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DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO II (Furto) 155

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Prof. Fernando Tadeu Marques 
Apontamentos de Direito Penal - Parte Especial 
 
 
 
 
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 
 
FURTO (Art. 155 CP) 
 
CONCEITO: Furto é a subtração de coisa alheia móvel com o fim de apoderar-se, 
assenhorar-se dela de modo definitivo. 
 
ESPÉCIES: O crime de furto divide-se em: 
 Furto simples (art. 155, caput), 
 Furto noturno (art. § 1º); 
 Furto privilegiado (§ 2º); 
 Furto de energia (§ 3º) e 
 Furto qualificado (§ 4º, § 4-Aº , § 5º e § 6º e § 7º) 
 
OBJETO JURÍDICO: a posse, a propriedade ou a detenção da “res furtiva”. 
 
SUJEITO ATIVO: qualquer pessoa 
 
SUJEITO PASSIVO: o proprietário, o possuidor ou o detentor. 
 
TIPO OBJETIVO: Subtrair, ou seja, retirar de alguém. 
 Para si ou para outrem: o agente deve ter fim de assenhoramento definitivo 
 É necessário, que a coisa tenha valor econômico, parte da doutrina entende que 
possa ter valor afetivo. 
 OBS: Se tratar-se de Res Nulius (coisa sem dono), Res Derelicta (coisa abandonada), 
Res Desperdita (coisa perdida)  não configurará delito de furto, porque não são coisas 
alheias. 
 
ELEMENTO SUBJETIVO: dolo específico, com o fim especial de assenhoramento. 
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FURTO DE CADÁVER OU DE SEPULTURA: Somente será objeto do crime de furto, caso 
possua valor econômico e alguém tenha sua posse legítima. Caso contrário, será crime de 
violação de sepultura (art. 210 CP), ou de subtração, ocultação de cadáver (art. 211 CP). 
 
FURTO DE USO: Ocorre quando alguém retira coisa alheia momentaneamente, 
repondo-a ao dono. Não configura crime. Existe entendimento doutrinário no sentido de que 
para haver o instituto do furto de uso é necessário que a coisa tenha sido devolvida intacta 
antes que a vítima dê falta do bem. 
Contudo, outra parte da doutrina entende que, não haverá crime de furto, quando 
estiver ausente o ânimo de assenhoramento definitivo. Não bastando retirar a coisa, sendo 
necessário que tenha intenção de passar a ser dono dela. O furto de uso é atípico, mas nada 
impede que se entre na esfera cível, pedindo indenização, por exemplo, pelo uso do carro, 
pela gasolina, etc. Deve haver a restituição. O furto de uso é tipificado como crime no Código 
Penal Militar. 
 
FURTO FAMÉLICO: Ocorre em estado de extrema penúria de quem o comete, pois é 
impelido pela fome a subtrair alimentos ou animais para poder alimentar-se. Não há crime 
neste caso, pois o agente atuou sob a excludente do estado de necessidade. Famélico é 
palavra derivada de "fome". 
 
CONSUMAÇÃO: Atualmente a jurisprudência entende que o momento consumativo 
do furto ocorre com a inversão da posse, não havendo necessidade da posse mansa e pacífica. 
 
TENTATIVA: É admissível. 
 
AÇÃO PENAL: pública incondicionada, salvo nas hipóteses do artigo 182 do CP, quando 
é condicionada a representação. 
 
 
 
 
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FURTO NOTURNO (§ 1º do art. 155) 
 
Ocorre quando a subtração é praticada durante o repouso noturno. Para configurar 
esta causa de aumento (1/3), a jurisprudência vem entendendo não ser necessário que os com 
moradores estejam repousando, bastando que seja no período de repouso noturno, devido a 
menor vigilância existente durante a noite. Repouso noturno é o período em que as pessoas 
de certa localidade descansam, dormem. Difere de região, de localidade da vítima, seja rural 
ou urbana. Assim, para configurar o aumento, o crime deve ter sido praticado durante tal 
período de repouso, não bastando, pois que o fato ocorra à noite. O repouso noturno não tem 
relação com horários. Trata-se daquele momento em que a maioria das pessoas, de um 
determinado local, costumam repousar. Aumenta-se a pena nestes casos, pois a vigilância 
sobre o patrimônio da vítima é reduzida. 
 
FURTO PRIVILEGIADO (§2º do art. 155) 
 
Ocorre quando o agente é primário e de pequeno valor a coisa furtada. 
 
Requisitos: 1 - agente primário; 
 2 - pequeno valor da coisa furtada; 
 
Pena: O juiz pode diminuir a pena de 1/3 a 2/3, ou aplicar somente a multa. 
 
OBS: Para ser considerado pequeno valor, a doutrina e a jurisprudência entendem que 
a coisa subtraída não pode ultrapassar a um salário mínimo. (independentemente do poder 
aquisitivo da vítima). 
 
OBS: FURTO X PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
 
 Não confundir pequeno valor com pequeno prejuízo da vítima. 
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 É direito subjetivo do réu e não mera faculdade do juiz, a aplicação do privilégio. 
 
Súmula 511 do STJ: É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do 
CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, 
o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva. 
 
FURTO DE ENERGIA (§ 3º do art. 155) 
 
São expressamente equiparadas à coisa móvel a eletricidade e outras energias (energia 
elétrica, genética, radioatividade, eletromagnética, genética de reprodutores, térmica, 
mecânica, ar comprimido, vapor, etc). Quanto aos sinais de TV a cabo temos uma discussão 
entre os tribunais superiores (STJ e STF). Para o STJ trata-se de energia, então poderemos ter o 
furto por equiparação. Para configuração deste crime é necessário ser efetuado exame 
pericial. Por outro lado, ao indicar, corretamente, que a conduta mencionada não se adéqua 
tipicamente ao delito desenhado no art. 155, § 3º do CP, o STF advoga que na legislação 
específica há dispositivo tratando diretamente do caso descrito, qual seja o art. 35 da Lei 
8.977/95: Art. 35. Constitui ilícito penal a interceptação ou a recepção não autorizada dos 
sinais de TV a Cabo. Todavia o referido artigo fere o princípio da legalidade uma vez que tem 
preceito primário, mas não tem preceito secundário, sim, o legislador disse sobre a conduta, 
mas não falou nada sobre qual seria a penas aplicada! Desta forma o STF posiciona dizendo 
que tal comportamento é fato atípico. 
 
FURTO QUALIFICADO (§ 4º, § 4-Aº , § 5º e § 6º e § 7º) 
 
FURTO QUALIFICADO (§ 4º do art. 155) 
 
As qualificadoras do artigo 155 estão previstas nos §§ 4º, 4-Aº, 5º, 6º e 7º. 
 
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§4º - I: COM DESTRUIÇÃO OU 
ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO À SUBTRAÇÃO DA COISA. 
 
Existe divergência doutrinária e jurisprudencial no tange a esta qualificadora, sendo 
que parte da jurisprudência entende que o furto somente será qualificado se ocorrer a 
destruição do obstáculo para se ter acesso à coisa. 
Já outra parte entende que a violência deve ser aplicada contra o obstáculo que 
dificulta a subtração, podendo ser também contra a própria coisa. 
 
O inciso I refere-se então ao furto mediante arrombamento. 
Obstáculo é tudo que se interpõe entre o agente e a coisa, e que dificulta o acesso à 
coisa. 
Destruir significa acabar com o obstáculo (por exemplo, explodir um cofre). 
Rompimento significa abrir uma brecha sem destruir (por exemplo, arrombar uma 
porta - neste caso, destrói-se a fechadura). O furto qualificado é a destruição do obstáculo 
para ter acesso à coisa. 
Há necessidade de exame de corpo de delito (artigo 158 do Código de Processo Penal). 
 
§ 4º - II: COM ABUSO DE CONFIANÇA, OU MEDIANTE FRAUDE, ESCALADA OU 
DESTREZA. 
(1ª hipótese): Abusode confiança. É necessário que a vítima deposite uma especial 
confiança no agente (relação profissional, amizade, parentesco etc.). Não basta a simples 
relação empregatícia, pois o patrão deve ter especial situação de confiança com o empregado. 
Também é necessário que o agente aproveite de alguma facilidade decorrente dessa confiança 
para efetuar a subtração. Todavia algumas profissões, já envolvem relação de confiança. Ex: 
segurança, caixa de banco, vigia etc. Se uma pessoa nessas condições comete um furto, incide 
a qualificadora, pois a confiança é inerente à função. 
(2ª hipótese): Mediante Fraude. Fraude é o artifício, o meio enganoso usado pelo 
agente, capaz de reduzir a vigilância da vítima e permitir a subtração do bem. Ex: uso de 
disfarce: usar uniforme do correio, telegrama animado. 
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(3ª hipótese): Escalada. É a utilização de 
via anormal para adentrar no local onde o furto será praticado, predominando o 
entendimento de que tal entrada requer emprego de meio instrumental (Ex: subir escada) ou 
esforço incomum (ex: escalar muro alto). 
(4ª hipótese): Destreza. É a habilidade física ou manual que permite ao agente 
executar uma subtração sem que a vítima perceba que está sendo despojada de seus bens. O 
punguista (que “bate” carteira sem que a vítima perceba) utiliza-se da destreza. Se, numa 
praça, um ladrão ágil persegue uma pessoa para subtrair-lhe a carteira, e a vítima percebe, não 
incide esta qualificadora. 
 
§ 4º - III – COM EMPREGO DE CHAVE FALSA; 
Considera-se chave falsa: a imitação da verdadeira; qualquer instrumento, com ou sem 
forma de chave, capaz de abrir uma fechadura sem arrombá-la (grampos, “mixas”, “gazua”, 
chaves de fenda, tesouras etc.). 
 
A cópia de uma chave verdadeira também é uma chave verdadeira e NÃO configura 
chave falsa. Se o agente usa de um subterfúgio para obter a chave verdadeira e fizer uma 
cópia, não se configurará o furto mediante chave falsa (mas poderá se configurar o furto 
mediante fraude). 
 
§ 4º IV – MEDIANTE CONCURSO DE DUAS OU MAIS PESSOAS; 
A qualificadora é cabível ainda que um dos envolvidos seja menor ou apenas um deles 
tenha sido identificado em razão da fuga dos demais do local. 
 
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego 
de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 
13.654, de 2018) 
Aqui a novidade foi a criação de uma nova forma qualificada constante do §4º-A que 
aumentou de forma significativa a pena de reclusão que é de 04 a 10 anos. A alteração foi 
motivada tendo em vista o crescimento desenfreado do delito de furto, onde os agentes 
utilizavam-se do emprego de explosivo ou de artefato análogo, assim o aumento se dá por 
conta da forma de execução mais gravosa. 
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(§ 5º) - VEÍCULO AUTOMOTOR TRANSPORTADO PARA OUTRO ESTADO OU PARA O 
EXTERIOR. 
A Lei 9426/96 criou esta nova qualificadora, que tem dois requisitos: a) que o objeto 
seja veículo automotor. b) que este veículo venha ser efetivamente transportado para outro 
Estado ou para o exterior. 
 
 (§ 6º) ABIGEATO - A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for 
de SEMOVENTE DOMESTICÁVEL DE PRODUÇÃO, ainda que abatido ou dividido em partes no 
local da subtração. 
 
 
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de 
substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua 
fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) 
Outra novidade foi inserida no art. 155 foi o §7º que traz outra forma qualificada, 
aplicada quando o objeto material do crime for substâncias explosivas ou de acessórios que, 
conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego, também com 
pena abstrata de reclusão de 04 a 10 anos. 
 
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