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CARDIOLOGIA – AULA 01 – DOENÇA VALVAR MITRAL A doença valvar mitral é uma patologia que acomete grande parte da população. A doença valvar mitral é uma doença sem cura muito associada à insuficiência cardíaca. É preciso buscar um conforto para os pacientes, que em grande parte são relativamente jovens. O primeiro gráfico é chamado de "sobrevida atuarial" onde foram cadastrados indivíduos assintomáticos, médio sintomáticos e mais sintomáticos. Ao longo do tempo foi mostrado que alguns pacientes tanto sintomáticos, quanto assintomáticos evoluíam para óbito Em indivíduos assintomáticos, muitas vezes a primeira manifestação já é o óbito. A sobrevida média é de 20 anos, porém em indivíduos mais sintomáticos há um índice de óbito de 45% no primeiro ano. Quando tratamos os pacientes com doença valvar mitral de maneira correta, sua sobrevida atuarial aumenta. 1. ANATOMIA BÁSICA São dois folhetos: anterior e posterior Os folhetos são ligados aos músculos papilares pelas cordoalhas tendíneas (aparelho subvalvar). A abertura destes folhetos permite que o sangue passe do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo na diástole. A área valvar normal e de 4 a 6 cm2. 2. ESTENOSE VALVAR MITRAL 2.1. DEFINIÇÃO E FISIOPATOLOGIA Trata-se da diminuição da área valvar, que causa restrição do escoamento sanguíneo do átrio para o ventrículo Na estenose a válvula deveria se abrir totalmente e colar seus folhetos ao lado da parede ventricular, o que permitiria que o sangue fizesse um grande influxo na diástole do átrio para o ventrículo. Porém, como a válvula não se abre corretamente, o escoamento do sangue se torna difícil. Isto gera um gradiente transvalvar: átrio esquerdo/ventrículo esquerdo Sempre que existe uma estenose valvar, existe um gradiente transvalvar. Não deve existir esse gradiente transvalvar na válvula mitral NORMAL, porém conforme ela vai ficando mais estreitada, é preciso um gradiente de pressão cada vez maior para que o sangue passe do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo na diástole. Isso quer dizer que quando mais estreitada a válvula vai ficando, maior deverá ser a pressão atrial esquerda para escoar o sangue. O aumento pressórico por sua vez produz dilatações cavitárias, congestão venocapilar pulmonar, e arterial pulmonar com estase venosa periférica Como o átrio fica com mais pressão e precisa de mais força para escoar o sangue para o ventrículo, ele vai acabar hipertrofiando e se dilatando. Além disso, seu aumento de pressão vai se tornar um processo retrógrado, atingindo as veias pulmonares, capilares pulmonares e artérias pulmonares, até alcançar as câmaras direitas do coração. Isso com o tempo causará estase sanguínea periférica, porque o sangue não consegue "sair corretamente" do coração, e consequentemente sua entrada também fica dificultada. Aumento da pressão no átrio esquerdo leva a: Aumento pressão das veias pulmonares Hipertrofia e vasoconstrição das artérias pulmonares Aumento pressões da artéria pulmonar e aumento da pressão do ventrículo direito = refluxo tricúspide Aumento da pressão no átrio direito Congestão venosa sistêmica (jugular, fígado, mmii). OBS: Para classificar a estenose valvar, nós podemos utilizar como medida a ÁREA VALVAR, e o GRADIENTE PRESSÓRICO (veremos ambos abaixo): Gradiente pressórico AE-VE (mmHg) médio em repouso: < 5 = Leve 5 a 10 = Moderado 10 = Importante OBS: Devemos tomar cuidado com o gradiente, porque um paciente que tomou diurético terá um gradiente mais baixo uma vez que retirou volume dele. Área valvar: Área valvar normal = 4 a 6 cm² Se a área se tornar 2 cm², os sintomas se iniciam Nós possuímos uma "reserva cardíaca" valvar, ou seja, o normal é de 4 a 6 cm², porém nesse intervalo entre não ter sintomas até ter sintomas (4 – 6cm² até 2cm²) nós ficamos bem, mesmo com a válvula um pouco diminuída. Por isso já devemos iniciar o tratamento para que a válvula não seja mais prejudicada. Se a área for > 1,5 cm² = estenose leve Se a área for entre 1 a 1,5 cm² = estenose moderada Se a área for < 1cm² = estenose importante 2.2. ETIOLOGIA Febre reumática (70% DATASUS) É a principal etiologia no Brasil e hemisfério sul. Prolapso mitral Mais raramente: alterações congênitas, doenças infiltrativas (mucopolissacaridoses), lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide, síndrome carcinóide, calcificações.. Outras patologias podem dificultar a saída de sangue para o ve: mixoma, trombos. Mais comum em mulheres 4:1 A dificuldade de esvaziamento leva ao aumento do tamanho e da pressão do átrio esquerdo (AE). O ventrículo esquerdo (VE) geralmente é normal, mas pode ter hipocontratilidade localizada pelo comprometimento do aparelho subvalvar (cordoalha e músculo papilar). 2.3. QUADRO CLÍNICO Dispneia: Aumento das pressões hidrostáticas com congestão e ate edema pulmonar (entre outros sintomas de ICC como tosse, chiado, hemoptise, fadiga e edema periférico) Esse é o principal sintoma disparadamente. OBS: Quando fazemos a ausculta e ouvimos estertores, isso é um sinal de congestão alveolar. Porém não é necessário ter a congestão alveolar para ter dispneia, basta ter congestão venosa com alto volume de líquido no pulmão para ter o sintoma. Palpitação Hemoptise: Ruptura de veias brônquicas Estase jugular, ascite edema mmii, hepatomegalia Esses sintomas ocorrem quando houver hipertensão arterial pulmonar com insuficiência cardíaca direita. OBS: Quando temos hipertensão arterial pulmonar grave, ela é irreversível, e não há tratamento. A única coisa que se pode fazer é transplante (caro). Rouquidão: Compressão do n. laríngeo recorrente (s. ortner) Pode haver sintomas parecidos com estenose importante ou moderada por complacência atrial, função do ventrículo direito e patologias associadas. Existem ainda dois sintomas muito importantes e comuns, sendo eles: Fibrilação atrial aguda ou crônica – 30 a 40% Embolia pulmonar, atrial – 13 a 26% Quando o paciente tem aumento de pressão no átrio esquerdo, e ele aumenta de tamanho, vai causar um desarranjo na estrutura celular, e isso leva a fibrilação atrial. Havendo fibrilação atrial ou não, porém mais frequentemente quando existe fibrilação atrial, podem se formar trombos na cavidade, podendo causar embolia arterial (em muitos casos é cerebral causando AVE isquêmico). 2.4. EXAME FÍSICO É um exame físico pobre, porém o principal dado é o sopro em foco mitral durante a diástole. OBS: Devemos sempre observar muito bem a história clínica do paciente Dispneia, embolia e fibrilação atrial. Demais achados do exame físico: Fácies mitralis: Bochechas róseas Vasoconstricção periférica nas lesões severas. Estase jugular, e outros sinais de insuficiência cardíaca direita. Sinais de marfan: prolapso de válvula mitral ou sopro. Tórax: Pulsação paraesternal esquerda, por aumento do ventrículo direito. Palpação do frêmito diastólico no ápice: Pulsação paraesternal esquerda = ventrículo direito 2ª bulha - foco pulmonar (hipertensão arterial pulmonar) Hiperfonese de b1: Porem se houver calcificação pode haver hipofonese Estalido de abertura mitral: Ocorre por tensão das cordoalhas nas cuspides; Pode estar ausente caso haja fibrose e calcificação das cordoalhas. Hiperfonese da 2ª bulha no foco pulmonar: Reflete hipertensão arterial pulmonar. Sopro diastólico em ruflar no ápice, qto maior duração maior severidade da lesão. Sopro diastólico pulmonar refletindo hipertensão pulmonar com insuficiência valvar denominado de grahan steel 2.5.EXAMES COMPLEMENTARES 2.5.1. ECOCARDIOGRAMA – PADRÃO OURO É o padrão ouro, porém não pode ficar só nele. Para ter um diagnóstico bem feito deve pedir também o ECG e o raio x de tórax. Avalia a área mitral, pressões no átrio esquerdo, pulmonar e ventrículo direito. Quantifica o grau da lesão com a área valvar e o gradiente pressórico AE / VE Gradiente (médio) pressórico AE-VE (mmHg) na diástole: < 5 = leve 5 a 10 = moderado > 10 = importante 2.5.2. ECG Sobrecarga de átrio esquerdo: Duração da onda P aumentada, dorso de camelo P mitrale OBS: Paciente com estenose mitral, hipertensão arterial pulmonar e insuficiência cardíaca direita com sobrecarga atrial direita: onda P alargada e comprida. Sobrecarga de ventrículo direito: Desvio de eixo p/ direita Onda R alargada em v1 e v2, e onda S em v6. Fibrilação atrial: Ausência de onda P, intervalo RR irregular. Sobrecarga atrial direita: Aumento de amplitude Eixo além 90º Sobrecarga atrial esquerda: Aumento do tempo > 0,12 s Eixo para esquerda e para trás Em V1: Onda P com fase negativa 0,04 s e 1 mm Sobrecarga bi-atrial: Ambas as alterações V1 ou até V2: onda bifásica Exemplos de ECGs: É um ECG sinusal com presença de onda P precedendo QRS. Onda P está apiculada, demonstrando presença de sobrecarga do atrial direita. Onda P negativa em V1 demonstrando sobrecarga atrial esquerda. Presença de onda R positiva em V1 demonstrando sobrecarga ventricular direita. Portanto o paciente tem: ritmo sinusal, sobrecarga atrial direita, sobrecarga atrial esquerda e sobrecarga ventricular direita (estenose mitral) ECG sem ritmo sinusal, com intervalo RR irregular (fibrilação atrial). 2.5.3. RAIO X DE TÓRAX É fundamental fazer raio x de tórax. Aumento átrio esquerdo = duplo contorno (3º arco) Abaulamento da artéria pulmonar Aumento da trama vascular nos ápices (Inversão do fluxo) Hipertrofia linfática (linhas b de kerley) 2.5.4. CINEANGIOCORONARIOGRAFIA (cateterismo cardíaco) + VENTRICULOGRAFIA É desnecessário para ver a válvula mitral. É feito quando vamos fazer operação em pacientes com: Em mulheres na menopausa e acima. Em homens com mais de 40 anos ou com risco de doenças coronarianas Para avaliar coronárias. Ou em situações com dúvidas por diferenças entre a clínica e ecocardiograma. EX: Paciente de 27 anos que vai operar válvula mitral não precisa de cateterismo. 2.6. TRATAMENTO – Prof disse que pergunta em prova (quatro tratamentos básicos para doença valvar – qualquer doença) 1º O tratamento da doença base Na estenose mitral a causa básica geralmente é a febre reumática e novos surtos com penicilina benzatina diminui a evolução da estenose valvar. 2º Profilaxia para endocardite infecciosa quando submetidos a procedimentos com risco de bacteremia EX: Extração dentária ou limpeza, colonoscopia, fratura óssea.. 3º Tratamento ou profilaxia de embolia Se tem trombo, estase sanguínea, arritmia ou AVC prévio vai utilizar anticoagulante. 4º Tratamento da arritmia e fibrilação atrial EX: Paciente de 18 anos com história de febre reumática. Não precisa esperar desenvolver a doença valvar mitral para tratar, deve começar a tratar previamente. OBS: Deve fazer esses quatro tratamentos para todas as classes NYHA. 2.7. TRATAMENTO ESPECÍFICO DA ESTENOSE MITRAL DE ACORDO COM A CLASSIFICAÇÃO NYHA 2.7.1. ICC CLASSE I NYHA – Paciente assintomático Pode permanecer sem medicação DEVE fazer os quatro tratamentos citados previamente, quer dizer que não precisa de medicação ESPECÍFICA apenas. Se apresentar fibrilação atrial = Antiarrítmico e anticoagulação (inr entre 2.0 e 3.0) Se mesmo sendo classe I o paciente tiver uma estenose severa, deve fazer tratamento intervencionista 2.7.2. ICC CLASSE II NYHA – Apresenta sintomas aos esforços Beta bloqueadores para aumentar o tempo de diástole e mais sangue passar Diurético Para diminuir a pressão arterial. Se apresentar fibrilação atrial = Antiarrítmico e anticoagulação Se mesmo sendo classe II o paciente tiver uma estenose severa, deve fazer tratamento intervencionista. 2.7.3. ICC CLASSE III E IV NYHA – Paciente com sintomas Beta bloqueadores para aumentar o tempo de diástole e mais sangue passar. Diurético Para diminuir a pressão arterial. Se apresentar fibrilação atrial = Antiarrítmico e anticoagulação Hipertensão arterial pulmonar (> 50 mmhg): Indicação de cirurgia. Se hipertensão arterial ≥ 80 Sobrevida média 2, 4ª Sempre intervenção: Valvuloplastia por balão: percutânea (wilkins =8) Cirurgia: Comissurotomia 0% mortalidade Troca valvar mortalidade 8% Prótese biológica de pericárdio bovino Prótese “metálica” de carvão pirolitico e de duplo disco 3. INSUFICIÊNCIA MITRAL Ocorre quando a inadequada coaptação dos folhetos mitrais permite regurgitação de sangue do ventrículo esquerdo para o átrio esquerdo A sobrecarga de volume gera dilatação cavitária esquerda e insuficiência cardíaca. Primária: Quando ocorre devido à lesão valvar ou do aparelho subvalvar Secundária: Quando ocorre devido à dilatação do anel valvar ou dos músculos papilares Existe uma condição fisiopatogênica que faz com que na insuficiência valvar mitral o ventrículo esquerdo se dilate, só que a piora do ventrículo esquerdo é mais grave do que na insuficiência aórtica, porque leva a insuficiência ventricular esquerda. OU 3.1. ETIOLOGIA Degeneração mixomatosa Degeneração da estrutura valvar. Prolapso Mitral (1 a 2,5% da população) A valva mitral se fecha fora do plano normal Disfunção isquêmica (2ªria) Endocardite infecciosa Doença reumática* Miocardiopatia dilatada (2ªria): Doença viral, doença chagásica. Cardiopatia hipertrófica (2ªria) Calcificação anular Congênita 3.2. FISIOPATOLOGIA Regurgitação valvar de sangue do ventrículo esquerdo para o átrio esquerdo. Sobrecarga volumétrica e pressórica Redução do débito cardíaco Congestão pulmonar Aumento das pressões no átrio esquerdo, sistema venocapilar, ventrículo direito e átrio direito. Sobrecarga ventricular: dilatação e hipertrofia na fase compensada e dilatação demasiada na fase descompensada 3.3. QUADRO CLÍNICO Fase inicial: pode ser assintomática Sintomas típicos de ICC: Hepatomegalia, estase jugular, pletora facial.. Precipitação do sintomas pela fibrilação atrial aguda 3.4. EXAME FÍSICO Ictus palpável desviado para baixo e esquerda Frêmito Sopro: holossistólico irradiado para a axila 3ª bulha: sinal do rápido esvaziamento atrial durante a diástole ventricular Ás vezes é relacionada com ICC 3.5. EXAMES COMPLEMENTARES 3.5.1. ECG Sobrecarga de átrio esquerdo: Duração da onda P aumentada, dorso de camelo P mitrale Sobrecarga de ventrículo direito: Desvio de eixo p/ direita Onda R alargada em v1 e v2, e onda S em v6. Fibrilação atrial: Ausência de onda P, intervalo RR irregular. 3.5.2. RAIO X DE TÓRAX Aumento do átrio esquerdo = duplo contorno 3 arco Abaulamento da artéria pulmonar Aumento da trama vascular nos apices (inversão do fluxo) Hipertrofia linfática (linhas b de kerley) Aumento do ventrículo esquerdo Característica da sobrecarga volumétrica. 3.5.3. ECOCARDIOGRAMA – Padrão ouro Refluxo mitral Avalia as pressões no átrio esquerdo, veias pulmonares e ventrículo direito. Função ventricular Quando o ventrículo esquerdo é pequeno e passa a dilatar, ele vai perdendo força, por isso é importante saber qual a capacidadedo ventrículo. Essa capacidade é medida por: Diâmetro diastólico final Diâmetro sistólico final OBS: Um ventrículo muito dilatado é ruim, porém um ventrículo dilatado que não consegue contrair é pior. Morfologia mitral e subvalvar Aqui não se fala sobre gradiente transvalvar e área valvar. 3.5.4. CINEANGIOCORONARIOGRAFIA (cateterismo cardíaco) + VENTRICULOGRAFIA É desnecessário para ver a válvula mitral. É feito quando vamos fazer operação em pacientes com: Em mulheres na menopausa e acima. Em homens com mais de 40 anos ou com risco de doenças coronarianas Para avaliar coronárias. 3.6. TRATAMENTO – Prof disse que pergunta em prova (quatro tratamentos básicos para doença valvar – qualquer doença) OBS: Coloquei de novo porque é MUITO importante! 1º O tratamento da doença base Na estenose mitral a causa básica geralmente é a febre reumática e novos surtos com penicilina benzatina diminui a evolução da estenose valvar. 2º Profilaxia para endocardite infecciosa quando submetidos a procedimentos com risco de bacteremia EX: Extração dentária ou limpeza, colonoscopia, fratura óssea.. 3º Tratamento ou profilaxia de embolia Se tem trombo, estase sanguínea, arritmia ou AVC prévio vai utilizar anticoagulante. 4º Tratamento da arritmia e fibrilação atrial 3.7. TRATAMENTO ESPECÍFICO Assintomático: Faz os quatro tratamentos citados acima, e acompanha o paciente sem medicação específica. Sintomático (ICC): Diurético: Diminuir a sobrecarga de volume Vasodilatador: Sangue escoar mais facilmente para a aorta do que voltar para o átrio esquerdo. Digoxina: Aumentar a força de contração. OBS: Só se usa beta bloqueador em dose baixa como ideia de tratamento do músculo cardíaco, mas não é medicamento específico. Tratamento da fibrilação atrial e profilaxia de tromboembolia (inr 2.0 a 3.0) Se o paciente tiver insuficiência mitral, for sintomático, e tiver classe funcional NYHA I, II, III ou IV CIRURGIA Ainda podemos acompanhar se o diâmetro sistólico final está diminuindo. Se ele for > 40mm ou > 45mm e tiver fração de ejeção diminuída < 60% CIRURGIA
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