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S Ã O P A U L O 2 0 1 8 F I A – F U N D A Ç Ã O I N S T I T U T O D E A D M I N I S T R A Ç Ã O G E S T Ã O D E M U D A N Ç A S D A C U L T U R A O R G A N I Z A C I O N A L N A T U R A – M U D A N Ç A S N E C E S S Á R I A S Por Roberto Eduardo Poletto Rodrigo César Forte Silvânia Aparecida Nascimento e Silva Zuleika Mary Tsutsumi 1 Estudo de Caso Natura – Mudanças Necessárias Historicamente, a Natura sempre teve receio de entrar em confronto direto com seus consultores de venda direta, cerca de 1,7 milhão na América Latina e responsáveis por 100% do faturamento da empresa por mais de 40 anos. Hoje ela já possui 26 lojas físicas, um e- commerce onde cerca de 160 mil consultores já possuem lojas virtuais dentro da plataforma Rede Natura e planeja uma expansão mundial com a aquisição das empresas australiana Aesop e inglesa The Body Shop. Mas como isto se sucedeu em tão pouco tempo? Analistas disseram que a Natura demorou para entrar no mercado de lojas físicas e no e-commerce. Uma breve história da Natura A história da Natura começa com uma loja física, em 1969, fundada por Luiz Seabra, na rua Oscar Freire, em São Paulo. Em 1974, a venda direta é adotada como modelo de negócios. Com o tempo, dois novos diretores e sócios passaram a trabalhar ao lado de Seabra: Guilherme Leal e Pedro Passos, que ingressaram na Natura em 1979 e 1983, respectivamente, ajudando a consolidar os processos de gestão e de produção da empresa. Durante a década de 80, sua receita bruta cresceu mais de 30 vezes. Em 1983, foi um dos primeiros fabricantes brasileiros de cosméticos a introduzir o uso de produtos com refil, permitindo economia de custo para o consumidor, redução do desperdício e ampliação da consciência ecológica. Em 1992, a Natura divulgou sua razão de ser, o bem estar bem. No mesmo ano, a empresa deu mais um passo em sua internacionalização, (iniciada em 1982, quando começou a vender no Chile), com operações na Argentina e no Peru. Em 1995, lançou o Programa Crer para Ver, com o objetivo de apoiar a melhoria da qualidade de ensino nas escolas públicas de todo o país. Em 2000, incorporou ativos da biodiversidade brasileira aos seus produtos, com o lançamento da linha Ekos. Em 2001 inaugurou sede em Cajamar (SP), que concentra fábricas, centro de pesquisa e escritórios em harmonia com a natureza. Em 2004 realizou abertura de capital na Bolsa de Valores de São Paulo. Em 2005 iniciou operações na França, com a abertura de loja em Paris. Em 2006 eliminou completamente os testes em animais. Em 2007 lançou o Programa Carbono Neutro, com metas ambiciosas de redução das emissões de CO2. Em 2012 a Natura começou o processo de aquisição da Aesop, concluído em 2016. Em 2013 reduziu em um terço as emissões de gases 2 do efeito estufa, alcançando compromisso assumido em 2007. Em 2014 a Natura publicou sua Visão de Sustentabilidade 2050, com metas ambientais e sociais de longo prazo, e se tornou a primeira companhia de capital aberto a ser certificada como BCorp. Em 2016 a Natura abriu sua primeira loja no Brasil e inaugurou a loja de Nova York. Em 2017 a venda direta da Natura passou a ser chamada de Venda por Relações, ampliando oportunidades de progressão no negócio. No mesmo ano a Natura adquiriu a The Body Shop. Mudar ou mudar O fundamental do mercado de venda direta é convencer seus vendedores, os consumidores vêm em segundo lugar, segundo Alan Kennedy, por muitos anos responsável pela área comercial da Avon, principal concorrente da Natura na venda direta. Por isso, as empresas sempre evitaram confronto com seus revendedores. Naturalmente, a estratégia de vendas da Natura acabava um tanto engessada — vender em outro canal seria uma traição. A fidelidade aos consultores fez com que a Natura abandonasse projetos para diversificar as vendas nos últimos anos. Conselheiros e diretores sempre concluíram que não queriam comprar essa briga. Mas enquanto isso, o mercado mudou. A Natura viu seus consultores diversificando suas vendas com catálogos de seus concorrentes. Em cinco anos, o número de empresas vendendo cosméticos e itens de higiene pessoal porta a porta mais que dobrou no Brasil. Já são mais de 300. Resultado: a participação da Natura na venda direta de itens de beleza e higiene pessoal caiu de 37% para 28% desde 2010. A receita média de cada revendedor diminuiu 8% só no último trimestre, acentuando a queda do último ano, dados de 2015. Como a Natura não tinha outro canal de vendas relevante, esse recuo pesou nos resultados. A receita no Brasil caiu 6% nos primeiros nove meses do ano, dados de 2015. A Natura se viu diante de um desafio duplo: reconquistar os consultores e tirar de vez do papel os planos de diversificação. Pela primeira vez os conselheiros da Natura chegaram ao consenso de que a companhia precisava cortar a dependência dos consultores e entrar de cabeça nas vendas “multicanal”. Assim, a empresa começou um teste de vendas em farmácias, com a linha Sou, de preços mais populares. A experiência serviu para reforçar o que estudos internos já indicavam: a marca perdeu força com os revendedores, mas não com o consumidor. A empresa decidiu abrir lojas próprias em 2016, com foco em jovens das classes A e B, que hoje não são a prioridade dos 3 consultores. Estas lojas, localizadas em shoppings, não têm a participação dos consultores. Mas já foram abertas lojas no modelo de franquia para os consultores interessados. A Rede Natura, um canal de vendas online criado em 2014, inicialmente intermediado obrigatoriamente por consultores, hoje pode ou não ser intermediado, ou seja, eliminou-se a dependência de um consultor. Responde por cerca de 2% do total de vendas da Natura. Além disso, a empresa continua investindo na internacionalização da marca. As vendas fora do Brasil cresceram 26% em 2014 — e, com o mercado doméstico estagnado, já respondem por 40% do faturamento da Natura, dados de 2015. Com a aquisição das empresas australiana Aesop e inglesa The Body Shop, criou uma nova identidade, a Natura&Co. Em paralelo, a Natura tenta reconquistar os consultores desiludidos, principalmente por causa do processo de vendas (pedido mínimo elevado e lucro na média do mercado, mas inferior a alguns fortes concorrentes). Ampliou oportunidades de crescimento dos consultores, através da venda por relações, treinamentos, categorias com níveis de crescimento e lucros diferenciados, podendo optar por serem líderes de negócios ou donos de franquias conforme progressão na carreira. Indicadores Os principais números da Natura &Co. (ver gráficos na pág.4) mostram a expansão dos canais de venda; os números de lojas; os resultados: receita líquida, Ebitda(resultado operacional medido pelo lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização) e lucro; investimentos (incluindo previsão para este ano). A Natura destacou que os resultados para os três primeiros meses do ano corroboram as metas de médio prazo para a empresa. Entre as metas, a empresa estima Ebitda de pelo menos 3,1 bilhões de reais em 2022. Para o mesmo período, a expectativa da empresa é de receita líquida consolidada de pelo menos 17,2 bilhões de reais, o que seria uma expansão de cerca de 75% em relação ao faturamento do ano passado, que somou 9,85 bilhões de reais. O número de consultores caiu 4,5% mas houve um aumento de produtividade, acima de 20%. 4 5Análise Fazendo uma reflexão à luz dos conceitos de cultura de Schein, podemos dizer que a Natura tem como seus pressupostos básicos (invisíveis, indiscutíveis e subconscientes) as relações e a sustentabilidade, visível (nível dos artefatos) no logo através do bem estar bem, que é a união do bem estar (relação harmoniosa e agradável do indivíduo consigo mesmo, com seu corpo) com o estar bem (relação empática, bem-sucedida e prazerosa do indivíduo com o outro e com o mundo). E são valores declarados, compartilhados e praticados por todos os colaboradores da empresa. A abertura de novos canais de venda (100% venda direta inicialmente para abertura de e-commerce, lojas físicas e franquias) foi feita estrategicamente, mas sempre buscando preservar as relações com os consultores de venda direta, daí a revitalização deste canal, feita em paralelo com a expansão para outros canais e internacionalmente. Segundo a tipologia de Gagliardi, classificamos o processo de mudança na Natura como gradual, no que se refere à ampliação dos canais de venda, pois foi compatível com seus pressupostos básicos, ampliando através de novas crenças e valores, demandando tempo em sua condução. Quanto à questão da internacionalização com a aquisição das empresas Aesop e The Body Shop, a classificação é como radical, embora as empresas adquiridas estejam alinhadas com seus pressupostos básicos (em especial, na sustentabilidade, contra testes em animais), pois a aquisição por si só é classificada como radical segundo Gagliardi, e relações, estruturas e processos são revistos com esta mudança, novos pressupostos serão formados e os resultados são incertos. 6 Referências Artigos da Revista Exame – Editora Abril https://exame.abril.com.br https://naturaeco.com/timeline-pt-br.html natu.infoinvest.com.br/modulos/doc.asp?arquivo= 01955050_ian360.doc Relatório anual Natura 2017 STEVANATO, L.A. A tipologia de Pasquale Gagliardi de mudança cultural. São Paulo, FIA, 2018 SCHEIN,E. Organizational Culture and Leadership, S.Francisco, Jossey-Bass, 2004 NOTA IMPORTANTE SOBRE DIREITOS AUTORAIS Este material foi desenvolvido para fins exclusivamente educacionais. Todo o material citado nas referências pertence aos seus autores. O caso procurou manter-se o mais fiel possível aos fatos disponíveis ao público em geral.
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