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Literatura Infantojuvenil FAEL 01.EAD.0061 50LD

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2ª Edição
Curitiba
2017
Literatura 
Infantojuvenil
Veridiana Almeida
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501
A447l Almeida, Veridiana
 Literatura infantojuvenil / Veridiana Almeida. – 2. ed. Curitiba: Fael,
2017. 
168 p.: il.
ISBN 978-85-60531-82-0
1. Literatura infantojuvenil I. Título 
CDD 028.5 
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão Editora Coletânea
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Capa Vitor Bernardo Backes Lopes
Imagem da Capa Shutterstock.com/PsychoShadow
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
À minha mãe, por ter despertado em mim, tão cedo, a paixão 
pela literatura.
Sumário
1. Contextualização Histórica das 
Literaturas Infantil e Juvenil | 7
2. Conceituação e Principais Manifestações | 23
3. Autores Representativos e Funções das 
Literaturas Infantil e Juvenil | 49
4. Metodologia do Ensino de Literaturas 
Infantil e Juvenil | 63
5. O Espaço Escolar e o Mundo da Leitura | 79
6. Critérios para Análise e Seleção de Obras | 91
7. Contação de Histórias: Leitura, Dinâmicas e Vivências | 103
8. A Literatura como Divulgadora das Reflexões Sobre Meio 
Ambiente, Povos Indígenas e Afrodescendentes | 113
9. O Tratamento da Questão dos Direitos 
Humanos na Literatura | 127
10. Atividades Práticas | 139
 Gabarito | 153
 Referências | 159
1
Contextualização 
Histórica das 
Literaturas Infantil 
e Juvenil
O presente capítulo procura traçar um breve panorama 
acerca da literatura infantojuvenil brasileira. Hoje em dia, livros escri-
tos e publicados especialmente para crianças e jovens, com qualidade 
literária, não são novidade, no entanto, até o século XX, circulavam 
obras que não possuíam características nem preocupações literárias, 
produzidas apenas com o objetivo de ensinar, moralizar, educar.
Citamos Monteiro Lobato como uma exceção em meio à 
alienação literária, pois pesquisadores e estudiosos afirmam que a 
literatura infantojuvenil brasileira começou com o referido autor, 
em 1921, com a obra A menina do narizinho arrebitado. Ele foi o 
pioneiro, isto é, o primeiro a escrever, para as crianças brasileiras, 
histórias que deixavam a visão maniqueísta de lado.
Contudo, somente na década de 1970 surgiu uma nova 
geração de escritores que, aliada a educadores e livreiros, promoveu 
uma verdadeira revolução cultural no setor.
Literatura Infantojuvenil
– 8 –
1.1 Literatura infantojuvenil: 
considerações históricas
Atualmente, a dimensão da literatura infantojuvenil é ampla e impor-
tante e proporciona à criança um desenvolvimento emocional, social e cog-
nitivo incontestável. É possível afirmar que, quanto mais cedo tiver contato 
com a literatura, de forma oral (contação de histórias) ou impressa (livros), 
maior será a probabilidade de a criança se tornar um adulto leitor e se apo-
derar dos três itens citados. Quanto ao desenvolvimento emocional, para 
Abramovich (1993), quando as crianças ouvem histórias, passam a visualizar 
de forma mais patente os sentimentos que têm em relação ao mundo. As 
histórias retratam problemas existenciais típicos da infância, como o medo, a 
curiosidade, a dor, a perda, o carinho, a inveja etc.
No desenvolvimento social, observamos que, por meio de histórias, 
a criança passa a conhecer lugares, outras épocas e, principalmente, outros 
modos de agir e de pensar e começa a confrontar ideias e pensamentos por 
intermédio da interação com os textos. Com relação ao desenvolvimento cog-
nitivo, a criança, quando lê ou ouve histórias e é capaz de indagar, comentar 
e refletir sobre elas, adquire uma postura crítico-reflexiva extremamente rele-
vante a sua formação cognitiva, pois sabemos que essa competência
está intimamente ligada aos processos e produtos da inteligência, 
incluindo entidades psicológicas do tipo conhecimento, consciência, 
inteligência, pensamento, imaginação, criatividade, geração de planos 
e estratégias, raciocínio, as inferências, a solução de problemas, a con-
ceitualização, a classificação e a formação de relações, a simbolização 
e, talvez, a fantasia e os sonhos das crianças. (SILVA, 2008, p. 33)
No entanto, a literatura infantojuvenil só atingiu tal projeção há pouco 
tempo, pois os primeiros livros para crianças, escritos por professores e peda-
gogos, estavam diretamente relacionados a uma função utilitário-pedagógica 
e, por isso, foram sempre considerados uma forma literária menor, uma subli-
teratura, inferior, simplificada. A rigor, esse equívoco se justifica porque uma 
coisa é a literatura entendida como “expressão da arte”, conforme Lourenço 
Filho (apud SANT’ANNA, 2006, p. 183), e outra coisa é a chamada “lite-
ratura didática”. Essa espécie de filantropismo pedagógico tentava induzir 
e direcionar o pensamento das crianças, sem deixar que pensassem por si 
mesmas. Para Coelho (2000, p. 58), “ao ser ligada, de maneira radical, a pro-
– 9 –
Contextualização Histórica das Literaturas Infantil e Juvenil
blemas sociais, étnicos, econômicos e políticos de tal gravidade, a literatura 
infantil e juvenil perdia suas características de literariedade para ser tratada 
como simples meio de transmitir valores”.
Esse caráter didático da produção para a infância surgiu no fim do século 
XVII com o intuito de ensinar valores, auxiliar no enfrentamento da realidade 
social e propiciar a adoção de hábitos. Assim, essa função pedagógica, e não 
literária, presente nos primeiros livros infantis, implicava a ação educativa 
do livro sobre a criança, dificultando a decisão e a escolha do que e de como 
ler. Extremamente pragmática, procurava estabelecer padrões comportamen-
tais exigidos pela sociedade burguesa que se estabelecia. Essa característica 
didático-pedagógica baseava-se na linha paternalista, moralista e centrada em 
uma representação de poder. Era, portanto, uma literatura para estimular a 
obediência, cujas histórias acabavam sempre premiando o bom e castigando 
o que era considerado mau.
Essa visão de mundo maniqueísta, ou seja, com a divisão das perso-
nagens em boas e más, belas e feias, poderosas e fracas, quase não deixava 
espaço para dúvidas, diferenças, diversidades e reflexões. De acordo com 
Castro ([2011?]), essa literatura seguia à risca os preceitos religiosos e con-
siderava a criança um ser a se moldar de acordo com o desejo dos que a 
educavam, podando aptidões e expectativas. Era nessa linha que Barth (apud 
SANT’ANNA, 2006, p. 183), há mais de 60 anos, dizia que
esta literatura está cheia de disparates e trivialidades. A tendência de 
fazê-la veículo de formação moral tornou-a, muitas vezes, insossa. Em 
vez de deixar falar as coisas e os fatos, fala o autor em demasia. Em 
vez de vida real, aparece, amiúde, a caricatura, em que se exageram os 
bons e maus caracteres, com tipos extremados, nos dois sentidos – de 
modo que se recompensa excessivamente o bem e se castiga da mesma 
forma o mal.
Podemos afirmar que as obras voltadas para as crianças 
raramente tinham o ensejo de tornar a leitura uma fonte 
de prazer, retratando a aventura pela aventura. Quase não 
havia histórias que discorressem sobre a vida de forma 
lúdica, ou que fizessem pequenas viagens em torno do 
cotidiano, ou que tivessem a afirmação da amizade cen-
Literatura Infantojuvenil
– 10 –
trada no companheirismo e despertassem emoções e 
sentimentos como forma de lazer e diversão. Assim, a 
literatura infantil não é uma simples exposição pedagó-
gica; “ela tem que ter uma certa magia, ser instigante, 
mexer com regiões do inconsciente, agregar alguma per-
plexidade ao leitor” (SANT’ANNA, 2006, p. 187).
 
Um exemplo dessa polarizaçãoentre o bem e o mal se concentrou, 
durante anos, na personagem da bruxa, que correspondia a um procedimento 
padrão de maldade e nunca mudava suas ações ou reações, sendo sempre má. 
Fazia parte desse universo, entre outras, a questão do medo: “— Bruxa de 
verdade não existe! E sua avó nem é tão feia, nem tem cara assim de bruxa. A 
gente não tem medo dela. Ela às vezes traz você para a escola de carro, e bruxa 
voa montada em vassoura!!!” (LUFT, 2004, p. 13).
A partir dos anos 1970, muitos escritores da literatura infantojuvenil 
passaram a mostrar a relatividade das coisas e a ambiguidade das pessoas por 
meio de personagens que não podem ser rotuladas como boas ou más; elas, 
então, passaram a “estar” boas ou más diante de diferentes situações. Ainda 
seguindo o exemplo da personagem bruxa, a desconstrução da imagem da 
maldade tornou-se um elemento bastante representativo para uma observa-
ção, inclusive com um trabalho de identificação do leitor; ou seja, atualmente 
essa imagem não é tão apavorante e inspiradora de medo, pelo contrário, 
muitas histórias registram as boas intenções dessas personagens, como His-
tórias de Bruxa Boa, de Lya Luft, que narra as aventuras da menina Tatinha, 
que morava no andar de cima de uma casa com o papai e a mamãe e no térreo 
morava a avó, que, poucos sabiam, era uma bruxa boa chamada Lilibeth.
Temos, também, A bruxinha que era boa, de Maria Clara Machado, 
que já no título rompe com o paradigma de maldade relacionado às bruxas. 
É uma peça infantil que conta a história da bruxinha Angela, cujo nome 
sugere referência a anjo, uma bruxinha diferente das outras que frequentam 
a Escola de Maldades da Floresta. Observamos, ainda, a obra Uxa: ora fada 
ora bruxa, de Sylvia Orthof, que mostra que nem toda bruxa vive somente 
de maldades, já que Uxa é uma bruxa diferente, tem momentos de ternura e 
meiguice como todo ser humano. A baixinha e gordinha Uxa, sendo bruxa, 
– 11 –
Contextualização Histórica das Literaturas Infantil e Juvenil
resolve virar fada algumas vezes. Para desempenhar esse papel, ela precisa 
mudar o visual e colocar peruca loira e chapéu de fada. Por fim, não pode-
mos deixar de mencionar a simpática e desastrada Bruxinha criada pela 
ilustradora e escritora Eva Furnari, na década de 1980, que faz sucesso até 
hoje entre as crianças.
 Dica de leitura
No livro A bruxinha atrapalhada, Eva Furnari cria, sem a utilização de 
palavras, apenas de imagens, uma bruxinha que pode realizar dese-
jos com a ajuda de uma varinha mágica, sofrendo as mais inusitadas 
consequências. O livro é composto por dez histórias; em algumas, a 
personagem alcança um final feliz, mas em outras ela não é tão sortuda 
em suas mágicas.
FURNARI, E. A bruxinha atrapalhada. São Paulo: Global, 1982.
Fonte: Global Editora.
Há várias obras que poderiam ser citadas para visualizarmos que a lite-
ratura infantil contemporânea busca retratar a relativização dos conceitos de 
bem e de mal em toda a ambiguidade humana. Para incitar a relação entre 
a interpretação do texto literário e a realidade, não há melhor sugestão que 
obras infantis que foquem discussões de nosso tempo e problemas univer-
sais, imanentes ao ser humano, já que “infantilizar” as crianças não cria cida-
dãos capazes de interferir na organização de uma sociedade mais consciente 
e democrática (COELHO, 2000). Para ilustrar, registramos, aqui, uma frase 
do narrador da história da Uxa:
Literatura Infantojuvenil
– 12 –
E assim é Uxa, a bruxa, ora boa, ora ruim,
ora antiga, ora moderna... afinal, Uxa muda,
muda muito, constantemente... eu acho, sei não,
eu acho Uxa muito parecida com muita gente!
(ORTHOF, 1985, p. 24)
Assim, por iniciar o leitor no mundo literário, a literatura infantil deve 
ser lida para expandir a capacidade e o interesse de análise do mundo e a 
sensibilização da consciência. É fundamental que a literatura seja sempre con-
siderada de modo global e complexo em sua pluralidade. Segundo Lobato 
(1964, p. 250), “quem começa pela menina da capinha vermelha pode acabar 
nos Diálogos de Platão, mas quem sofre na infância a ravage (efeitos nocivos) 
dos livros instrutivos e cívicos, não chega até lá nunca. Não adquire o amor 
da leitura”. De acordo com o autor, a literatura infantil tem de dizer à imagi-
nação dos leitores, e que aqueles que tiveram na infância o contato com uma 
leitura prazerosa estendem o “progresso autoeducativo” para a fase adulta.
 Saiba mais
Até as duas primeiras décadas do século XX, as obras infantojuvenis 
apresentavam caráter didático. Entretanto, vale ressaltar que, apesar da 
transcendência dos critérios de utilidade de uma obra infantil – transmis-
são de valores da sociedade para o estímulo da mente, da percepção 
do real em suas múltiplas significações, a consciência do eu em relação 
ao outro, a leitura do mundo em seus vários níveis –, ainda encontra-
mos traços educativos e didáticos na produção infantil atual.
1.2 Histórico da literatura infantojuvenil
A visão de mundo maniqueísta, calcada nos interesses do sistema, como 
bem registra Castro ([2011]?), foi abandonada por volta dos anos 1970, 
quando a literatura infantil tomou novo impulso e se apresentou com novas 
formas, novas propostas, novos caminhos, no Brasil, graças à contribuição de 
Monteiro Lobato. Se antes dessa época padecíamos de carência de literatura 
para crianças, a exceção é feita à obra desse autor. Na verdade, a literatura 
– 13 –
Contextualização Histórica das Literaturas Infantil e Juvenil
infantil brasileira pode ser dividida em antes e depois do criador do Sítio do 
pica-pau-amarelo.
Pesquisadores e estudiosos afirmam que a literatura infantil brasileira 
propriamente dita começou em Monteiro Lobato, em 1921, com a obra A 
menina do narizinho arrebitado. Ele foi o primeiro a escrever histórias infantis 
com qualidade literária. Antes de Lobato, a literatura presente era a euro-
peia clássica, tradicional, traduzida ou adaptada para nosso idioma, como os 
contos de Charles Perrault, dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm e de Hans 
Christian Andersen.
Alberto Figueiredo Pimentel e Carlos Jansen são vistos como os primeiros 
tradutores/adaptadores de obras clássicas europeias. São do primeiro os Contos 
da Carochinha (1886), histórias populares recolhidas da tradição oral, presentes 
em todos os povos do mundo, que apontavam para a moralidade e o sentido 
educativo; do segundo, as adaptações de As viagens de Gulliver (1888), D. Qui-
xote de la Mancha (1901), Robinson Crusoé (1885), entre outras.
Outro grande autor, Olavo Bilac, além de traduzir, produziu textos para 
crianças. Em 1899, publicou Livro de composição e Livro de leitura; em 1905, 
Teatro infantil e Contos pátrios; e, em seguida, Contos infantis. Em 1905, foi 
publicada a primeira revista para crianças, intitulada O tico-tico. Lançada pelo 
jornalista Luis Bartolomeu de Souza e Silva, seguia o modelo da revista fran-
cesa La semaine de Suzette, personagem que, no Brasil, ganhou o nome de 
Felismina. A revista permaneceu em circulação até 1962.
Após as produções de Bilac, vários outros autores, como Coelho Neto, 
Arnaldo de Oliveira Neto, Thales de Andrade, Gustavo Barroso, Viriato Cor-
reia, Manuel José G. da Fonseca, Humberto de Campos, Érico Veríssimo 
produziram textos voltados ao universo infantil. Contudo, foi Monteiro 
Lobato quem inaugurou uma nova estética da literatura infantil do Brasil, 
compreendendo-a como arte capaz de alterar a percepção de mundo e eman-
cipar os leitores. O autor buscou romper as barreiras educacionais reproduzi-
das pelas obras que, embora destinadas ao público infantojuvenil, tinham por 
objetivo apenas inculcar a postura didática e moralista, como já mencionado. 
De acordo com Frantz (1998, p. 68), “movimentando seus personagens num 
mundo fantástico e simultaneamente real, Monteiro Lobato inova completa-
mente a literaturadestinada às crianças brasileiras”. A autora completa, ainda, 
Literatura Infantojuvenil
– 14 –
que os personagens são “curiosos, inquietos, leitores ávidos sempre muito 
bem informados, cultos, com forte consciência crítica. São bem-humorados, 
irônicos, questionadores, livres, democráticos e nem um pouco acomodados” 
(FRANTZ, 1998, p. 68).
Trata-se de uma literatura instigante, nova, que propõe ao leitor uma 
reflexão sobre a realidade que o cerca, a fim de capacitá-lo para uma ação 
mais eficaz que o leve a transformá-la, ou então que o convide a viver a expe-
riência da leitura de forma prazerosa e lúdica. Para isso, abandona a lingua-
gem arcaica, pesada e se utiliza de uma linguagem mais leve, coloquial, viva, 
lúdica, poética. Uma das características encontradas na literatura de Lobato 
é a retomada dos clássicos em suas histórias, o que consiste em uma atitude 
moderna, na qual narrativas da cultura universal e popular, em conjunto com 
a reescrita do novo texto, alcançam um movimento maior, uma qualidade 
literária ímpar.
Nesse sentido, por meio das personagens Lúcia (a menina do narizinho 
arrebitado), Pedrinho, Tia Anastácia, Dona Benta, Emília (a boneca de pano), 
Rabicó (um guloso leitão), Visconde de Sabugosa (um sábio sabugo), Burro 
Falante (um filósofo conselheiro) e Quindim (um pacato rinoceronte) obser-
vamos a flagrante ruptura estabelecida por Lobato, que inova na produção 
de obras que deixam de lado a tradicional postura pedagógica-conservadora 
presente nos textos da época. Assim, autor de uma obra renovadora, Lobato 
tornou-se um marco na literatura infantil brasileira.
Fonte: CC BY 3.0/André Koehne.
– 15 –
Contextualização Histórica das Literaturas Infantil e Juvenil
José Bento Monteiro Lobato (1882-1948) nasceu em 
Taubaté, São Paulo, foi advogado, escritor e editor, além 
de fundador da Companhia Editora Nacional e da Editora 
Brasiliense. Lutou pela nacionalização do petróleo e do aço 
e chegou a ser preso. Além das personagens do Sítio do 
pica-pau-amarelo, criou também o Jeca Tatu. É uma das 
figuras mais importantes da vida literária e editorial brasi-
leira. Escreveu as seguintes obras voltadas para o universo 
infantojuvenil: A menina do narizinho arrebitado (1921); 
Fábulas de Narizinho (1921); Narizinho arrebitado (1921); 
O Saci (1921); O marquês de Rabicó (1922); Fábulas 
(1922); A caçada da onça (1924); Jeca Tatuzinho (1924); O 
noivado de Narizinho (1924); As aventuras de Hans Staden 
(1927); Aventuras do príncipe (1928); O Gato Félix (1928); 
A cara de coruja (1928); O irmão de Pinóquio (1929); 
Peter Pan (1930); A pena de papagaio (1930); Reinações 
de Narizinho (1931); O pó de pirlimpimpim (1931); Via-
gem ao céu (1932); Caçadas de Pedrinho (1933); Novas 
reinações de Narizinho (1933); História do mundo para 
as crianças (1933); Emília no país da gramática (1934); 
Aritmética da Emília (1935); Geografia de Dona Benta 
(1935); História das invenções (1935); Dom Quixote das 
crianças (1936); Memórias da Emília (1936); Serões de 
Dona Benta (1937); O poço do Visconde (1937); Histó-
rias de Tia Nastácia (1937); O museu da Emília (1938); O 
pica-pau-amarelo (1939); O minotauro (1939); A reforma 
da natureza (1941); A chave do tamanho (1942); Os doze 
trabalhos de Hércules (1944); Histórias diversas (1947).
 
Depois de Monteiro Lobato, seguiu-se um longo período em que pou-
cas obras destinadas às crianças foram escritas no Brasil. O período entre 
1940 e 1970 é chamado de “limbo de imitadores” dos modelos lobatianos, 
pois, durante esses anos, a literatura infantil brasileira viveu à sombra de seu 
Literatura Infantojuvenil
– 16 –
nome. Foi somente a partir da década de 1970 que as produções passaram a 
dar continuidade a seu projeto literário.
Com essa renovação, constata-se, de acordo com Abílio e Mattos (2006), 
que a literatura produzida para crianças e jovens começou a contar com uma 
grande diversidade de matizes narrativos e com uma imensa variedade de 
gêneros e de temas nas publicações. Essa riqueza, sem dúvida, começou a 
atender às necessidades de um público que tem gostos, interesses e deman-
das diferentes e que precisa ser conquistado para a leitura da palavra em um 
mundo predominantemente imagético e visual. Surgiram, então, novos escri-
tores, como Maria Mazzetti, Fernanda Lopes de Almeida, Lygia Bojunga 
Nunes, Ana Maria Machado, Sylvia Orthof, Marina Colasanti, Ruth Rocha, 
Roseana Murray, entre outros.
Da teoria para a prática
Observamos que o objetivo 
da literatura infantil não é ter 
uma abordagem de forma utilitá-
ria, como pretexto para o ensina-
mento de preceitos pedagógicos 
ou morais. Assim, como podemos 
explorar os contos da tradição sem 
dirigir moralismos às crianças? 
Uma das alternativas, segundo 
Abílio e Mattos (2006), consiste 
em proporcionar uma trajetória 
de leitura, iniciando-se pelas versões originais dessas narrativas e chegando à 
releitura delas feitas por autores modernos e contemporâneos. Trazemos como 
exemplo uma narrativa de Chapeuzinho Vermelho para um estudo compara-
tivo entre as obras, visto que existem inúmeras versões para esse texto.
Chapeuzinho Vermelho, de Charles Perrault
De tradição oral, foi publicado pela primeira vez em 1697 e, desde 
então, o conto é apresentado em diferentes versões e traduções. O desfecho 
dessa história é um pouco diferente dos outros contos de fadas, porque não 
Fonte: Shutterstock.com/Blackspring.
– 17 –
Contextualização Histórica das Literaturas Infantil e Juvenil
tem um final feliz: Chapeuzinho Vermelho é devorada pelo lobo, assim como 
a avó, porque não seguiu os conselhos da mãe. Observemos um fragmento:
Chapeuzinho Vermelho tirou o vestido e foi para a cama, ficando espan-
tada de ver como sua avó estava diferente ao natural. Disse para ela:
— Minha avó, como você tem braços grandes!
— É pra te abraçar melhor, minha filha.
— Minha avó, como você tem pernas grandes!
— É pra correr melhor, minha menina.
— Minha avó, como você tem orelhas grandes!
— É pra escutar melhor, minha menina.
— Minha avó, como você tem olhos grandes!
— É pra ver melhor, minha menina.
— Minha avó, como você tem dentes grandes!
— É pra te comer.
E, dizendo estas palavras, o Lobo saltou pra cima de Chapeuzinho 
Vermelho e a devorou. (PERRAULT, 1989)
Chapeuzinho Vermelho, dos irmãos Grimm
Nesta versão, escrita em 1812, os autores defendem valores como a bon-
dade, a verdade, o trabalho. Há um final feliz para Chapeuzinho Vermelho, 
pois nas obras dos referidos autores as personagens boas são premiadas e as 
más, castigadas. Assim, a menina e a avó são salvas pelo caçador, que as tira da 
barriga do lobo abrindo-a com uma tesoura. Notemos um excerto:
Depois que encheu a barriga, ele voltou à cama, deitou, dormiu, e 
começou a roncar muito alto. Um caçador que ia passando ali perto 
escutou e achou estranho que uma velhinha roncasse tão alto, então 
ele decidiu ir dar uma olhada.
Ele entrou na casa, e viu deitado na cama o Lobo que ele procurava 
há muito tempo.
E o caçador pensou: “Ele deve ter comido a velhinha, mas talvez ela 
ainda possa ser salva. Não posso atirar nele”.
Então ele pegou uma tesoura e abriu a barriga do Lobo. 
Quando começou a cortar, viu surgir um chapeuzinho vermelho. Ele 
cortou mais, e a menina pulou para fora exclamando:
Literatura Infantojuvenil
– 18 –
— Eu estava com muito medo! Dentro da barriga do lobo é muito escuro! 
E assim, a vovó foi salva também.
Então Chapeuzinho pegou algumas pedras grandes e pesadas e colo-
cou dentro da barriga do lobo.
Quando o lobo acordou tentou fugir, mas as pedras estavam tão pesa-
das que ele caiu no chão e morreu.
E assim, todos ficaram muito felizes.
O caçador pegou a pele do lobo.
A vovó comeu o bolo e bebeu o vinho que Chapeuzinho havia tra-
zido, e Chapeuzinhodisse para si mesma:
“Enquanto eu viver, nunca mais vou desobedecer minha mãe e des-
viar do caminho nem andar na floresta sozinha e por minha conta”. 
(GRIMM; GRIMM, 1994).
Chapeuzinho Vermelho de Raiva, de Mario Prata
Nesta narrativa, publicada em 1970, a menina leva para a vovó uma 
diferenciada cesta com margarina, maionese Hellmann’s, Danone de frutas e 
até pacotinhos de Knorr. Observamos que no diálogo entre a vovó e a Cha-
peuzinho são utilizados elementos da vida real moderna, dando um novo 
sentido para a história. Eis um trecho:
— Senta aqui mais perto, Chapeuzinho. Fica aqui mais pertinho da 
vovó, fica.
— Mas vovó, que olho vermelho... E grandão... Que que houve?
— Ah, minha netinha, estes olhos estão assim de tanto olhar para 
você. Aliás, está queimada, hein?
— Guarujá, vovó. Passei o fim de semana lá. A senhora não me leva 
a mal, não, mas a senhora está com um nariz tão grande, mas tão 
grande! Tá tão esquisito, vovó.
— Ora, Chapéu, é a poluição. Desde que começou a industrialização 
do bosque que é um Deus nos acuda. Fico o dia todo respirando este 
ar horrível. Chegue mais perto, minha netinha, chegue.
— Mas em compensação, antes eu levava mais de duas horas para vir 
de casa até aqui e agora, com a estrada asfaltada, em menos de quinze 
minutos chego aqui com a minha moto.
— Pois é, minha filha. E o que tem aí nesta cesta enorme?
– 19 –
Contextualização Histórica das Literaturas Infantil e Juvenil
— Puxa, já ia me esquecendo: a mamãe mandou umas coisas para a 
senhora. Olha aí: margarina, Hellmann’s, Danone de frutas e até uns 
pacotinhos de Knorr, mas é para a senhora comer um só por dia, viu? 
Lembra da indigestão do carnaval?
— Se lembro, se lembro... (PRATA, 1970)
Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque de Holanda
No livro-poema publicado em 1979, Chapeuzinho não usa chapéu ver-
melho nem vai visitar a avó. Vive amarelada de medo, de tudo, do Lobo. Pres-
sionada pelas circunstâncias, consegue enfrentá-lo, recupera sua autoestima 
frente à vida e sente-se vitoriosa. Vale ressaltar que, nessa paródia, as caracte-
rísticas de ingenuidade e impotência são deslocadas para a imagem da Cha-
peuzinho Amarelo, forte e dominadora, e do Lobo, fraco e dominado. Assim, 
é mostrada a desconstrução dos padrões tradicionais. Além disso, podemos 
notar a escrita em versos, diferentemente das outras versões citadas. Vejamos 
o fragmento a seguir.
Era a Chapeuzinho Amarelo
Amarelada de medo.
Tinha medo de tudo, aquela Chapeuzinho.
Já não ria.
Em festa, não aparecia.
Não subia escada nem descia.
Não estava resfriada, mas tossia.
Ouvia conto de fada e estremecia.
Não brincava mais de nada, nem de amarelinha.
Tinha medo de trovão.
Minhoca, pra ela, era cobra.
E nunca apanhava sol porque tinha medo da sombra.
Não ia pra fora pra não se sujar.
Não tomava sopa pra não se ensopar.
Não tomava banho pra não descolar.
Não falava nada pra não engasgar.
Literatura Infantojuvenil
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Não ficava em pé com medo de cair.
Então vivia parada, deitada, mas sem dormir, com medo de pesadelo.
Era a Chapeuzinho Amarelo.
E de todos os medos que tinha,
o medo mais que medonho era o medo do tal do LOBO
(HOLANDA, 2004)
Fita Verde no cabelo, de Guimarães Rosa
Trata-se de um texto metafórico, escrito em 1964, que relata a trajetória 
do ser humano até a maturidade. A personagem, ao presenciar a morte da 
avó, transforma-se e amadurece, conscientizando-se da realidade que a cerca. 
Assim, temas importantes são abordados, como a finitude da vida, as relações 
familiares, a velhice, a doença etc. Vejamos um trecho retirado da obra:
“Vovozinha, que braços tão magros, os seus, e que mãos tão tre-
mentes!”
“É porque não vou poder nunca mais te abraçar, minha neta...” a avó 
murmurou.
“Vovozinha, e que lábios aí tão arroxeados!” “É porque não vou nunca 
mais poder te beijar, minha neta...” a avó suspirou.
“Vovozinha, e que olhos tão fundos e parados, nesse rosto tão enco-
vado, pálido?” ”É porque já não estou te vendo, nunca mais, minha 
netinha...” a avó ainda gemeu.
Fita Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez. 
Gritou: “Vovozinha, eu tenho medo do lobo!” Mas a avó não estava 
mais lá, sendo demasiado ausente, a não ser pelo frio, triste e tão 
repentino corpo. (ROSA, 1992)
Esse estudo de diversas versões para um mesmo conto possibilita obser-
var que todo texto está vinculado aos problemas de sua época. De um lado, 
há aqueles que tentam impor as normas e os valores maniqueístas de uma 
classe dominante; de outro, há os que rompem essas normas e esses valores e 
propõem a autonomia do leitor. Nesse sentido, a observação das crianças des-
tinada a cada história (lida, ouvida ou encenada) é fundamental para impor-
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Contextualização Histórica das Literaturas Infantil e Juvenil
tantes reflexões. Outros trabalhos também poderão se desenvolver na sequ-
ência, com diferentes versões de outros contos como João e Maria, Branca de 
Neve, Bela Adormecida, O gato de botas etc.
A seguir, expomos algumas propostas de atividade.
 2 Há várias versões, adaptações e ideias em torno da história de Cha-
peuzinho Vermelho. Temos final trágico, final feliz... “Será que 
vocês poderiam criar um desfecho diferente para o conto?”.
 2 “De que conto vocês gostaram mais?”. Promover um debate levan-
tando as diferenças e as semelhanças entre as histórias e ouvir os 
argumentos e as opiniões sobre elas.
 2 Compartilhar com os colegas as sensações, os efeitos e as emoções 
que os textos produziram. “Qual foi a personagem Chapeuzinho de 
que vocês mais gostaram? Por quê?”.
 2 Confrontar interpretações e pontos de vista. É importante salientar 
que, ao ouvir a opinião das crianças, possivelmente você se depa-
rará com diferentes análises e, nesse caso, não há respostas corretas 
ou incorretas.
Síntese
Neste capítulo, procuramos traçar um breve panorama da literatura 
infantojuvenil no Brasil, a qual teve início com obras pedagógicas, adapta-
ções e traduções de obras estrangeiras. Mas foi com Monteiro Lobato que 
realmente surgiu uma literatura voltada para crianças e jovens, em 1921, com 
a publicação de A menina do narizinho arrebitado.
Depois do referido autor, seguiu-se um longo período em que poucas 
obras destinadas às crianças foram escritas no Brasil. O período de 1940 a 
1970 é chamado de “limbo de imitadores” dos modelos lobatianos, ou seja, 
durante esses anos, a literatura infantil brasileira viveu à sombra de seu nome. 
Foi somente a partir da década de 1970 que os textos passaram a ter quali-
dade literária e a questionar e levantar problemas e dúvidas.
Literatura Infantojuvenil
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Atividades
1. Leia a produção de Olavo Bilac a seguir e identifique as temáticas e 
os principais recursos utilizados para a elaboração. Não se esqueça 
de realizar a leitura interpretativa do texto.
Boas maneiras
Mamãezinha me ensinou
A ser moça educada
A todos cumprimentar
Para ser apreciada
Cumprimentando meus vizinhos
Dos colegas não me esqueço
Agora vão bater palmas...
Se acharem que mereço!
(BILAC apud BUNN, 2011, p. 51)
2. Escolha uma obra de literatura infantojuvenil, faça uma leitura 
atenta e, em seguida, elabore um texto analítico, estabelecendo 
uma possível relação dialógica com o leitor.
3. Percebemos que a literatura infantojuvenil passa por uma fase de 
grande desenvolvimento. Desse modo, faça uma pesquisa sobre a 
evolução desse gênero nas últimas décadas e sobre os anseios para 
o futuro.
4. Em sua opinião, por que é tão importante formar leitores?
2
Conceituação 
e Principais 
Manifestações
A conceituação de literatura infantil tem causado muitas 
discussões: existe uma literatura infantil ou infantojuvenil? Haveria 
mesmo tal divisão na literatura? Podemos adiantar que, conside-
radaa estrutura, as obras infantis e juvenis apresentam os mesmos 
elementos constitutivos: narrador, foco narrativo, enredo, persona-
gens, espaços físico e temporal, linguagem, início, meio e fim e, 
por certo, uma linguagem específica. Naturalmente, o conteúdo e a 
linguagem dependem do público-alvo.
Assim, o presente capítulo procura discutir alguns aspec-
tos voltados à conceituação da literatura infantojuvenil e mostrar 
as principais manifestações literárias destinadas a esse público, a 
maneira como os diferentes textos se organizam, quais são as inten-
ções e, principalmente, perceber que existem sensibilidades distintas 
e muito por descobrir.
Literatura Infantojuvenil
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2.1 Conceituação
Desde os primórdios, o homem tem necessidade de registrar tudo ou 
quase tudo sobre acontecimentos, reais ou não, que aparecem no mundo 
geral ou particular, de um modo peculiar. Para isso, ele se valeu – e ainda se 
vale – de artifícios da língua, da própria sensibilidade, do mágico que existe 
em cada ser, coisa ou fato. A escrita é o registro concreto de toda manifestação 
humana, mediante símbolos, letras, desenhos, ícones.
A palavra literatura vem do latim litteris, que significa letra. Uma das 
definições de literatura, ou pelo menos a mais reconhecida, já que há muitas 
discussões acerca do tema, é a de que nela se dá o uso estético da linguagem 
escrita. Entende-se por estética a captação da beleza das formas artísticas, uma 
função particular que busca a perfeição do sensível e do próprio fenômeno 
artístico. Nesse sentido, a literatura contempla o belo, o estético; a escrita 
resulta do olhar observador e intérprete do escritor, discorre sobre os mais 
variados aspectos de sua experiência e da experiência de seus contemporâ-
neos. Por isso, cada escrita literária traz consigo, às vezes através de milênios, 
uma parcela do tempo em que viveu o escritor.
Portanto, literatura é a arte de criar e recriar um texto mais elaborado 
em sua estrutura, para que o leitor possa recriar, por meio da imaginação, 
a cena descrita, o espaço ocupado pela personagem, a própria personagem; 
para que o leitor possa sentir, por intermédio da sinestesia, o conflito desen-
cadeado no decorrer da trama; possa formular uma possível solução para o 
conflito, pelo raciocínio; possa sentir prazer na leitura vivenciada. Litera-
tura é arte e deleite. Embora também apresente ideologias e manifestações 
culturais, ela amplia, transforma, enriquece a própria existência e experiên-
cia do leitor.
Como o ser humano tem necessidade de acreditar em forças mágicas 
para poder explicar o que acontece a sua volta ou no mundo, a literatura con-
templa essa busca com contos de fadas, fábulas, contos populares e parábolas 
que eternizam o enredo e a ideologia neles contida. Nesse sentido, a literatura 
infantil entra em cena.
Dentro das muitas definições e controvérsias quanto à verdadeira ou 
possível natureza dessa literatura, adotamos a posição de Soriano (1975, p. 
185), na linha semiológica de Roman Jakobson:
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Conceituação e Principais Manifestações
A literatura infantil é uma comunicação histórica (localizada no 
tempo e no espaço) entre um locutor ou um escritor-adulto (emissor) 
e um destinatário-criança (receptor) que, por definição, ao longo do 
período considerado, não dispõe senão do modo parcial da experiên-
cia do real e das estruturas linguísticas, intelectuais, afetivas e outras 
que caracterizam a idade adulta.
Aqui, o fenômeno literário é entendido como uma forma de aprendiza-
gem do mundo. O autor-adulto comunica ao leitor-criança uma mensagem 
este segundo possa adquirir no ato de ler. Essa é uma das peculiaridades da 
literatura infantil, pois, ainda segundo Soriano (1975, p. 185, grifo nosso),
Ela pode não querer ensinar, mas se dirige, apesar de tudo, a uma idade 
que é a da aprendizagem e mais especialmente da aprendizagem linguís-
tica. O livro em questão, por mais simplificado e gratuito que seja, apa-
rece sempre ao jovem leitor como uma mensagem codificada que ele 
deve decodificar se quiser atingir o prazer (afetivo, estético ou outro) 
que se deixa entrever e assimilar ao mesmo tempo as informações con-
cernentes ao real que estão contidas na obra. [...] Se a infância é um 
período de aprendizagem, [...] toda mensagem que se destina a ela, ao 
longo desse período, tem necessariamente uma vocação pedagógica. A 
literatura infantil é também ela necessariamente pedagógica, no sentido 
amplo do termo, e assim permanece, mesmo no caso em que ela se 
define como literatura de puro entretenimento, pois a mensagem que 
ela transmite então é a de que não há mensagem, e que é mais impor-
tante o divertir-se do que preencher falhas (de conhecimento).
Essa posição do sociólogo francês é importante porque em nossa época 
ainda há quem defenda a vocação pedagógica da literatura infantil (como 
visto no primeiro capítulo) e deixe de lado sua qualidade genuína da posição 
de obra de entretenimento. Por um lado, se a literatura resulta de um ato 
(re)criador, notamos as duas tendências constituídas na criação; porém, por 
outro lado, a contemporaneidade da vida agitada pressiona o indivíduo-leitor 
para uma comunicação cada vez mais rápida, superficial e sistemática. Por 
isso, acredita-se na definição de uma literatura infantil como mais do que 
um simples entretenimento, engajada em experiências de vida, inteligência 
e sensibilidade.
A literatura infantil corresponde, de alguma maneira, aos anseios do 
leitor e a sua identificação com ele. Por isso, trabalhar o imaginário e a 
fantasia, mediante uma abordagem de questões cotidianas, individuais e 
universais, inerentes ao ser humano, faz da literatura infantil um inves-
Literatura Infantojuvenil
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timento consciente e democrático na relação texto literário/realidade do 
cidadão em desenvolvimento.
Como acentua Coelho (2000, p. 27), a literatura infantil é, antes de 
tudo, “literatura, ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa 
o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida 
prática; o imaginário e o real; os ideais e sua possível/impossível realização”.
2.2 Produção para crianças e jovens
Levando em conta a faixa etária, a literatura infantil destina-se a crian-
ças entre 1 ano e 12 anos de idade, aproximadamente. O enredo precisa ser 
de fácil entendimento, com linguagem e características peculiares, interes-
sante e estimulante para a criança. Vale a pena ressaltar o fato de que não 
estamos falando da linguagem recheada de diminutivos e com vocabulário 
simplório, mas sim de uma linguagem depurada, trabalhada e que, por isso, 
alcança a verdadeira simplicidade, afinal, a criança merece o melhor texto 
possível. Ela pode ler sozinha ou ouvir alguém fazer a leitura, de forma pra-
zerosa. De acordo com Oliveira ([2011?]), destacamos algumas sugestões 
para cada faixa etária.
2.2.1 De 1 ano a 2 anos
A criança prende-se ao movimento, ao tom de voz, e não à mensagem 
que lhe é transmitida. Ela observa atentamente a movimentação de brin-
quedos e objetos que dialogam com ela. As histórias precisam ser curtas e 
rápidas, de preferência inventadas na hora. A página deve apresentar apenas 
uma figura ou gravura simples e atrativa. Como a criança, nessa fase, sente o 
“material” manuseando-o, é importante deixar que ela toque, segure, agarre o 
que lhe for apresentado no momento da contação da história.
2.2.2 De 2 anos a 3 anos
As histórias precisam ser rápidas, com pouco conteúdo, enredo sim-
ples e dinâmico, além de poucas personagens. Ao narrar as histórias, deve-se 
utilizar muito ritmo e entonação. O foco de interesse são bichinhos, brin-
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Conceituação e Principais Manifestações
quedos e seres da natureza em forma de humanos. Gravuras grandes e com 
poucos detalhes chamam atenção da criança e o fantoche é o material maisindicado para essa fase. Os pequenos também apresentam grande fascínio 
pela música. Para eles, a história transforma-se em algo real, ‘acontecendo 
naquele momento.
2.2.3 De 3 anos a 6 anos
É importante que haja a orientação de um adulto para a brincadeira com 
o livro. Nessa fase, a criança descobre o mundo concreto e o mundo da lin-
guagem por meio da ludicidade. Tudo é muito importante e significativo para 
ela. A apresentação de enredos que contenham vivências do cotidiano fami-
liar e com alguns recursos estilísticos é muito apreciada pelas crianças dessa 
fase. Assim, textos breves ou com predomínio de imagens que sugerem uma 
situação significativa para a criança ou que lhe sejam atraentes colaboram 
para um convívio inteligente, afetivo e profundo com a realidade que a cerca. 
A expectativa e o mistério que norteiam a história são fatores determinantes 
para atrair o olhar e o interesse da criança.
Também nessa fase a repetição de elementos ou da própria história ajuda 
a manter a criança atenta e interessada no enredo. Dobraduras simples, a 
transformação do contador de histórias em personagens e objetos do livro 
fascinam o leitor-ouvinte, pois ele acredita que o contador se transformou 
realmente em uma das personagens ou dos objetos do texto. Enfim, a utiliza-
ção de materiais, ao se contar uma história para a criança, proporciona expe-
rimentações atrativas. A história de Bonequinho doce, por exemplo, promove 
a confecção de um boneco de massa; a Galinha ruiva, o feitio de um pão.
Os contos de fadas também podem fazer parte da coletânea de histórias 
infantis para essa fase, no entanto, é fundamental observar o momento ade-
quado para apresentá-los à criança, observando o desenvolvimento, a com-
plexidade e o interesse pela narrativa. Entre os contos de fadas, O lobo e os sete 
cabritinhos (irmãos Grimm), Os três porquinhos (Joseph Jacobs), Cachinhos de 
ouro (adaptação de Ana Maria Machado) e O patinho feio (Andersen) apre-
sentam estrutura mais simples e poucas personagens, adequados para crianças 
entre 3 anos e 4 anos. Chapeuzinho Vermelho (irmãos Grimm), O soldadinho 
de chumbo (Andersen), Pedro e o lobo, João e Maria (irmãos Grimm), Mindi-
Literatura Infantojuvenil
– 28 –
nha (Andersen) e O pequeno polegar (irmãos Grimm) já são mais apropriados 
para crianças entre 4 anos e 6 anos.
2.2.4 De 6 anos a 7 anos
Nessa fase, a atração é pelas histórias bem-humoradas, em que a esper-
teza do fraco supera a prepotência do forte e a inteligência vence o mal. Atu-
almente, a literatura infantil dá preferência ao fenômeno do pensar, do sentir 
e do querer, como um complemento necessário.
A imagem ainda deve predominar sobre o texto. A situação do coti-
diano pode aparece de forma linear, simples, com princípio, meio e fim, 
independentemente de ser narrativa fantástica, imaginária ou realista. As 
personagens, reais ou simbólicas, devem apresentar traços nítidos de caráter 
ou comportamento, pois para a criança, essa delimitação é necessária, já 
que seu conhecimento de mundo ainda está em formação. Mais tarde, com 
a descoberta da realidade, é que atribuirá juízos de valor a essa ou àquela 
situação/personagem.
A escolha de livros deve priorizar histórias com estruturas frasais sim-
ples e elementos repetidos para facilitar a compreensão dos enunciados, assim 
como os argumentos apresentados devem levar a criança ao raciocínio, à refle-
xão e à humanização.
2.2.5 De 7 anos a 8 anos
A criança ainda se fascina pelos contos de fadas, mas, como já domina 
com facilidade o mecanismo da leitura, aumenta seu interesse pelo conheci-
mento do mundo. É atraída por desafios e questionamentos de toda natureza. 
Para esse tipo de leitor, é importante o diálogo entre a imagem e o texto. O 
predomínio de períodos simples, de ordem direta e com gradativa introdução 
de períodos mais longos favorecem o entendimento do enredo e a comunica-
ção da mensagem.
A narração deve obedecer a linearidade: início, meio e fim. Ainda o 
humor, as situações inesperadas, o realismo e o imaginário despertam muito 
o interesse. Por isso, Os clássicos infantis (Moderna) são bem-vindos, assim 
como Vento azul (Melhoramentos), série Dos reizinhos (Ruth Rocha), coleção 
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Conceituação e Principais Manifestações
Desafios (Moderna), série Poemas narrativos (Moderna), coleção Fábulas bra-
sileiras (Ediouro), entre outros.
2.2.6 De 8 anos a 10 anos
A partir dessa fase, o leitor aprofunda o conhecimento e a percepção 
do mundo. Desenvolve o pensamento dedutivo e a capacidade de abstrair, 
confrontar ideias e ideais, refletir sobre valores e desvalores. As potencialida-
des afetivas se misturam com uma diferente sensação de poder interior. É o 
momento da reflexão.
As imagens já não são tão importantes e o texto por si mesmo o enreda. 
Os heróis ou as heroínas que lutam por um ideal humanitário e justo são as 
personagens mais atraentes. A linguagem pode ser mais elaborada, tendendo 
para a literária tradicional. O centro de interesse do leitor dessa fase são con-
tos, crônicas, novelas de aventura ou sentimentais, com desafios para serem 
solucionados. Também o maravilhoso, o fantástico, o mágico ou o absurdo 
têm presença significativa. Entre as obras sugeridas, destacam-se a série Vivên-
cia, suspense e ficção científica (Melhoramentos), a coleção Girassol e a coleção 
Veredas (Moderna), a série Vaga-lume (Ática), Contos da mitologia (FTD), 
Entre a espada e a rosa, de Marina Colasanti (Salamandra).
É crescente o investimento do mercado editorial em histórias em qua-
drinhos para crianças, como a Turma da Mônica, e clássicos adaptados como 
Dom Quixote de La Mancha. É uma forma de leitura que explora a linguagem 
verbal e a não verbal, próximas da oralidade, sendo, portanto, menos elabo-
rada que a linguagem literária.
2.2.7 De 10 anos a 12 anos
Predominam histórias “ambientais” ou de leitura “factual”, em que a 
criança, mesmo que possua uma mentalidade mágica, orienta-se aos poucos 
para o mundo real e palpável. Essa fase é intermediária, na qual o interesse 
pelos contos maravilhosos é simultâneo ao interesse pelos fatos. As histórias 
de aventuras também são interessantes. Sugestões para essa fase são Jovens do 
mundo todo (Brasiliense), Transas e tramas (Atual), Será que ele vem? (Vivina 
de Assis Viana), Faca afiada (Bartolomeu Campos Queirós), Sete desafios para 
ser rei (Jan Terlouw).
Literatura Infantojuvenil
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Como vemos, o interesse do leitor vai se modificando no decorrer do 
tempo. No entanto, não devemos nos deter rigorosamente às fases colocadas, 
isoladamente, pois uma fase pode se alongar por mais tempo ou apresentar-se 
concomitantemente com outras. Essa divisão é apenas uma orientação para 
que os professores apresentem aos alunos obras adequadas aos interesses e às 
necessidades, fatores decisivos para a criação do ato prazeroso da leitura.
A orientação da escolha de livros para a criança não 
tem nada a ver com a censura, mas sim com a atribui-
ção de valores à obra que merece ser lida. É impor-
tante que, no momento da escolha, sejam obser-
vados aspectos como os colocados a seguir.
Temática
 2 É de interesse da criança?
 2 A criança está amadurecida para compreender a história e 
refletir sobre ela?
Deve-se notar que a vida nos apresenta os problemas 
de forma variada. Desse modo, nem tudo é sofrimento, 
só alegria, só sexo, só medo. Contudo, silenciar sobre 
esses assuntos seria uma maneira de intimidar perguntas 
formadoras do intelecto infantil nessa área de conhe-
cimento. É preciso pensar, então, em abordar esses 
assuntos polêmicos do modo mais natural possível.
Linguagem
 2 É acessível?
 2 A fala entre as personagens se aproxima da realidade da 
criança ou é artificial?
Narrativa
 2 O início é monótono ou interessante?
– 31 –
Conceituação e Principais Manifestações2 O autor se detém muito em descrições?
Apresentação
 2 O tamanho das letras é adequado?
 2 O livro é muito extenso?
 2 As ilustrações são agradáveis e criativas?
Enfim, a adequação do livro ao leitor é o caminho mais 
indicado para que a leitura realize sua principal função: 
distrair, recrear, dar prazer. O livro só cumpre o ciclo 
completo de seu destino quando cada leitor o torna seu, 
assimila-o, objetiva-o e vive as sugestões que provoca.
 
A literatura voltada para o jovem entre 12 anos e 15 anos de idade, 
também chamada de literatura juvenil, é uma vertente literária que aborda 
fatos comuns. São temas de interesse do adolescente, muitas vezes polêmicos, 
como sexo, drogas, violência, relacionamentos amorosos, aventuras, histó-
rias sensacionalistas. As personagens geralmente são da mesma faixa etária 
dos leitores jovens, pois é a fase em que o pré-adolescente está em busca de 
si mesmo, de sua identidade e de seu lugar no mundo. Sugestões de leitura 
podem ser Uma luz no fim do túnel (Ganymédes José), O enigma da casa de 
vidro, (Ganymédes José), A droga da obediência (Pedro Bandeira), O escarave-
lho do Diabo (Lúcia Machado de Almeida).
Dos 14 anos aos 17 anos, acontece o período da maturidade ou do 
desenvolvimento da esfera estético-literária da leitura. A descoberta de seu 
interior, a construção de seus valores e a organização de seu universo já se defi-
niram ou concorrem determinados para isso. Seu interesse como leitor é vol-
tado para enredos de aventura com certo grau de complexidade, envolvendo 
mais o intelectual, como relatos de viagens, romances históricos e biográficos, 
romances de ficção científica, histórias de amor, temas sociais.
Sagas como Crepúsculo, Amanhecer, Lua Nova, Eclipse (Stephenie Meyer), 
Harry Potter (J. K. Rowling), O Senhor dos Anéis (J. R. R. Tolkien), As brumas 
de Avalon (Marion Zimmer Bradley) fascinam os jovens dessa faixa etária. São 
Literatura Infantojuvenil
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histórias intrigantes que aguçam o intelecto e o raciocínio do jovem leitor. É 
um mundo fictício de desafios, suspense, magia, simbologia e aventura.
2.3 Principais manifestações literárias
De acordo com as considerações de Coelho (2000, p. 164), a litera-
tura infantojuvenil “ocupa um lugar específico no âmbito do gênero ficção, 
visto que ela se destina a um leitor especial, a seres em formação, a seres 
que estão passando pelo processo de aprendizagem inicial da vida”. Como há 
uma grande variedade de manifestações linguísticas da literatura destinada às 
crianças e aos jovens, optamos por selecionar as mais comuns. Elas se diver-
sificam em sua estrutura dependendo da natureza do tema, da intencionali-
dade, da matéria ficcional etc. Citamos a fábula, o apólogo, o conto de fadas, 
o conto maravilhoso, a poesia, a lenda e o romance.
2.3.1 Fábula
Fábula, do latim fari (falar) e do grego phaó (dizer, contar algo), é uma 
narrativa normalmente breve que se encerra em uma moral, ou seja, tem 
por objetivo transmitir certo ensinamento, caracterizando, portanto, um 
efeito pedagógico. Os protagonistas das histórias são animais personificados 
e algumas associações com as características humanas mantiveram-se fixas 
em várias histórias, como a relação do leão com o poder, da raposa com a 
astúcia e a esperteza, do lobo com a denominação do mais forte e do cor-
deiro com a ingenuidade.
Vale ressaltar que a fábula surgiu no Oriente, foi reinventada no Oci-
dente pelo grego Esopo (século VI a.C.) e aperfeiçoada séculos mais tarde 
pelo escravo romano Fedro (século I a.C.). O francês Jean de La Fontaine, no 
século XVII, criou o que hoje conhecemos como a forma definitiva desse tipo 
de narrativa e a introduziu efetivamente na literatura ocidental. No prefácio 
de sua primeira coletânea, La Fontaine (1668) registra a intenção de instruir, 
de ensinar: “Sirvo-me de animais para instruir os homens”. Algumas fábulas 
escritas e reescritas pelo autor foram O lobo e o cordeiro; A corte do leão; A 
cigarra e a formiga; A raposa e o esquilo; O leão, o lobo e a raposa; O leão e o rato; 
A raposa e as uvas. Vejamos um exemplo.
– 33 –
Conceituação e Principais Manifestações
O lobo e o cordeiro
O cordeiro bebia água no córrego 
que corria em um trecho de terreno incli-
nado, quando avistou um lobo que fazia 
a mesma coisa um pouco mais acima 
de onde ele estava. O pequeno animal 
bem que tentou se esconder atrás de uma 
moita, mas antes que pudesse fazê-lo a 
fera também o avistou, e como ela estava 
cansada e irritada com a fome que fazia 
seu estômago doer, foi logo perguntando 
com cara de poucos amigos.
— Como você se atreve a sujar a 
água que estou bebendo?
E o cordeiro respondeu:
— Senhor lobo, eu não estou sujando nada, porque como a água está vindo 
daí para cá, não é possível que isso aconteça.
Mas o lobo retrucou:
— Isso não interessa, porque você vai ter que me explicar por que andou 
falando mal de mim no ano passado.
— Mas, senhor lobo, no ano passado eu ainda não havia nascido.
— Se não foi você, então foi seu irmão.
— Me perdoe, senhor lobo, mas eu não tenho irmão, sou filho único.
— Se não foi você, então foi algum conhecido seu, algum outro cordeiro, o 
cachorro que guarda o rebanho, ou até mesmo o pastor. O fato é que eu fui ofen-
dido e por isso preciso me vingar.
E então o lobo avançou sobre o cordeiro indefeso, agarrou-o com os dentes e 
foi embora à procura de um lugar tranquilo onde onde pudesse comer a sua presa.
Moral da história: infelizmente, a razão do mais forte é a que sempre prevalece.
Fonte: Dannemann (2006b).
Fonte: Shutterstock.com/ Serbinka.
Literatura Infantojuvenil
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2.3.2 Apólogo
O apólogo, do grego apo (sobre) e logos (discurso), é uma narrativa 
breve, normalmente caracterizada pela presença de diálogos. Também encerra 
uma lição de sabedoria, por isso é facilmente confundida com a fábula, no 
entanto, o que diferencia essas duas modalidades narrativas é que no apólogo 
são os objetos ou elementos da natureza que assumem condição humana. Do 
mesmo modo, diferencia-se da fábula por se concentrar mais em situações 
reais. Vejamos um exemplo.
A panela de barro e a panela de ferro
Fonte: Shutterstock.com/ KittyVector/newelle.
A panela de ferro propôs à panela de barro que as duas saíssem juntas em 
uma pequena excursão pelas cercanias de onde moravam, mas a segunda, por 
prudência compreensível, se recusou a sair do cantinho que ocupava no fogão. E 
explicou à sua companheira de cozinha:
— Basta um pequeno toque que seja para que eu me reduzida a pedaços. 
Isso porque sou feita de argila e, por isso mesmo, totalmente frágil e indefesa. Ao 
contrário da senhora, minha cara panela de ferro, que não teme nem mesmo as 
pancadas mais duras e vigorosas, porque, como seu corpo é rijo e forte, ele é capaz 
de suportar facilmente esses golpes.
Mas a panela de ferro prometeu protegê-la de tudo que pudesse lhe fazer 
mal, inclusive servindo como escudo contra qualquer coisa capaz de lhe provocar 
dano. E assim, convencida pelos argumentos da companheira mais forte, a panela 
– 35 –
Conceituação e Principais Manifestações
de barro iniciou com ela a jornada pretendida, se bem que com certa dificuldade, 
pois como suas três pernas não lhe permitiam andar com desenvoltura, ela cam-
baleava ou tropicava em cada passo dado, ameaçando cais a todo instante. Dessa 
forma, lá iam as duas panelas pela estrada, esbarrando com frequência uma na 
outra, até que, mal tinham dado vinte passos, um encontrão mais vigoroso da 
panela de ferro reduziu a panela de barro a muitos cacos.
Moral da história: o fraco não deve se ligar ao poderoso, mas sim procurar 
companhia entre os seus iguais. Isso porque a vida ensina que o fraco sempresu-
cumbe diante do mais forte.
Fonte: Dannemann (2006a).
2.3.3 Contos de fada
Os contos de fada surgiram entre osceltas e tem se perpetuado há milê-
nios, transcendendo toda a força e a perenidade do folclore dos povos, sobre-
tudo, por meio da tradição oral. Trata-se de uma narrativa curta, que tem 
como núcleo dramático uma só trama e que transparece sempre a atitude 
mais voltada para a realização interior das personagens no plano existencial. 
Para Abílio e Mattos (2006, p. 86), os contos de fada “são narrativas que 
tendo ou não a presença da fada apresentam em seu núcleo a questão da rea-
lização essencial do herói ou da heroína, geralmente ligada a alguns ritos de 
passagem de uma idade para outra ou de um estado civil para outro”. Assim, 
sempre há provas a serem vencidas para que o herói alcance a realização pes-
soal ou existencial. É o bem vencendo o mal.
Exemplos de contos de fada são Cinderela, Bela Adormecida, Branca de 
Neve e os sete anões.
 Saiba mais
Etimologicamente, a palavra fada origina-se do latim fatum, que sig-
nifica destino, fatalidade. Segundo Coelho (2000, p. 174), “as 
fadas são seres imaginários, dotados de virtudes positivas e poderes 
sobrenaturais, que interferem na vida dos homens para auxiliá-los em 
situações-limite (quando nenhuma solução natural poderia valer)”.
Literatura Infantojuvenil
– 36 –
Cinderela
Era uma vez um senhor viúvo que tinha uma 
filha a quem amava muito. Ele decidiu casar-se 
novamente com uma viúva que tinha duas filhas. 
O pobre homem morreu, deixando sua filha deso-
lada. No entanto, a madrasta e suas filhas fica-
ram felizes com a herança.
As três mulheres invejavam a beleza e a 
bondade da moça. Então a converteram em sua 
criada, e a chamavam Cinderela.
Cinderela lavava, limpava, passava e cozi-
nhava. Porém, mais que tudo, chorava, porque 
ninguém mais gostava dela. Um dia, o arauto 
do rei convidou todas as jovens do reino para um 
baile no palácio, pois o príncipe herdeiro queria 
escolher uma esposa. As filhas da madrasta acre-
ditavam que uma delas seria a escolhida e passa-
ram a tarde provando vestidos.
A pobre Cinderela também queria ir ao baile, mas as suas irmãs a proibiram. 
Foram ao baile zombando de Cinderela, que ficou em casa, muito triste. 
De repente surgiu vinda do céu, uma luz muito forte, que se transformou numa fada. 
— Cinderela, sou sua fada madrinha, não chores, não quero que vivas triste, se 
anime, pois esta noite irás ao baile.
E com sua varinha de condão transformou as pobres roupas da jovem num 
lindo vestido e o s sapatos viraram sapatinhos de cristal.
A fada ainda transformou uma abóbora numa carruagem, dois ratinhos em 
cavalos, e o cachorro de Cinderela no seu cocheiro.
A jovem ficou encantada com a mágica da fada.
— Vá depressa, minha menina! – disse a fada. — Mas não esque-
ças que o encanto se romperá à meia-noite e tudo voltará a ser como era. 
Cinderela entrou no palácio e todos ficaram encantados com sua beleza. Estava 
tão bonita que a madrasta e as suas irmãs não a reconheceram.
Fonte: Shutterstock.com/vitayulia.
– 37 –
Conceituação e Principais Manifestações
As mulheres ficaram encantadas com o seu vestido, era o mais belo da festa. 
O príncipe, que até então não havia encontrado nenhuma moça que o tivesse 
agradado, ficou encantado ao vê-la. Quis dançar somente com Cinderela. 
Os dois dançaram a noite toda, deixando as moças da festa com muita inveja 
daquela desconhecida.
Cinderela estava tão feliz que não percebeu o tempo passar. Quando olhou 
para o grande relógio no salão, viu que faltavam poucos minutos para a meia noite. 
Antes que terminasse o encanto, Cinderela foi embora correndo, desceu as escadas 
com tanta pressa que perdeu um sapatinho de cristal.
O príncipe, que estava apaixonado por Cinderela, saiu correndo atrás da 
jovem, mas não conseguiu alcançá-la. Encontrou o seu sapatinho de cristal na 
escada e o guardou.
No dia seguinte, o príncipe que não sabia nem ao menos o nome de sua 
amada, mandou que seu pajem procurasse pelo reino a moça cujo pé coubesse 
naquele sapatinho.
O pajem procurou por todo o reino, mas nenhuma moça tinha um pé tão 
pequeno que coubesse naquele sapatinho.
Quando chegou na casa de Cinderela, provou o sapatinho nas suas irmãs, 
mas os pés delas eram grandes demais.
Como o sapato era pequeno, por mais que as irmãs tentassem, não servia. 
Ele estava indo embora quando viu Cinderela varrendo um cômodo da casa. Após 
muito insistir ele conseguiu fazê-la provar o sapatinho.
Quando a madrasta e as irmãs viram Cinderela calçar o sapatinho, ficaram 
surpresas. Ele serviu perfeitamente em seu pequeno pezinho.
Ele a levou para o castelo ao encontro do príncipe.
No dia seguinte, Cinderela casou-se com o príncipe e houve festa em todo 
o reino.
Agora, Cinderela era amada e os dois foram muito felizes.
Fonte: Perrault (2011).
Literatura Infantojuvenil
– 38 –
2.3.4 Conto maravilhoso
No conto maravilhoso, a evidência da narrativa está direcionada aos 
questionamentos econômicos e sociais, isto é, aos problemas da sobrevivên-
cia em nível socioeconômico ou ligados à vida prática, concreta, cotidiana. 
Segundo Abílio e Mattos (2006), essa narrativa sem a presença de fadas – 
ainda que delas não se excluam elementos mágicos, maravilhosos – enfatiza 
aspectos materiais, sensoriais e éticos do ser humano.
No início dos tempos, o maravilhoso foi a fonte misteriosa e privile-
giada de onde nasceu a literatura. Desse maravilhoso nasceram perso-
nagens que possuem poderes sobrenaturais, deslocam-se, contrariando 
as leis da gravidade; sofrem metamorfoses contínuas; defrontam-se 
com as forças do Bem e do Mal, personificadas; sofrem profecias que 
se cumprem; são beneficiadas com milagres; assistem a fenômenos que 
desafiam a lei da lógica, etc. (COELHO, 2000, p. 172)
São exemplos de contos maravilhosos a coletânea As mil e uma noites, O 
gato de botas, Os músicos de Brêmen, entre outros.
Aladim e a lâmpada maravilhosa
Fonte: Shutterstock.com/ALEXEY GRIGOREV.
Há muitos e muitos anos, viviam num distante reino da China a viúva de 
um pobre alfaiate e seu filho Aladim.
Um dia, quando este brincava na praça, um estrangeiro aproximou-se dele 
e lhe disse:
— Meu menino, você não é filho do alfaiate Mustafá?
– 39 –
Conceituação e Principais Manifestações
— Sou, sim, respondeu Aladim, mas meu pai já morreu há muito tempo.
— Pois então, eu sou seu tio, meu querido sobrinho! Há muitos anos estou 
viajando; desejava tanto rever meu irmão, e agora estou sabendo que ele está 
morto! Quanto sofrimento para mim!
O estrangeiro tomou a mão de Aladim e pediu-lhe que o levasse à casa de sua 
mãe. Lá entregou à boa senhora uma bolsa cheia de ouro, dizendo-lhe que fosse 
comprar uma comida saborosa para o jantar. Na refeição, ele contou que estava 
viajando há muito tempo e descreveu todos os países por ele visitados.
No dia seguinte, ele saiu com Aladim e comprou-lhe roupas riquíssimas. 
Depois visitaram juntos a cidade, dirigindo-se, por fim, aos magníficos jardins 
que a cercavam. Pouco a pouco foram se afastando da cidade, chegando, assim, 
ao sopé de uma montanha.
— Paremos aqui, disse o estrangeiro, pois aqui neste lugar lhe vou mostrar 
coisas maravilhosas! Enquanto eu faço um fogo com gravetos, você vai buscar 
lenha para fazermos uma grande fogueira.
Aladim logo reuniu uma pilha de galhos secos. O estrangeiro acendeu então 
a fogueira, pronunciando palavras mágicas. No mesmo instante dali levantou-se 
uma fumaça espessa. A terra tremeu um pouco, depois se abriu, deixando aparecer 
uma pedra na qual estava presa uma argola de ferro.
O estrangeiro suspendeu a pedra e uma escada íngreme apareceu.
— Desça esta escada, disse o estrangeiro, e quando você chegar embaixo 
achará um salão. Atravesse-o sem parar um instante. No meio desse salão, há uma 
porta que dá para um jardim. No meio desse jardim, sobre um pedestal, está uma 
lâmpada acesa. Peguea lâmpada e traga-a para mim. Se os frutos do jardim lhe 
apetecerem, pode colhê-los à vontade.
Em seguida, ele colocou um anel no dedo de Aladim, dizendo-lhe que este o 
protegeria contra qualquer perigo.
Aladim desceu ao subterrâneo e, sem se deter, foi e apanhou a lâmpada. Já 
de volta, ele parou para olhar o jardim e viu que ali havia frutas muito diferentes 
das outras. Colheu algumas julgando que fossem de vidro colorido, quando na 
realidade eram pérolas, rubis, diamantes e esmeraldas.
Literatura Infantojuvenil
– 40 –
O estrangeiro aguardava com impaciência.
— Meu tio, disse Aladim, ajude-me a subir, por favor.
— Pois não, querido sobrinho, mas então você primeiro tem que me dar a 
lâmpada, pois ela lhe pode atrapalhar para subir.
— Não atrapalha não, meu tio; assim que estiver em cima, eu lhe entrego 
a lâmpada.
E continuaram a teimar sem que nenhum cedesse, até que por fim o estran-
geiro teve um acesso de raiva pavoroso e pronunciou umas palavras mágicas. A 
pedra então se fechou sobre si mesma, e Aladim ficou prisioneiro no subterrâneo.
O estrangeiro era um grande feiticeiro africano que, por meio de suas mági-
cas, descobrira a existência da lâmpada, cuja posse poderia torná-lo mais pode-
roso que todos os reis da terra. Porém, ele próprio não podia ir buscá-la, por isso 
recorrera a Aladim.
Vendo que não poderia obtê-la, voltou para a África no mesmo dia.
Aladim já estava fechado no subterrâneo há três dias quando, juntando as 
mãos para implorar ao céu misericórdia, sem querer esfregou o anel que o mágico 
lhe dera. Imediatamente, um gênio medonho apareceu e disse estas palavras:
— Que desejas? Estamos prontos a te obedecer, eu e todos os escravos do anel.
Aladim gritou:
— Sejas quem for, tira-me deste lugar!
Mal acabara de pronunciar estas palavras e logo se viu fora do subterrâneo. 
Assim que chegou à casa, contou a sua mãe o que lhe acontecera e pediu-lhe um 
pouco de comida.
— Aladim, meu filho! Que tristeza! Eu não tenho nem um pedaço de pão 
para lhe dar!
— Pois então, minha mãe, dê-me a lâmpada que eu trouxe, e eu irei vendê-la.
— Está aqui, meu filho, mas está muito suja.
Vou areá-la; assim talvez deem mais dinheiro por ela. Assim que começou a 
esfregá-la, apareceu um gênio pavoroso que disse com uma voz cavernosa:
– 41 –
Conceituação e Principais Manifestações
— Que desejas? Sou teu escravo e estou pronto a te obedecer, assim como 
todos os outros escravos da lâmpada.
A mãe de Aladim desmaiou de susto.
Aladim pegou a lâmpada e respondeu:
— Estou com fome, traz alguma coisa para eu comer!
O gênio desapareceu e voltou trazendo em enorme bandeja de prata com 
doze pratos cheios de coisas deliciosas, pão e duas garrafas de um vinho finíssimo, 
colocando tudo sobre a mesa; depois desapareceu.
Muitos dias se passaram durante os quais Aladim e sua mãe recorreram uma 
porção de vezes à lâmpada.
Uma manhã, enquanto passeava, Aladim ouviu publicar uma ordem do rei 
obrigando o povo a fechar todas as portas e janelas das casas, porque a princesa, 
sua filha, ia sair do palácio e não devia ser vista por ninguém.
Esta proclamação despertou em Aladim grande curiosidade de conhecer a 
princesa; tendo-a visto, ficou grandemente impressionado com sua extraordiná-
ria beleza.
Voltando para casa, ele não pôde conter seu entusiasmo e disse a sua mãe:
— Eu vi a princesa Badrulbudur. Amo-a e resolvi pedi-la em casamento.
A mãe de Aladim não pôde reprimir gargalhada:
— Ora, veja, meu filho! Está sonhando!
— Não, minha mãe, não estou. E vou-lhe pedir um favor. Pegue um vaso 
de bom tamanho, encha-o com as frutas que eu trouxe do jardim da lâmpada, e 
leve-o ao rei.
A mãe de Aladim fez tudo o que ele lhe pedira.
O rei maravilhou-se com as pedras preciosas que ela lhe ofereceu e disse-lhe:
— Vá, boa mulher, volte para a sua casa. Diga a seu filho que eu aceito a sua 
proposta, e que lhe concederei minha filha quando ele me enviar quarenta bande-
jas de ouro maciço cheias de pedras preciosas trazidas por quarenta escravos negros, 
acompanhados por quarenta escravos brancos, todos vestidos luxuosamente.
Literatura Infantojuvenil
– 42 –
Logo que sua mãe lhe contou o que se passara, Aladim chamou o gênio e 
exprimiu-lhe seu desejo.
Pouco tempo depois o gênio lhe trazia os tesouros pedidos.
Aladim apresentou-se ao rei com todo seu séquito, no meio das aclamações de 
toda a cidade, e as núpcias se realizaram algum tempo depois com grandes festas.
Aladim mandou construir pelo gênio um palácio digno da princesa, sua 
esposa. O palácio maravilhoso ficou pronto em uma única noite. Era feito com 
madeiras preciosas e mármore do mais fino.
No centro, debaixo de uma cúpula maciça de ouro e prata, havia um salão 
com 24 janelas incrustadas com as mais belas pedras preciosas. Os jovens esposos 
viveram felizes alguns anos até o dia em que o mágico, que nunca esquecia Ala-
dim e não perdia a esperança de reaver a lâmpada maravilhosa, soube por suas 
feitiçarias tudo o que acontecera.
No dia seguinte, ele retomou o caminho da China e chegou logo à cidade 
de Aladim.
Dirigiu-se imediatamente à casa de um negociante de lâmpadas e comprou-
-lhe uma dúzia delas. Colocando-as numa cesta, tomou o caminho do palácio 
maravilhoso, gritando:
— Quem quer trocar lâmpadas velhas por novas? A princesa Badrulbudur 
ouviu-o.
— Boa ideia, disse ela às suas aias, neste canto havia uma lâmpada velha, 
troquem-na por uma nova!
Uma das aias logo foi e trocou a lâmpada velha pela nova.
O mágico saiu imediatamente da cidade. Assim que ele chegou ao campo, 
pegou a lâmpada, esfregou-a e disse ao gênio:
— Eu ordeno que retires o palácio de onde ele está e que o transportes para 
a África.
O gênio executou imediatamente a ordem recebida.
Aladim estava caçando.
– 43 –
Conceituação e Principais Manifestações
Quando voltou, qual não foi o seu desespero não encontrando seu palácio 
nem sua esposa.
O rei, seu sogro, estava louco de raiva e ameaçou matá-lo se antes de qua-
renta dias não encontrasse sua filha.
Felizmente, Aladim possuía ainda o anel do mágico. Esfregou-o e o gênio 
apareceu.
— Que desejas? – perguntou o gênio.
— Gênio, leva-me para junto da princesa, minha esposa.
Com a rapidez de um relâmpago, achou-se ele na África, bem debaixo da 
janela do quarto de Badrulbudur. Uma aia avistou-o e preveniu a princesa, que 
o reconheceu e o levou até junto dela.
Não tiveram dificuldade em se apoderar novamente da lâmpada maravilhosa, 
dando um narcótico ao mágico, que a trazia escondida dentro de suas roupas.
O gênio da lâmpada logo foi chamado para transportar o palácio para o 
lugar onde estava antes e o pai de Badrulbudur ficou radiante, encontrando 
sua filha.
O mágico foi acorrentado e jogado para servir de pasto aos animais ferozes.
Grandes festas celebraram a volta da princesa e de seu esposo. Os dois vive-
ram muito felizes.
Aladim subiu ao trono depois da morte de seu sogro.
Reinou sabiamente com Badrulbudur durante longos e longos anos e deixou 
filhos ilustres.
Fonte: Sotillos ([2011?]).
2.3.5 Poesia
Trata-se de uma manifestação literária em forma de versos tradicionais 
(como o soneto) ou livres (sem padronização, ritmo ou rima), na qual as 
palavras podem ou não se ajustar com o ritmo ou o som, cujo objetivo é o de 
Literatura Infantojuvenil
– 44 –
sugerir imagens, sensações ou sentimentos. Segundo Abramovich (1993), a 
poesia para o público infantil e juvenil, assim como a prosa, deve mexer com a 
emoção, com as sensações, e ser, principalmente, prazerosa. Parece oportuno 
ressaltar a diferença entre poesia e poema, uma vez que muitas pessoas utili-
zam tais palavras para designar a mesma realidade, porém esses termos apre-
sentam diferenças: poesia é caráter que emociona, toca a sensibilidade; poema 
é obra em verso em que hápoesia. Assim, o poema se destaca imediatamente 
pela estrutura, pelo modo como se dispõe na página.
Ou isto ou aquilo
Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel, 
ou se põe o anel e não se calça a luva!
[...]
Não sei se brinco, não sei se estudo, 
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda 
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Fonte: Meireles (1990, p. 14).
2.3.6 Lenda
A lenda, do latim legenda, legere (ler), é uma forma narrativa antiga, geral-
mente breve, baseada nos conhecimentos e nos ensinamentos tradicionais de 
um povo, sem necessariamente partir de um fundo verídico, superando o 
histórico e o real. Na maioria das vezes, é de origem anônima, transmitida 
e conservada pela tradição oral. Segundo Coelho (2000), a lenda é ligada a 
certo espaço geográfico e a determinado tempo. No folclore brasileiro, as len-
das mais conhecidas são Curupira, Saci-pererê, Iara, Mula-sem-cabeça, Boto 
cor-de-rosa e Boitatá.
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Conceituação e Principais Manifestações
Lenda da vitória-régia
Há muitos anos, em uma tribo indígena, contava-
-se que a lua (Jaci, para os índios) era uma deusa que, ao 
despontar a noite, beijava e enchia de luz os rostos das mais 
belas virgens índias da aldeia – as cunhantãs-moças. Sem-
pre que ela se escondia atrás das montanhas, levava para si 
as moças de sua preferência e as transformava em estrelas 
no firmamento.
Uma linda jovem virgem da tribo, a guerreira Naiá, 
vivia sonhando com esse encontro e mal podia esperar pelo 
grande dia em que seria chamada por Jaci. Os anciãos da 
tribo alertavam Naiá: depois de seu encontro com a sedutora 
deusa, as moças perdiam seu sangue e sua carne, tornando-
-se luz – viravam as estrelas do céu. Mas quem a impediria? 
Naiá queria porque queria ser levada pela lua. À noite, cavalgava pelas mon-
tanhas atrás dela, sem nunca alcançá-la. Todas as noites eram assim, e a jovem 
índia definhava, sonhando com o encontro, sem desistir. Não comia e nem bebia 
nada. Tão obcecada ficou que não havia pajé que lhe desse jeito.
Um dia, tendo parado para descansar à beira de um lago, viu em sua superfí-
cie a imagem da deusa amada: a lua refletida em suas águas. Cega pelo seu sonho, 
lançou-se ao fundo e se afogou. A lua, compadecida, quis recompensar o sacrifício da 
bela jovem índia e resolveu transformá-la em uma estrela diferente de todas aquelas 
que brilham no céu. Transformou-a, então, numa “Estrela das Águas”, única e 
perfeita, que é a planta vitória-régia. Assim, nasceu uma linda planta cujas flores 
perfumadas e brancas só abrem à noite, e ao nascer do sol ficam rosadas.
Fonte: LENDA da vitória-régia ([2016?]).
2.3.7 Romance
Um romance é uma narrativa ficcional que pode ser desenvolvida tanto 
na linguagem verbal quanto na linguagem não verbal ou mista. Escrita em 
prosa, geralmente mais complexa e extensa que um conto, possui mais de 
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Literatura Infantojuvenil
– 46 –
uma célula dramática, pois é possível identificar o desenvolvimento de mais 
de uma trama. Como exemplo, observamos um fragmento do romance de 
Daniel Defoe escrito para adultos, mas que atingiu crianças e adolescentes, 
intitulado Aventuras de Robinson Crusoé, escrito em 1719. Trata-se de um 
verdadeiro clássico da literatura universal.
Nasci no ano de 1632, na cidade de York, de boa família, apesar de estran-
geira, pois meu pai era um forasteiro de Bremen que se estabelecera primeira-
mente em Hull. Ali se tornou próspero comerciante e, mais tarde, após aban-
donar os negócios, passou a viver em York, onde casou com minha mãe, cujos 
parentes se chamavam Robinson, uma excelente família daquela região. Por esse 
motivo fui chamado Robinson Kreutznauer; mas em virtude da habitual adul-
teração das palavras na Inglaterra, somos agora conhecidos e até nós mesmos nos 
chamamos por Crusoé, assim escrevemos nosso nome e assim meus companheiros 
sempre me chamaram.
Tive dois irmãos mais velhos, um dos quais foi tenente-coronel de um regi-
mento inglês de infantaria em Flandres, outrora comandado pelo famoso Coronel 
Lockhart, e morreu na batalha perto de Dunquerque contra os espanhóis. O que 
foi feito de meu segundo irmão eu nunca soube, da mesma forma que meu pai e 
minha mãe jamais souberam o que me aconteceu.
Sendo eu o terceiro filho da família e não tendo aprendido qualquer ofício, 
muito cedo minha mente começou a povoar-se com devaneios. Meu pai, que já 
estava muito idoso, transmitiu-me os melhores ensinamentos que uma educação 
familiar e uma escola pública de interior permitiam e encaminhou-me para o 
Direito. Mas nada me satisfaria a não ser ir para o mar, e essa inclinação impe-
liu-me tão fortemente contra a vontade e até contra as ordens de meu pai, contra 
todas as súplicas e persuasões de minha mãe e de outros amigos, que parecia haver 
algo de fatal nesse desígnio da natureza que conduzia diretamente à vida de 
infortúnios e misérias que estava para me acontecer.
Fonte: Defoe (1987, p. 6-7).
Da teoria para a prática
Como vimos, entre as manifestações literárias a serem apresentadas ao 
leitor mirim está a poesia. O poema deve tocar, emocionar, mobilizar tanto 
– 47 –
Conceituação e Principais Manifestações
no nível racional quanto no emocional, insinuando uma vinculação diferen-
ciada do leitor consigo mesmo, com o outro e com o mundo. Assim, devido 
a sua importância (isso vale para as outras modalidades literárias), sugerimos 
um trabalho que vise sensibilizar para a leitura, estimular a imaginação e a 
sensibilidade e valorizar a capacidade associativa.
Cor da poesia
Número de participantes
 2 Aproximadamente 20 crianças
Recursos necessários
 2 Livros de poemas, lápis de cor, tintas, pincéis, cartolinas, tesouras, 
fita crepe, aparelho de som, CD com a música Aquarela, gravada 
por Toquinho
Passo a passo
 2 Espalhar livros de poemas pela sala e solicitar a cada criança que 
escolha um para ler.
 2 Pedir que cada criança escolha um poema do livro.
 2 Depois que todos tiverem escolhido um poema, pedir-lhes que 
fechem os olhos e imaginem uma cena para aquele poema. O pro-
fessor deverá pedir que visualizem uma cor para representar aquele 
poema. “Se o poema fosse uma cor, que cor seria? O poema é claro 
ou escuro? Suave ou arrebatador? Quente ou frio?”.
 2 Cada criança deverá pegar o material oferecido e escolher uma 
cor para pintar o poema e descrever sua cena (formas, ilustrações, 
símbolos etc.). Todos poderão apresentar o poema, a cena e a cor 
aos colegas.
 2 No fim, com todos em pé, em círculo, deverão cantar e expressar 
com gestos a música Aquarela.
 2 Os trabalhos deverão ser afixados e apresentados pelos autores. 
Com uma cor e uma palavra, os participantes deverão expressar o 
sentimento com relação à vivência.
Literatura Infantojuvenil
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Síntese
Neste capítulo, discorremos sobre a conceituação de literatura infan-
tojuvenil, que é, antes de tudo, a arte da palavra. Trata-se de um ramo da 
literatura dedicado especialmente às crianças e aos jovens.
É importante levar em conta a idade do leitor: nos livros destinados à 
criança não alfabetizada, em especial até 4 anos de idade, deve haver muitas 
imagens e poucas palavras, contrariamente àqueles que se destinam aos jovens.
A leitura de obras infantojuvenis nas mais variadas manifestações (poe-
sia, conto, fábula, apólogo, lenda etc.) requer um olhar aguçado do professor 
para que não desvie o foco, uma vez que o simbólico na literatura traça seu 
percurso para a transcendência dos anseios humanos: encontros e desencon-
tros, angústia, medo, tristeza, alegria, amor, dor, felicidade. A literatura faz 
olhar, sentir, ser e construir-se dentro de um universo de possibilidades e tam-
bém colabora

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