basta digitarmos em um buscador da rede o que se deseja, e obteremos um incontável número de páginas da internet que trazem o que chamamos de “informação” sobre aquele assunto. Quando os computadores começaram a realizar tarefas humanas, muitos de nós, humanos, pensamos (e verbalizamos esses pensamentos) que as máquinas substituiriam os homens e estes não teriam mais lugar nas organizações. Isso não parece um contrassenso? Parece sim, mas veremos que não é! Isso que é o mais interessante! Vamos ver? 19 Somos nós sempre capazes de selecionar essas “informações”? Quais são relevantes, quais são as fontes fidedignas e aquelas nas quais não devemos confiar? E se formos capazes de realizar essa triagem, vamos, todos nós, entender da mesma forma o que ali estiver escrito? Será que quando falamos com um grupo de pessoas, todas elas nos entendem da mesma forma? Será que você e todos os seus colegas de curso entenderão da mesma forma o que estão lendo nesta apostila? Dado, informação e conhecimento: o que são e quais as diferenças entre eles. Para esses conceitos, tomaremos como base o texto de Valdemar W. Setzer (2015). Digamos que eu tenha recebido uma carta escrita em Mandarim4. 4 “O mandarim, também conhecido como chinês tradicional, é o nome que se dá a um conjunto de dialetos chineses falados nas regiões central, norte e sudoeste da China. É o principal dialeto falado na China com, aproximadamente, 840 milhões de falantes (primeira língua). É também o idioma mais falado no mundo. O mandarim padrão, também conhecido como chinês padrão é falado em Pequim e considerado o idioma oficial da República Popular da China.” Fonte: http://www.suapesquisa.com/paises/china/mandarim.htm. Acesso em 12/02/2017. Para responder a essas questões, vamos entender a diferença entre dado, informação e conhecimento, certo? 20 Quando os dados que são fornecidos fazem sentido para aquele que os recebe, eles configuram uma informação. O Professor Setzer (2015) dá um exemplo muito elucidativo dessa questão. Diz ele: [...] a frase "Paris é uma cidade fascinante" é um exemplo de informação – desde que seja lida ou ouvida por alguém, desde que "Paris" signifique para essa pessoa a capital da França (supondo-se que o autor da frase queria referir-se a essa cidade) e "fascinante" tenha a qualidade usual e intuitiva associada com essa palavra. Como eu não compreendo esse idioma, aquelas letras, para mim, não possuem significado algum. Neste contexto, esses símbolos representam o que chamamos de dados, mas não são uma informação para mim, pois não fazem qualquer sentido. 要知 道,並不是 所有的數據 都相當於信 息。 Dessa forma, entendemos dados como um conjunto quantificável de caracteres que podem ou não fazer sentido para quem os recebe (lê, ou ouve, enxerga, etc.). Ainda são considerados dados: fotografias, imagens, filmes, sons, etc. 21 Nessa perspectiva, podemos concluir que a informação nem sempre é entendida da mesma forma por duas ou mais pessoas, pois a compreensão passa necessariamente pelo sentido que a pessoa que recebe a mensagem (através da escrita, música, imagem, etc) atribui a esses dados. Setzer (2015) alega que o conhecimento é [...] uma abstração interior, pessoal, de algo que foi experimentado, vivenciado, por alguém. Continuando o exemplo, alguém tem algum conhecimento de Paris somente se a visitou. Nesse sentido, o conhecimento não pode ser descrito; o que se descreve é a informação (se entendida pelo receptor), ou o dado. Também não depende apenas de uma interpretação pessoal, como a informação, pois requer uma vivência do objeto do conhecimento. Já está fazendo sentido para você, a alegação de que nossos conhecimentos são únicos? Ainda não? Então, vamos ver mais! 22 Como o conhecimento depende da vivência, e cada um de nós tem experiências particulares e únicas, com interpretações também singulares, podemos concluir que cada um de nós possui um conhecimento inigualável. Assim como nossa digital, o conhecimento que construímos durante nossa trajetória de vida é ímpar, particular e impossível de ser copiado. Vale a pena investir em pessoas? Voltemos, então, às máquinas, à falsa impressão de que elas nos substituiriam, e à afirmação de que, ao contrário do que se previa, quanto mais às máquinas substituem algumas tarefas humanas, mais o ser humano se torna imprescindível às organizações. Um dos aspectos que temos que considerar sobre essa afirmação é que quanto mais complexas as máquinas vão se tornando, mais conhecimentos e habilidades específicos se tornam necessários para operá-las. Se antes bastava que o colaborador fosse capaz de ler instruções simples para operar as máquinas das indústrias, agora é preciso que ele se especialize em determinada função. O segundo aspecto que levaremos em consideração é que o ser humano com sua capacidade de ser único e de ter conhecimentos ímpares tornou-se, atualmente, o diferencial competitivo das organizações. Quanto mais colaboradores com conhecimentos importantes uma empresa possui, mais ela é capaz Gostou? Somos o máximo, não é? 23 de fazer a diferença no mercado, já que os concorrentes não poderão copiar esse seu potencial humano. Se por um lado a empresa não pode copiar o potencial humano da outra organização, por outro ela pode treinar e capacitar seus colaboradores. Se ela não pode obter o capital humano de seus concorrentes, ela pode (e deve) desenvolver o seu próprio capital humano. Agora, você pode estar pensando: Nessa obra, os autores trazem os resultados de uma entrevista realizada com o vice-presidente da empresa Softway, na qual o executivo explica a diferença entre as empresas que ele denomina “extrativistas” e aquelas que para ele são “formadoras”. Segundo ele, as empresas “extrativistas” são aquelas que buscam o profissional pronto no mercado de trabalho e usam os conhecimentos desse profissional sem se preocupar com seu desenvolvimento, durante o período ou enquanto ele Mas e se a empresa investir no treinamento de um colaborador e em seguida ele for trabalhar na concorrente? Que vantagem há nisso? Vale a pena correr esse risco? Vamos buscar a resposta para essa inquietação em Dutra e Miroski (2008). 24 corresponder àquilo que a empresa necessita naquele momento. Quando a contribuição termina, a empresa busca outro profissional que possa entregar de imediato o que ela precisa. A parceria que se estabelece entre o colaborador e a organização se concentram, nesse caso, na remuneração, ou seja, a forma através da qual o colaborador percebe que é recompensando à medida que a empresa cresce se atém ao aumento do salário. O diretor afirma que, em contrapartida, as empresas “formadoras” são aquelas que buscam no mercado de trabalho mão de obra que não possa entregar naquele momento, o que a empresa necessita; essas organizações investem em treinamento e desenvolvimento do colaborador. Dessa forma, o profissionalpercebe que a empresa está investindo nele e que ele se desenvolve na medida em que a empresa cresce o que garante uma profícua parceria. Podemos pensar, então, que se todas as organizações agirem como empresas formadoras, os colaboradores que se encontram no mercado de trabalho estará bem capacitado, de modo que se uma empresa perder um de seus talentos no qual investiu, encontrarão no mercado de trabalho, colaboradores capacitados por outras empresas. É a famosa relação ganha-ganha.5 Se essa não for uma argumentação convincente ou suficiente para convencer a alta gestão de uma organização, podemos recorrer aos fatos. Como diz um ditado popular: “contra fatos não há argumentos”, certo? Como vimos na introdução deste material, uma das práticas do RH é o Treinamento e o Desenvolvimento de Pessoas (T&D). 5 Para saber mais sobre o ganha-ganha, assista ao vídeo sobre o Dilema do Prisioneiro: https://www.youtube.com/watch?v=4ByCjdOJwvw 25 Estudos evidenciam que essas práticas, que incluem T&D, propiciam o bom desempenho organizacional, ou seja, em outras palavras, parece haver uma correlação positiva entre as boas práticas de Gestão de Pessoas, entre elas o T&D, e o bom desempenho das organizações que as praticam. Garcia (2010) referindo-se a Ruy Shiozawa, CEO6 do Great Place to Work no Brasil, esclarece: “Se vale a pena investir em pessoas? Sem dúvida”, diz ele (Ryu Shiozawa) categoricamente. “Nesses tempos nebulosos, os índices da Bolsa nos EUA despencaram – por aqui, apenas caíram. Não vou dizer que as melhores empresas para trabalhar passaram incólumes por isso, mas a queda, no caso delas, foi bem menor que as demais”, conta o consultor. Vale atentar para alguns dados: ao olhar para a rentabilidade de ações, no Brasil, entre 2000 e 2009, é possível perceber que para uma aplicação de 100 reais feita no início desse período há dois quadros distintos. Quem, porventura, tenha investido nas ações das melhores para trabalhar teve um retorno de 6 CEO é a sigla inglesa de Chief Executive Officer, que significa Diretor Executivo em Português. CEO é a pessoa com maior autoridade na hierarquia operacional de uma organização. É o responsável pelas estratégias e pela visão da empresa. Não são todas as empresas que possuem uma pessoa no cargo de CEO. Fonte: https://www.significados.com.br/ceo/ Vamos ver alguns desses estudos? 26 1,205 mil reais no ano passado. Nas demais companhias listadas na bolsa, esse valor foi de apenas 409 reais. Em 2008, esses números foram diferentes, mas mantiveram a grande distância entre si: 1,214 mil reais para as melhores e 444 reais para as demais. “O desempenho do Ibovespa foi muito bom de 2000 a 2008. Caiu um pouco em 2009, mas, mesmo assim, não foi tão ruim. No entanto, o desempenho das melhores para trabalhar é três vezes melhor”, diz Shiozawa. Além disso, ele observa que a rotatividade voluntária nas melhores empresas é bem inferior à média das demais. Nos EUA, por exemplo, no setor de varejo, o índice médio de turnover é 53%; já nas companhias consideradas as melhores para trabalhar ele é de apenas 14%. No setor de Telecom e TI, a relação fica em 19% na média e 9% nas melhores. Ou seja, as melhores empresas que sabem lidar com as nove melhores práticas têm turnover significativamente menor, o que significa que retêm talentos; reduzem gastos com saúde (afastamentos e assistência médica); possuem um ambiente que estimula a inovação, criatividade e risk taking (erros não intencionais); estabelecem uma relação de maior colaboração; geram melhor atendimento aos clientes e maior qualidade dos produtos ou serviços oferecidos; e recebem muito mais 27 candidatos, em outras palavras, atraem talentos. Além dessa evidência da importância da boa gestão de pessoas, em especial no que diz respeito ao treinamento e desenvolvimento de pessoas, outras pesquisas apontam para a relação entre essas práticas e o sucesso dos negócios. Sendin (2015), referindo-se ao relatório de Christian Orglmeister, sobre a pesquisa realizada pela BCG, que consultou 3500 profissionais, do RH e outros departamentos, oriundos de 101 países diferentes, aponta que os resultados econômicos das empresas com boas práticas em gestão de pessoas são duas vezes maiores do que os das empresas com gestão de pessoas inexpressiva. A autora esclarece que, para chegar a essa conclusão, a BCG analisou as 100 empresas com os melhores resultados financeiros, e as comparou com as 100 empresas com os piores desempenhos financeiros. A conclusão a que chegaram foi a de que as empresas com maior rentabilidade não precisavam de quaisquer ações emergenciais nos dez tópicos de RH utilizados na avaliação. Ao contrário, as que apresentavam os piores resultados, precisavam de melhores práticas nos dez tópicos e também em todos os 27 subsistemas de gestão de pessoas. Além de outras diferenças constatadas entre os dois grupos de análise – empresas com alto desempenho financeiro e empresas com baixo desempenho financeiro – os resultados sinalizaram disparidades com relação à gestão de talentos, bem como aos modelos de carreiras e competências. “’Um RH forte tem clareza das competências que as pessoas precisam desenvolver e deixa isso claro para que elas saibam o que fazer para crescer e alcançar os próximos cargos’, diz Orglmeister.” 28 A autora cita, ainda, outros resultados que apontam na mesma direção. Pesquisas realizadas pela FIA – Fundação Instituto de Administração, da Universidade de São Paulo – USP, cruzam anualmente a rentabilidade das empresas listadas como as melhores empresas para se trabalhar, com a rentabilidade daquelas que não constam dessa lista. Segundo Sendin (2015), a conclusão da pesquisa realizada em 2014 sinalizou que a rentabilidade das classificadas foi 37% maior do que a rentabilidade das que “ficaram de fora da lista”. A constatação de Filipe Fono , consultor da FIA, vai nessa mesma direção: “Nas organizações com melhores rendimentos, o RH e ciente: atende mais colaboradores por funcionário da área, tem maior capacidade de retenção de talentos e mantém baixa rotatividade” (SENDIN, 2015). Nesse sentido mesmo, Christian Orglmeister, da BCG, considera que RH proativo faz a diferença no desempenho da empresa. Ele defende que se deve fazer um mapeamento das competências necessárias a cada função que a empresa terá no futuro, para preparar colaboradores para que possam as ocupar. (SENDIN, 2015). Antever essas necessidades é importante. Sendin (2015) afirma que: “Segundo a pesquisa da BCG, a cada posição de liderança em aberto, a empresa perde 1 000 dólares por semana.” Agora, imagine que você, sendo líder de uma equipe, ou pertencendo ao RH de uma empresa, percebe a necessidade de Percebeu como é importante a organização preparar seus colaboradores? 29 treinamento, desenvolvimento ou educação de um colaborador ou de uma equipe. Devai (2014) tem essa resposta. Ele esclarece que, com o acirramento da concorrência no mercado atual, cada vez mais os gestores precisam estar convencidos de que o treinamento trará benefícios (maior lucratividade) à empresa, e afirma: “Os profissionais de RH precisam desenvolver esta técnica para melhorar seu trabalho de convencimento. Entenda o que é mais importante para aquele profissional e explique o que o treinamento de colaboradores pode trazer para a empresa a partir do ponto de vista do empresário.” Agora, você está preparado (a): Como gestor líder de equipe ou RH da empresa,você saberá quais argumentos usar para mostrar à alta gestão a necessidade de treinamento de algum colaborador ou equipe, certo? Quais argumentos deve usar para convencer a alta gestão daquela empresa de que ele deve investir na formação desse colaborador ou dessa equipe? 30 Desenvolvimento Individual e Desenvolvimento de Equipes Uma pesquisa realizada pela Nextview People e pela Companhia de Talentos, da qual participaram 68 mil jovens apontam que a maioria deles enxerga a empresa como uma Você sabe o que mais atrai e fideliza o colaborador jovem à uma empresa? Vamos saber mais sobre isso? Você deve conhecer alguém que mudou de emprego para ter mais oportunidades de crescimento (ou seja, desenvolvimento profissional), certo? Pois bem, um dos principais focos dos colaboradores jovens é o seu desenvolvimento profissional. 31 parceira no processo de construção de sua carreira. Conforme Danilca Galdini, diretora da Nextview People: “Enquanto os jovens cuidam do seu desenvolvimento e da sua própria empregabilidade, fica a cargo do gestor focar em conhecer suas expectativas e alinhá-las com as da organização. Com a empresa, fica o papel de garantir as ferramentas e oportunidades para desenvolver seus colaboradores e líderes”. (O QUE..., 2017). Para Luiza Coelho, coordenadora de RH da Dextra, o aprendizado é a melhor forma de atrair e reter talentos. Segundo ela: “A capacitação contínua muito importante para todos no mundo corporativo, mas no início da carreira, que é uma época cheia de descobertas, é primordial. Investimos na formação e no desenvolvimento pessoal e profissional de nossos jovens colaboradores” (O QUE..., 2017). Dessa forma, uma empresa que pretende manter fidelizado seu público interno, deve propiciar esse sentimento de parceria e interesse na carreira do colaborador. Ainda segundo a mesma pesquisa, as dez empresas eleitas como as melhores para se trabalhar foram na ordem: Google, Petrobras, Odebrecht, Vale, PwC, Ambev, Nestlé, Itaú, Apple e Globo, e os motivos que levaram os respondentes à essa escolha foram: “possibilidade de desenvolvimento profissional; boa imagem no mercado; fazer o que gosta; desafios constantes e possibilidade de inovar.” Se pensarmos sobre nossa carreira e nosso desenvolvimento profissional, qual o sentimento que nutriríamos (ou de fato Fica clara a importância que os colaboradores jovens atribuem ao desenvolvimento profissional, não é? 32 nutrimos) por alguém que estivesse lado a lado conosco, demonstrando interesse pelo nosso futuro profissional e apoiando e possibilitando nossa formação? É esse sentimento que leva o colaborador, especialmente o jovem, a se sentir reconhecido e apoiado pela organização na qual trabalha, e pensar mais para trocar de emprego. Ou seja, esse sentimento mantém o colaborador fidelizado e engajado à empresa e, consequentemente, mais motivado e produtivo. Esse também é um bom argumento para mostrar a importância do investimento no treinamento, na formação e na educação dos colaboradores, aos gestores de uma empresa, certo? Imagine que você é um excelente profissional, que desempenha muito bem sua função, está sendo reconhecido pela empresa, que está investindo no seu treinamento e na sua formação, bem como nos de seus colegas. É claro que esse investimento busca atender às necessidade e expectativas individuais, de cada um dos colaboradores, que nem sempre são iguais. Contudo, imagine que, apesar desse investimento, quando você e seus colegas têm algum trabalhando que precisa ser realizado em equipe, o desempenho de cada um de vocês se reduz. Por outro lado, vamos pensar no seguinte: 33 Parece que a resposta é evidente: apesar de todos estarem individualmente capacitados e aptos a realizar as tarefas necessárias, não há integração da equipe; os colaboradores não estão sabendo produzir em conjunto. E essa não é uma situação muito incomum. Para que a equipe possa alcançar resultados de alta performance é preciso que ela tenha um propósito muito bem definido, comunicação clara, harmonia, estímulo às divergências – já que é das divergências que muitas vezes surgem as ideias inovadoras; é preciso ainda que cada membro da equipe se enxergue como parte de um todo, e um todo que se constrói paulatinamente, ou seja, cada um é um ser em construção. Você pode estar pensando agora: É aí que entram o treinamento, a capacitação e a mão do líder, que deve conduzir a formação dos integrantes de sua equipe para que a unidade seja estabelecida. Aqui cabem treinamentos que visam ao autoconhecimento, ao conhecimento do outro, à integração entre as pessoas, etc. E se a equipe não possuir essas características? O que está faltando, então? 34 Porém, há situações em que, mesmo em equipes bem formadas e de alto engajamento, ainda existem dificuldades, causadas por falta de habilidade ou conhecimentos específicos. Quando essas dificuldades são comuns aos integrantes da equipe, ou quando se deseja aprimorar a qualidade do trabalho que é desenvolvido em conjunto, o treinamento de equipe é indicado. Um exemplo desse tipo de treinamento é o destinado à equipe de venda para o conhecimento sobre determinado produto que será lançado no mercado. CASO 2: Case Carrefour: Desenvolvimento da Liderança nas Operações Muito bem, agora, que você já está sabendo tudo sobre treinamento, desenvolvimento e educação de colaboradores, vamos ler um caso real? Durante a leitura do case abaixo, procure identificar as práticas que organizam o treinamento e como elas são, segundo os autores do texto, diferentes de outras práticas existentes no mercado. Artigos ABTD Case Carrefour: Desenvolvimento da Liderança nas Operações http://www.abtd.com.br - Data da Publicação: 04/11/2014 Por MAGDA SANTANA 35 Magda Santana e Rolando Pelliccia Empresas inteligentes já entenderam que é preciso investir no desenvolvimento de seus profissionais para torná-los mais preparados para desempenhar suas funções e trazer melhores resultados para seus negócios. Mas qual a melhor maneira de obter maiores retornos? Qual o formato ideal para os treinamentos? Como inovar? A proposta deste artigo é dar uma roupagem nova ao conceito de sala de aula. Afinal, o aprendizado corporativo envolve relacionamento com colegas e chefes, desenvolvimento pessoal e compreensão da dinâmica do negócio. É preciso, portanto, estender o treinamento para fora dos limites da sala e mergulhar no conceito de ambiente de aprendizagem (AA). A presença dos profissionais na sala de aula é importante, mas não é mais o foco do processo de desenvolvimento. O programa no formato AA, aplicado no Programa de Desenvolvimento Gerencial (PDG) das Lojas, não apresenta novos conteúdos, mas parte do que já foi ensinado para refletir sobre as dificuldades de colocar em prática e dar vida a novos comportamentos dos líderes que são esperados pela 36 organização. O conceito AA respeita a questão da educação do adulto ao deixar espaço para a escolha do que é mais relevante para o participante aprender. O líder do participante também esteve presente em todo o processo por meio do Grupo Gestor, que se reuniu periodicamente para discutir os pontos de atenção e mudanças percebidas ao longo da implantação do PDG. Além disso, a aprendizagem foi reforçada com a relação entre pares, que ocorreentre cada um dos módulos presenciais previstos no AA. Esses encontros aconteceram dentro dos chamados grupos de referência ou duplas de afinidade. No esquema tradicional, o profissional é geralmente convocado a participar de um treinamento orientado a um evento, que pode soar como uma ação isolada ou até mesmo espasmódica. Não é incomum que participantes em eventos de treinamentos façam perguntas como: O que estou fazendo aqui? Por que me convocaram para este treinamento? Por que as outras áreas não estão envolvidas nisto? Qual a novidade que temos hoje? Ou ainda: Isto já foi tentado antes nesta empresa e não deu certo. No final, surgem outras dúvidas, como: Meu 37 gestor sabe disto? Por que o meu gestor não faz isto? Todos os funcionários serão treinados? Qual será a continuidade deste processo? Posso conversar com os meus funcionários sobre isto? A Área de RH ou de Desenvolvimento irá me suportar neste processo? Os superiores dos participantes têm papel fundamental na criação do AA e o tiveram no PDG das Lojas do Carrefour. O Grupo Gestor atuou ativamente na formatação do treinamento e no aproveitamento do aprendizado, bem como na sua aplicação, em vez de ter simplesmente o papel burocrático de nomear as pessoas para fazer um curso e suportar suas ausências nos dias do treinamento. A área de Desenvolvimento teve um papel ativo no desenvolvimento e construção de todo o processo. Participa como suporte à aprendizagem - que se deu por meio de ações de desenvolvimento contínuas. As pessoas sabem claramente por que estão ali. O contexto, para o aprendiz, especialmente quando adulto, é muito importante. Ele precisa saber por que está indo para a sala de aula, que tipo de solução ele irá aprender e o porquê dessa ação. 38 Os AAs oferecem a oportunidade de respeitar o estilo de aprendizagem do participante, o que aumenta a eficácia do processo. Há várias maneiras de ensinar e aprender uma mesma coisa, e o PDG das Lojas ofereceu um variado leque de metodologias. O PGD das Lojas foi útil para ajudar a implantar uma mudança cultural desejada pelo Carrefour, criar uma linguagem comum de conceitos e comportamentos para a liderança, desenvolver talentos e novos líderes. Conhecendo um pouco do Carrefour O Carrefour é uma empresa multinacional francesa com operações em 34 países, são 10.105 lojas com a bandeira do grupo. É o segundo maior varejista no mundo e o primeiro na Europa. No Brasil, é a segunda operação do grupo, ficando atrás somente da matriz, na França. O Brasil é responsável por 14% das vendas mundiais e tem 102 hipermercados, 41 supermercados, 83 postos, 121 drogarias e 18 CDs e plataformas. As lideranças das lojas dos hipermercados Carrefour são 39 cruciais para o negócio do varejo por duas razões principais: A capilaridade das operações - são 102 lojas hiper no Brasil com cerca de 30 mil funcionários, há uma dependência das lideranças para que atuem como multiplicadoras da estratégia e sejam porta-vozes das prioridades da empresa. 1. O turnover - se aposta que gestão de pessoas fará a diferença na diminuição do turnover voluntário. Quem são essas lideranças? O público-alvo do PDG são os gerentes comerciais das lojas de hipermercado que se reportam para o diretor da loja. Cada gerente comercial tem aproximadamente dez colaboradores em sua estrutura (são dez gerentes por loja), exceto o gerente de caixa que tem cerca de 150 pessoas. Foram treinados 250 gerentes em 2013 e 250 em 2014, de um total de 1200 gestores. O Programa é modular com módulos de 8 horas, totalizando 24 horas de treinamento, com intervalos de dois meses em média, o que permite a aplicação dos conceitos aprendidos entre um módulo e outro e a volta para a sala de aula para novas reflexões, constituindo-se assim em um processo de treinamento e não em um treinamento isolado - conceito de 40 ambientes de aprendizagem (AA). As premissas Ao adotar o modelo de AA para seu PDG das Lojas, o Carrefour atendeu as seguintes premissas: 1 - Processo contínuo: um AA é um processo com começo, meio e fim, com ações concentradas no processo educacional a serviço de uma solução para algum desafio organizacional. Tem que existir um contexto, uma problemática que seja percebida e ao mesmo tempo conectada com a cultura; ou, ainda, um desejo de desenvolver um novo traço cultural. 2 - Dados concretos: dentro de ambiente de aprendizagem a teoria é secundária, ou melhor, é o pano de fundo para o processo educacional. O fundamental é colocar o participante em contato com a sua prática e desafios cotidianos e ajudá-lo a encontrar saídas para esses desafios; e buscar o comportamento percebido diante de uma representação cognitiva já instalada. 3 - Reforço do ambiente de equipe: o processo educacional reforçado pela aprendizagem em outras relações que não apenas entre instrutor/facilitador e participante é fundamental. O 41 aprendizado entre os pares e com grupos de referência é um bom exemplo. Vivemos na era da colaboração: aprender com pares contribui para um ambiente de aproximação, principalmente com os que tendem a se afastar quanto mais alto o nível organizacional, isolando-se na solidão do poder. A lógica do AA se baseia numa sequência de três estágios que acontecem a partir do centro, onde está o processo de mudança individual, o EU. Qualquer processo de desenvolvimento organizacional começa com a mudança do comportamento individual. Em seguida, vem a mudança na equipe e demais pessoas próximas do agente da mudança; por fim, o impacto se estende a outros stakeholders. Resultados A experiência específica do Carrefour, bem como do Contexto - Ambientes de Aprendizagem, com essa abordagem demonstrou que os resultados obtidos por meio do formato AA foram superiores aos obtidos em processos tradicionais de treinamento e desenvolvimento - tanto por parte das empresas quanto e mas principalmente pelos participantes, que percebem o alinhamento das diversas ações educacionais 42 com as suas expectativas profissionais e com a estratégia organizacional. Desenvolvimento de liderança ou ainda de potenciais talentos tem sido nos últimos anos um fator crucial em todos os mercados. O problema ainda permanece, e só tende a se agravar quando a crise passar e os diversos segmentos entrarem novamente em um ciclo de crescimento. O investimento em desenvolvimento de lideranças de forma consistente não é apenas uma questão de sobrevivência em curto prazo, mas uma necessidade de sustentabilidade do negócio para um futuro próximo de ciclo de crescimento acelerado, em que ter gente qualificada e comprometida, seja nas posições técnicas e, principalmente de gestão fará ainda mais diferença do que hoje. Magda Santana (magda_santana@carrefour.com) é Diretora de Desenvolvimento do Carrefour e atua na área de T&D há mais de 25 anos. Rolando Pelliccia (rolandopelliccia@contextoaprendizagem.com) é Sócio Diretor da Contexto - Ambientes de Aprendizagem, com mais de 25 anos 43 de experiência em projetos de Educação Corporativa. Fonte: http://portal.abtd.com.br/1862/artigo/Case-Carrefour--Desenvolvimento- da-Lideranca-nas-Operacoes.html Acesso em: 25 fev. 2017 Depois desse interessante case de sucesso, estou certa de que você está muito interessado (a) em organizar treinamentos e em desenvolver e educar pessoas. Mas, você pode estar se perguntando: Tudo bem, já vimosquanto treinar, desenvolver e educar pessoas é importante, mas.... Como fazer tudo isso? Ou seja: Como preparar um treinamento? É exatamente isso que veremos nos próximos dois módulos! Você está pronto? Então, vamos lá... 44 Referências Bibliográficas CHIAVENATO, Idalberto. Remuneração, benefícios e relações de trabalho: como reter talentos na organização. 6.ed. Barueri-SP: Manole, 2009. COMO trabalhar a educação corporativa de forma eficiente em sua empresa. RH Portal. E-book, mídia digital. 2017. MELLO, Rita de Cássia. Treinamento, desenvolvimento, educação corporativa: o caminho da educação continuada. Revista Administradores, abr. 2015. Disponível em: <http://www.administradores.com.br>. Acesso em: 11 fev. 2017. 45 Anotações ________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ________________________ CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JAGUARIÚNA 2017 47 MÓDULO II TREINAMENTO DESENVOLVIMENTO E COACHING 48 MÓDULO 2 Organizando um programa de treinamento ou de desenvolvimento de pessoas Imagine que você está confortavelmente em sua casa, em uma bela e ensolarada tarde de sábado, quando seu telefone toca; você atende à ligação e fica sabendo que um grupo de amigos está indo para lá para assistir a filmes do Netflix. Neste instante, você sente a necessidade de ter em sua casa algo comestível para servir a seus amigos. Olha na geladeira, no armário da cozinha, e constata que ali não há o que possa ser oferecido. Então, resolve sair de sua casa para ir até o supermercado e comprar alimentos que lhe possibilitem servir uma boa refeição ao grupo. Mas, antes de sair, você tem que pensar e obter algumas informações, certo? O que você teria que saber, antes de sair para ir ao supermercado? ... ... ... Já pensou... Então, vamos ver se você concorda comigo... Pense nisso 49 Em primeiro lugar, você teria que saber exatamente quantas pessoas irá e o que irá servir aos seus amigos. A seguir, pensará nos produtos que precisará, definindo, assim, o porquê, ou o objetivo, de sua ida ao supermercado, não é mesmo? O que está faltando em sua casa, o que é preciso adquirir, o que se mostra necessário e em que quantidade esses itens são imprescindíveis, certo? Outro aspecto no qual você teria que pensar é em como fará para chegar até o supermercado. Que meio de transporte utilizará? Pode ser que você deseje ir a pé, ou que seja mais conveniente ir de carro, ou de taxi, ou de Uber, ou, ainda, de bicicleta, etc... E tem mais: você precisaria saber também como pagaria as despesas da sua compra e, antes disso, seria necessário estar ciente do valor que teria disponível para gastar com essa aquisição, não é mesmo? Pense no seguinte: para realizar uma compra de supermercado, que é uma atividade mais ou menos corriqueira em nossa vida, é preciso que obtenhamos uma série de informações: pensar no que se deseja servir, pesquisar o que se tem em casa e pensar no que se pretende ter em que quantidade; verificar onde comprar os produtos e como chegar ao local; refletir sobre o valor possível a ser gasto com a compra e sobre como será efetuado o pagamento, entre outros aspectos. Agora, imagine o que acontece quando devemos elaborar um programa de treinamento ou de desenvolvimento de pessoas! Captar, organizar, interpretar e aplicar informações são os primeiros passos que devemos dar quando pensamos em treinar ou desenvolver pessoas, e esse é somente o início de um longo 50 processo que é chamado de planejamento do treinamento ou do desenvolvimento de pessoas. Assim como no exemplo da sua ida ao supermercado, também para planejar treinamentos é preciso saber, antes, o que a empresa precisa com relação ao seu capital humano, o que as pessoas da empresa já estão oferecendo e o que está faltando para que seus desempenhos sejam aqueles dos quais aquela empresa necessita; assim, obter-se-ão os objetivos daquele treinamento e, ainda, quem são os colaboradores da organização que precisam ser treinados; além disso, se faz imperioso decidir quem (um colaborador da própria empresa, ou uma outra empresa a ser contratada) será responsável por aquele treinamento. E não para por aí. Para esse tipo de planejamento, é necessário que se saiba quanto a organização está disposta a investir no treinamento. Finalmente, depois que você compra um produto em um supermercado, deseja saber se fez um bom negócio, ou seja, você avaliará se aquele produto atendeu às suas necessidades e expectativas, ou não. Com treinamentos, acontece o mesmo, mas em uma dimensão muito mais significativa, pois, afinal, estamos lidando com seres humanos e com organizações que dependem da efetividade desses processos. Deste modo, sempre que um treinamento é executado, é preciso que se verifique a efetividade daquela ação, no que se refere aos resultados esperados, isto é, faz-se premente apurar se os resultados esperados pelo treinamento foram alcançados. Assim é que neste módulo, veremos detalhadamente cada uma das etapas de um bom planejamento de treinamento e de desenvolvimento de pessoas, objetivando prepará-lo para compreender cada uma dessas etapas e ser capaz de elaborar 51 um planejamento de treinamento ou de desenvolvimento de pessoas, na sua área de atuação. Processos e Etapas de Treinamentos e de Desenvolvimentos de Pessoas Assim como é recomendável que você faça um levantamento e identifique quais produtos serão necessários para servir uma refeição aos seus amigos, antes de ir ao supermercado adquirir os produtos, também antes de iniciar o planejamento de programas de treinamento ou de desenvolvimento de pessoas, é imprescindível identificar as necessidades desses programas. Há, ainda, um aspecto que merece atenção: é preciso que o investimento em treinamento tenha um retorno positivo para a empresa, isto é, é necessário prever, antes de decidir o tipo de Vamos lá? 52 formação, o retorno efetivo do montante investido o que nem sempre é fácil, já que, como afirma Oribe (2011, p.3), “Ningu m, afinal, investe dinheiro sem saber o retorno, a liquidez e o risco. E quem o faz, faz por ingenuidade, confiança em excesso ou por considerar o investimento como fundo perdido.” O mesmo autor (p.8) acrescenta: Em minha interpretação, os gestores estratégicos analisam o investimento em treinamento por meio dos seguintes critérios: Melhorar resultados da organização Atenderrequisitos de capacitação Desenvolver comportamentos e atitudes Atualizar conhecimentos Satisfazer desejos das partes interessadas Após essa primeira etapa, na qual se levantam informações a respeito das necessidades, inicia-se a programação e, a seguir, a implementação e a execução do treinamento. Na última etapa, avaliam-se os resultados do treinamento executado. Marras (2011, apud Silva e Cruz, 2016, p.2) apontam quatro etapas do processo de treinamento de pessoas nas organizações, a saber: 1. Levantamento das necessidades de treinamento (LNT); 2. Programação (ou planejamento); 3. Implementação e execução; 4. Avaliação dos resultados. A seguir, trataremos separadamente de cada uma delas – as duas primeiras etapas neste módulo e as terceira e quarta nos terceiro e quarto módulos. Levantamento das necessidades de treinamento (LNT) 53 Carmello (2013) inicia sua obra sobre Gestão da Singularidade fazendo uma reflexão que entendemos ser muito apropriada para introduzirmos esta seção. Assim, vamos reproduzi-la aqui. Pense no seguinte: você considera pertinente que um médico trate todos os seus pacientes, independentemente da enfermidade da qual sofra, com o mesmo remédio? Por exemplo, é razoável que um médico trate um paciente com infecção na garganta, outro com problema ortopédico, um terceiro com cefaleia aguda, um quarto com pedra nos rins, e um quinto com problemas oftalmológicos, todos eles, administrando dipirona? Sua resposta certamente será um sonoro NÃO! Que profissional faria isso, não é? Da mesma forma, Carmello (2013) aponta que não é producente que diversos colaboradores, com capacidades, habilidades, atitudes, fragilidades, necessidades e expectativas distintas sejam, todos eles, submetidos a um mesmo programa de treinamento ou de desenvolvimento. Isto posta é natural, então, que sejamos levados a pensar que, antes de qualquer iniciativa de se programar ou planejar um treinamento, é preciso que conheçamos as necessidades de treinamento, junto aos colaboradores e gestores da organização. E essas necessidades são mapeadas sempre com o foco naquilo que é esperado pela empresa com relação ao desempenho daqueles colaboradores. Dito de outra forma, os programas de treinamento ou de desenvolvimento devem nascer dessas necessidades. Percorrer o caminho contrário seria tentar adequar às necessidades da empresa, as expectativas e as fragilidades de desempenho dos colaboradores, aos programas de treinamento já desenhados a 54 priori, o que provavelmente se mostraria um desperdício de tempo e de recursos. Utilizando-me de uma analogia simplória, seria o mesmo que uma costureira cortar os braços de um cliente, para que o terno lhe caia bem. É de se notar aqui que, muitas vezes, é isso que ocorre nas empresas, com relação aos cursos que se tornam moda em alguns momentos. Nesses casos, algum dos gestores toma conhecimento de cursos “milagrosos” e, sem mapear a necessidade daquele treinamento, inscreve um ou um grupo de colaboradores ou gestores no programa, que muito pouco ou nada irá acrescentar ao seu desempenho se não contemplar as reais necessidades desse profissional ou desses profissionais; remédio amargo e pouco eficaz, como no exemplo da dipirona. Essa nossa constatação encontra eco nas palavras Vieira (2008, p.50), que, citando Abbad ET AL (2001), afirma: [...] os sistemas de treinamento em ambientes organizacionais possuem algumas características que vão desde a falta de análises sistemáticas de necessidades de treinamento e incompatibilidade com as competências críticas organizacionais, até a ausência de alinhamento com as estratégias organizacionais. Aliás, observam-se pouco esforço de avaliação de aprendizagem, baixo investimento no planejamento instrucional, estratégias e métodos em desarmonia com o perfil dos participantes, muitas vezes privilegiando apenas alguns. A esse respeito, Chiavenato (2010, apud Silva e Cruz, 2016, p. 3) exemplifica os principais itens de uma programação (ou planejamento) de treinamento: 55 a) Quem deve ser treinado – Treinandos ou instruendos b) Como treinar – Métodos de treinamento c) Em que treinar – Assunto ou conteúdo do treinamento d) Por quem – Instrutor ou treinador e) Onde treinar – Local de treinamento f) Quando treinar – Época ou horário de treinamento g) Para que treinar – Objetivos do treinamento Os principais itens do treinamento descritos por Chiavenato (2010, apud Silva e Cruz, 2016) apontam quais são os principais protagonistas do planejamento de todo o processo de treinamento. Saber definir quais serão esses itens influencia no bom desenvolvimento do processo de treinamento. Nessa altura, você já deve estar convencido (a) da necessidade de se mapear as necessidades da empresa e dos colaboradores, antes do início planejamento de um programa de treinamento ou de desenvolvimento em certa organização, certo? Porém, você pode estar se perguntando: Segundo Boog e Boog (2013), há três diferentes níveis de levantamento: o primeiro se refere à análise da organização Onde e de que forma essas informações podem ser levantadas? 56 como um todo; o segundo se relaciona à análise dos recursos humanos e a terceira contempla a análise das operações e tarefas. Análise da organização como um todo Este nível de levantamento envolve os valores, visão, missão, filosofia, cultura e competência crítica da organização. Agora, vamos considerar o seguinte: há alguns desses itens, que são dificilmente modificáveis; contudo, alguns deles podem sofrer mudanças, pois foram construídos em íntima relação com as necessidades dos clientes, com as especificidades do mercado, com as normas governamentais, e dependem do momento em que se encontra a economia do país, etc. Por exemplo, as competências críticas de sucesso de certa empresa, que são aquelas que constituem a imagem que a empresa quer passar para seu público, ou, ainda, como ela pretende ser reconhecida no mercado, e das quais depende sua permanência nele, não são imutáveis. À medida que a sociedade se transforma, as demandas e o próprio mercado se modificam, afetando, dessa forma, as estratégias empresariais. Por isso, é preciso que a análise da organização como um todo seja feita regularmente, sem que se deixe um longo espaço de tempo entre um e outro mapeamento. Agora, vamos a mais uma metáfora: Você conhece a brincadeira “Cabo de Guerra”? 57 Fonte: http://www.museugrandesnovidades.com.br/2013/11/cabo-de- guerra.html Assim também acontece com os programas de treinamento e de desenvolvimento de pessoas, nas empresas. As competências críticas (ou essenciais) devem ser um norte para a elaboração dos programas de treinamento ou de desenvolvimento, já que, como são evidentes, esses programas deve atender às necessidades da organização. Caso contrário, se o programa de treinamento vão contra o que a empresa precisa, vai reprisar a brincadeira do Cabo de Guerra, não é mesmo? Ficaremos no mesmo lugar em que já nos encontrávamos, ou seja, os programas restarão infrutíferos. Boog e Boog (2013, p.7) definem o que se deve levar em conta quando se pretende realizar a análise da organização como um todo: Pois é: quando um grupo de pessoas puxa uma das pontas de uma corda para um lado, e outro grupo puxa a outra extremidade para outro, não se vai a lugar algum, certo? 58 O resultado da pesquisa de clima no ambiente de trabalho para melhor entender o contexto organizacional; Os relatórios gerenciais e estratégicos; As observações feitas por clientes externos; O relatório do Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) O relatório periódico Análise de recursos humanos Tendo em mente as especificidades da empresa, como vimos no subitem anterior, é preciso, agora, que se analise a adequação das capacidades dos colaboradores frente às exigências e necessidades organizacionais. Para tanto, realiza-se a análise de recursos humanos que quantifica e qualifica o desempenho, as potencialidades de cada colaborador e a força de trabalho. Boog e Boog (2013, p.7) elencam os seguintes itens que devem ser analisados: O número de colaboradores; O nível de conhecimento e qualificação requeridos para o trabalho de cada colaborador; As habilidades disponíveis de cada colaborador; A atitude de cada empregado em relação ao trabalho; As potencialidades de recrutamento interno; O tempo de treinamento necessário; O índice de absenteísmo, turnover e afastamentos; A descrição dos cargos e a clara definição das competências necessárias; 59 O resultado da avaliação de desempenho; A análise de problemas de pessoal; A expansão da empresa e a admissão de novos colaboradores. Análise das operações e tarefas Conforme preconizam Boog e Boog (2013, p.7-8), esta análise contempla “os processos operacionais, habilidades necessárias, fases dos processos e melhoria contínua.” Segundo eles, para a realização desta análise é premente que se leve em conta os seguintes itens: Metas desejadas; Descrição dos cargos; Análise dos processos operacionais; Definição dos conhecimentos, habilidades e atitudes pertinentes ao cargo e à fase do processo operacional; Programas de qualidade e certificações; Equipamentos e materiais disponíveis e sua utilização; Análise de problemas, relatórios e indicadores; Modernização e manutenção de maquinários e equipamentos; Produção e comercialização; Mudanças nos processos versus preparação dos colaboradores; Qualidade e quantidade de produção; Número de acidentes, erros e sucatas, e condições físicas do trabalho; 60 Distinção entre não poder fazer, não querer fazer e não saber fazer; Ou seja, se por um lado a análise total da empresa sinaliza o que é necessário, no tocante às demandas da empresa, e em que sentido deve-se caminhar, a sua vez, a análise de recursos humanos e a análise das operações e tarefas completam essas informações, apontando o que se tem atualmente. O ponto de partida do treinamento ou do desenvolvimento de pessoas, então, deve ser uma comparação entre o que se quer e o que se tem, para que os programas possam diminuir ou, ainda melhor, dirimir esses gaps. Retomando nosso exemplo da ida ao supermercado, essa comparação seria o resultado da busca na dispensa da sua casa, e a reflexão sobre o que você gostaria de servir para seus convidados. O dimensionamento dessa diferença, do que se tem e do que se quer, é de fundamental importância para que os resultados do treinamento atendam às necessidades da organização. Além disso, a análise total da empresa vai apontar a forma como o treinamento ou o desenvolvimento deve ser planejado, para que esteja focado nos valores e nas estratégias daquela organização. Os mesmos autores, Boog e Boog (2013) comparam a atividade de análise com a de um detetive e recomendam que o analista deva exercer o papel de detetive sempre que alguma das informações necessárias, expostas acima, não esteja disponível. A figura 1 apresenta as etapas que se deve percorrer para se exercer o papel de detetive, defendido pelos mencionados autores. 61 Figura 1 - Assuma o papel de detetive Fonte: Boog e Boog (2013, p.8). Agora, você pode estar pensando: Até algum tempo atrás, somente os envolvidos diretamente nos programas de T&D: líderes, gestores de RH, instrutores responsáveis pelo treinamento e pelo desenvolvimento de pessoas. Contudo, a partir do momento em que as organizações se deram conta de que colaboradores Tudo bem, mas quem é que vai se envolver nessa fase diagnóstica? 62 capacitados são essenciais para as estratégias de negócios da empresa, os gestores de alto e de médio nível passaram a fazer parte da análise diagnóstica. (NOE, 2015). O quadro 3 exibe um exemplo das questões que os gestores de alto e médio níveis e os instrutores devem fazer ao se envolverem na etapa do levantamento de necessidades, com relação a três tipos de análise. Gerentes de nível alto Gerentes de nível intermediário Instrutores Análise da organização O treinamento é importante para alcançarmos nossos objetivos de negócio? Quais são as ameaças à nossa base de talentos? Eu quero investir dinheiro em treinamento? Quanto? Como o treinamento e o desenvolvimento ajudarão no alcance das minhas metas de negócio? Nós estamos mantendo nossos principais talentos? Eu tenho orçamento para comprar serviços de treinamento? Os gerentes apoiarão o treinamento? Análise de pessoas Funcionários de setores ou unidades de negócio específicas precisam de treinamento? O que os funcionários precisam fazer para realizar nossos objetivos de negócio? Quem deve ser treinado? Gerentes? Funcionários centrais? Como identificarei quais funcionários precisam de treinamento? Análise de tarefas A empresa tem pessoas com o conhecimento, habilidades, capacidades ou competências necessárias para competir no mercado? Para quais cargos o treinamento pode fazer mais diferença na qualidade do produto ou no serviço ao consumidor? Para quais tarefas os funcionários devem ser treinados? Quais conhecimentos, habilidades, capacidades ou outras características são necessárias? Quadro 3: Principais preocupações de gerentes de nível alto e intermediário quanto ao diagnóstico de necessidades. Fonte: Noe (2015, p.112) 63 Bem, até aqui já sabemos que para programar um treinamento ou desenvolvimento, é indispensável que façamos um levantamento do que se tem e do que se quer, e, ainda, pensar nas especificidades da empresa, em seus valores, cultura, estratégias, potencialidades e fraquezas, para que possamos iniciar o planejamento desse programa, certo? Dessa forma, as informações que o profissional responsável por organizar o programa de treinamento ou de desenvolvimento deve captar são de suma importância para o sucesso e a efetividade do programa a ser colocado em ação. Boog e Boog (2013, p.8-9) indicam algumas delas: Observações; Solicitação da chefia; Entrevista com chefias ou colaboradores; Reuniões interdepartamentais; Exames de empregados; Modificação de trabalhos; Entrevista de desligamento; Avaliação de desempenho; Pesquisa de clima organizacional; Admissão de novos colaboradores; Mudanças de métodos de trabalho; Movimentação de funcionário (demissão, licença, férias, faltas); Mas, onde se devem coletar tais informações? Quem ou quais são a as fontes dessas informações? 64 Expansão ou redução de serviços e produtos/ Mudança nos programas de produção, modernização de maquinários; Baixa produtividade queixa de clientes, avarias, despesas com manutenção, erros; Relação deficiente entre o pessoal, tempo de aprendizagem e integração; Problemas de comunicação e cooperação; Dificuldade de retenção de talentos; Pouco interesse no trabalho; Conflitos intrae interdepartamental; Relatórios periódicos da empresa ou de produção; Relatório pós-treinamento. Complementam as informações obtidas das fontes acima elencadas, continuam Boog e Boog (2013, p.9), as apresentadas a seguir: Recursos humanos disponíveis; Clima psicológico; Valores da organização; Objetivos, políticas e estratégias de administração; Experiências anteriores, estratégias e resultados obtidos; Caracterização da população, reunindo informações sobre: - dados pessoais; - distribuição no quadro de colaboradores; 65 - grau de escolaridade; - tempo de empresa; - cargo e número de promoções; - cursos e aperfeiçoamento; - programas de treinamento (carga horária e características); Definição da estratégia de levantamento (observação, entrevista ou questionário) Após determinadas às necessidades a serem atendidas pelo treinamento ou pelo desenvolvimento de pessoas, é necessário planejar o programa, o que veremos no próximo subitem. Planejamento de Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas Retomando o exemplo da ida ao supermercado, o planejamento do treinamento ou do desenvolvimento de pessoas equivaleria a, após a checagem do que será adquirido para suprir a necessidade de servir uma refeição aos convidados, determinar de que forma você chegaria ao supermercado, como iria pagar as compras e como levaria as compras até a sua casa. Ou seja, planejar significa organizar a execução de algo, prevendo as etapas, as formas, os prazos e os gastos, prevendo as dificuldades e antecipando-se a elas, de modo a obter sucesso em sua execução. No próximo módulo estudaremos os tipos e as ferramentas de treinamento e, neste subitem, vermos alguns instrumentos que se destinam a organizar um programa de treinamento ou de desenvolvimento de pessoas na organização. 66 Graceffi (2013, p.26-33) aponta 11 etapas do planejamento de T&D. São elas: 1. Organizar os temas levantados na fase inicial (LNT – levantamento das necessidades de treinamento), de modo a obter um plano macro de treinamento. 2. Documentar os eventos de treinamento Cada programa de T&D deve contar com um material impresso ou gravado em mídia. Ainda, é preciso que se formalize um cronograma de aula, do qual deverá constar os conteúdos a serem abordados em cada oportunidade, a metodologia a ser empregada, o tempo de duração do programa e as quantidades máxima e mínima de participantes. O autor ilustra este item com um exemplo de formulário, que reproduzimos abaixo: Curso Desenvolvimento Comportamental Metodologia Exposição audiovisual e dinâmica de grupo Mínimo 10 participantes Máximo 15 participantes Duração Um dia integral 08h30 Integração/apresentações 08h45 O sucesso 09h30 A felicidade 10h30 Coffee break 10h45 O poder da mente 11h30 A psicocibernética 12h30 Almoço 14h Controle emocional 15h As qualidades essenciais 67 16h Coffee Break 16h15 As atitudes mentais adequadas 17h Auto-organização 17h45 Conclusão 18h Encerramento Quadro 4: Plano de aulas Fonte: Boog e Boog (2011, p.29) 3. Quantificar o treinamento necessário A partir do levantamento de necessidades de T&D, efetua- se o cálculo de pessoas que deverão participar de treinamentos ou ser desenvolvidas. Esse cálculo deve levar em conta os colaboradores que eventualmente serão contratados ou, ainda, sairão da empresa. Abaixo se encontram dois quadros sugeridos pelo autor, como exemplos deste item. Quadro 5: Projeção do quadro de pessoal de vendas Fonte: Graceffi (2011, p.30) O autor apresenta o quadro abaixo, elaborado com base na evolução da projeção acima: 68 Quadro 6: Programa de treinamentos Fonte: Graceffi (2011, p.30) Comparando o Quadro 5, observa-se que o programa de treinamentos atende à movimentação de colaboradores exposta no Quadro 4. A esse respeito, Graceffi (2011, p.30) comenta: Teremos, portanto, que treinar dez novos vendedores entre março e junho, realizando os cursos de Operação, Vendas e Economia & Finanças. Nos meses de janeiro a maio, estão programados cinco eventos de atualização dos vendedores plenos e um evento de atualização para os seniores e gerentes. No decorrer do ano, 22 vendedores plenos serão promovidos a seniores, e três seniores assumirão funções gerenciais. Dependendo da duração dos eventos, poderão ser programados mais do que um treinamento por mês, bem como o número de atendentes de um evento pode variar conforme a metodologia utilizada. (Grifo nosso). 69 4. Definir a época ideal para o treinamento Para programar um treinamento, é necessário considerar a agenda de treinamento, estipulando-se os programas mais urgentes. Deve-se ainda buscar que o colaborador se torne o mais produtivo, no menor tempo possível, levando-se em conta, sobretudo, o maior retorno sobre o investimento. (GRACEFFI, 2013). O autor recomenda, ainda, que se considere “o tempo que o colaborador ficará ausente de suas atividades normais, embora sua produtividade e efetividade estejam prejudicadas enquanto não estiver plenamente capacitado.” (p.31). Ou seja, há que se considerar a perda da produtividade proporcionada pela ausência do colaborador durante o período do treinamento, mas sem se esquecer de que, enquanto não estiver treinado, tanto sua produtividade, quanto a qualidade do que ele produz estarão prejudicadas, já que se aquele profissional deve passar por treinamento, ou seja, se precisa ser capacitado, então é porque ele apresenta algum gap que deve ser sanado e, enquanto não for, seu trabalho não será tão efetivo. 5. Eleger a metodologia para cada necessidade de T&D A metodologia do programa de T&D, neste item, refere-se ao conjunto de procedimentos que deverão reger a capacitação. Isso inclui o sistema de comunicação utilizado verbal, por escrito, utilização de vídeos, etc., o ambiente – que pode real (treinamento presencial) ou virtual (treinamento na modalidade EAD) , técnicas e ferramentas de ensino, entre outros. O importante, aqui, é ter em mente que a metodologia a ser escolhida dependerá do tipo de conteúdo a ser ministrado, o público que receberá o treinamento, os objetivos do programa, o valor que se tem para investir no treinamento, o tempo que os colaboradores que serão treinados dispõem para realizar o programa. 70 Todas essas considerações levarão à melhor metodologia, ou seja, não é possível eleger uma metodologia como a melhor, entre tantas outras, já que há diversas variáveis a serem considerada para se decidir sobre a adequação de cada uma delas à realidade da empresa naquele momento e em dado contexto. Nós estudaremos as metodologias com mais profundidade no próximo módulo desta disciplina. 6. Identificar os recursos internos e externos a serem mobilizados As organizações podem optar por manter uma equipe voltada ao desenvolvimento de pessoas, que se incube de ministrar os treinamentos e cursos para capacitação dos colaboradores, ou buscar empresa especializada para esse fim. Nem sempre manter uma equipe interna capaz de treinar os colaboradores nas mais diversas áreas em que pode haver alguma demanda é vantajoso financeiramente. Nesse caso, recorrer a empresas especializadas em treinar pessoas é a melhor opção. 7. Orçar os investimentos Para se obtiver o orçamento dos treinamentos que são realizados pelos colaboradores da própria empresa, tais como líderes, colaboradores mais antigos, profissionais do setor de Recursos Humanos da organização, etc., é necessário considerar os mais diversos aspectos que o envolverão, tais como: valor
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