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FISIOLOGIA TIREOIDEA

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FISIOLOGIA TIREOIDEA 
 
 A tireoide é a primeira glândula endócrina a surgir no embrião, o que ocorre na 3ª semana. Ela tem o 
formato de uma borboleta, com dois lobos unidos por um istmo que se apoia frouxamente sobre a traqueia na 
região anterior do pescoço abaixo da cartilagem tireóidea e imediatamente abaixo da cartilagem cricoidea 
(figura1). Sua localização permite a avaliação clínica da glândula pela palpação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1: Vista da glândula tireoide. 
 No homem adulto pesa em torno de 15 a 25 gramas. Sob estímulos específicos pode ocorrer 
proliferação celular com aumento da glândula para 50 ou até 800 gramas, o que chamamos de bócio (figura 
2). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2: Bócio 
 
0 
 
 A tireoide secreta os hormônios tiroxina ou tetraiodotironina (T4) e triiodotironina (T3). Os hormônios 
tireoideos (HT) exercem importante papel no desenvolvimento, crescimento e metabolismo. Esses hormônios 
têm seus receptores presentes em quase todos os tecidos do corpo sendo essencial no consumo de oxigênio 
e no metabolismo celular. 
 Mecanismo molecular: 
 ligação do T3 aos receptores nucleares com modificação da expressão gênica da célula; 
 atuação direta de T3 e T4 em vias de sinalização intracelular. 
O folículo é a unidade funcional da glândula, onde ocorre o processo de biossíntese, armazenamento e 
secreção dos hormônios tireoideos (figura 3). Os folículos tireoidianos são preenchidos por coloide, cujo 
principal componente é uma proteína, a tireoglobulina (Tg). É nas células foliculares que se inicia o processo 
de biossíntese dos hormônios tireoideos (intracelular) e no coloide é que ela é concluída (extracelular), de 
forma que o T3 e o T4, que são os principais HT elaborados, permanecem no interior da tireoglobulina até se 
iniciar o processo de secreção hormonal. Nós temos um estoque de hormônios tireoideos armazenados no 
coloide que suprem nossa necessidade por várias semanas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3: folículo tireoideo 
 
 
A célula folicular apresenta-se cuboide em situações de eutireoidismo, porém quando o indivíduo 
apresenta hipotireoidismo com elevação do TSH (hormônio estimulador da tireoide) ocorre hipertrofia dessas 
células que então apresentarão formato cilíndrico com diminuição do lúmen e aumento da quantidade de 
vasos entre os folículos aumentado o espaço entre os mesmos. Quando há diminuição do TSH o epitélio se 
torna pavimentoso com lúmen amplo. 
A ingestão de iodo é indispensável para a síntese dos hormônios tireoideos, sendo a maior fonte de iodo, 
o mar; dessa forma os alimentos ricos em iodo são os derivados do ambiente marinho. O iodo ingerido é 
reduzido a iodeto no trato digestório, por ação de bactérias, sendo absorvido no intestino delgado. Portanto, é 
na forma de iodeto que o iodo se apresenta na circulação, de onde é captado pela tireoide e utilizado para a 
biossíntese hormonal. Nas regiões próximas ao litoral acumula-se iodo no solo pela chuva proveniente da 
evaporação da água do mar, assim sendo, frutas e vegetais cultivados nessas regiões absorvem 
concentrações significativas de iodo. Por apresentarem iodo em sua composição os hormônios tireóideos 
possibilitam a avaliação funcional da glândula, por meio da utilização de iodo radioativo. 
A ingestão alimentar recomendada de iodo é de 150g para um adulto normal. 
A carência de iodo e consequente falta de hormônios tireoideos durante o período fetal ocasiona déficit do 
crescimento e desenvolvimento neurológico, denominado cretinismo (figura 4). As consequências clínicas da 
falta de iodo refletem-se em todas as faixas etárias, caracterizando as doenças associadas à deficiência de 
iodo, o que causa aumento da glândula denominado bócio endêmico (figura 5). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Célula folicular ou tireócito 
Colóide 
Membrana 
basolateral 
Membrana apical 
 
Figura 4: uma criança com cretinismo 
 
 
 
BIOSSÍNTESE DOS HORMÔNIOS TIREOIDEOS (Figura 6) 
 Este processo inicia-se com a captação de iodeto pela porção basal da célula folicular tireoidiana e 
envolve várias etapas: 
1.Captação do iodeto: o transporte do iodeto (I-) para o interior da célula ocorre contra um gradiente 
eletroquímico, uma vez que o potencial de repouso da célula tireoidiana é negativo, e por ela apresentar 
concentração elevada de iodeto; esse transporte é realizado pela proteína NIS (Co-transportadora Na+/I-) 
localizado na superfície basolateral do tireócito, que promove a entrada de iodeto utilizando a força motriz do 
Na+, o qual entra na célula obedecendo um gradiente de concentração que é mantido pela Na+/K+-ATPase 
(2Na+:1I -). Dentro da célula o iodeto difunde-se em direção ao ápice sendo transportado pela pendrina (que é 
um canal de ânions cloro/iodeto), localizada na membrana apical da célula folicular. 
. O transporte de iodeto é inibido por: perclorato e tiocianato, que são utilizados na prática clínica com a 
finalidade de diminuir a síntese dos hormônios tireoideos. 
Perclorato: inibe a captação de iodeto e também facilita seu efluxo. 
Tiocianato: aumenta o efluxo de iodeto. 
Outros locais além da glândula tireoide também apresentam a proteína NIS: glândulas salivares, mucosa 
gástrica e glândulas mamárias no período de lactação. 
2.Oxidação do iodeto: a seguir o iodeto é oxidado pela enzima tireoperoxidase (TPO), que está localizada 
na membrana apical da célula folicular; em paralelo à oxidação do iodeto, a TPO também oxida um ou dois 
sítios de algumas tirosinas, presentes na tireoglobulina, criando-se então condições para que o iodo oxidado 
aí se incorpore. Para oxidar o iodeto a TPO necessita do cofator peróxido de hidrogênio gerado pela dual 
oxidase (DUOX). O iodo oxidado então será incorporado aos resíduos tirosil da tireoglobulina (Tg) sendo essa 
reação também catalisada pela TPO. Esse processo de incorporação do iodo à Tg é conhecido como 
organificação do iodo ou iodação da Tg. 
Figura 5: cretinismo mixedematoso endêmico na 
República Democrática do Congo. No esquema temos 
4 habitantes com idades entre 15 e 20 anos: um rapaz 
normal e 3 meninas com severo déficit no 
crescimento, hipotireoidismo com nanismo, retardo no 
desenvolvimento sexual, face inchada, cabelos secos 
e retardo mental severo. Mixedema: edema com 
acúmulo de mucopolissarídeos/glicosaminoglicanas, 
pois a tiroxina diminui a síntese dos ácidos hialurônico 
e condroitino-sulfúrico 
 
3.Acoplamento das iodotirosinas: A tireoglobulina possui entre 132 a 140 aminoácidos tirosina aos quais o 
iodo oxidado poderá ser incorporado sendo que apenas 1/3 desse total será iodado. Quando 1 molécula de 
iodo é incorporada à tirosina gera-se monoiodotirosina (MIT) e quando temos dois iodos incorporados gera-se 
diiodotirosina (DIT), sendo essa reação também catalisada pela TPO. Após essa etapa temos o acoplamento 
das iodotirosinas, reação também catalisada pela TPO. Ocorrem os seguintes acoplamentos: 
1 MIT + 1 DIT = formando T3 ou rT3 (que diferem quanto à posição da iodação) 
1 DIT + 1 DIT = formando T4 
1 MIT + 1 MIT = formando T2 (diiodotironina) 
 Essas moléculas geradas permanecem no coloide, presas à Tg. Todas as proteínas envolvidas 
nessas etapas, desde a tireoglobulina, têm sua síntese estimulada pelo TSH. Essa é a razão pela qual a 
função tireoidiana depende desse hormônio hipofisário. 
 
Figura 6: Secreção dos hormônios tireoideos. NIS: co-transportador Na+/I-; Tg: tireoglobulina; MIT: 
monoiodotirosina; DIT: diiodotirosina (Esquema do arquivo do Laboratório de Fisiologia Endócrina Doris 
Rosenthal). 
 
TRANSPORTE PLASMÁTICO 
 Mais de 99% dos HT se apresentam ligados a proteínas transportadorasplasmáticas, as quais 
determinam a porcentagem de hormônio livre (que é o que exerce efeito biológico) presente na circulação. 
Essas proteínas são: a TBG (globulina transportadora de hormônio tireoidiano), TTR (transtiretina) e a 
albumina. A TBG e a TTR apresentam maior afinidade ao T4 que ao T3, de modo que, em termos porcentuais, 
há mais T3 do que T4 circulando na forma livre; já a albumina liga-se tanto ao T4 quanto ao T3, bem como a 
outros hormônios como os glicocorticoides e os esteroides sexuais. Quando os HT se dissociam das 
proteínas transportadoras, ficam na forma livre, tornando-se disponíveis, por um curto período de tempo, para 
os tecidos-alvo, onde vão exercer os efeitos biológicos. Quando ocorre elevação da fração livre de HT na 
circulação ajustes fisiológicos são desencadeados para a sua correção dentro dos limites da normalidade. 
Quando há falhas nesse sistema de ajuste, ocorre aumento na concentração de HT livre na circulação, de 
modo que os seus efeitos biológicos nos tecidos tornam-se exacerbados, o que resulta no quadro de 
hipertireoidismo. 
 
METABOLIZAÇÃO DAS IODOTIRONINAS 
NISNIS
exocitose
síntese
I-
glicose aminoácidos
I-
proteólise
endocitose
Membrana basal
TG
TG
T3
MIT
DIT
T4
MIT
DIT
T4
T4
T3
MIT 
DIT 
33TT44 e Te T
T3
5’ desiodase
NISNIS
exocitose
síntese
I-
glicose aminoácidos
I-
proteólise
endocitose
Membrana basal
TG
TG
T3T3
MIT
DIT
T4T4
MIT
DIT
T4T4
T4
T3
T4
T3
MIT 
DIT 
MIT 
DIT 
33TT44 e Te T
T3T3
5’ desiodase
 Os HT, após exercerem seus efeitos biológicos, são metabolizados, principalmente no fígado e nos 
rins, o que resulta na geração de outros produtos. 
Um dos processos de metabolização é a conjugação hepática dos HT com sulfatos e glicuronatos, 
forma pela qual eles passam a compor a bile, sendo eliminados pelas fezes. 
Podem também sofrer desaminação e descarboxilação oxidativa, gerando TETRAC (ácido 
tetraiodotiroacético) a partir do T4 e TRIAC (ácido triiodotiroacético) a partir do T3, ou ainda sofrerem hidrólide 
da sua ligação éter. A desiodação pode gerar tanto produtos inativos (rT3) bem como produtos (T3) que 
apresentam atividade maior que o seu precursor (T4). Assim o T4 pode ser desiodado e gerar um precursor 
inativo, a T3 reversa, mas também pode gerar T3, que apresenta atividade biológica muito maior que a do T4. 
 O processo de desiodação do T4 ocorre por meio de enzimas desiodases, que se apresentam nas 
isoformas classificadas como D1, D2 e D3 (figura 7). As D1 e D2 geram T3 a partir de T4, pela desiodação do 
anel externo (5’-desiodação) e os tecidos que apresentam maior expressão de D1 (fígado, rins, músculo 
esquelético, bem como os leucócitos) exercem predominantemente o papel de exportadores deste hormônio 
para a circulação, sendo os responsáveis pela maior parte do T3 presente na circulação. Assim, a redução da 
atividade desta enzima que ocorre, por exemplo, em situações de estresse físico e emocional, leva à 
diminuição da taxa de T3 circulante (síndrome do T3 baixo). Por sua vez, hipófise, sistema nervoso central, 
placenta, tecido adiposo marrom, que apresentam expressão elevada de D2, exportam T3, que é 
preferencialmente utilizado no próprio tecido, embora estudos recentes tenham apontado a D2 como 
importante também para a manutenção dos níveis circulantes de T3. 
A reação de inativação tanto do T4 como do T3 é catalisada pelas enzimas D1 e D3 através da 
desiodação do anel interno (5-desiodação), sendo considerada a via bioinativadora 
 Ao contrário da D1, que tem sua atividade estimulada pelos HT, a atividade e a expressão da D2 é 
bastante reduzida na presença deles, e aumentada na vigência do hipotireoidismo, quadro em que ocorre 
redução da concentração plasmática de HT, com consequente redução de seus efeitos biológicos. Esse 
mecanismo permite que tecidos, como hipófise e SNC, mantenham suas concentrações intracelulares de T3, 
mesmo na vigência de uma elevação ou redução da oferta de HT, o que é de importância biológica 
significativa, em função do papel desses tecidos como reguladores centrais dos processos biológicos. 
 A D3 converte T4 a rT3 e T3 a T2, sendo responsável, portanto, pela inativação biológica dos HT. Essa 
enzima tem sua atividade elevada em situações de hipertireoidismo e é bastante expressa no período 
embrionário, bem como logo após o nascimento. Nesses períodos do desenvolvimento vários tecidos ainda 
não atingiram a sua maturação completa e o aporte de HT deve estar dentro de limites fisiológicos para que 
as expressão dos genes que controlam seus genes-alvo seja adequada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 7: Vias de ativação e inativação do T4 pelas enzimas desiodases (Gereben et al., 2008). 
REGULAÇÃO DA FUNÇÃO TIREOIDEA 
Sistema hipotálamo-hipófise-tireoide (HHT). A função tireoidea é regulada fundamentalmente pelo 
hormônio tireotrófico (TSH), produzido pela adeno-hipófise, o qual estimula todas as etapas da síntese e 
secreção dos hormônios tireoideos (figura 8): 
- estimula a síntese e a secreção dos hormônios tireoideos; 
- estimula o crescimento e proliferação celular; 
- promove o influxo de iodeto; 
CH2 - CH - COOH
NH2
3’
5’ 5
3
OHO
I
I
I
I
3,5,3`,5` - tetraiodotironina (tiroxina, T4)
CH2 - CH - COOH
NH2
5’
OHO
I
I
I
CH2 - CH - COOH
NH2
5
OHO
II
I
CH2 - CH - COOH
NH2
5’ 5
OHO
II
3,3`,5` - triiodotironina (T3 reverso)3,5,3` - triiodotironina (T3)
3,3` - diiodotironina
Ativação (D1), D2 Inativação(D1), D3
D1, D2Inativação (D1), D3
 
- promove a iodação da tireoglobulina e a secreção dos hormônios tireoideos estimulando a formação de 
pseudópodes. 
 A concentração plasmática de TSH circulante reflete a função tireoidiana e por isso é utilizado na 
prática clínica. 
 A síntese e secreção de TSH encontra-se sob o controle: (a) de dois hormônios hipotalâmicos, o 
hormônio liberador de TSH (TRH) e a somatostatina (SS ou GHRIH), os quais atuam em células específicas 
da adeno-hipófise responsáveis pela síntese e secreção de TSH, os tireotrofos, estimulando ou inibindo, 
respectivamente, a síntese e a secreção de TSH; assim como (b) dos hormônios tireoideos, os quais exercem 
efeitos diretos nos tireotrofos, reduzindo sua secreção, bem como sobre o hipotálamo, reduzindo a secreção 
de TRH e estimulando a de SS. A secreção de TSH resulta, portanto, do efeito desses hormônios sobre os 
tireotrofos. Esse mecanismo de regulação desencadeada pela concentração plasmática dos hormônios 
tireoideos é conhecido como mecanismo de retroalimentação negativa ou de feedback negativo. Dessa 
forma, a elevação da concentração plasmática dos HT provoca uma maior inibição da secreção desses dois 
hormônios (TRH e TSH), o que leva à redução da secreção hormonal tireoidiana. Ao contrário, a redução das 
concentrações plasmáticas de HT leva à menor inibição da secreção hipofisária de TSH e hipotalâmica de 
TRH, o que provoca estimulação da função tireóidea e elevação da concentração plasmática de HT. 
 
 
 A tireoide também sofre modificações na sua função em decorrência da oferta de iodo pela dieta. 
Sabe-se que a redução da ingestão de iodo leva à diminuição da síntese de HT, cujo resultado é a elevação 
da secreção de TRH e TSH. Quando o estoque de HT se esgota, o TSH continua exercendo seus efeitos 
proliferativos sobre a glândula, levando ao seu aumento de peso, fenômeno conhecido como bócio; caso 
esse bócio esteja limitado a determinada região, afetando a população desse local, é denominado de bócio 
endêmico. 
 O aumento do aporte de iodo, por outro lado, leva a efeitos que dependem da dose e da duração da 
sua administração. Assim, a elevação moderada da ingestão de iodo e por curto período de tempo leva, 
inicialmente,a um aumento da síntese de HT. Por outro lado, a administração aguda de doses excessivas de 
iodo provoca inibição da atividade tireoidiana, fenômeno conhecido como efeito Wolff-Chaikoff. 
 Em estado de deficiência de iodo o transporte de iodeto é aumentado e em caso de maior 
disponibilidade ocorre o oposto. 
Excesso de iodeto organificado, como ocorre com a administração de altas doses de iodo, causa: 
diminuição da atividade da proteína NIS, diminuição da organificação do iodeto (efeito Wolff-Chaikoff), 
diminuição da secreção de T3 e T4 armazenados no coloide e bloqueio da DUOX. 
Quando diminui a concentração de iodo organificado dentro da glândula a inibição exercida pelo 
processo auto-regulatório cessa, fenômeno conhecido como escape à inibição do iodo (escape ao efeito 
Wolff-Chaikoff, observado de 2 a 3 dias após, mesmo com a manutenção do excesso de iodo). 
O efeito inibitório do excesso de iodo é aplicado para auxiliar no tratamento de pacientes com 
hipertireoidismo muito severo. 
 
Figura 8: Eixo hipotálamo-hipófise-tireoide. TRH: hormônio liberador de tireotrofina; TSH: hormônio 
estimulador da tireoide. 
 
 
Outros fatores 
 Algumas condições, por provocarem, indiretamente, alterações na concentração dos HT livres no 
plasma, levam a respostas reguladoras do sistema HHT. Na gravidez, o aumento da concentração de 
estrógenos circulantes causa redução da taxa de metabolização das proteínas transportadoras de HT (TBG, 
TTR e albumina), elevando a sua meia-vida (t½) e a sua concentração plasmática. Por conseguinte, a taxa de 
HT livres se reduz, o que gera aumento na atividade do sistema HHT e elevação da concentração de HT 
livres circulantes até a normalização. Um segundo fator a se considerar na gravidez é a elevação da secreção 
do hormônio placentário gonadotrofina coriônica (GCH) que, pela sua semelhança estrutural com a molécula 
de TSH, passa a ser reconhecido pelos receptores de TSH presentes nas células foliculares tireoidianas e a 
estimular sua atividade. 
 Os estrógenos também aumentam a secreção hipofisária de TSH em resposta ao TRH, mecanismo 
que parece ser devido ao aumento da expressão de receptores de TRH nos tireotrofos. 
 Os glicocorticoides, por outro lado, levam à diminuição da função tireoidiana por reduzirem a resposta 
do TSH ao TRH, possivelmente por promoverem a diminuição da expressão de receptores de TRH nos 
tireotrofos. Em paralelo a essa inibição central, o cortisol exerce um efeito inibidor sobre a atividade da D1, de 
modo que a conversão periférica de T4 a T3 fica reduzida, bem como a concentração plasmática de T3. 
 
MECANISMOS DE AÇÃO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS 
 Apesar da sua relativa solubilidade no meio lipídico, soube-se recentemente que o acesso dos HT às 
suas células-alvo depende fundamentalmente de proteínas transportadoras específicas (para T3 e T4) 
localizadas na membrana plasmática. Nessas células os HT são reconhecidos por proteínas nucleares, os 
receptores de HT (TR), que são fatores transcricionais. Quando o HT se liga ao seu receptor, ele ativa ou 
inibe (dependendo do gene) a transcrição de genes específicos e, portanto, a síntese de proteínas 
específicas, que são responsáveis pelos efeitos biológicos. Esse mecanismo de ação é denominado 
genômico. O T3 é o principal mediador, já que os receptores de HT apresentam maior afinidade e 
especificidade a este que ao T4. 
 Entretanto, existem efeitos dos HT, que ocorrem muito rapidamente, e na presença de bloqueadores 
da transcrição gênica, o que indica que esses também exerçam ações não genômicas. Essas ações são 
mediadas principalmente por T4, rT3 e T2 e são evidenciadas em mitocôndrias, no citoesqueleto, na 
membrana celular, bem como na atividade de algumas quinases. 
 
FUNÇÕES DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS 
Metabólicas 
 Os HT são um dos principais reguladores da taxa metabólica basal, sendo imprescindíveis para a 
manutenção da temperatura corporal. Eles ativam tanto a síntese quanto a hidrólise de ATP, processos esses 
que levam à produção de calor. Também estimulam a síntese de proteínas desacopladoras (UCPs), as quais 
promovem a dissipação da energia do gradiente de prótons na forma de calor. Estimula a transcrição de 
genes que codificam ATPases, como a bomba Na+/K+. bomba de cálcio do retículo sarcoplasmático (SERCA) 
e cadeia pesada da miosina (MHCs), que, por hidrolisarem ATP, aumentam a produção de calor. 
 Dessa forma, compreende-se porque no hipotireoidismo, situação em que ocorre redução da 
concentração de HT na circulação e, portanto, dos seus efeitos fisiológicos, o indivíduo apresenta intolerância 
ao frio, com ativação de mecanismos que evitam a perda de calor, como vasoconstrição periférica, razão pela 
qual ocorre palidez e ressecamento da pele, com repercussões nos anexos cutâneos, como enfraquecimento 
dos cabelos e unhas. Ao contrário, no hipertireoidismo, a elevação da calorigênese ativa processos 
termolíticos para manutenção da temperatura corporal, como vasodilatação periférica, de modo que a cútis se 
apresenta mais avermelhada e umedecida, os cabelos mais brilhantes, unhas fortes, entre outras alterações. 
 Sobre o metabolismo lipídico. Os HT são potentes estimuladores da lipogênese no fígado, tecido 
adiposo marrom e branco e glândulas mamárias. Por outro lado, eles são muito mais eficientes em 
promoverem a lipólise nesses mesmos tecidos. O mesmo ocorre com o colesterol, já que os HT estimulam 
tanto a síntese quanto o catabolismo do colesterol, sendo que esta última ação predomina sobre a primeira. 
 Sendo assim, no hipotireoidismo observa-se aumento da massa gorda e da colesterolemia, enquanto 
no hipertireoidismo observa-se emagrecimento, cujo grau depende do estado hipertireoideo estabelecido, e 
redução da colesterolemia. 
Sobre o metabolismo dos carboidratos. Os HT estimulam a absorção intestinal dos carboidratos e a 
produção hepática de glicose (gliconeogênese), que aumentam o aporte de glicose no plasma. Também 
aumentam a utilização de glicose pelas células, já que, por ativarem alguns ciclos de substratos que fazem 
parte de via glicolítica, reduzem a concentração de glicose livre intracelular, gerando-se assim um gradiente 
de glicose livre favorável à sua entrada na célula. Estimulam a síntese de GLUT4, que é altamente expressa 
no tecido adiposo branco, marrom, músculo cardíaco e esquelético. 
Sobre o metabolismo das proteínas. Os HT estimulam tanto a síntese quanto o catabolismo das 
proteínas. Esses efeitos são mais evidentes em tecidos como o músculo esquelético, que constitui o principal 
depósito de proteínas do organismo. No hipertiroidismo, há predomínio do catabolismo proteico, razão pela 
qual ocorre intensa fraqueza muscular. Esta alteração também se manifesta no indivíduo hipotireoideo, em 
função da redução da sua massa muscular, que ocorre em decorrência da diminuição da síntese proteica. 
 
Crescimento e desenvolvimento 
 Hormônio do crescimento (GH) e fatores de crescimento. Os HT estimulam a transcrição do gene 
do GH (efeito genômico), levando ao aumento da síntese deste hormônio. Há evidências de que eles também 
estimulam a síntese de receptores de GH. 
 Como o crescimento pós-natal depende basicamente da produção adequada de GH, nota-se a 
importância da manutenção da atividade tireoidiana dentro da normalidade nesse período do 
desenvolvimento. Assim, crianças hipotireoideas apresentam déficit de crescimento, que é prontamente 
restabelecido pela reposição de HT. 
 Os HT também aumentam a produção de fatores de crescimento semelhantes à insulina (IGFs) em 
tecidos como os músculos independente das suas ações sobre o GH, bem como influenciam positivamente a 
produção de fator de crescimento neuronal (NGF) e IGF no sistema nervoso central. 
 Substância surfactante. No período fetal, os HT participam da regulação da síntese e secreção da 
surfactante pulmonar, cujo papel é diminuira tensão superficial alveolar, evitando o colabamento dos alvéolos 
pulmonares. 
 
Sistêmicas 
 Sistema nervoso (SN). No período embrionário, o T3 é fundamental para a multiplicação celular e 
sinaptogênese no SNC, bem como para a mielinização neuronal, efeitos que decorrem de seu estímulo sobre 
a síntese de NGF. A vascularização do SN também depende de IGFs produzidos por estímulos do HT. No 
período neonatal, o T3 dá continuidade ao processo de sinaptogênese. Assim, a deficiência de produção de 
HT pelo feto traz repercussões extremamente graves para o desenvolvimento do SN, levando ao quadro de 
cretinismo, caracterizado por um extremo grau de retardo mental. Essa deficiência pode ser detectada ao 
nascimento, pelo teste do pezinho, onde se dosa dentre outros hormônios, o TSH, o qual se elevado, indica o 
hipotireoidismo congênito. Esse teste também é utilizado para avaliação da concentração de fenilalanina, já 
que defeitos na sua metabolização levam à fenilcetonúria, outra causa de debilidade mental. 
 Caso o cretinismo seja constatado, o tratamento imediato com T3 pode fazer com que o quadro seja 
praticamente revertido, já que a sinaptogênese e a mielinização poderão ser estimuladas, o que fará com que 
os neurônios, mesmo em número reduzido, possam estabelecer conexões sinápticas adequadas. 
 Na idade adulta, os HT são importantes para a manutenção do sistema ativador reticular ascendente 
(SARA), representado por um conjunto de fibras nervosas que partem da formação reticular do tronco 
encefálico para o córtex cerebral, determinando o nível de atenção, fator fundamental para a manutenção e 
desenvolvimento dos processos cognitivos (aprendizado). Esta é a razão pela qual, no hipertireoidismo, o 
excesso de atividade deste sistema gera um estado de alerta contínuo, o que se por um lado facilita o 
aprendizado, por outro lado leva à insônia, o que é extremamente prejudicial à saúde. No hipotireoidismo a 
diminuição da atividade do SARA provoca dificuldade na aprendizagem e sonolência. 
 O aumento da excitabilidade do SNC induzido por hormônios tireoidianos pode decorrer de uma 
sensibilidade aumentada às catecolaminas. Sabe-se que os HT aumentam a expressão de receptores beta-
adrenérgicos em alguns tecidos, como o cardíaco e o adiposo. 
 
Sistema cardiovascular. Os HT regulam a expressão de vários genes que codificam proteínas 
importantes para a função cardíaca. Dessa forma, os HT estimulam a síntese da isoforma  da cadeia pesada 
da miosina (MHC), a qual, por apresentar atividade ATPásica elevada, confere maior velocidade de 
contração ao músculo cardíaco. Aumentam a expressão da bomba de Ca2+ do retículo sarcoplasmático 
(SERCA2), que remove o Ca2+ do sarcoplasma, encurtando assim o tempo de contração do músculo 
cardíaco. Ainda aumentam a expressão das proteínas HCN2 e HCN4, que são canais de K+ expressos no 
nodo sinusal, responsáveis pela atividade marcapasso desta estrutura. Essas ações, em conjunto, são 
determinantes para a imposição da frequência cardíaca (FC). A expressão de MHC, além de aumentar a 
velocidade de contração determina aumento da força de contração e, portanto, do volume sistólico (VS). 
Essas são as razões pelas quais, no hipertireoidismo, o débito cardíaco (DC= FC*VS) encontra-se elevado. 
No entanto, a pressão arterial média (PA) não se modifica devido à vasodilatação periférica reflexa que ocorre 
em virtude do efeito calorigênico dos HT, a qual diminui a resistência vascular periférica (RVP) (PA= 
DC*RVP). 
Além dessas ações diretas dos HT no músculo cardíaco, estes aumentam a expressão de receptores 
β-adrenérgicos neste tecido, sensibilizando-o à ação das catecolaminas, o que reforça os efeitos diretos dos 
HT descritos. Por outro lado, a expressão de GLUT4 e de mioglobina (Mb), que se apresenta aumentada no 
hipertireoidismo, possibilita maior afluxo de glicose para o músculo cardíaco, bem como maior oxigenação e 
remoção de espécies reativas de O2 que são produzidas em paralelo à maior produção de ATP pelas 
mitocôndrias. 
 
Sistema respiratório. Os efeitos dos HT sobre o sistema respiratório são decorrentes de suas ações 
sobre a taxa metabólica basal, que é avaliada em termos de consumo de O2 e produção de CO2. A pO2 e 
pCO2, juntamente com o pH sanguíneo, são os principais determinantes da frequência respiratória. Assim, a 
elevação da taxa metabólica basal, observada no hipertireoidismo, por gerar aumento do consumo de O2 e da 
produção de CO2, promove queda da pO2 e pH e aumento da pCO2 sanguíneos. Essas alterações são 
detectadas por quimiorreceptores centrais e periféricos, gerando-se hiperventilação reflexa para correção 
destes parâmetros. A vasodilatação reflexa também contribui com o aumento das trocas gasosas, com a 
utilização dos substratos energéticos e remoção de produtos finais de catabolismo. 
 
Sistema muscular esquelético. Há predomínio do catabolismo proteico no hipertireoidismo, o que 
limita a atividade muscular. 
 
Sistema ósseo. Há evidências de que os HT aumentam a expressão de osteocalcina, hormônio 
importante para mineralização óssea, uma das etapas da osteogênese. No entanto, tal qual ocorre com 
proteínas musculares, nos estados de hipertireoidismo, observa-se aumento do catabolismo proteico, 
predominando a osteólise, ocorrendo, portanto, perda de massa óssea. 
 
ALTERAÇÕES NA FUNÇÃO TIREOIDEA 
 Uma alteração na função da tireoide pode constituir um estado hipo- ou hiperfuncional. Os distúrbios 
da tireoide podem ser decorrentes de defeito congênito no desenvolvimento da tireoide ou podem 
desenvolver-se mais tardiamente na vida, com início gradual ou súbito. 
 O bócio é o aumento no tamanho da glândula. Pode ocorrer nos estados hipotireoideo, eutireoideo e 
hipertireoideo. Pode ser difuso, envolvendo toda a glândula sem evidências de modularidade, ou conter 
nódulos. Os bócios difusos geralmente se tornam nodulares. Os bócios podem ser tóxicos, produzindo sinais 
de hipertireoidismo extremo, ou tireotoxicose, ou serem não-tóxicos, sendo estes últimos difusos, e os 
multinodulares decorrentes da hipertrofia e hiperplasia compensatórias do epitélio folicular por algum distúrbio 
que prejudica a produção do hormônio da tireoide. O grau de aumento da tireoide geralmente é proporcional à 
extensão e duração da deficiência da tireoide. 
 
HIPOTIREOIDISMO 
Sinais e sintomas (figura 9): cretinismo, macroglossia (figura 10), intolerância ao frio, mixedema, obesidade, 
bradicardia, constipação, sonolência, amenorreia, diminuição do libido, pele seca e fria, diminuição do apetite. 
Hipotireoidismo primário sem bócio: TSH, T3 e T4 
Causas: 
Defeito congênito de desenvolvimento: afeta aproximadamente um em cada 4.000 lactentes. Pode 
decorrer de ausência congênita da glândula tireoide ou da biossíntese anormal do hormônio da tireoide ou 
secreção ineficiente do TSH. Na ausência congênita da glândula tireoide, o lactente geralmente parece 
normal e seu organismo parece funcionar normalmente ao nascimento porque os hormônios foram supridos 
no útero pela mãe. As manifestações do hipotireoidismo congênito não-tratado são designadas como 
cretinismo. Entretanto, o termo não se aplica aos lactentes em desenvolvimento normal nos quais foi 
instituída, logo após o nascimento, a terapia de reposição do hormônio da tireoide. 
 Quando não tratado, o hipotireoidismo congênito causa retardo mental e prejudica o crescimento. 
Estudos por períodos prolongados mostram que a suplementação da T4 monitorada atentamente e iniciada 
nas seis primeiras semanas de vida acarreta inteligência normal. As doses administradas devem ser 
ajustados à medida que a criança cresce. 
Idiopática primária: onde não se conhece as causas da falha do funcionamento da tireoide. Suspeita-se que 
possa ser causada por um reação autoimune pouco clara. 
Pós-irradiação; 
Pós-ablativa (tireoidectomia). 
 
Hipotireoidismo primáriocom bócio 
Causas: 
Defeito na tireoperoxidase: essa enzima pode ser inibida por propiltiouracil (PTU) e metimazol (MMI) em 
doses contínuas; 
Ausência de iodo na dieta (bócio coloide endêmico – atóxico); 
Defeito na síntese de tireoglobulina; 
Transmissão materna de substâncias anti-tireoideas que interferem na síntese dos hormônios 
tireóideos: a iodopovidona usada como desinfetante (ducha vaginal ou desinfecção da pele, no berçário), 
drogas anti-tireoideas (PTU, MMI ou carbimazol) atravessam a placenta e bloqueiam a função tireóidea fetal 
causando hipotireoidismo congênito transitório. Esses lactentes têm a terapia suspensa entre seis a 12 
meses. 
Medicamentosa: tratamento dos estados maníaco-depressivos como o carbonato de lítio, grande quantidade 
de ingestão de iodo (ingestão de comprimidos com cinzas de algas marinhas ou xaropes contra tosse que 
contêm iodo, ou, ainda, administração de meios de contraste radiográfico contendo iodo ou da droga cardíaca 
amiodarona, que possui 75 mg de iodo em cada comprimido de 200mg e está cada vez mais apontada como 
causando problemas da tireoide também podem bloquear a produção do HT. 
Tireoidite de Hashimoto: distúrbio autoimune em que a glândula tireoide pode ser totalmente destruída por 
um processo imunológico. Ela é a principal causa de bócio e hipotireoidismo em crianças. Essa doença é 
predominantemente uma doença de mulheres, com uma razão de mulheres-homens de 5:1. A doença parece 
ser mais comum em algumas famílias, o que pode indicar um fator genético. A prevalência dessa doença 
aumenta à medida que as pessoas envelhecem. 
 
Figura 9: Paciente com hipotireoidismo (mixedema), apresentando inchação facial típica, cabelos quebradiços 
e aparência apática (à esquerda). A mesma paciente após tratamento com hormônio tireóideo (à direita), que 
reverteu os sintomas físicos. 
 
Hipotireoidismo secundário (lesão da hipófise): TSH (tireoide atrofiada), T3 e T4 
 
Hipotireoidismo terciário (lesão do hipotálamo): TRH, TSH (tireoide atrofiada), T3 e T4 
 
 
Figura 10: macroglossia 
HIPERTIREOIDISMO 
Sinais e sintomas: ansiedade, dificuldade de concentração, insônia, oftalmopatia (exoftalmia-olhos saltados)-
figura 11, frequência cardíaca rápida, emagrecimento, irritabilidade, polifagia, agitação psicomotora, pele 
quente é úmida, insônia, taquipneia, evacuações frequentes, fraqueza muscular, sudorese. 
 
 
Figura 11: exoftalmia – acomete 1/3 dos pacientes com doença de Graves 
 
Hipertireoidismo primário (mais comum): 
Causas: 
Bócio difuso tóxico – doença de Basedow-Graves é a causa mais comum de hipertireoidismo. O médico 
Robert Graves a descreveu em 1835 e o médico alemão Karl Adolph von Basedow independentemente a 
descreveu em 1840. Tem início entre 20 e 40 anos, e as mulheres têm propensão ao desenvolvimento da 
doença cinco vezes maior que os homens. Constitui doença autoimune por anticorpos estimuladores da 
tireoide (TSI – imunoglobulina estimuladora da tireoide) que agem através dos receptores normais de TSH 
(também chamados de TRAB - anticorpos anti-receptor do TSH). 
 
Bócio uninodular tóxico (adenoma tóxico); 
 
Bócio multinodular tóxico ou doença de Plummer; 
 
Tireoidite sub-aguda: esta doença não tem causa conhecida e é caracterizada por inflamação importante da 
tireoide, que resulta em um aumento doloroso da glândula e na liberação de grandes quantidades de 
hormônio no sangue. Felizmente, esta situação geralmente se resolve espontaneamente. 
 
Tireoidite pós-parto: cerca de 5 a 10% das mulheres desenvolvem hipertireoidismo leve a moderado alguns 
meses após o parto. O hipertireoidismo nesta situação, geralmente, dura 1 a 2 meses, e frequentemente é 
seguido por vários meses de hipotireoidismo (diminuição da atividade da tireoide), o qual se recupera em 
grande parte das mulheres. Entretanto, em alguns casos, a glândula não se recupera, e o hipotireoidismo se 
torna permanente, sendo necessária a reposição hormonal ao longo da vida. 
 
Tireoidite silenciosa: hipertireoidismo transitório pode ser causado por uma tireoidite silenciosa, uma 
condição que parece semelhante à tireoidite pós-parto, mas não está relacionada à gestação e não é 
acompanhada de dor na glândula. 
 
Ingestão excessiva de iodo: várias substâncias com altas concentrações de iodo, tais como comprimidos de 
alga, alguns expectorantes e amiodarona (uma medicação utilizada no tratamento de arritmias cardíacas) 
podem, ocasionalmente, causar hipertireoidismo. 
Superdosagem de hormônio tireoideano: pacientes que recebem doses excessivas de hormônio 
tireoideano podem desenvolver hipertireoidismo. Esses pacientes devem ter uma avaliação da dosagem do 
hormônio tireoideano pelo médico no mínimo uma vez ao ano e jamais se automedicarem. 
 
HIPERTIREOIDISMO FELINO 
 O hipertireoidismo é uma doença sistêmica que ocorre devido à atividade anormal da glândula 
tireoide, levando à produção excessiva dos hormônios tireoidianos (triiodotironina e tiroxina) (MOONEY, 
2002). Foi descrita pela primeira vez em 1979 e, hoje em dia, é a endocrinopatia mais frequentemente 
diagnosticada em gatos, principalmente nos Estados Unidos da América. Tem sido diagnosticada com 
frequência em muitos outros países da Europa e em países como Japão e Nova Zelândia (FELDMAN; 
NELSON, 2004). 
 O aumento no número de diagnósticos de hipertireoidismo felino deve-se à maior atenção do clínico 
em relação à enfermidade e a elaboração de meios diagnósticos cada vez mais sensíveis e disponíveis na 
rotina da clínica de pequenos animais (BROUSSARD; PETERSON; FOX, 1995; BRUYETTE, 2001). 
 No Brasil, o número de casos de hipertireoidismo tem aumentado ao longo dos anos, assim como 
ocorreu em muitos países, sendo previsível que o diagnóstico da enfermidade passará a aumentar 
significativamente a partir desta década, razão pela qual os clínicos devem estar mais atentos a esta 
síndrome (CARLOS; ALBUQUERQUE, 2005; RECHE JUNIOR et al, 2007). 
 O hipertireoidismo é mais frequente em gatos acima de 6 anos de idade. (FELDMAN; NELSON, 2004, 
OLCZAK et al, 2005; PETERSON, 1997) e não parece haver predileção por sexo ou raça (FELDMAN; 
NELSON, 2004; MOONEY, 2001). As manifestações clínicas da doença podem ser brandas ou severas, 
sendo modificadas em decorrência da duração do hipertireoidismo e presença de anormalidades 
concomitantes em vários sistemas do organismo. (PETERSON; TURREL, 1986). 
 Na maioria dos casos o hipertireoidismo é uma enfermidade de evolução lenta e progressiva, uma vez 
que muitos pacientes apresentam um apetite que varia entre bom à excelente e são ativos ou mesmo 
hiperativos, passando por animais “saudáveis” por seus proprietários, até o momento em que começam a 
perder peso ou apresentar outros sintomas da doença (PETERSON, 2000). 
 Outras manifestações clínicas comuns aos gatos com hipertireoidismo incluem a agressividade à 
manipulação, polifagia, polidipsia, poliúria e perda de peso excessiva (JOSEPH; PETERSON, 1993; 
PETERSON, 2000). O gato pode apresentar êmese frequente, geralmente pouco tempo após a ingestão do 
alimento, diarreia, esteatorreia e grande volume fecal (FELDMAN; NELSON, 2004; MERIC, 1989; 
PETERSON et al, 1983; PETERSON; TURREL, 1986). 
 Alguns felinos com hipertireoidismo podem apresentar poliúria e polidipsia, sem evidência de 
disfunção renal. Acredita-se que a tireotoxicose possa prejudicar a capacidade de concentração da urina, ao 
aumentar o fluxo sanguíneo renal total, diminuindo desta forma, a concentração de solutos na medula renal; 
esta depleção pode causar poliúria com polidipsia compensatória (PETERSON, 1997; PETERSON et al, 
1983). 
 Considerando-se que as manifestações clínicas apresentadas por esses pacientes podem ser 
bastante semelhantes às encontradas em outras enfermidades, tais como Diabetes Mellitus, pancreatite, 
insuficiência e falência renal, doença intestinal inflamatória ou mesmo doençacardíaca, sugere-se um exame 
físico cuidadoso acompanhado de exames complementares confirmatórios para que não se deixe de 
diagnosticar o hipertireoidismo (GUNN-MOORE, 2005; JONES; JOHNSTONE, 1981). 
 Devemos suspeitar de hipertireoidismo coexistente em qualquer gato de meia idade a idoso, 
principalmente se apresentarem sintomatologia relacionada a essa endocrinopatia (ANSEL, 1991). 
 Durante a realização do exame físico é necessária a avaliação da glândula tireoide. Em um animal 
eutiroideo, a glândula não é palpável. Eventualmente com o aumento da glândula, esta pode ir para o 
mediastino anterior, sendo impossível a sua palpação (MERIC, 1989; NORSWORTHY et al, 2002; 
PETERSON, 1984; PETERSON; TURREL, 1986). 
 Aproximadamente 70% dos gatos com hipertireoidismo apresentam aumento bilateral da glândula, 
enquanto os outros 30% apresentam apenas um lobo da glândula aumentado (PETERSON et al, 1983). 
Outras alterações observadas no exame físico e que podem sugerir o hipertireoidismo são: fraqueza 
muscular, astenia, fadiga associada à atividade física e ventroflexão do pescoço (FELDMAN; NELSON, 
2004); agressividade e caquexia (PETERSON, 2000). Percebe-se, também, taquicardia, sopros sistólicos e 
arritmias. Sinais de insuficiência cardíaca congestiva também podem estar presentes, como dispneia, edema 
pulmonar e efusão pleural (MERIC, 1989). 
 Radiograficamente observa-se cardiomegalia em 30 a 40% dos casos (MERIC, 1989). O 
eletrocardiograma típico destes animais revela taquicardia (mais que 240 batimentos por minuto) e aumento 
da amplitude da onda R na derivação DII. Ao exame ecocardiográfico observa-se hipertrofia do ventrículo 
esquerdo, dilatação atrial esquerda e aumento da contratilidade do miocárdio (BOND et al, 1988; FELDMAN; 
NELSON, 2004). 
 A percepção da disfunção tireoidiana ocorre pelas observações da anamnese, exames físico e 
laboratorial, como, por exemplo, hemograma completo, perfil bioquímico sérico e urinálise (PETERSON, 
2000). 
 Para o diagnóstico do hipertireoidismo felino, pode-se determinar as concentrações séricas de T3 total 
ou livre, T4 total ou livre. Entretanto, observa-se que alguns gatos com hipertireoidismo comprovado 
apresentam os valores de T3 total dentro dos parâmetros normais para a espécie, a despeito da nítida 
elevação de T4 total ou livre (PETERSON, 1997). 
 As concentrações de T4 total estão acima dos valores de referência na maioria dos gatos com 
hipertireoidismo e, portanto, é considerado o melhor teste para o diagnóstico da endocrinopatia felina 
(PETERSON; MELIÁN; NICHOLS, 2001). 
 Em relação aos fatores de risco para a doença, nenhum foi identificado de forma definitiva para 
justificar o aumento da prevalência do hipertireoidismo em felinos. Várias causas têm sido sugeridas para o 
aumento do número de casos diagnosticados, incluindo o aumento da conscientização dos proprietários, 
aumento da popularidade de gatos como animais de estimação, aumento da longevidade, fatores ambientais 
e aumento da habilidade do veterinário em diagnosticar a doença (FELDMAN; NELSON, 2004). 
 Segundo Peterson et al (1993) o aumento bilateral da glândula tireoide ocorre em 70% dos gatos com 
hipertireoidismo, sendo uma característica marcante da doença. Visto não haver conexão física entre os dois 
lobos tireoidianos, postula-se que fatores circulantes (p.e., imunoglobulinas), nutricionais (p.e., iodo), ou 
ambientais (p.e., toxinas ou agentes bociogênicos), possam interagir, causando a afecção tireoidiana no gato. 
 
 
 
 Fatores nutricionais foram sugeridos como potencial agente indutor para o hipertireoidismo 
(SCARLETT, 1994). O primeiro estudo epidemiológico da doença encontrou associação entre o 
hipertireoidismo e o consumo de alimento enlatado para gatos, por pelo menos cinco anos antes do 
diagnóstico, gatos que residiam totalmente ou parcialmente dentro de casa e exposição regular a grama, 
jardins e produtos para controle de pulgas (SCARLETT; MOISE; RAYL, 1988). Em um estudo subsequente, 
observaram que o consumo de alimento comercial enlatado para gatos e o uso da liteira (caixa sanitária) 
foram associados com o aumento do risco para o hipertireoidismo. Neste caso, o uso de alimentos enlatados 
aumentou de 2 a 3 vezes o risco de desenvolvimento de hipertireoidismo (KASS et al, 1999). Ambos os 
estudos demonstraram que o grande risco para o hipertireoidismo associado com o consumo de alimento 
enlatado para gatos foi estatisticamente independente das outras variáveis avaliadas. Em um estudo 
realizado por Martin et al (2000), observou-se que com o aumento da idade e a preferência por certos 
sabores de alimentos enlatados para gatos, como peixe e fígado, foram associados com o aumento do risco 
para o hipertireoidismo. 
 As rações contendo peixe em sua formulação podem conter alta concentração de iodo, pois peixes 
marinhos apresentam iodo em grande quantidade (MARTIN et al, 2000). Já em outro estudo realizado por 
Edinboro et al (2004), conclui-se que o aumento da prevalência para o hipertiroidismo não é somente o 
resultado do aumento da idade da população de felinos e que o uso de alimentos enlatados podem estar 
envolvidas na etiologia da doença. 
 Alimentos que contêm uma grande quantidade de iodo podem ser uma possível causa para o 
hipertireoidismo felino. O iodo presente em alimentos comerciais para gatos varia amplamente, e as maiores 
variações ocorrem nos alimentos enlatados (MUMMA et al, 1986). 
 Em um estudo realizado por Johnson et al (1992) observou-se que a concentração de iodo de 23 
diferentes tipos de alimentos enlatados para gatos disponíveis na Nova Zelândia variou enormemente, de < 
0,37 mol/Kg a 41,8 mol/Kg, enquanto 5 tipos diferentes de ração seca variaram de 5,06 mol/Kg a 7,0 2 
mol/Kg. Os gatos tendem a alimentar-se o suficiente para satisfazer suas necessidades de energia 
metabolizável. Sobre a base de mol iodo/ kcal de energia metabolizável, existia ainda considerável variação 
no iodo presente nos alimentos enlatados quando comparado com as rações secas. A função da tireoide no 
gato, quando mensurada pelas concentrações séricas de T4 livre, é agudamente responsiva as mudanças na 
ingestão de iodo (Kyle et al, 1994). Pode ser que repetidas flutuações ou ciclos de altas e baixas 
concentrações da ingestão de iodo possam repetidamente ativar a tireoide, eventualmente levando a 
hiperplasia, alterações adenomatosas e hipertiroidismo (OLCZAK et al, 2005). 
 Há grande evidência de que a alta ingestão de iodo possa eventualmente levar ao hipertireoidismo, 
particularmente se a ingestão excessiva for seguida de um período de deficiência de iodo (STUDER; 
GERBER, 1991). A constante ingestão excessiva de iodo é portanto, mais improvável de ser a única causa do 
hipertireoidismo, uma vez que o iodo não seria responsável por protelar ou progredir o curso natural da 
doença. Contudo, uma vez que se tenha desenvolvido um nódulo tireoidiano que secrete autonomicamente, a 
suplementação com iodo pode então exacerbar ou causar tireotoxicose progressiva e permanente (OLCZAK 
et al, 2005). 
 A associação do consumo de alimentos enlatados para gatos com o desenvolvimento do 
hipertireoidismo sugere que o agente causal esteja presente no alimento ou no revestimento interno da lata. 
Pelo menos 25 tipos de substâncias são usadas para revestir latas de aço. O revestimento de latas inclui 
resina epoxi, policloreto de vinila e poliéster. A resina epoxi é mais comumente usada em latas que requerem 
abridor, e o policloreto de vinila é tipicamente usado em latas que vem com abridor e são facilmente abertas, 
pois são mais flexíveis. O éter diglicidilbisfenólico A é utilizado em ambos tipos de latas (SUMMERFIELD et 
al, 1998), já o éter diglicidilbisfenólico F é utilizado em latas que já vem com abridor. 
 Foi detectada a migração destes componentes para dentro do alimento, principalmente aqueles com 
grande quantidade de gorduraou óleo. Altas concentrações de éter diglicidilbisfenólico A e éter 
diglicidilbisfenólico F foram encontradas mais em alimentos gorduros enlatados de fácil abertura do que em 
outros tipos de enlatados. (HAMMARLING et al, 2000). O éter diglicidilbisfenólico A é citotóxico e genotóxico 
in vitro (SUÁREZ et al, 2000); ele é um componente do bisfenol A (MUNGUIA-LOPEZ; SOTO-VALDEZ, 
2001). Este último tem sido detectado em uma variedade de alimentos enlatados (GOODSON et al, 2002). 
Em ratos, o bisfenol A é eliminado primariamente via glucoronidação (POTTENGER et al, 2000). A fase da 
glucoronidação é mais lenta em gatos do que em outras espécies (COURT; GREENBLATT, 2000). O bisfenol 
 A diminui às concentrações circulantes de triiodotironina em ratos, através da inibição da transcrição 
mediada por receptores da tireoide, que é dose dependente in vitro (MORIYAMA et al, 2002). A diminuição da 
triiodotironina, por sua vez, pode levar ao aumento da secreção do TSH e resultar no aumento da produção 
do hormônio tireoidiano, eventualmente levando a formação de bócio (TOHEI et al, 2001). 
 A presença de éter diglicidilbisfenólico A nas dietas enlatadas para gatos não foi determinada; 
entretanto, o bisfenol A foi detectado em 15 alimentos enlatados para gatos. Em um estudo observou-se que 
de três marcas de enlatados para gatos produzidas nos Estados Unidos, duas tinham alta concentração de 
bisfenol A (KANG; KONDO, 2002). 
 Alimentos comerciais enlatados para gatos tipicamente requerem um abridor ou são latas que já vem 
com o anel para puxar obtendo fácil abertura da lata. Estas últimas apresentam um revestimento interior 
diferente porque são mais flexíveis (SUMMERFIELD et al, 1998). Além disso, tem muito mais gordura do que 
os alimentos secos. A fabricação destes enlatados (de fácil abertura) para gatos começou no início dos anos 
80. Desde então, o tamanho destas latas tem diminuído e, desta forma, a área de superfície por quilograma 
de alimento em contato com superfície interior da lata tem aumentado. Por isto, é possível que os gatos hoje 
estejam mais expostos a grandes quantidades de contaminantes solúveis na gordura dos alimentos do que 
no passado (EDINBORO et al, 2004). 
 
HIPOTIREOIDISMO CANINO 
 Apesar de, na maior parte dos casos de hipotireoidismo congênito canino não se observar a 
ocorrência de bócio, quando existe falha na produção de TSH por parte da hipófise este pode desenvolver-se, 
com evidência histológica de hiperplasia folicular. Foi documentado bócio associado a hipotireoidismo num 
Fox terrier miniatura e em Rat terriers, cuja causa foi descrita como sendo uma mutação no gene que codifica 
a tireoperoxidase (Fyfe et al., 2003; Pettigrew et al., 2007). 
 O déficit de produção de TSH é uma das possíveis causas para o hipotireoidismo juvenil em raças 
grandes como o Schnauzer gigante (Greco et al., 1991), Boxer (Mooney & Anderson, 1993) e Scottish 
Deerhound (Robinson, Shaw, Stanley & Wyburn, 1988). 
 O hipotireoidismo terciário ainda não foi confirmado em cães. Contudo, há alguns casos de 
hipotireoidismo congênito que foram descritos, antes da possibilidade do uso do teste de estimulação com 
TSH, o que dificulta a distinção entre hipotireoidismo secundário e terciário (Scott-Moncrieff, 2007). 
 O hipotireoidismo adquirido pode ser de origem primária ou secundária, sendo as causas de origem 
primária: (1) a tireoidite linfocitária, (2) a atrofia tireoidea, podendo esta ser de origem idiopática ou um estado 
final de tireoidite linfocitária, (3) e por fim, a neoplasia tireoidea primária ou metastática. 
 A incidência do hipotireoidismo canino que está descrita é de entre 0,2% e 0,8% (Panciera, 1994b; 
Dixon, Reid & Mooney, 1999). A idade média do diagnóstico é aos 7 anos com um intervalo entre os 6 meses 
de idade e os 15 anos (Ettinger & Feldman, 2005). Embora um estudo feito nos EUA refira que nos animais 
castrados (fêmeas e machos) a incidência de hipotireoidismo é maior e que as raças com maior 
predisposição são os Golden retriever, Doberman pinscher e raças indeterminadas (Panciera, 1994b), num 
outro estudo mais recente feito no Reino Unido não se encontrou qualquer relação da incidência da doença 
com uma raça ou estado reprodutivo (Dixon et al., 1999). Os sinais clínicos mais comuns são os associados à 
diminuição do metabolismo basal e os sinais dermatológicos. 
 Os hormônios da tireoide influenciam a taxa metabólica aumentando o metabolismo basal e o 
consumo de oxigénio na maior parte dos tecidos do corpo. Assim, uma diminuição da concentração de 
hormônios da tireoide provoca uma diminuição do metabolismo basal e o aparecimento dos sinais 
associados. Os sinais clínicos mais frequentemente associados à diminuição da taxa metabólica incluem 
letargia, fraqueza, ganho de peso, intolerância ao exercício e intolerância ao frio (Panciera, 1994b; Dixon et 
al., 1999). 
 A obesidade ou aumento de peso está descrito em 44% a 47% dos cães com hipotireoidismo. 
Contudo, é preciso ter em mente que a sobrenutrição é mais comum que o hipotireoidismo em animais 
obesos. A letargia ou fraqueza foi descrita em 20% dos animais num estudo nos EUA e em 76% num estudo 
efetuado no Reino Unido (Panciera, 1994b; Dixon et al., 1999). Esta diferença pode ser reflexo das diferenças 
de apresentação e da gravidade da doença no momento da consulta. 
 Os hormônios tireoideos são importantes para o funcionamento cutâneo normal, sendo que as 
alterações dermatológicas são descritas em 60 a 80% dos cães hipotireoideos (Panciera, 1994b; Dixon et al., 
1999). Os sinais de diminuição da taxa metabólica em conjunto com os sinais dermatológicos devem 
aumentar a suspeita clínica de hipotireoidismo. 
 As alterações reprodutivas atribuídas ao hipotireoidismo em canídeos machos são: diminuição da 
libido, atrofia testicular, hipospermia e azoospermia. Contudo, um estudo prospectivo no qual se induziu 
hipotireoidismo em 6 cães de raça Beagle com 131I (radioisótopo do iodo) revelou não existirem quaisquer 
alterações. A produção diária de espermatozoides e a sua mobilidade não diferia significativamente face ao 
grupo controle. Não foi também verificado diminuição da libido, nem qualquer diferença da qualidade dos 
espermatozoides, por um período de 2 anos (Johnson, Olivier, Nachreiner & Mullaney, 1999). 
 Os sinais mais frequentemente associados ao hipotireoidismo são relativos ao sistema nervoso 
periférico. A explicação para as alterações neurológicas no hipotireoidismo é ainda mal conhecida. Pensa-se 
que haja uma deficiência em ATP (adenosina tri-fosfato) o que leva a um mau funcionamento da bomba de 
Na+/K+, provocando a diminuição da velocidade do transporte axonal e disfunção dos nervos periféricos 
(Scott-Moncrieff, 2007). 
 A neuropatia periférica é a manifestação neurológica mais bem descrita no hipotireoidismo, sendo os 
cães idosos de raças grandes ou gigantes mais comumente afetados. Os sinais com maior incidência são a 
intolerância ao exercício, a fraqueza generalizada, a ataxia e a tetraparesia ou paralisia (Indrieri, Whalen, 
Cardinet & Holliday, 1987). 
 As alterações do comportamento atribuídas ao hipotireoidismo incluem agressão e disfunção 
cognitiva. Há alterações cardiovasculares sutis que ocorrem no hipotireoidismo canino. Estas alterações 
podem ter efeito negativo a nível da condução do estímulo eléctrico, na contratilidade miocárdica, na 
frequência cardíaca e na função diastólica, podendo também haver alterações de atividade eléctrica (Scott-
Moncrieff, 2007). 
 A diminuição da frequência cardíaca pode ser devida à diminuição do consumo de oxigénio por parte 
dos tecidos, por alteração da sensibilidade adrenérgica ou por efeitos diretos dos hormônios da tiroide no 
coração. A bradicardia é o sinal cardiovascular mais facilmente detectado e foi encontrado em 5-26% dos 
casos de hipotireoidismo (Panciera, 2001; Panciera, 1994a). 
 O hipotireoidismo primáriono cão é uma doença que pode ter variadas apresentações clínicas, como 
tal, integra-se em vários diagnósticos diferenciais não sendo por isso uma doença com diagnóstico definitivo 
simples. Para atingir o diagnóstico definitivo, o médico veterinário deve ter em mente algumas considerações 
prévias aos testes de função tireoidea, para assim diminuir a probabilidade de ocorrência de falsos positivos. 
Assim, deve descartar a hipótese dos canídeos terem doenças concomitantes como hiperadrenocorticismo 
ou epilepsia idiopática, bem como a possibilidade de estarem a ser medicados com fármacos que provoquem 
falsos positivos. Deste modo, conclui-se que os testes de função tireoidea não devem ser interpretados 
isoladamente, devem sim, ser interpretados tendo em conta toda a história clínica, sintomatologia e analíticas 
sanguíneas.

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