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KANT E o principio da dignidade humana

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1 
O imperativo categórico 
 
Imperativos categóricos são leis morais com validade universal, porque dizem respeito a qualquer 
ser humano e, diferente das leis da natureza, que não devem ser violadas, podem ser 
descumpridas, pois a vontade poderá ser influenciada por interesses e inclinações pessoais e, 
assim, afastar a influência da razão. “Em outras palavras, as leis físicas e biológicas se realizam 
inevitavelmente, enquanto as leis morais são necessárias, mas não anulam a liberdade que pode, 
finalmente, transgredi-las” (PEGORARO, 2006, p. 105). 
 
Kant estava preocupado em apresentar as vantagens de se separar a razão das influências 
sensíveis, para com isso estabelecer um critério universal capaz de conferir ou não valor moral às 
ações. Já estava consciente de que a razão humana vulgar compreendia essa ideia, não obstante 
não consiga abstrair filosoficamente e pensar o imperativo categórico como princípio moral 
universal que prescreve a universalização das máximas do agir como critério de justiça (KANT, 
1785). 
 
O imperativo categórico aparece em três famosos enunciados na Fundamentação da Metafísica 
dos Costumes (1785, p. 59-60/BA52-54), a saber: 
 
 Primeiro enunciado: “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo 
querer que ela se torne lei universal”; 
 
 Segundo enunciado: “ Age como se a máxima da tua ação se devesse tornar, pela tua 
vontade, em lei universal da natureza”; 
 
 Terceiro enunciado: “Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa 
como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca 
simplesmente como meio. 
 
O filósofo utiliza, no terceiro enunciado do imperativo categórico, o sentido mais profundo de 
pessoa como fim em si, ou seja, o ser humano é um ser que possui dignidade em si mesmo e não 
poderá ser usado como objeto para realização dos interesses de outrem (KANT, 1785). 
 
 
 
 2 
E mais, verifica a possibilidade de autocontradição como um critério necessário embora não 
suficiente para a validade das máximas do agir ao inserir a validade universal e o sentido de 
humanidade (PEGORARO, 2006). 
 
O que significa exatamente o imperativo categórico? Significa que devo verificar se minha 
intenção poderia passar no teste da universalidade (KANT, 1785). Suponha que, diante de uma 
situação de vida, você se sinta motivado a mentir. 
 
Será que essa intenção poderia ser universalizada? O princípio segundo o qual alguém poderá 
mentir sem preocupação com as consequências seria suportado universalmente? Bem Dupré (2015, 
p. 76) atualiza um exemplo que o próprio Kant nos ofereceu na Fundamentação: 
 
Você sabe que Christina quer matar a sua amiga Mariah, que você deixou sentada lá no bar. 
Christina se aproxima e pergunta se você sabe onde Mariah está. Se você lhe disser a 
verdade, Christina vai encontrar a Mariah e matá-la. Se você mentir e disser que viu Mariah 
ir embora há cinco minutos, Christina perderá a pista e Mariah conseguirá escapar. O que 
você deveria fazer? Falar a verdade ou mentir? 
 
O que você faria? Segundo Kant, a mentira não passaria no teste do imperativo categórico. Por 
quê? Porque, primeiramente, devo pensar na outra pessoa considerando-a como fim em si mesma; 
depois, devo universalizar a conduta que intenciono realizar – será que a sociedade suportaria a 
mentira como um princípio fundamental? A resposta seria negativa (KANT, 1785). 
 
Pense, agora, na possibilidade de alguém pedir um empréstimo com a intenção de não cumprir a 
promessa (KANT, 1785). Aplique o imperativo categórico. O que aconteceria com o instituto do 
empréstimo se aplicássemos a regra da universalidade? Se posso mentir, todos podem; se posso 
descumprir uma promessa por interesse pessoal, todos podem e por qualquer motivo. 
 
Uma ação será aceita pela moral “se estiver de acordo com uma regra que você possa consistente 
e universalmente aplicar a si mesmo e aos outros” (DUPRÉ, 2015, p. 77). É essa a ideia do 
imperativo categórico de Kant. 
 
O critério de universalidade elimina o risco de instrumentalizar o outro, porque exige o 
reconhecimento da humanidade em nossa própria pessoa e na pessoa de qualquer outro (KANT, 
1785). No paradigma da filosofia da consciência, o sujeito, na solidão do seu pensamento, avalia 
 
 
 
 3 
as máximas do seu agir. Coloca-se, primeiramente, no lugar do outro que será alcançado pela 
ação e, a seguir, imagina o que aconteceria se todas as pessoas fizessem a mesma coisa. Esse é o 
sentido do imperativo categórico que nos ajuda a qualificar uma ação como moral (DUPRÉ, 2015). 
 
Podemos agir motivados por interesses e inclinações que, não obstante estejam baseadas em boas 
intenções, não são qualificadas como ações morais. Podemos agir, também, por dever, conforme 
determina a regra do imperativo do respeito incondicional ao outro, o que será considerado como 
ação moral (OLIVEIRA, 2015). 
 
Alguns autores, exceto Michael J. Sandel (2011), observam que Kant teria laicizado a regra de 
ouro que preleciona que não devemos fazer ao outro aquilo que não gostaríamos que fizessem 
conosco. 
 
Sandel (2011) observa a questão, mas entende que Kant superou esse aspecto porque a regra de 
ouro depende de como cada um deseja ser tratado e isso poderá variar de pessoa para pessoa. No 
caso do imperativo, temos que ir um pouco além do interesse pessoal e buscar o ponto de vista 
universal – daquilo que poderá ser aceito por todos. Vejamos o argumento de Michael J. Sandel 
(2011, p. 157): 
 
O imperativo categórico de Kant ensina-nos a tratar todos os indivíduos com respeito, como 
um fim em si mesmos. Não seria isso praticamente a mesma coisa que a Regra de Ouro? (...) 
Resposta: Não. A Regra de Ouro depende de fatos contingentes que variam de acordo com 
a forma como cada um gostaria de ser tratado. O imperativo categórico obriga-nos a abstrair 
essas contingências e a respeitar as pessoas como seres racionais, independentemente do 
que elas possam desejar em uma determinada situação. 
 
O imperativo kantiano observa duas questões importantes no âmbito da moral, a saber: como 
posso, enquanto membro do gênero humano, livre e igual, independentemente de qualquer 
diferença cultural ou social, agir de maneira que minhas ações sejam aceitas por todos os demais 
membros da humanidade? 
 
E mais. Que tipo de ligação existe entre mim e os demais seres humanos que nos compromete 
com as gerações futuras? Assim, quando há esse compromisso que começa em si mesmo e 
reconhece o outro, teremos, na visão do filósofo, a verdadeira autonomia da vontade e o triunfo 
da moralidade (CANTO-SPERBER, 2013 e OLIVEIRA, 2015). 
 
 
 
 
 4 
Assim, Kant nos ofereceu o princípio da dignidade da pessoa humana a partir da ideia segundo a 
qual toda a natureza racional é fim em si mesma, além da ideia da humanidade e do sentido de 
uma vontade que é legisladora universal (KANT, 1785, p. 70-1/BA68-9).

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