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3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 1 3. Grupos Protetores 3.1. Considerações Gerais sobre Grupos Protetores 3.2. Bibliografia 3.3. Grupos Protetores 3.3.1. Grupos Protetores Clivados em Condições Básicas 3.3.2. Grupos Protetores Clivados por Ácidos 3.3.3. Grupos Protetores Clivados por Catálise com Metais 3.3.4. Grupos Protetores Clivados pelo Íon Fluoreto 3.3.5. Grupos Protetores Clivados por Hidrogenólise 3.3.6. Grupos Protetores Clivados por Oxidação 3.3.7. Grupos Protetores Clivados por β-Eliminação 3.4. Proteção Temporária 3.5. Influência de Grupos Protetores na Reatividade O grupo protetor ideal é aquele que pode ser facilmente inserido na molécula, que seja resistente a várias condições reacionais (inclusive condições drásticas) e que seja facilmente removido posteriormente! Cada grupo protetor significa duas etapas a mais na síntese! Ou sejam, grupos protetores devem ser sempre evitados. 3.1. Considerações Gerais sobre Grupos Protetores “The major challenges are the construction of molecules without using protecting group chemistry and the ability to put molecules together in fast and efficient ways. Things are moving in this direction.” R. H. Grubbs Interview: A catalytic lifetime, 20 August 2007 http://www.rsc.org/Publishing/ChemScience/Volume/2007/09/Bob_Grubbs_interview.asp 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 2 “The constant pressure to prepare compounds in a more efficient manner has placed the process by which traditional synthetic chemistry is conducted under scrutiny. Areas that have the potential to be improved must be highlighted and modified, so that we can approach the criterion of the “ideal synthesis” One area that offers this prospect is the minimization of the use of protecting groups in synthesis...The invention of chemoselective methodologies is crucial to the execution of ‘protecting-group-free’ synthesis…” “Protecting-group-free Synthesis as an Oppotunity for Invention” Ian S. Young, Phil S. Baran Nature Chemistry 2009, 1, 193. “The use of protecting groups has led to an explosive growth in the complexity, and successful completion, of compounds targeted. The masking of competitive reactivities offers an increased level of security and predictability, which are important outcomes in total synthesis, where the unexpected is still too commonplace…It is difficult to imagine where the field of total synthesis would stand today if there had not been extensive study in the area of protecting group development...Overall, protecting groups have had a tremendously positive impact on the art of total synthesis, and fortunately effort is still being invested into the development of novel protecting groups.” “Protecting-group-free Synthesis as an Oppotunity for Invention” Ian S. Young, Phil S. Baran Nature Chemistry 2009, 1, 193. 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 3 “In the mid 90s, a new philosophy arose for multistep synthesis that took new constrains into account: step economy, atom economy, redox economy... ...Pushed forward by the demands of our society, chemical science must now go one more step toward maturity by taking into account ecologic considerations. This means that chemists must now design retrosynthetic plans incorporating protective-group-free strategies, thus adding a further refinement to the already complicated art of total synthesis.” “Protecting-Group-Free Total Synthesis: A Challenging Approach” E. Roulland Angew. Chem. Int. Ed. 2011, 50, 1226 u Características importantes em grupos protetores: i) Disponibilidade; ii) Facilmente introduzido; iii) Facilmente caracterizável. A criação de novos estereocentros deve ser evitada. iv) Estabilidade durante condições variadas de reações, work-up e purificação. v) Remoção deve fácil e seletiva, levando a produtos secundários de fácil separação do substrato. u Fatores a serem considerados na escolha do grupo protetor: i) Natureza do grupo que requer proteção; ii) Condições de reações em que o grupo de partida deve ser estável; iii) Condições que devem ser toleradas para a remoção do grupo protetor. 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 4 Em alguns casos é possível realizar a reação sem proteção, utilizando, por exemplo, excesso do reagente. Esta alternativa deve ser sempre considerada. Exemplo: Algumas perguntas devem sempre ser feitas: Realmente é necessário o grupo protetor? Existe uma alternativa para evitar o grupo protetor? Regiosseletividade Quando uma reação pode potencialmente originar dois ou mais isômeros estruturais, mas fornece apenas um, a reação é dita como regiosseletiva. Na existência de “duas regiões” para reação, apenas uma delas é selecionada. Exemplo: 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 5 Quimiosseletividade Definição da IUPAC: “The preferential reaction of a chemical reagent with one of two or more different functional groups”. A escolha correta do reagente a ser utilizado (ou mesmo das condições reacionais) pode ser determinante para a quimiosseletividade pretendida! Protective Groups in Organic Synthesis, T. W. Greene e P. G. M. Wuts, 1999, Wiley, New York. Protecting Groups, P. Kocienski, 1994, Thieme, Stuttgart. 3.2. Bibliografia Advanced Organic Chemistry – Part B: Reactions and Synthesis, Carey, Sundberg, Plenum, New York, 2007. Edições mais recentes destes livros foram lançadas! 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 6 Protective Groups in Organic Synthesis, T. W. Greene e P. G. M. Wuts. 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 7 3.3. Grupos Protetores 3.3.1. Grupos Protetores Clivados em Condições Básicas Representante mais significativo: proteção de álcoois como ésteres. Ordem crescente de facilidade de desproteção: Pv < Bz < Ac < ClCH2CO. Reagentes típicos para a hidrólise são K2CO3, hidrazina e NaOH. Exemplo: O R O Me O R O Ph O R O t-Bu Ac: Bz: Pv (ou Piv): Pode ocorrer a migração de um grupo acila quando um produto mais estável pode ser formado. Exemplo: Exemplo da clivagem do grupo pivaloato (Pv) com DIBAL: Exemplo da proteção seletiva de um álcool primário com pivaloato: 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 8 i) Éteres alquílicos e benzílicos 3.3.2. Grupos Protetores Clivados por Ácidos A proteção de alcoóis como éteres não é muito útil para grupos alquila mais simples, pois embora tais éteres possam ser preparados facilmente por alquilação, a subseqüente clivagem requer reagentes fortemente eletrofílicos. Exceções: Ø t-butila, que pode ser clivado com TFA ou com Ac2O, FeCl3 em Et2O. O grupo t-butila pode ser introduzido pela reação do álcool com isobutileno na presença de um ácido; Ø Tritila, que pode ser introduzido com TrCl. Normalmente utilizado apenas para álcoois primários, pois é bem volumoso. Remoção pode ser feita com AcOH aquoso a quente. Pode ser removido com oxidantes também. Exemplo 1 – Clivagem seletiva de éter isopropílico na presença de um éter metílico: Exemplo 2 – A clivagem do grupo tritil ocorre em condições mais suaves do que com muitos outros éteres alquílicos. O R Ph Ph Ph Tr: 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 9 ii)Acetais O R OMe MOM: O R O OMeMEM: a) Proteção de alcoóis e de fenóis Proteção de alcoóis e de fenóis com MOM (éteres metoximetílicos) e MEM (éteres (2-metoxietoxi)metílicos). Podem ser considerados como um acetal do formaldeído. Os grupos MOM e MEM podem ser introduzidos via reação de alquilação com MOMCl e MEMCl. MOM e MEM podem ser considerados uma versão moderna do tradicional THP, que tem como desvantagem introduzir um estereocentro, o que pode ser inconveniente no caso de um álcool quiral. Um grupo protetor análogo é o MOP (metoxipropil), que não gera um estereocentro. O grupo EE (1-etoxietil) é similar, mas cria um estereocentro. THP pode ser removido com vários ácidos de Lewis: a) LiCl/H2O em DMOS; b) PdCl2(CH3CN)2; c) CuCl2. ROTHP DHP MOM e MEM 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 10 A clivagem de MOM e MEM pode ser feita com ácidos próticos. Exemplo: Contudo, a clivagem é mais frequentemente realizada com ácidos de Lewis. Exemplo: O grupo MEM pode ser removido em condições não aquosas, com reagentes como brometo de zinco, brometo de magnésio, tetracloreto de titânio, brometo de dimetilboro e TMSI. O grupo MEM é removido preferencialmente ao MOM ou THP nestas condições. Por outro lado, o grupo MEM é mais estável a condições de hidrólise aquosas ácidas do que o THP. Assim, estes grupos podem ser utilizados de maneira complementar quando dois grupos hidroxila devem ser desprotegidos em diferentes pontos em uma seqüência sintética. Exemplo: 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 11 b) Proteção de aldeídos e cetonas A clivagem de acetais de aldeídos e de cetonas pode ser realizada na presença de ácidos. As condições necessárias para a desproteção podem ser bem suaves ou razoavelmente enérgicas de acordo com o substrato. Exemplos: PPTS: Pyridinium p- Toluenesulfonate Exemplos da formação de acetais: Notar que a diferença de reatividade entre as carbonilas permite a proteção seletiva nos exemplos mostrados acima. 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 12 3.3.3. Grupos Protetores Clivados por Catálise com Metais a) Clivagem de tioacetais com Hg(II) ou Ag(I). Mecanismo: Exemplo: O R SMe MTM: b) clivagem do MTM (metiltiometil) com Hg(II) ou Ag(I). Os grupos THP e MOM são estáveis nestas condições. 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 13 Reagentes de Iodo Hipervalente mais Populares Silva, Jr, Olofsson, “Hypervalent Iodine Reagents in the Total Synthesis of Natural Products” Natural Product Reports 2011, 28, 1722. Desproteção de Ditianas com Reagentes de Iodo Hipervalente 1 equiv PIFA, rt, 30 min MeOH/THF/H2O (10:5:1) 99% Tietze et al, Angew. Chem. Int. Ed. 2008, 47, 5246 TIPSO OTIPSO OHOH S S Primeiro relato na desproteção de ditianas com PIFA: G. Stork, K. Zhao, Tetrahedron Lett. 1989, 30, 287. 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 14 IBX e DMP também podem ser utilizados na desproteção de ditianas. Exemplo: ü Trabalho pioneiro com IBX: Wu, Shen, Huang, Tang, Liu, Hu, Tetrahedron Lett. 2002, 43, 6443. ü Trabalho pioneiro com DMP: Langille, Dakin, Panek, Org. Lett. 2003, 5, 575. ü Outros artigos com IBX: Nicolaou, Mathison, Montagnon Angew. Chem. Int. Ed. 2003, 42, 4077; Nicolaou, Mathison, Montagnon, J. Am. Chem. Soc. 2004, 126, 5192. Mecanismo Proposto para a Desproteção de Ditianas com IBX 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 15 O grupo MTM também pode ser removido com iodeto de metila, seguido por hidrólise do resultante sal de sulfônio em acetona não anidra. Uma reação análoga foi utilizada na desproteção de uma ditiana, quando reagentes de iodo hipervalente não forneceram bons resultados. Éteres de silício constituem a principal classe de grupo protetores em Síntese Orgânica. Regra geral de estabilidade: quanto mais volumoso o substituinte, mais difícil a clivagem. A clivagem destes grupos protetores é realizada com íons fluoreto, tipicamente TBAF ou HF, devido à grande afinidade do fluoreto pelo silício. TBAF é solúvel em solventes orgânicos. 3.3.4. Grupos Protetores Clivados pelo Íon Fluoreto 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 16 A ordem crescente de estabilidade é aproximadamente: TMS < TES < TBS = TPS < TIPS O SiR Me Me Me O SiR Et Et Et O SiR Me t-Bu Me O SiR Ph t-Bu Ph TPS: O SiR i-Pr i-Pr i-Pr TIPS:TMS: TES: TBS: Ordem Crescente de Estabilidade Fluoreto na Desproteção de Grupos de Silício Ø Energias de ligação: Si-F 582 kJ mol-1, C-F 485 kJ mol-1 Ø Íon fluoreto é um nucleófilo fraco para composto de carbono, mas ataca silício facilmente. Ø O comprimento da ligação C-Si (1,89 A) é maior do que uma ligação C-C típica (1,54 A). Ø Silício (1,8) tem uma eletronegatividade menor do que o carbono (2,5) e assim ligações C-Si estão polarizadas para o carbono. 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 17 Considerando a diferença de reatividade entre diferentes grupos –OH do substrato, as etapas de proteção/desproteção podem ser efetuadas com grande seletividade. Exemplo 1 – Desproteção seletiva de TBS: Exemplo 2 – Proteção seletiva com TBS: Exemplo 3 – Pode ocorrer a migração do grupo protetor de silício durante a proteção ou em condições básicas: 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 18 3.3.5. Grupos Protetores Clivados por Hidrogenólise Representante típico: grupo benzila (Bn). A clivagem é normalmente feita com H2, utilizando Pd/C, como catalisador. A preparação de éteres benzílicos é normalmente feita em condições básicas, via uma alquilação. Exemplo: Reação de Hidrogenólise em Aminas Exemplo: 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 19 ?? ?? Síntese do Salmefamol droga anti-asma Grupos Protetores: Ortogonalidade Proteção ortogonal significa que é possível proteger dois grupos funcionais com dois diferentes grupos protetores e, subsequentemente, um pode ser removido na presença do outro, sem que ocorra a desproteção. Exemplo: Ø Molécula contendo um grupo TBS e um grupo benzila. Ø TBAF: promove a desproteção do TBS e grupo benzila fica intacto. Ø H2/Pd: promove a desproteção do Bn e grupo TBS fica intacto. Ø Os dois grupos protetores são ortogonais com relação ao outro! 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 20 3.3.6. Grupos Protetores Clivados por Oxidação Representante típico: clivagem de PMB e DMB com DDQ (2,3-dicloro-5,6- diciano-1,4-benzoquinona). Esquema geral: + + DDQ O R OMe PMB: DMB: O R OMe OMe A clivagem do DMB pode ser feita de maneira seletiva na presença de vários grupos protetores, incluindo PMB. Exemplo: A clivagem também pode ser feita com CAN (nitrato de cério e amônio) e por hidrogenólise. 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 21 3.3.7. Grupos Protetores Clivados por β-Eliminação Dois grupos alcóxi-metóxi substituídos podem ser clivados por β-eliminação. O grupo 2,2,2-tricloroetoximetil pode ser clivado por agentes redutores, como zinco, SmI2 e amálgama de sódio. A β-eliminação resulta na formação de um hemiacetal formaldeído, que decompõesfacilmente. O grupo 2-(trimetilsilil)etóximetil (SEM) pode ser removido por várias fontes de fluoreto, como TBAF, fluoreto de piridínio e HF. Esta desproteção envolve o ataque nucleofílico no silício, ocorrendo a β-eliminação. O grupo SEM pode ser clivado também com MgBr2, em condições nas quais o grupo TPS pode sobreviver. 3. Grupos Protetores Síntese Orgânica Prof. Luiz F. Silva Jr - IQ-USP - 2013 22 3.4. Proteção Temporária Em alguns casos, a proteção/desproteção pode ser feita durante a própria reação. Exemplo: 3.5. Influência de Grupos Protetores na Reatividade Grupos protetores podem influenciar a reatividade de outros grupos funcionais da molécula. Exemplos:
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