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Ideologia do Desenvolvimento de Comunidade no Brasil

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UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
ESS - Escola de Serviço social
SSN - Departamento de Serviço Social de Niterói
Curso: Serviço Social
Disciplina: SSN00162 – Fundamentos Históricos Teóricos e Metodológicos do Serviço Social II
Professora: Eliane Martins de Souza Guimarães
Turno: Vespertino – Quinta-Feira – Horário: 14:00 às 18:00h 
Aluna: Samira Dutra dos Santos 		Mat: 213006245
Fichamento:
AMMANN, Safira Bezerra. Ideologia do desenvolvimento de comunidade no Brasil. SP: Cortez, 2013. (Prefácio, Introdução, Cap. 1 e Conclusões).
	O prefácio do livro foi produzido por Florestan Fernandes, e de maneira interessante ele revela sua decepção com as Ciências Sociais, quando ele acreditava que elas poderiam construir uma sociedade democrática. Defendia uma cooperação entre sociólogos e assistentes sociais e acreditava que a sociedade amadureceria a ponto de permitir que as classes trabalhadoras obtivessem algum controle, mas ele percebe então, que não é bem assim.[1: Sociólogo e político brasileiro pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Considerado fundador da sociologia crítica no Brasil (1920-1995).]
	Florestan Fernandes concorda com a autora quando diz que muitos erros foram cometidos no Desenvolvimento de Comunidade no Brasil. Para ele, mesmo que uma mudança radical aconteça vinda da classe trabalhadora, as classes dominantes nunca permitirão que as diferenças sejam eliminadas.
	Ele expressa a importância de Gramsci para o pensamento “socialista democrático”, e que ao se fazer uso de suas ideias deve-se romper com a ordem burguesa. Não se pode fazer uma escolha política rebelde e continuar servindo a ordem burguesa e ao Estado capitalista. “Portanto a questão obvia consiste no seguinte: a quem querem servir os intelectuais do Desenvolvimento de Comunidade?” (p.23).
	Para ele, Ammann desmascara as correntes e os intelectuais do Desenvolvimento de Comunidade quando diz,
[...] foram plenamente domesticados para preencher papéis sociais que só servem aos interesses das classes dominantes, à estabilidade da ordem e à racionalidade do capitalismo periférico, malgrado as exceções pessoais, ou mesmo de grupos inteiros que porfiaram em entrosar o Serviço Social aos interesses e aos valores sociais das classes trabalhadoras (p.23).
	Florestan Fernandes destaca a importância do balanço feito pela autora que engloba quatro décadas, e o momento vivido que era o final do século XX, um período de mudanças na ordem social. Para a autora “a importância do balanço está no desmascaramento do passado (...) a vinculação do Desenvolvimento de Comunidade às funções que ele pode e deve desempenhar como uma técnica social de aplicação racional do poder popular.” (p.25). 
	Para Fernandes se houvesse um poder real da classe trabalhadora, o Desenvolvimento de comunidade poderia ter sido usado a serviço do povo e realizado uma transformação na qualidade de vida. Mas, havia um problema a ser resolvido que era a opção política. De que lado os intelectuais ficariam? Da ordem burguesa ou da democracia popular? Os intelectuais possuíam conhecimento suficiente para se posicionarem, se libertarem do domínio da maioria e desencadearem uma consciência de massa.
	Na Introdução, Ammann fala o porquê de escrever sobre o assunto: as Ciências Políticas e Sociais deram ênfase na participação social nas últimas décadas, o que a incentivou a uma pesquisa teórico-conceitual e empírica, para descobrir se o Desenvolvimento de Comunidade no distrito Federal havia atingindo seu objetivo, que era a participação das camadas sociais no planejamento e no uso dos benefícios. 
	A conclusão foi negativa, o que a levou a questionamentos mais ampliados como, por exemplo, se a organização do Desenvolvimento de comunidade no distrito Federal tinha a mesma orientação de âmbito nacional ou se processou de modo particular. Seu desejo, então, foi compartilhar e estender suas angustias, para que outros buscassem respostas. Ammann diz que:
A análise de tais questões no contexto do Desenvolvimento de comunidade brasileiro demanda uma base de sustentação teórica e um referencial metodológico sistematizador que propicie o entendimento das articulações processadas no domínio político-jurídico-ideológico e seu nexo com a instância infraestrutural (p.31).
	
	Ela utiliza Gramsci para entender como ocorreu o processo que forma um “conjunto complexo” que envolve estrutura e superestrutura. A superestrutura tem duas esferas: a sociedade política e a sociedade civil: “(...) representam, pois, grandes instâncias reunificadas em um mesmo corpo: o Estado. Em outras palavras, o Estado implica uma hegemonia ‘encouraçada’ pela coerção, uma direção garantida pela dominação” (p.32). O Estado é hegemônico e coercivo; a força e o consenso se intercalam para dar a impressão que a força tem o apoio da maioria. A autora destaca: 
E o que significa ideologia para Gramsci: “Uma concepção de mundo que se manifesta implicitamente na arte, no direito, na atividade econômica, em todas as manifestações de vida individuais e coletivas” cujo significado é o de cimentar e unificar o bloco social (p.34).
	Coesão e consenso num bloco histórico significa que a classe dominante mascara qualquer diferença “entre forças e relações de produção”; novamente a hegemonia e a força se destacam para domínio das massas. “Assim, o momento da dominação, da coerção, da ditadura sobre as classes adversárias não basta por si só ao exercício do poder: faz-se mister garantir a hegemonia, a coesão, a direção, mediante o consenso dos grupos sociais que lhes são mais próximos” (p.35).
	Para Gramsci não há como separar o Homem faber do Homo sapiens, eis que os dois usavam o intelecto. Todos os homens são intelectuais e filósofos, pois pensam e modificam o seu território, isso não significa que todos desempenham a função de intelectual. Os intelectuais são os que desempenham as funções subalternas sob a direção do grupo hegemônico. O intelectual pode exercer qualquer função na sociedade. Para Gramsci, o intelectual não é neutro dentro do grupo dominante, ele faz parte da estratificação social organizada, que é “uma função essencial no mundo da produção econômica” (p.36).
	Os intelectuais podem ser de grande valia para realizar “a reforma intelectual e moral” no processo histórico da sociedade. Entre os intelectuais e trabalhadores, pode-se elevar os mais humildes à consciência de existência, unidade e homogenia. 
	Baseado no que a autora diz sobre as ideias de Gramsci, ela retorna ao raciocínio sobre Desenvolvimento de Comunidade, e ressalta que os intelectuais podem reproduzir o papel de dominação das relações de produção ou podem reverter esse domínio realizando uma reforma intelectual e moral para “alcançar uma forma superior e total de civilização moderna” (p.39). 
	Amman revela:
Nosso objeto de estudo não é, por conseguinte, o Desenvolvimento de Comunidade, em toda sua abrangência e magnitude. E, sim, a teoria/prática da participação produzida pelos intelectuais do Desenvolvimento de comunidade brasileiro (p.41).
	A autora adota uma postura crítica e não se isenta dos erros e acertos cometidos no período do Desenvolvimento de comunidade. O seu estudo abrangerá o período da década de 1950 até final da década de 1980, e faz um resumo do que será tratado em todo o livro. No capítulo 1: a primeira fase do Desenvolvimento de Comunidade e o período em que a disciplina é introduzida no Brasil, o seu contexto da Guerra Fria quando a atenção estava voltada para o ‘atraso’ no campo. 
	Para a autora concebe-se o desenvolvimento de comunidade com base em supostos acríticos e aclassistas (1950-59), quando se reporta a gênese do Desenvolvimento de Comunidade, ela diz que para qualquer explicação é necessário descrever o contexto histórico mundial e analisar os interesses internos e externos desses desdobramentos.
	Com a Guerra Fria o mundo se divide em dois blocos, um liderado pela Russia – os socialistas, e o outro pelos Estados Unidos – os capitalistas. O grupo socialista se torna umaameaça ao bloco capitalista. A criação do Desenvolvimento de Comunidade pela ONU é um trunfo para manter a ordem social e se proteger dos regimes comunistas. O argumento usado de que os países mais pobres são mais suscetíveis às ideologias de esquerda colocam os Estados Unidos como líder, portanto, os países mais ricos devem ajudá-los a alcançar um nível de vida mais produtivo e sadio. Surge, assim, a inspiração para a criação da OEA, afinal, o continente poderia contar com os dois países ricos, Estados Unidos e Canadá, para equipá-los ao desenvolvimento.
	Após a Segunda Guerra, os Estados Unidos inicia seu programa de assistência técnica na América Latina. Em 1945 uma série de acordos é firmada entre os Estados Unidos (Inter-American Educational Foundation, Inc. e American International Association for Economic and Social Development) e o Brasil, que tem como objetivo pedagógico o intercâmbio de educação, ideias e métodos, resultando na criação de diversas parcerias: Ministério da Agricultura – Comissão Brasileiro-Americana de Educação das Populações Rurais (CBAR); Ministério da Educação - Comissão Brasileiro-Americana de Indústria (CBAI) e em 1948 é criada a Associação de Crédito e assistência Rural (Acar).
	Na década de 1950, a ONU se empenha na implantação do Desenvolvimento de Comunidade no país, buscando integrar a população aos planos de desenvolvimento econômico e social. Essa integração acrítica e aclassista força o Serviço Social a permanecer distante das desigualdades sociais, cobrindo a realidade com outras questões. O Desenvolvimento de Comunidade tem a função de conscientizar o povo da necessidade de se fazer algo para que a sua vida social, política e econômica melhore, será um esforço em parceria com o governo para que se alcance o progresso nacional.
	O Serviço Social brasileiro se junta ao movimento mundial de Desenvolvimento de Comunidade e comunga com o modo de produção capitalista. Mas, ao esbarrar nas comunidades indígenas que não entendiam a terra e o trabalho do mesmo modo que os capitalistas (isto é, como uma mercadoria), surge a necessidade de modernizar a área rural para que estivesse de acordo com os objetivos desses capitalistas. “Tal postura casa-se perfeitamente com a política definida em âmbito nacional que aponta àquela época em direção à industrialização do país, a qual por sua vez imprescinde da crescente oferta de produtos primários” (P.50). Todas essas medidas vão tecendo o Desenvolvimento de comunidade no Brasil. 
	A ideia de que o analfabetismo é o “empecilho para o progresso”, para a paz social e para democracia, a conclusão que se chaga é que a solução está na educação de adultos. Na década de 1950 inicia-se uma série de projetos ligados ao Desenvolvimento de Comunidade para amenizar o problema: 1950 – Missão Rural de Itaperuna; 1952 – Campanha Nacional de Educação Rural (CNER); 1955 – Serviço Social Rural (SSR); 1956 – Associação Brasileira de Crédito e Assistência rural (Cbcar).
	E ainda é realizado três Seminários sobre Desenvolvimento de comunidade sob o patrocínio da OEA: 1951 – Seminário sobre Desenvolvimento de Comunidade; 1953 – Seminário Regional de Bem-Estar Rural; 1957 – Seminário de Educação de Adultos para o Desenvolvimento de comunidade. Esses seminários foram decisivos para a expansão da disciplina, que qualificou o profissional para um trabalho direto com as populações e sua melhoria de vida. “Em mimetismo com as propostas internacionais, tal melhoria é concebida sem uma postura crítico-reflexiva sobre as estruturas responsáveis pelos baixos níveis de vida e sem ponderar sobre o antagonismo das classes no seio da sociedade” (p. 54).
	Surgem os primeiros intelectuais brasileiros da disciplina, e para que a igualdade e a consciência dentro da profissão permaneçam e não haja confusão de ações e funções, a autora se refere a Gramsci quando ele diz que “todo grupo social cria estratificação de intelectuais” (p.54). Como havia um interesse muito acentuado em difundir o Desenvolvimento de comunidade no Brasil, foi estimulado que os intelectuais nacionais produzissem sua própria literatura. Três obras merecem destaque: o Ministério da Agricultura apresenta um “ensaio de educação de base visando à recuperação e ao Desenvolvimento de comunidades Rurais”; “a obra de José Arthur Rios, salientando a importância dos grupos” e “o livro de Balbina Ottoni Vieira sobre a Missão Rural de Itaperuna” (p.54). Essas obras tiveram grande influência na formação dos assistentes sociais brasileiros.
	A experiência de Itaperuna nasce do acordo entre Brasil e Estados Unidos:
Trata-se, pois, de uma experiência-modelo que se insere na política desenvolvimentista da década e que responde aos interesses das classes dominantes no sentido da modernização do meio rural, mediante educação de adultos. Esta passará a ser considerada como um requisito indispensável a uma melhor organização e reorganização social com sentido democrático e como recurso social da maior importância para desenvolver entre as populações adultas ‘marginalizadas’ o sentido de ajustamento social (p.56).
	Na obra de Rios (1957), diz a autora, tal qual a experiência de Itaperuna, sugere um trabalho isolado com participação da população local. Ele apresenta duas propostas de educação social e de como operacionalizar essas propostas em favor próprio. As propostas possuem as mesmas características, sugerindo respostas locais, sem reflexões e ações que se atinjam as relações de produção rural em âmbito nacional. Quanto à obra de Vieira, é criticada pela autora porque a situação brasileira não é problematizada, ela apenas reproduz a visão americana e acaba por se perder em sua retórica.
	As obras de Vieira e a experiência de Itaperuna tem o tripé do Positivismo como base de ação: “indivíduo, família e comunidade”. Havia uma divisão social, religiosa e de gênero bem nítida na missão Rural de Itaperuna, mas com esforço coletivo seria possível dissipar qualquer problema. “Objetiva-se assim o progresso, tendo, a exemplo do positivismo, a ordem como base e o amor como princípio” (p.60).
	Rios tem sua obra vinculada à Sociologia com partes interdependentes de maneira que ao se relacionarem formam a totalidade. A noção de integralidade em seu trabalho é que forma o seu conceito de comunidade. Para ele há três tipos de comunidade: integrada, desintegrada e madura. A comunidade perfeita é a integrada com características de equilíbrio e estabilidade. A obra do autor tem seu foco na política nacional desenvolvimentista que é a modernização e na paz social. 
Rios estabelece algumas estratégias, entre as quais figuram o controle social pelas instituições básicas da sociedade que fornecem as normas de conduta dos indivíduos, o combate a “ideologias indesejáveis” como o comunismo, e o assentimento de um consenso social legitimado nas lideranças locais. As noções de controle social, normas, consenso, preservação e legitimação das pautas moralmente sancionada, somadas e outras categorias presentes, em outras passagens refletem nitidamente o nexo de sua proposta coma teoria funcionalista que se expandia no Brasil como referendo à modernização do sistema de governo (p.62).
	
	Ammann conclui dizendo o que se entende por participação nestas três obras analisadas é que quando a liderança, o povo ou as organizações permitem que, outros que não estão envolvidos diretamente com os problemas sejam os intérpretes, gestores e executores dos programas que se objetivam mudar a vida da comunidade, eles são os comandados do sistema e a classe subalterna continuará crendo que participa de alguma decisão, sob a sedimentação dos intelectuais.
	O Desenvolvimento de Comunidade no meio rural tem sua origem no interesse de organizações políticas nacionais e internacionais para que o capitalismo pudesse se expandir usando a educação de adultos como estratégia principal. Para que a educação no meio rural fosse difundida dentro desse propósito é criada a Campanha Nacional de Educação Rural (CNER) no governo de Vargas (1952), sendo regulamentadano governo de Kubitschek (1956).
	Como instrumento do Estado, o CNER será conduzido pela classe dominante para favorecer o capitalismo e o consolidar através do campo, incorporando as políticas desenvolvimentistas e escondendo a questão rural, sem enfrenta-la em sua raiz que é a ”exploração da força de trabalho”.
	A ONU recomenda e a CNER se utiliza dos centros sociais locais para promover os objetivos desenvolvimentistas. A sua importância faz com que a ONU organize “uma comissão para estudar os objetivos, métodos e êxitos obtidos pelos mesmos, tanto em países” desenvolvidos como subdesenvolvidos (p.70). O problema foi que os países subdesenvolvidos se utilizaram dos mesmos modelos dos países desenvolvidos, isto se tornou em um grande problema. Era como se o centro social tivesse o poder de desfazer as diferenças de uma localidade, servindo a todos sem levar em conta credos, raças ou classes.
Desde a década de 1940 inúmeros centros proliferaram no Brasil principalmente sob a orientação da Igreja Católica e do Serviço Social, mas sua institucionalização e respaldo oficial se deveram à CNER. Segundo os planos daquele órgão, o trabalho das missões rurais se consolidaria através de criação de centros sociais que objetivariam a “centrifugação das energias da comunidade” (p.71).
	As missões rurais surgem num momento de entusiasmo com relação à educação, pois acreditavam que ela era a solução para os problemas socioculturais do contexto rural. A população do campo era considerada “disfuncional” para o desenvolvimento, por isso, precisava ser preparada para colaborar com o sucesso de toda a sociedade. As missões permaneciam na área de atuação até as comunidades se mostrarem autossuficientes. Os técnicos eram formados pela CNER ou nos Estados Unidos em educação de base com princípios de democracia e humanização, “cujas técnicas de trabalho primordiais eram a educação dos grupos, a organização e o desenvolvimento de comunidades” (p.75).
	A autora analisa que nem a educação de base, nem os métodos usados no campo como organização de desenvolvimento de comunidade foram suficientes para transformar desnivelamentos nas estruturas da sociedade; é nítido que essas ações isoladas não resolveram o problema da questão social, mas que seria necessário uma transformação radical nas estruturas e no modo de produção da nação.
	Ammann encerra dizendo que mesmo querendo fazer o melhor pelas classes subalternas, eles (os intelectuais) falharam na “unidade orgânica postulada por Gramsci” (p.77). Suas palavras são:
Ao contrário, reproduzimos a ideologia das classes dirigentes interessadas em remover os obstáculos à expansão do modo de produção capitalista e em engordar a exploração da força de trabalho agrícola, pelo aumento de sua produtividade, pela modernização de suas técnicas, e pelo acirramento da denominação por parte dos detentores dos meios de produção (p. 77).
	
	Ela tem consciência de que ao colocar a culpa dos problemas sobre os sujeitos, era-lhes negado perceber a origem de sua exploração que os transformava em mercadorias.
	Em sua conclusão a autora faz um apanhado de tudo que foi analisado: 
	1. O Desenvolvimento de Comunidade implantado no Brasil era uma ideologia dos grupos hegemônicos com interesses capitalistas. Sua introdução no campo removia os obstáculos e se utilizava dos recursos primários em causa própria. O PDC foi estratégico e eficiente ao ser usado pela classe dominante sob o apoio das classes subalternas. Qual foi o resultado: pobres mais pobres e ricos mais ricos (p. 241).
	2. O Desenvolvimento de Comunidade convocava a participação popular, mas não especificava como seria essa participação. Algumas correntes descrevem essa participação sendo micro e localista, sem a participação da sociedade como um todo. Outra determina que essa participação foi macro e provocou transformações nacionais, mesmo acobertando a dominação de classes. Uma terceira articula que essa participação foi uma adesão das sociedades civil e política para garantir a perfeita harmonia aos planos do governo. E uma quarta vê essa “participação num contexto macrossocietário regido por forças antagônicas e luta-se pelas mudanças estruturais a partir da estrutura de classes sociais e da atuação junto a frações e categorias dessas mesmas classes” (p.245).
	3. Quanto à participação dos intelectuais, ela é vista como uma contribuição aos propósitos do capital e seus associados. Aos se posicionarem como apolíticos reforçavam as intensões hegemônicas que eram contrárias à politização do proletariado, direcionando os interesses políticos da classe para outra direção. Assim, eles abafavam os conflitos de classes para preservar o domínio e a opressão. “Conscientes disso é que trabalhadores sociais vêm tentando construir um novo projeto profissional comprometido, desde suas nascentes, com os interesses e objetivos das classes trabalhadoras, pela inserção nos movimentos populares” (p.247).
	4. A autora diz “que o Desenvolvimento de Comunidade contribui para a exploração da força de trabalho, tanto se vinculando diretamente ao momento do processo produtivo, quanto indiretamente, ao âmbito da vida familiar” (p.247). 
	No campo o Desenvolvimento de Comunidade colaborou com a acumulação do capital e na exploração do trabalhador, aumentando sua produtividade ao introduzir novas técnicas e se apropriando do excedente, e responsabilizando o individuo por seus problemas. Nas cidades o Desenvolvimento de Comunidade “opera articuladamente com as políticas de industrialização e passa a colaborar com a qualificação do exército industrial de reserva, na forma, no compasso e na medida exigida pelas classes burguesas que comandam a expansão industrial capitalista” (p.248).
	A autora diz repartir com outros intelectuais do Desenvolvimento de comunidade o choque de perceber como foram cometidos erros, mas que podem agora percorrer um caminho diferente, ter um novo posicionamento ao lado das classes dominadas com uma reflexão critica e de vontade coletiva.
	Ao concluir este fichamento percebo que a autora descreve com pesar a implementação do Projeto Desenvolvimento de Comunidade no Brasil, e se pudesse voltar atrás, teria outra postura. Usando suas palavras “evocando sempre o benefício das classes populares”, entendemos que havia nesses intelectuais o desejando de que a população fosse atendida em suas necessidades básicas sem qualquer dano ou prejuízo. O seu espanto se consolida diante da descoberta de terem sido enganados através do adestramento para manipular o povo, e ironicamente, acontecendo o mesmo com eles; não que isso tenha ocorrido em plena consciência. É espantoso e até assustador, perceber como o capitalismo se comporta como se fosse um ser vivo com vida e vontade próprias, que ainda se alimenta da exploração e do dinheiro.
	Podemos afirmar que o Desenvolvimento de Comunidade foi uma estratégia que alcançou o seu objetivo: manipular, explorar e acumular, e de quebra impedir que o comunismo crescesse mais do que o capitalismo. Mas, como a própria autora acentua, esperamos que um novo caminho seja trilhado e que os erros do passado nos ensinem a tomar a direção da crítica e da reflexão. Como Florestan Fernandes disse no prefácio, e que concordo, é que se o Desenvolvimento de comunidade tivesse sido usado a serviço do povo teria, com certeza, transformado a vida de muita gente.

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