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FACULDADES INTEGRADAS HÉLIO ALONSO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Ana Beatriz Alves Rapozo DO GATEKEEPER AO GATEWATCHER: NOVAS FORMAS DE PRODUÇÃO DE INFORMAÇÃO NO JORNALISMO DO HUFFPOST BRASIL Rio de Janeiro 2016 Ana Beatriz Alves Rapozo DO GATEKEEPER AO GATEWATCHER: NOVAS FORMAS DE PRODUÇÃO DE INFORMAÇÃO NO JORNALISMO DO HUFFPOST BRASIL Artigo apresentado ao Curso de Graduação em Comunicação Social das Faculdades Integradas Hélio Alonso como requisito parcial a obtenção do título de Bacharel em Jornalismo, sob a orientação do Prof. Marcio Gonçalves. Rio de Janeiro 2016 Resumo: O HuffPost Brasil é um dos principais jornais digitais que agrega blogs e opiniões de todo o mundo. O objetivo deste estudo é analisar a estrutura jornalística, os meios e as estratégias que o jornal usa para alcançar seu leitor após as novas relações entre emissor e transmissor que ocorrem com a popularização da Internet. Para entender cada método usado, é necessário destrinchar os momentos das eras culturais até chegar à era digital e compreender as mudanças que ela trouxe para a comunicação, por isso este artigo explica os efeitos da era digital na sociedade. Ademais, a democratização dos meios virtuais modifica a transmissão das informações, isto é, há novos emissores de notícias que não são necessariamente jornalistas, criando assim o termo jornalista curador e a transição do gatekeeper para o gatewatcher, usados diretamente no estudo de caso, o HuffPost Brasil. Palavras-chaves: HuffPost Brasil, internet, era digital, gatekeeper, gatewatcher, jornalista curador. Abstract: HuffPost Brasil is one of the leading digital newspapers which aggregates blogs and reviews from around the world. The purpose of this study is to analyze the journalistic structure, means and strategies that the newspaper uses to reach his reader after the new relations between sender and transmitter occurrences in with the popularization of the Internet. To understand each method used, it’s necessary to disentangle the moments of cultural until reach the digital era and understand the changes to communication, so this article explains the effects of the digital era in society. Moreover, the democratization of virtual means modifies the transmission of information, that is, there are new issuers of information who are not necessarily journalists, thus creating the term curator journalist and the transition from the gatekeeper to the gatewatcher, used directly in the case study, the HuffPost Brasil. Key words: HuffPost Brasil, internet, digital era, gatekeeper, gatewatcher, curator journalist 4 INTRODUÇÃO O jornalismo se transforma a cada veículo de comunicação que surge na sociedade, já que é a partir dos meios que há a distribuição de notícias. Em todas as mídias antes da popularização da Internet – jornal impresso, TV e rádio – o contato entre o emissor e o receptor era feito por cartas ou telefone, havendo pouca integração entres eles. A partir do momento que o jornalismo migra para o mundo digital, há uma transformação na troca de informações e na relação com o seu leitor. Na era digital, o emissor participa diretamente das sugestões de pauta, já que ele consegue transmitir notícias que acontecem próximo a sua localidade para um grupo de seguidores nas redes de relacionamentos virtuais, criando visibilidade até chegar aos veículos de comunicação. Neste momento, os veículos, que já estavam no impresso ou na TV, fazem parte do meio digital, pois percebem a força que qualquer individuo possui para publicar informações importantes para a estruturo oficial da mídia. O cidadão se torna uma fonte essencial para o jornalista e um dos principais meios de transmissão de conteúdo no meio virtual. Diante deste fato, o jornalista, antes considerado gatekeeper, se transforma em gatewatcher, isto é, ele não possui mais as informações para construção de pautas, e sim monitora publicações das notícias nas redes sociais para definir assim, quais irão ser divulgadas em seu veículo. Outro papel também surge no advento da Internet, o jornalista curador, este seleciona as matérias mais interessantes para o seu público- alvo e as publica com seu ponto de vista e opinião. A Internet permite a criação de novos jornais a qualquer instante, pois os usuários já possuem o poder de comunicar o que eles consideram importante para a sua rede de seguidores. O HuffPost Brasil surge desta ideia, a agregação de blogs em uma única página que discute assuntos variados. Este estudo consiste em entender as transformações que o virtual trouxe para o jornalismo e o surgimento de novas funções, por fim analisando um exemplo desta nova era, o HuffPost Brasil. 5 1 EFEITOS SOCIAIS DA ERA DIGITAL O século XXI é marcado por diversas transformações no universo da comunicação digital. Desde o avanço das relações virtuais, até o smartphone da última geração, a sociedade se depara com novos e inovadores meios de mediação da comunicação. Porém, transformações assim acontecem desde o século passado com o advento da rádio e da televisão. Para entender cada momento da comunicação, Santaella (2003) estuda as seis eras culturas – oral, escrita, impressa, de massas, das mídias e digital. Cada era está definida de acordo com quais meios de comunicação são capazes de mudar as relações humanas, além de moldar o pensamento do ser humano e permitir a criação de novos ambientes socioculturais. Santaella (2003) afirma ainda que prefere chamá-las de formações culturais para transmitir a ideia de que não se trata de períodos culturais lineares, mas sim de que “há sempre um processo cumulativo de complexificação: uma nova formação comunicativa e cultural vai se integrando na anterior, provocando nela reajustes e refuncionalizações” (SANTAELLA, 2003, p. 13). Com o desenvolvimento e o surgimento das plataformas digitais, os conceitos cultura das mídias e a cultura digital ganham maior significado. Santaella (2003) destaca que cultura de massas, cultura das mídias e cultura digital, embora convivam hoje em um imenso caldeirão de misturas, apresentam cada uma delas caracteres que lhes são próprios e que precisam ser distinguidos. “Uma diferença gritante entre a cultura das mídias e a cultura digital, por exemplo, está no fato muito evidente de que, nesta última, está ocorrendo a convergência das mídias, um fenômeno muito distinto da convivência das mídias típica da cultura das mídias” (SANTAELLA, 2003, p. 17). A autora ainda comenta que “a cultura das mídias não se confunde com nem com a cultura de massas, nem com a cultura digital ou cibercultura de outro. É, isto sim, uma cultura intermediária, situada entre ambas” (SANTAELLA, 2003, p. 13). Isto quer dizer que a cultura digital surge pelos processos de produção, distribuição e consumo de comunicações na cultura de mídias. A última década é caracterizada pela expansão da Internet e o surgimento das redes sociais, o Facebook, criado em 2004 por Mark Zuckerberg, é considerado um dos maiores meios de se comunicar. Nele, qualquer cidadão pode compartilhar seus pensamentos, fatos que acontecem com ele durante sua rotina e opiniões sobre diversos assuntos para uma grande quantidade de pessoas. “O aspecto mais espetacular da era digital está no poder dos dígitos para 6 tratar toda informação, som, imagem, vídeo, texto, programas informáticos, com a mesma linguagem universal, uma espécie de esperanto das máquinas” (SANTAELLA, 2003, p. 71).As mudanças tecnológicas e de comportamento que ocorrem desde o surgimento da Internet interferem diretamente no trabalho do jornalista, isto porque o receptor passa a receber as notícias de diversos meios, como no jornal, rádio e em sites de notícias, além de blogs independentes. Quando o emissor percebe que o seu telespectador encontra informações concretas em tempo real e em vários canais, ele precisa está conectado o tempo inteiro para transmitir sempre novas informações com seu ponto de vista. Santaella (2003) assinala que nos anos 80 a mistura de linguagens já acontecia. “Novas sementes começaram a brotar no campo das mídias com o surgimento de equipamentos e dispositivos que possibilitaram o aparecimento de uma cultura do disponível e do transitório” (SANTAELLA, 2003, p. 15). O avanço dos canais de comunicação permite que as notícias permeiem em mais de um meio. Isto é, o que é falado na Internet pode ser transmitido em programas de televisão, por exemplo. Esta unificação é chamada de hipermídia, quando há uma conexão entre documentos de diferentes tipos de mídia. “Percebemos que quanto mais a rua fala, quanto mais os dispositivos móveis nos conectam, mais desejamos consumir e pertencer a um espaço virtual” (FERRARI, 2014, p. 25). O jornalista passa a entender que os dados estão disponíveis em um clique e que eles são falados e modificados a cada instante, por isso ele tem a meta de entender qual conteúdo deve ser transmitido no seu veículo. “À medida que a automação avança, vai ficando claro que a informação é o bem de consumo mais importante e que os produtos "sólidos" são meramente incidentais no movimento informacional” (MCLUHAN, 2007, p.234). Os meios de comunicação também transformam a interação em algo global, ou seja, o que é falado no Brasil pode chegar ao outro lado do mundo através da rede social, e assim possibilita que diferentes pessoas possam compartilhar assuntos de interesse de ambos. Cardoso (2009) cita que este contato é, provavelmente, a novidade mais importante nas mudanças atuais trazidas pela comunicação no cotidiano. Ao trazer a comunicação para um nível global, através da transmissão, e mais tarde, ao permitir às pessoas “serem” globais, através do uso de tecnologias globais, como a Internet e as redes de telemóveis, construímos uma rede comunicacional que pode ser moldada às necessidades dos seus utilizadores, seja pelo acesso a conteúdos, a pessoas ou a ambos (CARDOSO, 2009, p. 28). Quando qualquer indivíduo passa a ter o poder de informar para um grande grupo acontecimentos que ocorrem durante o seu dia a dia, o comunicador encontra uma realidade que nunca tinha visto. Um cidadão comum agora pode ser um transmissor de notícias, já que 7 muitas vezes as informações já possuem o lead – o que, quem, quando, onde, como e porquê – e até vídeos. Neste momento, o jornalista entra em conflito, pois o cidadão pode ter um espaço maior na rede como um comunicador, mas ao mesmo tempo, percebe que este ele se torna uma fonte importante. A Consumer-Generated Media (CGM) ou Mídia Gerada pelo Consumidor, presente em comentários de blogs, listas de discussão, grupos no WhatsApp, postagens do Tumblr, Twitter, Youtube, Instagram etc, tem modificado nossa forma de absorver conteúdo, e fico com a sensação de que os portais ainda correm atrás do prejuízo, mas sem entender que essa nova mídia está baseada no compartilhamento, na troca, na conversa. As mudanças são enormes e profundas. Muitas ainda nem foram assimiladas pelos veículos de comunicação, mas já estão sendo viabilizadas pelas redes sociais da web (FERRARI, 2014, p. 21). Esse fato permite o aumento do jornalismo colaborativo, no qual o público participa da produção de conteúdo. Antes do avanço das redes sociais, o cidadão já interagia com os jornais por meio de cartas ou telefonemas, contudo a era digital diminui ainda mais a distância entre o autor e seu leitor. Isso faz com que o tradicional gatekeeper, aquele quem define quais notícias serão veiculadas, perca um pouco do seu valor, pois agora as informações necessárias para uma matéria estão disponíveis para o conhecimento em tempo real. Ferrari (2014) acredita que a práxis jornalística tradicional, o controle da informação está no emissor, já na jornalística digital, deve-se privilegiar o sujeito que decide, caindo assim por terra a teoria do gatekeeper. A autora conclui que o papel do gatekeeper na teoria do jornalismo sempre foi selecionar a informação que será ingerida pelo leitor, fazendo com que o receptor não perceba a edição da informação. “No caso das narrativas hipertextuais, o foco muda e o poder de escolha passa para as mãos do leitor” (FERRARI, 2014, p. 80). Neste momento, surge o termo gatewatcher, o jornalista que seleciona as notícias mais relevantes para o seu público-alvo. A curadoria de notícias também passa a ser uma importante aliada para o trabalho do escritor, visto que em meio a uma infinidade de trocas de dados, o jornalista precisa entender o que é de mais importante transmitir para o seu receptor. Segundo os conceitos levantados, as seis eras culturais permitem interpretar cada momento da comunicação e os seus meios. O último período estudado por Santaella é a digital, um fusão entre a era de massas e das mídias. A partir desta época, a convergência das mídias passa a ser um fator crucial para a distribuição de matérias, uma vez que o leitor se encontra um mais de um veículo de comunicação ao mesmo tempo e recebe muitas informações ao mesmo tempo e filtra as mais relevantes. Ademais, o receptor se encontra muitas vezes no papel do emissor pela facilidade de transmitir dados nas redes sociais virtuais, causando mudanças no ofício do jornalista. 8 2 A TRANSIÇÃO DO GATEKEEPER PARA O GATEWATCHER O termo gatekeeper se refere ao jornalista que possui o poder de decidir quais informações que chegam durante o dia na redação são consideradas as mais relevantes para a publicação. Em meio a um turbilhão de acontecimentos, apenas os considerados mais importantes de acordo com alguns critérios, entre eles o valor-notícia e linha editorial, são passados a diante para a produção. O jornalista que desempenha esta função é considerado o “porteiro”, tradução da palavra gate, pois “ele é responsável pela progressão da notícia ou por sua “morte”, caso opte por não deixá-la prosseguir, o que significa evitar a publicação” (PENA, 2006, p. 133). A teoria do gatekeeper avança igualmente uma concepção bem limitada do trabalho jornalístico, sendo uma teoria que se baseia no conceito de “seleção”, minimizando outras dimensões importantes do processo de produção das notícias, uma visão limitada do processo de produção das notícias (TRAQUINA, 2005, p. 151). A teoria do gatekeeping surge em 1947 no campo da psicologia por Kurt Lewin1, que estuda os problemas ligados à modificação dos hábitos alimentares em um determinado grupo social. A partir de 1950, este termo é ligado ao jornalismo pelo David Manning White, que começa a analisar como ocorrem as filtragens de notícias nas redações dos veículos de comunicação. Para concluir sua teoria, White tem como estudo de caso a metáfora do Mr.Gates, ele passa a acompanhar um jornalista de meia idade que tem a função de selecionar entre todos os dados que chegam à redação, os que seriam publicados. Após uma semana de análise, White conclui que as escolhas de Mr.Gates são subjetivas e feitas a partir de valores baseados em suas experiências e expectativas. Entre outros resultados, os que se destacam são que de cada dez sugestões de pauta, noves são rejeitados, além disso, White percebe que quanto mais tarde chega uma informação, ela tem maior possibilidade de ser descartada. McCombs (2009) acredita que o gatekeeping está ligado coma Teoria da Agenda2 no início da década de 1980 quando os acadêmicos perguntam “Quem é que define a agenda da mídia?” e as respostas identificam uma rede de relações e influências que se estendem além da 1 Kurt Lewin, psicólogo alemão-americano, discute em sua teoria a possiblidade da mudança de hábitos alimentares de uma população. Por fim, ele percebe que “existem canais por onde flui a sequência de comportamentos relativos a um determinado tema. Estes canais desembocam em uma zona de filtro (o gate), que é controlada por quem tem o poder de decidir (o gatekeeper)” (PENA, 2006, p. 134). 2 Reunião para o agendamento das pautas antes da aprovação do gatekeeper. 9 mídia noticiosa. “Dentro da matriz constituída por jornais, revistas, TV, e, mais recentemente, com a internet, o exame desta questão expandiu-se reconceituando gatekeeping como o agendamento intermídia” (MCCOMBS, 2009, p. 136). Como dito anteriormente, os anos 80 é marcado pelo avanço dos meios de comunicações digitais. Além de Santaella (2003), Pollyana (2014) destaca a década e suas mudanças, entre eles o começo das transmissões da rede norte-americana CNN. “Da metade do século XX em diante, os jornais passaram a ser também radiodifundidos e teledifundidos, o que provocou alterações nos formatos narrativos” (POLLYANA, 2014, p. 79). Antes dos avanços tecnológicos no meio da comunicação, o jornalista detêm as informações para si, sendo a principal fonte de notícias da sociedade. Por isso o papel do gatekeeper é essencial em uma redação, pois ele define o posicionamento que o jornal terá. Paes (2008) cita que “o profissional faz escolhas e interfere diretamente no seguimento de determinada notícia-informação” (PAES, 2008, p. 3). Nesta época, o receptor é considerado passivo, ou seja, não tem a possibilidade de comunicar informações que ele possui para uma grande massa. Na era digital, a relação entre o emissor e o receptor se modifica, e o emissor também se torna um transmissor de informações para um grande público. Santaella (2003) afirma que mudanças profundas foram provocadas pela extensão e desenvolvimento das hiper-redes multimídia de comunicação interpessoal. “Cada um pode tornar-se produtor, criador, [...] difusor de seus próprios produtos. Com isso, uma sociedade de distribuição piramidal começou a sofrer a concorrência de uma sociedade reticular de integração em tempo real” (SANTAELLA, 2003, p. 82). O jornalista passa a perceber que as notícias já estão sendo distribuídas na rede e ele precisa estar monitorando cada fonte de informação para assim definir suas pautas levando em consideração as preferências do seu leitor. “Os anúncios classificados [...] constituem o alicerce da imprensa. Se encontrar uma outra fonte de fácil acesso para obtenção diária dessas informações, a imprensa cerrará as portas” (MCLUHAN, 2007, p.235). As mudanças da comunicação virtual afetam as tarefas do jornalista nos processos de apuração e redação, uma vez que ele recebe centenas de notícias ao mesmo tempo e algumas delas já estão apuradas pelo cidadão e distribuídas. Com o gatekeeper não é diferente, seu modo de realizar suas funções alteram, uma vez que a Internet proporciona uma audiência mais participativa e uma troca de dados mais rápida e eficiente. Ele agora não retém todas as informações para selecionar e depois publicar, pois tudo que é recebido já está ao alcance do público. 10 Sem limitações espaciais, o jornalista pode publicar uma maior quantidade de notícias nos mais variados formatos e com possibilidade de ligação a outras fontes e documentos através de links. Esta disponibilidade espacial tendencialmente infinita acaba por se transformar num potencial obstáculo para os leitores, pois a cada segundo que passa são disponibilizadas milhares de notícias na Web (CANAVILHAS, 2010, p. 4). A popularização do uso de meios digitais causa a redefinição do papel do gatekeeper, pois há novos canais de comunicação virtual para a troca de informações. “Tornou-se impossível ao jornalista e aos media em geral continuarem a manter a guarda de tantos portões num contexto de acessibilidade geral” (ARAÚJO; CARDOSO; CHETA; NETO, 2009, p. 72). Diante desta realidade, encontram-se estudos que defendem a mudança do desempenho do gatekeeper para gatewatcher. “Tais linhas de pensamento sustentam que as pessoas nas redacções estão a modificar a sua definição de gatekeeper, passando a incorporar as funções de controlo de qualidade e significado” (ARAÚJO; CARDOSO; CHETA; NETO, 2009, p. 72). A função do gatewatcher é determinar as notícias mais relevantes para o seu meio e não necessariamente para toda uma população. Ele faz essa seleção de acordo com suas convicções pessoais e inclui opiniões nas informações, além disso, não há a necessidade de ser um jornalista, pois no meio digital qualquer pessoa pode expressar suas convicções e ideias. “O gatewatcher funciona com um analista de mercados financeiros que aconselha os seus seguidores/amigos a investirem a sua atenção neste ou naquele tema, publicando os links para as notícias” (CANAVILHAS, 2010, p. 5). Tais pontos de vista não preconizam, no entanto, o fim dos gatekeepers, apenas defendem a criação de novos guardiões, tais como os motores de busca (Cardoso, 2006). Ou seja, mais do que desaparecer, a função de gatekeeper tende a sofrer alterações, numa lógica complementar com a função do gatewatcher (ARAÚJO; CARDOSO; CHETA; NETO, 2009, p. 72). O termo gatewatcher ainda é recente, porém percebe-se que os portais de notícias estão se adequando a esta estrutura de ter alguém ou uma equipe para eleger as informações mais interessantes para o seu leitor. Um exemplo disso é o jornal online The Huffington Post, ele agrega blogs de diversos assuntos e está presente em múltiplos países, mais a frente do artigo terá um estudo de caso sobre este webjornal. Após definir esses termos e colocá-los em ordem cronológica de acordo com o avanço da comunicação virtual, pode-se afirmar que o jornalismo se adequar ao cenário atual das relações interpessoais. Na era digital, o gatekeeper perde um pouco de seu valor, pois a participação do emissor é cada vez mais ativa, além de haver um aumento significativo de canais de comunicação. Já o papel de gatewatcher se torna indispensável, visto que ele permite 11 construir grupos seletivos de acordo com interesses comuns em redes virtuais, aumentando sua audiência e a participar do leitor. 3 A POSIÇÃO DO JORNALISTA CURADOR NA REDE A expressão curadoria é importante e conhecida na área das Artes. Por definição, um curador tem como tarefas a organização, montagem e escolha das peças de um conjunto de obras de um artista para sua exposição. Segundo Grossman (2013), “a curadoria ocupa hoje uma posição central no sistema da arte, em permanente negociação com outras formas de mediação cultural, sejam elas as educativas, de gestão cultural e também as de gestão de patrimônio/coleções”. O termo curadoria entrou na categoria dos ciber-significados de uma forma impactante e muito recentemente. O bem conhecido e consolidado curador das artes ou aquele curador gestor legal de patrimônios passaram a conviver com uma multidão de curadores da informação, curadores digitais, curadores de festas, de musicas, de programações, de coletâneas literárias, entre outras novas funções que necessitam de “cura” para se concretizarem (CORRÊA, 2012, p. 8). Com a popularização do acesso à Internet, o número de dados compartilhados por minuto cresce a cada ano. Para calcular este número, a empresa Domo construiu, em 2015, infográficos que demostram a quantidade brutal de dados digitais que são criados a cada minuto, o “Data Never Sleeps”3, (DadosNunca Dormem). O infográfico apresenta números dos mais importantes sites que a população mundial acessa. O estudo mostra, por exemplo, que o Facebook recebe 4.166.667 de likes por minuto, já no Twitter, os usuários postam 347,222 em 60 segundos. Em meio a uma grande quantidade de troca e absorção de informações na rede, o jornalista encontra uma realidade onde todos que estão conectados à Internet já sabem o que está acontecendo ao redor do mundo em tempo real. Por isso, é necessário que o curador de notícias esteja interligado com todas para redes sociais - Facebook, Twitter e Instagram - para, assim, filtrar os dados e organizá-los em grau de importância e distribuir para seus leitores. Weisgerber (2012, tradução nossa) define que há oito etapas no trabalho de um jornalista curador, que para ele, são consideras essenciais para um bom resultado, São elas: Identificar 3 https://www.domo.com/blog/2015/08/data-never-sleeps-3-0/ 12 nichos, selecionar as informações; contextualizar o conteúdo; classificá-lo; creditar fontes; identificar sua audiência; providenciar espaço e monitorar e o engajamento. O autor conclui que “um curador adiciona um ponto de vista e contextualiza a informação que ele está apurando enquadrando, assim, a mensagem”. Já Bertocchi e Corrêa (2012) destacam a presença de soluções algorítmicas para lidar com o excesso de informações. “O buscador Google (e outros mais segmentados) e a rede social Facebook são baseados em algoritmos curadores que decidem qual a informação será disponibilizada” (BERTOCCHI; CORRÊA, 2012, p. 129). Os algoritmos são códigos de programação usados por programadores de buscadores e redes sociais para definir os dados mais relevantes de acordo com cada usuário. “No cenário da comunicação digital, a rigor, o algoritmo trabalha com a missão de expurgar informações indesejáveis, oferecendo apenas o que o usuário julgaria eventualmente o mais relevante para si” (BERTOCCHI; CORRÊA, 2012, p. 129). Partindo deste estudo, as autoras discutem a função do jornalista curador na rede ao perguntarem se só a máquina que decide sobre as preferências do usuário. A partir disto, elas refletem sobre a curadoria jornalística partindo do pressuposto de que o profissional, “por vivenciar a proximidade com aquele que quer e deve ser informado, possui um cabedal de variáveis importantes sobre processos de escolha, gostos, direcionamento da formação de opinião, variação de padrões sociais” (BERTOCCHI; CORRÊA, 2012, p. 138). A curadoria humana pura e simples (sem os procedimentos matemáticos), por outro lado, é mais livre para olhar para o futuro. Um curador de conteúdos é capaz de agregar novas e inusitadas perspectivas à informação, oferecendo aos seus usuários a surpresa, o inesperado ou simplesmente aquilo que o usuário nem imaginaria existir no mundo e sobre o mundo, ampliando seu próprio entendimento de mundo (BERTOCCHI; CORRÊA, 2012, p. 137). A partir das definições sobre os algoritmos curadores e a curadoria jornalística, Bertocchi e Corrêa (2012) apontam que “mesmo em um contexto de abundância informativa onde a máquina processa mais rapidamente e melhor as informações, a comunicação, o jornalismo e seus profissionais permanecem indispensáveis por pelo menos dois motivos” (BERTOCCHI; CORRÊA, 2012, p. 135). O primeiro motivo é que robôs não conseguem interagir como humano de forma natural, já o segundo motivo é que no espaço semântico, robôs inteligentes percebem o comportamento do usuário e fornecem a ele somente as informações que ele próprio deseja e escolhe. “Chega-se, portanto, ao nível máximo da personalização, o que, para além das vantagens evidentes, traz algumas implicações indesejáveis” (BERTOCCHI; CORRÊA, 2012, p. 137). 13 Por fim, as autoras chegam a conclusão de que ‘quanto mais informações circunstanciais, sociais e comportamentais se fizerem necessárias para a modelagem do algoritmo, mais deveria ser exigida a participação do elemento humano como alimentador do modelo e, especialmente, como refinador ao longo da vida útil do algoritmo” (BERTOCCHI; CORRÊA, 2012, p. 138). Assim como o gatewatcher, o curador analisa o mercado que ele deseja atingir para selecionar as informações mais rentáveis que possam ser publicadas em seu jornal, revista ou blog de acordo com seu público-alvo. Silva (2012) destaca que um dos desafios da curadoria é o processo de seleção das notícias, já que é necessário alcançar e agradar de modos diferentes determinados grupos. “Entre os desafios para a curadoria de conteúdo on-line, o imperativo da visibilidade se torna um tentador desviante, pois a curadoria é, quase que necessariamente, acompanhada de uma estrutura de nicho, para públicos menores” (SILVA, 2012, p. 78). 4 ESTUDO DE CASO: O JORNALISMO DIGITAL DO HUFFPOST BRASIL Este capítulo apresenta o estudo de caso que exemplifica os termos que foram analisados anteriormente, gatewatcher e curadoria de notícias. A escolha foi feita por meio de diversas pesquisas, uma vez que os conceitos estudados são novos e ainda não são abrangentes nos jornais e nem na literatura técnico-científica nos estudos do jornalismo. Pelo fato de selecionar, em variados blogs, notícias mais relevantes para o seu leitor, o jornal online HuffPost Brasil, versão brasileira do The Huffington Post, foi definido com o estudo de caso do artigo científico. O objetivo do site é procurar e selecionar o que há de melhor em multidão de vozes, para fornecer ao leitor uma curadoria desse conteúdo gerado espontaneamente. Considerado o maior êxito do jornalismo online pelo O Globo4 e Observatório da Imprensa5, The Huffington Post é fundado em 2005 pela escritora ateniense Arianna Huffington nos Estados Unidos. Em entrevista, Arianna afirma que vê o webjornal como uma obra em andamento. “Não creio que chegará o dia em que acordarei e direi: "É isso! Isso é o 'Huffington Post'!" (HUFFINGTON, 2011). Em 11 anos de história, The Huffington Post é lido por 14 países além do Brasil e EUA, incluindo Alemanha, Índia e Japão. O site agrega blogs de todo mundo que discutem assuntos 4 http://goo.gl/5HiF3V 5 http://goo.gl/eTuuPL 14 atuais de diversos segmentos, em 2010 o número de blogueiros chegou a 6.000. Além de possuir um site, o webjornal está presente em outras plataformas digitais. Huffington (2011) afirma que a maneira como as pessoas consomem notícias é muito diferente hoje. “Elas não querem só ler, querem se engajar, colaborar. Somos parte disso, do mundo do Facebook, do Twitter”, conclui. A versão brasileira do jornal online é criada em janeiro de 2014, após negociações com a editora Abril, com o nome de Brasil Post. Na época, um dos blogueiros do site, Ricardo Anderáos, jornalista, ambientalista e empreendedor social, destacava a importância deste lançamento em um momento que antecipava a Copa do Mundo e as eleições. “Uma rara conjunção de fatores promete fazer este ano um dos mais marcantes da história recente do nosso país” (ANDERÁOS, 2014). Em seu texto, Anderáos ressalva o tipo de jornalismo que o, na época, Brasil Post pratica. Segundo o autor, um dos diferenciais é como o veículo dialoga com as redes sociais. Para ele, nenhum outro canal de informação utiliza melhor esta ferramenta, seja monitorando o que acontece nas redes para alimentar sua pauta, seja viralizando seus conteúdos nas principais plataformas ou participando ativamente das conversas que eles geram nas redes. Anderáos também cita os blogueiros como outro pilar do Huffington Post, e conclui que, como já acontece com as edições de outros países, o Brasil está construindo uma rede de colaboradores que inclui desde personalidades internacionalmente conhecidas atépessoas comuns que, com sua opinião, nos ajudam a fomentar relevantes debates sobre os mais variados temas. Outro diferencial marcante do jornalismo praticado pelo Huffington Post é exatamente a maneira como ele trata os outros sites noticiosos, e que ganha o nome de "agregação de notícias". No Brasil Post os leitores não vão encontrar apenas as notícias produzidas por nossa redação, mas também links para outros sites e portais brasileiros, sempre que eles veicularem informações exclusivas ou relevantes. Assim, muitas vezes, a manchete de nossa home page poderá redirecionar os internautas diretamente para o sites da Folha, do Estadão, O Globo, Veja, Terra, G1, Exame ou UOL, entre outras fontes de informação online (ANDERÁOS, 2014). O autor ainda aponta a importância de todas as edições internacionais de The Huffington Post, já que há a possibilidade de traduzir livremente as notícias, além da troca de conteúdo com sites e revistas do Grupo Abril, como, Superinteressante, Exame e Planeta Sustentável. “Reunindo todos esses conteúdos, uma fantástica plataforma tecnológica e graças ao know-how que vem sendo desenvolvido desde 2005, tenho certeza de que nosso Brasil Post em breve ocupará um lugar de destaque no cotidiano dos brasileiros” (ANDERÁOS, 2014). No ano de 2015, o portal muda seu nome para Huffington Post Brasil pensando em destacar a marca HuffPost, já que o Brasil era o único dos 14 países que não adotava o nome. 15 Em entrevista à revista Exame6, Koda Wang, CCO (Chief Operating Officer) do HuffPost, responsável pelos negócios globais, acredita que o novo nome possa ajudar a reforçar a marca diante de usuários e anunciantes. “Ser parte do The Huffington Post significa ser parte de uma marca muito forte, com mais de 200 milhões de usuários em 15 países. Isso significa que o conteúdo e a influência do HuffPost serão trazidos para o Brasil e nossa relação com audiência e clientes ficará mais forte” (WANG, 2015). Caetano e Veiga (2015) fazem uma análise de alguns aspectos que configuram a estrutura e apresentação das imagens veiculadas no webjornal nos períodos de novembro de 2014 e janeiro de 2015. Entre as reflexões, as autoras destacam a forma que o layout da página de superfície do site reitera uma forma de organização do material informativo tradicionalmente vinculado a estratégias. Elas finalizam discutindo a forma que o HuffPost Brasil distribui suas notícias. “O perfil apreendido é o de um jornal noticioso, de consumo rápido, voltado a fazer crer na objetividade da informação e na atualização constante de seus dados” (CAETANO; VEIGA, 2015, p. 135). Como Caetano e Veiga (2015) afirmam, o HuffPost Brasil possui a característica da atualização constante de seus dados. Este fato se confirma após analisar a página do Facebook do webjornal, onde matérias sobre diversos assuntos são publicadas de 30 em 30 minutos. Outro atributo que site que chama atenção são as editorias. No jornalismo tradicional, costuma-se encontrar editorias parecidas na maioria dos jornais, como economia, esporte e cultura, porém o HuffPost aborta conteúdos pouco levantados pelos meios de grande alcance. PAÍS MULHERES VOZES DA RUA LGBT DINHEIRO MUNDO EQUILÍBRIO LIVROS E HQS VIRAL TEM JEITO! FAMÍLIA HOMEM MODERNO ANIMAIS TECH MEIO AMBIENTE CIÊNCIA SAÚDE EDUCAÇÃO ARTE DIVERSÃO COMPORTAMENTO ESPORTES LGBTfobia Tabela 1: Editorias do HuffPost Brasil Fonte: produzido pela autora Mulheres, Vozes de rua, LGBT, Ciência, Equilíbrio, Livros e HQs e Tem Jeito! (jornalismo de soluções), são os canais que se diferem dos outros veículos de comunicação. Esta linha editorial entrou em vigor a partir da mudança do nome para HuffPost Brasil que, 6 http://goo.gl/1JqXFX 16 segundo Diego Iraheta, Editor Chefe do canal, fomenta a pluralidade de ideias e o debate construtivo na esfera pública. Diego ainda afirma que esses assuntos são tão prioritários quanto País (política e cotidiano), Dinheiro e Mundo. A editoria Mulheres ressalva notícias de todo o mundo sobre o universo feminino e suas conquistas. Vozes de rua destaca a participação da população em movimentos sociais e políticos, uma vez que o país vive um momento de grande engajamento na política. Já o LGBT discute fatos sobre a homossexualidade de uma maneira que faz o leitor refletir sobre o assunto. A seção Equilíbrio é criada em fevereiro de 2016 com o objetivo de sistematizar a cobertura de assuntos de saúde mental e emocional e falar com clareza e delicadeza sobre sentimentos, sensações, atitudes. Por fim, o canal Tem Jeito! mostra pessoas comuns que superam desafios. Em cada seção, os blogueiros7 que escrevem para site focam nas informações mais significativas para elaborar matérias abrangentes e engajar o leitor. Conforme um texto publicado8 pela redação do webjornal, todos são produtores e consumidores de informação: interagem, comentam e se engajam com tudo o que veem. Por isso, o HuffPost Brasil acredita que a repercussão de um fato é tão relevante quanto o fato por si próprio. “Em um jornal comum, o ciclo da notícia termina quando ela é publicada. No The Huffington Post, é o contrário: o ciclo começa a partir da sua publicação, com blogs, comentários e curadoria”. Na comemoração de dois anos do jornal digital no Brasil, Diego Iraheta se diz entusiasmado com a evolução do site. Ele reforça que o HuffPost Brasil tem se destacado na cobertura de temas antes muito pouco explorados pela mídia nacional, com grande repercussão nas redes sociais. Entre eles estão o empoderamento feminino e a batalha por maior visibilidade à comunidade LGBT. Além de marcar posição contra a aprovação do Estatuto da Família, pela Câmara dos Deputados e a favor das uniões homoafetivas e respectivas famílias aqui no Brasil. Sim, temos nossas posições, mas nossa plataforma é aberta e plural. Por isso, temos hoje uma rede de 700 blogueiros, que oferecem diversos contrapontos, inclusive à nossa própria visão. Comunistas, ativistas da direita, petistas, liberais, todos têm voz e vez por aqui -- contanto que não postem textos que desrespeitem nem discriminem. Nosso radar logo capta as conversas que estão tomando as redes, as fotos ou postagens de pessoas comuns que contam histórias incríveis. Assim, construímos coletivamente com nossos leitores, fonte de inspiração e transpiração, o que é notícia, o que merece nosso olhar, nossas palavras e a sua atenção, o seu tempo ( IRAHETA, 2016). Como Iraheta (2016) afirma, o HuffPost Brasil faz a cobertura de temas com grande repercussão nas redes sociais, por isso o jornal digital está presente em várias plataformas ao 7 Entre os 700 blogueiros, há nomes tão diversos quanto o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o deputado estadual Marcelo Freixo, o Jovem Soropositivo, e a mãe e cientista Lígia Sena. 8 http://goo.gl/Mbi554 17 mesmo tempo - Facebook9, Twitter10, Instagram11, Google+12 e Pinterest13 - além do Youtube14, que é usado de apoio para publicações de vídeos ligados a matérias. No Facebook, Twitter e Google+ publica-se matérias distintas em conta do público-alvo porém na mesma intensidade, já o Instagram e Pinterest não são atualizados diariamente e têm pouca visibilidade dos usuários da rede. O Facebook é o maior meio de comunicação do site, uma vez que é a rede social que o HuffPost Brasil tem mais leitores, são 553.002 curtidas, além de conseguir maior proximidade com o receptor. Para fazer a análise do conteúdo e das métricas foi utilizado o Facebook pelos argumentos acima e também por ser mais acessível de acompanhar e monitorar. Analisando as postagens da página durante umasemana, é possível afirmar que, durante a manhã, jornal online publica matérias frias, que não requer publicação imediata. Na maioria das vezes, são textos de autoajuda e motivação escritos em variados anos que geram, em média, 100 curtidas. Durante o passar do dia, a redação fica atenta com o que está acontecendo de mais importante para filtrar o que é de mais significativo para o seu leitor. Como na Internet os dados são expostos em tempo real, o HuffPost Brasil publica as matérias quentes no menor tempo possível. Um exemplo disso foi quando o aplicativo de transporte, Uber, foi legalizado em São Paulo, o webjornal divulgou, na mesma hora, uma matéria sobre este assunto, que ainda rendeu grande engajamento com mais de três mil curtidas. Porém, os textos que mais geram engajamento tanto de curtidas quanto de comentários e compartilhamentos, são aqueles que falam sobre política, LGBT e ajuda humanitária, que chegam, em média, a mais de 10 mil curtidas, mil comentários e três mil compartilhamentos. Usando o exemplo da matéria da regulamentação do Uber, pode-se analisar o conteúdo dos textos publicados no online e no Facebook. O que mais chama atenção é o título veiculado na rede social pelo fato de conter verbos no imperativo, frases de efeitos e palavras que são bastante ditas no meio digital. “Com decreto, Haddad libera Uber em São Paulo” é o título da matéria no site do jornal digital, já o título da rede social é “Vai ter Uber legalizado em São Paulo: Haddad libera aplicativo da cidade”. A diferença entre os dois é perceptível, uma vez que o do site é usual do jornalismo tradicional, destacando o fato principal sem nenhum outro artifício jornalismo. 9 https://www.facebook.com/HuffPostBrasil/ 10 https://twitter.com/huffpostbrasil 11 https://www.instagram.com/huffpostbrasil/ 12 https://plus.google.com/+BrasilPost 13 https://br.pinterest.com/huffpostbrasil/ 14 https://www.youtube.com/user/brasilpost 18 O título do Facebook revela a intenção de conversar com o leitor utilizando a uma linguagem mais informal e um termo que está em voga nas redes sociais, o “vai ter”, que é mais comum entre jovens e está sendo usado nas causas defendidas por eles. Outra tática usada é o uso do verbo no imperativo que chamam o leitor para abrir o link da matéria, os mais usados são veja e assista. Um ouro diferencial do webjornal é a inclusão de opiniões nos texto, uma vez que quem escreve são blogueiros com pensamentos distintos, isso causa uma participação intensa dos leitores e aumenta a troca de ideia. Após acompanhar as redes sociais do HuffPost Brasil é possível perceber o formato inovador do jornal digital a partir do momento que existem colaboradores que escrevem para site que não são obrigatoriamente jornalistas. Neste modelo, o emissor não é exatamente um jornalista, mas também um político ou cientistas, que inclui suas apreciações em notícias que já são do conhecimento de todos. A escolha das matérias para publicação é feita de acordo com a preferência do seu público-alvo, por isso pode-se dizer que o HuffPost Brasil faz uma curadoria de notícias e se torna um gatewatcher. O HuffPost Brasil é composto por 17 profissionais na redação que funcionam como os alimentadores e editores do site. A Head de Digital e Mobile é Sandra Carvalho. Na redação, o Editor Chefe é Diego Iraheta, a Editora Sênior de Notícias é Luciana Sarmento, a de Blogs & Mulheres é Andréa Martinelli e a Editora de Mídias Sociais & Viral é Ione Aguiar. André Murched é Designer e Editor de Vídeo, Ana Júlia Gennari, Estagiária e Elizabeth Costa, Moderadora de Comentários. Na área de Business, há o Gerente de Marketing, Edson Ferrão e o Analista Sênior de Marketing, Rafael Gajardo. Como Repórteres, o HuffPost Brasil tem Thiago de Araújo no País e Vozes da Rua, Grasielle Castro em País (Brasília), Luiza Belloni na editoria Dinheiro, Gabriela Bazzo em Mundo, Rafael Nardini na área de Esporte e Vozes da Rua, Caio Delcolli em Livros e HQs, Cinema e LGBT e Amauri Terto em Identidades, Música e Viral. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo tem como principal finalidade analisar a evolução do jornalismo no meio virtual, desde os primórdios da popularização da internet e suas mudanças. Para entender cada avanço da comunicação, é preciso estudar as seis eras culturais de Lucia Santaella até o surgimento da era digital e as consequências dela para o jornalismo. A era digital é marcada 19 pela fusão da era das mídias e de massas, resultando na convergência dos veículos de comunicação. A democratização do acesso à informação permite que as pessoas estejam mais atentas ao conteúdo que a mídia produz, uma vez que a produção de notícias é cada vez maior e os meios de informação crescem a cada momento. Esta realidade traz maior cobrança ao jornalista na parte de apuração e redação, tendo a responsabilidade de escrever matérias com fatos muito recentes, quase em tempo real, com maior veracidade. Nas redes sociais virtuais, o indivíduo passa a ter o poder de compartilhar suas experiências e acontecimentos do seu dia a dia. Isto significa que ele também faz o agendamento das notícias assim como o jornalista, pois o indivíduo controla quais informações são divulgadas em seu perfil. Podendo fazer isto, ele se torna um curador pelo fato de escolher, em meio há uma infinidade de notícias, as mais relevantes para compartilhar com o seu grupo. A circulação de dados e informações pela Internet acarreta em uma imensa troca de notícias sobre diversos assuntos entre grupos distintos. Isso faz com que o jornalista preste cada vez mais atenção no que é dito na rede a fim de encontrar pautas que possam ser levadas para a estrutura oficial da mídia. A monitoração das redes é feita por um gatewatcher, função que vem se tornando mais importante com o avanço da tecnologia no meio da comunicação, pois agora o jornalista não mantém a informação com ele, e sim com todos que se comunicam na rede. O jornalismo vive um momento de transição do tradicional para o moderno, modelos de jornais impressos estão migrando para o meio virtual para se conectar com o seu leitor e a cada dia novos jornais online são criados por qualquer cidadão. Percebe-se que na web são discutidos assuntos de temas variados e o jornalista precisa estar monitorando cada informação dada para decidir incluir ou não em sua pauta. Por isso, as universidades devem preparar o futuro profissional para o jornalismo colaborativo e com editorias que fogem do comum. É importante também que os jornalistas veteranos entendam que há um novo modelo de negócios para o jornalismo em emergência e que no futuro, a relação entre o tradicional e o moderno irá entrelaçar ainda mais. Diante desta realidade, os estudantes de comunicação precisam se deparar com distintos meios de construir uma matéria durante os anos de faculdade. 20 REFERÊNCIAS ARAUJO, V; CARDOSO, G; CHETA, R; NETO, P. Os jornalistas na sociedade em rede: novos modelos de gatekeeping. In: ARAÚJO, V; CARDOSO, G; ESPANHA, R. Da Comunicação de Massa à Comunicação em Rede. Porto: Porto Editorial, 2009. BERTOCCHI, Daniela; CORRÊA, Elizabeth. A cena cibercultural do jornalismo contemporâneo: web semântica, algoritmos, aplicativos e curadoria. São Paulo: ECA/USP, 2012. BERTOCCHI, Daniela; CORRÊA, Elizabeth. O Algoritmo Curador: O papel do comunicador num cenário de curadoria algorítmica de informação. In: AMARAL A; BERTOCCHI, D; CORRÊA, E; FERRAZ, H; RAMOS, D; SILVA, T; RAMOS, D. Curadoria digital e o campo da comunicação. 2012. Disponível em: <http://www.ciencianasnuvens.com.br/site/wp- content/uploads/2014/07/ebook_curadoria_digital_usp1.pdf>.Acesso em 02/04/2016. CANAVILHAS, João. Do gatekeeping ao gatewatcher: o papel das redes sociais no ecossistema mediático. 2012. Disponível em: <http://campus.usal.es/~comunicacion3punto0/comunicaciones/061.pdf>. Acesso em 06/04/2016. FERRARI, Pollyana. A força da Mídia Social: Interface e linguagem jornalística no ambiente digital – 2.ed. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2014. MCCOMBS, Maxwell. A Teoria da Agenda: A mídia e a opinião pública. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2009. MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 2007. PAES, Anderson. O gatekeeper e as escolhas do noticiário internacional (2008). Disponível em: <http://paginas.unisul.br/agcom/revistacientifica/artigos_2008b/anderson_paes.pdf>. Acesso em: 03/05/2016. PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. 2.ed. São Paulo: Editora Contexto, 2006. SANTAELLA, Lúcia. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003. WEISGERBER, Corinne. Building thought leadership in an age of curation (2012). Disponível em: <http://pt.slideshare.net/corinnew/building-thought-leadership-through- content-curation/3-cu_ra_torSomeone_who_plans>. Acesso em: 20/04/2016.
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