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Motricidade e Corporeidade Georgia Maria Ferro Benetti Ribeiro Motricidade e Corporeidade Georgia Maria Ferro Benetti Ribeiro São Paulo Rede Internacional de Universidades Laureate 2016 Sumário Capítulo 1: Corpo: sentir e expressar Introdução .............................................................................................................................. 5 1. As dimensões material/imaterial do ser humano ...................................................................... 7 1.1 O que nos define como humanos? ....................................................................................... 7 1.2 (Re)Descobrindo a corporeidade .......................................................................................... 8 2. A ideia de corpo uno com o universo ..................................................................................... 9 2.1A oposição entre corpo e alma ........................................................................................... 10 2.2O dualismo corpo e mente ................................................................................................. 11 2.3 O corpo-pensamento e o corpo-sujeito .............................................................................. 13 2.4 O que pode o corpo? Corpo devir ..................................................................................... 14 2.5 Corpo como entidade sensível e expressiva ......................................................................... 15 Síntese .................................................................................................................................. 18 Bibliográficas......................................................................................................................... 19 5 Capítulo 1Corpo: sentir e expressar Introdução Imagine que você precisa aferir a frequência cardíaca de alguém que chega até você em uma situação de atuação profissional, mas não localiza o coração ao posicionar o seu aparelho de medida do lado esquerdo do peito dessa pessoa. Você sabe que a pessoa está viva e utiliza outro método para verificar a pulsação. Contabiliza os batimentos por minuto por palpação no pulso e depois no pescoço. Tudo está normal. O que pode estar acontecendo? Será que você não está diante de uma pessoa, mas sim de um ser sobrenatural? Não, não, nada disso. Neste Capítulo, você vai aprender como interpretar situações em que as particularidades de configuração corporal de alguém desafiam os padrões de normalidade estabelecidos no conhecimento biomédico. No senso comum e até nas aulas de Anatomia, aprendemos que o coração deve ser posicionar sempre do lado esquerdo, certo? Nem sempre. Existe a condição situs inversus, na qual a dextrocardia (posicionamento direito do coração) é perfeitamente normal e funcional. Essa condição é congênita, genética, mas só está presente em aproximadamente 0,01% da população. Pensou que a explicação parou por aí? Não, existem ainda subtipos de situs inversos. NÃO DEIXE DE LER... Para saber mais sobre essas exceções orgânicas, leia o relato de caso Dextrocardia em Situs Inversus – Errado Pode Estar Correto, publicado na Revista Brasileira de Cardiologia. Na sociedade ocidental, fomos levados a pensar que existe um corpo bi-ológico que é universal e neutro, o qual tem determinados elementos e funcio-na conforme certas regras que se aplicam para todos os seres humanos. Porém não é bem assim. Casos como o do situs inversus nos ensinam a desconfiar desse modo de ver o corpo. Do corpo modelo, tantos outros corpos derivam. A situação do situs inversus é apenas uma ilustração para mostrar que, para cada padrão estabelecido, a vida e o cotidiano de atuação profissio-nal poderão apresentar a você uma realidade contrária, trazendo o inesperado, o impensado. Acredite! Cada parâmetro fixado pelas ciências biomédicas que você aprender será confrontado por particularidades e pela originalidade dos diferen-tes seres humanos que você irá atender. Motricidade e Corporeidade 6 Laureate- International Universities Quando examinamos as verdades ditas sobre as estruturas e o funcio-namento do corpo, é possível encontrar um senão para cada uma delas, sendo que nem mesmo a diferença entre os sexos está claramente estabelecida pela Biologia (LAQUEUR, 2001). Buscando uma referência menos polêmica que a distinção entre os se-xos para apoiar meu argumento, vamos focar em um aprendizado clássico que recebemos nas aulas de Ciências do Ensino Fundamental: os corpos humanos são constituídos de cabeça, tronco e membros. Vamos pensar um pouco sobre essa afirmação. Então quem nasce sem ou perde os membros não pode ser considerado humano? E como será que se sente alguém com essa condição ouvir essa lição? Será que não se sente um pouco menos humano? Nossos conhecimentos sobre o corpo progrediram muito ao longo dos séculos, mas temos muito ainda que avançar nos modos de vê-lo. Também temos que levar em conta que a multiplicidade de corpos talvez nunca caiba nas caixas da Biomedicina. É possível que, apesar de todos os avanços e con-quistas, as fronteiras da ciência ainda permanecem estreitas demais. A perspectiva da corporeidade é um aprendizado fundamental. Ele vai lhe dar justamente a capacidade profissional de lidar com essas quebras de padrão. Fique focado nos estudos do tema e perceba como essa possibilidade é interessante e importante para sua atuação futura. Convido você a seguir com a leitura. Vamos estudar com bastante dedi-cação. Mas acredito que no final você vai perceber que, para conhecer o corpo, é preciso bem mais do estudar sobre ele. Uma das grandes lições que a corporeidade nos deixa é que o conheci-mento do corpo não pode ser obtido apenas pela razão. Para apreender o cor-po de verdade, é preciso pensar, sim, mas também observar, sentir e agir per-manecendo aberto para novas e diferentes sensações e experiências. 7 1. As dimensões material/imaterial do ser humano 1.1 O que nos define como humanos? A sua escolha profissional envolve uma condição muito particular. Seu trabalho será intervir sobre o corpo humano, certo? Então, para que você seja um profissional competente, precisará conhecer muito bem seu, vamos dizer assim, por enquanto, objeto de trabalho. Por que podemos sofrer severas críticas quando nos referimos ao corpo como objeto? Sabia que esse modo de dizer chega a ser interpretado como desres-peito ao corpo do outro? Para responder, tome por base a citação: “A definição do objeto, nós o vimos, é a de que ele existe partes extra partes e que, por conseguinte, só admite entre suas partes ou entre si mesmo e os outros obje-tos relações exteriores e mecânicas” (MERLEAU- PONTY, 1999, p. 111). NÓS QUEREMOS SABER! Você tem acompanhado as novas descobertas científicas que atestam a capa-cidade racional de várias outras espécies animais? A lógica de Aristóteles pas-sava por definir o ser humano por diferenciação. Buscar algo que ele fosse e nenhuma outra espécie não fosse. Na época em que elaborou essa definição, ele não tinha os instrumentos que possuímos hoje e pensou a fala e a escrita como sinais de racionalidade. Hoje sabemos que algumas outras espécies são capazes de linguagem e até de aprender a ler. NÓS QUEREMOS SABER! Existe outro modo de habitar o mundo, de estar ligado à vida e ser chamado de humano que não seja por meio do corpo? Qual? NÓS QUEREMOS SABER! Por isso é tão importante pensar sobre o que é ser humano. Uma das fases mais iniciais do processo de conhecimento é a elaboração de conceitos e de definições. Venha comigo, e vamos dar os passos iniciais na jornada do co-nhecer. Mentalmente, diga que palavras usaria para completar a frase “Ser humano é...” O corpo, a corporeidade, aparece na sua definição? Você acha possível definir ser humanosem considerar o corpo? É possível, sim, apesar de não ser desejável. Essa desconsideração do corpo pode ter consequências. Vamos analisar uma famosa definição elabora-da pelo pensador Aristóteles, na qual nossa dimensão material não aparece: “O homem é um animal racional”. Motricidade e Corporeidade 8 Laureate- International Universities Reflitam comigo: vamos analisar essa ideia e avaliar se é abrangente o suficiente para atingir todos os seres humanos. Se depararmos com alguém que tenha comprometimento severo de sua capacidade cognitiva, que tenha perdido ou comprometido sua racionalidade, poderemos então dizer que esse ser não é mais um humano? Claro que não! Mesmo que nossos cérebros cheguem a ficar paralisa-dos, ainda assim seremos humanos, não nos transformaremos em outro tipo de ser por causa disso. A materialidade humana, os nossos corpos, é a marca mais fixa e regu-lar do que somos. Todos temos corpos. Se em nossos corpos faltarem partes ou se novas partes forem adicionadas (como um marca-passo), mesmo que alguns segmentos estejam paralisados ou a motricidade comprometida, até mesmo se houver algum comprometimento funcional, ainda seremos humanos. Logo, será pela nossa concretude em corpos que seremos identificados, e não pelas partes que temos ou não temos ou pelo estado funcional dos nos-sos sistemas orgânicos. Concorda? 1.2 (Re)Descobrindo a corporeidade Ao longo das épocas, o corpo tem sido alvo da nossa curiosidade e es-tudo. Há muito tempo estamos navegando na aventura de explicar, definir e conhecer o corpo. E, nadando pelos mares do nosso interesse em saber, ge-ramos um vasto oceano de conhecimentos. Não pretendo fazer aqui uma história do corpo. É impossível seguir to-dos os percursos dos muitos entendimentos de corpo documentados ao longo dos séculos e das culturas. O artigo completo As infinitas descobertas do corpo, escrito por Denise Ber-nuzzi Sant’anna. Recomendo a leitura para verificar as análises e os autores que discutem as elaborações sobre o corpo que ocorreram durante o século XX. NÓS QUEREMOS SABER! Para se aprofundar no tema corporeidade, você deve conhecer as historiografi-as do corpo. São indicações de leitura: A História do Corpo, de Jean Jacques Courtine, Alain Corbin e Georges Vigarello, e Carne e Pedra, de Richard Sen-nett. NÓS QUEREMOS SABER! Como diz Sant’anna (2015), o corpo tem sido sucessivamente redesco-berto, apesar de nunca ter sido inteiramente revelado. Os conhecimentos que se tem produzido sobre ele estão se mostrando sempre provisórios: As descobertas do corpo possuem uma história secular e vasta, pon-tuada pelos avanços e limites do conhecimento humano. [...] Cada tentativa feita para conhecer o funcionamento do corpo, incluindo os seus significados biológicos e culturais, é desencadeadora de escla-recimentos e de dúvidas inusitadas a seu respeito. Da medicina dos humores à biotecnologia contemporânea, passando pela invenção de regimes, cirurgias, cosméticos e técnicas disciplinares, o conhecimen-to do corpo é por excelência histórico, relacionado aos receios e so-nhos de cada época, cultura e grupo social. (SANT’ANNA, 2015, p. 237). 9 Agora que já apresentei a extensão e a profundidade das águas em que vamos navegar, convido para um passeio por algumas dessas (re)descobertas do corpo. A metáfora do oceano é importante para dizer que, se não posso abor-dar em um único texto toda a vasta produção de conhecimentos sobre o corpo que a humanidade produziu, posso levar você a mergulhar em algumas impor-tantes ilhas de saber produzidas por diferentes culturas, saberes filosóficos e ciências. Ao selecionar os pontos de mergulho, escolhi estrategicamente os que vão fazer você conhecer como distintas áreas da produção de saberes elabora-ram conhecimentos particulares sobre o corpo. Aqui manteremos o foco em algumas abordagens específicas, como a fenomenologia e a antropologia, porém existem muitos estudos sobre corporei-dade que partem de outras bases, como a psicanálise, que não vou mencionar aqui. Entrar em contato com o que já foi pensado sobre o corpo vai possibilitar que você possa, sem ter que partir do zero, optar e até formar novos conceitos que darão base para sua atuação profissional. Você vai poder aprender com os acertos e erros dos pensadores e desviar das armadilhas em que caíram os teóricos que viveram no passado. 2. A ideia de corpo uno com o universo A antropologia é um campo de saber que estuda a vida humana, entre outras coisas, em seus aspectos sociais e culturais. Essa área nos trará ricos conhecimentos sobre o corpo, mostrando como ele é visto em diferentes épo-cas e sociedades. A partir dos estudos antropológicos, soubemos que muitas culturas anti-gas e orientais percebiam o corpo como uma extensão do universo. Elas se organizavam em torno de mitos fundadores que davam um lugar ao corpo na ordem do mundo. Conforme Cecarelli (2011), essa unidade significava que não era preciso ver o corpo como algo neutro ou natural: ele estava incluso na ordem das coi-sas. Nas culturas que percebem o corpo como uma ordem universal em menor escala, não há separação entre ter e ser corpo: Para os Dogons, no Mali, o corpo é tido em grande estima. Eles se cumprimentam dizendo: Olá, como vai o seu corpo? Para eles, a ci-dade em si é um corpo e a terra um corpo de mulher. A imagem do corpo tem grande importância, mas trata-se, antes de mais nada, de um corpo social. (CECARELLI, 2011, p. 1). Esse modo de ver o corpo tem consequências importantes. Se o corpo é da ordem sagrada e do universo, ele deve estar em sintonia com essa ordem. O corpo é perfeito e sagrado e só se desequilibra se algo for feito para alterar ou ofender a perfeição universal. Não é preciso pensar muito sobre os corpos, porque tudo o que já foi pensado para explicar o universo neles se reflete. Tampouco é aconselhável alterá-los. Se algum desequilíbrio acontece, como uma doença, por exemplo, todas as intervenções devem ser feitas para restaurar a ordem. Como vamos ver a seguir, essa maneira una de ver o corpo difere da que se desenvolveu no Ocidente a partir da Antiguidade, quando o corpo co-meça a se destacar do ser. Foi a partir daí que começou a se estabelecer a separação entre a porção material do ser humano (corpo) e a outra imaterial (alma/espírito), sendo a material sempre menos nobre e menos valorizada. Motricidade e Corporeidade 10 Laureate- International Universities 2.1 A oposição entre corpo e alma A filosofia é um tipo de conhecimento que identifica a Idade Antiga. Na-quela época, ela se caracterizava como busca pela verdade. O importante filósofo Platão, que nasceu por volta do ano 347 a.C., era um pensador que entendia o ser humano como dividido em duas porções eternamente ligadas: corpo e alma. O pensamento dele parece ter sido a base sobre a qual se consolidou a aversão ao corpo. Nessa composição, o corpo era uma prisão para a alma e um impe-dimento para que se atingisse a verdade. Vamos ler uma citação da sua obra que ilustra o que acaba de ser dito: Há de haver para nós outros algum atalho direto, quando o raciocínio nos acompanha na pesquisa; porque enquanto tivermos corpo e nos-sa alma se encontrar atolada em sua corrupção, jamais poderemos alcançar o que almejamos. [...] Não têm conta os embaraços que o corpo nos apresta, pela necessidade de alimentar-se, sem falarmos nas doenças intercorrentes, que são outros empecilhos na caça da verdade. Com amores, receios, cupidez, imaginações de toda a es-pécie e um sem número de banalidades, a tal ponto ele nos satura [...] por sua causa jamais conseguiremos alcançar o conhecimento do quer que seja. (PLATÃO, s.d.: n.p.). Nessa época se reforça a ideia de ascese, ou seja, que a dimensão ima-terial é mais nobre do que a material e que a matéria é fonte de desvio.Isso promove uma ruptura com as tradições primitivas anteriores, que viam o corpo como algo uno como o cosmos. A própria palavra corpo não parece ter sido escolhida ao acaso para de-signar a materialidade humana. Há indícios de que ela carregue em si o peso do que não é a vida legítima. Conforme Dagognet (1992), o substantivo corpo vem do latim corpus e corporis, sendo que corpus sempre designava o corpo morto, o cadáver em oposição à alma ou anima. Chamando a atenção para o modo como os nomes e as palavras carre-gam em si diferentes concepções culturais de corpo, Cristine Greiner explora um significado para a palavra equivalente a corpo no contexto de uma cultura oriental: [...] no dicionário indo-iraniano, uma tradição que não é ocidental, corpo tem raiz em krp que indica a forma, sem qualquer separação como aquela proposta pela nomeação grega que usou soma o corpo morto e demas para o corpo vivo é daí que parece nascer a divisão que atravessou séculos e culturas separando o material e o mental, o corpo morto e o vivo. (GREINER, 2012, p. 17). Essa comparação é importante para que você possa perceber que, des-de a escolha do nome para nossa parte material, já estamos trazendo conhe-cimentos cheios de significados. Ao estudar a história dos pensamentos como corpo, é importante com-preender que cada pensador e concepção que ganhou importância não viveu sozinho em sua época. Desde que a filosofia surgiu, sempre houve debates épicos sobre o cor-po. Geralmente uma das correntes de pensamento acabava sobrepujando a outra e ganhando destaque, mas trarei aqui a indicação desses debates. Um dos principais opositores de Platão foi Aristóteles. Esse segundo fi-lósofo via o corpo como unidade; para ele, o corpo não aprisionava a alma, mas era parte dela originado da sua substância. O dualismo de Platão fez história e avançou pela Idade Média. O pen-samento filosófico perde espaço, e o religioso passa a dar as regras sobre o trato com o corpo, já que filósofos cristãos como São Tomás de Aquino refor-çam a tradição de Platão. 11 O corpo deixa de ser prisão ou impedimento para se chegar à verdade, ele se torna inimigo da alma. Os corpos passam a ser vistos como instrumen-tos de pecado. É por meio da tentação que o corpo corrompe o espírito: “O corpo é o animal do homem; toda selvageria provém dele; o espírito é humano por excelência” (CECARELLI, 2011, p. 3). O repúdio ao corpo dessa época vem acompanhado do abandono dos cuidados corporais e de ataques violentos ao “inimigo”. Vive-se uma época de autoflagelação, aplicação de castigos corporais e torturas. Paradoxalmente, o corpo era visto como criação de Deus, obra perfeita na qual não se deveria intervir. As doenças eram vistas como castigo, punição divina por algum pecado ou falta, e não eram permitidas muitas manipulações ou estudos corporais, pois a obra divina não deveria ser profanada. 2.2 O dualismo corpo e mente A Idade Moderna sucede a Média. Esse movimento histórico é marcado pelo declínio do pensamento religioso e pela revalorização dos saberes da An-tiguidade clássica. Descartes é um dos teóricos mais influentes do século XVII. Ele elabora uma definição de ser humano que também o divide entre dois opostos: cor-po e mente. Nessa equação, a mente é substância pensante (res cogitans) e o corpo é a substância extensa (res extensa). Ao elaborar esse pensamento, Descartes liberta a dimensão imaterial da sua antiga prisão, o corpo. Nas palavras dele, o corpo é dispensável e não faz parte do humano: “Compreendi que eu era uma substância cuja essência ou natureza consiste apenas no pensar, e que, para ser, não necessita de nenhum lugar, nem de-pende de qualquer coisa material” (DESCARTES, 1996, p. 38-39). Como acontece em todas as épocas, Descartes tinha um opositor, Spi-noza. Para esse autor, não cabia a separação em duas res. Matéria e pensa-mento são atributos de um mesmo ser que se alterna entre o material e o mental. Por isso se diz que a filosofia de Descartes era dualista, mas a de Spinoza monista. Registro aqui uma citação muito importante de Spinoza (2011), até para que vejam como a questão que ele formulou naqueles tempos continua extre-mamente atual: O fato é que ninguém determinou, até agora, o que pode o corpo, isto é, a experiência a ninguém ensinou, até agora, o que o corpo – exclusivamente pelas leis da natureza enquanto considerada apenas corporalmente, sem que seja determinado pela mente – pode e o que não pode fazer. Pois, ninguém conseguiu, até agora, conhecer tão precisamente a estrutura do corpo que fosse capaz de explicar todas as suas funções, sem falar que se observam, nos animais, muitas coisas que superam em muito a sagacidade humana, e que os so-nâmbulos fazem muitas coisas, nos sonhos, que não ousariam fazer acordados. Isso basta para mostrar que o corpo, por si só, em virtude exclusivamente das leis da natureza, é capaz de muitas coisas que surpreendem a sua própria mente. (SPINOZA, 2011, p. 101, grifo nosso). De fato, Spinoza estava muito à frente do seu tempo. Embora tivesse elaborado um pensamento bem mais abrangente do que Descartes, perdeu a batalha. O mundo ainda não estava preparado para encarar as questões levan-tadas por ele. Como consequência, foi banido de sua igreja, precisou mudar de nome, morou de favor fazendo pequenos trabalhos como polir lentes, mas não abriu mão de suas ideias. O pensamento cartesiano, ao contrário, ganhou reconhecimento público e científico. Foi o pensamento de Descartes que separou definitivamente o corpo da alma, do sagrado, e isso possibilitou que o corpo fosse manipulado e escrutinado pela ciência de modos impensáveis nos tempos anteriores. Motricidade e Corporeidade 12 Laureate- International Universities Visto como elemento descartável, o corpo passou a ser compreendido como uma máquina e os gestos como mecânicos. Inaugurou-se a época do corpo como a imagem de um relógio. Compreendido por essa lógica, razão e funcionamento mecânico pas-sam a ser mais importantes, e o corpo deve ser funcional, apenas. Sensibilida-de, estética e emoção ficam em segundo plano. Se o dualismo cartesiano, por um lado, deu corpo para uma ciência me-canicista, com a desvinculação de sagrado e corpo, muitos conhecimentos se desenvolveram. “É também na Renascença que o corpo é apropriado pelos artistas que passaram a representá-lo e a desenhá- lo de forma extravagante para a época, pelos ginastas, pelos educadores e outros tantos” (CECARELLI, 2011, p. 4). NÃO DEIXE DE VER... O filme Tempos modernos, de Charles Chaplin, que faz uma crítica à mecani-zação dos gestos e à percepção do corpo como máquina. Assista também a Nós que aqui estamos por vós esperamos, de Marcelo Mas-sagão, um filme brasileiro que mostra a transição da era clássica para o século XX, abordando suas implicações culturais, científicas, políticas e tecnológicas. Com a dessacralização do corpo, foi possível desenvolver conhecimen-tos anatômicos com base em dissecação, antes considerado pecado. Também passaram a ser aceitos vários procedimentos cirúrgicos que antes eram consi-derados profanação e invasão da obra divina. NÃO DEIXE DE LER... O célebre livro De humani corporis fabriqua, de André Vésale, publicado em 1543 e repleto de riquíssimas lustrações. Essa publicação é considerada uma obra fundadora da anatomia moderna. Acesse também o site Vesaluis 500 Ye-ar, mantido pela Karger Medical & Scientific Publishers. Disponível em: <www.vesaliusfabrica.com/>. Acesso em: dez. 2016. Inicia-se uma época de fragmentar e isolar partes. Muitos conhecimen-tos fundamentais sobre o corpo são elaborados com essa liberação para explo-rar e intervir sobre os corpos vivos e mortos. O ânimo com essas descobertas oculta algo que Spinoza viu na época, mas que o mundo só percebeu mais tar-de: as limitaçõesque a perspectiva mecanicista e que o determinismo biológico têm. Com o passar do tempo e o avanço da nossa capacidade de conhecer, os limites do determinismo começam a aparecer e a serem tensionados pela cultura. Nesse encontro de forças, a palavra corpo vai ficando pesada e desgas-tada de tanto carregar todos os significados dualistas e fragmentários a que vem sendo associada ao longo dos séculos. Não basta pensar o corpo de outro modo, é preciso também dar um nome diferente a ele. Estão firmadas as bases para o surgimento do paradigma da corporeidade. 13 2.3 O corpo-pensamento e o corpo-sujeito No século XIX, Nietzsche quer reverter a tradição platônica e aborda o corpo como lugar de conhecimento e pensamento. Ele consegue o que pre-tende, e é apontado como o maior responsável por derrubar o pensamento de oposição entre as dimensões material e imaterial do humano. Em sua filosofia, ele defende a possibilidade de existirem corpos-pensamento e sabedoria no corpo: “Há mais razão no teu corpo do que na tua melhor sabedoria” (NIETZSCHE, 1988, p. 60). O pensamento de Nietzsche é uma das influências de Merleau-Ponty, que já no século XX escreve o clássico Fenomenologia da percepção. Nessa obra, o pensador une corpo e alma e derruba a divisão entre corpo e espírito ao afirmar que “[...] o corpo é o lugar em que o homem se experimenta como existente” (SANTOS; NOVA, 2015). Meu corpo é o lugar, ou antes a própria atualidade do fenômeno de expressão (Ausdruck), nele a experiência visual e a experiência audi-tiva, por exemplo, são pregnantes uma da outra, e seu valor expres-sivo funda a unidade antepredicativa do mundo percebido e, através dela, a expressão verbal (Darstellung) e a significação intelectual (Bedeutungf). Meu corpo é a textura comum de todos os objetos e é, pelo menos em relação ao mundo percebido, o instrumento geral de minha “compreensão”. (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 315). A perspectiva da corporeidade propõe um modo filosófico particular de ver o corpo que está relacionado à vivência unitária. Ela faz a ponte que leva “do corpo-objeto para o corpo-sujeito”. E realiza, com muita propriedade, a crítica à visão do corpo como objeto na fisiologia mecanicista e na psicologia clássica, indicando superações na direção do corpo próprio e da motricidade. A ideia de “corpo-sujeito”, que é marcado pelo tempo histórico e pela cultura, é bem mais abrangente que a de corpo-máquina apresentada pelo pa-radigma cartesiano. Silvino Santin é um filósofo brasileiro que se dedicou ao estudo da corporeida- de. Ele estudou na França e conheceu diretamente teóricos que são referência no tema. Produziu várias obras e lecionou por muitos anos em cursos de gra-duação e pós-graduação de Enfermagem e Educação Física. A leitura dos seus textos é indispensável quando se estuda o assunto no Brasil. Para conhe-cê-lo um pouco, acesse: SILVINO SANTIN POR ELE MESMO: um currículo não acadêmico, texto no qual ele diz: “A educação física e a enfermagem me mostraram duas faces do corpo. A face forte, saudável a ser vivida ou explora-da. E a face fragilizada, enferma, sofrida pedinte de cuidado e carinho”. VOCÊ O CONHECE? Motricidade e Corporeidade 14 Laureate- International Universities Essa perspectiva abriu espaço para a coexistência de corpos plurais, e, nos tempos mais atuais, coexiste um sem-número de narrativas distintas sobre os corpos. Muitas sociedades estão permitindo que se construa uma ética do corpo no lugar de moralidades restritivas dos tempos passados. Na verdade, as perspectivas ética e moral coexistem, colocando lado a lado uma pluralidade de práticas, valores e pensamentos. Ficou confuso com essa história de ética e moral? Uma situação que ilustra bem o que escrevo são os motivos religiosos (morais) que levam as Testemunhas de Jeová a se recusar a fazer transfusões de sangue mesmo quando esse procedimento é o único modo de manter a vida. Essa questão cria um grande dilema legal e ético (um agir para): se por um lado, os médicos respeitam a crença religiosa, um direito fundamental, por outro, descumprem seu código de ética e desrespeitam outro direito, o direito à vida. 2.4 O que pode o corpo? Corpo devir Para finalizar nosso passeio pelas trilhas dos corpos possíveis, trago os teóricos da pós- modernidade. Eles vão resgatar Spinoza e perguntar: “O que pode o corpo?” e dizer que o corpo é devir, um ser que pode ser. Ou seja, que nossos corpos são potencialidades virtuais, que se atualizam em diferentes configurações. NÃO DEIXE DE LER... O livro de Mil Platôs, escrito por Gilles Deleuze e Félix Guattari, para conhecer a ideia de corpo sem órgãos. Estamos terminando a exposição dos diferentes modos de ver o corpo por aqui, mas antes de levá- lo ao próximo ponto de conteúdo, devo chamar sua atenção para o fato de hoje vivermos uma era de tecnociências. O casamento do biológico com o tecnológico multiplica exponencialmente as possibili-dades de (re)configurar e intervir no corpo. Nesses tempos atuais, pode ser que nem consigamos responder à per-gunta de Spinoza. É possível que a tecnologia tenha ultrapassado a natureza e que a nossa incrível biologia tenha ficado obsoleta antes mesmo de ter sido desvendada. NÃO DEIXE DE VER... O filme Gattaca, um longa-metragem de ficção que questiona os limites e con- sequências da produção de corpos com manipulação genética. Essa obra ci- nematográfica vai fazer você refletir sobre os rótulos que são atribuídos aos seres humanos com base nos seus corpos. 15 NÃO DEIXE DE LER... O livro Sentir, pensar e agir: corporeidade e educação, de Maria Augusta Salin Gonçalves, uma leitura fundamental que influenciou gerações de profissionais 2.5 Corpo como entidade sensível e expressiva Agora que nós já transitamos juntos pelas explicações sobre o corpo que o pensamento humano criou ao longo dos séculos, você sabe que nossos cor-pos não são invólucros ou máquinas que sustentam nossos espíritos/almas e mentes para que esses possam passear pelo mundo. Nesse ponto dos estudos, acredito que já desenvolveu a compreensão de que nossos corpos alcançam também as potencialidades da expressividade, individualidade e identidade. Logicamente percebe que compreender o corpo envolve bem mais do que aprender técnicas, teorias e pretensas verdades sobre ele. Para aprender o corpo, é preciso vivê-lo, experienciá-lo. Então, sua jornada de formação profissional não deve se reduzir a prepa-rar para intervir nos corpos. Você precisará se deixar educar pelos corpos, seu e dos outros. Precisará aprender com as verdades que eles irão lhe apresentar nas práticas profissionais cotidianas, tendo em mente que essas verdades de-vem desafiar as que foram estudadas nos livros e fontes acadêmicas. Para lidar com esse cenário de dúvida e desafio constante, é preciso levar em conta que o corpo é um modo de estar no mundo (existe outro?) que não é espiritual nem mecânico, mas sim sensível e inteligente. No lugar de defender a existência de uma dimensão etérea e não mate-rial que pode nos representar como seres humanos ou de dizer que o corpo atrapalha o pensamento, os teóricos contemporâneos passaram a defender que aprendemos não só quando pensamos, mas também quando sentimos e agimos, e que pensar pode ser uma atividade corporal. Dizem que em toda mudança algo ainda permanece. A queda da oposi-ção entre corporalidade e cognição desencadeia um movimento de religação das diversas dimensões humanas. Na perspectiva da corporeidade, as rela-ções a serem restabelecidas são consigo mesmo, com os outros e com o mundo: [...] a relação com o mundo se dá pelo/no corpo que surge do/no ser. Corpo que é sensação e ação ao mesmo tempo, constituindo uma unidade que é e está presente no mundo. Sou corpo, sou instrumento do mundo e pelas minhas ações me expresso comoser-no-mundo. (PORTO, 2000, p. 31). A construção de conhecimentos sobre o corpo é muito antiga: começou nos tempos a.C. Agora que estamos no século XXI d.C, já usamos nossas ex-periências, sentidos e inteligência para compor um enorme registro com tenta-tivas, suposições, acertos e erros. Mesmo assim, ainda não chegamos a uma verdade única e definitiva, pelo contrário, existe uma multiplicidade de narrati-vas e discursos que procuram explicar o corpo em diferentes perspectivas. Hoje sabemos que nos nossos corpos há muito mais que biologia. É im-portante conhecer os aspectos de estrutura e funcionamento corporais, que são dimensões reais do ser humano. Mas também é preciso compreender que nossos corpos carregam potencialidades bem mais amplas que o mero funcio-namento coordenado e correto. Motricidade e Corporeidade 16 Laureate- International Universities Para reforçar o que digo, estão aí as diversas formas de movimento que as culturas foram criando ao longo do tempo, as diferentes abordagens médi-cas (ocidental, chinesa, ayurveda, homeopatia), as distintas elaborações de movimento, como as danças, as lutas, as formas esportivas e recreativas de ginásticas e esportes. A perspectiva cultural do corpo vai nos convidar a aprofundar nossa ob-servação de como o corpo se coloca a serviço das diferentes culturas e das representações simbólicas originadas delas. Os tempos atuais não permitem que retornemos aos mitos fundadores dos antigos, e outros elementos são trazidos para promover essa religação. Hoje um dos elementos de ligação é a linguagem. Em uma chamada ao corpo expressivo e sensível, Viviane Mozé (s.d.: n.p.) diz que nosso pensamento pode ser melhor se nós aprendermos a demo-rar nas sensações que não se traduzem em palavras: “[...] a linguagem separa, mas o corpo junta [...] minha primeira relação com o conhecimento é uma rela-ção física [...] a tradução em linguagem é necessária, mas ela é menor que a sensação”. Para aprender sobre o corpo, é preciso somar ações ao que você vai ler neste material, nos outros livros e no que vai ouvir de professores e palestran-tes. Para realmente desenvolver saberes sobre o corpo, é preciso saber com-binar, estar atento para aprender com o seu corpo e com o corpo do outro, a trabalhar com base nos conhecimentos técnicos que sua formação vai lhe dar, mas também estar aberto à experiência e à vivência. Merleau-Ponty (1999, p. 114) ressalta a importância da vivência, da expe-riência e da sensibilidade no processo de conhecer o corpo. “Só posso com-preender a função do corpo vivo realizando-a eu mesmo e na medida em que sou um corpo que se levanta em direção ao mundo”. Apesar de ter apresentado algumas concepções de corpo que foram pen-sadas para ser gerais para definir todos os corpos, escrevi tudo isso para que você tenha sempre em mente que cada corpo é único e que, na sua potenciali-dade, pode muito mais do que hoje somos capazes de saber. NÃO DEIXE DE LER... Para se surpreender com o que pode o corpo e se manter humilde em relação aos nossos desconhecimentos sobre ele, pesquise nas bases e dados acadê-micos e leia os trabalhos sobre a obtenção de células-tronco mesenquimais a partir do sangue menstrual, como a monografia Isolamento e caracterização de células-tronco mesenquimais do sangue menstrual, de Ana Carolina Origa Al-ves. Você verá que o fluido que já foi tido como sujo e chamado de sangria inú-til pode ser rica fonte de vida. “Para que a gente escreve, se não é para juntar nossos pedacinhos? Desde que entramos na escola ou na igreja, a educação nos esquarteja: nos ensina a divorciar a alma do corpo e a razão do coração” (GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto Alegre: L&PM, 1991). NÓS QUEREMOS SABER! 17 Hoje, muito teóricos, como Deleuze, revisitam as reflexões de Spinoza e resgatam a pergunta: “O que pode o corpo?”. Lembre-se de que essa pergunta deve acompanhar você em cada dia de estudo e trabalho. Como a questão permanece em aberto e não há verdade única teórica ou científica para colocar um ponto final neste Capítulo, encerro com a bela poesia de Galeano (1995), que é também um convite para vivermos e celebrarmos nosso corpos: Janela sobre o corpo A Igreja diz: O corpo é uma culpa. A ciência diz: O corpo é uma máquina. A publicidade diz: O corpo é um negócio. O corpo diz: Eu sou uma festa. 18 Laureate- International Universities SínteseSíntese O papel dos profissionais que lidam com o corpo é estudar, refletir e aju-dar a tornar cada vez mais sólidos os fundamentos que ajudam a compreender nossa corporeidade nesse cenário de incertezas em que vivemos hoje. É olhar para o corpo não só com o pensamento, mas também com a sensibilidade. Neste Capítulo, estudamos distintos modos de conceituar e perceber os corpos. Aprendemos que existem diferentes concepções, monistas e dualistas, de ser humano que assumiram maior ou menor importância em diferentes so-ciedades e tempos históricos. Estudamos os teóricos e as principais ideias que representam essas di-ferentes concepções. E também ficamos sabendo por que a palavra corporei-dade passou a ser usada no lugar do termo corpo. Acompanhamos ainda o movimento de sair de uma moralidade restritiva que se impõe sobre os corpos para permitir que os atos corporais se funda-mentem em uma ética, o que possibilita a coexistência de uma pluralidade de narrativas sobre o corpo. Ao longo dos estudos, compreendemos que, para captar a ampla poten-cialidade dos nossos corpos, é preciso ir além da biologia e perceber a corpo-reidade também nas suas dimensões sensível e expressiva. E encerramos sabendo que a pergunta “O que pode o corpo?” ainda es-tá para ser respondida e deve nos acompanhar nas situações de aprendizado e de prática profissional. 19 CECARELLI, P. R. Uma breve história do corpo. In: LANGE, E. S.; PLATA, L. S.; TARDIVO, C. (Org.). Corpo, Alteridade e Sintonia: diversidade e compreeensão. São Paulo: Vetor, 2011, p. 15-34. DAGOGNET, F. Le corps multiple et un. Laboratoires Delagrange, 1992. DESCARTES, R. Discurso sobre o método. São Paulo: Martins Fontes, 1996. GALEANO, Eduardo. Janela sobre o Corpo. In: RIOS, Terezinha Azevedo. De educação e alegria: corpo docente. Presença Pedagógica, 1995. GREINER, C. O corpo: pistas para estudos interdisciplinares. Coimbra: Coimbra Press, 2012. LAQUEUR, T. Inventando o sexo. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo: WSF Martins Fontes, 1999. MOZÉ, V. O que pode o corpo? Café filosófico, [s.d.]. Disponível em: <https://youtu.be/ oE3aoW2xp4w?list=PLZdt_6ATF0z0zpdcwvtLHZlK_3h8s_lGK>. Acesso em: nov. 2016. NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. 9. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1988. PLATÃO. Fédon. Trad. Carlos Alberto Nunes. Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br/ download/texto/cv000031.pdf>. Acesso em: nov. 2016. PORTO, E. F. Espinhos: corpos que encontram. II CONGRESSO LATINO AMERICANO DE EDUCAÇÃO MOTORA e III CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO MOTORA. Natal: UFRGN, 2000, p. 31. SANT’ANNA, D. B. As infinitas descobertas do corpo. 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