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CASO CLÍNICO 2 Doença Inflamatória Intestinal e Síndrome do Intestino Curto Universidade de São Paulo Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Curso de Nutrição e Metabolismo Fisiopatologia da Nutrição Materno-Infantil Caso E.J.C, sexo masculino, 13 anos e 3 meses. Internado devido à queixa prolongada de fortes dores abdominais, diarreia e perda de peso, com piora da intensidade dos sintomas. Na internação foi realizada laparotomia exploratória que constatou a presença de massa em jejuno e aderências no cólon descendente, com laudo anatomopatológico compatível com doença de Crohn. Houve agravamento do quadro com necessidade de tratamento cirúrgico. Paciente está no pós-operatório (3 dias) da ressecção intestinal. Antropometria Peso atual: 29 kg Peso habitual: 37 kg (perda de 8kg em 1 mês) Percentual de perda de peso: 21% perda grave Estatura: 145 cm IMC: 13,7 kg/m² 2 Dados adicionais Para a classificação do estado nutricional de crianças e adolescentes, utiliza-se as curvas de crescimento da OMS e os pontos de corte definidos pelo SISVAN: 3 1. Classifique o estado nutricional atual da criança segundo as curvas da OMS: Peso atual: 29 kg Idade: 13 anos e 3 meses Estatura: 145 cm IMC: 13,7 kg/m² < percentil 3 Magreza 4 Peso atual: 29 kg Idade: 13 anos e 3 meses Estatura: 145 cm IMC: 13,7 kg/m² < escore-z -3 Magreza Entre p3 e p15 Estatura adequada para a idade Peso atual: 29 kg Idade: 13 anos e 3 meses Estatura: 145 cm IMC: 13,7 kg/m² Escore z entre -2 e -1 Estatura adequada para a idade Peso atual: 29 kg Idade: 13 anos e 3 meses Estatura: 145 cm IMC: 13,7 kg/m² Exames bioquímicos Resultado Referência Classificação Hb(mg/dL) 11,2 13 a 16 ↓ Albumina (g/dL) 2,2 2,9 a 4,7 ↓ Ferrosérico(μg/dL) 60 50 a 120 - Ferritina (μg/L) 185 7 a 140 ↑ PCR(mg/dL) 1,2 < 0,5 ↑ Na (mg/dL) 120 135 a 145 ↓ K (mg/dL) 2,8 3,5a 5,0 ↓ Ca (mg/dL) 7,1 8,8a 10,8 ↓ Mg (mg/dL) 1,2 1,6 a 2,6 ↓ Zn (ug/dL) 61 70 a 120 ↓ 8 Ingestão alimentar Criança apresentava queixa de hiporexia e inapetência há cerca de 1 mês, com diarreia e dor abdominal (cólica intensa) principalmente após as refeições, além da presença de náuseas e vômitos. Neste período, a ingestão alimentar apresentou-se bastante comprometida, com ingestão de, aproximadamente, 50% da necessidade energética diária. Prescrição dietética atual NPT 9 2. Estime a necessidade energética e proteica da criança: OMS/FAO (GEB) = (17,5 x P) + 651 Schofield (GEB) = (16,25 x P) + (1,372 x E) + 515,5 DRIs (GET) = 88,5 - (61,9 x I) + FA x [(26,7 x P) + (903 x E)] + 25 kcal Holliday e Segar (GET) = 1.500 kcal + 20 kcal/kg acima de 20 Peso atual: 29 kg Peso habitual: 37 kg Peso no p15: 34,6 kg Peso no p50: 38,8 kg Estatura: 145 cm IMC: 13,7 kg/m² Fator de estresse da doença: 1,3 ou 30% 10 Peso atual OMS/FAO (17,5 x P) + 651 = (17,5 x 29) + 651 = 1.158,5 kcal/dia (x 1,3) = 1.506,0 kcal/dia Schofield (16,25 x P) + (1,372 x E) + 515,5 = (16,25 x 29) + (1,372 x 145) + 515,5 = 471,2 + 198,9 + 515,5 = 1.185,6 kcal/dia (x 1,3) = 1.541,2 kcal/dia DRIs 88,5 - (61,9 x I) + FA x [(26,7 x P) + (903 x E)] + 25 kcal = 88,5 - (61,9 x 13) + 1 x [(26,7 x 29) + (903 x 1,45)] + 25 = 88,5 - 804,7 + [774,3 + 1.309,3] + 25 = 1.392,4 kcal/dia Holliday e Segar 1.500 kcal + 20 kcal/kg acima de 20 = 1.680 kcal/dia Média = 1.529,9 kcal/dia DRIs (GEB) = 68 - (43,3 x I) + (712 x E)+ (19,2 x P) = 68 – (43,3 x 13) + (712 x 1,45) + (19,2 x 29) = 68 – 562,9 + 1032,4 + 556,8 = 1094,3 kcal/dia (x 1,3) = 1.422,5 kcal/dia 11 Peso no p15 OMS/FAO (17,5 x P) + 651 = (17,5 x 34,6) + 651 = 1.256,5 kcal/dia (x 1,3) = 1.633,4 kcal/dia Schofield (16,25 x P) + (1,372 x E) + 515,5 = (16,25 x 34,6) + (1,372 x 145) + 515,5 = 562,2 + 198,9 + 515,5 = 1.276,6 kcal/dia (x 1,3) = 1.659,5 kcal/dia DRIs 88,5 - (61,9 x I) + FA x [(26,7 x P) + (903 x E)] + 25 kcal = 88,5 - (61,9 x 13) + 1 x [(26,7 x 34,6) + (903 x 1,45)] + 25 = 88,5 - 804,7 + [923,8 + 1.309,3] + 25 = 1.541,9 kcal/dia Holliday e Segar 1.500 kcal + 20 kcal/kg acima de 20 = 1.780 kcal/dia Média = 1.653,7 kcal/dia DRIs (GEB) = 68 - (43,3 x I) + (712 x E) + (19,2 x P) = 68 - (43,3 x 13) + (712 x 1,45) + (19,2 x 34,6) = 68 - 562,9 + 1.032,4 + 664,3 = 1.201,8 kcal/dia (x 1,3) = 1.562,3 kcal/dia 12 Peso no p50 OMS/FAO (17,5 x P) + 651 = (17,5 x 38,8) + 651 = 1.330,0 kcal/dia (x 1,3) = 1.729 kcal/dia Schofield (16,25 x P) + (1,372 x E) + 515,5 = (16,25 x 38,8) + (1,372 x 145) + 515,5 = 630,5 + 198,9 + 515,5 = 1.344,9 kcal/dia (x 1,3) = 1.748,3 kcal/dia DRIs 88,5 - (61,9 x I) + FA x [(26,7 x P) + (903 x E)] + 25 kcal = 88,5 - (61,9 x 13) + 1 x [(26,7 x 38,8) + (903 x 1,45)] + 25 = 88,5 - 804,7 + [1.035,9 + 1.309,3] + 25 = 1.654 kcal/dia Holliday e Segar 1.500 kcal + 20 kcal/kg acima de 20 = 1.860 kcal/dia Média = 1.747,8 kcal/dia DRIs (GEB) = 68 - (43,3 x I) + (712 x E) + (19,2 x P) = 68 - (43,3 x 13) + (712 x 1,45) + (19,2 x 38,8) = 68 - 562,9 + 1.032,4 + 744,9 = 1.282,4 kcal/dia (x 1,3) = 1.667,1 kcal/dia 13 Necessidade proteica recomendação: 0,5g/kg a 2,5g/kg PA/dia PTN 14,5g a 72,5g/dia 14 3. Cite as principais diferenças entre a Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa: Doença de Crohn Pode envolver qualquer segmento do TGI Regiões mais comuns: íleo terminal e cólon Inflamação assimétrica e descontínua Obstruções intestinais recorrentes Natureza transmural (afeta todas as camadas da mucosa, podendo acometer parede intestinal, mesentério e gânglios linfáticos) Retocolite Ulcerativa Afeta o reto e envolve um segmento contínuo do cólon Não afeta o intestino delgado (raramente o íleo terminal) Lesão confinada apenas à camada superficial da mucosa Ulcerações presentes, porém superficiais Estenose: raramente 15 4. Cite os fatores causais mais associados à Doença Inflamatória Intestinal: Trata-se de doenças idiopáticas com os possíveis fatores causais: Genéticas Imunes Ambientais (microbiológicas) Alimentares (exposição ao leite de vaca, consumo elevado de CHO refinado e aditivos, baixo consumo de fibras alimentares) Alterações na permeabilidade da barreira epitelial 16 5. Quais sintomas presentes na Doença de Crohn o paciente do caso apresentou? Qual o quadro clínico mais recorrente em pacientes portadores da doença? O paciente do caso clínico foi internado em decorrência de fortes dores abdominais, diarreia e perda de peso. Além destes, também são descritos: Presença de microgranuloma no TGI Estenose no TGI Fístulas Distensão abdominal Náuseas Vômitos Perfuração intestinal Abcessos Peritonite 17 6. A Terapia Nutricional Parenteral foi iniciada no pós-operatório. Após 5 dias de NPT, o paciente evoluiu com normalização no balanço hidroeletrolítico. Qual seria a melhor conduta nutricional para esse momento? Realize a prescrição e evolução dietoterápica para os próximos dias. A melhor conduta a ser tomada neste momento é a Nutrição Enteral. A NE será importante para a redução da necessidade da NP e também dos riscos de lesão hepática. Deve-se iniciar de forma lenta e contínua, com 1/3 das necessidades (ou de 10 a 20 ml/kg/dia). A NP deve ser reduzida gradativamente à medida em que se aumenta a NE, desde que a tolerância pela criança seja adequada e ela comece a ganhar peso. 18 Dieta escolhida Peptamen 1.5 Semi-elementar Dieta enteral para adolescentes e adultos Hipercalórica (1.5 kcal/mL) e hiperproteica (6,8g/100 mL) Para crianças de 1 a 10 anos Peptamen Júnior Advance (1.5 kcal/mL) e 4,5g de PTN/100 mL 19 Necessidade energética (peso no p15) = 1.622,3 kcal/diaDieta enteral 1.5 kcal/mL Volume = 1.081,5 mL/dia Dia 1 (1/3 das necessidades) Dieta enteral semi-elementar administrada por via NSG, 540,7 kcal/dia, no volume de 360,5 mL/dia distribuídos em 8 vezes (45 mL de 3/3h por BIC). Dia 2 (2/3 das necessidades) Dieta enteral semi-elementar administrada por via NSG, 811,1 kcal/dia, no volume de 540,7 mL/dia distribuídos em 8 vezes (67,5 mL de 3/3h por BIC). Dia 3 e 4 (100% das necessidades) Dieta enteral semi-elementar administrada por via NSG, 1.622,3 kcal/dia, no volume de 1.081,5 mL/dia distribuídos em 8 vezes (135,1 mL de 3/3h por BIC). 20
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