Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Doenças INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS RETOCOLITE ULCERATIVA Doença de crohn Acadêmicos: Érica Oliveira Cunha Silveira Pedro Moreno do Nascimento Antunes Introdução Doença inflamatória intestinal (DII) é um termo amplo que designa a doença de Crohn (DC) e a retocolite ulcerativa (RCU), caracterizadas pela inflamação crônica do intestino. Essas doenças diferem quanto à localização e ao comprometimento das camadas do intestino Etiopatogenia da doença inflamatória intestinal Alguns deles são exclusivos; outros, são comuns a ambas as doenças. Parentes de doentes com DC e RCU têm, respectivamente, 10 e 8 vezes mais chances de desenvolver a doença. Apesar das inúmeras correlações e predisposições genéticas descritas, a correlação entre gêmeos monozigóticos é de 30% para DC e 15% para RCU. Esses genes estão envolvidos em diversas funções celulares responsáveis pela homeostase intestinal, incluindo: •• função de barreira; •• restituição epitelial; •• defesa da microbiota; •• regulação da resposta imune inata e adaptativa; •• geração de espécies reativas de oxigênio, autofagia e funcionamento do retículo endoplasmático. Os genes podem ter caráter protetor ou de suscetibilidade. O componente genético parece ser maior na DC quando comparado a RCU. O termo “epigenética” refere-se a mudanças na função e expressão gênica, não relacionadas propriamente às alterações na sequência do DNA, transmitidas durante o processo mitótico. Os principais mecanismos envolvidos na epigenética são a metilação do DNA, modificação das histonas, interferência no RNA e posicionamento do nucleossoma.8 Essas alterações epigenéticas podem ser transmitidas aos descendentes e conferir uma hereditariedade oculta. Além disso, a dieta do indivíduo e a inflamação criam um microambiente favorável às reprogramações epigenéticas, podendo modificar a própria resposta imune durante o curso da doença. Ainda mais complexa e pouco conhecida é a capacidade da dieta materna durante a gestação resultar em alterações epigenéticas que poderão ser transmitidas ao feto e interferir na composição da microbiota do recém-nascido. Expossoma - Embora se reconheça o papel do genoma na DII, sabe-se que há grande influência do meio ambiente na etiopatogenia. Em 2005, Wild10 propôs o termo exposome, traduzido para expossoma, em referência às complexas exposições ambientais sofridas por um indivíduo desde o período pré-natal e sua influência no processo saúde-doença. Apesar do amplo debate no meio científico, ainda é difícil medir o efeito da exposição ambiental sobre a etiologia das afecções. Em relação a DII, fatores ambientais como o aleitamento materno e a apendicectomia foram considerados protetores, ao passo que a exposição a vacinas, o estresse psíquico e o uso de anticoncepcional oral seriam desencadeantes da doença. Experimentalmente, a dieta rica em gordura foi capaz de acelerar o processo inflamatório, por alterar a flora intestinal por meio de mecanismos envolvendo aumento da permeabilidade intestinal, alteração de fatores luminais, maior recrutamento de células dendríticas e direcionamento da resposta imune para uma resposta tipo Th17. Microbioma - Pacientes com DII têm uma redução na diversidade da microbiota ainda pouco compreendida. Acredita-se que essa pobreza na flora a tornaria mais suscetível a variações decorrentes de alterações no meio ambiente, como uso de medicamentos ou infecções agudas do trato gastrointestinal, incluindo aquelas por Clostridium difficile Imunoma - Imunoma é um termo relativamente recente, utilizado para designar os componentes que constituem o sistema imunológico. Tradicionalmente, o sistema imune era representado por macrófagos, neutrófilos, células natural-killers (NK), células epiteliais, linfócitos e células apresentadoras de antígenos. Mas pouca atenção era voltada a outros tipos celulares presentes nos tecidos, como células adiposas, miofibroblastos, células musculares, endoteliais e linfáticas. Atualmente, considera-se que essas células participam de maneira ativa da resposta imune e do processo inflamatório. Em indivíduos saudáveis, o intestino encontra-se em um estado de “inflamação fisiológica” finamente controlado, o que permite ao sistema imune local responder de maneira diferente às bactérias da flora autóloga e às bactérias patogênicas A Figura 65.2 mostra esquematicamente a relação entre antígenos da luz intestinal e o sistema imune local 3 RETOCOLITE ULCERATIVA É uma doença intestinal inflamatória (DII) crônica, de etiologia desconhecida Existe um distúrbio na regulação da imunidade da mucosa, o qual é responsável pelo surgimento de um processo inflamatório espontâneo. Anticorpos: pANCA + FATOR PROTETOR Tagabismo FATORES DE RISCO Principal: História familiar positiva Raça branca (Judeus) Gradiente norte-sul (aumenta pro norte) Idade entre 15-30 anos e 55-65 anos Síndromes de Turner e Wiskott-Aldrich ANATOMOPATOLOGIA 3 princípios básicos da RCU: EXCLUSIVA do Cólon. EXCLUSIVA da Mucosa. A RCU é tipicamente “ascendente” e uniforme. Ou seja, é caracterizada pelo surgimento inexplicado de lesões inflamatórias que ascendem de maneira uniforme pela mucosa do cólon. 5 Características macroscópicas Desaparecimento do padrão vascular típico do cólon Hiperemia; edema; mucosa friável; ulcerações; exsudação de muco, pus ou sangue. Formação de pseudopólipos (15 a 30%) Cronicidade: mucosa pálida, atrófica e com aspecto tubular Ulcerações, hiperemia, erosões Pseudopólipos Características macroscópicas Na RCU de longa evolução é comum ainda: Perda das haustrações Espessamento da musculatura lisa com aspecto de “cano de chumbo” Manifestações clínicas Sintomas de início insidioso com: Crescente urgência para defecar Leves cólicas abdominais baixas Aparecimento de sangue ou muco nas fezes Principais: diarreia sanguinolenta e dor abdominal Pode ser acompanhada de: Febre Artralgias , artrites, osteoporose e osteomalácia Manifestações cutâneas (eritema nodoso e pioderma gangrenoso) Manifestações oculares (conjuntivite) Manifestações hepáticas, biliares e renais Perda de peso Trombose e embolias * Raramente tem início agudo e fulminante Semelhante com a D. Crohn Diarréia sanguinolenta = com maior urgência ! - quadros de remissão e exacerbações. Desconforto abd ( menos intenso que na Crohn) Pode ocorrer massa abd sensível ( mais comum na Crohn ) Doença Crônica Debilitante: Aparecimento dos sintomas lento, quase irreconhecível. Indolor e crônico. Colite Aguda Fulminante: Aparecimento dos sintomas de forma extremamente aguda, com sintomas severos. Exacerbações: Urgência e aumento da frequência intestinal, também pode ocorrer incontinência fecal intensa. Perda de apetite e peso relacionado à dor abdominal tipo cólica (melhora com evacuação), anemia, febrícula. Proctite ou proctossigmoidite: Podem apresentar pequeno sangramento, e ser erroneamente interpretado como hemorróidas. Eritema Nodoso (5% se inicia com aspecto de furúnculo e posteriormente se torna úlcera profunda e escavada) e o pioderma gangrenoso sendo caracterizado pela presença de nódulos elevados, vermelhos e doroloros, normalmente localizados na face anterior das pernas ( Assoc com Dii) Poliartrite : Ocorre em 25%, sendo a espondilite anquilosante um achado ocasional. Manifestações Orais: Ocorrem em aproximadamente 10%, estas lesões incluem: úlceras aftosas, pioestomatite vegetante, estomatite angular e irritação da língua, que ocorrem em pacientes com doença intestinal ativa. Sua presença está relacionada à gravidade do surto. 8 diagnóstico Achados laboratoriais: Anemia ferropriva (mais comum) Hipoalbuminemia Leucocitose Aumento da proteína C reativa e VHS, Marcadores sorológicos: Anticorpo p-ANCA (presente em até 70% dos casos) Exames: Retossigmoideoscopia com biópsia é o exame de escolha; Colonoscopia com biópsia indicada em suspeita de doença grave Exame Radiográfico: Enema Opaco. ASCA - pANCA +Colonoscopia : Eritema difuso com ausência do padrão vascular submucoso normal (alteração mais precoce da colite ulcerativa) Com a progressão da doença, a mucosa vai se tornando mais granular e sangra com mais facilidade, ao passo que, quando a doença for mais severa, o sangramento da mucosa pode ocorrer sem qualquer evidência de contato instrumental. O edema do intestino aumenta com a gravidade da doença. Úlceras de tamanhos variados podem ser evidentes, podendo existir também exsudato purulento saindo da mucosa. 9 Tratamento Tratamento de fase aguda: Aminossalicilatos: Sulfassalazina 4-6g/dia – VO Mesalazina 3,2 g/dia – VO Mesalazina 1g/dia – Via supositório Corticoides: Hidrocortisona 100mg IV 8/8h Prednisona 50mg/dia Budesonida Tratamento de manutenção: (crônica) Supositório de mesalazina 1g a cada 3 dias Cerca de 3 recorrências em 1 ano – Azatioprina 2,25mg/Kg e considerar Colectomia como alternativa Tratamento cirúrgico Falta de resposta ao tratamento clínico Hemorragias severas Acompanhada de Colite Fulminante Carcinoma ou Displasia Colite Fulminante FASE AGUDA -> Corticosteroides ( VO, intravenoso ou tópico ) Altamente eficazes na fase ativa Exemplo : prednisona e budesonida (menos efeitos colaterais ) Atuam bloqueando a fosfolipase A e assim, diminuindo as prostaglandinas e os leucotrienos. Efeitos colaterais : DM,hipertensão,osteoporose e maior susceptibilidade a doenças. = inviabilizam o tto por longo periodo Tópico: enemas de hidrocortisona – 2 a 3x dia – muito eficazes, se limitado ao reto e ao lado esquerdo do colon. Fase Crônica -> aminosalicilatos Na fase crônica, o preferível é a retirada total da prednisona, mas alguns pacientes não toleram e voltam a ter surtos, para estes, é aceitável uma pequena dose diária. Tambem podem ser usados na doença ativa em doses mais altas. É eficaz na manutenção da remissão ( doses mais baixas ) Exemplo: sulfassalazina ( composta por uma molecula de 5-ASA e sulfapiridina ) Sua utilidade é limitada pela toxidade. ASACOL E PENTASACA = medicamentos novos que não contem a sulfapiridina, então tem menos efeitos. Efeitos colaterais são: náuseas, vômitos, desconforto abd e cefaleia. 10 DOENÇA DE CROHN É uma doença inflamatória intestinal (DII) crônica que afeta a parede intestinal, tornando-a espessada e rígida; Padrão transmural, acometendo desde a mucosa até a serosa; Etiologia desconhecida, mas acredita-se que ocorra por causa de infecção ou mecanismos imunológicos. Inicialmente a parede intestinal é edematosa, hiperemiada, espessada e com a lesão mais precoce, a úlcera aftoide. Acomete igualmente ambos os sexos; Mais comum em fumantes; Histórico familiar (parentesco de 1º grau); Maior frequência após os 10 anos com pico em: Adultos jovens: 15 a 25 anos Idosos: 55 a 60 anos ASCA + pANCA - Fatores que perpetuam a cascata da inflamação: Agentes infecciosos ou toxinas quebra da barreira mucosa; Antígenos da dieta; Bactérias da luz intestinal. Cronicidade da inflamação resulta de: “Geram resposta imune individual” Estímulo antigênico Fatores genéticos Amplificação da resposta inflamatória causa: Destruição tecidual; Alterações histológicas e funcionais. Influencia dos fatores genéticos não são devidamente esclarecida. Recente descoberta: mutações genéticas no cromossomo 16 (gene Nod2). Fatores ambientais: Hábitos alimentares: consumo de açúcares, fibras, frutas, vegetais, gorduras e proteínas. Fumo: nicotina aumenta risco, gravidade dos sintomas e recorrência. 11 FISIOPATOLOGIA Na DC, as alterações patológicas inflamatórias são tipicamente transmurais (na RCU estas alterações estão tipicamente restritas à mucosa). Isso explica o espessamento da parede intestinal, com estreitamento do lúmen (formação de estenoses), e também explica a potencialidade para formação de fístulas para o mesentério e órgãos contíguos extensão lateral de forma linear, retilínea: quando várias úlceras progredindo retilineamente se encontram, geralmente passam a separar áreas de mucosa normal, num aspectode “pedras de calçamento” (2) aprofundamento através das camadas da parede intestinal, resultando em fístulas para o mesentério e órgãos vizinhos. 12 Características MACROSCÓPICAS Lesão intestinal da doença de Crohn – úlceras aftosas evoluindo para ulcerações lineares (acima – EDA e RX) e para o típico padrão em “pedras de calçamento” (abaixo – EDA e RX). Características clínicas Posteriormente, o segmente afetado torna-se rígido e as úlceras, extensas e profundas; As características clínicas mais comuns da doença de Crohn são as de uma ileocolite: Diarreia crônica invasiva associada à dor abdominal; Sintomas gerais como febre, anorexia e perda de peso; Massa palpável no quadrante inferior direito*; A existência de massa palpável no quadrante inferior direito pode representar, na DC, uma alça intestinal edemaciada, de diâmetro bastante aumentado, geralmente dolorosa à palpação, ou um abscesso intra-abdominal. Doença perianal Apresenta 3 padrões: Doença no íleo e ceco (40% dos pacientes); Doença restrita ao intestino delgado (30%); Doença restrita ao cólon (25%). 14 ACHADOS RADIOLÓGICOS Exame Radiológico Simples - Fase aguda da doença Distensão de alças com gás Níveis hidroaéreos na obstrução Exame Radiológico Contrastado Revela alternância de áreas sadias e doenças Caracteriza complicações: estenose e fístulas Tomografia computadorizada: Aumento do espessamento da parede intestinal; Alterações na gordura mesentérica, retroperitoneal e do grande omento; Presença de linfadenomegalia regional; Abscessos; Fístulas Massas inflamatórias. Colonoscopia: Avaliação da extensão da doença colônica; Lesões aftóides Calcetamento da mucosa Pseudopólipos Fistulas Estenoses Fissuras Úlceras longitudinais Ultrassonografia: Pode revelar espessamento de alças intestinais imagem em alvo Útil no diagnostico de abscessos Estenoses segmentares de cólon ascendente na DC. Estenose de íleo na DC. A ileocolonoscopia com biópsia é o exame de escolha! 15 TRATAMENTO Não há cura definitiva. Objetivos terapêuticos: Induzir e manter a remissão da doença e suas complicações; Efeitos colaterais mínimos; Menor custo. Primeira linha de tratamento: Antibióticos; Corticosteroides; Imunomoduladores; Antidiarreicos; Anticolinérgicos
Compartilhar