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1
UNIDADE 1
A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir desta unidade, você será capaz de:
•	 conhecer	 a	 gênese	 e	 como	o	 conhecimento	 geográfico	 era	percebido	na	
antiguidade;
•	 verificar	o	contexto	histórico	de	evolução	da	Ciência	Geográfica;
•	 relacionar	o	desenvolvimento	do	capitalismo	com	o	surgimento	da	Geo-
grafia	Contemporânea;
•	 compreender	a	 importância	das	correntes	do	pensamento	geográfico	no	
desenvolvimento	e	ampliação	do	ensino	da	Geografia;
•	 entender	o	processo	de	institucionalização	da	Geografia	no	Brasil;
•	 identificar	a	importância	do	ensino	da	Geografia	na	sala	de	aula
	 Esta	unidade	está	organizada	em	quatro	tópicos.	Em	cada	um	deles,	
você	encontrará	atividades	para	uma	maior	compreensão	das	 informações	
apresentadas.
TÓPICO	1	–	GÊNESE	E	EVOLUÇÃO	DA	CIÊNCIA	GEOGRÁFICA
TÓPICO	 2–	 AS	 CORRENTES	 DO	 PENSAMENTO	 GEOGRÁFICO	 E	 O	
ENSINO	DA	GEOGRAFIA
TÓPICO	3	–	A	GEOGRAFIA	NO	BRASIL
TÓPICO	4	–		MAS	AFINAL,	QUAL	É	O	OBJETO	DE	ESTUDO	DA	
																								GEOGRAFIA?
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA
1 INTRODUÇÃO
Analisando	o	caráter	atual	de	abrangência	de	estudo	da	ciência	geográfica,	
podemos	dizer	que	a	Geografia	sempre	esteve	presente	no	contexto	histórico	de	
formação	e	evolução	do	planeta	Terra.	Contudo,	se	a	compararmos	com	o	tempo	
geológico	 de	 formação	 do	 planeta	 (4,5	 e/ou	 4,6	 bilhões	 de	 anos),	 a	 Geografia	
enquanto	nomenclatura	é	muito	recente,	tem	sua	origem	no	século	III	a.C.	pelo	
filósofo	grego	Eratóstenes,	cujo	significado	abarca	Geo	=	Terra	e	grafia	=	escrita,	
descrição.	Desde	então,	o	objeto	de	estudo	da	Geografia	passou	por	diferentes	
concepções	culturais	e	correntes	epistemológicas.	
Assim,	neste	tópico,	caro(a)	acadêmico(a),	queremos	que	você	compreenda	
o	processo	de	evolução	do	conhecimento	geográfico,	bem	como	a	relação	deste	
conhecimento	com	a	formação	socioespacial	e	o	desenvolvimento	econômico	na	
Antiguidade,	na	Idade	Média	e	Moderna.
2 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO NA ANTIGUIDADE
Podemos	 dizer	 que	 a	 Geografia	 é	 uma	 das	 ciências	 mais	 antigas	 que	
existem.	 Isso	 porque,	 a	 confecção	 dos	 mapas,	 conforme	 registros	 históricos,	
ocorreu	antes	da	própria	escrita.	Valiosos	mapas	foram	deixados	por	diferentes	
povos,	 dentre	 eles:	 babilônios,	 egípcios,	 maias,	 astecas,	 esquimós,	 chineses,	
dentre	outros.	Todos	eles	representavam	aspectos	culturais	de	suas	sociedades	e	
sem	dúvida	são	peças-chaves	para	que	possamos	compreender	alguns	dos	seus	
aspectos	socioculturais,	bem	como	suas	relações	com	a	natureza.	Desse	modo,	
o	 conhecimento	 geográfico	 já	 se	 fazia	 presente	 com	 as	 primeiras	 civilizações.	
Vejamos:
2.1 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO ENTRE OS POVOS 
PRIMITIVOS
Os	 povos	 primitivos,	 apesar	 de	 não	 serem	 detentores	 da	 escrita,	 já	
possuíam	 “ideias”	 geográficas	 em	 suas	 concepções	 de	 vida	 e	 cultura.	 Seus	
conhecimentos	eram	transmitidos	de	geração	em	geração	através	da	versão	oral	
UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
4
e	dos	desenhos	rupestres	(em	rochas	e	cavernas).		Vivam	da	caça,	pesca,	coleta	
e,	às	vezes,	de	uma	agricultura	primitiva.	Inicialmente	retiravam	da	natureza	o	
que	 necessitavam	 para	 sobreviver	 sem	 ocasionar	 expressivas	 transformações.	
Ademais	eram	povos	nômades,	permitindo	que	a	natureza	se	regenerasse	caso	
houvesse	uma	exploração	intensiva.	
DICAS
Para saber mais sobre os povos primitivos, indicamos a leitura do livro intitulado “Povos 
Primitivos: a vida dos primeiros grupos sociais humanos, desde a Idade da Pedra até seu 
desenvolvimento nas Américas”. Esse livro é bem didático e ilustrativo. Vale a pena conferir.
É	importante	destacar	também	o	conhecimento	que	estes	povos	continham	
em	relação	à	natureza.	Segundo	Andrade	(1987,	p.	21):	
[...]	conheciam	vegetais	que	colocados	na	água	provocavam	a	asfixia	
de	peixes	que	poderiam	ser	facilmente	apanhados	e	utilizados	como	
alimento,	 sem	 lhes	 causarem	 danos.	 Conheciam	 também	 as	 áreas	
fluviais	 e	 costeiras	 mais	 piscosas	 onde	 não	 só	 pescavam	 peixes	 e	
crustáceos	 como	 também	 apanhavam	 moluscos	 que	 consideravam	
saborosos.	Conheciam	o	mecanismo	das	estações,	fazendo	migrações,	
às	 vezes	 de	 longos	 percursos,	 a	 fim	 de	 acompanharem	 os	 animais	
silvestres	que	utilizavam	como	alimentos	ou	para	colherem	os	frutos	
de	determinadas	áreas,	na	ocasião	da	“safra”.
Gradativamente,	 os	 povos	 passaram	 a	 fixar	 território	 deixando	 de	 ser	
nômades	para	se	tornarem	sedentários.	É	evidente	que	neste	processo,	a	natureza	
primeira	ou	natureza	natural	como	diria	Milton	Santos,	passou	a	ser	transformada	
em	 natureza	 segunda	 ou	 humanizada.	 Na	 América	 Andina,	 por	 exemplo,	
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA
5
os	 quéchuas,	 ao	 construírem	 o	 Império	 Inca,	 estabeleceram	 suas	 cidades	 em	
importantes	pontos	estratégicos,	tanto	do	ponto	de	vista	militar	como	alimentar.	
“Construíram	estradas	empedradas	com	centenas	de	quilômetros,	partindo	da	
capital	em	direção	aos	quatro	pontos	cardeais,	como	a	que	ligava	Cuzco	a	Quito.	
Eles	tinham	uma	noção	da	translação	da	Terra	em	torno	do	Sol	e	da	importância	
da	orientação”.	(ANDRADE,	1987,	p.	21).	
 
No	 que	 tange	 ainda	 aos	 conhecimentos	 geográficos	 de	 alguns	 povos	
primitivos,	gostaríamos	de	destacar	que	os	polinésios	(eram	predominantemente	
pescadores)	desenvolveram	a	arte	da	navegação	e	por	conhecerem	a	direção	dos	
ventos	 e	 das	 correntes	marinhas	 puderam	 estabelecer	 a	 comunicação	 entre	 as	
inúmeras	ilhas	distantes	do	oceano	com	a	navegação	em	seus	barcos.		Alias,	cabe	
ressaltar	que	estes	barcos	eram	considerados	muito	seguros	para	a	época,	bem	
como	para	o	nível	tecnológico	que	dominavam.
Outro	aspecto	importante	dos	povos	primitivos	era	a	concepção	religiosa	
dominada	por	um	Deus	superior	que	na	maioria	das	vezes	estava	atrelado	aos	
astros	(Sol,	lua	e	estrelas).	
 
De	 modo	 geral	 não	 se	 pode	 afirmar	 que	 estes	 povos	 desenvolvessem	
o	 conhecimento	 geográfico	 em	 caráter	 científico.	 Contudo,	 suas	 experiências	
diárias,	 ou	 saberes	práticos	 e	 as	noções	 e	 relações	 com	a	natureza	permitiram	
mesmo	 que	 empiricamente	 a	 ampliação	 e	 desenvolvimento	 do	 conhecimento	
geográfico	conforme	veremos	na	próxima	seção.	
2.2 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO ENTRE OS POVOS 
ORIENTAIS
Associadas	 a	 outras	 ciências,	 as	 ideias	 geográficas	 dos	 povos	 orientais	
através	de	 seus	 conhecimentos	práticos	de	 exploração	da	Terra,	 bem	como	de	
suas	 observações	 (viajantes)	 e	 estudos	 matemáticos	 foram	 responsáveis	 pela	
sistematização	do	conhecimento	do	mundo.	
Um	exemplo	 típico	desta	 sistematização	 foram	os	 estudos	do	 rio	Nilo,	
Tigre	 e	 Eufrates	 realizados	 pelas	 civilizações	 agrícolas	 da	Mesopotâmia	 e	 do	
Egito.	Os	estudos	levavam	em	conta	a	origem,	a	extensão	e	o	regime	dos	rios	no	
que	tange	a	periodicidade	e	a	variação	do	volume	de	água	durante	o	ano.	Para	
estas	civilizações,	o	período	das	cheias,	principalmente	do	rio	Nilo	determinava	
a	 extensão	 da	 área	 que	 seria	 cultivada,	 da	 quantidade	 de	 alimentos	 que	 seria	
produzida	e	a	oportunidade	de	trabalho	para	os	que	se	dedicavam	exclusivamente	
à	 agricultura.	 Podemos	 dizer	 que	 estas	 análises	 empíricas	 permitiram	 o	
desenvolvimento	dos	primeiros	 estudos	da	hidrografia	fluvial	 e	de	geometria.	
Isso	porque	as	cheias	extinguiam	as	demarcações	feitas	entre	as	áreas	cultivadas	
por	várias	famílias,	forçando	uma	nova	demarcação	entre	elas.
 
UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
6
Caso	 você	 não	 saiba,	 a	 Mesopotâmia	 (onde	 é	 o	 Iraque	 hoje)	 estava	
localizada	entre	os	rios	Tigre	e	Eufrates,	localizada	na	chamada	Crescente	Fértil	
(ver	mapa	 a	 seguir).	 Para	 você	 ter	 uma	 ideia,	 todas	 as	 civilizações(sumérios,	
acádios,	amoritas,	assírios,	caldeus,	dentre	outras)	que	se	desenvolveram	nestas	
áreas	 eram	 denominadas	 de	 Hidráulicas,	 isso	 porque	 dependiam	 dos	 rios	 e	
lutavam	pela	posse	das	terras	férteis	e	aráveis.	Observe	o	mapa	a	seguir
FONTE: Disponível em: <http://www.not1.com.br/wp-content/uploads/2011/03/
Mesopotamia-crescente-fertil.gif>. Acesso em: 10 abr. 2011.
FIGURA 2 – LOCALIZAÇÃO DA MESOPOTÂMIA
As	 civilizações	 orientais	 permitiram	 também	 o	 desenvolvimento	
econômico	com	a	troca	de	produtos	que	engendrou	a	intensificação	das	relações	
comercias	entre	os	povos	que	viviam	em	áreas	mais	distantes.	Assim,	a	navegação	
se	 intensificou	 entre	 o	 mar	Mediterrâneo	 e	 no	mar	 Vermelho,	 ocasionando	 o	
aparecimento	 de	 núcleos	 coloniais	 e	 a	 dominação	 econômica	 e	 política	 dos	
povos	em	ascensão.	Segundo	Andrade	(1987,	p.	22),	“os	fenícios	percorreram	o	
Mediterrâneo	 e	 o	mar	Negro	 e,	 alcançando	 o	 sul	 da	Espanha,	 atravessaram	o	
estreito	de	Gibraltar	e	exploraram	a	costa	europeia	do	Atlântico	até	a	Grã-Bretanha	
e	 a	 África,	 possivelmente	 até	 o	 Camerum”.	 Traziam	 em	 suas	 embarcações	
mercadorias	inexistentes	na	bacia	do	Mediterrâneo	que	eram	trocadas	por	outros	
produtos.
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA
7
Para	você	ter	uma	ideia,	no	século	VII	a.C.,	a	serviço	do	Faraó	Nécao	II,	os	
fenícios	fizeram	a	circunavegação	da	África.	É	importante	destacar	também	
[...]	que	um	faraó	planejou	construir	um	canal	que	cortasse	o	istmo	de	
Suez,	ligando	os	mares	Mediterrâneo	e	Vermelho,	com	a	finalidade	de	
estender	 as	 navegações	mediterrâneas	 até	 o	 oceano	 Índico,	 detendo-
se	 em	 seu	 propósito	 ao	 constatar	 que	 o	 nível	 do	mar	 Vermelho	 era	
mais	elevado	do	que	do	mar	Mediterrâneo	e	que	a	abertura	do	canal	
provocaria	a	invasão	do	mar	Mediterrâneo	pelas	águas	do	mar	Vermelho	
e	a	consequente	inundação	das	planícies	costeiras,	onde	se	localizavam	
importantes	cidades	e	campos	cultivados.	(ANDRADE,	1987,	p.	23).
Os	 conhecimentos	 geográficos	 acumulados	 pelas	 civilizações	 orientais	
foram	 fundamentais	 para	 a	 elaboração	 dos	 conhecimentos	 básicos	 da	 ciência	
moderna.	 Inclusive	 foram	 utilizados	 pelos	 gregos,	 que	 se	 tornaram	 uma	
civilização	dominante.	
2.3 A CONTRIBUIÇÃO DOS GREGOS E DOS ROMANOS 
PARA O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO
A	exemplo	dos	 fenícios,	os	gregos	 também	eram	grandes	navegadores,	
fundaram	 colônias	 na	 Sicília,	 Sul	 da	 Itália,	 Espanha	 (costa	 do	Mediterrâneo),	
dentre	 outras	 e	 desenvolveram	 o	 comércio,	 bem	 como	 adquiriram	 um	 vasto	
conhecimento	sobre	estas	áreas.	Muitos	dos	seus	conhecimentos	principalmente	
astronômicos	eram	oriundos	das	civilizações	da	Mesopotâmia,	como	por	exemplo,	
a	maneira	de	diferenciar	as	estrelas	dos	planetas	e	também	como	identificá-los	
(Mercúrio,	Vênus,	Marte,	Júpiter	e	Saturno).	Outro	conhecimento	adquirido	foi	
sobre	o	movimento	de	revolução	da	Lua	em	torno	da	Terra.	Através	das	fases	da	
Lua,	os	gregos	passaram	a	dividir	o	ano	e	agrupar	os	dias	da	semana.	Os	gregos	
também	 adquiriram	 das	 civilizações	 orientais	 os	 conhecimentos	 de	 geometria	
que	 posteriormente	 foram	 realizadas	 por	 Dicearco	 e	 Eratóstenes,	 com	 a	 qual	
estabeleciam	as	dimensões	da	Terra	no	que	concernem	as	latitudes.	
À	medida	que	o	conhecimento	geográfico	se	expandia,	estudos	descritivos	
das	áreas	litorâneas	e	centrais	de	domínio	grego	eram	enriquecidos	com	mapas	
de	 itinerários	 denominados	 périplos.	 Estes	 apresentavam	 imperfeições,	 pois	
nesta	época	não	se	utilizavam	escalas,	ademais	não	era	possível	fazer	a	medição	
das	longitudes.	Apesar	de	não	conhecerem,	mas	saberem	da	existência	de	terras	
situadas	 ao	 norte,	 na	 Europa	 Setentrional	 e	 na	Ásia,	 os	 gregos	 as	 viam	 como	
reservas	futuras	de	exploração.		
 
Neste	 contexto	 de	 desenvolvimento	 do	 conhecimento	 geográfico,	 é	
importante	 destacar	 que	 os	 filósofos	 e	 matemáticos	 discutiam	 ideias	 sobre	 a	
forma	e	dimensões	da	Terra,	bem	como	a	distribuição	das	águas,	terras	e	dos	seres	
humanos.	Aristóteles,	por	exemplo,	admitiu	a	esfericidade	da	Terra,	bem	como	
pesquisou	sobre	a	erosão,	formação	de	deltas,	a	relação	entre	animais	e	plantas,	as	
variações	climáticas,	as	relações	entre	os	seres	humanos,	dentre	outros.
UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
8
IMPORTANT
E
Aristóteles chegou a apresentar que durante os eclipses, a Terra projetava na 
Lua uma sombra redonda, como prova da mesma (observe a imagem a seguir). Assim, os 
trabalhos posteriores de Geodésia elaborados por Eratóstenes para indicar as dimensões da 
Terra, partiam do pressuposto que ela tinha forma esférica. Para isso, Eratóstenes baseava-se 
na medida de inclinação dos raios solares em um poço, em dois pontos diferentes, situados 
na mesma longitude (Sienna e Alexandria), com o auxílio de um instrumento muito simples, 
o gnômon. Através deste, estabeleceu que a esfera da Terra teria 250.000 estádios, ou 42.000 
km. (ANDRADE, 1987). O curioso é que esta medida é muito próxima da aceita atualmente 
(40.000 km).
FONTE: Disponível em: <http://astro.if.ufrgs.br/antiga/antiga.htm>. 
Acesso em: 10 abr. 2011.
FIGURA 3 – SOMBRA DA TERRA NA LUA DURANTE UM ECLIPSE LUNAR
No	 que	 tange	 à	 distribuição	 das	 terras	 e	 das	 águas,	 é	 interessante	
você	 saber	 que	para	 os	 gregos	 a	 Europa,	Ásia	 e	África	 formavam	um	 imenso	
continente	setentrional	 (norte)	contornado	por	águas.	Segundo	Andrade	(1987,	
p.	26),	“quanto	à	existência	de	outro	continente,	antípoda	do	que		habitavam	e	
situado	no	hemisfério	sul,	havia	grande	discussão	entre	eles,	advogando	uns	a	
existência	do	mesmo	como	necessária	ao	equilíbrio	do	globo,	enquanto	outros	
não	aceitavam”.	
Ainda	sobre	o	papel	dos	gregos	no	desenvolvimento	da	ciência	geográfica,	
não	podemos	deixar	de	destacar	a	teoria	geocêntrica	de	Ptolomeu	(sec.	II	d.C.),	
ao	afirmar	que	a	Terra	era	o	centro	do	Universo.	Esta	teoria,	aceita	até	o	século	
XIV,	faz	parte	da	famosa	obra	de	Ptolomeu	intitulada	Sintaxis.	Ptolomeu	também	
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA
9
fez	descrições	do	mundo	conhecido	em	outra	obra,	sendo	considerada	durante	
o	final	do	 Império	Romano	e	durante	a	 Idade	Média,	 como	verdade	absoluta.	
Conforme	Andrade	(1987),	com	a	queda	do	Império	Romano	e	a	conquista	árabe,	
sua	obra	foi	traduzido	para	a	língua	dos	novos	dominadores	e	continuou	a	ter	
grandes	divulgações,	tendo	sido	objeto	de	estudos	e	reflexões	dos	sábios	da	Igreja,	
durante	a	Idade	Média.	Por	isso	tem	uma	grande	importância	histórica.	
Ao	contrário	dos	sábios	gregos	que	tinham	uma	maior	preocupação	com	a	
geografia	matemática,	os	romanos	deram	maior	importância	à	geografia	descritiva.	
Estes	procuraram	desenvolver	ao	máximo	a	organização	do	seu	império,	assim	
como	o	comércio	sobre	as	dezenas	de	suas	províncias.	Exemplo	disso	foram	as	
descrições	realizadas	pelos	grandes	geógrafos	romanos,	Pompônio	Mela	e	Plínio,	
cujas	 preocupações	 estavam	pautadas	 com	 o	 império	 romano	 no	 que	 tange	 à	
localização	das	áreas	ricas	em	produtos	comerciais,	o	acesso	a	elas,	os	problemas	
ligados	ao	abastecimento,	a	distribuição	étnica,	os	problemas	fronteiriços,	dentre	
outras.	
Segundo	Andrade	(1987,	p.	28),	“outro	fato	que	se	exacerbaria	no	período	
romano	 foi	 a	 expansão	do	Cristianismo,	 tornando	 religião	 oficial	 de	Roma	no	
século	IV	e	que	deu	grande	ênfase	ao	poder	dos	monges”.	A	dedicação	dos	monges	
no	estudo	da	Bíblia	Sagrada	fez	com	que	principalmente	após	a	queda	do	Império	
Romano	(século	V)	se	tornassem	detentores	da	cultura	europeia,	frente	aos	povos	
considerados	bárbaros	e	pouco	cultos.	Assim,	o	domínio	dos	princípios	bíblicos	
refutou	muito	das	 consideradas	verdades	 científicas	admitidas	pelos	gregos,	 a	
exemplo	da	esfericidade	da	Terra.	
Na	 verdade,	 muitas	 das	 obras	 escritas	 no	 passado,	 conformecoloca	
Andrade	(1987),	eram	fantasiosas,	sobretudo	aquelas	que	descreviam	monstros,	
animais	de	dimensões	extraordinárias,	bem	como	informações	distorcidas	sobre	
as	diversas	 formas	de	 terrenos,	o	que	dificultavam	o	melhor	 conhecimento	da	
realidade	existente	e	assim,	o	progresso	do	conhecimento	científico.
 
Segundo	Moreira	 (1987),	 a	Geografia,	 dos	 romanos	 até	 a	 Idade	Média,	
esteve	cunhada	como	um	inventário	sistemático	de	terras	e	povos,	ou	seja,	possuía	
um	caráter	descritivo,	com	o	objetivo	de	auxiliar	a	administração	do	Estado.
IMPORTANT
E
Caro(a) acadêmico(a)! Não podemos deixar de falar de Estrabão (nascido por 
volta de 64 a 63 a.C), considerado por muitos autores, o maior geógrafo de Roma. Suas viagens 
realizadas pela Europa, Ásia e África renderam-lhe a escrita de um tratado de dezesseis livros 
contendo descrições físicas de locais e povos da época. Obra considerada monumental. 
Observe a imagem de Estrabão.
UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
10
FIGURA 4 – IMAGEM DE ESTRABÃO
FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_xujLY8HuffY/
SwxcANyk7bI/AAAAAAAAAUQ/NMl3NOXUWu8/s1600/EStrab%C3%A3o.
JPG>. Acesso em: 10 abr. 2011.
3 A GEOGRAFIA NA IDADE MÉDIA 
Na	 Idade	 Média,	 o	 conhecimento	 geográfico	 passou	 por	 algumas	
reformulações	porque	muitos	ensinamentos	de	sábios	gregos,	(Ptolomeu,	Estrabão,	
Heródoto	 etc.),	 que	 haviam	 sido	 refutados	 durante	 o	 império	 romano,	 foram	
retomados.	O	espaço	geográfico	passou	por	um	processo	de	reorganização	associada	
à	atuação	do	povo	árabe,	dos	povos	nórdicos	e	também	com	as	grandes	navegações.	
3.1 A (RE)ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NA 
IDADE MÉDIA
Novas	 fronteiras	 surgiram	e	muitas	das	que	 existiam	 foram	destruídas	
com	a	queda	do	Império	Romano	do	Ocidente	e	sua	divisão	entre	reinos	bárbaros,	
bem	como	com	a	expansão	do	islamismo,	a	imposição	dos	turcos	no	Oriente	e	a	
decadência	do	Império	Bizâncio.	Na	verdade,	houve	uma	reorganização	territorial	
durante	a	Idade	Média.	
Para	 você	 ter	 uma	 ideia	 da	 influência	 da	 expansão	 do	 islamismo,	 por	
exemplo,	 no	 que	 tange	 à	 reorganização	 territorial,	 os	 árabes	 (fundamentados	
em	 sua	 nova	 crença	 religiosa),	 após	 a	 pregação	 de	Maomé	 e	 a	 conversão	 dos	
povos	da	península	arábica	ao	 islamismo,	passaram	a	 fazer	guerras	no	 intuito	
de	conquistar	as	terras	do	Império	Bizantino	na	Ásia	Menor	e	no	norte	da	África.	
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA
11
Aproximadamente	um	século	depois,	os	árabes	 já	 tinham	dominado	as	velhas	
civilizações	da	Síria	e	da	Palestina,	 cristãs	e	ortodoxas.	Conquistaram	 também	
o	norte	da	África,	até	a	costa	atlântica,	bem	como	toda	a	Península	 Ibérica	e	a	
Mesopotâmia.	O	islamismo	foi	expandido	pela	Índia	e	Irã.	
Os	senhores	árabes	detentores	de	vasto	Império	procuravam	organizar	as	
vias	de	transportes	não	apenas	por	razões	comercias,	mas	também	para	facilitar	
a	peregrinação	que	 todo	muçulmano	deveria	 fazer	a	Meca	ao	menos	uma	vez	
na	 vida.	Anualmente,	 a	 cidade	 de	Meca	 recebe	milhões	 de	muçulmanos	 para	
celebrar	um	ritual	religioso	histórico	de	desapego,	arrependimento	e	reflexão.
IMPORTANT
E
É importante você saber que muitas obras famosas pertencentes à biblioteca 
de Alexandria, por exemplo, caíram em poder dos árabes e foram traduzidas para a sua 
língua. Assim, os árabes passaram a conhecer as principais ideias de Aristóteles e Ptolomeu, 
dentre outras.
Podemos	 dizer	 que	 para	 a	 Geografia,	 os	 árabes	 contribuíram	 com	 suas	
viagens	descrevendo	as	condições	naturais,	os	recursos	que	seriam	explorados,	as	
características	e	costumes	dos	povos	que	iam	sendo	dominados.	É	evidente	que	as	
obras	deixadas	pelos	escritores	árabes	não	tinham	nenhuma	preocupação	específica	
com	a	Geografia,	porém	foram	muito	importantes	para	o	avanço	desta	ciência.		
Neste	contexto	de	reorganização	do	espaço	geográfico	e	as	contribuições	
para	Geografia,	não	podemos	deixar	de	abordar	sobre	os	turcos.	Estes,	a	partir	
do	 século	 XIV,	 passaram	 a	 conquistar	 as	 províncias	 orientais	 pertencentes	 ao	
Império	 Árabe	 e	 no	 século	 XV	 conquistaram	 a	 Constantinopla	 destruindo	 o	
Império	Bizantino.	Os	turcos	foram	responsáveis	pela	interrupção	do	comércio	
entre	o	Oriente	o	Ocidente	ocasionando	sérios	problemas	aos	países	europeus	
que	pregavam	o	catolicismo.	Assim,	estes	países	passaram	a	organizar	expedições	
com	destino	à	Palestina	com	o	intuito	de	reconquistar	os	cristãos	e	lutar	contra	os	
turcos	para	garantir	suas	rotas	comerciais	do	Oriente.		
Povo,	nobres,	senhores	feudais	e	até	reis,	como	São	Luís,	da	França,	e	
Ricardo	Coração	de	Leão,	da	Inglaterra,	participaram	de	expedições	
que	por	terra	e	por	mar	partiram	para	atacar	os	infiéis	na	Terra	Santa	
e	no	norte	da	África.	Estas	expedições,	que	se	realizaram	nos	séculos	
X	a	XI,	contribuíram	tanto	para	a	expansão	das	relações	comerciais,	
como	 também	 para	 o	 intercambio	 cultural.	 Desse	 intercambio,	 os	
cristãos	tiveram	maior	acesso	às	obras	dos	gregos,	dominados	pelos	
turcos,	como	também	à	cultura	árabe,	que	nos	 legou	os	algarismos,	
ainda	hoje	denominados	arábicos,	e	nos	transmitiria	o	conhecimento	
de	 invenções	 chinesas	a	que	 tinham	 tido	acesso,	 como	a	pólvora,	o	
papel	e	a	bússola.	(ANDRADE,	1987,	p.	31).	
UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
12
Como	 você	 pode	 perceber,	 apesar	 do	 conflito	 existente,	 foi	 possível	 a	
consolidação	e/ou	 recuperação	entre	povos	que	durante	 séculos	estiveram	sob	
domínio	do	Império	Romano.		
 
Gostaríamos	 de	 destacar	 ainda	 a	 atuação	 dos	 povos	 nórdicos	
(noruegueses,	 dinamarqueses,	 suecos,	 finlandeses	 e	 islandeses),	 que	 se	
dedicavam	principalmente	à	pesca	e	à	navegação.	Embora	não	tenham	deixado	
grandes	registros	de	suas	contribuições,	é	muito	provável	que	para	realizarem	
suas	viagens	transoceânicas	deveriam	ter	certo	conhecimento	sobre	o	regime	dos	
ventos,	da	direção	e	intensidade	das	correntes	marítimas,	da	oscilação	das	ondas	
do	mar,	das	geleiras	e	das	condições	do	clima.
3.2 A CONTRIBUIÇÃO DAS GRANDES VIAGENS 
MEDIEVAIS NO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA
Inúmeros	viajantes	partiram	do	Ocidente,	sobretudo	da	Itália,	à	procura	
de	terras	no	Extremo	Oriente.	Na	verdade,	eles	sabiam	da	existência	do	grande	
Império	mongol	 e	 se	 aventuraram	 sob	 a	 cobiça	 do	 comércio	 e	 também	 como	
enviados	 do	 papa	 no	 intuito	 de	 converter	 os	 soberanos	 do	 Oriente.	 Dentre	
os	 inúmeros	 viajantes	 merecem	 ser	 destacados	 o	 monge	 Piano	 de	 Carpini,	
que	 conseguiu	 manter	 contato	 com	 o	 soberano	 mongol	 em	 Samarcanda	
(posteriormente	 transferido	para	Pequim),	bem	como	o	comerciante	veneziano	
Marco	Polo	(este	nome	não	é	estranho	para	você)	que	acompanhado	de	seu	pai	
viajou	até	a	China	colocando-se	à	disposição	do	soberano	mongol.	
Neste	 Império,	 Marco	 Polo	 desempenhou	 um	 cargo	 importante,	 era	
responsável	 pela	 administração	 de	 várias	 províncias	 e	 também	 executava	
missões	de	alta	confiança.		Retornando	à	Itália	após	vinte	anos,	escreveu	um	livro	
descrevendo	suas	viagens	 realizadas	no	Oriente.	Apesar	de	suas	contribuições	
descritivas,	sua	obra	merece	ser	utilizada	com	certo	cuidado,	pois	não	havia	uma	
preocupação	com	a	veracidade	das	informações	e	por	vezes	suas	histórias	eram	
fantasiosas.	De	qualquer	maneira	não	podemos	desconsiderá-la.
Continuando	com	as	grandes	viagens,	os	italianos	não	se	limitaram	a	fazer	
suas	explorações	no	Mediterrâneo,	na	Ásia	Central	e	Oriental,	ampliaram	suas	
navegações	pelo	Atlântico.	A	quem	diga	que	antes	dos	portugueses	e	espanhóis,	
alguns	viajantes	italianos,	no	século	XIV,	 já	conheciam	as	Ilhas	Canárias,	Porto	
Santo,	Madeira	e	Açores.
Podemos	dizer	que	o	período	da	Idade	Média	foi	marcado	pelas	grandes	
e	numerosas	viagens	realizadas	principalmente	pelos	italianos,	isso	se	confirma,	
pois	 nos	 séculos	 XV	 e	 XVIvários	 deles	 realizaram	 viagens	 a	 serviço	 dos	 reis	
da	 Espanha	 e	 Portugal.	 O	 que	 demonstra	 que	 tinham	 conhecimento	 sobre	
determinadas	áreas	exploradas	anteriormente	por	eles.	
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA
13
3.3 O CONHECIMENTO DO TERRITÓRIO E A EVOLUÇÃO 
DA GEOGRAFIA
Na	 Idade	 Média,	 o	 pensamento	 geográfico	 foi	 influenciado	 pelos	
problemas	 culturais	 atrelados	 ao	 poder	 que	 caracterizava	 a	 Igreja	 Medieval.	
Os	monges	 e	 os	 sacerdotes	 da	 Igreja	 procuravam	desenvolver	 a	 fé,	 sobretudo	
quando	ameaçada	pela	expansão	muçulmana,	bem	como	procuravam	adaptar	as	
ideias	e	concepções	aos	ensinamentos	bíblicos.		Assim,	muitas	das	informações	
tidas	como	verdades	foram	questionadas	pela	igreja	a	exemplo	da	esfericidade	da	
Terra	e	a	distribuição	das	terras	e	das	águas	na	superfície	da	Terra.
 
	 A	 cartografia	 antiga	 sofreu	 reformulações	 principalmente	 com	 as	
navegações	que	permitiram	a	elaboração	de	mapas	detalhando	as	rotas	marítimas.	
As	navegações	oceânicas	instigaram	a	preocupação	com	o	fenômeno	das	marés	e	
questionava-se	também	a	existência	do	relevo	submarino.
As	grandes	viagens	terrestres	(desde	o	Mediterrâneo	até	o	Extremo	Oriente)	
possibilitaram	descrições	importantes	a	respeito	dos	rios,	lagos,	montanhas,	povos	
(cultura,	comércio),	dentre	outros.	Os	rios,	por	exemplo,	já	era	objeto	de	estudo	
para	os	 estudiosos,	pois	 além	de	 serem	para	os	povos	 fonte	de	 abastecimento	
de	água	para	 consumo	e	 irrigação,	 também	serviam	como	hidrovias	 já	que	os	
transportes	 terrestres	eram	muito	precários.	É	provável	que	alguns	desses	rios	
você	já	tenha	ouvido	falar	como	o	Nilo,	Eufrates,	Danúbio,	Tigre,	Reno,	Volga,	
Ganges,	 Indus,	Azul	 e	Amarelo.	 Na	 verdade,	 esses	 rios	 exerceram	 e	 exercem	
ainda	hoje	uma	grande	importância	socioeconômica.	
4 A GEOGRAFIA NOS SÉCULOS XV, XVI E XVII
No	 final	 da	 Idade	Média,	 as	 atividades	 comerciais	 passaram	 a	 ter	 um	
desenvolvimento	 ascendente,	 assim	 como	 houve	 uma	maior	 intensificação	 do	
intercâmbio	entre	os	povos	do	Ocidente	e	Oriente,	ocasionando	a	ampliação	cultural	
e	 a	 difusão	 de	 instrumentos	 importantes	 nas	 transformações	 socioeconômicas	
que	seriam	realizadas	posteriormente	(nos	séculos	XV,	XVI	e	XVII).
Os	 séculos	 XV	 e	 XVI	 foram	marcados	 pela	 intensificação	 das	 grandes	
navegações	 e	 com	 o	 descobrimento	 de	 caminhos	 marítimos,	 a	 exemplo	 do	
caminho	marítimo	 às	 Índias,	 do	descobrimento	 e	 “conquista”	 da	América	 e	 o	
início	da	exploração	no	oceano	Pacífico.	
Observe	no	mapa	a	seguir	o	percurso	das	viagens	ultramarinas.	Perceba	
que	o	Brasil	era	uma	das	rotas.
UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
14
FIGURA 5 – AS GRANDES VIAGENS ULTRAMARINAS
FONTE: Disponível em: <http://www.curso-objetivo.br/vestibular/roteiro_estudos/imagens/
re_500anos_1.jpg>. Acesso em: 20 nov. 2010.
É	 evidente	 que	 os	 exploradores	 tinham	 apoio	 dos	 soberanos	 de	 seus	
países	(Portugal,	Espanha,	França,	Holanda	e	Inglaterra)	que	visavam	fortalecer	
o	poderio	nacional	com	riquezas	oriundas	de	terras	desconhecidas	(além-mar)	
através	de	“saques”	e	do	desenvolvimento	do	comércio.
Para	 você	 ter	 uma	 ideia,	 foi	 na	metade	 do	 século	 XVI	 que	 Fernão	 de	
Magalhães	 encontrou	 a	 passagem	do	 oceano	Atlântico	 para	 o	 Pacífico,	 o	 qual	
atribuiu	 seu	nome	no	estreito	 (veja	no	mapa).	Contudo,	podemos	dizer	que	o	
grande	 explorador	 do	 Pacífico	 foi	 o	 almirante	 James	 Cook.	 Ele	 navegou	 pelo	
oceano	Pacífico	em	várias	direções,	acompanhado	de	cientistas	que	exploraram	
as	águas	e	terras	de	clima	tropical	e	glacial.
Sem	dúvida,	as	 inúmeras	expedições	auxiliaram	o	desenvolvimento	da	
ciência	 geográfica	 com	 as	 informações	 catalogadas	 dos	 oceanos,	 dos	 tipos	 de	
climas	das	diferentes	áreas,	da	geologia	dos	lugares,	da	economia	e	cultura	dos	
diferentes	povos.						
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA
15
4.1 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO NOS CHAMADOS 
TEMPOS MODERNOS
Nos	 chamados	Tempos	Modernos	 (séculos,	XV,	XVI,	XVII),	 as	 grandes	
revoluções	 para	 o	 conhecimento	 geográfico	 foram	 as	 expansões	 territoriais,	 a	
dominação	da	 configuração	da	Terra,	bem	como	a	 rejeição	de	 inúmeras	 ideias	
sobre	a	superfície	da	mesma.
É	 evidente	 que	 a	 expansão	 territorial	 repercutiu	 primeiramente	 na	
cartografia	que	gradativamente	foi	modificada	e	aprimorada.	Ademais,	nos	novos	
mapas	produzidos	um	novo	continente	foi	abarcado,	a	América.	Também	foram	
aprimorados	os	conhecimentos	a	respeito	do	magnetismo	da	Terra,	estabelecendo-
se	a	diferença	entre	o	polo	geográfico	e	magnético.	Ficou	com	dúvidas	em	relação	
a	 esta	 diferença?	 Pense	 um	pouco	 e	 depois	 verifique	 no	UNI.	 Continuando	 a	
nossa	 linha	de	 raciocínio,	 a	medida	das	 longitudes	 também	passou	a	 ser	 feita	
com	mais	precisão	a,	
as	correntes	marítimas,	de	grande	influência	sobre	a	navegação	entre	
os	continentes,	foram	mais	bem	estudadas,	assim	como	a	intensidade	
e	 a	 direção	 dos	 ventos,	 sobretudo	 dos	 alísios.	Os	 navegadores,	 nos	
mares	 tropicais,	 necessitavam	 usar	 os	 alísios	 para	 impulsionar	 as	
suas	 embarcações	 e	 fugir	 da	 calmaria	 equatorial,	 onde	 poderiam	
permanecer	meses,	praticamente	sem	se	movimentar,	à	falta	da	força	
propulsora	do	vento.	(ANDRADE,	1987,	p.	43).			
 
Todos	esses	estudos	contribuíram	para	o	surgimento	de	uma	Geografia	
científica	e	o	aparecimento	de	várias	ciências.
DICAS
A Terra como você já sabe é um imenso ímã. Ela apresenta dois polos magnéticos: 
o Norte e o Sul. Esses polos estão próximos aos polos geográficos. Os polos geográficos são 
as extremidades do eixo da Terra. A extremidade localizada no Hemisfério Sul é o Polo Sul e a 
extremidade localizada no Hemisfério Norte é o Polo Norte. Saiba mais sobre o magnetismo 
da Terra acessando o site: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca /fisica/0011.html>.
UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
16
4.2 OS PRECURSORES DO CONHECIMENTO 
GEOGRÁFICO NOS CHAMADOS TEMPOS MODERNOS
Para	muitos,	 a	 obra	 de	Nicolau	Copérnico	 foi	 considerada	 um	 grande	
impulso	 para	 a	 Revolução	 Científica.	 Copérnico,	 em	 sua	 obra,	 defende	
matematicamente	um	modelo	de	cosmo,	em	que	o	Sol	seria	o	centro	do	Universo	
(Teoria	Heliocêntrica)	e	a	Terra,	era	um	astro	que	girava	em	torno	do	Sol.	A	teoria	
Heliocêntrica	sem	dúvida	rompeu	com	a	Teoria	Geocêntrica	(a	Terra	era	o	centro	
do	universo)	de	Cláudio	Ptolomeu.	Conforme	Viviane	e	Müller	(2009,	p.	40)	“tal	
mudança	 representou	 uma	 das	 rupturas	 mais	 marcantes	 daquele	 período,	 o	
que	culminou	com	o	início	da	modernidade,	pois	a	nova	teoria	estabelecida	era	
contrária	a	uma	teoria	que	reinava	há	quase	vinte	séculos”.	Observe	na	figura	a	
seguir	a	representação	das	duas	teorias
FIGURA 6 – TEORIA GEOCÊNTRICA E TEORIA HELIOCÊNTRICA
FONTE: Disponível em: <http://www.escolas.trendnet.com.br/sjosesbc/renascimento/obras.
htm>. Acesso em: 20 nov. 2010.
IMPORTANT
E
No período do Renascimento Cultural e Científico (séculos XVI e XVII), a Igreja 
Católica ainda controlava a produção cultural e científica, e defendia a teoria Geocêntrica. 
Galileu Galilei, por defender o Heliocentrismo, foi condenado à Inquisição. Para se livrar da 
morte, Galileu negou o Heliocentrismo diante do tribunal. Contudo, não deixou de fazer suas 
pesquisas.
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA
17
Quem foi Galileu Galilei? Nasceu na Itália no ano de 1564. Grande Físico, Matemático e 
Astrônomo, Galileu fez a descoberta da lei dos corpos e enunciou o princípio da Inércia. Foi 
um dos principais representantes do Renascimento Científico dos séculos XVI e XVII. Foi o 
primeiro a contestar as afirmações de Aristóteles, que, até aquele momento, havia sido o 
único a fazer descobertas sobre a física.
Outros	 precursores	 do	 conhecimentocientífico	 que	 também	 merecem	
destaque,	como	Leibnitz	que	tentou	explicar	a	deposição	das	rochas	sedimentares;	
Montesquieu	 (famoso	humanista	 francês)	 que	 estudou	a	 influência	dos	 climas	
na	maneira	de	pensar	 e	 agir	dos	homens;	 Isaac	Newton	 (famoso	 físico	 inglês)	
responsável	pela	formulação	do	princípio	da	lei	da	gravitação	universal.
 
No	 entanto,	 para	 a	 ciência	 geográfica,	 o	 holandês	 Bernardo	 Varenius	
(morreu	com	28	anos),	sem	dúvida	foi	um	dos	precursores	mais	importantes	na	
primeira	metade	do	século	XVII.	Embora	não	tenha	concluído	sua	sublime	obra	
intitulada	Geografia	Geral,	Varenius	 fez	uma	abordagem	sintética	da	chamada	
Geografia	 Matemática,	 que	 estuda	 a	 Terra	 como	 astro	 e	 procura	 explicar	 as	
relações	existentes	entre	este	planeta	e	os	outros,	enveredando	em	seguida	pelos	
temas	 da	Geografia	 Física,	 que	 procurou	 explicar	 as	 formas	 de	 relevo,	 a	 rede	
fluvial	e	as	condições	climáticas	se	interinfluenciando,	para	chegar	ao	papel	da	
sociedade,	do	homem	na	elaboração	do	espaço.	(ANDRADE,	1987).							
 
Talvez	a	maior	contribuição	de	Varenius	tenha	sido	o	fato	de	ele	ter	unido	
em	 uma	 só,	 a	 Geografia	 Geral,	 Geografia	 Matemática,	 Geografia	 Descritiva,	
Geografia	Humanista	e	Geografia	Literária.			
5 A CONTRIBUIÇÃO DO CAPITALISMO NO DESENVOLVIMENTO 
DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA
Antes	de	iniciarmos	a	nossa	conversa	sobre	o	papel	do	capitalismo	no	que	
tange	ao	desenvolvimento	da	ciência	geográfica,	gostaríamos	que	você	refletisse.	
Será	que	o	capitalismo	realmente	contribuiu	para	o	desenvolvimento	da	ciência? 
De	que	forma?	Pense	um	pouco.	
Sim,	sem	dúvida	o	capitalismo	contribuiu	não	só	para	o	desenvolvimento	
da	 ciência	 geográfica,	 mas	 também	 para	 as	 demais	 ciências	 principalmente	
com	 sua	 expansão	 nos	 século	 XVIII	 e	 XIX	 proporcionando	 um	 acelerado	
desenvolvimento	das	mesmas.	Para	 facilitar	o	seu	entendimento,	vamos	voltar	
ao	século	XV.	A	partir	deste,	o	capitalismo	comercial	marcado	pela	expansão	das	
grandes	navegações	ocasionou	o	descobrimento	de	novas	terras,	culturas,	bem	
como	 intensificou	 a	 comercialização	 entre	 os	 povos	 que	 viviam	 em	 condições	
naturais	e	organização	social	diversificadas.	Neste	período,	a	Europa	detinha	o	
núcleo	de	civilização	mais	dinâmica	e	também	possuía	um	controle	maior	sobre	
UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
18
a	 “tecnologia”.	Gradativamente,	 expandiu	 sua	 influência	 econômica	 e	 política	
por	grande	parte	da	superfície	da	Terra,	principalmente	nas	áreas	litorâneas,	cujo	
acesso	às	embarcações	era	mais	fácil.	
O	 capitalismo	 comercial	 proporcionou	 o	 enriquecimento	 da	 burguesia	
e	esta,	por	sua	vez,	passou	a	exercer	uma	 influência	maior	 junto	ao	governo	e	
na	administração	e	com	isso	estimulou	as	técnicas	e	pesquisa	com	o	intuito	de	
ampliar,	por	exemplo,	as	explorações	dos	recursos	naturais.	Cabe	destacar,	que	a	
burguesia,	ao	forçar	o	controle	dos	meios	de	produção	promoveu	sua	revolução	
política	 ocasionando	 a	 destruição	 da	 monarquia	 francesa.	 Conforme	 destaca	
Andrade	(1987,	p.	46):
os	 ideais	 da	 Revolução	 Francesa	 foram	 levados	 a	 outros	 países	 da	
Europa,	 sobretudo	durante	o	 Império	Nopoleônico,	e,	 embora	essas	
monarquias	subsistissem,	fizeram	concessões	e	assimilaram	diretrizes	
que	 permitiram	 e	 as	 vezes	 estimularam	 a	 sociedade	 burguesa,	 em	
formação.	 Na	 Inglaterra,	 por	 sua	 vez,	 desde	 a	 Revolução	 Gloriosa	
(1688),	 a	 burguesia	 vinha	 apossando-se	 de	 fatias	 do	 poder	 e	
enfraquecendo	os	poderes	do	rei	frente	aos	interesses	de	classe.	Daí	a	
Revolução	Industrial	ter-se	iniciado	na	Inglaterra,	no	século	XVIII,	se	
expandindo	pela	França	na	primeira	metade	do	século	XIX,	e	depois	
pela	Europa	central	e	ocidental,	em	meados	do	século	XX.				
 
Neste	 contexto,	 é	 importante	 destacar	 que	 a	 política	 da	 burguesia	
engendrou	uma	verdadeira	revolução	cultural	e	técnica.	Para	você	ter	uma	ideia,	
em	meados	do	século	XVIII,	 as	 ciências	naturais	 (Biologia,	Botânica,	Zoologia,	
dentre	 outras)	 desenvolveram-se	 com	 repercussões	 na	 Geografia.	 Os	 filósofos	
passaram	 a	 questionar	 ideias	 e	 crenças	 desenvolvidas	 em	 séculos	 anteriores,	
formulando	novas	bases	para	a	ciência.	Assim,	a	ciência	geográfica	se	beneficiou	
com	as	reflexões	de	Immanuel	Kant	(filósofo	alemão,	que	tinha	como	centro	de	sua	
filosofia,	o	ser	humano,	como	um	ser	dotado	de	razão	e	liberdade),	por	exemplo.
A	classe	dominante	europeia	era	cada	vez	mais	deslumbrada	com	as	novas	
áreas	 descobertas	 e	 buscavam	 explicações	 para	 tentar	 entender	 a	 diversidade	
dessas	áreas	no	que	concerne	a	paisagem,	a	cultura,	hábitos,	crenças	e	a	própria	
relação	 entre	 o	 homem	 e	 a	 natureza.	 Desse	modo,	 enquanto	 que	 os	 filósofos	
e	 cientistas	 políticos	 tentavam	 explicar	 as	 relações	 entre	 o	 meio	 e	 o	 homem	
(organização	em	sociedade,	as	 formas	de	governo,	de	religiões,	dentre	outras),	
os	 comerciantes	 e	 os	 administradores	 articulavam	 os	 recursos	 disponíveis	 e	
possíveis	de	exploração,	bem	como	constituíam	a	sua	contabilidade	para	otimizar	
os	lucros	obtidos.		Conforme	Claval	(1978),	assim	deu-se	o	desenvolvimento	da	
estatística	e	a	origem	da	Geografia	Política	e	da	Economia,	inicialmente	formadas	
por	catálogos	de	estados	e	cidades,	de	um	lado,	e	da	distribuição	da	produção	de	
outro.
Assim,	 inicia-se	 o	 século	 XIX	 (chamado	 século	 das	 luzes)	 com	 ampla	
revolução	econômica	e	cultural	que	culminaria	com	a	consolidação	do	domínio	
da	burguesia	e	do	modo	de	produção	capitalista	em	quase	todo	o	globo	terrestre.	
Uma	 superestrutura	 ideológica	 e	 cultural	 passou	 a	 se	 consolidar	 consagrando	
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA
19
a	 racionalidade	 da	 ação	 do	 homem	 sobre	 a	 natureza,	 “o	 que	 permitiria	 a	 sua	
exploração	 com	 grandes	 vantagens,	 a	 dominação	 técnica,	 a	 valorização	 do	
pensamento	científico,	com	a	preocupação	do	estabelecimento	de	leis	universais,	
a	partir	das	formulações	de	Newton,	e	a	crença	generalizada	no	progresso,	que	
seria	linear	e	contínuo”.	(MENDONZA,	1982	apud	ANDRADE,	1987,	p.	49).
UNI
Você muito provavelmente deve se perguntar se este caderno é voltado à 
Geografia ou à História. Pois bem, para entendermos a Geografia atual precisamos entender 
o contexto histórico de produção do espaço geográfico.
6 O SURGIMENTO DA GEOGRAFIA MODERNA E SEUS 
PRECURSORES
No	 início	 do	 século	 XIX,	 as	 condições	 culturais,	 econômicas	 e	 políticas,	
engendraram	as	novas	diretrizes	 intelectuais	 e	 científicas	do	 século.	Expandem-
se	 as	 ciências	 da	 observação	 e	 da	 experimentação	 em	 virtude	 da	 preocupação	
com	o	 controle	da	natureza.	Assim,	muitos	 cientistas	passaram	a	 formular	 suas	
próprias	teorias	com	o	acúmulo	de	suas	observações	(conhecimento	empírico).	É	
evidente	que	a	expansão	colonial	(de	países	como	a	Inglaterra,	França,	Portugal,	
dentre	outros)	estimulou	a	formação	de	“sociedades”	geográficas	com	o	intuito	de	
realizar	expedições	científicas	à	procura	de	recursos	naturais	para	explorar,	como	as	
expedições	realizadas	no	interior	do	continente	africano,	asiático	e	sul-americano.	
 
Você	certamente	já	ouviu	falar	do	inglês	Charles	Darwin,	pois	bem,	este	
homem	é	considerado	um	dos	mais	famosos	cientistas	do	século	XIX	que	deu	a	
volta	ao	mundo	estudando	os	animais	e	plantas.	Uma	de	suas	célebres	obras	é	o	
livro	intitulado	“A origem das espécies”.	Neste	livro,	Darwin	abarca	a	teoria	da	
evolução	das	espécies	conforme	sua	capacidade	de	adaptação	ao	meio	natural.	
Sua	teoria	contrariava	as	concepções	da	Bíblia,	bem	como	gerou	forte	influência	
aos	 estudos	 de	 numerosos	 cientistas,	 a	 exemplo	 de	Haekel	 (uso	 da	 expressão	
ecologia)	 e	 Spencer	 (desenvolvimento	 do	 evolucionismo).	 Estas	 concepções	
influenciaram	os	fundadores	da	Geografia	Moderna	(Humboldt	e	Ritter).Outro	 aspecto	 importante	 que	marcou	 o	 século	 XIX	 e	 que	merece	 ser	
destacado	foram	as	desigualdades	sociais.	Estas	eram	tão	intensas	que	levaram	
alguns	estudiosos	a	formular	teorias	que	contrariavam	os	princípios	do	capitalismo.	
Num	 primeiro	 momento,	 as	 contestações	 ao	 capitalismo	 eram	 realizadas	 por	
idealistas	utópicos	que	imaginavam	uma	sociedade	mais	justa,	posteriormente,	
eram	realizadas	por	pensadores	materialistas	que	criticavam	as	estruturas	sociais	
através	de	uma	análise	mais	dialética.	Neste	contexto,	não	podemos	deixar	de	
UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
20
falar	de	Karl	Marx	e	Friedrich	Engels	que	 tentaram	elucidar	a	dinâmica	social	
de	forma	totalizadora.	Na	verdade,	estes	dois	pensadores	estavam	engajados	na	
ação	política	e	não	exerceram	grande	influência	aos	geógrafos	da	época	(século	
XIX),	pois	a	maioria	deles	estava	comprometida	com	as	“políticas” de poder	de	
seus	países.	
6.1 A CONTRIBUIÇÃO DE ALEXANDRE VON HUMBOLDT
Alexandre	von	Humboldt	(1769-1859)	é	considerado	um	dos	fundadores	
da	Geografia	Moderna.	O	nobre	prussiano	possuía	formação	naturalista	e	realizou	
inúmeras	viagens	pela	Europa,	na	porção	central	e	norte	da	Ásia	e	na	América	
Latina.	Procurou	conhecer	a	natureza	física	no	intuito	de	obter	explicações	sobre	
a	evolução	da	sociedade	sem	se	preocupar	com	as	relações	sociais.
FIGURA 7 – ALEXANDRE VON HUMBOLDT
FONTE: Disponível em: <http://en.academic.ru/pictures/
enwiki/65/AvHumboldt.jpg>. Acesso em: 10 set. 2010.
Na	cartografia	(que	estava	em	expansão),	Humboldt	concebeu	um	traçado	
de	 linhas	 ligando	 pontos	 que	 apresentassem	 as	mesmas	 temperaturas	médias	
(as	 isotermas),	 a	 princípio	 para	 definir	 o	 que	 chamou	 de	 zodíaco	 isotérmino,	
que	segundo	Claval	(1978),	deveria	ter	uma	largura	de	35º	tendo	como	centro	o	
paralelo	de	40º	Norte.
É	importante	destacar	que	Humboldt,	através	de	suas	análises,	comparava	
a	distribuição	do	relevo,	do	clima	e	das	associações	vegetais,	bem	como	a	interação	
que	 ocorria	 entre	 estes	 elementos,	 no	 que	 tange	 causas	 e	 efeitos.	 Formulou	 o	
princípio da causalidade (a	necessidade	de	explicar	o	porquê	dos	fatos).	Pode-se	
dizer	que	é o princípio básico da Geografia moderna. 
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA
21
Dentre	 suas	obras	merecem	destaque	os	 livros	Quadros	da	Natureza	 e	
Cosmos.	Na	verdade,	Humboldt	reuniu,	de	forma	sistemática,	as	tradições	das	
narrativas	de	viagens	e	das	cosmografias	num	só	conjunto	lógico.	Em	sua	obra,	
encontram-se	 também	 alguns	 dos	 principais	 elementos	 que	 definem	 a	 ciência	
moderna,	a	explicação	por	meio	das	generalizações	e	um	método de observação 
submetido	a	critérios	bem	definidos.	(GOMES,	2007).	Assim,	a	Geografia	proposta	
por	Humboldt	envolve	“[...]	uma	reflexão	sobre	o	homem	e	uma	reflexão	sobre	
a	 natureza,	 sob	 um	 mesmo	 patamar	 de	 inteligibilidade.	 Por	 este	 programa,	
Humboldt	legou	à	posteridade	as	bases	de	uma	nova	ciência,	rica	em	tradições	
e,	ao	mesmo	tempo,	moderna	e	sistemática”.	 (GOMES,	2007,	p.	162).	Podemos	
dizer	que	para	a	Geografia,	Humboldt	exerceu	um	papel	fundamental	nos	novos	
tempos,	ao	produzir	um	discurso	e	uma	imagem	coerente	e	científica	do	mundo	
moderno.
Cabe	ressaltar	também	a	obra	“Ensaios	políticos	sobre	o	reino	de	Nova	
Espanha”,	utilizado	mais	tarde	por	Thomas	Malthus	para	formular	suas	teorias	
demográficas.			
6.2 A CONTRIBUIÇÃO DE KARL RITTER
Assim	 como	Humboldt,	 Karl	 Ritter	 (1779-1859)	 também	 é	 considerado	
fundador	 da	 Geografia	 Moderna.	 Ritter,	 filósofo	 e	 historiador,	 preocupou-se	
em	estudar	exaustivamente	a	Ásia	Menor.	Foi	professor	de	alguns	dos	maiores	
geógrafos	do	final	do	século	XIX:	Ratzel,	Reclus	e	La	Blache.
FIGURA 8 – KARL RITTER
FONTE: Disponível em: <http://www.iamthewitness.com/
books/img/Karl.Ritter.jpg>. Acesso em: 10 set. 2010.
UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
22
Ao	contrário	de	Humboldt,	Ritter	não	 foi	um	viajante	e/ou	explorador,	
mas	sim	um	grande	leitor	e	expositor.	Buscou	explicar	a	evolução	da	humanidade,	
ligando-a	às	relações	entre	o	povo	e	o	meio	natural,	fazendo	sobretudo	a	descrição	
da	sociedade.
Segundo	Moraes	(1986),	na	visão	de	Ritter	a	Geografia	era	o	estudo	dos	
lugares,	a	busca	pela	individualidade	destes	e,	sendo	assim,	deveria	estudar	os	
arranjos individuais,	bem	como	compará-los.	No	que	tange	aos	arranjos,	“cada	
arranjo	 abarcaria	 um	 conjunto	 de	 elementos,	 representando	 uma	 totalidade,	
onde	o	homem	seria	o	principal	elemento”.	(MORAES,	1986,	p.	49).	Para	Ritter,	a	
Geografia	teria	a	incumbência	de	explicar	a	individualidade	dos	sistemas	naturais,	
pois	nesta	se	expressaria	o	desígnio	da	divindade	ao	criar	aquele	lugar	específico.	
(MORAES,	 1986).	 Ainda	 conforme	 Moraes	 (1986),	 o	 objetivo	 para	 Ritter,	 era 
chegar a uma harmonia entre a ação humana e os desígnios divinos, manifestos 
na variável natureza dos meios.	Desse	modo,	a	ordem	natural	obedeceria	a	um	
fim	previsto	por	Deus,	a	causalidade	da	natureza	obedeceria	à	designação	divina	
do	movimento	dos	fenômenos.	
A	proposta	de	Ritter	é	considerada	antropocêntrica,	pois	o	homem	é	o	
sujeito	da	natureza.	Também	é	considerada	regional	porque	aponta	para	o	estudo	
de	individualidades,	valorizando	a	relação homem-natureza.	(MORAES,	1986).
 
De	modo	geral,	podemos	dizer	que	tanto	Humboldt	quanto	Ritter	eram	
ligados	às	classes	dominantes	de	seu	país.	Estes	dois	sábios	alemães	respondiam	
aos	desafios	da	sociedade	europeia	em	que	viviam,	tanto	em	função	da	dominação	
capitalista	como	para	a	própria	formação	da	unidade	da	Alemanha.	Assim,	para	
os	grupos	dominantes	e/ou	nações	dominantes,	o	conhecimento	do	mundo,	bem	
como	das	relações	entre	a	sociedade	e	a	natureza	eram	de	grande	importância	
para	 a	 ampliação	 do	 domínio	 extraeuropeu.	 Daí	 a	 importância	 dos	 estudos	
realizados	por	Humboldt	e	Ritter	naquela	época.	
IMPORTANT
E
Segundo Pereira (1989, p. 91) [...] “é em solo alemão que a Geografia alcança sua 
forma de Ciência Moderna. [...] com Humboldt e Ritter nasce a Geografia Científica ou Geografia 
Acadêmica. Isto é, uma Geografia produzida agora a partir dos centros universitários e, mais 
tarde, ensinada nas escolas. Apesar de Humboldt ser naturalista e Ritter historiador, ambos 
possuíam uma visão de totalidade típica do avanço alemão (Kant, Hegel, dentre outros).
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA
23
6.3 A CONTRIBUIÇÃO DE FRIEDRICH RATZEL 
O	alemão	Friedrich	Ratzel	(1844-1904)	representou	um	papel	fundamental	no	
processo	de	sistematização	da	Geografia	Moderna,	expressa	principalmente	através	
de	suas	duas	obras	mais	importante,	a	Antropogeografia e a Geografia Política.
FIGURA 9 – FRIEDRICH RATZEL
FONTE: Disponível em: <http://people.wku.edu/charles.smith/
chronob/RATZEL.jpg>. Acesso em: 10 set. 2010.
Na	primeira	obra,	Ratzel	 fundamenta	sua	 teoria	determinista	 inspirada	
na	teoria	de	Darwin	e	depois	Spencer.	Para	Ratzel,	“o	homem,	em	todos	os	seus	
planos	 de	 existência,	 tanto	 mental	 como	 civilizatório,	 é	 o	 que	 determina	 seu	
meio	natural”.	(MOREIRA,	1987,	p.	31).	Essa	teoria	ficou	conhecida	como	teoria 
do Determinismo Geográfico. Na	visão	de Ratzel, “como	na	 luta	das	espécies	
pelo	domínio	do	espaço	que	contém	sua	nutrição,	os	homens	organizam-se	em	
Estados	para	os	quais	o	espaço	é	fonte	de	vida”. (MOREIRA,	1987,	p.	32). Teoria 
esta	que	ficou	conhecida	como Teoria do Espaço Vital, ou	seja,	entende-se	como	
espaço	vital	o	equilíbrio	entre	os	recursos	naturais	disponíveis	e	a	população	que	
tenta	satisfazer	suas	necessidades	locais.	
Neste	contexto,	observe	como	Moreira	(1987,	p.	33)	descreve	o	raciocínio	
linear	de	Ratzel:
Os	 homens	 agrupam-se	 em	 Sociedade,	 a	 Sociedade	 é	 o	 Estado,	 o	
Estado	é	um	organismo.	A	sociedade	e	o	Estado	são	o	fruto	orgânico	
do	 determinismo	 do	 meio.	 O	 Estado	 éa	 expressão	 orgânica	 do	
“determinismo	 geográfico”.	 O	 Estado	 é	 um	 organismo	 em	 parte	
humano	e	em	parte	terrestre.	É	a	forma	concreta	que	adquire	em	cada	
UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
24
canto	a	 relação	homem-meio.	O	Estado	é	assim	porque	possui	uma	
relação	necessária	com	a	natureza.	Os	Estados	necessitam	de	espaço,	
como	 as	 espécies,	 por	 isto	 lutam	 pelo	 seu	 domínio.	A	 subsistência,	
energia,	 vitalidade	 e	 o	 crescimento	 dos	 Estados	 têm	 por	 motor	 a	
busca	 e	 a	 conquista	 de	 novos	 espaços.	 Troquemos	 “Estados”	 por	
“Imperialismo”	e	entenderemos	Ratzel.		
 
Do	 pensamento	 de	 Ratzel	 nasceu	 a	 Geografia	 Política,	 com	 a	 sua	
importante	obra	intitulada	Geografia	Política	(1897). Nesta,	Ratzel	pensa	o	Estado	
como	um	organismo	articulador	entre	o	povo	e	o	solo.	Para	ele,	o	solo	condiciona	
as	formas	elementares	e	complexas	da	vida,	bem	como	favorece	e/ou	emperra	o	
desenvolvimento	dos	Estados.	Conforme	coloca	Costa	(1992,	p.	33):
não	se	trata,	porém	de	um	determinismo	estreito,	meramente	causal.	
O	que	está	em	jogo	é	a	ideia	de	que	o	solo	e	seus	condicionantes	físicos	
são	apenas	um	dado	geral,	uma	base	 concreta,	um	potencial	 enfim,	
cuja	eficácia	para	o	desenvolvimento	estatal	de	uma	nação	ou	de	um	
povo	dependerá	antes	de	tudo	da	sua	capacidade	em	transformar	essa	
potencialidade	em	algo	efetivo.
Para	 Ratzel,	 a	 efetivação	 das	 potencialidades	 só	 seria	 concretizada	
com	 a	 existência	 de	 um	 Estado	 forte,	 centralizador	 e	 capaz	 de	 criar	 políticas	
territoriais,	econômicas,	culturais,	dentre	outras,	visando	à	unidade	nacional.	De	
acordo	 com	Costa	 (1992),	 outro	 aspecto	 importante	 do	 pensamento	 ratzeliano	
é	 o	 papel	 desempenhado	 pelo	 comércio	 internacional,	 que	 teria	 a	 função	 de	
transformar	a	 terra	 inteira	num	vasto	organismo	econômico.	Ratzel	defendia	a	
ideia	de	que	o	desenvolvimento	dos	povos,	sobretudo,	o	alemão,	deveria	passar	
obrigatoriamente	pelo	“alargamento”	do	horizonte	geográfico.
6.4 A CONTRIBUIÇÃO DE ÉLISÉE RECLUS E DE PIETR 
KROPOTKIN
Diferentemente	 dos	 geógrafos	 estudados	 anteriormente,	 que	 estavam	
à	 mercê	 da	 classe	 dominante,	 bem	 como	 ocuparam	 cátedras	 universitárias,	
os	geógrafos	 (final	do	 século	XIX	e	 início	do	 século	XX)	Élisée	Reclus	 (origem	
francês)	 e	 Pietr	 Kropotkin	 (origem	 russa)	 se	 colocaram	 contra	 a	 estrutura	 de	
poder,	negando	a	validade	do	Estado,	adotaram	concepções	de	reformas	sociais	
radicais	e	defenderam	as	classes	menos	favorecidas.
Segundo	Andrade	(1987,	p.	57),	para	Reclus	os	geógrafos	deveriam	fazer	
uma	análise	a	partir	das	seguintes	concepções:	“que	a	sociedade	está	dividida	em	
classes	sociais;	a	diferença	de	classes	provoca	a	luta	entre	as	classes	dominadas;	
a	melhoria	 das	 estruturas	 sociais	 a	 partir	 do	 aperfeiçoamento	 progressivo	 do	
homem”.		O	cientificismo	de	Reclus	estava	pautado	na	ciência	como	solução	dos	
problemas,	ou	seja,	a	ciência	desenvolvida	era	capaz	de	solucionar	os	problemas	
e	aperfeiçoar	 socialmente	os	homens.	Dentre	 suas	obras	merecem	destaque:	A 
TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA
25
terra	(dois	volumes)	publicada	em	1869;	A Nova Geografia Universal	(dezenove	
volumes)	publicada	de	1875	a	1892	e	O homem e a terra	(seis	volumes)	publicada	
de	1905	a	1908.
Kropotkin	tinha	uma	verdadeira	paixão	pela	natureza.	Para	ele,	a	Geografia	
era	uma	ciência	da	natureza.	Acreditava	no	poder	da	ciência	e	admitia	que	tanto	
nas	ciências	naturais	como	nas	ciências	sociais	existiam	leis	gerais	que	regiam	os	
fenômenos.	Conforme	coloca	Andrade	(1987,	p.	59),	Kropotkin	“manteve-se	fiel	
ao	positivismo	e	admitia	que	a	dialética,	defendida	por	Marx	e	Engels,	não	podia	
dar	contribuição	positiva	ao	desenvolvimento	das	ciências.	Preocupava-se muito 
com a educação e com o papel a ser desempenhado pela Geografia no processo 
educativo”.	
Na	 visão	 de	 Kropotkin	 o	 ensino	 da	 Geografia	 deveria	 encaminhar	 os	
estudantes	para	maior	compreensão	dos	povos,	sem	fronteiras	territoriais,	onde	
as	diferentes	culturas	pudessem	viver	em	harmonia.	Na	verdade,	ele	propunha	o	
desaparecimento	do	Estado	e	a	preparação	de	uma	juventude	para	viver	em	uma	
sociedade	livre.	
Podemos	 dizer	 que	 estes	 dois	 geógrafos	 lutavam	 por	 uma	 Geografia	
Libertária,	que	não	estivesse	à	mercê	da	conquista	do	poder.
UNI
Como você pôde perceber no decorrer do estudo realizado neste tópico, a 
Geografia até se tornar uma ciência percorreu um longo caminho. Neste longo caminho, 
muitas foram as concepções e/ou interpretações para tentar entender o nosso planeta, bem 
como a própria Geografia. Procure agora resolver as autoatividades e, se for necessário, retome 
a leitura deste tópico.
26
Neste tópico você estudou que:
•	 A	 Geografia	 é	 considerada	 uma	 das	 ciências	 mais	 antigas.	 Isso	 porque,	 a	
confecção	dos	mapas,	conforme	registros	históricos	ocorreu	antes	da	própria	
escrita.		
•	 Os	povos	primitivos,	apesar	de	não	serem	detentores	da	escrita,	já	possuíam	
“ideias”	geográficas	em	suas	concepções	de	vida	e	cultura.	Suas	experiências	
diárias,	ou	saberes	práticos,	e	as	noções	e	relações	com	a	natureza	permitiram	
mesmo	que	empiricamente	a	ampliação	e	desenvolvimento	do	conhecimento	
geográfico.
•	 As	 ideias	 geográficas	 dos	 povos	 orientais,	 através	 de	 seus	 conhecimentos	
práticos	 de	 exploração	 da	 Terra,	 bem	 como	 de	 suas	 observações	 e	 estudos	
matemáticos,	 foram	 responsáveis	 pela	 sistematização	 do	 conhecimento	 do	
mundo.	
•	 Os	filósofos	e	matemáticos	gregos	 contribuíram	para	o	desenvolvimento	do	
conhecimento	 geográfico	 com	 suas	 ideias	 sobre	 a	 forma	 e	 as	 dimensões	 da	
Terra,	bem	como	a	distribuição	das	águas,	 terras	 e	dos	 seres	humanos,	 sem	
falar	da	teoria	geocêntrica	de	Ptolomeu	(século	II	d.C.),	ao	afirmar	que	a	Terra	
era	o	centro	do	Universo.
•	 Os	romanos	deram	maior	importância	à	geografia	descritiva.	Eles	procuraram	
desenvolver	ao	máximo	a	organização	do	seu	império,	assim	como	o	comércio	
sobre	as	dezenas	de	suas	províncias.	
•	 Na	Idade	Média,	o	conhecimento	geográfico	passou	por	algumas	reformulações	
isso	porque	muitos	ensinamentos	de	sábios	gregos,	que	haviam	sido	refutados	
durante	o	império	romano,	foram	retomados.	Este	período	foi	marcado	pelas	
grandes	e	numerosas	viagens	realizadas	principalmente	pelos	italianos.	Isso	se	
confirma,	pois	nos	séculos	XV	e	XVI	vários	deles	realizaram	viagens	a	serviço	
dos	reis	da	Espanha	e	Portugal.	
•	 Nos	 chamados	 Tempos	 Modernos	 (séculos,	 XV,	 XVI,	 XVII),	 as	 grandes	
revoluções	 para	 o	 conhecimento	 geográfico	 foram	 as	 expansões	 territoriais,	
a	 dominação	 da	 configuração	 da	 Terra,	 bem	 como	 a	 rejeição	 de	 inúmeras	
ideias	 sobre	 a	 sua	 superfície.	 Para	muitos,	 a	 obra	de	Nicolau	Copérnico	 foi	
considerada	um	grande	 impulso	para	a	Revolução	Científica	com	sua	teoria	
heliocêntrica.	
RESUMO DO TÓPICO 1
27
•	 O	capitalismo	contribuiu	não	só	para	o	desenvolvimento	da	ciência	geográfica,	
mas	também	para	as	demais	ciências,	principalmente,	com	sua	expansão	nos	
século	XVIII	e	XIX,	proporcionando	um	acelerado	desenvolvimento	delas.
 
•	 No	 início	 do	 século	 XIX,	 as	 condições	 culturais,	 econômicas	 e	 políticas,	
engendraram	as	novas	diretrizes	intelectuais	e	científicas	do	século.	Expandem-
se	as	ciências	da	observação	e	da	experimentação	em	virtude	da	preocupação	
com	o	controle	da	natureza.	Assim,	muitos	cientistas	passaram	a	formular	suas	
próprias	teorias	com	o	acúmulo	de	suas	observações.	
•	 Alexandre	Von	Humboldt	 e	Karl	 Ritter	 são	 considerados	 os	 fundadores	 da	
Geografia	Moderna.	Enquanto	Humboldt	procurou	conhecer	a	natureza	física,	
no	intuito	de	obter	explicações	sobre	a	evolução	da	sociedade	sem	se	preocupar	
com	 as	 relações	 sociais,	 Ritter	 buscou	 explicar	 a	 evolução	 da	 humanidade,ligando-a	 às	 relações	 entre	 o	 povo	 e	 o	meio	 natural,	 fazendo,	 sobretudo,	 a	
descrição	da	sociedade.
•	 O	 alemão	 Friedrich	 Ratzel	 representou	 um	 papel	 fundamental	 no	 processo	
de	sistematização	da	Geografia	Moderna,	expressa	principalmente	através	de	
suas	duas	obras	mais	importante,	a	Antropogeografia	e	a	Geografia	Política.
•	 Élisée	 Reclus	 e	 Pietr	 Kropotkin	 se	 colocaram	 contra	 a	 estrutura	 de	 poder,	
negando	 a	 validade	 do	 Estado,	 adotaram	 concepções	 de	 reformas	 sociais	
radicais	e	defenderam	as	classes	menos	favorecidas.
28
Diante	 do	 estudo	 realizado	 neste	 tópico,	 como	 autoatividade,	 sugerimos	
que	você	faça	uma	síntese	da	sua	compreensão	em	relação	ao	conhecimento	
geográfico:
a)	Da	ANTIGUIDADE
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
b)	Da	IDADE	MÉDIA
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
c)	Dos	chamados	TEMPOS	MODERNOS
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
AUTOATIVIDADE
29
TÓPICO 2
AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E O 
ENSINO DA GEOGRAFIA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
O	 pensamento	 geográfico	 passou	 por	 profundas	 transformações	 ao	
longo	dos	últimos	séculos,	principalmente	com	as	concepções	e	obras	de	ilustres	
geógrafos.	Vimos	no	tópico	anterior	as	várias	contribuições	de	diferentes	povos	
no	que	 tange	ao	desenvolvimento	da	ciência	geográfica.	Contudo,	a	Geografia	
enquanto	ciência,	deve	a	sua	existência	a	um	grande	estímulo	social	 ligada	ao	
contexto	histórico	da	Alemanha.		
Neste	 tópico,	 propomos	 a	 você,	 caro	 acadêmico,	 a	 entender	 a	
institucionalização	 da	 Geografia	 e	 o	 papel	 das	 diferentes	 escolas	 geográficas	
no	desenvolvimento	desta	ciência.		Começaremos	o	nosso	estudo	com	algumas	
considerações	sobre	o	papel	da	Geografia	Clássica	ou	Tradicional	marcada	pela	
Escola	 Geográfica	 Alemã,	 Francesa,	 Britânica,	 Norte-americana	 e	 Soviética.	
Neste	estudo,	você	perceberá	a	relação	destas	escolas	geográficas	com	a	classe	
dominante,	bem	como	a	disputa	de	poder	e	a	conquista	por	território.
 
Posteriormente,	 veremos	 a	 busca	 de	 novos	 paradigmas	 para	 a	 ciência	
geográfica	 com	 o	 desenvolvimento	 da	 Geografia	 Teorética	 ou	 Quantitativa	
marcada	 pelo	 uso	 em	 larga	 escala	 de	 modelos	 matemático-estatísticos.	 E,	
finalizaremos	o	estudo	deste	tópico	com	o	surgimento	da	Geografia	Radical	ou	
Crítica	em	resposta	aos	graves	problemas	enfrentados	pela	sociedade	e	atuação	
da	Geografia	Clássica	e	a	Geografia	Teorética	ou	Quantitativa.
Concentre-se	e	bons	estudos!
2 A GEOGRAFIA CLÁSSICA OU TRADICIONAL
A	 Geografia	 Clássica	 exerceu	 um	 importante	 papel,	 pois	 atendeu	 aos	
desafios	da	classe	dominante	pela	exploração	dos	recursos	naturais	e	do	povo.	
Segundo	Andrade	(1987,	p.	66),	“conforme	a	situação	econômica	e	social	de	cada	
país	e	os	desafios	que	os	governos,	comprometidos	com	as	classes	dominantes,	
encontravam	para	fazer	o	seu	próprio	“desenvolvimento”,	fossem	diversos,	ela	se	
fragmentou	em	escolas	nacionais	ou	até	regionais”.			Assim,	emergem	as	escolas 
geográficas,	 dentre	 elas	 podemos	 destacar	 a	 escola	 alemã,	 francesa,	 britânica,	
soviética	e	norte-americana.	Estas	escolas	visavam	a	estudos	que	atendessem	aos	
interesses	de	 seus	países	buscando	 soluções	 e	orientações	que	 justificassem	as	
ações	dos	mesmos.	Vejamos	algumas	características	de	cada	uma	delas.					
UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
30
2.1 A ESCOLA GEOGRÁFICA ALEMÃ
Podemos	dizer	que	foi	na	Alemanha	que	a	Geografia	se	institucionalizou.	
Foi	 na	 Alemanha	 também	 que	 viveram	 três	 grandes	 geógrafos,	 Humboldt,	
Ritter	 (inclusive	 considerados	 pais	 da	 Geografia	 Moderna	 –	 vimos	 no	 tópico	
anterior)	 e	 Ratzel.	 Da	 escola	 clássica	 alemã,	 merece	 destaque	 também	Alfred	
Hettner	 que	 direcionou	 o	 conhecimento	 geográfico	 à	 ecologia,	 preocupando-
se	 com	a	paisagem	natural	 e	 também	com	a	ação	do	homem	no	que	 tange	ao	
uso	e	degradação.	Essa	tendência	ecológica	exerceu	e	ainda	exerce	uma	grande	
importância	no	pensamento	alemão.	
A	Geografia	 enquanto	 ciência	moderna	 teve	 sua	 gênese	 devido	 [...]	 “a	
existência	de	um	estímulo	social	mais	direto	presente	na	particularidade	histórica	
da	Alemanha	e	de	certas	características	individuais	relativas	ao	pensamento	de	
alguns	cientistas	alemães”.	(PEREIRA,	1993,	p.	90).	Na	verdade,	o	desenvolvimento	
do	capitalismo	na	Alemanha	nos	permite	entender	as	razões	que	levaram	este	país	
a	valorizar	a	ciência	geográfica.	Assim,	é na Alemanha que a Geografia obtém o 
status de ciência moderna. 
Conforme	coloca	Pereira	(1993),	o	salto	qualitativo	se	dá	entre	os	alemães	
no	momento	em	que	as	questões	 relativas	ao	desenvolvimento	do	capitalismo	
encontram-se	resolvidas	na	Inglaterra	e	em	curso	bastante	adiantado	na	França,	
enquanto	a	Alemanha	permanece	ainda	às	voltas	com	o	seu	processo	de	unificação.	
Para	Moreira	 (1981,	 p.	 22),	 “se	 para	 o	 capitalismo	 inglês	 e	 francês	 o	 papel	 da	
geografia	é	o	de	lhes	viabilizar	a	expansão	colonial,	para	o	capitalismo	alemão	seu	
papel	será	o	de	dar	respostas	as	questões	ainda	preliminares:	a	unidade	alemã”.		
A	questão	da	unificação	da	Alemanha	se	coloca	então	como	parte	de	um	
projeto	político	 econômico	visando	 à	hegemonia	no	país,	 como	uma	 condição	
para	o	avanço	do	capitalismo	[...]	que	vê	no	nacional	a	possibilidade	de	realizar	
o	universal”.	(PEREIRA,	1993,	p.	106).	Neste	contexto,	emerge	a	Geografia	para	
responder	duas	necessidades	básicas	da	Alemanha:	a unificação do território e a 
conquista de um lugar privilegiado do país com as demais nações.
A	 Geografia	 se	 configura	 como	 algo	 novo	 que	 vai	 tomando	 corpo	 na	
sociedade	alemã,	calcada	nos	latifúndios,	na	indústria,	extremamente	vinculada	
à	 aristocracia	 rural	 alemã,	 bem	 como	 às	 características	 gerais	 da	 cultura	
alemã.	 (PEREIRA,	 1993).	 Podemos	 dizer	 que	 a	 Geografia	 Moderna	 emerge	
já	 comprometida	 com	 a	 aristocracia	 alemã.	 Afinal	 de	 contas	 os	 fundadores	
(Humboldt	e	Ritter)	estavam	direta	e	indiretamente	ligados	a	esta	aristocracia.		
É	 importante	destacar	que	“a	obra	de	Humboldt	e	Hitter,	embora	num	
certo	sentido	complementar,	representa	duas	direções	bem	distintas	da	ciência	
geográfica	no	início	do	século	XIX”.	(PEREIRA,	1993,	p.	116).	Ambos	manifestam	
uma	afinidade	de	pretensões	científicas	que	traduzem	sua	vinculação	ao	modelo	
cognitivo	da	época	em	que	viviam.		
TÓPICO 2 | AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E O ENSINO DA GEOGRAFIA
31
Como	já	dissemos	anteriormente,	é	com	Humboldt	e	Hitter	que	surgiu	a	
Geografia	científica	ou	a	Geografia	acadêmica,	ou	seja,	uma	Geografia	estudada	a	
partir	dos	centros	universitários	e,	posteriormente,	ensinadas	nas	escolas.
 
Assim,	caro(a)	acadêmico(a),a	Geografia	que	atualmente	é	ensinada	nos	
diferentes	níveis	de	escolaridade	 foi	sistematizada	a	partir	das	 formulações	de	
Humboldt	 e	Hitter	 e	 acrescida	 da	 contribuição	 de	 Ratzel	 e	 também	da	 escola	
geográfica	francesa,	principalmente	com	as	contribuições	de	Vidal	de	La	Blache	
(próxima	seção).	
DICAS
Caso você queira aprofundar seus estudos sobre esta corrente geográfica e/ou a 
Alemanha como berço da Geografia Moderna, sugerimos a leitura da obra intitulada “Da Geografia 
que se ensina à gênese da Geografia Moderna”, de Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira.
2.2 A ESCOLA GEOGRÁFICA FRANCESA
A	escola	geográfica	francesa	emergiu	na	primeira	metade	do	século	XX,	
tendo	como	 idealizador	o	 francês	Paul	Vidal	de	La	Blache.	Este	 foi	o	primeiro	
francês	a	ocupar	uma	cátedra	universitária	de	Geografia.	
Na	 verdade,	 a	 Geografia	 passa	 a	 ter	 uma	 grande	 importância	 para	 os	
franceses	quando	a	França	 foi	derrotada	pela	Alemanha	em	1871.	Para	muitos	
a	vitória	alemã	foi	 resultado	dos	estudos	da	escola	geográfica	alemã.	Segundo	
Mamigonian	(2003,	p.	12),	a	crise	econômica	após	a	derrota	“despertou	sentimentos	
nacionais,	inclusive	entre	os	intelectuais,	e	uma	autocrítica	cultural	e	ideológica,	
que	 desembocou	 na	 valorização	 dos	 estudos	 geográficos	 até	 então	 incipientes	
na	França”.	Desse	modo,	a	França	tentou	se	reerguer	da	derrota	reorganizando	
o	ensino.	Assim,	passou	a	dar	maior	 importância	às	disciplinas	de	Geografia	e	
História	 no	 nível	 secundário.	 Posteriormente,	 foi	 criada	 a	 cadeira	 (disciplina)	
de	Geografia	na	Universidade	de	Nancy	 e	 o	 responsável	 por	ministrá-la	 foi	 o	
historiador	Vidal	de	La	Blache.
La	Blache,	passou	a	estudar	as	relações	entre	o	homem	e	o	meio	 físico,	
admitindo	que	o meio exercia algum tipo de influência sobre o homem, e que 
este, dependendo das condições técnicas e financeiras disponíveis, poderia 
influenciar o meio.	Assim	 surgiu	 o	possibilismo, apontado	 como	 a	 principal	
característica	da	escola	francesa.		
UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
32
As	 concepções	 de	 La	 Blache	 não	 somente	manteve	 certa	 uniformidade	
entre	os	pensadores	franceses,	como	também	deu	origem	a	um	elo	comum	que	
denominou	de	geografia	francesa	por	várias	décadas	e	se	expandiu	pelo	exterior,	
sobretudo,	pela	Grã-Bretanha	e	pelo	Brasil.	(ANDRADE,	1987).
Embora	 La	 Blache	 tenha	 exercido	 um	 papel	 fundamental	 na	 escola	
geográfica	francesa,	não	podemos	deixar	de	citar	outros	personagens	que	também	
contribuíram	 no	 desenvolvimento	 desta	 escola,	 tais	 como:	 Lucien	 Febvre,	 L.	
Galois,	Emanuel	de	Martonne,	Pierre	Deffontaines,	Camille	Valloux,	Max	Sorre,	
Roger	Dion	e	André	Chollay.			
 
De	modo	geral,	a	escola	geográfica	francesa	caracterizou-se	pela	acentuada	
preocupação	 regionalista,	 pela	 orientação	 ideográfica,	 pela	 posição	 política	
conservadora,	encoberta	pela	neutralidade	científica	e	por	dar	grande	importância	
à	descrição.	(ANDRADE,	1987).	Com	a	Segunda	Guerra	Mundial,	esta	escola	teve	
que	 se	adaptar	às	novas	 condições	 criadas	e	os	geógrafos	passaram	a	 ter	uma	
grande	importância	na	reconstrução	e	planejamento	do	país.	Assim,	a	formação	
cultural	precisou	dar	mais	 importância	ao	papel	da	 indústria	e	das	cidades	na	
produção	e	reorganização	do	espaço	geográfico.
FIGURA 10 – IMAGEM DE VIDAL DE LA BLACHE
FONTE: Disponível em: <http://oguiageografico.files.wordpress.
com/2008/09/vidal-de-la-blache.jpg>. Acesso em: 22 nov. 2010. 
TÓPICO 2 | AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E O ENSINO DA GEOGRAFIA
33
2.3 A ESCOLA GEOGRÁFICA BRITÂNICA
A	 Escola	 geográfica	 britânica,	 fortemente	 ligada	 à	 Universidade	 de	
Cambridge	e	Oxford,	sofreu	grande	influência	da	escola	francesa	no	que	tange	
aos	estudos	regionais.	
Segundo	observa	Sodré	(1977),	os	estudos	realizados	pela	escola	britânica	
estavam	fortemente	comprometidos	com	uma	Geografia	ideológica,	bem	como	
com	uma	 imensa	preocupação	militar.	“Foi	necessário,	para	o	geógrafo	 inglês,	
analisar	 a	 importância	 das	 comunicações	 e	 das	 relações	 entre	 o	 dominante	 e	
os	 dominados,	 assim	 como	 entre	 os	 diversos	 povos	 dominados,	 para	 melhor	
exercer	sua	prepotência”.	(ANDRADE,	1987,	p.	75).	Assim,	a	Geopolítica	passa	
a	 ter	 um	 importante	 papel	 neste	 contexto,	 com	 as	 concepções	 do	 geógrafo	 e	
parlamentar	Helford	J.	Mackinder	que	admitiu	a	existência	de	“[...]	áreas coração 
ou país pivô,	 que	 se	 encontram	 em	 um	 ponto	 central	 que	 os	 beneficia	 como	
centro	potencialmente	forte	para	dirigir	agressões	e	dominar	os	países	vizinhos	e	
também	aqueles	que	se	apresentam,	em	face	da	sua	extensão	[...]”.	(ANDRADE,	
1987,	p.	75).
	Mackinder	considerou	a	Eurásia	(Europa,	Ásia	e	África	do	Norte),	como	
área	 central	 ou	uma	grande	 área	 coração,	 tendo	 esta	 vocação	para	 dominar	 o	
resto	do	mundo.	
Embora	os	ingleses	dessem	maior	preocupação	ao	uso	da	Geografia	para	
o	domínio	externo	(além	de	suas	fronteiras),	também	a	utilizaram	para	organizar	
suas	estruturas	produtivas,	bem	como	para	controlar	o	crescimento	demográfico	
e	o	forte	crescimento	urbano.
2.4 A ESCOLA GEOGRÁFICA NORTE-AMERICANA
Enquanto	que	a	escola	geográfica	britânica	 sofreu	grande	 influência	da	
escola	 francesa,	 a	 escola	 geográfica	 norte-americana	 (desenvolveu-se	 a	 partir	
da	segunda	metade	do	século	XIX)	 foi	estimulada	através	da	presença	de	dois	
geógrafos	 suíços	 que	 se	 estabeleceram	 nos	 Estados	 Unidos:	Arnold	 Guyote	 e	
Louis	Agassiz.	Passaram	a	desenvolver	estudos	pautados	na	Geografia	regional	e	
na	geomorfologia	respeitando	os	modelos	germânicos	(escola	alemã).	
A	 contribuição	 dos	 geógrafos	 mencionados	 proporcionou	 um	 maior	
desenvolvimento	da	Geografia	norte-americana	no	que	concerne	a	seus	aspectos	
físicos,	 com	 os	 estudos	 realizados	 por	 J.	 W.	 Powell	 e	 William	 Morris	 Davis.	
Este	 último	 foi	 o	 grande	 teorizador	 da	 geomorfologia.	 Desenvolveu	 teorias	
importantíssimas	como	a	do	ciclo geográfico	que	constitui	o	primeiro	conjunto	
de	concepções	que	poderia	descrever	e	explicar,	de	modo	coerente,	a	gênese	e	
a	 sequência	 evolutiva	 das	 formas	 de	 relevo	 existentes	 na	 superfície	 terrestre.	
(MARQUES,	2009).
UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
34
	 	 	 	 Quanto	 ao	 estudo	 da	 Geografia	 Humana,	 estudiosos	 admitem	 a	
existência	de	duas	escolas	norte-americanas,	a	de	Chicago	e	a	de	Berkeley.	Na	de	
Chicago,	geógrafos	como	Elen	Semple	e	E.	Huntington	se	inspiraram	nas	teorias	
deterministas	de	Ratzel.	Na	escola	geográfica	de	Berkeley,	atuou	como	principal	
geógrafo	Carl	Sauer,	também	influenciado	pelas	concepções	de	geógrafos	alemães	
como	as	de	Hettner.	Podemos	dizer	que	ainda	hoje	estas	duas	escolas	geográficas	
constituem	dois	importantes	centros	de	estudos	geográficos	nos	Estados	Unidos.
Não	 podemos	 deixar	 de	 falar	 também	 sobre	 Richard	 Hartshorne,	 que	
foi	 um	 dos	 grandes	 teóricos	 da	 Geografia	 da	 escola	 clássica	 norte-americana.	
Hartshorne	 (influenciado	 pelas	 concepções	 de	 Hettner)	 desenvolveu	 reflexões	
sobre	a	epistemologia,	bem	como	sobre	a	natureza	da	Geografia	como	ciência	em	
suas	obras	“A natureza da geografia”	(publicado	em	1939)	e	“Propósitos e natureza 
da geografia”	(publicada	em	1966).	(ANDRADE,	1987).	Para	muitos,	Hartshorne	é	
considerado	um	dos	maiores	teóricos	da	escola	clássica	dos	Estados	Unidos.	
2.5 A ESCOLA GEOGRÁFICA SOVIÉTICA
A	escola	geográfica	soviética	também	sofreu	influência	da	escola	alemã.	
Isso	pode	ser	explicado	pela	proximidade	geográfica	dos	dois	países.	Na	verdade,	
os	soviéticos	concentraram	seus	estudos	na	análise	do	clima	e	do	solo,	devido	às	
condições	rigorosas	do	clima	(de	frio	a	frio	polar	ou	subpolar)	e	as	dificuldades	
no	desenvolvimento	da	agricultura.	
A	 Revolução	 Bolchevista	 e	 a	 aplicação	 do	 planejamento	 na	 economia	
fizeram	 com	 que	 os	 geógrafosfossem	 convocados	 a	 prestar	 serviços	 na	
reconstrução	de	novas	cidades,	vias	de	comunicação	e	de	organização	do	espaço	
agrícola	 e	 industrial,	 no	 intuito	 de	 corrigir	 os	 desníveis	 de	 desenvolvimento	
regional.	 (ANDRADE,	 1987).	Outro	 ponto	 importante	 destacado	 por	Andrade	
(1987)	 foi	 o	 fato	 dos	 soviéticos	 terem	 sido	 os	 pioneiros	 na	 planificação	 da	
economia	e	também	na	compreensão	de	que	a Geografia não era apenas cultural, 
acadêmica e política, mas também poderia ser aplicada no planejamento do 
território.	Esta	compreensão	possibilitou	vastas	perspectivas	de	inovação	para	os	
estudos	dos	geógrafos.
IMPORTANT
E
Conhecer mesmo que simplificadamente algumas das principais escolas 
geográficas, como as que você acabou de estudar é importante para entendermos a própria 
evolução do ensino da Geografia, inclusive aqui no Brasil. Desejo lembrar que a antiga 
República Socialista Soviética foi desintegrada em 1991.
TÓPICO 2 | AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E O ENSINO DA GEOGRAFIA
35
3 A CIÊNCIA GEOGRÁFICA E A BUSCA DE NOVOS PARADIGMAS
O	impacto	da	Segunda	Guerra	Mundial	na	ciência	geográfica	ocasionou	
na	reflexão	dos	geógrafos	a	respeito	da	natureza	da	Geografia.	Muitos	passaram	
a	 criticar	 os	 princípios	 científicos	 e	 filosóficos	 buscando	 novos	 caminhos,	 ou	
seja,	 passaram	 a	 desenvolver	 outras	 correntes	 teórico-metodológicas	 para	 a	
Geografia.	Segundo	Amorim	Filho	(1985),	dentre	os	vários	impactos	à	renovação	
do	 conhecimento	 geográfico,	 merece	 destaque,	 a	 formulação	 da	 teoria geral 
dos sistemas,	a	 formulação	do	estruturalismo,	as	bases	 teóricas	da	cibernética,	
a	 teoria	 dos	 conjuntos,	 a	 teoria	 dos	 jogos	 e	 as	 bases	 teóricas	 da	 comunicação.	
As	 concepções	 da	Geografia	 Tradicional	 indutiva	 (do	 particular	 para	 o	 geral)	
gradativamente	eram	substituídas	pelas	formulações	gerais,	dedutivas	(do	geral	
para	o	particular).	
Vejamos,	agora,	duas	das	correntes	teórico-metodológicas	neste	contexto	
de	novos	paradigmas	para	a	Geografia.
3.1 A NOVA GEOGRAFIA – TEORÉTICA – QUANTITATIVA
A	Geografia	 Teorética-quantitativa	 destacou-se	 por	 fazer	 uso	 em	 larga	
escala	 de	 modelos	 matemático-estatísticos.	 Podemos	 dizer	 que	 esta	 corrente	
rompeu	 com	 a	 Geografia	 Clássica	 e	 apresentou	 a	 Nova	 Geografia,	 trazendo	
grandes	formulações	nomotéticas	que	facilitavam	o	uso	da	estatística.
Esta	corrente,	considerada	revolucionária	por	não	considerar	as	origens	
da	Geografia,	conforme	afirma	Andrade	(1987),	desenvolveu-se	primeiramente	
na	Suécia,	Estados	Unidos	e	na	Grã-Bretanha,	tendo	fortes	repercussões	na	União	
Soviética	e	na	Polônia.	Contudo,	sofreu	forte	resistência	na	Alemanha	e	na	França.		
 
No	Brasil,	a	Geografia	Teorética-quantitativa	emergiu	no	final	da	década	de	
1960	e	inicio	da	década	de	1970,	quando	o	Governo	Militar	já	estava	consolidado	e	
“procurava	integrar	a	economia	brasileira,	como	dependente	à	economia	mundial	
e	projetava,	de	forma	linear,	um	crescimento	da	economia	brasileira	que	a	levaria	a	
colocar	o	país	entre	as	grandes	potências”.	(ANDRADE,	1987,	p.	109).		Para	isso,	o	
Governo	acionou	o	Instituto	Brasileiro	de	Geografia	e	Estatística	(IBGE)	que	tinha	
à	disposição	valiosas	informações	estatísticas,	bem	como	geógrafos	que	apoiavam	
o	uso	dos	novos	métodos.	O	Governo	passou	a	enviar	geógrafos	para	fazer	pós-
graduação	nos	Estados	Unidos,	bem	como	trouxeram	profissionais	desse	mesmo	
país	e	também	da	Grã-Bretanha	para	ministrar	cursos	e	seminários	no	nosso	país.	
Os	 novos	 métodos	 passaram	 a	 ser	 publicados	 em	 livros,	 na	 Revista	 Brasileira	
de	 Geografia	 e	 até	 a	Associação	 dos	 Geógrafos	 Brasileiros	 (AGB)	 era	 utilizada	
como	tribuna	para	divulgação	o	que	ocasionava	uma	verdadeira	guerra	contra	os	
geógrafos	que	não	aderiram	à	“revolução	quantitativa”.	(ANDRADE,	1987).	
 
UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
36
No	entanto,	“passada	a	fase	áurea	de	crescimento	capitalista,	pós-guerra	
da	Coreia,	 sobreviveu	 a	 crise	 com	uma	 série	 de	 problemas	 ligados	 à	 recessão	
econômica	 e	 à	 desestabilização	 dos	 regimes	 autoritários	 do	 Terceiro	Mundo”.	
(ANDRADE,	 1987,	 p.	 110).	 Assim,	 ainda	 de	 acordo	 com	 Andrade	 (1987),	 os	
geógrafos	quantitativistas	perceberam	a	fragilidade	de	seus	métodos	e	se	dividiram	
em	dois	 grandes	grupos:	um	 liderado	por	Harvey,	 que	 aderiu	 ao	marxismo	e	
o	outro	comandado	por	Brien	Barry	que	procurou	atenuar	a	agressividade	dos	
quantitativistas,	promovendo	reflexões	sobre	a	Geografia,	teorética-quantitativa.
Você	deve	se	perguntar	e	no	Brasil?	No	Brasil,	a	reação	ocorreu	tanto	por	
parte	dos	geógrafos	clássicos	como	também	dos	geógrafos	que	desde	a	década	
de	1940	 já	questionavam	os	métodos	usados	na	Geografia.	Em	1977,	o	Boletim	
Paulista	 de	 Geografia	 publicou	 vários	 artigos	 apresentando	 novos	 caminhos	
para	o	pensamento	geográfico	brasileiro	e	criticando	fortemente	a	experiência	da	
Geografia	Teorética-quantitativa.		
3.2 A GEOGRAFIA RADICAL OU CRÍTICA
A	Geografia	Radical	ou	Crítica	pode	ser	caracterizada	pela	conscientização	
e/ou	preocupação	por	parte	de	alguns	geógrafos	com	a	existência	de	problemas	
muitos	 graves	 na	 sociedade	 em	 que	 viviam.	 Segundo	Andrade	 (1987),	 alguns	
geógrafos	 compreenderam	 que	 toda	 a	 Geografia,	 tanto	 Tradicional	 como	 a	
Quantitativa,	embora	neutras,	tem	um	sério	compromisso	com	o	status quo,	com	
a	sociedade	de	classe.	De	acordo	com	o	mesmo	autor,	a	neutralidade	científica	
anunciada	 por	 estas	 correntes	 era	 uma	 forma	 de	 esconder	 os	 compromissos	
políticos	e	sociais.	Para	os	geógrafos	radicais,	as	poucas	críticas	que	os	geógrafos	
clássicos	 e	 da	 Geografia	 quantitativista	 faziam	 no	 que	 tange	 às	 injustiças,	 a	
sociedade	em	que	viviam	tinham	o	intuito	de	corrigir	detalhes	sem	ir	ao	centro	do	
problema.	Assim,	os	geógrafos	radicais	passaram	a	analisar	as	injustiças	sociais	e	
os	bloqueios	do	desenvolvimento	social	na	sua	raiz,	ou	seja,	passaram	a	analisar	
as	verdadeiras	causas	dos	problemas	sociais	sem	se	preocupar	com	a	neutralidade	
da	ciência	geográfica.	Por	isso,	são	chamados	de	geógrafos	radicais	e/ou	ainda	a	
chamada	Geografia	Radical	ou	Crítica.
É	importante	destacar	que	nesta	corrente	ocorreram	algumas	subdivisões	
do	 pensamento	 geográfico,	 ou	 seja,	 tivemos	 geógrafos	 não	 marxistas	 (mas	
comprometidos	com	as	reformas	sociais),	geógrafos	anarquistas	(que	criticavam	
a	 sociedade	 burguesa)	 e	 os	 geógrafos	 de	 formação	 marxistas	 (tinham	 suas	
concepções	pautadas	nas	formulações	de	Karl	Marx).
TÓPICO 2 | AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E O ENSINO DA GEOGRAFIA
37
UNI
Para que você consiga entender melhor o marxismo geográfico é importante 
relembrar algumas concepções básicas sobre Karl Marx. Mas primeiro, vou lhe perguntar, 
você sabe quem foi Karl Marx? Se você nunca ouviu falar aconselho fazer uma pesquisa na 
internet sobre este ilustre pensador. No site indicado você conhecerá os traços biográficos de 
Marx, bem como sua filosofia. Acesse: <http://www.culturabrasil.pro.br/marx.htm>.
Destacaremos	alguns	aspectos	do	marxismo	geográfico	porque	teve	uma	
maior	 influência	na	Geografia.	Para	você	 ter	uma	ideia,	nos	Estados	Unidos,	o	
marxismo	geográfico	 resultou	na	 reflexão	de	alguns	geógrafos	quantitativistas	
que	compreenderam	o	“esvaziamento”	de	suas	 técnicas	e	o	comprometimento	
que	tinham	com	a	sociedade	capitalista	em	expansão.	 (ANDRADE,	1987).	Pois	
estes	 geógrafos	 indicavam	 os	 locais	 ideais	 para	 a	 localização	 das	 indústrias,	
bem	como	as	formas	de	organização	do	espaço	urbano	e	agrário,	sem	a	mínima	
preocupação	com	as	consequências	com	o	meio	ambiente	e	a	sociedade	em	geral.				
Na	verdade,	para	a	Geografia	Crítica,	as	concepções	de	Marx	 foram	de	
grande	valia,	principalmente	com	suas	formulações	sobre	os	modos	de	produção	
e	as	formações	socioeconômicas,

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