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MACONHA E COCAÍNA

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18
CEFAC
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA
CLÍNICA
VOZ
MACONHA E COCAÍNA :
O QUE PROVOCAM NAS PREGAS VOCAIS?
IEDA RUEGGER
SÃO PAULO
1997
CEFAC
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA
CLÍNICA
VOZ
MACONHA E COCAÍNA :
O que Provocam nas Pregas Vocais?
IEDA RUEGGER
Monografia de conclusão do curso
de especialização em voz
SÃO PAULO
1997
RESUMO
Muitos profissionais da voz, principalmente cantores da noite e
atores, que chegam ao consultório com problemas vocais, são usuários de
drogas. Durante nossa anamnese, este dado é levantado e na orientação, nos
faltam conhecimentos aprofundados do por quê devemos solicitar a estes
pacientes o abandono deste hábito.
Meu trabalho se baseia nos efeitos causados pelas drogas no trato
vocal e respiratório e, consequentemente na voz, para nos ajudar a fazer uma
orientação mais completa a estes pacientes, a fim de obtermos uma melhora mais
rápida e evitarmos uma reincidência do problema.
SUMÁRIO
1 - Introdução
2 - Discussão teórica
3 - Considerações finais
4 - Referências bibliográficas
INTRODUÇÃO
A voz é o principal instrumento da comunicação, porque é através
dela que expressamos nossos pensamentos e sentimentos, dos mais simples aos
mais secretos e importantes. Em qualquer reunião de negócios ou em qualquer
bate papo com amigos, sempre transmitimos nossas idéias e, com maior ou
menor intensidade, nossos sentimentos.
A não ser que sejamos bons atores, dificilmente conseguiremos
esconder a felicidade, a tristeza, a ansiedade, a raiva, a preocupação e até
mesmo a insegurança. Uma fala um pouco mais trêmula, um volume de voz um
pouco mais baixo, alguns atropelos nas palavras, uma fala muito rápida, sempre
darão indícios daquilo que estamos realmente sentindo.
E os cantores? Será que eles conseguem ignorar seus sentimentos
enquanto cantam? Alguns expressam claramente aquilo que estão sentindo
através da letra e do ritmo de suas músicas, outros não. Mas será que todas as
vezes que eles as cantam, estão sentindo exatamente aquilo?
Se na maioria das vezes em que falamos ou cantamos temos
dificuldades em omitir nossos sentimentos, será que conseguimos esconder uma
gripe, uma faringite, uma crise de bronquite ou qualquer outra afecção que atinja o
sistema fonatório, direta ou indiretamente?
Diversos fatores, como por exemplo, hábitos inadequados de tomar
bebida gelada, gritar, falar muito alto, fumar, beber, praticar esportes que exijam
muita força, alguns medicamentos, problemas gástricos, hormonais, entre outros,
podem causar problemas nas pregas vocais e consequentemente, na qualidade
vocal.
O fumo e a bebida são dois agentes muito fortes contra a boa
qualidade vocal e a boa condição orgânica das pregas vocais. E quando me refiro
ao fumo, estou me referindo ao tabaco, à maconha e à cocaína (crack).
A maconha, produto derivado da Cannabis sativa, é extraída de sua
planta fêmea e utilizada como droga ilícita e recreativa. Fumada como um cigarro
de tabaco, tem como efeito imediato a criação de um estado agradável, sonhador,
com alteração da atenção, do desempenho cognitivo e psicomotor.
Segundo Sataloff (1991), a fumaça e o calor do cigarro são
prejudiciais à mucosa e ao trato vocal. A fumaça da maconha é inalada
diretamente, provocando uma considerável irritação na mucosa. Já a cocaína é
extremamente irritante para a mucosa nasal, ocasionando a vasoconstrição,
alterando a sensibilidade, diminuindo o controle vocal e facilitando, desta forma, o
abuso vocal.
A cocaína é extraída das folhas da planta Erythroxylum coca e pode
ser encontrada em pasta ou em pó, podendo ser inalada ou injetável. Quando
injetável, normalmente ela é misturada com a heroína. Na grande maioria das
vezes, a cocaína comprada em ruas é misturada com outras substâncias como
lactose, cafeína e, portanto, não é pura.
A cocaína pode ser preparada e tornar-se cocaína alcalóide, que é
dissolvida em altas temperaturas, permitindo, assim, que ela seja fumada.
Alguns usuários dissolvem a cocaína com solventes como o éter e o
álcool. Estes solventes, quando aquecidos, evaporam-se deixando cristais puros
de cocaína, que são chamados de “crack” pelos estalidos que fazem quando
aquecidos. O crack normalmente é fumado com um cachimbo ou misturando a
cocaína aos cigarros de tabaco ou maconha.
A absorção da cocaína pela membrana mucosa e pela circulação
cerebral é muitíssimo mais rápida em forma de fumo, do que injetável ou aspirada.
Haim e col. (1995) referem que os pulmões são os órgãos mais
expostos à fumaça da cocaína, desenvolvendo sintomas respiratórios agudos
como tosse com produção de escarros, dores no peito com ou sem diminuição
respiratória, aumento da asma, ferimentos nas vias aéreas, edema pulmonar,
hemorragia, entre outros.
Outra queixa, encontrada entre os usuários de cocaína, é
queimadura unilateral na região supra glótica, provocadas por uma tela de lã de
aço , utilizada para filtrar a cocaína, como revela McQueen e col. (1995). Os
autores também mostram, uma grande incidência de ferimentos nas vias aéreas,
de pacientes que inalam a cocaína. Assim como Silverman e col. (1995),
apresentam em seu artigo achados de edema nas vias aéreas superiores
provocado pelo uso da cocaína.
Se o uso de maconha e cocaína provocam estes danos nas vias
aéreas superiores, na mucosa de todo o trato vocal, podem muito bem provocar
danos bastante graves nas pregas vocais e, assim, alterar significativamente a
qualidade vocal destes usuários.
Se os pulmões são tão atingidos, como revela Haim e col. (1995),
podemos acreditar que a capacidade respiratória e o próprio controle respiratório
dos usuários também estarão comprometidos, interferindo na performance de um
profissional da voz, como por exemplo, um cantor.
Pensando em todas estas alterações no trato vocal, no sistema
respiratório, no abuso vocal causado pela perda temporária ou não da
sensibilidade e, principalmente na qualidade de vida dos cantores populares e da
noite, com seus hábitos, vícios de álcool, fumo e drogas, comecei a me questionar
como ficam as pregas vocais e, consequentemente, a qualidade vocal, destes
cantores que bebem, fumam, se drogam ou até mesmo os três.
Desde que comecei a trabalhar com voz em consultório e comecei a
estudar um pouco mais sobre o assunto, aprendi que a maconha é um agente
dilatador das pregas vocais e a cocaína é um agente constritor. A partir daí
entendi um pouco sobre a relevância de perguntar aos pacientes de voz sobre
seus vícios, e comecei a fazer um levantamento minucioso do uso de qualquer
droga, fosse ela inalada, injetável ou fumada, mas desconhecendo qualquer outro
efeito que elas pudessem causar.
Com o crescente aumento do número de usuários de maconha,
cocaína e principalmente crack, como já é do conhecimento da população de todo
o mundo, e conhecendo a grande diferença na qualidade vocal com o uso da
maconha, o simples saber que ela é um agente dilatador, deixou-me insatisfeita
com os conhecimentos adquiridos até aqui e desejei obter maiores detalhes sobre
seus efeitos nas pregas vocais, se estes efeitos ocorrem pelo uso freqüente,
acentuado ou prolongado da erva, se eles podem ser tratados ou se as alterações
provocadas são irreversíveis.
Da mesma forma que o meu conhecimento sobre a maconha é
insatisfatório, o meu desconhecimento sobre a cocaína me leva a várias questões.
Como por exemplo, o seu efeito sobre as camadas das pregas vocais, já que a
cocaína é tão poderosa a ponto de destruir a mucosa nasal, sendo necessário em
alguns casos, a colocação de uma prótese; ou ainda, como diz Sataloff (1991), se
a sensibilidade é alterada, diminuindo o controle vocal e assim, facilitando oabuso, como fica a voz de um cantor que tem o hábito de entrar no palco drogado?
Depois de terem surgido tantas dúvidas sobre o assunto, optei em
fazer uma revisão bibliográfica sobre estas duas drogas e consequentemente
sobre o crack, que é um derivado da cocaína.
Para esta revisão bibliográfica, foi feito um levantamento dos artigos,
na BIREME, que falam sobre o assunto e pesquisei em livros médicos os
possíveis efeitos das drogas sobre as pregas vocais discutindo um pouco sobre
seus efeitos na voz, com base na anatomia e fisiologia laríngeas e na ação das
drogas.
Após este levantamento bibliográfico, os dados obtidos de diversos
autores foram cruzados e discutidos, tentando esclarecer todas as questões até
aqui levantadas.
DISCUSSÃO TEÓRICA
A maconha e a cocaína são duas drogas que merecem a atenção
de todos os profissionais que trabalham com a reabilitação vocal, seja daqueles
pacientes que dependem de sua voz para o trabalho, como os cantores, atores,
professores ou, daqueles que chegam para a consulta com uma simples queixa.
Todos os textos lidos até aqui mostram que, de uma maneira ou de
outra estas drogas são prejudiciais ao trato vocal, respiratório e,
consequentemente, à voz.
Segundo Andreus (1995), Behlau e Pontes (1993), Colton e Casper
(1990) e Sataloff (1991) a maconha provoca vermelhidão e irritação da mucosa de
toda laringe e trato respiratório superior. Para Behlau e Pontes (1993), além da
agressão do fumo, o papel utilizado para enrolar a erva, libera toxinas, que
também agridem a mucosa e, o hábito de apertar o cigarro ao tragar, eleva muito
a temperatura no trato vocal, ocasionando lesões aos tecidos da região.
Sataloff (1991) refere ainda, que a fumaça impura da maconha,
inalada diretamente também produz um efeito considerável na mucosa. Almadori e
col. (1990) citam como efeitos da fumaça da maconha no trato vocal, estomatite,
faringite, laringite e uvulite.
Guarisco e col. (1988), em seu texto, relatam casos de pacientes
com uvulite após a inalação de grande quantidade de fumaça de maconha, 6 a 12
horas antes do aparecimento de seus sintomas.
Alguns autores como Taylor e Bernard (1989), Sataloff (1991),
Behlau e Pontes (1993) e Case (1996) discutem em seus textos os efeitos da
fumaça do tabaco, que agridem todo o sistema respiratório, principalmente as
pregas vocais, agindo diretamente sobre a mucosa e podendo causar eritema,
suave edema, irritação, pigarro, tosse, aumento das secreções, alergias e
infeções. A fumaça e o calor do cigarro são muito importantes, pois, podem
causar também, ferimentos térmicos e químicos na vias aéreas superiores e
inferiores.
Segundo Case (1996) “o efeito habitual da fumaça excessiva é um
ameaçador à freqüência fundamental da voz, particularmente em mulheres.” (pág.
148).
Para Taylor (1988), Almadori e col. (1990), Caplan (1991) e Nahas e
Latour (1992) a maconha tem uma grande relação com o câncer de boca e laringe,
que é a segunda malignidade mais comum da cavidade oral. Para eles, ela
provoca carcinoma nas células escamosas do trato respiratório superior e inferior;
mas para Caplan, o efeito maior é produzido nas vias aéreas superiores.
A maconha tornou-se um novo fator de alto risco no desenvolvimento
de tumores da cavidade oral, pois sua fumaça, composta por uma fase de gás e
outra de alcatrão contém os mesmos irritantes respiratórios do tabaco e vários
fatores carcinogênicos, em proporções bastante aumentadas a ele.
Os efeitos na voz pelo uso da maconha são citados apenas por
Almadori e col. (1990), Colton e Casper (1990), Behlau e Pontes (1993) e Case
(1996). Para Colton e Casper o sistema respiratório comprometido causa efeito
direto na produção vocal. Case coloca que o usuário de maconha apresenta
aspereza em sua voz, dificuldade na mudança do pitch, causando um efeito
danoso no canto, e sua boca e garganta são secas. A fumaça inalada causa
rouquidão, segundo Almadori e col. e, para Behlau e Pontes, a voz de um usuário
de maconha é grave, apresenta problemas de imprecisão na articulação dos
fonemas e alterações no ritmo e fluência da comunicação.
Outros efeitos decorrentes do uso da maconha, como câncer de
pulmão, enfisema, tosse, bronquite, pneumonia, ulcerações bronquiais, aumento
da incidência de esquizofrenia, alterações a longo prazo da memória, alterações
psicomotoras, cardiovasculares e neurológicas são citados por Colton e Casper
(1990), Almadori e col.(1990), Caplan (1991), Nahas e Latour (1992) e Behlau e
Pontes (1993).
Nahas e Latour (1992) chamam, ainda, atenção ao fato da maconha ser
considerada, por muitos autores, uma droga suave e sugerem que deveria ser
feito uma revisão para esta consideração, pois os efeitos da maconha são
prolongados, prejudicando a memória e aprendizagem e, tóxicos para o pulmão,
função cerebral e reprodutiva.
Como já foi dito no início deste trabalho, a cocaína pode ser inalada,
injetada ou fumada (crack). Alguns autores como Andreus, Colton e Casper,
Sataloff e Vogel e Carter descrevem seus efeitos de maneira geral,
independentemente da forma em que ela é utilizada, outros já explicam os efeitos
causados por uma forma específica de uso.
Vogel e Carter (1995) descrevem os sinais e sintomas das
desordens da ansiedade e colocam a cocaína como uma de suas causas. A
ansiedade e, indiretamente a cocaína, geram tremor, tensão muscular, brevidade
de respiração, sensação de sufoco, taquicardia, parestesia, nervosismo,
irritabilidade, entre outros fatores. Como seu texto discute as desordens da
ansiedade, eles não comentam especificamente os efeitos nocivos da cocaína no
trato vocal e respiratório, porém citam que a diminuição da atenção e
concentração provoca um prejuízo na comunicação e, que o tratamento
medicamentoso para a ansiedade também afeta a comunicação.
Colton e Casper (1990) também citam a cocaína como um
estimulante do SNC, que pode gerar nervosismo e tremor, e afetar a coordenação,
inclusive o controle motor fino do comportamento fonatório.
Na opinião de Andreus (1995) e Sataloff (1991) a cocaína pode
irritar a mucosa nasal, causar vasoconstrição dos vasos sangüíneos e alterar o
“sensorium”. Estes efeitos provocam um controle vocal diminuído e uma tendência
ao abuso vocal, podendo ser um fator relevante em relação aos problemas vocais
de alguns cantores, principalmente porque, o uso de cocaína está crescendo entre
os cantores populares.
Entre os usuários de crack, cocaína fumada, são encontrados
sintomas inespecíficos que incluem rouquidão, dispnéia com estridor, odinofagia,
disfagia e sensação de corpo estranho na garganta, como relata Snyderman e col.
(1991). Estes sintomas por serem inespecíficos podem ser sugestivos de
neoplasma ou outras condições inflamatórias, e não do uso de cocaína nesta
forma.
Bezmalinovic e col. (1988) afirmam em seu texto sobre o crack, que
o “sensorium” rebaixado acrescido de temperaturas altas e de diluentes utilizados
na preparação da droga, provocam ferimento na mucosa da orofaringe.
Além de Bezmalinovic e col. (1988), Taylor e Bernard (1989),
Snyderman e col. (1991) e McQueen e col. (1995) relatam ferimentos por
queimaduras na laringe pelo uso do crack. Este tipo de cocaína pode causar
ferimento térmico nas vias aéreas superiores por inalação de vapores quentes ou
substâncias particulares. Pode provocar edema na epiglote, pregas vocais
verdadeiras, prega ariepiglótica e traquéia, secreção nos seios piriformes com
eritema da mucosa subjacente, imobilidade das cordas vocais verdadeiras com
desvio médio, lesão da prega ariepiglótica e porção livre da epiglote até corda
vocal verdadeira, neoplasma supraglótico, estenose traqueal, tecido necrótico em
prega ariepiglótica, placa branca em prega ariepiglótica,cricóide, base da língua,
epiglote ou seios piriformes e nódulos linfáticos cervicais. A localização do
ferimento é decorrente do tamanho da partícula inalada e do fluxo aéreo.
Bezmalinovic cita ainda, ataques apopléticos, arritmias, infarto do miocárdio e
AVC, como complicações sérias do uso de crack.
A cocaína inalada é descrita por Deutsch e col. (1989), Brody e col.
(1990), Behlau e Pontes (1993), Sousa e Rowley (1994) e por Silverman e col.
(1995). Quando inalada, freqüentemente, ela pode causar erosão e desintegração
do septo nasal cartilaginoso e ósseo, que causa a queda da estrutura interna de
apoio do nariz, que resulta no colapso da ponte nasal com deformidade de sela e
perfuração do septo nasal; estridor inspiratório e expiratório e uso de músculos
respiratórios adicionais.
Segundo Deutsch e col. (1989), a cocaína inalada, causa ainda,
imobilização e ulceração da mucosa e musculatura da parede posterior da faringe,
diminuição na elevação da parede lateral da faringe; necrose isquêmica de palato
duro e mole, quando a aplicação ocorre no palato e faringe, com envolvimento da
membrana mucosa e musculatura palatal, causando eventualmente, ulceração,
infeção e gradual retração de palato. A perda do forro nasal e musculatura do
palato mole, permite a retração, distorção e paralisia, incapacitando a função
esfincteriana velofaríngea e distorcendo a fala inteligível. Também pode ocorrer
ausência da úvula.
Os sintomas e sinais apresentados pelos pacientes, usuários de
cocaína inalada, são deformidade nasal, decorrente do colapso nasal; hemorragia
nasal, pela perfuração do septo nasal; mudança vocal pela retração palatal e
disfagia decorrente da deformidade de palato e imobilidade faríngea, além de,
rinite crônica, sinusite e alteração do gosto e olfato. Em relação aos efeitos na voz,
Deutsch e col. relatam severa hipernasalidade com emissão de ar em todos os
fonemas e ininteligibilidade de fala.
Outros efeitos provocados pelo uso da cocaína inalada são
estenose subglótica e edema de epiglote, aritenóide, espaço intraaritenoídeo e
cordas vocais falsas e verdadeiras, como relata Silverman e col. (1995). O edema
de vias aéreas superiores pode se desenvolver após direta irritação pelas drogas
ou pelas substâncias químicas utilizadas na sua preparação e pode ser agravado
pelas manobras inspiratórias profundas, usadas pelos usuários para prolongar o
efeito da droga. Entre seus achados estão como sintomas disfagia, dispnéia,
rouquidão e dor de garganta.
Além dos sinais, já citados acima, como edema, deformidade nasal e perfuração
palatal, Sousa e Rowley (1994) relatam em seu texto, a ocorrência de esclerose
dos ossos da base do crânio, tumoração nos seios etmoidais com tecido
inflamatório, consistente com granuloma e, ausência total de septo nasal, cornetos
e paredes mediais dos seios maxilares, formando uma só cavidade, a qual se
mantém em comunicação direta com a cavidade oral, através da perfuração
palatal, gerando assim, uma rinolalia aberta. Estes achados, na opinião dos
autores são decorrentes do uso diário de grande quantidade de cocaína, por
muitos anos.
Behlau e Pontes (1993) referem que as drogas têm ação direta
sobre a laringe e a voz e também provocam alterações cardiovasculares e
neurológicas . A cocaína inalada pode lesar diretamente a mucosa de qualquer
região do trato vocal e provocar ulcerações na mucosa das pregas vocais, e
completam, que a cocaína injetável provoca hipotonia muscular, fadiga vocal e
dificuldade em manter uma comunicação adequada e eficiente, particularmente no
uso profissional da voz.
Alguns autores chamam a atenção para o reconhecimento da
existência dos danos causados pelas drogas, principalmente os ferimentos
térmicos, que podem ser confundidos com outras afecções, e para a realização de
exames completos do trato aerodigestivo, assim, poderemos obter um bom
diagnóstico e ministrar o tratamento adequado, evitando a reincidência do
problema (Bezmalinovic e col. (1988), Guarisco e col. (1988), Snyderman e col.
(1991),) e Almadori e col. (1990) McQueen e col. (1995)).
O uso de tabaco, normalmente encontrado entre os usuários de
maconha e cocaína, aumenta o risco ao desenvolvimento de carcinoma de células
escamosas da laringe e faringe (Snyderman e col. (1991) e Almadori e col.
(1990)), e ajudam a confundir o diagnóstico médico.
Também é encontrado em vários textos a negação dos pacientes
pelo uso de drogas, principalmente a cocaína, dificultando o diagnostico médico e
sendo necessário interrogatório insistente e exames toxicológicos para a
comprovação do uso da droga (Bezmalinovic e col. (1988), Taylor e Bernard
(1989), Snyderman e col. (1991), McQueen e col. (1995) e Silverman e col.
(1995)).
A falta de textos sobre o assunto e a reincidência de tumores em
pacientes jovens, usuários de maconha, levou Almadori e col. (1990) a
descreverem seu caso, assim como, Silverman e col. (1995) descrevem a
reincidência de edema e estridor em usuários de cocaína.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como já era de se esperar, a maconha e a cocaína provocam danos
ao trato vocal e respiratório, atingindo diretamente a produção vocal. Muitos
autores revelam que as drogas afetam diretamente a laringe e a voz, provocando
rouquidão, voz grave, hipernasalidade, estridor respiratório, imprecisão
articulatória, fadiga vocal, diminuição do controle vocal, alteração de ritmo e
fluência da comunicação, com dificuldade em manter a comunicação adequada e
eficiente, e tendência ao abuso vocal.
A constrição das pregas vocais gera rigidez e com isso uma voz
mais áspera. A imobilidade provavelmente provoca rouquidão e soprosidade, se a
prega vocal estiver desviada e não puder manter um bom fechamento. A
ansiedade pode gerar alteração no loudness, decorrente da alteração emocional;
incoordenação pneumo-fono-articulatória, pela brevidade de respiração e
sensação de sufoco gerada por ela, e rouquidão pelo tremor e tensão muscular.
Em minha opinião, a irritação da mucosa, o aparecimento do
carcinoma, o calor da fumaça, que gera lesão na região oral, levam a um padrão
vocal alterado, com rouquidão, soprosidade e aspereza. A irritação da mucosa
nasal, leva à hiponasalidade e até mesmo à imprecisão articulatória. Após cirurgia
de ressecção do tumor laríngeo e/ou em cavidade oral, normalmente ocorrem
alterações vocais, que dependendo da área afetada e ressecada, podem levar
desde a perda total da voz até simples incoordenação pneumo-fono-articulatória.
O grande aumento do número de usuários de maconha e cocaína
entre cantores e atores, e até mesmo jovens que não usam a voz
profissionalmente, nos faz ter a certeza de que estes estudos são muito
importantes.
Pelo carcinoma de língua em jovens, ter um comportamento
biológico mais agressivo e o prognóstico destes indivíduos não ser bom, é de
fundamental importância a boa observação clínica dos usuários de maconha e
rapé, a fim de evitar a reincidência dos tumores, assim como, dos usuários de
cocaína que podem apresentar tumores e reincidências de edemas e estridor.
Outro fator importante que confirma a necessidade deste estudo
sobre os efeitos das drogas, são as reincidências de patologias como tumores e
edemas. Tendo o diagnóstico médico correto e o conhecimento dos efeitos destas
drogas podemos, como fonoaudiólogos que trabalham com profissionais que
dependem da voz e são usuários de drogas, orientá-los mais claramente sobre a
necessidade de abandonar o vício, pois a grande maioria desconhece por
completo quaisquer danos que as drogas podem causar, ajudando-os pelo menos,
a diminuir os riscos, orientando-os, por exemplo, a usar um tubo de água para
esfriar e filtrar a fumaça da maconha e com isso melhorar um pouco sua qualidadevocal.
Certamente estas irritações da mucosa laríngea e freqüentes
reincidências de edema, com o tempo afetarão as camadas das pregas vocais,
lesando sua mucosa e consequentemente, alterando a boa qualidade vocal do
usuário de drogas.
Se a cocaína leva ao abuso vocal e gera uma dimuição no seu
controle, o profissional da voz, por já estar fazendo uma maior solicitação vocal ou
até mesmo um abuso, ao entrar no palco para uma performance, drogado,
automaticamente estará acentuando este abuso, podendo até mesmo desenvolver
alguma outra patologia vocal.
Com tratamento medicamentoso, normalmente os efeitos
provocados pelo uso de drogas tendem a desaparecer por completo. Em casos
de tumores, o tratamento deve ser radical, ou seja, cirúrgico e radioterápico,
correndo o risco de reincidência. Nos casos de perfuração, desintegração e
deformidades de palato, faringe e nariz o tratamento além de medicamentoso,
requer cirurgia reconstrutiva. E normalmente, todos os tratamentos apresentam
uma completa resolução dos problemas, com novos exames normais.
Assim como era de meu conhecimento, os autores até aqui
discutidos, referem que há muito poucos textos que falam sobre os efeitos das
drogas na laringe e reforçam a necessidade de um bom diagnóstico. Sendo
assim, é necessário, por parte dos profissionais, o conhecimento detalhado dos
efeitos das drogas.
Alguns autores acreditam que seus relatos sejam os primeiros a
descreverem reincidência de tumores e edemas de via aérea superior pelo abuso
de maconha e cocaína.
Pensando em todos os achados, até aqui discutidos, sobre os
efeitos da maconha, da cocaína e do crack , acredito que novas pesquisas devam
ser realizadas para completar os danos causados ao trato vocal, pois em
pouquíssimos textos encontrei referencias sobre os efeitos das drogas nas pregas
vocais, propriamente ditas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Pediatrics Through Gluatrics. Singular Publishing.
Behlau, Mara & Pontes, Paulo
1993 – Higiene Vocal. Editora Lovise Ltda. São Paulo.
Bezmalinovic, Z., Gonzalez, M. & Farr, C.
1988 – “Oropharyngeal Injury Possibly Due to Free-Base Cocaine” em N
Engl J Med, Vol. 319 N º 21. Fresno. CA.
Brody, Steven L., Slovis, Corey M. & Wrenn, Keith D.
1990 – “Cocaine - Related Medical Problems: Consecutive Series of 233
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1991 – “Marijuana and Mouth Cancer” em J R Soc Med, Vol. 84.
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Vol. 161.
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1988 – “Isolated Uvulitits Secondary to Marijuana Use” em Laryngoscope,
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107, Nº. 1.
McQueen, Chapman T., Yarbrough, Wendell G., Witsell, David L., Holmes,
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