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MICOBACTÉRIAS As micobactérias são bactérias aeróbias em forma de bastonete que não formam esporos. Apesar de não serem facilmente coradas, resistem à descoloração por ácido ou álcool e, por esse motivo, são denominadas bacilos "álcool-acidorresistentes" (BAAR). O Mycobacterium tuberculosis é um patógeno muito importante em seres humanos e que provoca tuberculose. O Mycobacterium leprae causa a hanseníase. Possuem ácido micólico, não possuem flagelo, cápsula e membrana externa, possuem uma parede celular na qual absorve o corante fúcsia fenol (fucsina fenicada), é também intracelular facultativo. Mycobacterium tuberculosis - Bacilo de Kock Os verdadeiros bacilos da tuberculose caracterizam-se pela sua "álcool-acidorresistência" - isto é, o álcool etílico a 95%, contendo 3% de ácido clorídrico (ácido-álcool), descora rapidamente todas as bactérias, exceto as micobactérias. A álcool-acidorresistência depende da integridade do envelope lipídico. A técnica de Ziehl-Neelsen de coloração é empregada para a identificação das bactérias álcool-acidorresistentes. As micobactérias são aeróbios obrigatórios que obtêm a sua energia da oxidação de muitos compostos simples de carbono. O aumento da tensão de C02 intensifica o crescimento. O tempo de duplicação dos bacilos da tuberculose é de cerca de 18 horas. As formas saprofíticas tendem a crescer mais rápido, proliferam bem a 22 a 33ºC, produzem mais pigmento e são menos acidorresistentes do que as formas patogênicas. As micobactérias são ricas em lipídeos, que incluem ácidos micólicos (ácidos graxos de cadeia longa de C78 a C90), ceras e fosfatídeos. Na célula, os lipídeos são ligados, em grande parte, a proteínas e polissacarídeos. O dipeptídeo muramil (do peptidoglicano) complexado com ácidos micólicos pode causar a formação de granuloma, enquanto os fosfolipídeos induzem necrose caseosa. Os lipídeos são, até certo ponto, responsáveis pela álcool-acidorresistência. Sua remoção com ácido quente destrói a álcool-acidorresistência, que depende da integridade da parede celular e da presença de certos lipídeos. A álcoolacidorresistência também é perdida após a sonicação das células micobacterianas. Patogênese As micobactérias são emitidas em gotículas menores que 25 µm de diâmetro, quando pessoas infectadas tossem, espirram ou falam. As gotículas evaporam levando os microrganismos, que são pequenos o suficiente, quando inalados, para serem depositados nos alvéolos. Uma vez no interior do alvéolo, o sistema imunológico do hospedeiro responde com a liberação de citocinas e linfocinas que estimulam monócitos e macrófagos. As micobactérias iniciam sua multiplicação no interior dos macrófagos. Alguns macrófagos desenvolvem maior habilidade de matar o microrganismo, enquanto outros podem ser mortos pelo bacilo. Após 1 a 2 meses da exposição, as lesões patogênicas associadas à infecção aparecem nos pulmões. Dois tipos de lesões como as descritas em Patologia, adiante, podem desenvolver-se. A resistência e a hipersensibilidade do hospedeiro influenciam fortemente o desenvolvimento da doença e o tipo de lesões observadas. São dois tipos de lesões: 1- Lesão exsudativa: Reação inflamatória aguda com líquido de edema, leucócitos polimorfonucleares e, posteriormente, monócitos ao redor dos bacilos da tuberculose (observado principalmente em tuberculose pulmonar assemelhada a pneumonia bacteriana). 2- Tipo produtivo: quando totalmente desenvolvida, a lesão, que é um granuloma crônico, consiste em três zonas: (1) uma área central de células gigantes multinucleares contendo bacilos da tuberculose; (2) uma zona média de células epitelioides pálidas, com frequência dispostas de modo radial; e (3) uma zona periférica de fibroblastos, linfócitos e monócitos. Posteriormente, verifica-se a formação de tecido fibroso periférico, e a área central sofre necrose caseosa. Teste tuberculínico - PPD A tuberculina envelhecida é um filtrado concentrado de caldo em que os bacilos da tuberculose cresceram durante seis semanas. Os testes tuberculínicos em levantamentos empregam 5 UT em 100 µl de solução e nos indivíduos sob suspeita de extrema hipersensibilidade, o teste cutâneo deve ser iniciado com 1 UT. Em geral, o volume injetado por via intracutânea é de 0,1 mL, de uso comum na porção volar do antebraço. A preparação de DPP deve ser estabilizada com polissorbato 80 para evitar adsorção no vidro. A área é examinada para a presença de endurecimento em até 72 horas após a inoculação. 5 mm ou mais de endurecimento é considerado positivo; maior que 10 mm é considerado positivo para pessoas com probabilidade aumentada de infecção recente, uma área de endurecimento maior ou igual a 15 mm é considerado um resultado positivo. Manifestações clínicas Como o bacilo da tuberculose pode afetar qualquer órgão, suas manifestações clínicas são inúmeras. Fadiga, fraqueza, perda de peso, febre e tremores noturnos podem ser sinais de tuberculose. O comprometimento pulmonar, que causa tosse crônica e hemoptise, em geral está associado a lesões muito avançadas. Meningite ou comprometimento do trato urinário podem ocorrer na ausência de outros sinais de tuberculose. A disseminação pela corrente sanguínea resulta em tuberculose miliar, com lesões em muitos órgãos e taxa elevada de mortalidade. Diagnóstico As amostras consistem em escarro fresco, lavado gástrico, urina, líquido pleural, líquido cerebrospinal, líquido articular, material de biópsia, sangue ou outro material suspeito. O escarro, os exsudatos ou outros materiais são examinados por coloração para os bacilos álcool-acidorresistentes. As amostras processadas de locais não estéreis e as centrifugadas de locais estéreis podem ser cultivadas diretamente em meios seletivos e não seletivos (ver anteriormente). A cultura seletiva em caldo é com frequência o método mais sensível e fornece resultados mais rapidamente. Um meio de ágar seletivo (p. ex., Lõwenstein-Jensen ou dupla placa de Middlebrook 7H 10/7H 11 com antibióticos) deve ser inoculado paralelamente às culturas em caldo. A incubação deve ser efetuada a 35 a 37ºC em 5 a 10% de C02, durante um período de até oito semanas. Tratamento Os dois principais fármacos utilizados no tratamento da tuberculose são a INH e a RMP. Os outros fármacos de primeira linha são a pirazinamida (PZA), o etambutol (EMB) e a estreptomicina. Os fármacos de segunda linha abrangem canamicina, capreomicina, etionamida, ciclosserina, ofloxacino e ciprofloxacino. Outras micobactérias Além dos bacilos da tuberculose (p. ex., M. tuberculosis, M. bovis ), outras micobactérias com graus variáveis de patogenicidade foram isoladas de fontes humanas nas últimas décadas. Tais micobactérias "atípicas" foram inicialmente agrupadas de acordo com a velocidade de seu crescimento a diferentes temperaturas e com a produção de pigmentos. Várias dessas micobactérias são atualmente identificadas por sondas ou sequenciamento de DNA. A maioria dos referidosmicrorganismos ocorre no meio ambiente, sendo patógenos oportunistas e não são facilmente transmitidos de uma pessoa para outra. Mycobacterium leprae As lesões afetam os tecidos mais frios do corpo incluindo pele, nervos superficiais, nariz, faringe, laringe, olhos e testículos. As lesões cutâneas podem ocorrer em forma de máculas pálidas e anestésicas, de 1 a 10 cm de diâmetro; nódulos infiltrados eritematosos, difusos ou distintos, de 1 a 5 cm de diâmetro; ou infiltração difusa da pele. Os distúrbios neurológicos manifestam-se em forma de infiltração e espessamento dos nervos, com consequentes anestesia, neurite, parestesia, úlceras tróficas, bem como reabsorção óssea e encurtamento dos dedos. A desfiguração em decorrência da infiltração da pele e do comprometimento dos nervos pode ser extrema nos casos não tratados. A doença é dividida em dois tipos principais: lepromatoso e tuberculóide, com vários estágios intermediários. No tipo lepromatoso, a evolução é progressiva e maligna, com lesões cutâneas nodulares, acometimento simétrico e lento dos nervos, inúmeros bacilos álcool-acidorresistentes nas lesões cutâneas, bacteremia contínua e teste cutâneo negativo com lepromina (extrato de tecido lepromatoso). Na hanseníase lepromatosa, a imunidade celular encontra-se bastante deficiente, e a pele mostra-se infiltrada com células T supressoras. No tipo tuberculóide, a infecção é benigna e não progressiva, com lesões cutâneas maculares, início súbito de grave acometimento assimétrico dos nervos com poucos bacilos presentes nas lesões e teste cutâneo positivo com lepromina. Na hanseníase tuberculóide, a imunidade celular permanece intacta, e a pele mostra-se infiltrada com células T auxiliares. Manifestações sistêmicas de anemia e linfadenopatia também podem ocorrer. É comum haver comprometimento ocular. Pode desenvolver-se amiloidose. A transmissão da hanseníase tem maior probabilidade de ocorrer quando crianças pequenas são expostas por períodos prolongados a indivíduos que eliminam grandes quantidades de bacilos. As secreções nasais constituem o material mais provavelmente infeccioso nos contatos familiares. O período de incubação é, provavelmente, de 2 a 10 anos Diagnóstico Os raspados de pele ou de mucosa nasal com bisturi ou uma amostra de biópsia da pele do lobo da orelha são corados em lâmina pela técnica de Ziehl-Neelsen. A biópsia de pele ou de um nervo espessado revela um quadro histológico típico. Não existem testes sorológicos de valor. Tratamento As sulfonas, tais como a dapsona, constituem a terapia de primeira linha para a hanseníase tanto tuberculóide quanto lepromatosa. A RMP ou a clofazimina é geralmente incluída no esquema inicial de tratamento. Outros fármacos ativos contra o M. leprae são a minociclina, claritromicina e algumas fluoroquinolonas.
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