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Mulheres na 
economia digital
Superar 
o limiar da 
desigualdade
Eva
ngel
io
de
San
Jua
n 8:
32
Sí
nt
es
e
Conferência Regional
SOBRE A MULHER
da América Latina e do Caribe
Mulheres na 
economia digital
Superar 
o limiar da 
desigualdade
Eva
ngel
io
de
San
Jua
n 8:
32
Sí
nt
es
e
Conferência Regional
SOBRE A MULHER
da América Latina e do Caribe
O presente documento se elaborou sob a direção de Alicia Bárcena, Secretária 
Executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), para 
sua apresentação na XII Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e 
do Caribe (Santo Domingo, 15 a 18 de outubro de 2013).
A execução deste documento esteve sob a responsabilidade de Sonia 
Montaño Virreira, Diretora da Divisão de Assuntos de Gênero, e de Mario Cimoli, 
Diretor da Divisão de Desenvolvimento Produtivo e Empresarial da CEPAL, e 
a coordenação esteve a cargo de Lucía Scuro, Oficial de Assuntos Sociais da 
Divisão de Assuntos de Gênero. Agradece-se especialmente o aporte substantivo 
de Néstor Bercovich, Coral Calderón, María Goñi, Lucas Navarro, Lucía Pittaluga, 
María Ángeles Salle, Lucía Tumini e Sonia Yáñez. Em sua elaboração e discussão 
colaboraram Jimena Arias, María Cristina Benavente, Mario Castillo, Julia Ferré, 
Ana Ferigra, Virginia Guzmán, Paula Jara, Patricio Olivera, Paulina Pavez, Laura 
Poveda, Inés Reca, Varinia Tromben, Alejandra Valdés e Pamela Villalobos, da 
CEPAL, Martin Shaaper, Especialista em estatísticas de ciência e tecnologia 
do Instituto de Estatística da UNESCO e Marcia Leite e Pilar Guimarães da 
Universidade Estadual de Campinas do Brasil. 
O documento colige as valiosas contribuições das ministras e autoridades dos 
mecanismos para o avanço da mulher da América Latina e do Caribe, que definiram 
seu conteúdo na 47a reunião da Mesa Diretiva da Conferência Regional sobre a 
Mulher da América Latina e do Caribe (Santiago, 28 a 30 de novembro de 2011), 
enviaram insumos para sua preparação e enriqueceram a versão final com aportes 
e debates em três ocasiões: na reunião preparatória da XII Conferência Regional 
sobre a Mulher da América Latina e do Caribe com países da América Central 
e o México (San José, 8 e 9 de maio de 2013), na reunião preparatória da XII 
Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe com países da 
América do Sul (Montevidéu, 21 e 22 de maio de 2013) e na reunião preparatória 
do Caribe da XII Conferência Regional sobre a Mulher (São Vicente e Granadinas, 
8 e 9 de agosto de 2013). Agradece-se também a contribuição dos funcionários 
e funcionárias dos organismos especializados na sociedade da informação e 
nas tecnologias da informação e das comunicações (TIC). Parte da informação 
estatística apresentada neste documento provém do Observatório da Igualdade 
de Gênero da América Latina e Caribe da CEPAL. 
Agradece-se também a contribuição da Agência Espanhola de Cooperação 
Internacional para o Desenvolvimento (AECID), da Secretaria Geral Ibero-
Americana (SEGIB) e do projeto Alianza para la Sociedad de la Información 
(@LIS2), da CEPAL e da União Europeia.
LC/L.3675(CRM.12/4) • Outubro de 2013 • Original: Espanhol • 2013-531 
© Nações Unidas • Impresso em Santiago, Chile
3
Índice
Prólogo .................................................................................................................... 5
Introdução ...................................................................................................................9
I. As mulheres na sociedade da informação e do conhecimento: 
oportunidades e desafios .................................................................................13
 A. O padrão de emprego das mulheres .......................................................13
 B. A segunda brecha digital ............................................................................14
 C. Mudança estrutural para a igualdade na sociedade 
 da informação e do conhecimento ..........................................................15
 D. A autonomia das mulheres no novo paradigma tecnológico .............15
 E. Em síntese ....................................................................................................17
II. Onde estão as mulheres? Trabalho, emprego, acesso e uso 
das tecnologias da informação e das comunicações ..................................19
 A. As mulheres no mercado de trabalho .....................................................19
 B. Mulheres no âmbito rural e mulheres indígenas ...................................22
 C. Brecha digital de gênero: acesso, uso e habilidades 
 na Internet ....................................................................................................24
 D. Em síntese ....................................................................................................27
III. As mulheres na economia digital ...................................................................29
 A. Oportunidades ou mais do mesmo? As mulheres 
 na indústria eletroeletrônica ......................................................................30
 B. O clássico serviço baseado nas TIC ........................................................32
 C. Empreendedoras na economia digital usam as tecnologias 
 da informação e das comunicações .........................................................34
 D. Em síntese ....................................................................................................37
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
4
IV. As mulheres no mundo da ciência e do conhecimento ............................39
 A. Em síntese ....................................................................................................43
V. Tecnologias da informação e das comunicações: uma ferramenta 
para a igualdade de gênero ..............................................................................45
 A. Experiências de uso das TIC para a autonomia econômica 
 das mulheres.................................................................................................46
 B. Experiências de uso das TIC que contribuem ao bem-estar 
 das mulheres.................................................................................................48
 C. Experiências de uso das TIC para a promoção da igualdade 
 de gênero ......................................................................................................49
 D. Em síntese ....................................................................................................50
VI. Agendas digitais e perspectiva de gênero .....................................................53
 A. As agendas digitais como promotoras da economia digital 
 e da igualdade ...............................................................................................54
 B. A perspectiva de gênero nas agendas digitais 
 da América Latina e do Caribe .................................................................56
 C. Rumo a agendas digitais mais integrais e com perspectiva 
 de gênero ......................................................................................................59
 D. Em síntese ....................................................................................................60
Conclusões gerais ....................................................................................................61
Bibliografia ................................................................................................................65
5
Prólogo
Frente à XII Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e 
do Caribe, a CEPAL quis contribuir ao debate regional apresentando o 
documento Mujeres en la economía digital: superar el umbral de la desigualdad, 
esforço de sistematizaçãoque aborda diversos aspectos que atualmente 
condicionam a inserção das mulheres da região no mercado de trabalho, 
bem como o acesso e o uso que elas fazem dos diferentes elementos que 
compõem a economia digital. Em suas páginas se registram experiências, 
iniciativas e políticas que visam melhorar a qualidade de vida das mulheres 
por meio das tecnologias da informação e das comunicações (TIC). 
Encontramo-nos hoje num momento crucial, em que os governos, as 
empresas e os cidadãos da região devem refletir e agir visando propiciar 
novos enfoques sobre o desenvolvimento. É primordial forjar uma nova 
equação entre o Estado, o mercado e a sociedade que dê alento a um 
modelo de desenvolvimento com igualdade, apoiado no emprego, no 
crescimento da produtividade, no bem-estar social e na sustentabilidade 
do meio ambiente. Esse caminho tem como estações iniludíveis 
elementos centrais como a educação, a ciência e a tecnologia, a inovação 
e o empreendimento, os sistemas de cuidado das pessoas, o papel dos 
territórios e a diversidade cultural. 
Entre eles, as TIC constituem um suporte imprescindível e transversal 
do conjunto da atividade econômica, política, cultural e social, além de, 
por si mesmas, representarem um setor produtivo. Nessa medida, estas 
tecnologias podem ser aliadas para o alcance da igualdade e ajudar a 
reduzir as iniquidades de gênero, que implicam tanto uma brecha social 
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
6
como a própria brecha digital de gênero. Portanto, o acesso das mulheres 
ao uso das TIC resulta indispensável —ainda que não suficiente— para 
abrir oportunidades num contexto de desenvolvimento tecnológico 
sumamente dinâmico. 
Com esta reflexão em mente, no primeiro capítulo do documento 
se expõe o debate sobre a mudança estrutural e o lugar das mulheres na 
sociedade da informação e a capacidade de ampliação de sua autonomia no 
âmbito da instalação do novo paradigma tecnológico. No segundo capítulo 
faz-se um mapeamento da situação das mulheres no mercado de trabalho 
e a partir de dados das pesquisas disponíveis se revisam indicadores de 
acesso e uso da Internet para medir as brechas que se estabelecem entre 
homens e mulheres em distintos âmbitos sociais e geográficos. 
O acesso das mulheres às TIC se vê limitado por fatores que 
transcendem as questões de infraestrutura tecnológica e da linguagem. 
Na América Latina e no Caribe o fato de que as mulheres utilizem 
menos as TIC que os homens, sem dúvida, se dá como resultado direto 
da desigualdade e dos estereótipos em âmbitos como a educação e a 
formação profissional, o emprego e o acesso à renda. 
No terceiro capítulo se abordam os resultados de três estudos 
exploratórios em diferentes âmbitos da economia digital: a indústria 
eletroeletrônica, os serviços de centros de chamadas e os empreendimentos 
de mulheres que utilizam as TIC. No quarto capítulo se debate a inserção 
das mulheres no mundo da ciência e do conhecimento por meio das 
trajetórias laborais de mulheres da região dedicadas à pesquisa científica. 
A economia, o bem-estar e as tecnologias são dimensões-chave 
e interconectadas, que devem ser consideradas na formulação de 
políticas públicas de igualdade de gênero que respondam de maneira 
ambiciosa e inovadora aos desafios que a sociedade atual apresenta. 
Assim, o argumento central para refletir sobre as TIC e a igualdade de 
gênero deve vincular-se à incorporação das mulheres nos processos de 
mudança e desenvolvimento sustentável dos países, entendendo que 
este objetivo só pode ser alcançado com uma participação igualitária 
de homens e mulheres.
Assumir esta perspectiva significa converter a brecha digital de gênero 
em uma oportunidade concreta para enfrentar as desigualdades de gênero 
nos países da região, dado que as tecnologias digitais são ferramentas que 
poderiam melhorar as condições de vida e o acesso ao emprego, à renda 
CEPAL 2013
7
e aos serviços de educação e saúde. É por isso que no quinto capítulo se 
apresenta uma série de experiências de políticas públicas e de iniciativas 
de organizações nacionais e internacionais que mostram os progressos e 
esforços para o aproveitamento das TIC para o bem-estar das mulheres.
Por último, no sexto capítulo se enfatiza a perspectiva de gênero nas 
atuais estratégias digitais adotadas pelos países da região, de onde surge 
a necessidade de os governos dedicarem um maior esforço para que as 
mulheres tirem maior proveito dos recursos das TIC.
As TIC podem dar um grande impulso ao empoderamento 
econômico, político e social das mulheres e podem contribuir a consolidar 
a igualdade de gênero na região. Esse potencial, contudo, só será alcançado 
se as mulheres superarem as barreiras ao acesso e uso das TIC e se 
incorporarem plenamente à sociedade da informação e do conhecimento. 
Esta reflexão vincula duas áreas temáticas e de política pública que 
não tiveram uma forte relação, o que determina importantes desafios e 
implica uma agenda futura de pesquisa e de ação pública com grandes 
potencialidades, tanto da perspectiva da autonomia das mulheres como 
da contribuição ao desenvolvimento dos países.
Neste documento a CEPAL propõe que os governos dos países 
planejem, implementem e supervisionem as políticas de desenvolvimento 
e de desenvolvimento produtivo em particular, considerando que as 
mulheres constituem metade da população. As políticas não podem ser 
neutras. Devem considerar as desigualdades de gênero que se observam 
no Estado, no mercado e na família e estar orientadas a superá-las. A 
perspectiva de gênero deve cruzar transversalmente as estratégias digitais 
para solucionar as brechas digitais (de acesso, e especialmente de uso) e 
os problemas específicos, desvantagens ou discriminações que enfrentam 
as mulheres, meninas e adolescentes. 
Alicia Bárcena
Secretária Executiva
Comissão Econômica para a América Latina 
e o Caribe (CEPAL)
9
Introdução
A XII Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do 
Caribe, que reúne representantes dos governos da região, aborda a 
igualdade de gênero, o empoderamento das mulheres e as tecnologias da 
informação e das comunicações (TIC). Em abril de 2013, os governos 
reunidos na quarta Conferência Ministerial sobre a Sociedade da 
Informação da América Latina e do Caribe reafirmaram seu compromisso 
de seguir avançando no sentido do cumprimento das metas expressadas no 
Plano de Ação sobre a Sociedade da Informação e do Conhecimento da 
América Latina e do Caribe (eLAC2015) e reconheceram a necessidade de 
formular políticas com um enfoque de desenvolvimento e de incorporar 
as perspectivas de gênero e de oportunidades com uma visão de inclusão 
que fomente a igualdade e, em particular, a redução da brecha digital.
Neste documento se destaca que as TIC abrem diversas oportunidades 
para a autonomia das mulheres e a igualdade de gênero, mas a população 
feminina não se encontra em igualdade de condições em relação aos 
homens na sociedade da informação e do conhecimento. Apesar do 
aumento das taxas de acesso e uso da Internet na população de todos 
os países, ainda persiste uma importante brecha digital de gênero em 
detrimento das mulheres. Esta brecha de gênero na inclusão digital existe 
em países com distintos níveis de desenvolvimento e tem sua explicação na 
persistência das relações desiguais e nos estereótipos culturais de gênero. 
Os antecedentes reunidos no estudo mostram que as mulheres se 
beneficiam dos avanços da sociedade digital de forma defasada em relação 
aos homens, tanto na área da produção de novas tecnologias como nos 
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
10
diferentes campos de aplicação, e especialmente no mercado de trabalho. 
Neste trabalho se analisa o emprego das mulheres naensamblagem de 
dispositivos TIC na indústria eletroeletrônica, nos centros de chamadas, no 
setor da pesquisa científico-tecnológica e em diversos empreendimentos 
de mulheres em vários países da região. 
Estes casos mostram que os efeitos do uso das TIC sobre o processo 
de avance da igualdade de gênero são diversos e nem sempre lineares. 
Embora se tenham logrado progressos nesta direção, se mantêm antigas 
desigualdades e surgem outras novas que põem em evidência os altos e 
baixos, os bloqueios e a resistência à mudança. 
Os avanços no processo de igualdade de gênero se vinculam, em 
primeiro lugar, com o fato de a produção e uso das novas tecnologias, 
e as mudanças associadas na organização produtiva e do trabalho, abrir 
novos espaços de trabalho, de autonomia econômica e pessoal para as 
mulheres, o que debilita as estruturas e representações tradicionais que 
organizavam a vida e o trabalho de homens e mulheres. Neste documento 
se expõe uma ampla gama de iniciativas que demonstram como o acesso 
e uso das TIC por parte das mulheres pode contribuir significativamente 
a melhorar sua qualidade de vida e fomentar a igualdade de gênero em 
diversos âmbitos, como a saúde, a educação e o combate à violência. Neste 
sentido, pode-se encontrar nas TIC uma oportunidade para a estruturação 
de relações sociais de gênero com igualdade, um traço que caracteriza a 
nova organização econômica. 
Por outro lado, se observa que a mudança tecnológica e econômica 
trouxe consigo alguns efeitos negativos, como a precariedade do emprego 
e a intensificação do trabalho. A isto se somam novas e reeditadas 
formas de organização no âmbito do trabalho, como o taylorismo digital, 
e uma flexibilidade de trabalho que serve para satisfazer as necessidades 
das empresas, que em muitas ocasiões exigem uma disponibilidade 
permanente para cumprir as exigências do trabalho remunerado. Com 
isto se obstaculiza a conciliação da vida de trabalho e da vida familiar, 
tanto no caso das mulheres como no dos homens.
A qualidade do emprego das mulheres em setores econômicos 
vinculados às TIC está caracterizada por uma acentuada segregação 
ocupacional de gênero e pela subvaloração do trabalho feminino. A 
incorporação das novas tecnologias não tem afetado significativamente 
a estrutura segregada das ocupações e, em algumas delas, tem produzido 
uma nova segmentação. Ainda que as mulheres superem os homens no 
CEPAL 2013
11
cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio no campo 
da educação, persiste uma discriminação no trabalho, já que mulheres 
com maior nível de educação ocupam postos similares aos que ocupam 
homens com menor instrução. 
A menor gama de ocupações disponíveis para as mulheres e as 
dificuldades que estas enfrentam para ter acesso a postos de direção 
contribui a explicar a existência de diferenças salariais entre homens 
e mulheres.
Em suma, no diagnóstico se destaca que mulheres e homens 
chegam em condições de desigualdade ao processo de reestruturação 
produtiva associada às TIC. O ordenamento de gênero pelo qual as 
mulheres seguem sendo as principais responsáveis pelo trabalho não 
remunerado e do cuidado nas famílias interage com as novas formas de 
organização da economia global, que se baseia no uso intensivo da ciência 
e da tecnologia e em processos de globalização. Isto explica, em grande 
parte, a lentidão com que se fecham as brechas de gênero no mercado 
de trabalho, incluindo aquele que se caracteriza por um alto nível de 
desenvolvimento tecnológico, onde as TIC são parte integral do modelo 
de produção e gestão. 
No estudo se reitera que as políticas econômicas e tecnológicas 
podem fomentar a igualdade de gênero ou reproduzir as desigualdades 
existentes, dependendo de como estejam formuladas e do modo e 
entorno da implementação. Um dos descobrimentos mais preocupantes 
é a ausência de políticas industriais, trabalhistas, tecnológicas e científicas 
ativas que integrem a perspectiva de gênero. 
Destaca-se que as políticas de desenvolvimento em geral, e as 
políticas de desenvolvimento produtivo em particular, não podem ser 
neutras. Assim como devem levar em consideração as desigualdades 
existentes entre países e entre economias, também devem expor e eliminar 
a suposição generalizada de que homens e mulheres se despojam de 
seus papéis sociais e culturais quando entram ao mercado de trabalho. 
A incorporação das mulheres ao trabalho remunerado em igualdade de 
condições com os homens requer políticas de mudança estrutural que 
tenham em consideração as diferenças e desigualdades entre homens e 
mulheres na integração à sociedade, ao mercado de trabalho e à família. 
O desafio das políticas públicas para a sociedade da informação que 
incorporem a perspectiva de gênero centra-se em dois pontos: maximizar 
as oportunidades que oferece a revolução digital e minimizar os riscos de 
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
12
defasagem das mulheres. Trata-se de um desafio que não é unicamente 
tecnológico, mas também político e que passa pela determinação de 
implementar estratégias digitais que incorporem a perspectiva de gênero 
como eixo transversal, aproveitando as novas possibilidades que oferecem 
as TIC para obter progressos na agenda de igualdade de gênero.
13
I. As mulheres na sociedade da informação e 
do conhecimento: oportunidades e desafios
Para entender os processos de mudança e estudar as repercussões e 
possíveis oportunidades para alcançar a igualdade de gênero, se apresenta 
a atual situação das mulheres no mercado de trabalho e a brecha digital 
de gênero, se discute por que é preciso promover a mudança estrutural 
para a igualdade na sociedade da informação e do conhecimento, e 
finalmente se aborda a necessária autonomia das mulheres no âmbito 
do novo paradigma tecnológico. 
A. O padrão de emprego das mulheres
A participação das mulheres no mercado de trabalho, considerada uma 
das transformações sociais e econômicas mais importantes e sustentadas 
das últimas décadas, não retrocedeu em nenhuma crise econômica, mas 
mostrou uma desaceleração no começo do novo milênio. Esta participação 
tem mantido os traços de precariedade que caracterizam o emprego 
feminino. As mulheres com maior nível educativo, menores cargas 
familiares e mais recursos para adquirir serviços de cuidado apresentam 
taxas de participação econômica mais elevadas. Esta estratificação na 
experiência de trabalho das mulheres se aprofunda com a segmentação 
própria dos mercados de trabalho e se combina com débeis e restritas 
ofertas de serviços de cuidado (Rodríguez e Giosa, 2010).
A despeito da importante presença das mulheres no mercado de 
trabalho, ainda persiste a segregação do trabalho, que se define como a 
clara distinção entre os setores de atividade do mercado e os postos de 
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
14
trabalho ocupados por homens e mulheres. A segregação de trabalho das 
mulheres se manifesta em duas dimensões: a segregação horizontal e a 
segregação vertical. A segregação horizontal supõe que as mulheres se 
concentrem em certos setores de atividade e em determinadas ocupações, 
enquanto a segregação vertical implica uma desigual repartição de homens 
e mulheres na escala hierárquica e, portanto, mostra como as mulheres 
têm dificuldades para progredir em sua profissão e ter acesso a postos 
mais qualificados e mais bem remunerados.
B. A segunda brecha digital
Algumas décadas atrás, contar ou não com acesso à Internet definia a 
brecha digital e gerava coletivos incluídos e excluídos da sociedade da 
informação. Atualmente, os níveis de cobertura da Internet registram, 
em todo o mundo, um aumento exponencial. A brecha digital se 
manifesta como um fenômeno mais complexo do que o mero acesso à 
Internet,pelo que as categorias que a descrevem também se tornam mais 
complexas. Existe uma primeira brecha digital que se refere ao acesso 
aos computadores e à conexão da Internet, segundo as características 
sociodemográficas das pessoas. A segunda brecha se relaciona com os 
usos, tanto em intensidade como na variedade de usos, e está determinada 
pelas capacidades e habilidades geradas pelos indivíduos para utilizar os 
equipamentos e recursos do novo paradigma tecnológico.
O relevante da análise da segunda brecha digital é que a barreira mais 
difícil de superar não é a de acesso (provisão de infraestrutura, difusão de 
artefatos, programas de aprendizagem introdutórios), mas a do uso e das 
habilidades. Além do tempo de uso dos computadores ou da Internet, é 
necessário analisar o tipo de uso que homens e mulheres fazem destas 
ferramentas (Castaño, 2008).
A segunda brecha digital afeta mais intensamente as mulheres. Em 
vários países da região, as mulheres igualam os homens quanto ao acesso 
a Internet, o que indicaria que a primeira brecha digital está em vias de 
superação. Na segunda brecha digital, em contraste, as mulheres se situam 
em uma posição de clara desvantagem frente aos homens, já que fazem um 
uso mais restringido e realizam atividades que requerem menor destreza 
tecnológica (Castaño, 2008). Estas diferenças nos usos encontram sua 
CEPAL 2013
15
explicação nas relações de poder assimétricas entre homens e mulheres, 
enraizadas historicamente no sistema de gênero hegemônico que se 
reproduz na família, na escola e no mundo do trabalho.
C. Mudança estrutural para a igualdade na sociedade 
da informação e do conhecimento
Os países da América Latina e do Caribe enfrentam o desafio de 
reformar suas estruturas produtivas, já que as atuais caracterizam-se por 
apresentarem grande heterogeneidade e pelo escasso peso dos setores 
intensivos em conhecimento, o que tende a reforçar as situações de 
desigualdade social. A heterogeneidade estrutural contribui para explicar a 
profunda desigualdade social da região, já que as brechas de produtividade 
refletem, e, ao mesmo tempo, reforçam as capacidades de incorporação 
ao progresso técnico, poder de negociação, acesso às redes de proteção 
social e opções de mobilidade ocupacional ascendente (CEPAL, 2013b). 
Em todas essas dimensões, para um mesmo nível socioeconômico, as 
mulheres enfrentam mais dificuldades do que os homens.
A mudança estrutural implica remover os modelos que sustentam 
as desigualdades de gênero implantadas nas relações de trabalho, e 
que designam posições hierarquizadas e lugares ou postos de maiores 
vantagens aos homens, independentemente dos sustentados esforços 
de capacitação, profissionalização e autonomia que realizam as mulheres 
nos países da região. 
As estratégias de desenvolvimento baseadas na mudança estrutural 
são uma opção que permitiria aos países integrarem-se em uma situação 
mais vantajosa na sociedade da informação e do conhecimento. Dado que 
as mulheres sofrem em maior medida a desigualdade nestas sociedades, 
o estudo das oportunidades e dos obstáculos que estas enfrentam para 
inserir-se em igualdade de condições com os homens na sociedade do 
conhecimento adquire maior relevância.
D. A autonomia das mulheres no novo paradigma 
tecnológico
A divisão sexual do trabalho e a sobrecarga de trabalho não remunerado 
que enfrentam as mulheres geram dificuldades para uma incorporação 
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
16
plena ao processo de mudança estrutural. Por este motivo, qualquer análise 
que se faça para elaborar políticas públicas de crescimento e igualdade 
deve pôr especial atenção naqueles aspectos que possam reforçar a noção 
de um processo de mudança estrutural com igualdade, especificamente 
com igualdade de gênero, abrindo oportunidades a homens e mulheres. 
As políticas econômicas, tecnológicas e sociais tendentes à mudança 
estrutural podem fomentar a igualdade de gênero ou ser neutras em 
relação a esta e permitir a persistência das desigualdades. Deste modo, 
é muito importante prestar atenção especial a cada uma das etapas da 
política produtiva, desde a formulação e implementação até o posterior 
seguimento e avaliação, com a permanente medição dos seus efeitos na 
vida de mulheres e homens. 
Para aprofundar na reflexão sobre a autonomia das mulheres no 
novo paradigma tecnológico, se estabelecem dois níveis de análise: 
a) o nível estratégico da reflexão entre a sociedade da informação e do 
conhecimento e a agenda de igualdade de gênero, e b) o nível instrumental, 
que se refere aos aspectos dos quais a agenda de igualdade de gênero 
possa nutrir-se para cumprir seus objetivos.
1. Nível estratégico: desafiar a neutralidade
Este nível implica perguntar-se em que espaços de ação do novo paradigma 
é possível fazer a conexão com a política de igualdade de gênero. 
Também supõe indagar quais são as potencialidades que apresentam 
para a autonomia das mulheres as novas formas de produção, as lógicas 
de maior flexibilidade de trabalho ou a mudança no setor dos serviços 
intermediados pelas TIC. A reflexão estratégica exige repensar o sentido 
do desenvolvimento, presente e futuro. Uma das primeiras consequências 
que esta reflexão estratégica tem para o desenvolvimento é a ruptura de 
um modelo de pensamento que historicamente não tendia a considerar 
como um trabalho o trabalho não remunerado das mulheres. Esta 
mudança conceitual transforma o marco de análise do desenvolvimento, 
interpela a hierarquização entre o produtivo e o reprodutivo, e questiona 
as prioridades estabelecidas nas políticas públicas.
Trata-se de uma plataforma desde a qual refletir sobre o impacto 
favorável que deve ter a interseção entre as condições que se apresentam 
na sociedade da informação e do conhecimento e os avanços na política 
pública para a igualdade de gênero.
CEPAL 2013
17
A identificação de possíveis janelas de oportunidade requer 
compreender a natureza não só do paradigma das TIC, mas também 
das novas corporações internacionais. As políticas produtivas dos 
países vêm se modificando e devem questionar abertamente a maneira 
mais eficiente e justa de integrar o contingente de mulheres que busca 
trabalho assalariado e acesso à renda e bem-estar em igualdade de 
condições com os homens.
Para que isto ocorra devem-se formular políticas que tomem em conta 
as demandas de cuidado, que atualmente recaem quase exclusivamente 
em mulheres que exercem esta tarefa em forma não remunerada. As 
políticas de desenvolvimento produtivo não podem operar sem considerar 
as políticas que habilitem as mulheres a um acesso adequado ao mundo 
do trabalho, ao mesmo tempo em que ampliam as responsabilidades 
familiares dos homens. É disto que se trata quando se fala de interpelar 
a suposta neutralidade das políticas (Montaño, 2010).
2. Nível instrumental: as TIC para a igualdade
Trata-se da utilização de todas as ferramentas que se colocam ao dispor 
das mulheres com a instalação do paradigma das novas tecnologias e que 
abrem uma frente com alta potencialidade instrumental para a difusão e 
concretização de ações que tendam à igualdade entre homens e mulheres. 
A partir deste nível analítico cabe perguntar-se de que maneira as TIC 
podem ser úteis para fortalecer ações e políticas para alcançar a igualdade, 
e quais são as ferramentas que permitem aos governos melhorar a eficácia 
de suas ações para alcançar a igualdade de gênero.
E. Em síntese
Devem-se assinalar ao menos três conclusões no âmbito da autonomia 
das mulheres e da igualdade de gênero no novo paradigma da sociedade 
da informação. Em primeiro lugar, fica evidente que na economia 
digital, como nos demais paradigmas econômicos, as oportunidades 
não se distribuem de maneira equitativa nem entre os países nem entre 
as pessoas,o que provoca assimetrias que se devem combater com 
políticas específicas sobre o diagnóstico da desigualdade. Em segundo 
lugar, o fato de que os usuários da Internet aumentem em paralelo com 
a brecha digital entre homens e mulheres é uma chamada de atenção a 
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
18
favor da implementação de políticas ativas para a igualdade de gênero, já 
que o maior acesso às TIC, por si mesmo, não melhora a brecha digital 
de gênero. Por último, a mudança estrutural que devem enfrentar os 
países da região tem de superar a neutralidade característica das políticas 
públicas, incorporando necessariamente ações para a igualdade entre 
homens e mulheres.
19
II. Onde estão as mulheres? Trabalho, 
emprego, acesso e uso das tecnologias 
da informação e das comunicações
Segundo as projeções de população elaboradas pelo Centro Latino-
Americano e Caribenho de Demografia (CELADE)-Divisão de População 
da CEPAL, as mulheres representam 50,9% da população da América 
Latina e do Caribe, o que equivale a mais de 300 milhões de pessoas. 
No entanto, ainda se insiste em tratá-las como um grupo minoritário, 
vulnerável ou excepcional. Muitas delas têm condições precárias de 
vida e de trabalho e enfrentam situações de persistente discriminação. 
Problemas como a violência e a sobrecarga de trabalho fazem com que 
as mulheres percam qualidade de vida e vejam ainda mais limitado o 
desfrute de seus direitos. 
Este capítulo tem por objeto mostrar, por meio de alguns indicadores, 
a situação e posição das mulheres da região na economia e o uso que 
fazem da Internet. Tomando como fonte principal as pesquisas de 
domicílios, e em alguns casos os censos econômicos ou de população, se 
determinam os lugares que ocupam as mulheres nas economias e quais 
são seus principais desafios para integrar-se plenamente à sociedade da 
informação e do conhecimento.
A. As mulheres no mercado de trabalho
Um dos principais desafios que se apresentam ao observar certos 
indicadores de gênero é compreender por que nos domicílios pobres 
há uma maior proporção de mulheres (em idade produtiva, entre 20 e 
59 anos de idade) que de homens. Questões associadas à carga do trabalho 
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
20
de cuidado e às responsabilidades familiares designadas às mulheres 
restringem sua capacidade para integrarem-se ao mercado de trabalho e 
a impedem de gerar renda que permitam que esses domicílios superem 
a pobreza. 
Embora as economias da região tenham registrado crescimento 
econômico, mesmo com as dificuldades oriundas da crise dos países do 
norte, as mulheres continuam vendo-se afetadas pela confluência das 
discriminações que sofrem e sua proporção aumenta nos domicílios pobres. 
A oferta de trabalho remunerado se regula, entre outras coisas, 
por meio da negociação nas famílias da distribuição do trabalho não 
remunerado para a reprodução entre os membros da família segundo 
o sexo e a idade. Esta regulação é feita mediante a alocação de tempo 
ao trabalho remunerado e não remunerado. As pessoas, principalmente 
as mulheres, que assumem o trabalho não remunerado liberam os 
trabalhadores potenciais da responsabilidade do cuidado (CEPAL, 2012c).
O tempo total de trabalho se mede por meio de pesquisas de uso do 
tempo, que resultam complexas e custosas. Não obstante, cabe destacar 
que a maioria dos países da região já conta com alguma experiência a 
respeito e em vários casos com mais de uma medição nos últimos 15 anos. 
Por outro lado, cálculos para estimar o valor monetário do trabalho não 
remunerado vêm se realizando em vários países. 
A implementação das pesquisas de uso do tempo tem contribuído 
a visibilizar esta carga de trabalho não remunerado que realizam as 
mulheres. Por exemplo, no México, o valor econômico do trabalho não 
remunerado equivale a 21,6% do PIB, e da qual, 78,3% correspondem à 
contribuição das mulheres1. 
Ao somar o tempo de trabalho total —remunerado e não 
remunerado— nos países que contam com informação, se observa que 
as mulheres trabalham mais tempo que os homens. Estes dedicam mais 
horas ao trabalho remunerado, enquanto as mulheres dedicam mais tempo 
ao trabalho não remunerado. Em todos os casos, as mulheres trabalham 
mais tempo que os homens, por dia ou por semana. 
A medição e comparação do tempo destinado ao cuidado por 
mulheres e homens têm gerado evidência inédita sobre as desigualdades 
enraizadas nas famílias. A análise do uso do tempo tem permitido, ademais, 
uma aproximação ao valor econômico do cuidado e seu aporte à riqueza 
1 Dados do Instituto Nacional de Estatística e Geografia (INEGI) do México (2012).
CEPAL 2013
21
dos países, e tem suscitado um sério questionamento ao vazio analítico 
da economia tradicional neste campo. 
Em média, na América Latina, as mulheres apresentam uma taxa 
de desemprego de 7,9%, enquanto a dos homens é de 5,6%. Apesar da 
constante queda dos índices de desemprego na região nos últimos anos, 
e da vontade e necessidade que mostram as mulheres de inserir-se no 
mercado de trabalho, é importante observar que estas ainda apresentam 
taxas de desemprego superiores às dos homens. 
Isto significa que as mulheres têm mais dificuldades para encontrar 
emprego e que, inclusive em um contexto de crescimento e bonança, 
sua situação no mercado de trabalho não chega a equiparar-se com a 
dos homens.
Por outro lado, quando se observa a estrutura de trabalho na 
América Latina, fica claro que as mulheres se encontram em lugares mais 
precários e com menores retribuições. Ao analisar as distintas categorias 
ocupacionais, se observa que os homens são principalmente assalariados 
e, como empregadores, têm presença muito maior. As mulheres, em 
contraste, constituem uma menor proporção no trabalho assalariado e 
uma de cada dez (10,7%) está empregada no serviço doméstico, enquanto 
para os homens esta porcentagem é mínima (0,5%). 
No caso das assalariadas, Panamá e México mostram as maiores 
cifras, seguidos da Argentina e Chile. O país onde há menor proporção 
de mulheres assalariadas é o Estado Plurinacional da Bolívia, em que estas 
apenas alcançam 39,9% das mulheres ocupadas. O Estado Plurinacional da 
Bolívia também é o país com maior proporção de mulheres que declaram 
estar ocupadas sob a forma de trabalho familiar não remunerado (mais 
de 10% das mulheres ocupadas).
A categoria de trabalhadoras autônomas, embora possa se referir a 
empreendimentos formais e integrados à seguridade social, geralmente se 
vincula a atividades que as pessoas realizam para o mercado informal e sem 
maiores níveis de proteção nem rendimentos econômicos. As mulheres 
colombianas, nicaraguenses e peruanas são as que mais se desempenham 
nesta categoria ocupacional. No caso da Colômbia, a proporção entre 
trabalhadoras por conta própria e assalariadas é similar. Ao colocar a 
atenção no outro extremo, se constata que as empregadoras constituem 
uma proporção muito reduzida em todos os países. No México, país 
que registra o maior número de mulheres nesta categoria, estas chegam 
a apenas 6%, enquanto nos demais países se situam em 3% ou menos.
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
22
Das mulheres ocupadas na América Latina, 44,6% se desempenha 
no setor dos serviços (incluindo serviços sociais e financeiros), enquanto 
só 20,5% dos homens se empregam neste setor. No outro extremo das 
assimetrias entre homens e mulheres encontram-se os casos da construção 
e da agricultura (um de cada quatro homens trabalha na agricultura, onde 
trabalha apenas uma de cada dez mulheres ocupadas).
B. Mulheres no âmbito rural e mulheres indígenas
1. Mulheres no âmbito rural
Existe uma estreita relação entre a situação de trabalho das mulherese 
a pobreza rural. Em particular, se verifica uma grande precariedade no 
trabalho temporário, onde há uma crescente participação das mulheres. 
Embora a pobreza se tenha reduzido notavelmente desde a década de 
1990, ainda persistem importantes desigualdades relacionadas com o 
território e o gênero, já que as mulheres no âmbito rural têm menos 
possibilidades de trabalho, menor renda, escasso acesso à seguridade social 
e, fundamentalmente, uma sobrecarga de trabalho que se relaciona com 
a desigual distribuição do trabalho doméstico e de cuidado nas famílias 
e no conjunto da sociedade.
Em termos gerais, as mulheres que moram em áreas rurais têm 
menor autonomia econômica que as das áreas urbanas. A proporção de 
mulheres sem renda própria nas áreas urbanas alcança 30,4%, enquanto 
nas áreas rurais esta proporção chega a 41,4%.
Na América Latina, as mulheres que moram em áreas rurais 
representam 9,9% da população total, com significativas diferenças de um 
país a outro. Destacam-se os casos da República Bolivariana da Venezuela, 
Argentina e Uruguai, onde as mulheres que moram em áreas rurais não 
chegam a 4% da população. No outro extremo se encontram países como 
El Salvador, Guatemala e Honduras, onde estas superam 20%. O caso 
de Honduras chama especialmente a atenção, uma vez que as mulheres 
que moram em áreas rurais e as mulheres que moram em áreas urbanas 
representam proporções muito similares ao total da população. 
Lamentavelmente, no caso dos países do Caribe, as estimativas e 
projeções de população não estão desagregadas por sexo na segmentação 
urbano-rural. A única exceção é o Haiti, onde as mulheres do meio rural 
representam 25,8% da população.
CEPAL 2013
23
Em termos gerais, as mulheres do meio rural têm menos acesso a 
redes de apoio e uma menor provisão de serviços de cuidado e saúde. 
A isto se soma que em muitos casos devem assumir tarefas próprias do 
âmbito rural (como buscar lenha ou água), percorrer distâncias maiores, 
muitas vezes sem serviços de transporte público, e, claro, contam com 
menos infraestrutura e tecnologias de apoio para as tarefas domésticas 
(instalações de eletricidade, saneamento e água potável, máquinas de 
lavar roupa, veículos). 
É importante considerar essas características na hora de discutir e 
elaborar políticas públicas que incluam as mulheres do âmbito rural e 
lhes brindem oportunidades de integrar-se plenamente ao mercado de 
trabalho e de ter acesso aos benefícios próprios do desenvolvimento. 
2. Mulheres indígenas
A persistência de grandes desigualdades relacionadas com a origem étnica se 
verifica no fato de que a população indígena da região tenha um maior nível 
de pobreza e menor acesso aos serviços públicos. As taxas de analfabetismo 
das mulheres indígenas de 15 anos de idade ou mais podem chegar a ser 
quatro vezes mais altas que as das mulheres não indígenas. Tanto na área 
urbana como na área rural, o analfabetismo entre as mulheres indígenas é 
maior que o dos homens e a média de escolaridade, inferior. Este atraso 
social freia as possibilidades das mulheres indígenas conseguirem uma 
melhor inserção no mercado de trabalho. O nível educativo baixo constitui 
um dos nós centrais que deve ser rompido para eliminar esta brecha, que 
também é um fator de discriminação social e econômica, e funciona como 
um obstáculo para sair da pobreza (Ortega, 2013). 
No caso das mulheres indígenas, a fonte de informação escolhida 
foram os censos de população e com essas bases de dados se calcularam 
alguns indicadores que recopilam as atividades que realizam estas mulheres 
na região. Utilizaram-se censos dos seguintes países e anos: Colômbia e 
Nicarágua (2005), Peru (2007), Brasil, Equador, México e Panamá (2010), 
e Costa Rica e Uruguai (2011). 
Nas últimas décadas verificou-se um incremento da renda das 
mulheres no mercado de trabalho. No entanto, esta incorporação 
ocorreu de acordo com construções socioculturais que estabelecem que 
as mulheres devam ocupar-se das tarefas de cuidado. Ao observar o tipo 
de emprego que têm as mulheres, se pode advertir com facilidade que 
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
24
se dedicam a afazeres relacionados com o cuidado (como os do âmbito 
da saúde, educação e questões sociais em geral) e se desempenham em 
menor medida em âmbitos relacionados, por exemplo, com as tecnologias. 
A isto se soma que trabalham mais horas que os homens, ganham menos 
dinheiro pelas mesmas tarefas e que enfrentam mais condições de estresse 
dada a superposição de responsabilidades. Além disso, as mulheres que 
moram em áreas rurais e as mulheres indígenas enfrentam as desvantagens 
da distância, da falta de meios de transporte e comunicações acessíveis, e 
as múltiplas discriminações enraizadas nas desigualdades étnico-raciais. 
C. Brecha digital de gênero: acesso, uso e habilidades 
na Internet
Nesta seção se apresenta dados atualizados (2010) dos padrões de 
prevalência de uso da Internet por sexo para dez países, o que permite 
realizar uma análise mais abrangente e dinâmica para explorar o 
comportamento da brecha digital de gênero. Também se apresenta 
uma análise dos determinantes da probabilidade de usar Internet para 
identificar o efeito de ser mulher nesta probabilidade, depois de controlar 
outras características individuais2. 
Os resultados que aqui se apresentam mostram que persiste uma 
brecha digital de gênero no uso da Internet que coloca em desvantagem 
as mulheres de todos os níveis educativos, é mais frequente em áreas 
urbanas do que nas áreas rurais e tende a ser mais intensa nos quintis 
médios e altos da distribuição da renda. 
1. As cifras são eloquentes
O indicador de acesso à Internet no domicílio segundo o sexo mostra 
uma marcada heterogeneidade de um país a outro e varia de 8,3% em El 
Salvador a mais de 38% no Uruguai.
2 Para todos os efeitos, a informação utilizada corresponde a microdados de pesquisas de 
domicílios oficiais dos países com representatividade nacional ao redor do biênio 2009-2010. 
A fim de avaliar a dinâmica no tempo quanto ao uso e acesso a Internet também se 
consideraram indicadores ao redor do biênio 2006-2007.
CEPAL 2013
25
Gráfico II.1
AMÉRICA LATINA (10 PAÍSES): USO DA INTERNET POR SEXO a 
(Em porcentagens)
18,2
35,2 34,8
39,3
20,8
30,7
22,8
28,2
4,8
13,4
9,6
12,8
20,4
27,0
9,8
17,0
23,1
26,0
35,1
45,8
19,7 35,6 39,3 44,0 23,4 33,8 24,2 29,9 5,6 15,0 9,1 12,0 24,2 29,8 9,8 17,9 29,9 34,1 37,5 47,9
20
05
20
09
20
06
20
09
20
05
20
08
20
08
20
10
20
07
20
10
20
07
20
10
20
07
20
09
20
07
20
10
20
07
20
10
20
08
20
10
Brasil Chile Costa Rica Equador El Salvador Honduras México Paraguai Peru Uruguai
Mulheres Homens
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base em tabulações 
especiais das pesquisas de domicílios.
a Dados nacionais. As taxas de uso se referem à porcentagem de homens e mulheres que decla-
ram usar Internet a partir de qualquer ponto de acesso diferente do domicílio (lugar de trabalho, 
estabelecimentos educativos, centros comunitários ou outros)
Nos dados agrupados por sexo se verificam alguns elementos 
interessantes para o estudo da brecha digital de gênero. As taxas de acesso 
de homens e mulheres são similares em todos os países, uma vez que a 
unidade de análise para este indicador é o domicílio e não seus membros. 
Os dados indicam que as mulheres estão em condições similares 
a dos homens em termos de infraestrutura de acesso no domicílio. No 
entanto, ao considerar as taxas de uso de Internet por sexo começa a 
abrir-se uma brecha. 
Os dados são eloquentes e deixam entrever que as mulheres se 
beneficiam dos avanços da sociedade digital, porém defasadasem relação 
aos homens. Não obstante, ao considerar as diferenças de uso em termos 
relativos, se adverte que, tomando a média simples dos dez países, a taxa de 
uso da Internet das mulheres passou de ser 11,1% inferior à dos homens 
a ser 8,5% menor no último ano com informação disponível. 
Os resultados indicam que, transcendendo a inexistência de políticas 
digitais maciças com perspectiva de gênero, o processo geral de avanço 
das TIC leva implícita uma lenta redução das brechas relativas de uso da 
Internet, embora não em termos absolutos.
A informação aqui apresentada provém de processamentos especiais 
de bases de dados de CEPALSTAT. Dado que o grau de detalhe da 
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
26
informação nas pesquisas varia de um país a outro, nem sempre foi 
possível incluir todos eles na análise. Os países considerados foram: 
Brasil (2005 e 2009), Chile (2006 e 2009), Costa Rica (2005 e 2008), 
Equador (2008 e 2010), El Salvador (2007 e 2010), Honduras (2007 e 
2010), México (2007 e 2009), Paraguai (2007 e 2010), Peru (2007 e 2010) 
e Uruguai (2008 e 2010). Exceto no caso do México, em que os dados 
provêm de uma pesquisa específica de TIC, a informação se obteve de 
pesquisas de domicílios que incluem módulos de perguntas relacionadas 
com o acesso e uso das TIC em nível individual e de domicílio. Todas 
as pesquisas são representativas em nível nacional e contêm informação 
sobre as características dos domicílios e das pessoas (idade, escolaridade, 
renda, condição de atividade e ocupação, entre outras), além das perguntas 
sobre acesso e uso das TIC.
2. Nativos digitais e pessoas ocupadas usam mais a Internet
Em todos os países (menos no Peru), a prevalência de uso da Internet 
entre as pessoas ocupadas é maior no caso das mulheres do que no 
dos homens. Estes dados mostram que, na medida em que as mulheres 
se inserem com êxito no mercado de trabalho, por exemplo, como 
assalariadas, apresentam uma situação inclusive vantajosa em relação aos 
homens quanto à porcentagem de usuárias da tecnologia. 
Os resultados poderiam então indicar que contar com habilidades 
para o uso das TIC pode ser uma ferramenta poderosa para o êxito da 
inserção laboral de muitas mulheres. Ao revisar as duas situações vividas 
pelas mulheres —brecha digital de gênero em geral e situação vantajosa 
no uso de Internet em sua condição de assalariadas— se poderia pensar 
que existe um círculo vicioso: seu menor acesso e uso das TIC conspiram 
contra suas possibilidades de maior acesso ao emprego, enquanto a 
marginalização de muitas mulheres do mundo laboral formal e assalariado 
tende a consolidar a brecha de uso das TIC. 
3. Exclusão de homens e mulheres em situação de pobreza 
Existe evidência substancial de que a prevalência de uso da Internet 
aumenta à medida que se eleva o nível de renda dos domicílios. De 
qualquer maneira, e em linhas gerais, pareceria que a brecha de gênero é 
mais desfavorável às mulheres nos quintis superiores do que nos inferiores. 
Ou seja, a brecha de gênero é menor nos grupos para os quais a tecnologia 
CEPAL 2013
27
é menos acessível, dado que a pobreza incide nas oportunidades de acesso 
e uso tanto de homens como de mulheres. Este fenômeno de afetação 
e igualação na pobreza de homens e mulheres não é habitual, já que em 
muitas outras dimensões a situação de pobreza agrava a vulnerabilidade 
das mulheres em proporção muito maior que a dos homens (uso do 
tempo, violência, acesso a ativos ou créditos e demais).
4. Mais educação, mais uso da Internet
Dada a alta correlação entre educação e renda, não é de surpreender que 
se encontre que as taxas de uso de Internet aumentem em relação direta 
com o nível educativo alcançado. Embora as taxas de uso da Internet 
sejam maiores em homens do que em mulheres para todos os grupos 
de nível educativo considerados neste caso, a brecha digital destacável é 
a que se apresenta entre as pessoas com educação primária (completa e 
incompleta) e as pessoas que alcançam o nível terciário, com uma diferença 
de mais de 50 pontos percentuais.
5. Menor brecha digital de gênero em áreas rurais
O uso da Internet está muito mais difundido em áreas urbanas que em 
áreas rurais. Em El Salvador, Honduras e Paraguai as taxas de uso da 
Internet nas áreas urbanas são mais de cinco vezes superiores às das 
áreas rurais; no Chile e Costa Rica essa relação é da ordem de 2,5, o que 
é igualmente significativo. É notável observar que em todos os países, 
com exceção do Peru, a brecha digital de gênero nas áreas rurais tende 
a desaparecer.
D. Em síntese
Embora a participação econômica das mulheres no emprego tenha 
aumentado nas últimas décadas, se estancou a partir dos primeiros anos 
da década de 2000, fazendo com que ainda hoje metade das mulheres 
latino-americanas e caribenhas não tenha nenhum vínculo com o mercado 
de trabalho. Isto tem notáveis implicações para a autonomia econômica 
das mulheres, já que, além de deixá-las sem possibilidade de gerar renda 
própria, perpetua sua presença no âmbito do trabalho não remunerado 
e faz com que lhes seja muito difícil reduzir a carga de responsabilidades 
familiares para aumentar seu bem-estar. 
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
28
Por outro lado, o mercado de trabalho apresenta uma série de 
armadilhas para as mulheres, que, como evidenciado neste capítulo, 
fazem com que elas só tenham acesso a alguns âmbitos deste mercado. 
Estas armadilhas as colocam em âmbitos mais relacionados à extensão 
das tarefas socialmente alocadas relativas ao cuidado (educação, saúde, 
serviços sociais), e parecem travar-lhes a ascensão a postos de direção 
e gerência. 
Continua sendo exorbitante a proporção de mulheres que se dedica 
ao serviço doméstico, um dos setores com menos cobertura social e as 
piores condições de trabalho, que na maioria dos países da região conta 
com pouquíssima regulação e fiscalização. Uma de cada dez mulheres 
ocupadas se desempenha neste setor, onde são habituais as situações de 
discriminação relativas à migração (interna e externa) ou às desigualdades 
étnico-raciais. 
A brecha digital de gênero é mais frequente em áreas urbanas, onde 
afeta principalmente mulheres de mais idade de todos os níveis educativos, 
inclusive nos níveis de renda média e alta. Contudo, no caso das mulheres 
assalariadas a brecha se reverte e as taxas de uso da Internet chegam a 
ser superiores às dos homens.
Em termos de implicações de política pública, os resultados indicam 
que o desenvolvimento da sociedade da informação beneficia tanto 
homens como mulheres. No entanto, ao partir de uma importante brecha 
digital de gênero, é de suma relevância atacar não só esta brecha, mas 
também as discriminações presentes no mercado de trabalho, o uso do 
tempo e o acesso a renda e ativos, de modo que as mulheres possam se 
beneficiar igual que os homens das vantagens da sociedade da informação 
e do conhecimento. 
As políticas ativas de inclusão digital com perspectiva de gênero são 
necessárias tanto para promover um espaço de igualdade de condições 
entre homens e mulheres no acesso e uso das TIC como para que as TIC 
sirvam de ferramenta para melhorar aqueles aspectos em que as mulheres 
se encontram em clara e constante desvantagem em relação aos homens. 
29
III. As mulheres na economia digital
A revolução tecnológica, centrada em torno das tecnologias da 
informação, modifica a base material da sociedade em um ritmo 
acelerado. As economias do mundo inteiro se tornaram interdependentes 
e se introduziu uma nova relação entre economia, Estado e sociedade. 
As mudanças sociais são tão espetaculares como os processos de 
transformação tecnológicos e econômicos (Castells, 1997).
Em termos gerais, ao analisar os setores de atividade das economiaslatino-americanas, se observa que as mulheres se encontram empregadas 
principalmente nos serviços e no comércio. Ante este panorama, resulta 
inevitável perguntar-se por suas condições de trabalho. Para entender 
a posição das mulheres na economia digital e contar com elementos 
para o debate de políticas públicas que melhorem sua incorporação, se 
selecionaram três casos do mundo do trabalho, profundamente vinculados 
com a produção e uso das TIC na região. 
Em primeiro lugar, se analisam as condições das mulheres assalariadas 
na indústria eletroeletrônica brasileira. O segundo caso que se apresenta 
neste capítulo analisa as condições laborais das mulheres em um clássico 
serviço baseado nas TIC: os centros de chamadas (call centers). O terceiro 
caso que se aborda se refere à situação das mulheres que utilizam as TIC 
em empreendimentos produtivos.
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
30
A. Oportunidades ou mais do mesmo? As mulheres 
na indústria eletroeletrônica
O desenvolvimento da indústria eletroeletrônica é, ao menos para alguns 
países da região, um componente importante do processo de mudança 
estrutural, já que implica aumentar a eficiência dinâmica da estrutura 
produtiva. Esta tendência se justifica pela trajetória recente do setor e pelo 
surgimento de duas macrotendências em nível mundial: i) a inclusão digital 
de um enorme contingente da população que ainda se encontrava alheia à 
sociedade da informação e ii) a tendência da incorporação da eletrônica e 
dos componentes eletrônicos a todos os demais bens industriais visando 
atribuir-lhes novas funcionalidades e inovações. 
O Brasil é um dos países da região que, como o México, contam com 
uma indústria eletrônica importante. Embora todos os países enfrentem 
as consequências de ambas macrotendências, naqueles em esta indústria 
opera se abrem mais oportunidades de trabalho para as mulheres.
Atualmente, o Brasil está recebendo investimento estrangeiro 
direto de grande envergadura no setor eletroeletrônico e o governo está 
implementando medidas para que esse investimento gere efeitos de arraste 
para o sub-setor de componentes eletrônicos local. Em consequência, é 
fundamental que, em relação com a política setorial que se implemente 
no Brasil (Plano Brasil Maior 2011-2014) ou em qualquer outro país que 
aplique este tipo de políticas, se façam perguntas sobre as condições 
de inserção das mulheres no setor. A ideia é prevenir e protegê-las de 
possíveis perdas de postos de trabalho, evitar que fiquem alheias às 
habilidades tecnológicas e que contem unicamente com o estereótipo 
de delicadeza, coordenação e atendimento que se faz cada vez mais 
prescindível no processo de automação e robotização que experimenta 
esta indústria.
Em algumas pesquisas se explorou a situação das mulheres na 
indústria eletroeletrônica do Brasil (Hirata, 2002; Oliveira, 2006) e se 
destaca a forte inserção de mão de obra feminina nesta indústria. No 
entanto, as conclusões não parecem inteiramente alentadoras, já que, 
embora as mulheres entrem ao mercado de trabalho formal de uma 
indústria com uma sólida organização sindical, se inserem nos setores 
de menor qualificação para realizar tarefas de maior nível de repetição e 
menor desempenho criativo ou profissional. 
CEPAL 2013
31
Com a automação, as empresas diminuíram a planilha de pessoal 
(Oliveira, 2006) e boa parte dos trabalhadores homens foram 
substituídos por mulheres, enquanto ocorria um esvaziamento dos 
conteúdos e uma simplificação do trabalho. Os trabalhos de manutenção 
técnica são realizados por técnicos e engenheiros homens, mas as tarefas 
mais rotineiras, relacionadas com a produção direta, são efetuadas por 
mulheres. É indubitável que existe uma forte associação entre o emprego 
feminino e os postos de trabalho com características de taylorismo. O 
setor eletroeletrônico do Brasil tem feminizado sua folha de pessoal, 
mas as mulheres trabalham nos postos de menor nível tecnológico3. 
Este mesmo fenômeno se observou nos países do sudeste asiático 
nas primeiras fases de mudança estrutural guiada pelas exportações 
de bens de setores tecnológicos. Nestes países se observa atualmente 
uma tendência à intensificação tecnológica que se correlaciona com o 
desaparecimento das mulheres das folhas de pessoal dos setores com 
maior conteúdo tecnológico.
1. O trabalho nas plantas de ensamblagem
Tipicamente, a divisão técnica do trabalho nas empresas se reflete em três 
áreas de produção: a unidade de fabricação inicial (front-end), a unidade 
de fabricação final (back-end) e o centro de recuperação de dispositivos4. 
A divisão técnica do trabalho na empresa se vê influenciada pela 
divisão sexual do trabalho (Kergoat, 2000), que se caracteriza por designar 
aos homens as tarefas associadas com a esfera produtiva —que coincidem 
com as funções de maior valorização social e econômica— e às mulheres 
as atividades associadas às funções reprodutivas ou derivadas delas. Esta 
forma de divisão social do trabalho tem dois princípios organizadores: o 
princípio de separação (há trabalhos de homens e trabalhos de mulheres) 
e o princípio da hierarquia (o trabalho do homem “vale” mais que o da 
mulher). Tal como outras formas de divisão do trabalho, a divisão sexual 
não é rígida nem imutável. Embora seus princípios organizadores sejam os 
3 A indústria eletroeletrônica do Brasil parece ter uma importante presença feminina. Segundo 
os dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) 
e da Confederação Nacional de Metalúrgicos da Central Única de Trabalhadores (CNM/CUT), 
em 2009 as mulheres representavam 33% do total do setor, mas seu salário médio era 32% 
inferior ao dos homens. 
4 A divisão técnica do trabalho é a decomposição das tarefas de produção ao interior de 
uma empresa em subconjuntos de tarefas especializadas, alocadas a indivíduos ou grupos 
de indivíduos. Às três áreas mencionadas se soma a de suporte técnico (engenharia e 
manutenção).
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
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mesmos, suas modalidades (concepção do trabalho reprodutivo, lugar da 
mulher no trabalho mercantil e demais) apresentam grandes variações no 
tempo e no espaço. O importante desta noção é que a divisão sexual do 
trabalho pode ser modificada mediante diversas políticas públicas, entre 
elas políticas de trabalhos e produtivas que partam de um diagnóstico 
organizacional e empresarial com perspectiva de gênero, e promovam 
uma transformação da atual forma de organização do trabalho e dos 
supostos que a sustentam.
Ao colocar o foco no trabalho das mulheres, se observou que 
as operárias utilizam as tecnologias com um conhecimento básico, 
absolutamente funcional à tarefa rotineira que devem realizar. As operárias 
não sabem nem por que nem como funcionam as tecnologias que usam em 
suas tarefas. Seu labor se limita a apertar botões, responder a sinais sonoros 
ou visuais, ou encaixar manualmente distintos componentes, o que lhes 
deixa pouca ou nenhuma margem para gerar processos incrementais de 
melhora do seu trabalho. O treinamento que recebem em referência à 
linha de produção se restringe a alguns minutos de explicação e outros 
de acompanhamento prático, o que não alcança para adquirir habilidades 
no manejo das TIC. 
As mulheres são empregadas em áreas específicas e se formam 
“territórios de mulheres”, onde as habilidades requeridas para o posto 
estão definidas como características consideradas tipicamente femininas. 
Portanto, se estabelece como natural e eficiente que uma mulher ocupe 
esse posto.
A segregação horizontal e a designação de tarefas por características 
“propriamente femininas” configuram situações desvantajosas para as 
mulheres que estão inseridas no mercado. Ao formular políticas produtivasindustriais acordes com a mudança estrutural com igualdade devem-se ter 
presentes estas configurações para transformá-las e assim gerar uma melhor 
apropriação do desenvolvimento produtivo digital para homens e mulheres.
B. O clássico serviço baseado nas TIC
A maioria das mulheres latino-americanas ocupadas se desempenha no 
setor de serviços. Neste documento se apresenta o caso das trabalhadoras 
ocupadas nos centros de chamadas no Panamá, país que desenvolveu 
uma normativa específica para fomentar a instalação de empresas 
CEPAL 2013
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multinacionais5. As empresas do setor de centros de chamadas se 
consolidaram como provedoras de serviços empresariais à distância, que 
em sua maioria são subsidiárias de empresas internacionais6. 
Os centros de chamadas baseiam sua produtividade e competitividade 
em diferentes modelos de organização de trabalho. Em alguns predomina 
o trabalho baseado na execução rápida de tarefas repetitivas e os sistemas 
de gestão da mão de obra se centram em um estrito controle dos 
trabalhadores e das trabalhadoras e suas estreitas margens de criatividade, 
em outros, o trabalho vinculado ao relacionamento é a base para 
construir uma interação de negociação com os clientes. Nestes últimos há 
oportunidades de carreira, há pessoal profissionalizado e valorizado por 
suas competências sociais, e também teleoperadores ou teleoperadoras 
independentes, criativos e com elevados níveis de discricionariedade para 
a execução do trabalho e a tomada de decisões (Kinnie e Purcel, 2000; 
Del Bono e Bulloni, 2007).
Os centros de chamadas são um setor econômico altamente feminizado. 
Segundo a Autoridade Nacional dos Serviços Públicos do Panamá, entre 
2011 e 2012 se registrou um aumento na proporção de mulheres empregadas 
nestas empresas, de 47% a 59%. Em um documento elaborado pela 
organização Forum Empresas (Feinberg e Koosed, 2011) sobre o trabalho 
nos centros de chamadas da América Latina se indica que, tal como nos 
processos tradicionais de fabricação em série, o operador típico é jovem e 
de sexo feminino. Neste mesmo estudo se estabelece que em seis países 
da região, 71% do quadro de trabalhadores está constituído por mulheres.
O diagnóstico realizado em centros de chamadas panamenhos sobre 
a inserção de trabalho das mulheres mostra que, apesar de encontrar-
se em um cenário tecnológico e emblemático das TIC, persistem as 
típicas barreiras e mecanismos discriminatórios para o desempenho 
laboral das mulheres, como a inserção em postos de trabalho de menor 
5 As empresas transnacionais estão livres de impostos diretos e indiretos, contribuições, taxas, 
direitos e tributos nacionais, além de gozarem dos benefícios estabelecidos na Lei de Zonas 
Francas. No que diz respeito às regulações de trabalho, se estabelece que as flutuações dos 
mercados de exportação que redundem em uma perda considerável do volume de vendas 
são causas justificadas para dar por terminada a relação de trabalho. Ademais, se especifica 
que as atividades dos centros de chamadas não poderão ser paralisadas por greve (lei de 
incentivos para o estabelecimento de centros de chamadas, N° 32).
6 A legislação vigente no Panamá se acompanha de importantes vantagens para que os 
centros de chamadas se instalem no país. Em primeiro lugar, o Panamá tem uma posição 
geográfica estratégica e para aí confluem seis consórcios de cabos submarinos de fibra 
óptica que facilitam a comunicação. Em segundo lugar, ocupa a posição 57 em nível mundial 
(entre 142 países) no índice de conectividade (Fórum Econômico Mundial, 2012), antes que 
Brasil, México e Argentina, e o quinto lugar na categoria de conectividade na América Latina.
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
34
responsabilidade, menor salário por igual trabalho e menos oportunidades 
de capacitação e de ascensão laboral. Em forma similar ao que se observou 
no caso da indústria eletroeletrônica do Brasil, nos centros de chamadas 
do Panamá se registra uma forte segregação laboral, tanto horizontal como 
vertical. Os postos que requerem maiores conhecimentos tecnológicos são 
ocupados principalmente por homens e a maioria dos postos que exigem 
outros requisitos, como “habilidades sociais”, é ocupado por mulheres7. 
Como se mostra nas entrevistas realizadas a trabalhadores e 
trabalhadoras, bem como a gerentes de recursos humanos, nesta situação 
pesam mecanismos ocultos de discriminação baseados em imagens e 
estereótipos de gênero8. Considera-se que os homens devem ocupar os 
postos de trabalho de maior qualificação, responsabilidade e remuneração 
e que as mulheres devem desempenhar-se em cargos de menor conteúdo 
técnico, responsabilidade e remuneração. Estes últimos se consideram 
postos de trabalho tipicamente femininos devido às “habilidades sociais” 
que requerem (por exemplo, amabilidade no trato com o cliente). 
Estas destrezas vinculadas ao relacionamento se consideram naturais, 
dado que foram adquiridas fora dos mecanismos formais de educação 
e capacitação, pelo que não formam parte da qualificação nem das 
remunerações das trabalhadoras. 
C. Empreendedoras na economia digital usam as 
tecnologias da informação e das comunicações
No presente documento se analisam as oportunidades que gera o uso 
das TIC em pequenos e microempreendimentos liderados por mulheres9. 
7 O posto de trabalho de menor hierarquia é o de operador ou operadora de nível 1 (também 
denominado posto de agente telefônico), no qual se proveem serviços básicos de atendimento 
ao cliente. O nível 2 exige maior qualificação, já que os serviços oferecidos nesta seção do 
centro de chamadas são de suporte técnico. O nível 3 é o da supervisão (monitoramento e 
formação de grupos de operadores ou operadoras a cargo) e requer tanto de qualificação 
técnica como de habilidades de gestão de recursos humanos. As mulheres se encontram 
sobrerrepresentadas no nível 1 e sub-representadas nos outros dois níveis.
8 Como insumo para este documento se realizou um estudo exploratório de corte qualitativo 
em três centros de chamadas panamenhos. O trabalho de campo consistiu em uma série de 
entrevistas a operadoras, supervisoras e gerentes de recursos humanos das empresas.
9 Para isso se expõe o caso das mulheres peruanas que participaram em um projeto piloto para 
a mulher empreendedora realizado em 2008 pelo Ministério da Mulher e Desenvolvimento 
Social (MIMDES) do Peru, junto com o Centro de redes de informação das mulheres da 
região Ásia-Pacífico (APWINC) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Como 
insumo para este documento, organizaram-se grupos de discussão com as mulheres que 
participaram no projeto e receberam capacitação na República da Coreia.
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A utilização destas tecnologias, sem dúvida, habilita a dar um salto da 
informalidade e da precariedade a empreendimentos com condições de 
estabilidade, produtividade e competitividade.
As micro e pequenas empresas constituem parte importante da 
economia de vários países da região. Na economia peruana, por exemplo, 
respondem por 88% do emprego no setor privado e contribuem com 
42% do PIB. As mulheres representam 40% da força de trabalho neste 
setor e 57% do trabalho informal. Dada a relevância dessas empresas, o 
Governo do Peru tem entre suas prioridades a promoção desse setor de 
empresas, para o qual existe uma legislação de trabalho específica que 
promove a competitividade, a formalização e o desenvolvimento destas 
empresas, bem como o acesso a emprego decente10. 
O projeto intitulado “Estrategias innovadoras para la participación 
de las mujeres peruanas en la economía digital: un programa piloto para la 
mujer emprendedora” tem por objeto promover o acesso básico das 
mulheres às TIC e melhorar as oportunidades para as mulheres em 
seus empreendimentos, especialmente nas áreas rurais, de modoque 
possam utilizar as tecnologias como uma ferramenta para desenvolver as 
capacidades empresariais e melhorar suas condições socioeconômicas. A 
metodologia do projeto compreendeu uma primeira instância de formação 
no uso das TIC para os negócios, dirigida a mulheres empresárias peruanas 
na Universidade da Mulher Sookmyung da República da Coreia. A segunda 
instância foi uma etapa em que essas mulheres formaram no uso das TIC 
outras empresárias no Peru, tanto de áreas urbanas como rurais. A ideia 
consistia em criar no Peru uma rede de empresárias e uma comunidade 
de prática de pequenas e microempresárias com uso intensivo das TIC.
As mulheres empreendedoras que participaram neste projeto 
foram entrevistadas pela Divisão de Assuntos de Gênero da CEPAL. 
Embora antes da capacitação já utilizassem algumas destas tecnologias 
(como celular e Internet), depois da capacitação começaram a integrar 
mais ativamente outras ferramentas e possibilidades de livre acesso 
ao serviço de seus empreendimentos. Graças a isto, puderam ampliar 
as possibilidades de expansão de seus negócios e fortalecer seus 
empreendimentos. Em especial, se registrou uma ampla expansão das 
redes sociais e da modalidade de venda on-line. A maioria das mulheres 
10 Decreto legislativo Nº 1086 (Lei de Promoção da Competitividade, Formalização e Desenvolvimento 
da Micro e Pequena Empresa e do Acesso ao Emprego Decente).
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
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desenvolveu a venda virtual de seus produtos, uma ferramenta baseada 
principalmente na criação e utilização de catálogos e lojas virtuais. Existe 
uma opinião de consenso entre estas mulheres acerca da importância do 
uso das TIC para aumentar suas oportunidades e ampliar os mercados 
e contactos, não apenas em nível regional, mas também internacional. 
A alta participação das mulheres nas pequenas e médias empresas 
(PME) de menor tamanho é um desafio para a mudança da estrutura 
produtiva. As pequenas empresas se converteram num espaço associado 
por definição às mulheres porque supõe maiores possibilidades de 
conciliação entre o trabalho remunerado e os cuidados familiares, já 
que, em muitos casos, o lugar de trabalho é a própria casa. Embora estes 
empreendimentos possam redundar no alcance de maior autonomia 
econômica para as mulheres, também podem submetê-las à superposição 
de tarefas e à falta de equilíbrio entre o trabalho remunerado e não 
remunerado. Além disso, pode implicar que as mulheres se mantenham 
em círculos de pequenos e microempreendimentos, sem possibilidades 
de inserção em espaços mais amplos da economia e do mercado de 
trabalho formal. 
As TIC podem ser uma potente ferramenta para as mulheres que 
lideram pequenos e microempreendimentos, dado que abrem uma série 
de possibilidades que lhes permitem entrar em espaços de negociação 
e comercialização de seus produtos. Este instrumento, contudo, não é 
suficiente sem o apoio de políticas de acesso a crédito, distribuição de 
ativos e capacitação para que os negócios se distribuam de maneira mais 
equitativa entre homens e mulheres da região. A distância dos centros 
de comercialização, a falta de ativos próprios e a escassez de tempo que 
enfrentam as mulheres as deixam em franca desvantagem para que o 
empreendimento econômico que lideram se torne eficiente. 
As TIC são uma ferramenta que, utilizada estrategicamente, pode 
incidir na promoção de um maior crescimento e produtividade nos 
empreendimentos que lideram as mulheres. Desta maneira, se reconhece 
as TIC como um instrumento poderoso para promover vantagens 
e oportunidades. As tecnologias permitem às empresárias ter uma 
participação mais ativa na economia de mercado, ser mais competitivas e 
usar a economia digital para alcançar o êxito social e pessoal, especialmente 
no caso das mulheres das áreas rurais ou remotas. 
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D. Em síntese
Em termos gerais, a situação das mulheres na economia digital está regida 
por uma série de elementos que refletem as desigualdades sociais de gênero 
que imperam também em outros âmbitos. Isto se agrava ao considerar 
que a cada dia que passa é mais importante a total integração à sociedade 
da informação e do conhecimento para o pleno desenvolvimento pessoal 
e laboral. Cada vez mais mulheres e homens estão expostos às novas 
ferramentas da economia digital e as exigências de capacitação, atualização 
e treinamento se tornam mais presentes no âmbito do trabalho. Por este 
motivo, em caso de não se atender as desigualdades que hoje estruturam 
os vínculos com o mercado de trabalho, e mais concretamente com os 
postos da economia digital, as mulheres verão as brechas se aprofundarem 
e só algumas delas terão os benefícios do novo paradigma.
Existe uma divisão sexual do trabalho que reproduz no mercado 
de trabalho certa hierarquização e distribuição de recursos que não 
favorece o desenvolvimento das mulheres. Isto se expressa com nitidez 
no fato de que as mulheres ingressam nos setores de menor qualificação 
e reconhecem maiores dificuldades para superar certos limiares, muitas 
vezes associados a estereótipos que as estancam em atividades menos 
qualificadas. Apesar destas características, as mulheres também registram 
uma experiência positiva no uso das TIC para o fortalecimento de seus 
empreendimentos produtivos. 
A capacitação e formação profissional constituem, sem dúvida, 
um caminho promissor para assegurar emprego feminino de qualidade 
nesses novos cenários, já que é necessário gerar capacidades e habilidades 
digitais que assegurem a integração das mulheres em postos de maior nível 
tecnológico. Não obstante, parece pouco provável que isto ocorra ao 
deixá-lo sujeito apenas às forças do mercado, já que o sistema de gênero 
hegemônico propenderá a manter a segregação que lhe é funcional. Disso 
se depreende que as políticas públicas produtivas deverão contar com uma 
atenção específica para as desigualdades de gênero e com mecanismos 
concretos que tendam a dissipar estas desigualdades no setor.
Quando as mulheres têm acesso à capacitação no uso das TIC para 
os negócios, os resultados são positivos. No caso estudado, as mulheres 
puderam descobrir potencialidades de desenvolvimento, expandir seus 
negócios e melhorar os resultados. Neste contexto, a capacitação permitiu 
Mulheres na economia digital: superar o limiar da desigualdade SÍNTESE
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ampliar a visão sobre as possibilidades de desenvolvimento produtivo no 
âmbito da economia digital. As TIC podem ser uma ferramenta potente 
para as mulheres, já que abrem uma série de possibilidades de negociação, 
comercialização e oferta de seus produtos. Este instrumento, no entanto, 
não é suficiente sem o apoio de políticas de acesso a crédito, distribuição 
de ativos e capacitação para que os negócios se distribuam de maneira 
equitativa entre homens e mulheres.
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IV. As mulheres no mundo da ciência 
e do conhecimento
Neste capítulo se enfatiza especialmente o fato de que as mulheres 
só poderão participar cabalmente da sociedade da informação e do 
conhecimento se elas tiverem acesso a profissões relacionadas com as 
principais disciplinas e aos postos de trabalho que constituem sua base, 
isto é, as carreiras científicas, tecnológicas e vinculadas à inovação. O 
campo da ciência e da tecnologia é um espaço laboral de altas exigências, 
grande prestigio e reconhecimento social. Está constituído por carreiras 
profissionais bem remuneradas, com possibilidades de desenvolvimento 
pessoal e oportunidades de participar de maneira ativa no desenho 
tecnológico, econômico e social, tanto acadêmico como de política 
pública. Conhecer a situação das mulheres caribenhas e latino-americanas 
nos campos da ciência e da tecnologia permite estabelecer políticas e boas 
práticas para o alcance da igualdade de gênero no

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