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temas contemporaneos psicologia 3

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Camila Avarca
Temas contemporâneos 
em psicologia
04
Sumário
CApíTulo 3 – Disciplina TEMAS CoNTEMpoRÂNEoS EM pSIColoGIA ............................. 06
3.1 As iniquidades étnico-raciais: aspectos históricos e dilemas atuais .................................. 07
3.1.1 Aspectos históricos do racismo no Brasil ...................................................................... 07
3.1.2 A desigualdade estrutural e a situação da população negra no Brasil hoje ...... 09
3.1.3 Efeitos da iniquidade na saúde da população negra ............................................. 11
3.1.4 o compromisso da psicologia no combate ao racismo ............................................ 12
3.2 A necessidade de expansão das práticas em psicologia na atenção à saúde de povos 
indígenas: ciência, cultura e pensamento indígena ...................................................................... 16
3.2.1 A história silenciada dos povos indígenas .................................................................. 16
3.2.2 Ciência, cultura e pensamento indígena ...................................................................... 19
3.2.3 práticas em psicologia na atenção à saúde de povos indígenas ......................... 20
3.2.4  Essas  são as  recomendações apontadas pelos  indígenas aos profissionais  psicólogos 
para atuação no campo da saúde indígena e que foram organizadas em sete campos 
principais (CRp-Sp, 2010): ......................................................................................................... 21
3.3 Modos de vida itinerantes e o cuidado às pessoas em situação de rua: a psicologia que se 
faz ao andar ....................................................................................................................................... 22
3.3.1 Contextualizando a população em situação de rua ................................................ 22
3.3.2 o cuidado às pessoas em situação de rua e a articulação da rede de atenção 24
3.3.3 A psicologia que se faz ao andar: reinventando a prática para intervir em situação 
complexas ..................................................................................................................................... 27
3.4  Impacto das reflexões psicológicas sobre a globalização e o aumento da imigração  27
3.4.1 Viver em um mundo globalizado: facetas da exclusão ........................................... 28
3.4.2 Aumento da imigração no Brasil a atuação do psicólogo nesse cenário ............. 29
06
Introdução
Esta unidade é continuidade da discussão realizada na unidade 2, em que pudemos relacionar 
os pressupostos dos direitos humanos com a atuação ética do psicólogo.
Nesta unidade de ensino, iremos destacar quatro aspectos que exigem do profissional psicólogo 
a  reflexão  contínua  sobre  sua  própria  prática,  de  modo  a  não  reproduzir  preconceitos, 
iniquidades e exclusão historicamente construídos. É importante lembrar que nosso código de 
ética tem como pressuposto que nossa prática permeie ações de promoção de saúde e a 
qualidade de vida das pessoas e das coletividades, entendendo que o psicólogo contribuirá 
para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, 
crueldade e opressão.
A unidade 3 contará com a discussão sobre a prática do psicólogo nas relações étnico-
raciais, ou seja, serão abordadas as iniquidades históricas em relação à população negra e a 
perpetuação do racismo em nossa sociedade. Traremos a importância do posicionamento ético 
do profissional psicólogo contra o racismo e qualquer forma de preconceito e opressão.
o segundo aspecto a ser discutido é a necessidade de expansão das práticas em psicologia 
na atenção à saúde de povos indígenas. Falaremos sobre a história (silenciada) dos povos 
indígenas no Brasil e a importância da atuação transdisciplinar do psicólogo na relação com a 
cultura e com o conhecimento indígena.
o terceiro tema abordado será a atenção às pessoas em situação de rua. A principal pergunta 
que esse tópico pretende responder é: como o psicólogo irá atuar no contexto da rua? Como se 
dá a atuação fora do chamado setting terapêutico? Nesse sentido, iremos trazer a importância 
da atuação em rede entre as políticas de saúde e da assistência social, além da necessidade 
do profissional psicólogo reinventar sua prática.
Por fim, trataremos de um tema atualíssimo e ainda pouco discutindo no campo, que é a atenção 
às  pessoas  em  processo  migratório  e  os  desafios  de  exercermos  uma  psicologia  que  seja 
transcultural.
Capítulo3Disciplina TEMAS 
CoNTEMpoRÂNEoS EM 
pSIColoGIA
07
Temas Contemporâneos em Psicologia
Laureate International Universities
3.1 As iniquidades étnico-raciais: aspectos 
históricos e dilemas atuais
3.1.1 Aspectos históricos do racismo no Brasil
Quando recorremos ao imaginário social sobre a cultura africana e sobre a população 
negra no Brasil, logo nos vem à mente o momento da história brasileira em que era colônia 
portuguesa, marcado pela escravidão de povos africanos para mão de obra de atividades 
antes realizadas pela exploração dos índios nativos. o incentivo à escravização africana no 
Brasil se deu a partir de 1570. Dez anos depois, chegavam cerca de 2 mil africanos por anos 
em embarcações extremamente precárias chamadas de navios negreiros (SKIDMoRE, 1993). 
A história do processo de escravidão dos povos africanos é marcada por muita violência, 
desumanização e condições miseráveis de vida. Eles foram capturados à força nas terras onde 
viviam e foram trazidos para as Américas em situação precária. Muitos não conseguiam cruzar 
o oceano atlântico e morriam durante a viagem, vítimas de doenças, maus tratos e fome. os 
escravos que sobreviviam a essa viagem eram separados de outros escravos da mesma tribo ou 
da mesma referência cultural para que fossem impedidos de se comunicar: ou seja, lhes eram 
negadas todas as possibilidades de humanização.
Ao chegarem no continente americano, eram vendidos aos seus senhores para servir de mão 
de obra, principalmente nas lavouras de cana-de-açúcar aqui no Brasil. os que se recusassem 
a realizar as atividades ordenadas pelo senhor eram submetidos a castigos violentos. Em 
síntese, além de todo o processo vivido pelos povos que vieram escravizados da África para o 
Brasil, como separação de sua terra natal, de seus familiares, de sua cultura e seus costumes, a 
humilhação e a violência faziam parte do cotidiano. 
Nesse sentido, é importante lembrarmos do que foi dito na unidade 2 sobre os direitos humanos, 
já que historicamente os povos e populações negras tiveram seus direitos negados, inclusive o 
direito à vida. Durante todo o período da escravidão, eles foram entendidos apenas como 
mercadorias.
Fausto (2013), a partir de diferentes estudos historiográficos, aponta que ao longo da história 
da escravidão africana no Brasil colonial foram trazidos cerca de quatro milhões de africanos 
para o Brasil. 
A escravidão pode ser definida11 como o sistema de trabalho no qual o indivíduo (o escravo) 
é propriedade de outro, podendo ser vendido, doado, emprestado, alugado, hipotecado, 
confiscado. Legalmente, o escravo não tem direitos: não pode possuir ou doar bens e nem iniciar 
processos judiciais, mas pode ser castigado e punido. No Brasil, o regime de escravidão vigorou 
desde os primeiros anos logo após o descobrimento até o dia 13 de maio de 1888, quando a 
princesa regente Isabel assinou, utilizando uma caneta de ouro e pedras preciosas, oferecida 
pelos abolicionistas, a lei 3.353, mais conhecida como lei Áurea, libertando os escravos.
1 Discussão realizada pelo portal: https://www.geledes.org.br/historia-da-escravidao-negra-brasil/
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NÃo DEIXE DE lER
A escravidão é um capítulo da História do Brasil. Embora ela tenha sido abolida há 115 anos, 
não pode ser apagadae suas consequências não podem ser ignoradas. A História nos permite 
conhecer o passado, compreender o presente e pode ajudar a planejar o futuro. 
Fonte: https://www.geledes.org.br/historia-da-escravidao-negra-brasil/ 
por que é importante retomarmos o passado da história da escravidão? Há efeitos desse 
processo histórico nos dias atuais? E qual o impacto para a psicologia?
Vamos pensar…
A história de que os escravos foram libertados pela Princesa Isabel 
enquanto assumia o trono do Brasil império é verdadeira. Entretanto, 
há muito outros detalhes, conforme apontam historiadores como Prado 
Jr. (2012), que precisam ser mais bem apresentados para consolidar-
mos aspectos conceituais para o que chamamos de racismo atualmente.
Dois aspectos no processo de abolição da escravatura são essenciais: o primeiro é que o 
processo abolicionista era praticamente inevitável, sobretudo devido às pressões internacionais, 
do próprio movimento abolicionista e da ação dos escravizados que lutavam por sua liberdade 
e também no Exército Brasileiro na época da guerra contra o paraguai. Desae modo, caso a 
princesa Isabel não tivesse promulgado a lei imperial contra a escravidão, em pouco tempo 
isso iria acontecer. o segundo aspecto diz respeito à entrada de trabalhadores imigrantes, 
sobretudo europeus, para trabalharem nas lavouras do Sudeste. Segundo Maringoli (2011), 
dados do IBGE informam que, entre 1871 e 1880, chegaram ao Brasil 219 mil imigrantes. 
Na década seguinte, o número salta para 525 mil. E, no último decênio do século XIX, após a 
Abolição, o total soma 1,13 milhão. Nesse sentido, passam a se constituir no Brasil novas relações 
sociais, alterando o mercado de trabalho e a relação com a mão de obra escravizada.
A questão é que a sanção da lei Áurea não repercutiu em melhorias concretas para os ex-
escravizados: eles não foram inseridos na sociedade republicana. por conta dessa desigualdade 
de condições e acesso, os negros ex-escravizados não conseguiram acessar melhores posições 
sociais, permanecendo marginalizados. 
Se  fizermos  aproximações  com  nosso  cotidiano,  percebemos  que  ainda  hoje  existem  o  que 
chamam juridicamente de “situações análogas à escravidão”, principalmente em regiões 
demograficamente isoladas no interior do Brasil, que representam uma permanência de relações 
de trabalho em que o indivíduo não tem nenhum direito trabalhista. No site das Nações unidas 
há informações sobre o observatório Digital do Trabalho Escravo no Brasil do ano de 20172 
apontando que, entre os anos de 1995 e 2017, mais de 50 mil pessoas foram resgatadas 
2 Disponível em: https://observatorioescravo.mpt.mp.br/ Acesso em 28/06/18.
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Temas Contemporâneos em Psicologia
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de trabalho em condições análogas à escravidão no Brasil. pessoas que, ainda hoje, pagam 
pela manutenção de sua existência. Exatamente igual aos escravizados do período colonial e 
imperial, conforme afirma Malacco (2016).
3.1.2 A desigualdade estrutural e a situação da população negra 
no Brasil hoje
De acordo com Botosso (2018)3, a segregação socioeconômica que os negros vivem até hoje 
no Brasil está naturalizada, inclusive nas relações de poder e subordinação (basta observamos 
indicadores de diferenças salariais entre brancos e negros), e pode ser denominada como 
racismo, uma vez que se afirma de maneira sistemática e institucional a superioridade de um 
grupo racial.
SAIBA MAIS...
De acordo com material do Ministério da Justiça e Cidadania (2016)4, racismo é a doutrina 
que afirma a superioridade de determinados grupos étnicos, nacionais, linguísticos ou religio-
sos sobre outros. por extensão, o termo passou a designar as ideias e práticas discriminatórias 
advindas dessa afirmada superioridade.
o racismo se expressa de muitos modos e não somente a partir de ações ou palavras ofensivas 
deliberadas, ou seja, a dinâmica do racismo no Brasil ainda é bastante velada, mas pode ser 
observada a partir de índices e indicadores em relação à saúde, salário e qualidade de vida 
entre homens e mulheres negros em relação aos homens e mulheres brancos. 
Vamos analisar  três gráficos para compreendermos como o racismo pode ser observado no 
cotidiano da população negra.
3.1.2.1 Gráfico sobre pobreza, distribuição e desigualdade de renda
Pobreza, distribuição
e desigualdade de renda
Renda média da população, segundo
sexo e cor/raça. Brasil, 2009.
Fonte: Retrato das desigualdades de gênero e raça - 4ª edição
Legenda = R$ 10,00
= R$ 1,00
R$ = R$ 100,00
R$ 1491,00 R$ 957,00 R$ 833,50 R$ 544,40
3 Disponível em: https://direitoscivis.com/2018/02/10/o-racismo-no-brasil/ Acesso em 10/06/2018.
4 Disponível em: http://www.justica.gov.br/news/mjc-ira-elaborar-plano-nacional-de-politicas-para-povos-de-matriz-africana/
cartilha-racismo-e-crime-digital.pdf Acesso em 28/06/2018
10
Se observamos o gráfico acima, percebemos que o homem branco, seguido da mulher branca, 
têm renda mensal acima da de homens e mulheres negras, somando as duas rendas juntas. 
Em um país em que as políticas públicas fossem efetivas – como saúde, educação, cultura e 
lazer –, além de ações de políticas afimativas, a tendência é que houvesse a diminuição de 
desigualdades.
NÃo DEIXE DE CoNHECER...
O que são ações afirmativas? 
Ações afirmativas são políticas públicas feitas pelo governo ou pela iniciativa privada com o 
objetivo de corrigir desigualdades raciais presentes na sociedade, acumuladas ao longo de 
anos.
Uma ação afirmativa busca oferecer igualdade de oportunidades a todos. As ações afirmati-
vas podem ser de três tipos: com o objetivo de reverter a representação negativa dos negros; 
para promover igualdade de oportunidades; e para combater o preconceito e o racismo.
Fonte: http://www.seppir.gov.br/assuntos/o-que-sao-acoes-afirmativas
São exemplos de ações afirmativas no Brasil: a)  Lei  n.º 12.711 de 2012 que dispõe  sobre 
o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível 
médio e dá outras providências (conhecida pela lei das cotas raciais nas universidades). b) lei 
10.639/03 de ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, que versa sobre o ensino 
da história e cultura afro-brasileira e africana e ressalta a importância da cultura negra na 
formação da sociedade brasileira.
3.1.2.2 Gráfico sobre mercado de trabalho
Mercado de trabalho
Taxa de desemprego da população
de 16 anos ou mais de idade, segundo
sexo e cor/raça. Brasil, 2009.
Fonte: Retrato das desigualdades de gênero e raça - 4ª edição
5,3%
6,6%
12,5%
9,2%
11
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Este segundo gráfico nos mostra a desigualdade entre gênero e raça no quesito desemprego. 
De um modo geral, o gráfico nos demonstra que as mulheres ocupam a menor fatia do mercado 
de trabalho, sendo as mulheres negras as que mais sofrem por conta do desemprego. A pesquisa 
Nacional por Amostra de Domicílios (pNAD) divulgada no início de 2018 apresenta dados 
similares, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No fim de 2017, o nível da 
ocupação dos homens foi estimado em 64,5% e o das mulheres, em 45,4%.
Dos que se encontram empregados, somente 33% eram pretos ou pardos, entre homens e 
mulheres. Já entre os trabalhadores por conta própria, essa população representava 55,1% 
do total. Mais de um milhão de trabalhadores pretos ou pardos atuavam como ambulante, 
totalizando 66,7% dessa ocupação. No terceiro trimestre de 2017, 25,2% dos trabalhadores 
pretos ou pardos atuavam como ambulantes; em 2014 esse percentual era de 19,4%.
para o coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, os indicadores 
apresentam a desigualdade estrutural existente no Brasil. De acordo com Azeredo, “entre 
os diversos fatores estão a falta de experiência,de escolarização e de formação de grande 
parte da população de cor preta ou parda. Isso é um processo histórico, que vem desde a 
época da colonização”. 
3.1.3 Efeitos da iniquidade na saúde da população negra
Como a psicologia, como ciência e profissão, se posiciona em relação ao racismo, entendendo 
que seus efeitos são concretos e afetam a vida das populações negras, conforme vimos nos 
indicadores discutidos acima? para analisarmos os efeitos subjetivos do racismo, podemos 
nos basear em dois aspectos: o primeiro é compreender a noção de saúde dentro de seus 
determinantes sociais, e o segundo é analisarmos os indicadores de saúde sobre a saúde mental 
da população negra no Brasil.
Vejamos: a lei do Sistema Único de Saúde (n.º 8080 de 1990) define que saúde é um aspecto 
que vai para além da mera ausência de doença. um sujeito saudável precisa, antes de mais 
nada, ter acesso a alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, 
educação, transporte, lazer, e bens e serviços essenciais (Brasil, 1990). Esses aspectos são o 
que chamamos de determinantes em saúde, ou seja, são fatores sociais, econômicos, culturais, 
étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de 
saúde e seus fatores de risco na população. 
Nesse sentido, se relacionarmos as condições de vida precárias a que grande parte da 
população negra é submetida pelo processo de exclusão e racismo, e se compararmos com 
a desigualdade salarial, educacional e de acesso à saúde dessa população em relação 
aos brancos, podemos fazer uma primeira análise sobre o processo de saúde das pessoas 
negras:  a  falta de acesso aos determinantes  sociais  em  saúde mencionados acima  significa 
necessariamente ter a saúde negligenciada.
Nesse contexto, a pNSIpN – política Nacional de Saúde Integral da população Negra foi 
pensada para ser estratégica na superação do racismo e promoção da equidade em saúde 
da população negra (Brasil, 2007). o texto da pNSIpN cita os condicionantes sociais que 
influenciam os  agravos  à  saúde da população  negra,  trazendo  números  que apontam,  por 
exemplo, que crianças negras ou pardas e jovens, adultos e idosos negros estão mais suscetíveis 
aos riscos de mortes e de contraírem doenças. 
Detalhando um pouco mais esses indicadores, a pNSIpN (2007) apresenta o relatório chamado 
Saúde Brasil 2005: uma análise da situação de saúde com informações e análises discriminadas 
12
segundo raça, cor e etnia, enfocando assistência pré-natal, tipo de parto, baixo peso ao nascer 
e análise dos dados referentes ao nascimento, incluindo morbimortalidade materno-infantil, em 
âmbito nacional e regional. 
para termos exemplos dessas iniquidades em saúde para a população negra, podemos 
apontar que, entre os nascidos vivos negros, a proporção de nascimentos provenientes de mães 
adolescentes de 15 a 19 anos foi de 29%, (1,7 vez maior que os nascidos vivos brancos). 
Ou seja: as adolescentes negras têm mais filhos que adolescentes brancas. Verificou-se ainda 
que 62% das mães de nascidos brancos referiram ter passado por sete ou mais consultas de 
pré-natal. para as mães de nascidos pardos, apenas 37% tiveram sete ou mais consultas de 
pré-natal (conforme preconizado pelo Ministério da Saúde para se ter atenção ao pré-natal 
adequada). (BRASIl, 2005).
o relatório destaca ainda um dado alarmante: o risco de uma criança negra ou parda morrer 
antes dos cincos anos por causas infecciosas e parasitárias é 60% maior do que o de uma 
criança branca. Também o risco de morte por desnutrição apresenta diferença abismal, sendo 
90% maior entre crianças negras e pardas que entre brancas (BRASIl, 2005). A análise dos 
dados também permitiu constatar que as mulheres negras grávidas morrem mais de causas 
maternas, por exemplo da hipertensão própria da gravidez, que as brancas; as crianças 
negras morrem mais por doenças infecciosas e desnutrição; e, nas faixas etárias mais jovens, os 
negros morrem mais que os brancos.
Conclui a pNSIpN (2017) que, para uma análise adequada das condições sociais e da saúde da 
população negra, é preciso ainda considerar a grave e insistente questão do racismo no Brasil, 
persistente mesmo após uma série de conquistas institucionais, devido ao seu elevado grau de 
estranhamento na cultura brasileira. O racismo se reafirma no dia a dia pela linguagem comum, 
se mantém e se alimenta pela tradição e pela cultura, influencia a vida, o funcionamento das 
instituições, das organizações e também as relações entre as pessoas; é condição histórica e traz 
consigo o preconceito e a discriminação, afetando a população negra de todas as camadas 
sociais, residente na área urbana ou rural e, de forma dupla, as mulheres negras, também 
vitimadas pelo machismo e pelos preconceitos de gênero, o que agrava as vulnerabilidades a 
que está exposto esse segmento.
3.1.4 o compromisso da psicologia no combate ao racismo
Em relação ao impacto do racismo na saúde mental da população negra, é importante considerar 
a dificuldade em se ter acesso a dados sobre a saúde mental da população negra. Isso acontece 
porque a cor não é uma informação coletada e analisada pelos órgãos responsáveis, como se 
o recorte racial fosse irrelevante para compreender os transtornos mentais. 
Entretanto, dois estudos recentes nos permitem pensar a questão. o primeiro se trata do estudo 
de Santos e Machado (2011) em que é possível identificar que pessoas negras de cor de pele 
mais escura permanecem, em média, 71,8 dias internadas em hospitais psiquiátricos, enquanto 
que as de cor de pele mais clara, também chamadas de pardos, permanecem 20,3 dias e 
brancos, 20,1 dias (p. 19) em um hospital psiquiátrico no interior de São paulo. Também foi 
identificado no estudo que essas são as pessoas que se encontram nos quadros mais agudos de 
desamparo, pois não recebem visitas e, muitas vezes, não têm familiares ou amigos que possam 
oferecer assistência após o período de internação.
outro estudo, de Emiliano de Camargo David (2017), discute os efeitos do racismo na produção 
de subjetividades em crianças e adolescentes de um Centro de Atenção psicossocial Infanto-
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Temas Contemporâneos em Psicologia
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Juvenil (CApS IJ) na cidade de São paulo. Nesse trabalho, ele analisa diferentes prontuários 
de casos de crianças e adolescentes que tenham possíveis sofrimentos psíquicos relacionados 
ao racismo, ampliando a discussão da produção da loucura em crianças e adolescentes negros.
Valter da Mata, em entrevista para o Conselho Federal de psicologia em 2015, aponta que, em 
se tratando de saúde mental, há duas dimensões que são atacadas diretamente pelo racismo 
em relação à população negra: a identidade e a autoestima. 
Ele discute a ausência de referenciais identitários negros que são valorizados em nossa 
sociedade (como heróis negros, ou atores negros considerados bonitos e valorizados em seus 
papéis em filmes ou novelas) e como esse aspecto afeta a construção da identidade da pessoa 
negra: resta ao grupo subalterno se identificar com a sua “inferioridade natural” ou reivindicar 
para si um ideal de ego branco. 
Um exemplo disso pode ser representado nas duas figuras abaixo:  tratam-se de figuras de 
representatividade (super-heróis de um filme de cinema) para crianças negras.
Legenda: Crianças reprisam pôsteres do filme Pantera Negra.
Fonte: universo Marvel 616, 2018.
De acordo com Da Mata, instala-se nesse processo de falta de referências e representatividade 
a baixa autoestima, em que as pessoas passam a se valorizar pouco, acreditando que são 
inferiores. Como consequências somáticas temos a depressão, o alcoolismo, a ansiedade, a 
autodepreciarão, a síndrome do pânico, etc. o quadro é complexo e requer certa experiência 
para se diagnosticar que essas manifestações podem advir da discriminação racial.14
NÃo DEIXE DE VER...
Você conhece o “teste da boneca”? Trata-se de um experimento realizado nos anos 40 nos 
Estados unidos para testar o grau de marginalização sentido por crianças afro-americanas, 
causado por preconceito, discriminação e segregação racial. Embora norte-americano, ele tem 
sido replicado em diferentes países, incluindo no Brasil, com resultados similares.
para assistir, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=CdoqqmNB9JE
Para  finalizar,  o  papel  do  psicólogo  reside  em,  além  de  combater  o  racismo,  identificar  e 
abordar possíveis situações de racismo no sofrimento psíquico e na construção da identidade 
das pessoas atendidas, seja em seu consultório particular, seja nas instituições, nas empresas 
ou equipamentos públicos. Também é importante a valorização e implementação de ações 
afirmativas em prol da promoção da igualdade e de políticas de inclusão (como a legislação 
que garante as cotas raciais).
A Lei de Cotas n. 12.711/2012, sancionada pela presidenta da república 
Dilma Rousseff, atribui cota de 50% das vagas em instituições e 
universidades federais destinadas a estudantes egressos de escolas públicas 
e com renda familiar igual ou inferior a um salário mínimo e meio per capita, 
e também adota critérios raciais para a cota (pretos, partos e indígenas).
É importante salientar que a prática do racismo é crime no Brasil desde 1989, com a lei 
7716/89, conhecida como “lei Caó”, proposta pelo jornalista, ex-vereador e advogado Carlos 
Alberto Caó oliveira dos Santos, que determina a igualdade racial e o crime de intolerância 
religiosa. 
o tema do racismo ainda é complicado para muitas pessoas, principalmente quando se trata 
da lei. Mesmo com a implantação de legislação contra o racismo, existem aqueles que não 
sabem diferenciar determinadas atitudes como prática de crime de racismo ou não. uma das 
maiores confusões que as pessoas podem cometer é confundir racismo e injúria racial (Santos, 
2013).
Injúria racial ocorre quando são ditas ou expressadas ofensas a determinados tipos de pessoas, 
tendo como exemplo chamar um negro de macaco. Esse exemplo já ocorreu em vários casos no 
futebol, em que jogadores foram ofendidos por essa palavra e alguns entraram com processo. 
Nesses casos, os acusados seriam julgados por causa da injúria racial, onde há a lesão da honra 
subjetiva da vítima. A acusação de injúria racial permite fiança e tem pena de no máximo oito 
anos, embora geralmente não passe dos três anos.
15
Temas Contemporâneos em Psicologia
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Já o racismo é considerado crime inafiançável e imprescritível. Para o crime ser considerado 
racismo, tem que menosprezar a raça de alguém, seja por impedimento de acesso a determinado 
local, seja por negação de emprego baseado na raça da pessoa. Como exemplo, pode-se 
considerar o impedimento de matrícula de uma criança em uma escola por ela ser negra como 
um caso de racismo. Resumidamente, o racismo impede a prática do exercício de um direito que 
a pessoa tenha. A injúria racial se determina pela ofensa às pessoas por raça.
Algumas ações que podemos considerar discriminatórias e racistas (CFp, 2017, p. 56-57):
 • o não reconhecimento por parte de psicólogos da existência do sofrimento psíquico oriundo 
do racismo em processos terapêuticos. 
 • Na escola, crianças negras são frequentemente consideradas crianças “problema”, tendo 
menor investimento por parte de educadores. Elas são frequentemente encaminhadas 
para atendimento psicológico, e se o psicólogo clínico ou escolar não estiver atento à 
temática racial, tratará a situação como se fosse um problema da criança e de sua família, 
negligenciando o racismo e seu enfrentamento institucional, interpessoal e intrapsíquico. 
 • usuários negros de serviços públicos e privados de saúde recebem tratamento de menor 
qualidade do que usuários brancos, incluindo o tempo de consultas. 
 • Quando profissionais negros são considerados menos competentes por outros funcionários 
da instituição ou mesmo pelo usuário. 
 • Quando agentes de saúde com atribuições de realizar visita domiciliar não entram por 
preconceito e discriminação em terreiros de religiões de matriz africana, não atendendo à 
população que ali reside. 
 • Quando profissionais em cargos de chefia exigem que profissionais negros devam prender 
o cabelo, mas a função realizada não exige cabelo preso e outros profissionais não negros 
não recebem a mesma orientação. 
 • Vizinhos negros menosprezados por vizinhos brancos. 
 • Amigos ou conhecidos com piedade de pessoas negras pelo fato de serem negras. 
 • Não apresentação pública por parte da pessoa branca de relacionamentos amorosos/
sexuais que envolvam negros. 
 • Não reconhecimento formal ou afetivo ou menosprezo do filho negro por parte do progenitor 
não negro.
Atenção: nem sempre é fácil perceber sinais do racismo, até mesmo pela vítima, mas, em 
maior ou menor grau, há impacto negativo sobre o sujeito negro, que pode se sentir diminuído, 
constantemente  desafiado  e  humilhado.  Portanto,  combater  o  racismo,  particularmente  na 
dimensão interpessoal, está diretamente relacionado ao respeito ao outro, temas tão caros à 
atuação dos psicólogos!
16
NÃo DEIXE DE lER
Acesse o Estatuto da Igualdade Racial (lei 12.288 de 2010): http://www.planalto.gov.br/cciv-
il_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm
o Conselho Federal de psicologia lançou material de referência técnica para o psicólogo para 
as relações raciais.
Acesse pelo site: http://crepop.pol.org.br/wp-content/uploads/2018/05/relacoes_raciais_
baixa.pdf 
3.2 A necessidade de expansão das práticas 
em psicologia na atenção à saúde de povos 
indígenas: ciência, cultura e pensamento 
indígena
3.2.1 A história silenciada dos povos indígenas
De acordo com Ribeiro (2013), estima-se que viviam mais de 5 milhões de indígenas na época 
em que as embarcações portuguesas chegaram no Brasil. A história da população indígena no 
Brasil é também marcada pela violência física (a população indígena que foi dizimada no início 
da colonização por meio de morte pelas epidemias e também pelas guerras travadas entre 
portugueses e os povos originários pela conquista de terras e pela tentativa de escravização 
dos índios) e também pela violência simbólica (pela tentativa de supressão da cultura e religião 
dos povos originários). o Censo 2010 indica que temos cerca de 896,9 mil indígenas no Brasil.
É importante mencionar que nos censos de 1991 a 2000 havia a opção de a pessoa 
entrevistada se autodeclarar indígena. Mas foi somente no censo de 2010 que, ao se declarar 
indígena como cor, a pessoa também respondeu questões mais específicas sobre etnia, povo, 
língua falada e se moravam em território indígena (FERRAZ, DoMINGuES; 2016). Trazer essas 
informações ao conhecimento de todos somente em 2010 demonstra o quanto desconhecemos 
nossa  história  e  também  a  importância  de  produzir  informações  fidedignas  para  embasar 
políticas e intervenções em saúde que dialoguem com a realidade das pessoas.
17
Temas Contemporâneos em Psicologia
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Em relação a outro aspecto que chama a atenção pela aculturação que produzimos ao não 
reconhecermos e estudarmos nosso passado, podemos citar a lei n.° 11.645, de 10 de março de 
2008, que torna obrigatório o ensino da história e das culturas negra e indígena nos currículos 
escolares de todo o país. 
A primeira História Geral do Brasil, de acordo com Ferraz e Domingues (2016), foi escrita no 
século  XIX pelo português Adolfo de Varnhagem. Nessa produção  historiográfica,  os  índios 
eram considerados povos sem passado e sem futuro e cuja extinção poderia acontecer. Alguns 
defendiam na época que, ao invés do extermínio, era preciso assimilar os povos na cultura 
europeia e, para isso, era preciso que eles passassempela catequese (princípio da doutrina 
católica) para se tornarem civilizados. Ambos os processos denotam a violência física e simbólica, 
já mencionadas, e cujos efeitos permanecem até hoje. Mas de que modo?
VAMOS PENSAR…
O quanto você conhece sobre os povos indígenas? Sabe quais as principais 
etnias, línguas faladas? Sabe quais os principais costumes? Modos de se 
organizarem?
O fato de conhecermos tão pouco sobre os povos originários de nosso país 
denota o processo de aculturação em que viveram e ainda vivem.
Vamos apresentar alguns dados sobre os povos indígenas produzidos pelo Instituto Innovare em 
2016, a partir das informações do Censo 2010:
A população indígena é de 896 mil pessoas atualmente no Brasil.
Há 505 áreas demarcadas no país como terra indígena, o que correspon-
de de a 12,5% do território brasileiro.
Dos índios com 5 anos ou mais 37,4% falam uma língua indígena e 
76,9% falam em português.
274 é o número de linguas faladas nas tribos indígenas.
Existem100,5 índios homens para 
cada 100 mulheres indígenas, 
praticamente 50% de cada sexo.
São 305 etnias e a maior delas
é a Tikúna, representando 
6,8%.
18
DISTRIBUIÇÃO DOS
ÍNDIOS PELO BRASIL:
DISTRIBUIÇÃO DOS
ÍNDIOS PELO BRASIL:
DISTRIBUIÇÃO DOS
ÍNDIOS PELO BRASIL:
ESTADOS MAIS
POVOADOS POR ELES:
20%
Amazonas
6,8%
Pernambuco 8,6%
Mato Grosso
do Sul
6,7%
Bahia
38,2%
25,9%
16%
11,1%
8,8%
Etnias mais populosas
Tikúna (46 mil)
Guarani Kaiowá (43,4 mil)
Kaingang (37,4 mil)
Makuxí (28,9 mil)
Terena (28,8 mil)
Tenetehara (24,4 mil)
19
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3.2.2 Ciência, cultura e pensamento indígena
Faz parte do processo de exclusão da história e dos conhecimentos indígenas acharmos que 
os índios que aqui viviam antes da chegada dos portugueses não tinham nenhum conhecimento 
científico e matemático.
O próprio processo da construção e validação do que é  conhecimento  científico é bastante 
enraizado no modelo europeu de ciência: uma ciência que precisa ser pragmática (ou seja, 
aplicável em todos os contextos), neutra (que não sofre interferências externas e nem do próprio 
pesquisador em seu processo de validação) e se utiliza de métodos delineados, matemáticos 
e observáveis cujo fim é a produção de um conhecimento científico universal e verdadeiro. A 
essa perspectiva científica chamamos de cartesiana, referencial criado por René Descartes no 
século XV, na Europa, e que é adotado até os dias de hoje pelas ciências naturais ou exatas na 
produção do conhecimento.
As ciências humanas, sobretudo no campo da antropologia, têm pensado metodologias e modos 
de produzir conhecimento científico diferentes, levando em consideração outros saberes, sem a 
necessidade de pensarmos conhecimentos amplamente verificáveis, mas que levem em conta as 
singularidades, as culturas e o modo de produzir conhecimentos dos povos indígenas.
Há uma cultura melhor que a outra? Há conhecimento de um povo que é 
melhor que o do outro?
Um bom antropólogo diria: depende para quem.
A valorização e validação do que é bom ou ruim em relação à cultura 
depende sempre do contexto social, histórico e cultural do povo em questão. 
Em relação ao conhecimento, precisamos sempre nos perguntar: para que 
esse conhecimento serve?
Vamos dar um exemplo de conhecimento produzido pelas comunidades 
Aruak. Os aruak, cujas principais tribos eram aruã, pareci, cunibó, guaná 
e terena, tinham uma forma bem diferente de contar. 
No seu sistema de numeração, não há números do sistema decimal, tais 
como dois, três, quatro, cinco… No sistema dos aruak, os cálculos eram 
feitos por meio da correspondência um a um, conhecida como sistema de 
numeração de base um. Por exemplo, o indígena não pensa: “vou cortar 
quatro estacas de madeira para fazer uma casa”. Ele pensa: “Vou cortar 
uma estaca para cada canto da casa”. Com esse tipo de cálculo biunívoco, 
não é necessária uma grande quantidade de caracteres numéricos. 
Mesmo assim, tendo apenas um único termo numérico, esse sistema é sensato 
e adequado às necessidades dos povos que o utilizam. Já as comunidades 
do Alto Rio Negro adotam o sistema de numeração de base pentanumérica, 
cuja origem é explicada na existência dos cinco dedos das mãos. Ou seja, 
o número cinco significaria literalmente “uma mão”. Por exemplo, o número 
quarenta, pode ser representado por dois homens, pois cada homem tem 
vinte dedos, levando em consideração os dedos dos pés. 
Portanto, as diferenças nos sistema de numeração, medida e contagem do 
tempo entre os indígenas e os povos da cultura ocidental são grandes e 
variam conforme a necessidade de adequação ao meio social, natural, 
econômico, mítico e sobrenatural em que cada comunidade se encontra.
Fonte: http://blog.pat.educacao.ba.gov.br/?s=aruak
20
um dos mais importantes antropólogos atualmente, Eduardo Viveiros de Castro, descreve a 
antropologia como uma forma de “tradução cultural” e pleiteia que seu ideal é ser “a teoria-
prática da descolonização permanente do pensamento”. ou seja, entrar em contato com a 
cultura indígena implica reconhecer a diferença e a autonomia do pensamento indígena: “não 
podemos pensar como os índios; podemos, no máximo, pensar com eles”.
Desse modo, para Viveiros de Castro (2015) é preciso tomar o discurso dos povos indígenas 
como interlocutores horizontalmente situados em relação ao discurso dos “observadores” 
(os “antropólogos”); para isso precisamos descolonizar o pensamento ocidental para poder 
aceitar que não há um conhecimento melhor que o outro, nem mesmo um conhecimento que 
vai compreender o outro e, sim, aceitar que só existe entreconhecimento: compor junto com o 
conhecimento indígena.
o que ainda observamos no Brasil é “a neutralização do pensamento nativo” (VIVEIRoS DE 
CASTRo, 2015), ou seja, acabar com os nativos, para varrer suas formas de vida (e, portanto, 
de pensamento) da face do território nacional. Isso se evidencia nas dificuldades nos processos 
de demarcação das terras indígenas e preservação das matas. Reitera o autor que, para 
efetivar essa neutralização do pensamento nativo, é preciso primeiro tirar dos índios o que 
eles têm: suas terras, seu modo de vida, os fundamentos ecológicos e morais de sua economia, 
sua autonomia política interna, para obrigá-lo a desejar consumir o que ele não tem – o que é 
produzido na terra dos outros (no país do agronegócio, por exemplo, ou nas fábricas chinesas).
Esse tem sido um dos principais desafios atuais em relação à preservação da cultura, da ciência 
e do pensamento indígena. 
E que a psicologia tem a ver com isso?
3.2.3 práticas em psicologia na atenção à saúde de povos 
indígenas 
Em 2013, o Conselho Federal de Psicologia promoveu o 1.º Encontro Nacional de Psicologia, 
povos Indígenas e Direitos Humanos, com propostas para a atuação do psicólogo em relação 
aos povos indígenas com interface da discussão sobre os direitos humanos. Trata-se de uma 
discussão atual no campo que ainda carece de discussões e produções científicas a respeito, 
mas a importância desse evento já demonstra que esse tema vem ganhando espaço para nossa 
profissão. Indica também que estamos conseguindo chamar atenção para um assunto que, há 
menos de uma década, era praticamente invisível em nossas práticas profissionais.
A proposta desse evento foi discutir, sobretudo, a realidade psicossocial das comunidades 
indígenas  e  suas  condições  de  saúde mental.  Também apresentou  a  reflexão  –  sempre  em 
construção – sobre as possibilidades de atuação da psicologia com esses povos, compreendendo 
sua diversidade e os múltiplos desafios gerados pelas suas relações com nossa sociedade, com 
as instâncias governamentais e com suas políticas públicas. 
Nesse formato e, pensando na necessidade de a psicologia sempre sereinventar – a partir das 
demandas sociais sempre em transformação –, é preciso se despir de uma visão estereotipada 
promovida pelos meios de comunicação. o psicólogo não atua apenas em consultório nem 
direciona seu trabalho apenas ao campo da "loucura" (CRp 06, 2015).
De acordo com esse documento, são muitas as suas áreas de atuação e, no caso dos indígenas, 
também são diversas as possibilidades de contribuição. Promover saúde mental tem um significado 
amplo, pois entendemos que tal estado depende de condições pessoais, mas também sociais 
21
Temas Contemporâneos em Psicologia
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(conforme vimos na discussão sobre os determinantes sociais em saúde na população negra). 
Com relação aos indígenas, há muito que fazer na sociedade para superação dos preconceitos. 
um bom exemplo citado no documento é ampliar esse debate para esclarecimento da opinião 
pública fazendo uso dos canais de informação ao nosso alcance. E, com os indígenas, construir 
conhecimentos compartilhados para intervenções responsáveis, que não reproduzam, mais uma 
vez, relações de dominação cultural ou de neutralização cultural, conforme explica Viveiro 
de Castro (2015). Há demandas em saúde mental, educação, cultura, questões ligadas ao uso 
de substâncias psicoativas, identidade, visibilidade social, participação, formação acadêmica, 
políticas públicas, todas expressando as consequências de cinco séculos de dominação, a qual 
definitivamente precisamos superar, em respeito a todos esses povos e à Constituição Federal.
pensando em tudo que foi discutido no sentido de pensar junto aos povos (e não por eles) 
atuações possíveis dentro do campo da psicologia, um caderno produzido pelo CRp 06 (2015) 
decidiu ouvir os povos indígenas para compreender quais as principais demandas trazidas 
pelos indígenas à psicologia. De um modo geral, de acordo com o documento, os principais 
aspectos são: adoecimento psíquico, violência familiar, violência sexual, prostituição, depressão, 
suicídio, desrespeito a sua cultura especialmente pelos jovens, exclusão social, necessidade de 
apoio político, educação escolar nas aldeias e apoio à inserção na universidade.
Nesse sentido, faz-se extremamente necessária a escuta e o respeito à cultura, pensando 
uma construção sempre conjunta de decisões com vistas aos processos de fortalecimento 
das comunidades e com aporte dos direitos humanos. Ademais, é essencial o respeito e o 
reconhecimento do aspecto espiritual como fundamental na realidade subjetiva e a valorização 
dessa dimensão nas relações culturais.
Conforme vimos no tópico anterior, entre os indígenas há muito conhecimento acumulado ao 
qual nós não temos acesso. por isso essa mediação e a importância da descolonização do 
pensamento, como apontou Viveiros de Castro (2015). que segundo eles não têm o suficiente 
para enfrentar “doenças” produzidas pelo contato com a sociedade.
3.2.4 Essas são as recomendações apontadas pelos indígenas aos 
profissionais psicólogos para atuação no campo da saúde indígena 
e que foram organizadas em sete campos principais (CRp-Sp, 2010):
 • Inserir o psicólogo na política para ter mais atenção aos indígenas: promover saúde mental, 
reconhecer os determinantes socio-históricos dos problemas atuais, inserir a tema indígena 
nos debates políticos, em Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente, da Saúde, da 
Assistência Social, da Educação e incentivar a participação de lideranças indígenas nesses 
espaços, pois assim poderão defender questões voltadas à melhoria das condições de vida 
dessas comunidades.
 • psicólogo na educação: apoio às comunidades indígenas na garantia do seu direito à 
educação, realizar ações com professores indígenas para capacitação, tentando melhorar 
a qualidade da educação, acompanhar alunos indígenas nas universidades.
 • produção de conhecimentos: conhecimentos em psicologia que contribuam para melhor 
compreensão e manejo das relações culturais entre indígenas e não indígenas, realizar 
pesquisas de campo, garantir a devolução dos conhecimentos adquiridos nas comunidades.
 • Ampliação e qualificação profissional: realizar debates e eventos, com trocas culturais entre 
psicólogos e indígenas, desenvolver ações concretas com outras instituições no sentido de 
22
despertar nos profissionais da Psicologia o envolvimento com a temática indígena, discutir 
sobre o tema nas universidades.
 • Conversa com profissionais: dialogar com outros profissionais que atuam no campo, ajudar 
os profissionais de Saúde para efetivação de uma rede de atenção local, enfatizando o 
trabalho multiprofissional, identificar estratégias de atuação nas comunidades.
 • Diálogo com movimentos sociais: apoiar políticas e iniciativas que ajudem os indígenas, 
atuar em movimentos pela garantia dos direitos dos indígenas.
 • Comunicação com a sociedade: utilizar canais de comunicação para incentivar o debate 
sobre os indígenas e seus direitos como cidadãos brasileiros, a importância do território 
e suas demarcações para a sobrevivência e o fortalecimento da identidade indígena, o 
bem-estar e a sustentabilidade das comunidades, o caráter da sociedade nacional e a 
necessidade de superar o preconceito e a dominação.
 • Esse desafio é imenso, mas é necessário. Tem que enfrentar a história dos brasileiros e da 
psicologia no qual não estamos de mãos vazias. Temos que priorizar os interesses e as 
necessidades dos índios, ter uma escuta verdadeira e apostar em decisões compartilhadas 
que são pontos decisivos para que todos contribuam com a saúde indígena.
para acessar o documento na íntegra: http://crpsp.org/fotos/pdf-2015-10-02-17-25-51.pdf
3.3 Modos de vida itinerantes e o cuidado às 
pessoas em situação de rua: a psicologia que 
se faz ao andar
3.3.1 Contextualizando a população em situação de rua
uma pesquisa recente do Instituto de pesquisa Econômica Aplicada (IpEA, 2015) estima que 
o Brasil tem cerca de 101 mil pessoas em situação de rua, sendo que a maior parte dessa 
parcela da população se encontra nas cidades grandes das capitais do país: das 101.854 
pessoas em situação de rua, 40,1% estavam em municípios com mais de 900 mil habitantes e 
77,02% habitavam municípios com mais de 100 mil pessoas. Já nos municípios menores, com até 
10 mil habitantes, a porcentagem era bem menor: apenas 6,63%.
os dados são estimados, já que se trata de uma população itinerante, de modo que se torna 
difícil  uma  metodologia  de  pesquisa  que  consiga  computar  esse  número  fidedignamente. 
Apesar disso, poder acessar esses dados nos faz ter a dimensão do problema que estamos 
enfrentando (ou seja, o número elevado de pessoas que não estão sendo atendidas em suas 
necessidades básicas), além de ser fundamental para se pensar políticas públicas adequadas 
a essa população.
Quando tentamos compreender melhor quem é esse público ou quando tentamos achar nexos 
causais  entre  os  motivos  que  fizeram  com  que  as  pessoas  estivessem  em  situação  de  rua, 
percebemos que essa população não é homogênea, ou seja, são pessoas que têm diferentes 
vivências e que estão nessa situação pelas mais variadas razões. Aspectos que podemos 
dizer que são comuns a essa população são a falta de uma moradia fixa, de um lugar para 
23
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dormir que seja temporário ou permanente e vínculos familiares que foram interrompidos ou 
fragilizados. Esses dados foram divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento Social como 
os fatores intrínsecos à condição de rua e constam na política Nacional para a população em 
Situação de Rua de 2009.
NÃo DEIXE DE lER
para acessar o documento na íntegra, acesse: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decre-
to/d7053.htm?TSpD_101_R0=784a1bbe576cb5891f5a2260cb3f0aca-
oD30000000000000000de8106c9ffff00000000000000000000000000005b0e-0a30004565f00f 
o processo de exclusão social vivido pelas pessoas que estão em situação de rua não se 
caracteriza somente pela privação material. Trata-se, principalmente, de um processo de 
“desqualificação do indivíduo enquanto cidadão e ser humano, e pela ausência de seu lugar 
social” (DANTAS, 2007, p. 26) e esse é um dos principais aspectos da intervenção do profissional 
psicólogo em relação às pessoas que vivem na rua: os efeitos da exclusão são aspectos que 
influenciam na construção subjetiva dessas pessoas, ocasionando problemas de saúde mental, 
sobretudo se expostos a longa permanência nessa situação.
o processo de exclusão social vivido pelas pessoas que estão em situação de rua não se 
caracteriza somente pela privação material. Trata-se, principalmente, de um processo de 
“desqualificação do indivíduo enquanto cidadão e ser humano, e pela ausência de seu lugar 
social” (DANTAS, 2007, p. 26) e esse é um dos principais aspectos da intervenção do profissional 
psicólogo em relação às pessoas que vivem na rua: os efeitos da exclusão são aspectos que 
influenciam na construção subjetiva dessas pessoas, ocasionando problemas de saúde mental, 
sobretudo se expostos a longa permanência nessa situação.
Santana e Rosa (2016) organizaram um estudo sobre saúde mental e população de rua, 
apresentando diferentes pesquisas que apontam o risco de agravos em saúde mental 
e dependência do uso de drogas para a população em situação de rua. Vejamos alguns: 
um estudo realizado na cidade de Nova York com 225 homens e 220 mulheres usuários de 
albergues apontou que os principais fatores de risco para o prolongamento do tempo em 
situação de rua foi idade superior a 44 anos, diagnóstico de doença mental e dependência de 
drogas (CAToN et al., 2005 apud SANTANA e RoSA, 2016, p. 28). outro estudo, conduzido 
na mesma cidade sobre o panorama da situação de rua e saúde mental no período 1994-
2006, evidenciou que a maioria das hospitalizações de conviventes adultos dos abrigos, entre 
os anos de 2001-2003, ocorreu devido a problemas de saúde mental (14%), uso de drogas 
(31%) e uso de álcool (24%) (VAlENCIA et al., 2011 apud SANTANA e RoSA, 2016, p. 28). 
No Brasil, temos os estudos de lovisi (2000) e Heckert e Silva (2002) que apresentam dados 
similares. o primeiro avaliou os distúrbios mentais em moradores de albergues públicos das 
cidades do Rio de Janeiro e Niterói, revelando que os distúrbios mentais de maior gravidade 
são associados ao ingresso à situação de rua. Ressalta que, quando esses indivíduos passam 
a morar nas ruas, há uma exacerbação de seus sintomas, resultando numa alta prevalência 
de comorbidade e um agravamento de seus quadros psicopatológicos. os homens revelaram 
maior prevalência de abuso/dependência de álcool, enquanto as mulheres apresentavam 
maior número de distúrbios mentais mais graves. 
24
o segundo estudo evidencia que as pessoas que tinham diagnósticos de psicoses esquizofrênicas 
constituíam um subgrupo específico entre os moradores de rua, com características demográficas, 
biográficas  e  comportamentais  próprias.  O  ponto  comum  dessas  pessoas  era  estarem  sem 
recursos assistenciais.
o que podemos destacar desses estudos é que as condições de vida nas ruas (pouca 
longevidade, fragilidade dos vínculos sociais, violências, preconceitos, discriminações, falta de 
privacidade, carências de educação e de infraestrutura para os cuidados corporais) colaboram 
para o aparecimento e agravamento dos transtornos mentais que, por sua vez, podem ser um 
dos fatores que contribuem para que uma pessoa viva em situação de rua (SANTANA, 2014 
apud SANTANA e RoSA, 2016, p. 28).
Por fim, é importante destacar que, em todos os estudos, a prevalência do uso de álcool e outras 
drogas nessa população se mostra significativa, o que nos faz refletir sobre tal fenômeno. De 
acordo com Booti et al. (2009, p. 175), “o álcool e as drogas fazem parte da realidade das 
ruas, seja como alternativa para minimizar a fome e o frio, seja como elemento de socialização 
entre os membros dos grupos de rua”. As drogas lícitas e ilícitas possibilitam ao morador de rua 
a fuga da realidade, além de ser uma das poucas opções de prazer que a sua condição de 
vida lhe permite (FERNANDES; RAIZER; BRÊTAS, 2007; CARlINE, 2006). 
o prazer propiciado pelas drogas é volátil e faz parte de um círculo vicioso entre usar – ter 
prazer – encarar a realidade – sentir culpa que só poderá ser cessado com o apoio da rede 
de assistência social e da saúde, de modo articulado.
3.3.2 o cuidado às pessoas em situação de rua e a articulação da 
rede de atenção
Na aula 1 nós vimos como se organiza o Sistema Único de Saúde (SuS) e aprendemos a 
identificar os diferentes equipamentos de saúde que compõem a Rede de Atenção Psicossocial 
(RApS). No caso da atenção às pessoas em situação de rua, é necessário compreendermos 
como funciona o Sistema Único de Assistência Social (SuAS) e quais serviços ele oferta.
De acordo com o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS), o SuAS é um sistema público que 
organiza os serviços de assistência social no Brasil. Com um modelo de gestão participativa, 
ele articula os esforços e os recursos dos três níveis de governo, isto é, municípios, estados e a 
União, para a execução e o financiamento da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), 
envolvendo diretamente estruturas e marcos regulatórios nacionais, estaduais, municipais e do 
Distrito Federal.
o SuAS organiza as ações da assistência social em dois tipos de proteção social:
 • proteção social básica: destinada à prevenção de riscos sociais e pessoais por meio da 
oferta de programas, projetos, serviços e benefícios a indivíduos e famílias em situação de 
vulnerabilidade social. 
Serviços de proteção social básica: 
a. Serviço de proteção e atendimento integral à família (pAIF); 
b. Serviço de convivência e fortalecimento de vínculos; 
c. Serviço de proteção social básica no domicílio para pessoas com deficiência e idosas. 
25
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 • proteção social especial: destinada a famílias e indivíduos que já se encontram em situação 
de risco e que tiveram seus direitos violados por ocorrência de abandono, maus tratos, 
abuso sexual, uso de drogas, entre outros e que pode ser dividido em dois níveis de 
complexidade: proteção social especial de média complexidade e serviços de proteção 
social especial de alta complexidade.
Serviços de proteção social especial de média complexidade: 
a. Serviço de proteção e atendimento especializado a famílias e indivíduos (pAEFI); 
b. Serviço especializado em abordagem social; 
c. Serviço de proteção social a adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa.
d. Serviço de proteção social especial para pessoas com deficiência, idosas e suas famílias; 
e. Serviço especializado para pessoas em situação de rua.
 • Serviços de proteção social especial de alta complexidade: 
a. Serviço de acolhimento institucional, nas seguintes modalidades: 
- Abrigo institucional; 
- Casa-lar;
- Casa de passagem;
- Residência inclusiva. 
b. Serviço de acolhimento em república; 
c. Serviço de acolhimento em família acolhedora; 
d. Serviço de proteção em situações de calamidades públicas e de emergências. 
Como pudemos perceber, o atendimento às pessoas em situação de rua se encontra, sobretudo, 
na proteção social especial (pSE) de média complexidade, pois estar na rua implica em 
situações em que há rompimento de vínculos e violações de direitos. De acordo com orientações 
técnicas: Centro de Referência especializado para população em situação de rua e serviço 
especializado para pessoas em situação de Rua de 2011, desenvolvido pelo MDS: 
A pSE de média complexidade organiza a oferta de serviços, programas e projetos de caráter 
especializado que requerem maiorestruturação técnica e operativa, com competências e 
atribuições definidas, destinados ao acompanhamento a famílias e indivíduos em situação de 
risco pessoal e social, por violação de direitos. 
No âmbito da pSE de média complexidade, o serviço especializado para pessoas em situação de 
rua, ofertado no Centro POP, configura-se como um espaço essencial para a oferta de atenção 
especializada no SUAS às pessoas em situação de rua. O trabalho consiste na identificação 
de pessoas em situação de rua ao possibilitar que a oferta de atenção especializada a 
esse segmento seja iniciada no próprio contexto da rua, viabilizando intervenções voltadas 
ao atendimento de necessidades mais imediatas e à vinculação gradativa aos serviços 
socioassistenciais e à rede de proteção social. No âmbito da pSE de alta complexidade, por sua 
vez, são ofertados os serviços de acolhimento. A previsão desses serviços no SuAS parte, dentre 
outros aspectos, do reconhecimento de que nessas situações é necessário garantir a indivíduos 
26
e famílias que utilizam as ruas como espaço para moradia e/ou sobrevivência acolhimento 
temporário e possibilidades para desenvolver condições para a independência, a autonomia 
e o autocuidado.
os serviços de alta complexidade direcionados à população em situação de rua são: serviço 
de acolhimento institucional, desenvolvido em unidade institucional semelhante a uma residência 
e/ou em unidade institucional de passagem, com o objetivo de oferta de acolhimento imediato 
e emergencial e serviço de acolhimento em repúblicas, destinado a jovens a partir dos 18 anos 
e pessoas adultas com vivência de rua em fase de reinserção social, que estejam em processo 
de restabelecimento dos vínculos sociais e construção de autonomia. 
Para  finalizar,  é  importante  mencionar  que  a  resolutividade  das  situações  e  demandas 
concretas apresentadas pelas famílias e indivíduos em situação de rua pressupõe integração 
e articulação entre a rede de serviços e benefícios socioassistenciais e destes com a rede das 
diversas políticas públicas – em especial a de saúde, sobretudo com os chamados Consultórios 
na Rua (CR).
A estratégia Consultório na Rua foi instituída pela Política Nacional de 
Atenção Básica, em 2011, e visa a ampliar o acesso da população em 
situação de rua aos serviços de saúde, ofertando, de maneira mais oportuna, 
atenção integral à saúde para esse grupo populacional, o qual se encontra 
em condições de vulnerabilidade e com os vínculos familiares interrompidos 
ou fragilizados.
Chamamos de Consultório na Rua equipes multiprofissionais que 
desenvolvem ações integrais de saúde frente às necessidades dessa 
população. Elas devem realizar suas atividades de forma itinerante e, 
quando necessário, desenvolver ações em parceria com as equipes das 
Unidades Básicas de Saúde do território. 
Fonte: http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_consultorio_rua.php
Para conhecer a experiência do Consultório na Rua de São Bernardo do 
Campo em São Paulo, acesse: 
https://www.youtube.com/watch?v=-QByKpPi-dU
3.3.3 A psicologia que se faz ao andar: reinventando a prática 
para intervir em situação complexas
27
Temas Contemporâneos em Psicologia
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Em toda a rede intersetorial há a possibilidade da atuação do psicólogo com a população em 
situação de rua: seja nos CREAS, no Centro pop, nos Consultórios na Rua ou nos CApS Álcool 
e Drogas (CApS-AD). o que podemos dizer que é similar entre as atuações do psicólogo com 
esse público é a necessidade de compor com o território onde as pessoas vivem: a rua. E, nesse 
sentido, conforme documento do CRP-MG de 2015, é possível perceber que os profissionais 
que trabalham com a população em situação de rua são desafiados, de uma maneira ou de 
outra, a construir, cotidianamente, atuações e formas de intervenção criativas, dinâmicas e 
que abarquem a heterogeneidade dos grupos nos quais se encontram inseridos. o setting 
terapêutico não é o da clínica convencional, assim como as intervenções precisam ser diferentes.
o documento apresentado pelo CRp-MG (2015, p. 24-66) entrevista diversos psicólogos que 
atuam com as pessoas em situação de rua para discutir a prática profissional nesse contexto. 
O texto é interessantíssimo e apresenta diversos pontos fundamentais e de reflexão para uma 
psicologia que precisa ser itinerante, inventiva e de articulação integral com os pressupostos 
dos direitos humanos:
 • A singularidade dos sujeitos atendidos não pode fugir do horizonte da prática do psicólogo. 
Assim, a intervenção deve ser construída com base na peculiaridade de cada caso e 
conjuntamente com o usuário. A capacidade de uma escuta diferenciada é o ponto principal 
apontado pelos participantes da pesquisa como algo próprio da atuação do psicólogo: 
uma escuta mais sensível, atenta e cuidadosa; uma escuta capaz de se ater às questões 
subjetivas que estão em jogo na cena da rua. 
 • o psicólogo inserido nas políticas públicas para a pSR reconhece que não pode perder de 
vista a noção de que precisa conduzir seu trabalho tendo a perspectiva de provocar uma 
mudança no contexto social. E isso se alcança a partir de novas interações, novas formas de 
sociabilidades, novas perspectivas de inclusão e acesso aos bens sociais. Nesse ponto, nós 
adentramos no componente ético da atuação do psicólogo.
 • Muito embora, segundo os participantes das entrevistas, a política para a população de 
rua não preveja uma clínica psicológica, “[...] é consenso de que a relação é terapêutica”. 
Ademais, a estruturação do trabalho com base em um referencial teórico é essencial e 
confere caráter de cientificidade à prática profissional. E, nesse caso, a opção por utilizar 
diversas – e, muitas vezes, divergentes – abordagens teóricas, equivale a não se basear 
em nenhuma. 
 • Independentemente do referencial teórico, prevalece a ideia de que a atuação do psicólogo 
com a população em situação de rua deve pautar-se em uma relação horizontal e de 
cuidado e na crença na potência de mudança dessas pessoas. Com base nisso, seu trabalho 
deve delinear-se no sentido de auxílio ao acesso dos meios indispensáveis à concretização 
de um projeto de vida fora das ruas. 
3.4 Impacto das reflexões psicológicas sobre 
a globalização e o aumento da imigração
3.4.1 Viver em um mundo globalizado: facetas da exclusão
Conforme vimos na unidade 1, um dos aspectos da modernidade líquida – também entendida 
como sociedade contemporânea – é o efeito da globalização, ou seja: a ideia de que vivemos 
28
em um mundo sem fronteiras, volátil e tangenciado pelo consumo e as normas do capital 
financeiro. 
Dá-se a ideia de que estar no centro de São paulo ou estar no bairro comercial de Nova York 
é a mesma coisa: pessoas andando rápido na rua, prédios parecidos e modos de se comportar 
semelhantes como em qualquer grande capital. Trata-se de um processo que une espaços, 
estreita fronteiras, mas, que, de alguma forma, acultura os povos.
Claro que, se mantivermos a mesma ideia construída acima, não é qualquer pessoa que 
pode, simplesmente, comprar uma passagem e ir a Nova York: é preciso passaporte, visto, 
comprovação de renda que a pessoa consegue custear seus gastos no tempo em que estiver lá.
Com esse rápido exemplo, já podemos esboçar uma análise importante: a globalização do 
mundo contemporâneo nos dá a ideia de que no mundo não há fronteiras. Entretanto, esse 
deslocamento entrefronteiras não pode ser feito por qualquer cidadão, contrariando direito 
resultante do princípio da liberdade que aparece na Declaração universal dos Direitos Humanos, 
confirmando a  natureza do  homem em movimentar-se,  deslocar-se de  um  lugar a  outro,  ali 
permanecendo o tempo que melhor lhe aprouver, mantendo residência ou não, exercendo esse 
direito por toda sua existência (art XIII).
De acordo com orani e orani(2008, p. 43-44) a globalização opera como um processo que 
difunde pelo globo comportamentos e atitudes que  influenciam os aspectos sociais, políticos, 
econômicos e culturais, entre outros. No que diz respeito aos direitos humanos e à cidadania, 
a globalização tem servido como elemento que acentua a universalidade do indivíduo e a 
padronização dos sujeitos em “cidadãos-consumidores” (GENTIlI, 1998), isto é, só se adquire 
a cidadania e se tem direitos garantidos aqueles que funcionam – tanto produzindo quanto 
consumindo – dentro da sociedade à qual pertence. 
Assim, podemos compreender que o processo de globalização ao qual estamos submetidos 
também opera com aspectos de exclusão, cujo efeito é a delimitação entre os globalizados, 
ou seja, aqueles que gozam de todos os direitos e os socialmente excluídos que, providos ou 
desprovidos de direitos, têm uma cidadania – ou não (como é o caso dos refugiados) –, todavia 
esta não lhes proporciona, na prática, direitos, e nem sequer uma possibilidade de alcançá-los 
(AlVES, 2005). 
Nesse sentido, a Declaração universal dos Direitos Humanos, conforme estudamos na unidade 2, 
é uma ferramenta fundamental para a “elaboração” de uma concepção universal de indivíduo 
digno de ter os seus direitos assegurados exercendo-os por meio da cidadania.
No caso da população imigrante – sobretudo as que deixaram seus país pelo contexto de 
guerra – há questões importantes no que tange a esse processo de exclusão e a importância 
pungente de construção de políticas que assegurem direitos, acesso aos serviços públicos e, 
sobretudo dignidade. 
De acordo com Silva e Cremasco (s/a), mudar de país significa, entre outras coisas, construir 
uma nova vida, fazer novas representações e dar significados diferentes ao que era familiar 
se deparando com inúmeras perdas como a de pertencer a um grupo que lhe dá identidade 
e reconhecimento. A perda do sentimento de pertencimento pode gerar grande ansiedade 
devido à necessidade que todo indivíduo apresenta de sentimento de segurança, proteção e 
orientação.
Acolher  as  diferenças  e  pensar  em  propostas  de  inclusão  é  um  dos  desafios  que  também 
cabem ao profissional psicólogo, embora seja tema recente e de pouca consolidação no campo 
científico.
29
Temas Contemporâneos em Psicologia
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3.4.2 Aumento da imigração no Brasil a atuação do psicólogo nesse 
cenário
Silva e Cremasco (s/a) fizeram um levantamento sobre pessoas que se refugiaram no Brasil. De 
acordo com o CoNARE – Comitê Nacional para os Refugiados (2014), o Brasil tem refugiados 
reconhecidos de 81 nacionalidades distintas. Segundo o ACNuR – Alto Comissariado das 
Nações unidas para os Refugiados (2014), agência da oNu, análises estatísticas referentes 
ao período entre janeiro de 2010 e outubro de 2014 demonstram o fortalecimento continuado 
da proteção aos refugiados e solicitantes de refúgio no Brasil. o número total de pedidos de 
refúgio aumentou mais de 930% entre 2010 e 2013. 
De acordo com ACNuR, a maioria dos solicitantes de refúgio vem da África, Ásia (inclusive 
oriente Médio) e América do Sul. Nos últimos anos, todas as importantes crises humanitárias 
impactaram diretamente os mecanismos de refúgio no Brasil, com expressivos números de 
solicitantes da Síria, líbano e República Democrática do Congo chegando ao país. Esses dados 
não incluem informações relacionadas aos nacionais do Haiti, já que estes têm vistos emitidos 
de residência permanente por razões humanitárias. 
Os principais desafios apontados pelas autoras é a necessidade iminente de transformações 
sociais e políticas atuais de migração: seja no âmbito da construção coletiva como também 
intervenções que levem em conta o sofrimento psíquico do sujeito na experiência migratória.
Vamos pensar nos aspectos intrapsíquicos do processo migratório: estar em outro país, cujos 
costumes são diferentes, o modo de se comunicar se dá de outros modos, muitas vezes em idioma 
diferente, além do processo de exclusão, já que muitos chegam ao país sem a garantia mínima 
de direitos. um fator importante a ser considerado é o processo de elaboração das perdas 
inerente à experiência migratória, vinculada à história de cada indivíduo (Silva e Cremasco 
(s/a).
outro problema levantado pela autoras, a partir de estudo feito pelo CoNARE – Comitê 
Nacional para os Refugiados (2014), é o das denúncias frequentes por parte dos migrantes 
africanos de casos de racismo e xenofobia enfrentado por eles, questão que tem se intensificado 
e que passa a ser uma preocupação, bem como a marginalização dos migrantes que, ao se 
depararem com as dificuldades, agravadas pela vulnerabilidade social, terminam por sofrer 
com a manipulação e controle por parte da sociedade. 
E VALE LEMBRAR QUE, COMO JÁ VIMOS NESTA 
UNIDADE, RACISMO É CRIME INAFIANÇÁVEL!
outro aspecto importante que tangencia a atuação do psicólogo e a garantia de direitos é 
que muitos migrantes se deparam com situações de extrema vulnerabilidade e com condições 
precárias de vida, subempregos ou até mesmo regimes de escravidão. Estando em situação 
de risco social e vulnerabilidade psíquica, muitas vezes, ainda, sem direitos e oportunidades 
devido a questões burocráticas, o estrangeiro se vê à mercê de explorações e marginalização 
(Silva e Cremasco) (s/a). Nesse sentido, a psicologia tem muito a contribuir por se apropriar 
da singularidade e por oferecer uma escuta ao seu sofrimento – um desafio iminente com a 
realidade e conjecturas atuais. 
30
um dos poucos documentos que fazem uma discussão mais concreta é o do Instituto de 
Reintegração do Refugiado (ADuS) de 2016 sobre a atuação do psicólogo com a população 
imigrante.
Nesse documento, aponta-se para a necessidade do atendimento psicológico aos refugiados, a 
partir das discussões realizadas na Conferência Nacional sobre Migrações e Refúgio, em 2014. 
Nesse mesmo encontro, os refugiados apontaram que têm dificuldades de ter acesso a serviços 
psicológicos nas instituições públicas de saúde (apesar de existir o reconhecimento por parte 
dos imigrantes que se trata de uma dificuldade que também atinge os brasileiros). 
um bom exemplo de atendimento psicológico aos imigrantes se dá por meio do Grupo 
Veredas, que trabalha na Casa do Migrante em São paulo. o diferencial do atendimento é 
a peculiaridade de realizar o atendimento no local de moradia das pessoas: novamente um 
desafio para o profissional psicólogo – estar  fora de seu  setting habitual e  lidando com as 
diferenças culturais e de linguagem.
De acordo com o material do ADuS, as intervenções psicológicas começam com conversas que 
podem se tornar encontros regulares, dependendo da necessidade e vontade do refugiado 
ou imigrante. Dessa forma, “cada atendimento vai se construindo de uma forma singular” (p. 
41) e, quando ocorre a construção do apoio psicológico individual ao refugiado, por vezes é 
necessário que os profissionais expliquem como será a relação que irá se estabelecer, os limites 
do vínculo com o psicólogo e como esse trabalho se diferencia da ação de um assistente social, 
por exemplo (p. 43). 
Também é apontada a importância de explicar para o refugiado a função e natureza do 
trabalho psicológico, nos moldes como o conhecemos no Brasil – já que minimizar o impacto dos 
fatores culturais é essencial – de modo que também pode ser impeditivo para a realização do 
tratamento (a depender da cultura do refugiado). um exemplo disso pode ser o atendimento de 
uma mulher síria cuja religião não permita ser atendida por um profissional psicólogo homem.
Para finalizar, apesar das  limitações, é extremamente necessário que dentro dos serviços  já 
existentes apresente-se a possibilidade de acolher refugiados com qualidade, considerando as 
vulnerabilidades específicas dessa população sob o risco de eles sentirem incompreensão ou 
insatisfaçãodiante do possível tratamento oferecido. 
O documento  ressalta que o  conceito  e  significado do que é  um atendimento psicológico é 
formulado culturalmente, por isso uma mediação por parte do profissional é fundamental.
para acessar o documento na íntegra, acesse o site: http://www.adus.org.br/relatorio-
adus-2016/.
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Síntese
Você pode estar se perguntando por que os temas discutidos nesta unidade são considerados 
desafios contemporâneos para o profissional psicólogo, já que a desigualdade com a população 
negra é estrutural e tem suas raízes no período de escravatura no Brasil colônia, por exemplo. 
ou ainda você pode problematizar a atualidade da temática dos povos indígenas, que são 
originários de nosso país, ou seja, existem antes da colonização portuguesa.
A verdade é que, embora os temas possam não ser considerados contemporâneos do ponto de 
vista linear da história, eles são atualíssimos no sentido de repensarmos novas práticas para o 
profissional psicólogo que se vê diante do desafio de atuar:
 • fora de seu setting terapêutico – no contexto da rua, precisando articular saberes com 
outros  profissionais  para  dar  conta  da  complexidade  de  atender  pessoas  em  extrema 
vulnerabilidade;
 • na relação com outras culturas, outros idiomas e diversos saberes, ou seja, mediando 
compreensões sobre a própria atuação do psicólogo;
 • compondo com outras relações de saber. A cultura indígena, por exemplo, traz novas 
perspectivas para a compreensão de saúde, e o professional psicólogo precisará aprender 
a se relacionar com novas concepções para poder apoiar e intervir.
Todos os temas abordados têm a mesma dimensão e compreensão ética de que não podemos 
reproduzir relações de dominação cultural ou de neutralização cultural em nossa prática. Faz 
parte de nosso código de ética denunciar e combater todas as formas de opressão.
32
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