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DO GATEKEEPER AO GATEWATCHER huf

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FACULDADES INTEGRADAS HÉLIO ALONSO 
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
Ana Beatriz Alves Rapozo 
 
 
 
 
 
 
DO GATEKEEPER AO GATEWATCHER: NOVAS FORMAS DE PRODUÇÃO DE 
INFORMAÇÃO NO JORNALISMO DO HUFFPOST BRASIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2016 
 
 
Ana Beatriz Alves Rapozo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DO GATEKEEPER AO GATEWATCHER: NOVAS FORMAS DE PRODUÇÃO DE 
INFORMAÇÃO NO JORNALISMO DO HUFFPOST BRASIL 
 
 
 
 
Artigo apresentado ao Curso de Graduação em 
Comunicação Social das Faculdades Integradas 
Hélio Alonso como requisito parcial a obtenção 
do título de Bacharel em Jornalismo, sob a 
orientação do Prof. Marcio Gonçalves. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2016 
 
 
Resumo: O HuffPost Brasil é um dos principais jornais digitais que agrega blogs e opiniões de 
todo o mundo. O objetivo deste estudo é analisar a estrutura jornalística, os meios e as 
estratégias que o jornal usa para alcançar seu leitor após as novas relações entre emissor e 
transmissor que ocorrem com a popularização da Internet. Para entender cada método usado, é 
necessário destrinchar os momentos das eras culturais até chegar à era digital e compreender as 
mudanças que ela trouxe para a comunicação, por isso este artigo explica os efeitos da era 
digital na sociedade. Ademais, a democratização dos meios virtuais modifica a transmissão das 
informações, isto é, há novos emissores de notícias que não são necessariamente jornalistas, 
criando assim o termo jornalista curador e a transição do gatekeeper para o gatewatcher, usados 
diretamente no estudo de caso, o HuffPost Brasil. 
Palavras-chaves: HuffPost Brasil, internet, era digital, gatekeeper, gatewatcher, jornalista 
curador. 
Abstract: HuffPost Brasil is one of the leading digital newspapers which aggregates blogs and 
reviews from around the world. The purpose of this study is to analyze the journalistic structure, 
means and strategies that the newspaper uses to reach his reader after the new relations between 
sender and transmitter occurrences in with the popularization of the Internet. To understand 
each method used, it’s necessary to disentangle the moments of cultural until reach the digital 
era and understand the changes to communication, so this article explains the effects of the 
digital era in society. Moreover, the democratization of virtual means modifies the transmission 
of information, that is, there are new issuers of information who are not necessarily journalists, 
thus creating the term curator journalist and the transition from the gatekeeper to the 
gatewatcher, used directly in the case study, the HuffPost Brasil. 
Key words: HuffPost Brasil, internet, digital era, gatekeeper, gatewatcher, curator journalist 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
O jornalismo se transforma a cada veículo de comunicação que surge na sociedade, já 
que é a partir dos meios que há a distribuição de notícias. Em todas as mídias antes da 
popularização da Internet – jornal impresso, TV e rádio – o contato entre o emissor e o receptor 
era feito por cartas ou telefone, havendo pouca integração entres eles. A partir do momento que 
o jornalismo migra para o mundo digital, há uma transformação na troca de informações e na 
relação com o seu leitor. 
Na era digital, o emissor participa diretamente das sugestões de pauta, já que ele 
consegue transmitir notícias que acontecem próximo a sua localidade para um grupo de 
seguidores nas redes de relacionamentos virtuais, criando visibilidade até chegar aos veículos 
de comunicação. Neste momento, os veículos, que já estavam no impresso ou na TV, fazem 
parte do meio digital, pois percebem a força que qualquer individuo possui para publicar 
informações importantes para a estruturo oficial da mídia. 
O cidadão se torna uma fonte essencial para o jornalista e um dos principais meios de 
transmissão de conteúdo no meio virtual. Diante deste fato, o jornalista, antes considerado 
gatekeeper, se transforma em gatewatcher, isto é, ele não possui mais as informações para 
construção de pautas, e sim monitora publicações das notícias nas redes sociais para definir 
assim, quais irão ser divulgadas em seu veículo. Outro papel também surge no advento da 
Internet, o jornalista curador, este seleciona as matérias mais interessantes para o seu público-
alvo e as publica com seu ponto de vista e opinião. 
A Internet permite a criação de novos jornais a qualquer instante, pois os usuários já 
possuem o poder de comunicar o que eles consideram importante para a sua rede de seguidores. 
O HuffPost Brasil surge desta ideia, a agregação de blogs em uma única página que discute 
assuntos variados. Este estudo consiste em entender as transformações que o virtual trouxe para 
o jornalismo e o surgimento de novas funções, por fim analisando um exemplo desta nova era, 
o HuffPost Brasil. 
 
 
 
 
 
 
5 
 
1 EFEITOS SOCIAIS DA ERA DIGITAL 
 
 
O século XXI é marcado por diversas transformações no universo da comunicação 
digital. Desde o avanço das relações virtuais, até o smartphone da última geração, a sociedade 
se depara com novos e inovadores meios de mediação da comunicação. Porém, transformações 
assim acontecem desde o século passado com o advento da rádio e da televisão. Para entender 
cada momento da comunicação, Santaella (2003) estuda as seis eras culturas – oral, escrita, 
impressa, de massas, das mídias e digital. 
Cada era está definida de acordo com quais meios de comunicação são capazes de mudar 
as relações humanas, além de moldar o pensamento do ser humano e permitir a criação de novos 
ambientes socioculturais. Santaella (2003) afirma ainda que prefere chamá-las de formações 
culturais para transmitir a ideia de que não se trata de períodos culturais lineares, mas sim de 
que “há sempre um processo cumulativo de complexificação: uma nova formação comunicativa 
e cultural vai se integrando na anterior, provocando nela reajustes e refuncionalizações” 
(SANTAELLA, 2003, p. 13). 
Com o desenvolvimento e o surgimento das plataformas digitais, os conceitos cultura 
das mídias e a cultura digital ganham maior significado. Santaella (2003) destaca que cultura 
de massas, cultura das mídias e cultura digital, embora convivam hoje em um imenso caldeirão 
de misturas, apresentam cada uma delas caracteres que lhes são próprios e que precisam ser 
distinguidos. “Uma diferença gritante entre a cultura das mídias e a cultura digital, por exemplo, 
está no fato muito evidente de que, nesta última, está ocorrendo a convergência das mídias, um 
fenômeno muito distinto da convivência das mídias típica da cultura das mídias” 
(SANTAELLA, 2003, p. 17). 
A autora ainda comenta que “a cultura das mídias não se confunde com nem com a 
cultura de massas, nem com a cultura digital ou cibercultura de outro. É, isto sim, uma cultura 
intermediária, situada entre ambas” (SANTAELLA, 2003, p. 13). Isto quer dizer que a cultura 
digital surge pelos processos de produção, distribuição e consumo de comunicações na cultura 
de mídias. 
A última década é caracterizada pela expansão da Internet e o surgimento das redes 
sociais, o Facebook, criado em 2004 por Mark Zuckerberg, é considerado um dos maiores 
meios de se comunicar. Nele, qualquer cidadão pode compartilhar seus pensamentos, fatos que 
acontecem com ele durante sua rotina e opiniões sobre diversos assuntos para uma grande 
quantidade de pessoas. “O aspecto mais espetacular da era digital está no poder dos dígitos para 
6 
 
tratar toda informação, som, imagem, vídeo, texto, programas informáticos, com a mesma 
linguagem universal, uma espécie de esperanto das máquinas” (SANTAELLA, 2003, p. 71).As mudanças tecnológicas e de comportamento que ocorrem desde o surgimento da 
Internet interferem diretamente no trabalho do jornalista, isto porque o receptor passa a receber 
as notícias de diversos meios, como no jornal, rádio e em sites de notícias, além de blogs 
independentes. Quando o emissor percebe que o seu telespectador encontra informações 
concretas em tempo real e em vários canais, ele precisa está conectado o tempo inteiro para 
transmitir sempre novas informações com seu ponto de vista. Santaella (2003) assinala que nos 
anos 80 a mistura de linguagens já acontecia. “Novas sementes começaram a brotar no campo 
das mídias com o surgimento de equipamentos e dispositivos que possibilitaram o aparecimento 
de uma cultura do disponível e do transitório” (SANTAELLA, 2003, p. 15). 
O avanço dos canais de comunicação permite que as notícias permeiem em mais de um 
meio. Isto é, o que é falado na Internet pode ser transmitido em programas de televisão, por 
exemplo. Esta unificação é chamada de hipermídia, quando há uma conexão entre documentos 
de diferentes tipos de mídia. “Percebemos que quanto mais a rua fala, quanto mais os 
dispositivos móveis nos conectam, mais desejamos consumir e pertencer a um espaço virtual” 
(FERRARI, 2014, p. 25). 
O jornalista passa a entender que os dados estão disponíveis em um clique e que eles 
são falados e modificados a cada instante, por isso ele tem a meta de entender qual conteúdo 
deve ser transmitido no seu veículo. “À medida que a automação avança, vai ficando claro que 
a informação é o bem de consumo mais importante e que os produtos "sólidos" são meramente 
incidentais no movimento informacional” (MCLUHAN, 2007, p.234). 
Os meios de comunicação também transformam a interação em algo global, ou seja, o 
que é falado no Brasil pode chegar ao outro lado do mundo através da rede social, e assim 
possibilita que diferentes pessoas possam compartilhar assuntos de interesse de ambos. Cardoso 
(2009) cita que este contato é, provavelmente, a novidade mais importante nas mudanças atuais 
trazidas pela comunicação no cotidiano. 
Ao trazer a comunicação para um nível global, através da transmissão, e mais 
tarde, ao permitir às pessoas “serem” globais, através do uso de tecnologias 
globais, como a Internet e as redes de telemóveis, construímos uma rede 
comunicacional que pode ser moldada às necessidades dos seus utilizadores, 
seja pelo acesso a conteúdos, a pessoas ou a ambos (CARDOSO, 2009, p. 28). 
 
Quando qualquer indivíduo passa a ter o poder de informar para um grande grupo 
acontecimentos que ocorrem durante o seu dia a dia, o comunicador encontra uma realidade 
que nunca tinha visto. Um cidadão comum agora pode ser um transmissor de notícias, já que 
7 
 
muitas vezes as informações já possuem o lead – o que, quem, quando, onde, como e porquê – 
e até vídeos. Neste momento, o jornalista entra em conflito, pois o cidadão pode ter um espaço 
maior na rede como um comunicador, mas ao mesmo tempo, percebe que este ele se torna uma 
fonte importante. 
A Consumer-Generated Media (CGM) ou Mídia Gerada pelo Consumidor, 
presente em comentários de blogs, listas de discussão, grupos no WhatsApp, 
postagens do Tumblr, Twitter, Youtube, Instagram etc, tem modificado nossa 
forma de absorver conteúdo, e fico com a sensação de que os portais ainda 
correm atrás do prejuízo, mas sem entender que essa nova mídia está baseada 
no compartilhamento, na troca, na conversa. As mudanças são enormes e 
profundas. Muitas ainda nem foram assimiladas pelos veículos de 
comunicação, mas já estão sendo viabilizadas pelas redes sociais da web 
(FERRARI, 2014, p. 21). 
 
Esse fato permite o aumento do jornalismo colaborativo, no qual o público participa da 
produção de conteúdo. Antes do avanço das redes sociais, o cidadão já interagia com os jornais 
por meio de cartas ou telefonemas, contudo a era digital diminui ainda mais a distância entre o 
autor e seu leitor. Isso faz com que o tradicional gatekeeper, aquele quem define quais notícias 
serão veiculadas, perca um pouco do seu valor, pois agora as informações necessárias para uma 
matéria estão disponíveis para o conhecimento em tempo real. 
Ferrari (2014) acredita que a práxis jornalística tradicional, o controle da informação 
está no emissor, já na jornalística digital, deve-se privilegiar o sujeito que decide, caindo assim 
por terra a teoria do gatekeeper. A autora conclui que o papel do gatekeeper na teoria do 
jornalismo sempre foi selecionar a informação que será ingerida pelo leitor, fazendo com que 
o receptor não perceba a edição da informação. “No caso das narrativas hipertextuais, o foco 
muda e o poder de escolha passa para as mãos do leitor” (FERRARI, 2014, p. 80). 
Neste momento, surge o termo gatewatcher, o jornalista que seleciona as notícias mais 
relevantes para o seu público-alvo. A curadoria de notícias também passa a ser uma importante 
aliada para o trabalho do escritor, visto que em meio a uma infinidade de trocas de dados, o 
jornalista precisa entender o que é de mais importante transmitir para o seu receptor. 
Segundo os conceitos levantados, as seis eras culturais permitem interpretar cada 
momento da comunicação e os seus meios. O último período estudado por Santaella é a digital, 
um fusão entre a era de massas e das mídias. A partir desta época, a convergência das mídias 
passa a ser um fator crucial para a distribuição de matérias, uma vez que o leitor se encontra 
um mais de um veículo de comunicação ao mesmo tempo e recebe muitas informações ao 
mesmo tempo e filtra as mais relevantes. Ademais, o receptor se encontra muitas vezes no papel 
do emissor pela facilidade de transmitir dados nas redes sociais virtuais, causando mudanças 
no ofício do jornalista. 
8 
 
2 A TRANSIÇÃO DO GATEKEEPER PARA O GATEWATCHER 
 
 
O termo gatekeeper se refere ao jornalista que possui o poder de decidir quais 
informações que chegam durante o dia na redação são consideradas as mais relevantes para a 
publicação. Em meio a um turbilhão de acontecimentos, apenas os considerados mais 
importantes de acordo com alguns critérios, entre eles o valor-notícia e linha editorial, são 
passados a diante para a produção. O jornalista que desempenha esta função é considerado o 
“porteiro”, tradução da palavra gate, pois “ele é responsável pela progressão da notícia ou por 
sua “morte”, caso opte por não deixá-la prosseguir, o que significa evitar a publicação” (PENA, 
2006, p. 133). 
A teoria do gatekeeper avança igualmente uma concepção bem limitada do 
trabalho jornalístico, sendo uma teoria que se baseia no conceito de 
“seleção”, minimizando outras dimensões importantes do processo de 
produção das notícias, uma visão limitada do processo de produção das 
notícias (TRAQUINA, 2005, p. 151). 
 
A teoria do gatekeeping surge em 1947 no campo da psicologia por Kurt Lewin1, que 
estuda os problemas ligados à modificação dos hábitos alimentares em um determinado grupo 
social. A partir de 1950, este termo é ligado ao jornalismo pelo David Manning White, que 
começa a analisar como ocorrem as filtragens de notícias nas redações dos veículos de 
comunicação. Para concluir sua teoria, White tem como estudo de caso a metáfora do Mr.Gates, 
ele passa a acompanhar um jornalista de meia idade que tem a função de selecionar entre todos 
os dados que chegam à redação, os que seriam publicados. 
Após uma semana de análise, White conclui que as escolhas de Mr.Gates são subjetivas 
e feitas a partir de valores baseados em suas experiências e expectativas. Entre outros 
resultados, os que se destacam são que de cada dez sugestões de pauta, noves são rejeitados, 
além disso, White percebe que quanto mais tarde chega uma informação, ela tem maior 
possibilidade de ser descartada. 
McCombs (2009) acredita que o gatekeeping está ligado coma Teoria da Agenda2 no 
início da década de 1980 quando os acadêmicos perguntam “Quem é que define a agenda da 
mídia?” e as respostas identificam uma rede de relações e influências que se estendem além da 
 
1
 Kurt Lewin, psicólogo alemão-americano, discute em sua teoria a possiblidade da mudança de hábitos 
alimentares de uma população. Por fim, ele percebe que “existem canais por onde flui a sequência de 
comportamentos relativos a um determinado tema. Estes canais desembocam em uma zona de filtro (o 
gate), que é controlada por quem tem o poder de decidir (o gatekeeper)” (PENA, 2006, p. 134). 
2
 Reunião para o agendamento das pautas antes da aprovação do gatekeeper. 
9 
 
mídia noticiosa. “Dentro da matriz constituída por jornais, revistas, TV, e, mais recentemente, 
com a internet, o exame desta questão expandiu-se reconceituando gatekeeping como o 
agendamento intermídia” (MCCOMBS, 2009, p. 136). 
Como dito anteriormente, os anos 80 é marcado pelo avanço dos meios de comunicações 
digitais. Além de Santaella (2003), Pollyana (2014) destaca a década e suas mudanças, entre 
eles o começo das transmissões da rede norte-americana CNN. “Da metade do século XX em 
diante, os jornais passaram a ser também radiodifundidos e teledifundidos, o que provocou 
alterações nos formatos narrativos” (POLLYANA, 2014, p. 79). 
Antes dos avanços tecnológicos no meio da comunicação, o jornalista detêm as 
informações para si, sendo a principal fonte de notícias da sociedade. Por isso o papel do 
gatekeeper é essencial em uma redação, pois ele define o posicionamento que o jornal terá. Paes 
(2008) cita que “o profissional faz escolhas e interfere diretamente no seguimento de 
determinada notícia-informação” (PAES, 2008, p. 3). Nesta época, o receptor é considerado 
passivo, ou seja, não tem a possibilidade de comunicar informações que ele possui para uma 
grande massa. 
Na era digital, a relação entre o emissor e o receptor se modifica, e o emissor também 
se torna um transmissor de informações para um grande público. Santaella (2003) afirma que 
mudanças profundas foram provocadas pela extensão e desenvolvimento das hiper-redes 
multimídia de comunicação interpessoal. “Cada um pode tornar-se produtor, criador, [...] 
difusor de seus próprios produtos. Com isso, uma sociedade de distribuição piramidal começou 
a sofrer a concorrência de uma sociedade reticular de integração em tempo real” 
(SANTAELLA, 2003, p. 82). 
O jornalista passa a perceber que as notícias já estão sendo distribuídas na rede e ele 
precisa estar monitorando cada fonte de informação para assim definir suas pautas levando em 
consideração as preferências do seu leitor. “Os anúncios classificados [...] constituem o alicerce 
da imprensa. Se encontrar uma outra fonte de fácil acesso para obtenção diária dessas 
informações, a imprensa cerrará as portas” (MCLUHAN, 2007, p.235). 
As mudanças da comunicação virtual afetam as tarefas do jornalista nos processos de 
apuração e redação, uma vez que ele recebe centenas de notícias ao mesmo tempo e algumas 
delas já estão apuradas pelo cidadão e distribuídas. Com o gatekeeper não é diferente, seu 
modo de realizar suas funções alteram, uma vez que a Internet proporciona uma audiência mais 
participativa e uma troca de dados mais rápida e eficiente. Ele agora não retém todas as 
informações para selecionar e depois publicar, pois tudo que é recebido já está ao alcance do 
público. 
10 
 
Sem limitações espaciais, o jornalista pode publicar uma maior quantidade de 
notícias nos mais variados formatos e com possibilidade de ligação a outras 
fontes e documentos através de links. Esta disponibilidade espacial 
tendencialmente infinita acaba por se transformar num potencial obstáculo 
para os leitores, pois a cada segundo que passa são disponibilizadas milhares 
de notícias na Web (CANAVILHAS, 2010, p. 4). 
 
A popularização do uso de meios digitais causa a redefinição do papel do gatekeeper, 
pois há novos canais de comunicação virtual para a troca de informações. “Tornou-se 
impossível ao jornalista e aos media em geral continuarem a manter a guarda de tantos portões 
num contexto de acessibilidade geral” (ARAÚJO; CARDOSO; CHETA; NETO, 2009, p. 72). 
Diante desta realidade, encontram-se estudos que defendem a mudança do desempenho do 
gatekeeper para gatewatcher. “Tais linhas de pensamento sustentam que as pessoas nas 
redacções estão a modificar a sua definição de gatekeeper, passando a incorporar as funções de 
controlo de qualidade e significado” (ARAÚJO; CARDOSO; CHETA; NETO, 2009, p. 72). 
A função do gatewatcher é determinar as notícias mais relevantes para o seu meio e não 
necessariamente para toda uma população. Ele faz essa seleção de acordo com suas convicções 
pessoais e inclui opiniões nas informações, além disso, não há a necessidade de ser um 
jornalista, pois no meio digital qualquer pessoa pode expressar suas convicções e ideias. “O 
gatewatcher funciona com um analista de mercados financeiros que aconselha os seus 
seguidores/amigos a investirem a sua atenção neste ou naquele tema, publicando os links para 
as notícias” (CANAVILHAS, 2010, p. 5). 
Tais pontos de vista não preconizam, no entanto, o fim dos gatekeepers, 
apenas defendem a criação de novos guardiões, tais como os motores de busca 
(Cardoso, 2006). Ou seja, mais do que desaparecer, a função de gatekeeper 
tende a sofrer alterações, numa lógica complementar com a função do 
gatewatcher (ARAÚJO; CARDOSO; CHETA; NETO, 2009, p. 72). 
 
O termo gatewatcher ainda é recente, porém percebe-se que os portais de notícias estão 
se adequando a esta estrutura de ter alguém ou uma equipe para eleger as informações mais 
interessantes para o seu leitor. Um exemplo disso é o jornal online The Huffington Post, ele 
agrega blogs de diversos assuntos e está presente em múltiplos países, mais a frente do artigo 
terá um estudo de caso sobre este webjornal. 
Após definir esses termos e colocá-los em ordem cronológica de acordo com o avanço 
da comunicação virtual, pode-se afirmar que o jornalismo se adequar ao cenário atual das 
relações interpessoais. Na era digital, o gatekeeper perde um pouco de seu valor, pois a 
participação do emissor é cada vez mais ativa, além de haver um aumento significativo de 
canais de comunicação. Já o papel de gatewatcher se torna indispensável, visto que ele permite 
11 
 
construir grupos seletivos de acordo com interesses comuns em redes virtuais, aumentando sua 
audiência e a participar do leitor. 
 
 
3 A POSIÇÃO DO JORNALISTA CURADOR NA REDE 
 
 
A expressão curadoria é importante e conhecida na área das Artes. Por definição, um 
curador tem como tarefas a organização, montagem e escolha das peças de um conjunto de 
obras de um artista para sua exposição. Segundo Grossman (2013), “a curadoria ocupa hoje 
uma posição central no sistema da arte, em permanente negociação com outras formas de 
mediação cultural, sejam elas as educativas, de gestão cultural e também as de gestão de 
patrimônio/coleções”. 
O termo curadoria entrou na categoria dos ciber-significados de uma forma 
impactante e muito recentemente. O bem conhecido e consolidado curador das 
artes ou aquele curador gestor legal de patrimônios passaram a conviver com 
uma multidão de curadores da informação, curadores digitais, curadores de 
festas, de musicas, de programações, de coletâneas literárias, entre outras 
novas funções que necessitam de “cura” para se concretizarem (CORRÊA, 
2012, p. 8). 
 
Com a popularização do acesso à Internet, o número de dados compartilhados por 
minuto cresce a cada ano. Para calcular este número, a empresa Domo construiu, em 2015, 
infográficos que demostram a quantidade brutal de dados digitais que são criados a cada minuto, 
o “Data Never Sleeps”3, (DadosNunca Dormem). O infográfico apresenta números dos mais 
importantes sites que a população mundial acessa. O estudo mostra, por exemplo, que o 
Facebook recebe 4.166.667 de likes por minuto, já no Twitter, os usuários postam 347,222 em 
60 segundos. 
Em meio a uma grande quantidade de troca e absorção de informações na rede, o 
jornalista encontra uma realidade onde todos que estão conectados à Internet já sabem o que 
está acontecendo ao redor do mundo em tempo real. Por isso, é necessário que o curador de 
notícias esteja interligado com todas para redes sociais - Facebook, Twitter e Instagram - para, 
assim, filtrar os dados e organizá-los em grau de importância e distribuir para seus leitores. 
Weisgerber (2012, tradução nossa) define que há oito etapas no trabalho de um jornalista 
curador, que para ele, são consideras essenciais para um bom resultado, São elas: Identificar 
 
3
 https://www.domo.com/blog/2015/08/data-never-sleeps-3-0/ 
12 
 
nichos, selecionar as informações; contextualizar o conteúdo; classificá-lo; creditar fontes; 
identificar sua audiência; providenciar espaço e monitorar e o engajamento. O autor conclui 
que “um curador adiciona um ponto de vista e contextualiza a informação que ele está apurando 
enquadrando, assim, a mensagem”. 
Já Bertocchi e Corrêa (2012) destacam a presença de soluções algorítmicas para lidar 
com o excesso de informações. “O buscador Google (e outros mais segmentados) e a rede social 
Facebook são baseados em algoritmos curadores que decidem qual a informação será 
disponibilizada” (BERTOCCHI; CORRÊA, 2012, p. 129). Os algoritmos são códigos de 
programação usados por programadores de buscadores e redes sociais para definir os dados 
mais relevantes de acordo com cada usuário. “No cenário da comunicação digital, a rigor, o 
algoritmo trabalha com a missão de expurgar informações indesejáveis, oferecendo apenas o 
que o usuário julgaria eventualmente o mais relevante para si” (BERTOCCHI; CORRÊA, 2012, 
p. 129). 
Partindo deste estudo, as autoras discutem a função do jornalista curador na rede ao 
perguntarem se só a máquina que decide sobre as preferências do usuário. A partir disto, elas 
refletem sobre a curadoria jornalística partindo do pressuposto de que o profissional, “por 
vivenciar a proximidade com aquele que quer e deve ser informado, possui um cabedal de 
variáveis importantes sobre processos de escolha, gostos, direcionamento da formação de 
opinião, variação de padrões sociais” (BERTOCCHI; CORRÊA, 2012, p. 138). 
A curadoria humana pura e simples (sem os procedimentos matemáticos), por 
outro lado, é mais livre para olhar para o futuro. Um curador de conteúdos é 
capaz de agregar novas e inusitadas perspectivas à informação, oferecendo aos 
seus usuários a surpresa, o inesperado ou simplesmente aquilo que o usuário 
nem imaginaria existir no mundo e sobre o mundo, ampliando seu próprio 
entendimento de mundo (BERTOCCHI; CORRÊA, 2012, p. 137). 
 
A partir das definições sobre os algoritmos curadores e a curadoria jornalística, 
Bertocchi e Corrêa (2012) apontam que “mesmo em um contexto de abundância informativa 
onde a máquina processa mais rapidamente e melhor as informações, a comunicação, o 
jornalismo e seus profissionais permanecem indispensáveis por pelo menos dois motivos” 
(BERTOCCHI; CORRÊA, 2012, p. 135). O primeiro motivo é que robôs não conseguem 
interagir como humano de forma natural, já o segundo motivo é que no espaço semântico, robôs 
inteligentes percebem o comportamento do usuário e fornecem a ele somente as informações 
que ele próprio deseja e escolhe. “Chega-se, portanto, ao nível máximo da personalização, o 
que, para além das vantagens evidentes, traz algumas implicações indesejáveis” 
(BERTOCCHI; CORRÊA, 2012, p. 137). 
13 
 
Por fim, as autoras chegam a conclusão de que ‘quanto mais informações 
circunstanciais, sociais e comportamentais se fizerem necessárias para a modelagem do 
algoritmo, mais deveria ser exigida a participação do elemento humano como alimentador do 
modelo e, especialmente, como refinador ao longo da vida útil do algoritmo” (BERTOCCHI; 
CORRÊA, 2012, p. 138). 
Assim como o gatewatcher, o curador analisa o mercado que ele deseja atingir para 
selecionar as informações mais rentáveis que possam ser publicadas em seu jornal, revista ou 
blog de acordo com seu público-alvo. Silva (2012) destaca que um dos desafios da curadoria é 
o processo de seleção das notícias, já que é necessário alcançar e agradar de modos diferentes 
determinados grupos. “Entre os desafios para a curadoria de conteúdo on-line, o imperativo da 
visibilidade se torna um tentador desviante, pois a curadoria é, quase que necessariamente, 
acompanhada de uma estrutura de nicho, para públicos menores” (SILVA, 2012, p. 78). 
 
 
4 ESTUDO DE CASO: O JORNALISMO DIGITAL DO HUFFPOST BRASIL 
 
 
Este capítulo apresenta o estudo de caso que exemplifica os termos que foram analisados 
anteriormente, gatewatcher e curadoria de notícias. A escolha foi feita por meio de diversas 
pesquisas, uma vez que os conceitos estudados são novos e ainda não são abrangentes nos 
jornais e nem na literatura técnico-científica nos estudos do jornalismo. Pelo fato de selecionar, 
em variados blogs, notícias mais relevantes para o seu leitor, o jornal online HuffPost Brasil, 
versão brasileira do The Huffington Post, foi definido com o estudo de caso do artigo científico. 
O objetivo do site é procurar e selecionar o que há de melhor em multidão de vozes, 
para fornecer ao leitor uma curadoria desse conteúdo gerado espontaneamente. Considerado o 
maior êxito do jornalismo online pelo O Globo4 e Observatório da Imprensa5, The Huffington 
Post é fundado em 2005 pela escritora ateniense Arianna Huffington nos Estados Unidos. Em 
entrevista, Arianna afirma que vê o webjornal como uma obra em andamento. “Não creio que 
chegará o dia em que acordarei e direi: "É isso! Isso é o 'Huffington Post'!" (HUFFINGTON, 
2011). 
Em 11 anos de história, The Huffington Post é lido por 14 países além do Brasil e EUA, 
incluindo Alemanha, Índia e Japão. O site agrega blogs de todo mundo que discutem assuntos 
 
4
 http://goo.gl/5HiF3V 
5
 http://goo.gl/eTuuPL 
14 
 
atuais de diversos segmentos, em 2010 o número de blogueiros chegou a 6.000. Além de possuir 
um site, o webjornal está presente em outras plataformas digitais. Huffington (2011) afirma que 
a maneira como as pessoas consomem notícias é muito diferente hoje. “Elas não querem só ler, 
querem se engajar, colaborar. Somos parte disso, do mundo do Facebook, do Twitter”, conclui. 
A versão brasileira do jornal online é criada em janeiro de 2014, após negociações com 
a editora Abril, com o nome de Brasil Post. Na época, um dos blogueiros do site, Ricardo 
Anderáos, jornalista, ambientalista e empreendedor social, destacava a importância deste 
lançamento em um momento que antecipava a Copa do Mundo e as eleições. “Uma rara 
conjunção de fatores promete fazer este ano um dos mais marcantes da história recente do nosso 
país” (ANDERÁOS, 2014). 
Em seu texto, Anderáos ressalva o tipo de jornalismo que o, na época, Brasil Post 
pratica. Segundo o autor, um dos diferenciais é como o veículo dialoga com as redes sociais. 
Para ele, nenhum outro canal de informação utiliza melhor esta ferramenta, seja monitorando o 
que acontece nas redes para alimentar sua pauta, seja viralizando seus conteúdos nas principais 
plataformas ou participando ativamente das conversas que eles geram nas redes. Anderáos 
também cita os blogueiros como outro pilar do Huffington Post, e conclui que, como já acontece 
com as edições de outros países, o Brasil está construindo uma rede de colaboradores que inclui 
desde personalidades internacionalmente conhecidas atépessoas comuns que, com sua opinião, 
nos ajudam a fomentar relevantes debates sobre os mais variados temas. 
Outro diferencial marcante do jornalismo praticado pelo Huffington Post é 
exatamente a maneira como ele trata os outros sites noticiosos, e que ganha o 
nome de "agregação de notícias". No Brasil Post os leitores não vão encontrar 
apenas as notícias produzidas por nossa redação, mas também links para 
outros sites e portais brasileiros, sempre que eles veicularem informações 
exclusivas ou relevantes. Assim, muitas vezes, a manchete de nossa home 
page poderá redirecionar os internautas diretamente para o sites da Folha, do 
Estadão, O Globo, Veja, Terra, G1, Exame ou UOL, entre outras fontes de 
informação online (ANDERÁOS, 2014). 
 
O autor ainda aponta a importância de todas as edições internacionais de The Huffington 
Post, já que há a possibilidade de traduzir livremente as notícias, além da troca de conteúdo 
com sites e revistas do Grupo Abril, como, Superinteressante, Exame e Planeta Sustentável. 
“Reunindo todos esses conteúdos, uma fantástica plataforma tecnológica e graças ao know-how 
que vem sendo desenvolvido desde 2005, tenho certeza de que nosso Brasil Post em breve 
ocupará um lugar de destaque no cotidiano dos brasileiros” (ANDERÁOS, 2014). 
No ano de 2015, o portal muda seu nome para Huffington Post Brasil pensando em 
destacar a marca HuffPost, já que o Brasil era o único dos 14 países que não adotava o nome. 
15 
 
Em entrevista à revista Exame6, Koda Wang, CCO (Chief Operating Officer) do HuffPost, 
responsável pelos negócios globais, acredita que o novo nome possa ajudar a reforçar a marca 
diante de usuários e anunciantes. “Ser parte do The Huffington Post significa ser parte de uma 
marca muito forte, com mais de 200 milhões de usuários em 15 países. Isso significa que o 
conteúdo e a influência do HuffPost serão trazidos para o Brasil e nossa relação com audiência 
e clientes ficará mais forte” (WANG, 2015). 
Caetano e Veiga (2015) fazem uma análise de alguns aspectos que configuram a 
estrutura e apresentação das imagens veiculadas no webjornal nos períodos de novembro de 
2014 e janeiro de 2015. Entre as reflexões, as autoras destacam a forma que o layout da página 
de superfície do site reitera uma forma de organização do material informativo tradicionalmente 
vinculado a estratégias. Elas finalizam discutindo a forma que o HuffPost Brasil distribui suas 
notícias. “O perfil apreendido é o de um jornal noticioso, de consumo rápido, voltado a fazer 
crer na objetividade da informação e na atualização constante de seus dados” (CAETANO; 
VEIGA, 2015, p. 135). 
Como Caetano e Veiga (2015) afirmam, o HuffPost Brasil possui a característica da 
atualização constante de seus dados. Este fato se confirma após analisar a página do Facebook 
do webjornal, onde matérias sobre diversos assuntos são publicadas de 30 em 30 minutos. Outro 
atributo que site que chama atenção são as editorias. No jornalismo tradicional, costuma-se 
encontrar editorias parecidas na maioria dos jornais, como economia, esporte e cultura, porém 
o HuffPost aborta conteúdos pouco levantados pelos meios de grande alcance. 
 
PAÍS MULHERES 
 
VOZES DA RUA LGBT 
DINHEIRO MUNDO 
 
EQUILÍBRIO LIVROS E HQS 
VIRAL TEM JEITO! FAMÍLIA HOMEM MODERNO 
ANIMAIS TECH 
 
MEIO AMBIENTE CIÊNCIA 
SAÚDE EDUCAÇÃO 
 
ARTE DIVERSÃO 
COMPORTAMENTO ESPORTES 
 
LGBTfobia 
Tabela 1: Editorias do HuffPost Brasil 
Fonte: produzido pela autora 
 
Mulheres, Vozes de rua, LGBT, Ciência, Equilíbrio, Livros e HQs e Tem Jeito! 
(jornalismo de soluções), são os canais que se diferem dos outros veículos de comunicação. 
Esta linha editorial entrou em vigor a partir da mudança do nome para HuffPost Brasil que, 
 
6
 http://goo.gl/1JqXFX 
16 
 
segundo Diego Iraheta, Editor Chefe do canal, fomenta a pluralidade de ideias e o debate 
construtivo na esfera pública. Diego ainda afirma que esses assuntos são tão prioritários quanto 
País (política e cotidiano), Dinheiro e Mundo. 
A editoria Mulheres ressalva notícias de todo o mundo sobre o universo feminino e suas 
conquistas. Vozes de rua destaca a participação da população em movimentos sociais e 
políticos, uma vez que o país vive um momento de grande engajamento na política. Já o LGBT 
discute fatos sobre a homossexualidade de uma maneira que faz o leitor refletir sobre o assunto. 
A seção Equilíbrio é criada em fevereiro de 2016 com o objetivo de sistematizar a cobertura de 
assuntos de saúde mental e emocional e falar com clareza e delicadeza sobre sentimentos, 
sensações, atitudes. Por fim, o canal Tem Jeito! mostra pessoas comuns que superam desafios. 
Em cada seção, os blogueiros7 que escrevem para site focam nas informações mais 
significativas para elaborar matérias abrangentes e engajar o leitor. Conforme um texto 
publicado8 pela redação do webjornal, todos são produtores e consumidores de informação: 
interagem, comentam e se engajam com tudo o que veem. Por isso, o HuffPost Brasil acredita 
que a repercussão de um fato é tão relevante quanto o fato por si próprio. “Em um jornal comum, 
o ciclo da notícia termina quando ela é publicada. No The Huffington Post, é o contrário: o 
ciclo começa a partir da sua publicação, com blogs, comentários e curadoria”. 
Na comemoração de dois anos do jornal digital no Brasil, Diego Iraheta se diz 
entusiasmado com a evolução do site. Ele reforça que o HuffPost Brasil tem se destacado na 
cobertura de temas antes muito pouco explorados pela mídia nacional, com grande repercussão 
nas redes sociais. Entre eles estão o empoderamento feminino e a batalha por maior visibilidade 
à comunidade LGBT. Além de marcar posição contra a aprovação do Estatuto da Família, pela 
Câmara dos Deputados e a favor das uniões homoafetivas e respectivas famílias aqui no Brasil. 
Sim, temos nossas posições, mas nossa plataforma é aberta e plural. Por isso, 
temos hoje uma rede de 700 blogueiros, que oferecem diversos contrapontos, 
inclusive à nossa própria visão. Comunistas, ativistas da direita, petistas, 
liberais, todos têm voz e vez por aqui -- contanto que não postem textos que 
desrespeitem nem discriminem. Nosso radar logo capta as conversas que estão 
tomando as redes, as fotos ou postagens de pessoas comuns que contam 
histórias incríveis. Assim, construímos coletivamente com nossos leitores, 
fonte de inspiração e transpiração, o que é notícia, o que merece nosso olhar, 
nossas palavras e a sua atenção, o seu tempo ( IRAHETA, 2016). 
 
Como Iraheta (2016) afirma, o HuffPost Brasil faz a cobertura de temas com grande 
repercussão nas redes sociais, por isso o jornal digital está presente em várias plataformas ao 
 
7
 Entre os 700 blogueiros, há nomes tão diversos quanto o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o 
deputado estadual Marcelo Freixo, o Jovem Soropositivo, e a mãe e cientista Lígia Sena. 
8
 http://goo.gl/Mbi554 
17 
 
mesmo tempo - Facebook9, Twitter10, Instagram11, Google+12 e Pinterest13 - além do Youtube14, 
que é usado de apoio para publicações de vídeos ligados a matérias. No Facebook, Twitter e 
Google+ publica-se matérias distintas em conta do público-alvo porém na mesma intensidade, 
já o Instagram e Pinterest não são atualizados diariamente e têm pouca visibilidade dos usuários 
da rede. O Facebook é o maior meio de comunicação do site, uma vez que é a rede social que 
o HuffPost Brasil tem mais leitores, são 553.002 curtidas, além de conseguir maior proximidade 
com o receptor. 
Para fazer a análise do conteúdo e das métricas foi utilizado o Facebook pelos 
argumentos acima e também por ser mais acessível de acompanhar e monitorar. Analisando as 
postagens da página durante umasemana, é possível afirmar que, durante a manhã, jornal online 
publica matérias frias, que não requer publicação imediata. Na maioria das vezes, são textos de 
autoajuda e motivação escritos em variados anos que geram, em média, 100 curtidas. Durante 
o passar do dia, a redação fica atenta com o que está acontecendo de mais importante para filtrar 
o que é de mais significativo para o seu leitor. 
Como na Internet os dados são expostos em tempo real, o HuffPost Brasil publica as 
matérias quentes no menor tempo possível. Um exemplo disso foi quando o aplicativo de 
transporte, Uber, foi legalizado em São Paulo, o webjornal divulgou, na mesma hora, uma 
matéria sobre este assunto, que ainda rendeu grande engajamento com mais de três mil curtidas. 
Porém, os textos que mais geram engajamento tanto de curtidas quanto de comentários e 
compartilhamentos, são aqueles que falam sobre política, LGBT e ajuda humanitária, que 
chegam, em média, a mais de 10 mil curtidas, mil comentários e três mil compartilhamentos. 
Usando o exemplo da matéria da regulamentação do Uber, pode-se analisar o conteúdo 
dos textos publicados no online e no Facebook. O que mais chama atenção é o título veiculado 
na rede social pelo fato de conter verbos no imperativo, frases de efeitos e palavras que são 
bastante ditas no meio digital. “Com decreto, Haddad libera Uber em São Paulo” é o título da 
matéria no site do jornal digital, já o título da rede social é “Vai ter Uber legalizado em São 
Paulo: Haddad libera aplicativo da cidade”. A diferença entre os dois é perceptível, uma vez 
que o do site é usual do jornalismo tradicional, destacando o fato principal sem nenhum outro 
artifício jornalismo. 
 
9
 https://www.facebook.com/HuffPostBrasil/ 
10
 https://twitter.com/huffpostbrasil 
11
 https://www.instagram.com/huffpostbrasil/ 
12
 https://plus.google.com/+BrasilPost 
13
 https://br.pinterest.com/huffpostbrasil/ 
14
 https://www.youtube.com/user/brasilpost 
18 
 
O título do Facebook revela a intenção de conversar com o leitor utilizando a uma 
linguagem mais informal e um termo que está em voga nas redes sociais, o “vai ter”, que é mais 
comum entre jovens e está sendo usado nas causas defendidas por eles. Outra tática usada é o 
uso do verbo no imperativo que chamam o leitor para abrir o link da matéria, os mais usados 
são veja e assista. Um ouro diferencial do webjornal é a inclusão de opiniões nos texto, uma 
vez que quem escreve são blogueiros com pensamentos distintos, isso causa uma participação 
intensa dos leitores e aumenta a troca de ideia. 
Após acompanhar as redes sociais do HuffPost Brasil é possível perceber o formato 
inovador do jornal digital a partir do momento que existem colaboradores que escrevem para 
site que não são obrigatoriamente jornalistas. Neste modelo, o emissor não é exatamente um 
jornalista, mas também um político ou cientistas, que inclui suas apreciações em notícias que 
já são do conhecimento de todos. A escolha das matérias para publicação é feita de acordo com 
a preferência do seu público-alvo, por isso pode-se dizer que o HuffPost Brasil faz uma 
curadoria de notícias e se torna um gatewatcher. 
O HuffPost Brasil é composto por 17 profissionais na redação que funcionam como os 
alimentadores e editores do site. A Head de Digital e Mobile é Sandra Carvalho. Na redação, o 
Editor Chefe é Diego Iraheta, a Editora Sênior de Notícias é Luciana Sarmento, a de Blogs & 
Mulheres é Andréa Martinelli e a Editora de Mídias Sociais & Viral é Ione Aguiar. André 
Murched é Designer e Editor de Vídeo, Ana Júlia Gennari, Estagiária e Elizabeth Costa, 
Moderadora de Comentários. 
Na área de Business, há o Gerente de Marketing, Edson Ferrão e o Analista Sênior de 
Marketing, Rafael Gajardo. Como Repórteres, o HuffPost Brasil tem Thiago de Araújo no País 
e Vozes da Rua, Grasielle Castro em País (Brasília), Luiza Belloni na editoria Dinheiro, 
Gabriela Bazzo em Mundo, Rafael Nardini na área de Esporte e Vozes da Rua, Caio Delcolli 
em Livros e HQs, Cinema e LGBT e Amauri Terto em Identidades, Música e Viral. 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
Este artigo tem como principal finalidade analisar a evolução do jornalismo no meio 
virtual, desde os primórdios da popularização da internet e suas mudanças. Para entender cada 
avanço da comunicação, é preciso estudar as seis eras culturais de Lucia Santaella até o 
surgimento da era digital e as consequências dela para o jornalismo. A era digital é marcada 
19 
 
pela fusão da era das mídias e de massas, resultando na convergência dos veículos de 
comunicação. 
A democratização do acesso à informação permite que as pessoas estejam mais atentas 
ao conteúdo que a mídia produz, uma vez que a produção de notícias é cada vez maior e os 
meios de informação crescem a cada momento. Esta realidade traz maior cobrança ao jornalista 
na parte de apuração e redação, tendo a responsabilidade de escrever matérias com fatos muito 
recentes, quase em tempo real, com maior veracidade. 
Nas redes sociais virtuais, o indivíduo passa a ter o poder de compartilhar suas 
experiências e acontecimentos do seu dia a dia. Isto significa que ele também faz o agendamento 
das notícias assim como o jornalista, pois o indivíduo controla quais informações são 
divulgadas em seu perfil. Podendo fazer isto, ele se torna um curador pelo fato de escolher, em 
meio há uma infinidade de notícias, as mais relevantes para compartilhar com o seu grupo. 
A circulação de dados e informações pela Internet acarreta em uma imensa troca de 
notícias sobre diversos assuntos entre grupos distintos. Isso faz com que o jornalista preste cada 
vez mais atenção no que é dito na rede a fim de encontrar pautas que possam ser levadas para 
a estrutura oficial da mídia. A monitoração das redes é feita por um gatewatcher, função que 
vem se tornando mais importante com o avanço da tecnologia no meio da comunicação, pois 
agora o jornalista não mantém a informação com ele, e sim com todos que se comunicam na 
rede. 
O jornalismo vive um momento de transição do tradicional para o moderno, modelos de 
jornais impressos estão migrando para o meio virtual para se conectar com o seu leitor e a cada 
dia novos jornais online são criados por qualquer cidadão. Percebe-se que na web são discutidos 
assuntos de temas variados e o jornalista precisa estar monitorando cada informação dada para 
decidir incluir ou não em sua pauta. 
Por isso, as universidades devem preparar o futuro profissional para o jornalismo 
colaborativo e com editorias que fogem do comum. É importante também que os jornalistas 
veteranos entendam que há um novo modelo de negócios para o jornalismo em emergência e 
que no futuro, a relação entre o tradicional e o moderno irá entrelaçar ainda mais. Diante desta 
realidade, os estudantes de comunicação precisam se deparar com distintos meios de construir 
uma matéria durante os anos de faculdade. 
 
 
 
 
20 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
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comunicador num cenário de curadoria algorítmica de informação. In: AMARAL A; 
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