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Teoria da Ligação de Valência A primeira descrição com razoável sucesso sobre ligação nos iões complexos foi Estabelecida pela teoria da ligação pela valência, ou formação dos orbitais híbridos. De acordo com este modelo, o átomo central em um complexo forma uma ligação covalente coordenada com cada ligante no complexo, sendo os dois elétrons do par envolvido na ligação doados pelo ligante. Para realizar tal intento, o átomo central utiliza um conjunto apropriado de orbitais híbridos formados pela combinação de alguns de seus orbitais (n – 1)d, seu orbital ns, e alguns de seus np. Considere, por exemplo, a formação de seis ligações pelo Fe3+ para formar o íon complexo octaédrico [Fe(CN)6]3–, o hexacianoferrato (III), comumente chamado íon ferricianeto: Fe3+ + 6CN– [Fe(CN)6]3– Um átomo de ferro isolado, em estado fundamental, tem a seguinte configuração: A remoção de três elétrons produz o ferro (III), ou íon férrico: Considere agora que os cinco elétrons d tomam-se "empacotados" e passam a ocupar somente três dos orbitais 3d (os 3dxy, 3dyz e 3dxz). Isto deixa desocupados os orbitais 3dx 2 – y 2, 3dz 2, 4s, e os três orbitais 4p. Estes orbitais vazios se combinam (ver Seção 19.2) para formar seis orbitais híbridos equivalentes d2sp3: Observe que os orbitais d utilizados nesta hibridação são os 3dx 2 – y 2, e 3dz 2, os quais possuem maiores lados alinhados sobre os eixos coordenados, e, portanto adequados para sobreposição com os orbitais do ligante em um complexo octaédrico. (Ver Figura 22.1.) 522 Agora, o íon férrico atua como um ácido de Lewis (Seção 12.1), recebendo seis pares de elétrons dos seis ânions cianeto e formando assim seis ligações covalentes coordenadas com estes, que passam agora a serem denominados ligantes dano. Foi demonstrado que quando o íon cianeto: [ : C : : : N :] – Figura 22.1 Distribuição espacial dos cinco orbitais 3d. Torna-se um ligante em um complexo, é o átomo de carbono que se liga ao átomo central, ou seja, é o par solitário do carbono que é doado para formar uma ligação covalente coordenada. Quando seis íons CN– ligam-se ao ferro deste modo, a configuração resultante no complexo é: 523 Onde as setas dentro do retângulo representam os seis pares de elétrons doados pelos seis ligantes dano. A mecânica quântica mostra que os seis orbitais d2sp3 constituem um conjunto octaédrico, ou seja, os seis maiores lobos dos orbitais apontam em direção aos vértices de um octaedro regular. A Figura 22.2 mostra esquematicamente a sobreposição dos seis orbitais híbridos d2sp3 do Fe3+ com os seis orbitais dos ligantes CN– (contendo os pares solitários) para formar seis ligações e a estrutura de um complexo octaédrico. Figura 22.2 Íon [Fe(CN)6]3–, octaédrico (esquematizado). A existência de outras geometrias nos complexos também pode ser explicada em termos da formação dos orbitais híbridos. Os cálculos na mecânica quântica mostram, por exemplo, que quatro orbitais híbridos dsp2 constituem um conjunto quadrado-planar, o qual conduz à geometria quadrado-planar em um complexo. Tal hibridação é comumente 524 observada em complexos de íons d8 (íons com oito elétrons d), tais como o íon níquel, Ni2+. Os oito elétrons d são empacotados em quatro dos cinco orbitais 3d do níquel, que torna o orbital remanescente desocupado (o 3dx 2 – y 2) disponível para misturar com os orbitais 4s, 4px e 4p forma quatro orbitais híbridos equivalentes dsp2. Estes acomodam então quatro pares de elétrons de quatro ligantes. As configurações eletrônicas do íon níquel isolado, no estado fundamental, e do níquel no complexo quadrado-planar [Ni(CN)4]2–, o íon tetracianoniquelato (II), são mostrados abaixo: As setas dentro do retângulo representam os pares de elétrons doados pelos ligantes ciano. A geometria tetraédrica em um complexo é conseguida por intermédio de uma hibridação sp3, tal como o carbono em muitos de seus compostos. (Ver Seção 19.2.) Esta geometria, por exemplo, é exibida por virtualmente todos os complexos de Zn2+, um íon d10. Devido ao íon zinco não possuir orbitais d desocupados, apenas os orbitais 4s e os três 4p são disponíveis para hibridação e subseqüente aceitação dos pares de elétrons doados pelos ligantes: No [Zn(CN)4]2–, o íon tetracianozincato (II), os orbitais híbridos sp3 são utilizados pelo átomo de zinco para formar ligações com quatro ligantes CN–: 525 A teoria da ligação pela valência, ou formação dos orbitais híbridos esclarece satisfatoriamente a existência das geometrias exibidas por vários complexos. Não obstante, existem certas falhas; uma das mais sérias reside na falta de explicação das propriedades magnéticas nos complexos. Por exemplo, as medidas magnéticas (ver a seguir) mostram que os complexos octaédricos de Fé (III) caem em duas classes. A primeira classe, complexos de baixo spin, consiste em complexos com um elétron desemparelhado por íon. Esta classe inclui o íon [Fe(CN)6]3–, descrito anteriormente. Porém, em uma segunda classe dos complexos de Fé (III), cada íon possui cinco elétrons desemparelhados; estes são denominados complexos de alto spin. O íon octaédrico [FeF6]3– pertence a esta classe. Além do mais, determinados complexos de outros metais de transição também mostram esta divisão natural nas classes baixo spin e alto spin. A teoria de ligação pela valência e orbitais híbridos não explica a existência destas duas classes de complexos. Mais especificamente, esta teoria não responde a questões tais como: 1. Como podemos explicar a existência de duas classes de complexos; alto spin e baixo spin? 2. Por que é que o ligante determina, para um dado metal de transição, se um complexo será de baixo ou alto spin? 3. Como são ocupados os orbitais nas duas diferentes classes, particularmente nos complexos de alto spin? 4. Uma falha adicional da teoria da ligação pela valência encontra-se na explicação das propriedades espectrais dos complexos dos metais de transição. Por que mostram cores tão variadas e intensas, tanto no estado sólido como em solução?
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