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FISIOLOGIA TIREOIDEA A tireoide é a primeira glândula endócrina a surgir no embrião, o que ocorre na 3ª semana. Ela tem o formato de uma borboleta, com dois lobos unidos por um istmo que se apoia frouxamente sobre a traqueia na região anterior do pescoço abaixo da cartilagem tireóidea e imediatamente abaixo da cartilagem cricoidea (figura1). Sua localização permite a avaliação clínica da glândula pela palpação. Figura 1: Vista da glândula tireoide. No homem adulto pesa em torno de 15 a 25 gramas. Sob estímulos específicos pode ocorrer proliferação celular com aumento da glândula para 50 ou até 800 gramas, o que chamamos de bócio (figura 2). Figura 2: Bócio 0 A tireoide secreta os hormônios tiroxina ou tetraiodotironina (T4) e triiodotironina (T3). Os hormônios tireoideos (HT) exercem importante papel no desenvolvimento, crescimento e metabolismo. Esses hormônios têm seus receptores presentes em quase todos os tecidos do corpo sendo essencial no consumo de oxigênio e no metabolismo celular. Mecanismo molecular: ligação do T3 aos receptores nucleares com modificação da expressão gênica da célula; atuação direta de T3 e T4 em vias de sinalização intracelular. O folículo é a unidade funcional da glândula, onde ocorre o processo de biossíntese, armazenamento e secreção dos hormônios tireoideos (figura 3). Os folículos tireoidianos são preenchidos por coloide, cujo principal componente é uma proteína, a tireoglobulina (Tg). É nas células foliculares que se inicia o processo de biossíntese dos hormônios tireoideos (intracelular) e no coloide é que ela é concluída (extracelular), de forma que o T3 e o T4, que são os principais HT elaborados, permanecem no interior da tireoglobulina até se iniciar o processo de secreção hormonal. Nós temos um estoque de hormônios tireoideos armazenados no coloide que suprem nossa necessidade por várias semanas. Figura 3: folículo tireoideo A célula folicular apresenta-se cuboide em situações de eutireoidismo, porém quando o indivíduo apresenta hipotireoidismo com elevação do TSH (hormônio estimulador da tireoide) ocorre hipertrofia dessas células que então apresentarão formato cilíndrico com diminuição do lúmen e aumento da quantidade de vasos entre os folículos aumentado o espaço entre os mesmos. Quando há diminuição do TSH o epitélio se torna pavimentoso com lúmen amplo. A ingestão de iodo é indispensável para a síntese dos hormônios tireoideos, sendo a maior fonte de iodo, o mar; dessa forma os alimentos ricos em iodo são os derivados do ambiente marinho. O iodo ingerido é reduzido a iodeto no trato digestório, por ação de bactérias, sendo absorvido no intestino delgado. Portanto, é na forma de iodeto que o iodo se apresenta na circulação, de onde é captado pela tireoide e utilizado para a biossíntese hormonal. Nas regiões próximas ao litoral acumula-se iodo no solo pela chuva proveniente da evaporação da água do mar, assim sendo, frutas e vegetais cultivados nessas regiões absorvem concentrações significativas de iodo. Por apresentarem iodo em sua composição os hormônios tireóideos possibilitam a avaliação funcional da glândula, por meio da utilização de iodo radioativo. A ingestão alimentar recomendada de iodo é de 150g para um adulto normal. A carência de iodo e consequente falta de hormônios tireoideos durante o período fetal ocasiona déficit do crescimento e desenvolvimento neurológico, denominado cretinismo (figura 4). As consequências clínicas da falta de iodo refletem-se em todas as faixas etárias, caracterizando as doenças associadas à deficiência de iodo, o que causa aumento da glândula denominado bócio endêmico (figura 5). Célula folicular ou tireócito Colóide Membrana basolateral Membrana apical Figura 4: uma criança com cretinismo BIOSSÍNTESE DOS HORMÔNIOS TIREOIDEOS (Figura 6) Este processo inicia-se com a captação de iodeto pela porção basal da célula folicular tireoidiana e envolve várias etapas: 1.Captação do iodeto: o transporte do iodeto (I-) para o interior da célula ocorre contra um gradiente eletroquímico, uma vez que o potencial de repouso da célula tireoidiana é negativo, e por ela apresentar concentração elevada de iodeto; esse transporte é realizado pela proteína NIS (Co-transportadora Na+/I-) localizado na superfície basolateral do tireócito, que promove a entrada de iodeto utilizando a força motriz do Na+, o qual entra na célula obedecendo um gradiente de concentração que é mantido pela Na+/K+-ATPase (2Na+:1I -). Dentro da célula o iodeto difunde-se em direção ao ápice sendo transportado pela pendrina (que é um canal de ânions cloro/iodeto), localizada na membrana apical da célula folicular. . O transporte de iodeto é inibido por: perclorato e tiocianato, que são utilizados na prática clínica com a finalidade de diminuir a síntese dos hormônios tireoideos. Perclorato: inibe a captação de iodeto e também facilita seu efluxo. Tiocianato: aumenta o efluxo de iodeto. Outros locais além da glândula tireoide também apresentam a proteína NIS: glândulas salivares, mucosa gástrica e glândulas mamárias no período de lactação. 2.Oxidação do iodeto: a seguir o iodeto é oxidado pela enzima tireoperoxidase (TPO), que está localizada na membrana apical da célula folicular; em paralelo à oxidação do iodeto, a TPO também oxida um ou dois sítios de algumas tirosinas, presentes na tireoglobulina, criando-se então condições para que o iodo oxidado aí se incorpore. Para oxidar o iodeto a TPO necessita do cofator peróxido de hidrogênio gerado pela dual oxidase (DUOX). O iodo oxidado então será incorporado aos resíduos tirosil da tireoglobulina (Tg) sendo essa reação também catalisada pela TPO. Esse processo de incorporação do iodo à Tg é conhecido como organificação do iodo ou iodação da Tg. Figura 5: cretinismo mixedematoso endêmico na República Democrática do Congo. No esquema temos 4 habitantes com idades entre 15 e 20 anos: um rapaz normal e 3 meninas com severo déficit no crescimento, hipotireoidismo com nanismo, retardo no desenvolvimento sexual, face inchada, cabelos secos e retardo mental severo. Mixedema: edema com acúmulo de mucopolissarídeos/glicosaminoglicanas, pois a tiroxina diminui a síntese dos ácidos hialurônico e condroitino-sulfúrico 3.Acoplamento das iodotirosinas: A tireoglobulina possui entre 132 a 140 aminoácidos tirosina aos quais o iodo oxidado poderá ser incorporado sendo que apenas 1/3 desse total será iodado. Quando 1 molécula de iodo é incorporada à tirosina gera-se monoiodotirosina (MIT) e quando temos dois iodos incorporados gera-se diiodotirosina (DIT), sendo essa reação também catalisada pela TPO. Após essa etapa temos o acoplamento das iodotirosinas, reação também catalisada pela TPO. Ocorrem os seguintes acoplamentos: 1 MIT + 1 DIT = formando T3 ou rT3 (que diferem quanto à posição da iodação) 1 DIT + 1 DIT = formando T4 1 MIT + 1 MIT = formando T2 (diiodotironina) Essas moléculas geradas permanecem no coloide, presas à Tg. Todas as proteínas envolvidas nessas etapas, desde a tireoglobulina, têm sua síntese estimulada pelo TSH. Essa é a razão pela qual a função tireoidiana depende desse hormônio hipofisário. Figura 6: Secreção dos hormônios tireoideos. NIS: co-transportador Na+/I-; Tg: tireoglobulina; MIT: monoiodotirosina; DIT: diiodotirosina (Esquema do arquivo do Laboratório de Fisiologia Endócrina Doris Rosenthal). TRANSPORTE PLASMÁTICO Mais de 99% dos HT se apresentam ligados a proteínas transportadorasplasmáticas, as quais determinam a porcentagem de hormônio livre (que é o que exerce efeito biológico) presente na circulação. Essas proteínas são: a TBG (globulina transportadora de hormônio tireoidiano), TTR (transtiretina) e a albumina. A TBG e a TTR apresentam maior afinidade ao T4 que ao T3, de modo que, em termos porcentuais, há mais T3 do que T4 circulando na forma livre; já a albumina liga-se tanto ao T4 quanto ao T3, bem como a outros hormônios como os glicocorticoides e os esteroides sexuais. Quando os HT se dissociam das proteínas transportadoras, ficam na forma livre, tornando-se disponíveis, por um curto período de tempo, para os tecidos-alvo, onde vão exercer os efeitos biológicos. Quando ocorre elevação da fração livre de HT na circulação ajustes fisiológicos são desencadeados para a sua correção dentro dos limites da normalidade. Quando há falhas nesse sistema de ajuste, ocorre aumento na concentração de HT livre na circulação, de modo que os seus efeitos biológicos nos tecidos tornam-se exacerbados, o que resulta no quadro de hipertireoidismo. METABOLIZAÇÃO DAS IODOTIRONINAS NISNIS exocitose síntese I- glicose aminoácidos I- proteólise endocitose Membrana basal TG TG T3 MIT DIT T4 MIT DIT T4 T4 T3 MIT DIT 33TT44 e Te T T3 5’ desiodase NISNIS exocitose síntese I- glicose aminoácidos I- proteólise endocitose Membrana basal TG TG T3T3 MIT DIT T4T4 MIT DIT T4T4 T4 T3 T4 T3 MIT DIT MIT DIT 33TT44 e Te T T3T3 5’ desiodase Os HT, após exercerem seus efeitos biológicos, são metabolizados, principalmente no fígado e nos rins, o que resulta na geração de outros produtos. Um dos processos de metabolização é a conjugação hepática dos HT com sulfatos e glicuronatos, forma pela qual eles passam a compor a bile, sendo eliminados pelas fezes. Podem também sofrer desaminação e descarboxilação oxidativa, gerando TETRAC (ácido tetraiodotiroacético) a partir do T4 e TRIAC (ácido triiodotiroacético) a partir do T3, ou ainda sofrerem hidrólide da sua ligação éter. A desiodação pode gerar tanto produtos inativos (rT3) bem como produtos (T3) que apresentam atividade maior que o seu precursor (T4). Assim o T4 pode ser desiodado e gerar um precursor inativo, a T3 reversa, mas também pode gerar T3, que apresenta atividade biológica muito maior que a do T4. O processo de desiodação do T4 ocorre por meio de enzimas desiodases, que se apresentam nas isoformas classificadas como D1, D2 e D3 (figura 7). As D1 e D2 geram T3 a partir de T4, pela desiodação do anel externo (5’-desiodação) e os tecidos que apresentam maior expressão de D1 (fígado, rins, músculo esquelético, bem como os leucócitos) exercem predominantemente o papel de exportadores deste hormônio para a circulação, sendo os responsáveis pela maior parte do T3 presente na circulação. Assim, a redução da atividade desta enzima que ocorre, por exemplo, em situações de estresse físico e emocional, leva à diminuição da taxa de T3 circulante (síndrome do T3 baixo). Por sua vez, hipófise, sistema nervoso central, placenta, tecido adiposo marrom, que apresentam expressão elevada de D2, exportam T3, que é preferencialmente utilizado no próprio tecido, embora estudos recentes tenham apontado a D2 como importante também para a manutenção dos níveis circulantes de T3. A reação de inativação tanto do T4 como do T3 é catalisada pelas enzimas D1 e D3 através da desiodação do anel interno (5-desiodação), sendo considerada a via bioinativadora Ao contrário da D1, que tem sua atividade estimulada pelos HT, a atividade e a expressão da D2 é bastante reduzida na presença deles, e aumentada na vigência do hipotireoidismo, quadro em que ocorre redução da concentração plasmática de HT, com consequente redução de seus efeitos biológicos. Esse mecanismo permite que tecidos, como hipófise e SNC, mantenham suas concentrações intracelulares de T3, mesmo na vigência de uma elevação ou redução da oferta de HT, o que é de importância biológica significativa, em função do papel desses tecidos como reguladores centrais dos processos biológicos. A D3 converte T4 a rT3 e T3 a T2, sendo responsável, portanto, pela inativação biológica dos HT. Essa enzima tem sua atividade elevada em situações de hipertireoidismo e é bastante expressa no período embrionário, bem como logo após o nascimento. Nesses períodos do desenvolvimento vários tecidos ainda não atingiram a sua maturação completa e o aporte de HT deve estar dentro de limites fisiológicos para que as expressão dos genes que controlam seus genes-alvo seja adequada. Figura 7: Vias de ativação e inativação do T4 pelas enzimas desiodases (Gereben et al., 2008). REGULAÇÃO DA FUNÇÃO TIREOIDEA Sistema hipotálamo-hipófise-tireoide (HHT). A função tireoidea é regulada fundamentalmente pelo hormônio tireotrófico (TSH), produzido pela adeno-hipófise, o qual estimula todas as etapas da síntese e secreção dos hormônios tireoideos (figura 8): - estimula a síntese e a secreção dos hormônios tireoideos; - estimula o crescimento e proliferação celular; - promove o influxo de iodeto; CH2 - CH - COOH NH2 3’ 5’ 5 3 OHO I I I I 3,5,3`,5` - tetraiodotironina (tiroxina, T4) CH2 - CH - COOH NH2 5’ OHO I I I CH2 - CH - COOH NH2 5 OHO II I CH2 - CH - COOH NH2 5’ 5 OHO II 3,3`,5` - triiodotironina (T3 reverso)3,5,3` - triiodotironina (T3) 3,3` - diiodotironina Ativação (D1), D2 Inativação(D1), D3 D1, D2Inativação (D1), D3 - promove a iodação da tireoglobulina e a secreção dos hormônios tireoideos estimulando a formação de pseudópodes. A concentração plasmática de TSH circulante reflete a função tireoidiana e por isso é utilizado na prática clínica. A síntese e secreção de TSH encontra-se sob o controle: (a) de dois hormônios hipotalâmicos, o hormônio liberador de TSH (TRH) e a somatostatina (SS ou GHRIH), os quais atuam em células específicas da adeno-hipófise responsáveis pela síntese e secreção de TSH, os tireotrofos, estimulando ou inibindo, respectivamente, a síntese e a secreção de TSH; assim como (b) dos hormônios tireoideos, os quais exercem efeitos diretos nos tireotrofos, reduzindo sua secreção, bem como sobre o hipotálamo, reduzindo a secreção de TRH e estimulando a de SS. A secreção de TSH resulta, portanto, do efeito desses hormônios sobre os tireotrofos. Esse mecanismo de regulação desencadeada pela concentração plasmática dos hormônios tireoideos é conhecido como mecanismo de retroalimentação negativa ou de feedback negativo. Dessa forma, a elevação da concentração plasmática dos HT provoca uma maior inibição da secreção desses dois hormônios (TRH e TSH), o que leva à redução da secreção hormonal tireoidiana. Ao contrário, a redução das concentrações plasmáticas de HT leva à menor inibição da secreção hipofisária de TSH e hipotalâmica de TRH, o que provoca estimulação da função tireóidea e elevação da concentração plasmática de HT. A tireoide também sofre modificações na sua função em decorrência da oferta de iodo pela dieta. Sabe-se que a redução da ingestão de iodo leva à diminuição da síntese de HT, cujo resultado é a elevação da secreção de TRH e TSH. Quando o estoque de HT se esgota, o TSH continua exercendo seus efeitos proliferativos sobre a glândula, levando ao seu aumento de peso, fenômeno conhecido como bócio; caso esse bócio esteja limitado a determinada região, afetando a população desse local, é denominado de bócio endêmico. O aumento do aporte de iodo, por outro lado, leva a efeitos que dependem da dose e da duração da sua administração. Assim, a elevação moderada da ingestão de iodo e por curto período de tempo leva, inicialmente,a um aumento da síntese de HT. Por outro lado, a administração aguda de doses excessivas de iodo provoca inibição da atividade tireoidiana, fenômeno conhecido como efeito Wolff-Chaikoff. Em estado de deficiência de iodo o transporte de iodeto é aumentado e em caso de maior disponibilidade ocorre o oposto. Excesso de iodeto organificado, como ocorre com a administração de altas doses de iodo, causa: diminuição da atividade da proteína NIS, diminuição da organificação do iodeto (efeito Wolff-Chaikoff), diminuição da secreção de T3 e T4 armazenados no coloide e bloqueio da DUOX. Quando diminui a concentração de iodo organificado dentro da glândula a inibição exercida pelo processo auto-regulatório cessa, fenômeno conhecido como escape à inibição do iodo (escape ao efeito Wolff-Chaikoff, observado de 2 a 3 dias após, mesmo com a manutenção do excesso de iodo). O efeito inibitório do excesso de iodo é aplicado para auxiliar no tratamento de pacientes com hipertireoidismo muito severo. Figura 8: Eixo hipotálamo-hipófise-tireoide. TRH: hormônio liberador de tireotrofina; TSH: hormônio estimulador da tireoide. Outros fatores Algumas condições, por provocarem, indiretamente, alterações na concentração dos HT livres no plasma, levam a respostas reguladoras do sistema HHT. Na gravidez, o aumento da concentração de estrógenos circulantes causa redução da taxa de metabolização das proteínas transportadoras de HT (TBG, TTR e albumina), elevando a sua meia-vida (t½) e a sua concentração plasmática. Por conseguinte, a taxa de HT livres se reduz, o que gera aumento na atividade do sistema HHT e elevação da concentração de HT livres circulantes até a normalização. Um segundo fator a se considerar na gravidez é a elevação da secreção do hormônio placentário gonadotrofina coriônica (GCH) que, pela sua semelhança estrutural com a molécula de TSH, passa a ser reconhecido pelos receptores de TSH presentes nas células foliculares tireoidianas e a estimular sua atividade. Os estrógenos também aumentam a secreção hipofisária de TSH em resposta ao TRH, mecanismo que parece ser devido ao aumento da expressão de receptores de TRH nos tireotrofos. Os glicocorticoides, por outro lado, levam à diminuição da função tireoidiana por reduzirem a resposta do TSH ao TRH, possivelmente por promoverem a diminuição da expressão de receptores de TRH nos tireotrofos. Em paralelo a essa inibição central, o cortisol exerce um efeito inibidor sobre a atividade da D1, de modo que a conversão periférica de T4 a T3 fica reduzida, bem como a concentração plasmática de T3. MECANISMOS DE AÇÃO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS Apesar da sua relativa solubilidade no meio lipídico, soube-se recentemente que o acesso dos HT às suas células-alvo depende fundamentalmente de proteínas transportadoras específicas (para T3 e T4) localizadas na membrana plasmática. Nessas células os HT são reconhecidos por proteínas nucleares, os receptores de HT (TR), que são fatores transcricionais. Quando o HT se liga ao seu receptor, ele ativa ou inibe (dependendo do gene) a transcrição de genes específicos e, portanto, a síntese de proteínas específicas, que são responsáveis pelos efeitos biológicos. Esse mecanismo de ação é denominado genômico. O T3 é o principal mediador, já que os receptores de HT apresentam maior afinidade e especificidade a este que ao T4. Entretanto, existem efeitos dos HT, que ocorrem muito rapidamente, e na presença de bloqueadores da transcrição gênica, o que indica que esses também exerçam ações não genômicas. Essas ações são mediadas principalmente por T4, rT3 e T2 e são evidenciadas em mitocôndrias, no citoesqueleto, na membrana celular, bem como na atividade de algumas quinases. FUNÇÕES DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS Metabólicas Os HT são um dos principais reguladores da taxa metabólica basal, sendo imprescindíveis para a manutenção da temperatura corporal. Eles ativam tanto a síntese quanto a hidrólise de ATP, processos esses que levam à produção de calor. Também estimulam a síntese de proteínas desacopladoras (UCPs), as quais promovem a dissipação da energia do gradiente de prótons na forma de calor. Estimula a transcrição de genes que codificam ATPases, como a bomba Na+/K+. bomba de cálcio do retículo sarcoplasmático (SERCA) e cadeia pesada da miosina (MHCs), que, por hidrolisarem ATP, aumentam a produção de calor. Dessa forma, compreende-se porque no hipotireoidismo, situação em que ocorre redução da concentração de HT na circulação e, portanto, dos seus efeitos fisiológicos, o indivíduo apresenta intolerância ao frio, com ativação de mecanismos que evitam a perda de calor, como vasoconstrição periférica, razão pela qual ocorre palidez e ressecamento da pele, com repercussões nos anexos cutâneos, como enfraquecimento dos cabelos e unhas. Ao contrário, no hipertireoidismo, a elevação da calorigênese ativa processos termolíticos para manutenção da temperatura corporal, como vasodilatação periférica, de modo que a cútis se apresenta mais avermelhada e umedecida, os cabelos mais brilhantes, unhas fortes, entre outras alterações. Sobre o metabolismo lipídico. Os HT são potentes estimuladores da lipogênese no fígado, tecido adiposo marrom e branco e glândulas mamárias. Por outro lado, eles são muito mais eficientes em promoverem a lipólise nesses mesmos tecidos. O mesmo ocorre com o colesterol, já que os HT estimulam tanto a síntese quanto o catabolismo do colesterol, sendo que esta última ação predomina sobre a primeira. Sendo assim, no hipotireoidismo observa-se aumento da massa gorda e da colesterolemia, enquanto no hipertireoidismo observa-se emagrecimento, cujo grau depende do estado hipertireoideo estabelecido, e redução da colesterolemia. Sobre o metabolismo dos carboidratos. Os HT estimulam a absorção intestinal dos carboidratos e a produção hepática de glicose (gliconeogênese), que aumentam o aporte de glicose no plasma. Também aumentam a utilização de glicose pelas células, já que, por ativarem alguns ciclos de substratos que fazem parte de via glicolítica, reduzem a concentração de glicose livre intracelular, gerando-se assim um gradiente de glicose livre favorável à sua entrada na célula. Estimulam a síntese de GLUT4, que é altamente expressa no tecido adiposo branco, marrom, músculo cardíaco e esquelético. Sobre o metabolismo das proteínas. Os HT estimulam tanto a síntese quanto o catabolismo das proteínas. Esses efeitos são mais evidentes em tecidos como o músculo esquelético, que constitui o principal depósito de proteínas do organismo. No hipertiroidismo, há predomínio do catabolismo proteico, razão pela qual ocorre intensa fraqueza muscular. Esta alteração também se manifesta no indivíduo hipotireoideo, em função da redução da sua massa muscular, que ocorre em decorrência da diminuição da síntese proteica. Crescimento e desenvolvimento Hormônio do crescimento (GH) e fatores de crescimento. Os HT estimulam a transcrição do gene do GH (efeito genômico), levando ao aumento da síntese deste hormônio. Há evidências de que eles também estimulam a síntese de receptores de GH. Como o crescimento pós-natal depende basicamente da produção adequada de GH, nota-se a importância da manutenção da atividade tireoidiana dentro da normalidade nesse período do desenvolvimento. Assim, crianças hipotireoideas apresentam déficit de crescimento, que é prontamente restabelecido pela reposição de HT. Os HT também aumentam a produção de fatores de crescimento semelhantes à insulina (IGFs) em tecidos como os músculos independente das suas ações sobre o GH, bem como influenciam positivamente a produção de fator de crescimento neuronal (NGF) e IGF no sistema nervoso central. Substância surfactante. No período fetal, os HT participam da regulação da síntese e secreção da surfactante pulmonar, cujo papel é diminuira tensão superficial alveolar, evitando o colabamento dos alvéolos pulmonares. Sistêmicas Sistema nervoso (SN). No período embrionário, o T3 é fundamental para a multiplicação celular e sinaptogênese no SNC, bem como para a mielinização neuronal, efeitos que decorrem de seu estímulo sobre a síntese de NGF. A vascularização do SN também depende de IGFs produzidos por estímulos do HT. No período neonatal, o T3 dá continuidade ao processo de sinaptogênese. Assim, a deficiência de produção de HT pelo feto traz repercussões extremamente graves para o desenvolvimento do SN, levando ao quadro de cretinismo, caracterizado por um extremo grau de retardo mental. Essa deficiência pode ser detectada ao nascimento, pelo teste do pezinho, onde se dosa dentre outros hormônios, o TSH, o qual se elevado, indica o hipotireoidismo congênito. Esse teste também é utilizado para avaliação da concentração de fenilalanina, já que defeitos na sua metabolização levam à fenilcetonúria, outra causa de debilidade mental. Caso o cretinismo seja constatado, o tratamento imediato com T3 pode fazer com que o quadro seja praticamente revertido, já que a sinaptogênese e a mielinização poderão ser estimuladas, o que fará com que os neurônios, mesmo em número reduzido, possam estabelecer conexões sinápticas adequadas. Na idade adulta, os HT são importantes para a manutenção do sistema ativador reticular ascendente (SARA), representado por um conjunto de fibras nervosas que partem da formação reticular do tronco encefálico para o córtex cerebral, determinando o nível de atenção, fator fundamental para a manutenção e desenvolvimento dos processos cognitivos (aprendizado). Esta é a razão pela qual, no hipertireoidismo, o excesso de atividade deste sistema gera um estado de alerta contínuo, o que se por um lado facilita o aprendizado, por outro lado leva à insônia, o que é extremamente prejudicial à saúde. No hipotireoidismo a diminuição da atividade do SARA provoca dificuldade na aprendizagem e sonolência. O aumento da excitabilidade do SNC induzido por hormônios tireoidianos pode decorrer de uma sensibilidade aumentada às catecolaminas. Sabe-se que os HT aumentam a expressão de receptores beta- adrenérgicos em alguns tecidos, como o cardíaco e o adiposo. Sistema cardiovascular. Os HT regulam a expressão de vários genes que codificam proteínas importantes para a função cardíaca. Dessa forma, os HT estimulam a síntese da isoforma da cadeia pesada da miosina (MHC), a qual, por apresentar atividade ATPásica elevada, confere maior velocidade de contração ao músculo cardíaco. Aumentam a expressão da bomba de Ca2+ do retículo sarcoplasmático (SERCA2), que remove o Ca2+ do sarcoplasma, encurtando assim o tempo de contração do músculo cardíaco. Ainda aumentam a expressão das proteínas HCN2 e HCN4, que são canais de K+ expressos no nodo sinusal, responsáveis pela atividade marcapasso desta estrutura. Essas ações, em conjunto, são determinantes para a imposição da frequência cardíaca (FC). A expressão de MHC, além de aumentar a velocidade de contração determina aumento da força de contração e, portanto, do volume sistólico (VS). Essas são as razões pelas quais, no hipertireoidismo, o débito cardíaco (DC= FC*VS) encontra-se elevado. No entanto, a pressão arterial média (PA) não se modifica devido à vasodilatação periférica reflexa que ocorre em virtude do efeito calorigênico dos HT, a qual diminui a resistência vascular periférica (RVP) (PA= DC*RVP). Além dessas ações diretas dos HT no músculo cardíaco, estes aumentam a expressão de receptores β-adrenérgicos neste tecido, sensibilizando-o à ação das catecolaminas, o que reforça os efeitos diretos dos HT descritos. Por outro lado, a expressão de GLUT4 e de mioglobina (Mb), que se apresenta aumentada no hipertireoidismo, possibilita maior afluxo de glicose para o músculo cardíaco, bem como maior oxigenação e remoção de espécies reativas de O2 que são produzidas em paralelo à maior produção de ATP pelas mitocôndrias. Sistema respiratório. Os efeitos dos HT sobre o sistema respiratório são decorrentes de suas ações sobre a taxa metabólica basal, que é avaliada em termos de consumo de O2 e produção de CO2. A pO2 e pCO2, juntamente com o pH sanguíneo, são os principais determinantes da frequência respiratória. Assim, a elevação da taxa metabólica basal, observada no hipertireoidismo, por gerar aumento do consumo de O2 e da produção de CO2, promove queda da pO2 e pH e aumento da pCO2 sanguíneos. Essas alterações são detectadas por quimiorreceptores centrais e periféricos, gerando-se hiperventilação reflexa para correção destes parâmetros. A vasodilatação reflexa também contribui com o aumento das trocas gasosas, com a utilização dos substratos energéticos e remoção de produtos finais de catabolismo. Sistema muscular esquelético. Há predomínio do catabolismo proteico no hipertireoidismo, o que limita a atividade muscular. Sistema ósseo. Há evidências de que os HT aumentam a expressão de osteocalcina, hormônio importante para mineralização óssea, uma das etapas da osteogênese. No entanto, tal qual ocorre com proteínas musculares, nos estados de hipertireoidismo, observa-se aumento do catabolismo proteico, predominando a osteólise, ocorrendo, portanto, perda de massa óssea. ALTERAÇÕES NA FUNÇÃO TIREOIDEA Uma alteração na função da tireoide pode constituir um estado hipo- ou hiperfuncional. Os distúrbios da tireoide podem ser decorrentes de defeito congênito no desenvolvimento da tireoide ou podem desenvolver-se mais tardiamente na vida, com início gradual ou súbito. O bócio é o aumento no tamanho da glândula. Pode ocorrer nos estados hipotireoideo, eutireoideo e hipertireoideo. Pode ser difuso, envolvendo toda a glândula sem evidências de modularidade, ou conter nódulos. Os bócios difusos geralmente se tornam nodulares. Os bócios podem ser tóxicos, produzindo sinais de hipertireoidismo extremo, ou tireotoxicose, ou serem não-tóxicos, sendo estes últimos difusos, e os multinodulares decorrentes da hipertrofia e hiperplasia compensatórias do epitélio folicular por algum distúrbio que prejudica a produção do hormônio da tireoide. O grau de aumento da tireoide geralmente é proporcional à extensão e duração da deficiência da tireoide. HIPOTIREOIDISMO Sinais e sintomas (figura 9): cretinismo, macroglossia (figura 10), intolerância ao frio, mixedema, obesidade, bradicardia, constipação, sonolência, amenorreia, diminuição do libido, pele seca e fria, diminuição do apetite. Hipotireoidismo primário sem bócio: TSH, T3 e T4 Causas: Defeito congênito de desenvolvimento: afeta aproximadamente um em cada 4.000 lactentes. Pode decorrer de ausência congênita da glândula tireoide ou da biossíntese anormal do hormônio da tireoide ou secreção ineficiente do TSH. Na ausência congênita da glândula tireoide, o lactente geralmente parece normal e seu organismo parece funcionar normalmente ao nascimento porque os hormônios foram supridos no útero pela mãe. As manifestações do hipotireoidismo congênito não-tratado são designadas como cretinismo. Entretanto, o termo não se aplica aos lactentes em desenvolvimento normal nos quais foi instituída, logo após o nascimento, a terapia de reposição do hormônio da tireoide. Quando não tratado, o hipotireoidismo congênito causa retardo mental e prejudica o crescimento. Estudos por períodos prolongados mostram que a suplementação da T4 monitorada atentamente e iniciada nas seis primeiras semanas de vida acarreta inteligência normal. As doses administradas devem ser ajustados à medida que a criança cresce. Idiopática primária: onde não se conhece as causas da falha do funcionamento da tireoide. Suspeita-se que possa ser causada por um reação autoimune pouco clara. Pós-irradiação; Pós-ablativa (tireoidectomia). Hipotireoidismo primáriocom bócio Causas: Defeito na tireoperoxidase: essa enzima pode ser inibida por propiltiouracil (PTU) e metimazol (MMI) em doses contínuas; Ausência de iodo na dieta (bócio coloide endêmico – atóxico); Defeito na síntese de tireoglobulina; Transmissão materna de substâncias anti-tireoideas que interferem na síntese dos hormônios tireóideos: a iodopovidona usada como desinfetante (ducha vaginal ou desinfecção da pele, no berçário), drogas anti-tireoideas (PTU, MMI ou carbimazol) atravessam a placenta e bloqueiam a função tireóidea fetal causando hipotireoidismo congênito transitório. Esses lactentes têm a terapia suspensa entre seis a 12 meses. Medicamentosa: tratamento dos estados maníaco-depressivos como o carbonato de lítio, grande quantidade de ingestão de iodo (ingestão de comprimidos com cinzas de algas marinhas ou xaropes contra tosse que contêm iodo, ou, ainda, administração de meios de contraste radiográfico contendo iodo ou da droga cardíaca amiodarona, que possui 75 mg de iodo em cada comprimido de 200mg e está cada vez mais apontada como causando problemas da tireoide também podem bloquear a produção do HT. Tireoidite de Hashimoto: distúrbio autoimune em que a glândula tireoide pode ser totalmente destruída por um processo imunológico. Ela é a principal causa de bócio e hipotireoidismo em crianças. Essa doença é predominantemente uma doença de mulheres, com uma razão de mulheres-homens de 5:1. A doença parece ser mais comum em algumas famílias, o que pode indicar um fator genético. A prevalência dessa doença aumenta à medida que as pessoas envelhecem. Figura 9: Paciente com hipotireoidismo (mixedema), apresentando inchação facial típica, cabelos quebradiços e aparência apática (à esquerda). A mesma paciente após tratamento com hormônio tireóideo (à direita), que reverteu os sintomas físicos. Hipotireoidismo secundário (lesão da hipófise): TSH (tireoide atrofiada), T3 e T4 Hipotireoidismo terciário (lesão do hipotálamo): TRH, TSH (tireoide atrofiada), T3 e T4 Figura 10: macroglossia HIPERTIREOIDISMO Sinais e sintomas: ansiedade, dificuldade de concentração, insônia, oftalmopatia (exoftalmia-olhos saltados)- figura 11, frequência cardíaca rápida, emagrecimento, irritabilidade, polifagia, agitação psicomotora, pele quente é úmida, insônia, taquipneia, evacuações frequentes, fraqueza muscular, sudorese. Figura 11: exoftalmia – acomete 1/3 dos pacientes com doença de Graves Hipertireoidismo primário (mais comum): Causas: Bócio difuso tóxico – doença de Basedow-Graves é a causa mais comum de hipertireoidismo. O médico Robert Graves a descreveu em 1835 e o médico alemão Karl Adolph von Basedow independentemente a descreveu em 1840. Tem início entre 20 e 40 anos, e as mulheres têm propensão ao desenvolvimento da doença cinco vezes maior que os homens. Constitui doença autoimune por anticorpos estimuladores da tireoide (TSI – imunoglobulina estimuladora da tireoide) que agem através dos receptores normais de TSH (também chamados de TRAB - anticorpos anti-receptor do TSH). Bócio uninodular tóxico (adenoma tóxico); Bócio multinodular tóxico ou doença de Plummer; Tireoidite sub-aguda: esta doença não tem causa conhecida e é caracterizada por inflamação importante da tireoide, que resulta em um aumento doloroso da glândula e na liberação de grandes quantidades de hormônio no sangue. Felizmente, esta situação geralmente se resolve espontaneamente. Tireoidite pós-parto: cerca de 5 a 10% das mulheres desenvolvem hipertireoidismo leve a moderado alguns meses após o parto. O hipertireoidismo nesta situação, geralmente, dura 1 a 2 meses, e frequentemente é seguido por vários meses de hipotireoidismo (diminuição da atividade da tireoide), o qual se recupera em grande parte das mulheres. Entretanto, em alguns casos, a glândula não se recupera, e o hipotireoidismo se torna permanente, sendo necessária a reposição hormonal ao longo da vida. Tireoidite silenciosa: hipertireoidismo transitório pode ser causado por uma tireoidite silenciosa, uma condição que parece semelhante à tireoidite pós-parto, mas não está relacionada à gestação e não é acompanhada de dor na glândula. Ingestão excessiva de iodo: várias substâncias com altas concentrações de iodo, tais como comprimidos de alga, alguns expectorantes e amiodarona (uma medicação utilizada no tratamento de arritmias cardíacas) podem, ocasionalmente, causar hipertireoidismo. Superdosagem de hormônio tireoideano: pacientes que recebem doses excessivas de hormônio tireoideano podem desenvolver hipertireoidismo. Esses pacientes devem ter uma avaliação da dosagem do hormônio tireoideano pelo médico no mínimo uma vez ao ano e jamais se automedicarem. HIPERTIREOIDISMO FELINO O hipertireoidismo é uma doença sistêmica que ocorre devido à atividade anormal da glândula tireoide, levando à produção excessiva dos hormônios tireoidianos (triiodotironina e tiroxina) (MOONEY, 2002). Foi descrita pela primeira vez em 1979 e, hoje em dia, é a endocrinopatia mais frequentemente diagnosticada em gatos, principalmente nos Estados Unidos da América. Tem sido diagnosticada com frequência em muitos outros países da Europa e em países como Japão e Nova Zelândia (FELDMAN; NELSON, 2004). O aumento no número de diagnósticos de hipertireoidismo felino deve-se à maior atenção do clínico em relação à enfermidade e a elaboração de meios diagnósticos cada vez mais sensíveis e disponíveis na rotina da clínica de pequenos animais (BROUSSARD; PETERSON; FOX, 1995; BRUYETTE, 2001). No Brasil, o número de casos de hipertireoidismo tem aumentado ao longo dos anos, assim como ocorreu em muitos países, sendo previsível que o diagnóstico da enfermidade passará a aumentar significativamente a partir desta década, razão pela qual os clínicos devem estar mais atentos a esta síndrome (CARLOS; ALBUQUERQUE, 2005; RECHE JUNIOR et al, 2007). O hipertireoidismo é mais frequente em gatos acima de 6 anos de idade. (FELDMAN; NELSON, 2004, OLCZAK et al, 2005; PETERSON, 1997) e não parece haver predileção por sexo ou raça (FELDMAN; NELSON, 2004; MOONEY, 2001). As manifestações clínicas da doença podem ser brandas ou severas, sendo modificadas em decorrência da duração do hipertireoidismo e presença de anormalidades concomitantes em vários sistemas do organismo. (PETERSON; TURREL, 1986). Na maioria dos casos o hipertireoidismo é uma enfermidade de evolução lenta e progressiva, uma vez que muitos pacientes apresentam um apetite que varia entre bom à excelente e são ativos ou mesmo hiperativos, passando por animais “saudáveis” por seus proprietários, até o momento em que começam a perder peso ou apresentar outros sintomas da doença (PETERSON, 2000). Outras manifestações clínicas comuns aos gatos com hipertireoidismo incluem a agressividade à manipulação, polifagia, polidipsia, poliúria e perda de peso excessiva (JOSEPH; PETERSON, 1993; PETERSON, 2000). O gato pode apresentar êmese frequente, geralmente pouco tempo após a ingestão do alimento, diarreia, esteatorreia e grande volume fecal (FELDMAN; NELSON, 2004; MERIC, 1989; PETERSON et al, 1983; PETERSON; TURREL, 1986). Alguns felinos com hipertireoidismo podem apresentar poliúria e polidipsia, sem evidência de disfunção renal. Acredita-se que a tireotoxicose possa prejudicar a capacidade de concentração da urina, ao aumentar o fluxo sanguíneo renal total, diminuindo desta forma, a concentração de solutos na medula renal; esta depleção pode causar poliúria com polidipsia compensatória (PETERSON, 1997; PETERSON et al, 1983). Considerando-se que as manifestações clínicas apresentadas por esses pacientes podem ser bastante semelhantes às encontradas em outras enfermidades, tais como Diabetes Mellitus, pancreatite, insuficiência e falência renal, doença intestinal inflamatória ou mesmo doençacardíaca, sugere-se um exame físico cuidadoso acompanhado de exames complementares confirmatórios para que não se deixe de diagnosticar o hipertireoidismo (GUNN-MOORE, 2005; JONES; JOHNSTONE, 1981). Devemos suspeitar de hipertireoidismo coexistente em qualquer gato de meia idade a idoso, principalmente se apresentarem sintomatologia relacionada a essa endocrinopatia (ANSEL, 1991). Durante a realização do exame físico é necessária a avaliação da glândula tireoide. Em um animal eutiroideo, a glândula não é palpável. Eventualmente com o aumento da glândula, esta pode ir para o mediastino anterior, sendo impossível a sua palpação (MERIC, 1989; NORSWORTHY et al, 2002; PETERSON, 1984; PETERSON; TURREL, 1986). Aproximadamente 70% dos gatos com hipertireoidismo apresentam aumento bilateral da glândula, enquanto os outros 30% apresentam apenas um lobo da glândula aumentado (PETERSON et al, 1983). Outras alterações observadas no exame físico e que podem sugerir o hipertireoidismo são: fraqueza muscular, astenia, fadiga associada à atividade física e ventroflexão do pescoço (FELDMAN; NELSON, 2004); agressividade e caquexia (PETERSON, 2000). Percebe-se, também, taquicardia, sopros sistólicos e arritmias. Sinais de insuficiência cardíaca congestiva também podem estar presentes, como dispneia, edema pulmonar e efusão pleural (MERIC, 1989). Radiograficamente observa-se cardiomegalia em 30 a 40% dos casos (MERIC, 1989). O eletrocardiograma típico destes animais revela taquicardia (mais que 240 batimentos por minuto) e aumento da amplitude da onda R na derivação DII. Ao exame ecocardiográfico observa-se hipertrofia do ventrículo esquerdo, dilatação atrial esquerda e aumento da contratilidade do miocárdio (BOND et al, 1988; FELDMAN; NELSON, 2004). A percepção da disfunção tireoidiana ocorre pelas observações da anamnese, exames físico e laboratorial, como, por exemplo, hemograma completo, perfil bioquímico sérico e urinálise (PETERSON, 2000). Para o diagnóstico do hipertireoidismo felino, pode-se determinar as concentrações séricas de T3 total ou livre, T4 total ou livre. Entretanto, observa-se que alguns gatos com hipertireoidismo comprovado apresentam os valores de T3 total dentro dos parâmetros normais para a espécie, a despeito da nítida elevação de T4 total ou livre (PETERSON, 1997). As concentrações de T4 total estão acima dos valores de referência na maioria dos gatos com hipertireoidismo e, portanto, é considerado o melhor teste para o diagnóstico da endocrinopatia felina (PETERSON; MELIÁN; NICHOLS, 2001). Em relação aos fatores de risco para a doença, nenhum foi identificado de forma definitiva para justificar o aumento da prevalência do hipertireoidismo em felinos. Várias causas têm sido sugeridas para o aumento do número de casos diagnosticados, incluindo o aumento da conscientização dos proprietários, aumento da popularidade de gatos como animais de estimação, aumento da longevidade, fatores ambientais e aumento da habilidade do veterinário em diagnosticar a doença (FELDMAN; NELSON, 2004). Segundo Peterson et al (1993) o aumento bilateral da glândula tireoide ocorre em 70% dos gatos com hipertireoidismo, sendo uma característica marcante da doença. Visto não haver conexão física entre os dois lobos tireoidianos, postula-se que fatores circulantes (p.e., imunoglobulinas), nutricionais (p.e., iodo), ou ambientais (p.e., toxinas ou agentes bociogênicos), possam interagir, causando a afecção tireoidiana no gato. Fatores nutricionais foram sugeridos como potencial agente indutor para o hipertireoidismo (SCARLETT, 1994). O primeiro estudo epidemiológico da doença encontrou associação entre o hipertireoidismo e o consumo de alimento enlatado para gatos, por pelo menos cinco anos antes do diagnóstico, gatos que residiam totalmente ou parcialmente dentro de casa e exposição regular a grama, jardins e produtos para controle de pulgas (SCARLETT; MOISE; RAYL, 1988). Em um estudo subsequente, observaram que o consumo de alimento comercial enlatado para gatos e o uso da liteira (caixa sanitária) foram associados com o aumento do risco para o hipertireoidismo. Neste caso, o uso de alimentos enlatados aumentou de 2 a 3 vezes o risco de desenvolvimento de hipertireoidismo (KASS et al, 1999). Ambos os estudos demonstraram que o grande risco para o hipertireoidismo associado com o consumo de alimento enlatado para gatos foi estatisticamente independente das outras variáveis avaliadas. Em um estudo realizado por Martin et al (2000), observou-se que com o aumento da idade e a preferência por certos sabores de alimentos enlatados para gatos, como peixe e fígado, foram associados com o aumento do risco para o hipertireoidismo. As rações contendo peixe em sua formulação podem conter alta concentração de iodo, pois peixes marinhos apresentam iodo em grande quantidade (MARTIN et al, 2000). Já em outro estudo realizado por Edinboro et al (2004), conclui-se que o aumento da prevalência para o hipertiroidismo não é somente o resultado do aumento da idade da população de felinos e que o uso de alimentos enlatados podem estar envolvidas na etiologia da doença. Alimentos que contêm uma grande quantidade de iodo podem ser uma possível causa para o hipertireoidismo felino. O iodo presente em alimentos comerciais para gatos varia amplamente, e as maiores variações ocorrem nos alimentos enlatados (MUMMA et al, 1986). Em um estudo realizado por Johnson et al (1992) observou-se que a concentração de iodo de 23 diferentes tipos de alimentos enlatados para gatos disponíveis na Nova Zelândia variou enormemente, de < 0,37 mol/Kg a 41,8 mol/Kg, enquanto 5 tipos diferentes de ração seca variaram de 5,06 mol/Kg a 7,0 2 mol/Kg. Os gatos tendem a alimentar-se o suficiente para satisfazer suas necessidades de energia metabolizável. Sobre a base de mol iodo/ kcal de energia metabolizável, existia ainda considerável variação no iodo presente nos alimentos enlatados quando comparado com as rações secas. A função da tireoide no gato, quando mensurada pelas concentrações séricas de T4 livre, é agudamente responsiva as mudanças na ingestão de iodo (Kyle et al, 1994). Pode ser que repetidas flutuações ou ciclos de altas e baixas concentrações da ingestão de iodo possam repetidamente ativar a tireoide, eventualmente levando a hiperplasia, alterações adenomatosas e hipertiroidismo (OLCZAK et al, 2005). Há grande evidência de que a alta ingestão de iodo possa eventualmente levar ao hipertireoidismo, particularmente se a ingestão excessiva for seguida de um período de deficiência de iodo (STUDER; GERBER, 1991). A constante ingestão excessiva de iodo é portanto, mais improvável de ser a única causa do hipertireoidismo, uma vez que o iodo não seria responsável por protelar ou progredir o curso natural da doença. Contudo, uma vez que se tenha desenvolvido um nódulo tireoidiano que secrete autonomicamente, a suplementação com iodo pode então exacerbar ou causar tireotoxicose progressiva e permanente (OLCZAK et al, 2005). A associação do consumo de alimentos enlatados para gatos com o desenvolvimento do hipertireoidismo sugere que o agente causal esteja presente no alimento ou no revestimento interno da lata. Pelo menos 25 tipos de substâncias são usadas para revestir latas de aço. O revestimento de latas inclui resina epoxi, policloreto de vinila e poliéster. A resina epoxi é mais comumente usada em latas que requerem abridor, e o policloreto de vinila é tipicamente usado em latas que vem com abridor e são facilmente abertas, pois são mais flexíveis. O éter diglicidilbisfenólico A é utilizado em ambos tipos de latas (SUMMERFIELD et al, 1998), já o éter diglicidilbisfenólico F é utilizado em latas que já vem com abridor. Foi detectada a migração destes componentes para dentro do alimento, principalmente aqueles com grande quantidade de gorduraou óleo. Altas concentrações de éter diglicidilbisfenólico A e éter diglicidilbisfenólico F foram encontradas mais em alimentos gorduros enlatados de fácil abertura do que em outros tipos de enlatados. (HAMMARLING et al, 2000). O éter diglicidilbisfenólico A é citotóxico e genotóxico in vitro (SUÁREZ et al, 2000); ele é um componente do bisfenol A (MUNGUIA-LOPEZ; SOTO-VALDEZ, 2001). Este último tem sido detectado em uma variedade de alimentos enlatados (GOODSON et al, 2002). Em ratos, o bisfenol A é eliminado primariamente via glucoronidação (POTTENGER et al, 2000). A fase da glucoronidação é mais lenta em gatos do que em outras espécies (COURT; GREENBLATT, 2000). O bisfenol A diminui às concentrações circulantes de triiodotironina em ratos, através da inibição da transcrição mediada por receptores da tireoide, que é dose dependente in vitro (MORIYAMA et al, 2002). A diminuição da triiodotironina, por sua vez, pode levar ao aumento da secreção do TSH e resultar no aumento da produção do hormônio tireoidiano, eventualmente levando a formação de bócio (TOHEI et al, 2001). A presença de éter diglicidilbisfenólico A nas dietas enlatadas para gatos não foi determinada; entretanto, o bisfenol A foi detectado em 15 alimentos enlatados para gatos. Em um estudo observou-se que de três marcas de enlatados para gatos produzidas nos Estados Unidos, duas tinham alta concentração de bisfenol A (KANG; KONDO, 2002). Alimentos comerciais enlatados para gatos tipicamente requerem um abridor ou são latas que já vem com o anel para puxar obtendo fácil abertura da lata. Estas últimas apresentam um revestimento interior diferente porque são mais flexíveis (SUMMERFIELD et al, 1998). Além disso, tem muito mais gordura do que os alimentos secos. A fabricação destes enlatados (de fácil abertura) para gatos começou no início dos anos 80. Desde então, o tamanho destas latas tem diminuído e, desta forma, a área de superfície por quilograma de alimento em contato com superfície interior da lata tem aumentado. Por isto, é possível que os gatos hoje estejam mais expostos a grandes quantidades de contaminantes solúveis na gordura dos alimentos do que no passado (EDINBORO et al, 2004). HIPOTIREOIDISMO CANINO Apesar de, na maior parte dos casos de hipotireoidismo congênito canino não se observar a ocorrência de bócio, quando existe falha na produção de TSH por parte da hipófise este pode desenvolver-se, com evidência histológica de hiperplasia folicular. Foi documentado bócio associado a hipotireoidismo num Fox terrier miniatura e em Rat terriers, cuja causa foi descrita como sendo uma mutação no gene que codifica a tireoperoxidase (Fyfe et al., 2003; Pettigrew et al., 2007). O déficit de produção de TSH é uma das possíveis causas para o hipotireoidismo juvenil em raças grandes como o Schnauzer gigante (Greco et al., 1991), Boxer (Mooney & Anderson, 1993) e Scottish Deerhound (Robinson, Shaw, Stanley & Wyburn, 1988). O hipotireoidismo terciário ainda não foi confirmado em cães. Contudo, há alguns casos de hipotireoidismo congênito que foram descritos, antes da possibilidade do uso do teste de estimulação com TSH, o que dificulta a distinção entre hipotireoidismo secundário e terciário (Scott-Moncrieff, 2007). O hipotireoidismo adquirido pode ser de origem primária ou secundária, sendo as causas de origem primária: (1) a tireoidite linfocitária, (2) a atrofia tireoidea, podendo esta ser de origem idiopática ou um estado final de tireoidite linfocitária, (3) e por fim, a neoplasia tireoidea primária ou metastática. A incidência do hipotireoidismo canino que está descrita é de entre 0,2% e 0,8% (Panciera, 1994b; Dixon, Reid & Mooney, 1999). A idade média do diagnóstico é aos 7 anos com um intervalo entre os 6 meses de idade e os 15 anos (Ettinger & Feldman, 2005). Embora um estudo feito nos EUA refira que nos animais castrados (fêmeas e machos) a incidência de hipotireoidismo é maior e que as raças com maior predisposição são os Golden retriever, Doberman pinscher e raças indeterminadas (Panciera, 1994b), num outro estudo mais recente feito no Reino Unido não se encontrou qualquer relação da incidência da doença com uma raça ou estado reprodutivo (Dixon et al., 1999). Os sinais clínicos mais comuns são os associados à diminuição do metabolismo basal e os sinais dermatológicos. Os hormônios da tireoide influenciam a taxa metabólica aumentando o metabolismo basal e o consumo de oxigénio na maior parte dos tecidos do corpo. Assim, uma diminuição da concentração de hormônios da tireoide provoca uma diminuição do metabolismo basal e o aparecimento dos sinais associados. Os sinais clínicos mais frequentemente associados à diminuição da taxa metabólica incluem letargia, fraqueza, ganho de peso, intolerância ao exercício e intolerância ao frio (Panciera, 1994b; Dixon et al., 1999). A obesidade ou aumento de peso está descrito em 44% a 47% dos cães com hipotireoidismo. Contudo, é preciso ter em mente que a sobrenutrição é mais comum que o hipotireoidismo em animais obesos. A letargia ou fraqueza foi descrita em 20% dos animais num estudo nos EUA e em 76% num estudo efetuado no Reino Unido (Panciera, 1994b; Dixon et al., 1999). Esta diferença pode ser reflexo das diferenças de apresentação e da gravidade da doença no momento da consulta. Os hormônios tireoideos são importantes para o funcionamento cutâneo normal, sendo que as alterações dermatológicas são descritas em 60 a 80% dos cães hipotireoideos (Panciera, 1994b; Dixon et al., 1999). Os sinais de diminuição da taxa metabólica em conjunto com os sinais dermatológicos devem aumentar a suspeita clínica de hipotireoidismo. As alterações reprodutivas atribuídas ao hipotireoidismo em canídeos machos são: diminuição da libido, atrofia testicular, hipospermia e azoospermia. Contudo, um estudo prospectivo no qual se induziu hipotireoidismo em 6 cães de raça Beagle com 131I (radioisótopo do iodo) revelou não existirem quaisquer alterações. A produção diária de espermatozoides e a sua mobilidade não diferia significativamente face ao grupo controle. Não foi também verificado diminuição da libido, nem qualquer diferença da qualidade dos espermatozoides, por um período de 2 anos (Johnson, Olivier, Nachreiner & Mullaney, 1999). Os sinais mais frequentemente associados ao hipotireoidismo são relativos ao sistema nervoso periférico. A explicação para as alterações neurológicas no hipotireoidismo é ainda mal conhecida. Pensa-se que haja uma deficiência em ATP (adenosina tri-fosfato) o que leva a um mau funcionamento da bomba de Na+/K+, provocando a diminuição da velocidade do transporte axonal e disfunção dos nervos periféricos (Scott-Moncrieff, 2007). A neuropatia periférica é a manifestação neurológica mais bem descrita no hipotireoidismo, sendo os cães idosos de raças grandes ou gigantes mais comumente afetados. Os sinais com maior incidência são a intolerância ao exercício, a fraqueza generalizada, a ataxia e a tetraparesia ou paralisia (Indrieri, Whalen, Cardinet & Holliday, 1987). As alterações do comportamento atribuídas ao hipotireoidismo incluem agressão e disfunção cognitiva. Há alterações cardiovasculares sutis que ocorrem no hipotireoidismo canino. Estas alterações podem ter efeito negativo a nível da condução do estímulo eléctrico, na contratilidade miocárdica, na frequência cardíaca e na função diastólica, podendo também haver alterações de atividade eléctrica (Scott- Moncrieff, 2007). A diminuição da frequência cardíaca pode ser devida à diminuição do consumo de oxigénio por parte dos tecidos, por alteração da sensibilidade adrenérgica ou por efeitos diretos dos hormônios da tiroide no coração. A bradicardia é o sinal cardiovascular mais facilmente detectado e foi encontrado em 5-26% dos casos de hipotireoidismo (Panciera, 2001; Panciera, 1994a). O hipotireoidismo primáriono cão é uma doença que pode ter variadas apresentações clínicas, como tal, integra-se em vários diagnósticos diferenciais não sendo por isso uma doença com diagnóstico definitivo simples. Para atingir o diagnóstico definitivo, o médico veterinário deve ter em mente algumas considerações prévias aos testes de função tireoidea, para assim diminuir a probabilidade de ocorrência de falsos positivos. Assim, deve descartar a hipótese dos canídeos terem doenças concomitantes como hiperadrenocorticismo ou epilepsia idiopática, bem como a possibilidade de estarem a ser medicados com fármacos que provoquem falsos positivos. Deste modo, conclui-se que os testes de função tireoidea não devem ser interpretados isoladamente, devem sim, ser interpretados tendo em conta toda a história clínica, sintomatologia e analíticas sanguíneas.
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