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43
UNIDADE 2
A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE 
EMOÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Nessa unidade vamos:
•	 analisar	as	diferentes	fases	da	criança	e	sua	influência	na	escolha	de	livros;
•	 refletir	sobre	alguns	dos	fatores	que	contribuem	para	a	formação	do	jovem	
leitor;
•	 perceber	que	o	texto	 literário	não	se	 limita	ao	ensino	da	gramática	e/ou	
escolas	literárias;
•	 identificar	a	transmissão	de	valores	e	contravalores	de	algumas	das	perso-
nagens	encontradas	na	literatura	infantojuvenil.
Esta	unidade	está	dividida	em	três	tópicos.	Ao	final	de	cada	um	deles	você	
encontrará	atividades	visando	à	compreensão	dos	conteúdos	apresentados.
TÓPICO	1	–	ASPECTOS	DA	LITERATURA	INFANTIL
TÓPICO	2	–	GÊNEROS	LITERÁRIOS	E	SUA	ESTRUTURA	I
TÓPICO	3	–	GÊNEROS	LITERÁRIOS	E	SUA	ESTRUTURA	II
44
45
TÓPICO 1
ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Há palavras verdadeiramente mágicas. O que há de 
mais assustador nos monstros é a palavra “monstro”. Se 
eles se chamassem leques ou ventarolas, ou outro nome 
assim, todo arejado de vogais, quase tudo se perderia 
do fascinante horror de Frankenstein... (QUINTANA,	
1979,	p.	21)
A	magia	e	o	encanto	da	expressão	literária	perpassam	gerações	e	é	sobre	
essa	literatura	que	nos	deteremos,	mais	especificamente	àquela	destinada	ao	jovem	
leitor,	que	recebeu	o	adjetivo	de	infantil.	
Por	vezes,	essa	qualidade,	essa	adjetivação	inquieta	o	próprio	estatuto	de	
literário,	 uma	vez	 que	muitas	 histórias	 foram	 transformadas,	 adaptadas	para	 o	
público	 infantil,	 e	para	este	 trabalho	de	 reescritura	 importava	validar	o	aspecto	
pedagógico	da	literatura.
Hoje	é	sabido	que,	por	expressar	e	refletir	a	complexidade	do	ser	humano,	o	
seu	mundo	e	suas	relações	existenciais,	a	literatura	se	apresenta	fascinante,	essencial	e	
favorece	o	desenvolvimento	intelectual.	Enquanto	atividade	cognitiva,	contribui	para	
a	ampliação	do	processo	perceptivo	do	leitor.	Daí	a	necessidade	da	presença	do	livro	
literário	em	sala	de	aula,	por	representar	possibilidade	de	conhecimento	e	descoberta.	
São	essas	questões	que	serão	abordadas.	
FIGURA 5 - SENECIO, PAUL KLEE
FONTE: Disponível em: <http:\\www.ricci-arte biz.543.jpg>. 
Acesso em: 12 ago. 2012.
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
46
2 OS TEXTOS DESTINADOS AO JOVEM LEITOR
Ao	que	parece,	o	surgimento	de	uma	literatura	para	crianças	encontra-se	
ligado	à	novelística	popular	medieval,	que	tem	suas	origens	na	Índia.	Descobriu-se	
que	a	magia	e	o	encanto	dessas	criações,	vindas,	em	sua	maioria,	da	tradição	oral	e	
mitológica,	repassadas	através	de	gerações	e	adaptadas	pela	experiência	do	adulto,	
poderiam	satisfazer	a	mente	 fértil	e	 inesgotável	do	público	 infantil	 (OLIVEIRA,	
2007).
A	 literatura	 infantil	 constitui-se	 como	gênero	 durante	 o	 século	XVII,	 na	
Europa,	e	seu	aparecimento	possui	características	próprias.	A	ela	foi	atribuída	a	
função	de	suscitar	situações	para	uma	educação	moral.	Os	textos,	em	sua	estrutura	
maniqueísta,	demarcavam	claramente	o	bem	e	o	mal,	o	que	a	criança	deveria	fazer	
e	 o	 que	não	deveria.	Com	uma	 sociedade	burguesa	 em	ascensão,	 a	 criança,	 ou	
melhor	dizendo,	o	que	fez	parte	de	sua	infância,	no	caso	a	escola,	passou	por	uma	
reorganização.	As	 histórias	 destinadas	 à	 criança	 foram	 associadas	 à	 Pedagogia,	
que	as	converteu	em	aliado	instrumento	pedagógico.
Nessa	abordagem,	a	criança	era	considerada	um	ser	diferente	do	adulto,	com	
necessidades	e	características	próprias.	Para	tanto,	deveria	receber	uma	educação	
especial,	que	a	preparasse	para	a	vida	adulta	e	priorizasse	os	valores	morais.	Assim	
surge	a	chamada	literatura	infantil,	que,	desde	sua	gênese,	esteve	atrelada	a	fins	
pedagógicos,	a	serviço	da	divulgação	dos	ideais	burgueses”	(OLIVEIRA,	2007).
Somente	 a	 partir	 de	 estudos	 da	 psicologia	 experimental	 é	 que	 se	 altera	
a	 concepção.	 Entra	 em	 questão	 a	 sucessão	 das	 fases	 evolutivas	 da	 inteligência.	
A	partir	de	então	passa	a	existir	a	preocupação	de	 falar	com	autenticidade,	aos	
possíveis	destinatários	das	mais	 tenras	 idades.	 Transforma-se,	 assim,	 o	 foco	da	
literatura	infantil.
Entretanto,	vejamos:
A	literatura	infantil	é	comunicação	histórica	(localizada	no	tempo	e	no	
espaço)	entre	um	locutor	e	um	escritor	adulto	(emissor)	e	um	destinatário	
-	 criança	 (receptor),	 que	 por	 definição	 do	 período	 considerado,	 não	
dispõe	senão	de	modo	parcial	da	experiência	do	real	e	das	estruturas	
linguística,	 intelectuais,	 afetivas	 e	 outras	 que	 caracterizam	 a	 idade	
adulta.	(COELHO,	1997,	p.	185).
Nesse	sentido,	lembre-se	de	nossas	discussões	iniciadas	na	primeira	unidade:	
o	livro	destinado	ao	infante	é	produzido	por	um	adulto	que	comunica	experiências	
já	adquiridas	a	um	público	que	não	possui	tal	experiência.	É	direcionada	a	uma	
idade	que	é	de	aprendizagem	e,	mais	especificamente,	de	aprendizagem	linguística,	
donde	advém	sua	inclinação	pedagógica.	Assim,	a	literatura	no	espaço	escolar	foi	
incorporada	como	 tarefa	a	 ser	 cumprida.	Para	Abramovick	 (1989),	 é	 justamente	
este	caráter	de	cobrança	que	distancia	a	criança	da	leitura	de	literatura.	Sobre	essa	
função	utilitário-pedagógica,	à	qual	a	literatura	infantojuvenil	é	exposta,	leiamos	
Palo	e	Oliveira	(1986,	p.13),	que	afirmam:
TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL
47
a	função	pedagógica	implica	a	ação	educativa	do	livro	sobre	a	criança.	
De	um	lado,	relação	comunicativa	leitor-obra,	tendo	por	intermediário	
o	 pedagógico,	 que	 dirige	 e	 orienta	 o	 uso	 da	 informação;	 de	 outro,	 a	
cadeia	de	mediadores	que	interceptam	a	relação	livro-criança:	família,	
escola,	biblioteca	e	o	próprio	mercado	editorial,	agentes	controladores	
de	usos	que	dificultam	à	criança	a	decisão	e	escolha	do	que	e	como	ler.	
Esse	contexto	de	 literatura	 infantil	 interfere	sobre	o	universo	da	criança.	
Assim,	questões	que	envolvem	a	literatura	no	espaço	escolar	e,	consequentemente,	
no	universo	infantil	são	o	mote	de	vários	estudos.	Bruno	Bettelheim	(2007)	discorre	
sobre	as	personagens	infantis,	o	maravilhoso,	o	fantástico,	seus	conflitos	e	o	papel	
que	os	enredos	dessas	histórias	desempenha	no	imaginário	do	jovem	leitor.	Afirma	
que	 toda	 a	 simbologia	 presente	 no	 literário	 infantil	 ajuda	 a	 resolver	 problemas	
existenciais	da	criança.	Enfatiza	também	o	poder	regenerador	dos	contos	de	fada,	
que,	por	conterem	na	sua	estrutura	elementos	simbólicos,	criam	uma	ponte	com	o	
inconsciente,	propiciando	ao	jovem	leitor	conforto	e	consolo	em	termos	emocionais.	
Dito	de	outro	modo,	apresentam	temas	relacionados	ao	medo,	ao	amor,	ao	ódio,	à	
alegria,	à	busca,	à	tristeza,	que	fazem	parte	do	cotidiano	infantojuvenil,	propiciando	
um	treino	para	as	emoções.
 
A	 postura	 que	 considera	 a	 literatura	 “objeto	 pedagógico”	 sofre	 forte	
reação,	pois	há	quem	a	defenda	como	entretenimento,	ludicidade	e	deleite.	Então,	
podemos	inferir	que	sob	um	olhar	é	arte,	é	emoção	e	prazer,	e	sob	o	aspecto	de	
instrumento	manipulado	para	uma	intenção	educativa,	ela	é	objeto	pedagógico.	
Uma	dicotomia	existe,	entretanto	salientamos	que	a	literatura	infantil	acaba	
sendo	aquela	que	corresponde,	de	alguma	forma,	aos	anseios	do	leitor	(OLIVEIRA,	
2007).	É	objeto	de	entretenimento	e,	ao	mesmo	tempo,	traduz	o	homem	e	atua	na	
sua	formação	(CANDIDO,	2002).	É	nesse	sentido	que	devemos	pensar	a	literatura	
destinada	à	humanidade,	em	especial,	neste	nosso	estudo,	a	destinada	ao	público	
infantojuvenil.
Atribui-se	o	ponto	de	partida	para	a	literatura	infantil	à	Europa	do	século	
XVII,	 mais	 especificamente	 França.	 Para	 instigar	 sua	 curiosidade	 sobre	 esse	
universo	literário,	leia	o	item	seguinte.	Neste	elegemos	alguns	escritores	e	obras,	
no	intuito	de	fazer	uma	incursão	pela	história	da	literatura	inafantojuvenil.
3 A LITERATURA INFANTIL – UM POUCO DE HISTÓRIA
Estudos	apontamCharles	Perrault	como	precursor	da	literatura	infantil.	Iniciou	
seu	trabalho	adaptando	histórias	contadas	oralmente	em	locais	parisienses	com	enredos	
de	personagens	que	viviam	em	estado	de	precariedade,	sofriam	e	ao	final	venciam.	
Caro(a)	acadêmico(a),	façamos	o	exercício	de	recordar	o	conto	A gata borralheira. 
Confira	uma	das	versões	na	trilha	de	aprendizagem	da	disciplina.	Lembre-se	de	que	
borralheira	significa:	local	onde	existe	acúmulo	de	borralha,	mais	conhecida	como	cinza	
do	forno	ou	lareira.	
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
48
Cinderela: sua origem tem diferentes versões. A versão mais conhecida é a do 
escritor francês Charles Perrault, de 1697, baseada num conto italiano popular 
chamado A gata borralheira. A mais antiga é originária da China, por volta de 860 a.C. Existe 
também a dos Irmãos Grimm, semelhante à de Charles Perrault.
Sociólogos, historiadores e literatos veem na história de Cinderela muito mais do que uma 
simples trama romântica. Por ter origem atemporal e ter surgido em várias civilizações diferentes, 
a trajetória da protagonista traduziria uma espécie de arquétipo fundamental, traduzindo o anseio 
natural da psiquê humana em ser reconhecida especial e levada a uma existência superior. A 
literatura e o cinema, cientes disso, utilizaram-se de seu arco dramático para o desenvolvimento 
de inúmeras outras obras de apelo popular.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/CinderelaDisponível>. Acesso em: 5 out. 
2012. 
UNI
Que	tal?	Recordou?	Então,	atente	para	o	fato	de	que,	neste	conto,	Perrault	
descreve	a	preocupação	dos	convidados	quanto	ao	vestuário,	os	salões	de	festa,	
as	danças,	a	carruagem,	enfim,	o	glamour	da	nobreza	contrapondo-se	à	vida	dos	
camponeses,	 marcada	 pela	 privação	 devido	 ao	 agravamento	 das	 contradições	
econômicas.	Enredos	com	aspectos	que	provinham	do	povo	humilde,	elementos	
da	corte,	a	vida	e	as	festas	nos	palácios.	
FIGURA 6 – A GATA BORRALHEIRA
FONTE: Disponível em: <http://prosimetron.blogspot.com.br/2012/06/gata-
borralheira.html>. Acesso em: 5 out. 2012.
Além	 de	 Perrault,	 Fénelon	 dedicou-se a	 escritos	 com	 qualidades	
pedagógicas.	Sua	obra	Telêmaco	relata	as	aventuras	do	filho	de	Ulisses,	personagem	
da	Odisseia,	de	Homero.
Quando	Ulisses,	 rei	de	 Ítaca,	 partiu	para	 a	Guerra	de	Troia,	deixou	 seu	
filho	Telêmaco	aos	cuidados	de	seu	fiel	e	amigo	Mentor.	Mesmo	tendo	a	guerra	
terminado,	Ulisses	não	retorna	ao	seu	lar.	Telêmaco	cresce	vendo	o	patrimônio	de	
TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL
49
seu	pai	ser	dilapidado	pelos	pretendentes	de	sua	mãe.	Indignado	com	tal	situação,	
parte	em	busca	de	notícias	do	pai	e	leva	consigo	Mentor	para	orientá-lo	e	encorajá-lo.	
Os	reveses	da	viagem	de	Telêmaco	à	procura	do	pai,	o	auxílio	dos	deuses,	
dos	amigos,	 fazem	parte	do	enredo	desta	história.	Além	disso,	a	história	 revela	
o	quanto	Mentor	 foi	 importante	na	educação	de	Telêmaco,	na	 formação	de	 seu	
caráter,	de	seu	senso	de	responsabilidade	e	na	transição	da	infância	à	maturidade.
Podemos	dizer	que	a	personagem	Mentor	adquire	outro	status	a	partir	do	
momento	no	qual	Fénelon	escreve	As	Aventuras	de	Telêmaco,	em	1699,	elevando-o	
à	condição	de	um	professor,	um	guia,	do	jovem	Telêmaco.	A	palavra	mentor	passou,	
então,	a	figurar	nos	dicionários	como	sinônimo	de	conselheiro	sábio,	além	de	protetor	
e	financiador.	“Pessoa	que	inspira,	estimula,	cria	ou	orienta	(ideias,	ações,	projetos,	
realizações	etc.)”	(HOUAISS;	VILLAR,	2009,	p.	1275).		
O escritor Fénelon foi tutor do neto de Luis XIV e seu livro fez grande sucesso, 
inspirando muitos pedagogos.
UNI
La	Fontaine,	por	sua	vez,	imortalizou-se	através	das	fábulas,	entre	outros	
escritos.
Leiamos	uma	de	suas	fábulas:
A Raposa e a Cegonha
A	Raposa	 convidou	 a	Cegonha	 para	 jantar	 e	 lhe	 serviu	 sopa	 em	um	
prato	raso.
-	Você	não	está	gostando	de	minha	sopa?	-	Perguntou,	enquanto	a	cegonha	bicava	
o	líquido	sem	sucesso.
	-	Como	posso	gostar?	-	A	Cegonha	respondeu,	vendo	a	Raposa	lamber	a	sopa	
que	lhe	pareceu	deliciosa.
Dias	depois	foi	a	vez	de	a	cegonha	convidar	a	Raposa	para	comer	na	beira	
da	Lagoa,	serviu	então	a	sopa	num	jarro	largo	embaixo	e	estreito	em	cima.
-	Hummmm,	deliciosa!	 -	 Exclamou	 a	Cegonha,	 enfiando	o	 comprido	 bico	pelo	
gargalo.	-	Você	não	acha?
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
50
A	Raposa	não	achava	nada	nem	podia	achar,	pois	seu	focinho	não	passava	
pelo	gargalo	estreito	do	jarro.	Tentou	mais	uma	ou	duas	vezes	e	se	despediu	de	
mau	humor,	achando	que	por	algum	motivo	aquilo	não	era	nada	engraçado.
MORAL:	Às	vezes	 recebemos	na	mesma	moeda	por	 tudo	aquilo	que	
fazemos.
FONTE: Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/frase/ODEwMzk3/>. Acesso em: 5 out. 2012.
Do	século	XIX,	destacamos	o	dinamarquês	Hans	Christian	Andersen,	autor	
de	 156	 contos	maravilhosos,	 entre	os	quais	figuram	O soldadinho de chumbo e O 
patinho feio.	Confira	versão	na	trilha	de	aprendizagem.	
Os	 Irmãos	 Grimm,	 Jocob	 e	 Wilhelm,	 por	 sua	 vez,	 além	 de	 filólogos	 e	
lexicógrafos,	 foram	 celebrizados	 com	 as	 publicações	 de	 contos	 e	 lendas	 alemãs	
emanados	da	tradição	e	saber	popular.	
Pinóquio	 é	 outro	 clássico	 da	 literatura.	 Um	 pedaço	 de	 madeira	 falante	
aparece	 nas	 mãos	 de	 Gepeto.	 O	 velho	 Gepeto	 tem	 planos	 ambiciosos	 para	 a	
marionete	que	ele	fabrica.	É	capaz	de	dançar,	cantar	e	falar.	Pinóquio,	entretanto,	
revela-se	um	títere	arteiro	e	que	sonha	em	tornar-se	um	menino	de	verdade.	As 
aventuras de Pinóquio	é	a	obra	original	de	Carlo	Collodi,	publicada	pela	primeira	
vez	em	1883.	Em	seu	percurso	de	transição	de	boneco	a	menino,	Pinóquio	se	mete	
em	confusão	atrás	de	confusão,	enfrenta	a	autoridade	da	lei,	a	solidão	da	condição	
humana	e	outras	tantas	aventuras	perigosas.	
Outra	 relevante	figura	para	a	 literatura	 infantil	é	Lewis	Carrol,	autor	de	
Alice no país das maravilhas,	 uma	 história-romance	 considerada	 complexa	 e	 que	
sugere	variadas	interpretações,	por	abordar	em	seu	contexto	assuntos	de	diferentes	
temáticas.
Carrol	 explora	 elementos	 dos	 contos	 de	 fada,	 animais	 que	 falam,	 reis	
e	 rainhas,	 personagens	 enigmáticos	 que	 em	 um	 passe	 de	 mágica	 aparecem,	
desaparecem	e	mudam	de	 tamanho.	A	história	se	passa	dentro	de	um	sonho,	é	
marcada	 pelo	 recurso	 do	 nonsense -	 termo	 que	 indica	 ausência	 de	 sentido.	 No	
caso	da	narrativa	em	questão,	os	episódios	são	permeados	por	algum	recurso	de	
ligação,	garantindo,	assim,	uma	coerência	interna.	Além	disso,	o	enredo	de	Alice	
no	país	das	maravilhas	não	exige	uma	lógica	total	dos	acontecimentos,	uma	vez	
que	se	passa	no	“mundo	dos	sonhos”,	um	universo	no	qual	coisas	mais	insólitas	
são	aceitas	como	naturais.
Alice é	uma	obra	que	permite	várias	interpretações.	Uma	delas	é	a	de	que	as	
mudanças,	os	conflitos	da	adolescência	à	maturidade	podem	estar	representados	
na	obra.	Além	dessa	interpretação,	podemos	considerar	questões	históricas,	como,	
por	exemplo,	críticas	à	sociedade	inglesa	vitoriana.
TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL
51
Outros escritores que merecem destaque são: Jonathan Swift (1667-1745)	
–	Em	1726,	o	autor	publica	sua	obra-prima:	As	viagens	de	Gulliver.
Daniel Defoe (1660-1731)	–	Seu	romance	mais	famoso,	Robinson	Crusoé,	
foi	publicado	em	1719.
Mme. Leprince de Beaumont (1711-1780)	–	Sua	obra	denuncia	preocupação	
educativa.	Entre	suas	produções	salientamos	A	fada	das	ameixas,	A	bela	e	a	fera,	
entre	outras.
Mark Twain (1835-1910)	–	Publicado	em	1876,	o	livro	trouxe	popularidade	
ao	escritor	americano,	com	seu	Tom	Sawyer.
Júlio Verne (1828-1905)	–	Autor	de	obras	de	ficção	científica,	popularizou-se	
em	trabalhos	como	Vinte	mil	léguas	submarinas,	A	Ilha	misteriosa,	Cinco	semanas	
em	um	balão,	Volta	ao	mundo	em	80	dias,	Os	filhos	do	Capitão	Grant.
Podemos	ainda	juntara	esta	lista	obras	como:	As	mil	e	uma	noites,	Dom	
Quixote	de	la	Mancha	(de	Miguel	de	Cervantes),	Os	três	mosqueteiros,	O	Conde	
de	Monte	Cristo,	e	um	rol interminável	de	leituras.
3.1 PANORAMA DA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA
Na	Europa,	a	 literatura	infantil	assumiu	a	função	pedagógica	e	difundiu	
modos	 e	modelos	 comportamentais,	 e	 no	 Brasil	 seu	 objetivo	 não	 foi	 diferente.	
A	literatura	infantil	chega	ao	nosso	país	nos	fins	do	século	XIX.	Conforme	Célia	
Doris	Becker	(2001,	p.	36),	“o	mercado	requer	dos	escritores	livros	que	atendam	ao	
público	infantil”.	Começa,	então,	a	importação	desses	textos	e,	com	eles,	a	mesma	
atitude	 didática	 e	 redutora	 que	 difunde	 normas	 e	 doutrinava	 as	 crianças.	 Para	
Becker,	a	história	da	literatura	infantil	brasileira	é	dividida	em	quatro	fases.
A	 primeira	 fase,	 final	 do	 século	 XIX	 e	 início	 do	 século	 XX,	 é	 norteada	
por	 adaptações	 e	 traduções	 de	 textos	 europeus,	 principalmente	 de	 produções	
portuguesas.	Os	textos	tinham	a	intenção	de	incutir	o	patriotismo,	a	valorização	
do	nacionalismo.	Destacam-se	entre	as	produções	nacionais	com	essa	finalidade:	
“Contos	pátrios	e	Através	do	Brasil	(Olavo	Bilac,	Coelho	Neto),	Era	uma	vez	(Júlia	
Lopes	de	Almeida),	Saudade	(Tales	de	Andrade).	Dentre	as	traduções,	podemos	
citar	as	obras	de	Carlos	Jansen,	Figueiredo	Pimentel,	Robinson	Crusoé	e	outros”	
(BECKER,	2001,	p.	36).
A	segunda	fase,	descrita	por	Becker	(2001),	abrange	os	anos	de	1920-1945	e	
poderá	ser	assim	sintetizada	em	nosso	país:	como	o	momento	em	que	acontecem	
mudanças	 advindas	 da	 expansão	 cafeeira	 e	 da	 indústria.	 Essa	 “efervescência	
social”	 atinge	 a	 educação,	 que	 apresentava	 um	 sistema	 educacional	 com	 altos	
índices	de	analfabetismo.	Constatou-se,	com	esse	fato,	que,	para	o	Brasil	inserir-se	
entre	as	grandes	potências	internacionais,	necessário	era,	além	de	outras	medidas,	
acabar	com	o	analfabetismo.
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
52
Neste	período	criou-se	a	Escola	Nova;	 eclodiram	 inovações	diversas	nas	
áreas	 culturais,	 expressas	 na	 Semana	 de	 Arte	 Moderna.	 A	 literatura	 infantil,	
especialmente	 a	 partir	 de	 Monteiro	 Lobato,	 recebeu	 “roupagem	 nova”,	 com	
temáticas	e	uma	linguagem	coloquial	próximas	à	realidade	da	criança.	O	folclore	
mostrou-se	revelador	de	um	mundo	bem	brasileiro,	porém,	com	o	mesmo	caráter	
pedagógico.	 Muitos	 dos	 autores	 coadunavam	 com	 o	 autoritarismo,	 através	 de	
personagens	que	não	questionavam	as	ações.
A	terceira	fase,	de	aproximadamente	1950	e	década	de	1960,	foi	marcada	
pelas	trocas	de	governo,	pelas	lutas	por	uma	democracia	e	pelo	golpe	militar	que	
culminou	com	os	Atos	Institucionais,	a	partir	dos	quais	“[...]	a	sociedade	passou	a	
conviver	com	os	órgãos	de	repressão	e	com	a	censura	aos	meios	de	comunicação”	
(BECKER,	2001,	p.	39).
A	literatura	infantil,	nesse	período,	de	acordo	com	Becker	(2001),	recorreu	
a	 temas	que	abordaram	a	 supremacia	da	vida	urbana	 sobre	a	 rural,	na	qual	os	
moradores	 rurais	 foram	 desprestigiados	 e	 até	 estereotipados;	 o	 café	 apareceu	
como	fonte	primeira	de	riqueza;	a	Amazônia	era	destacada,	bem	como	o	passado	
histórico	e	o	heroísmo	dos	Bandeirantes	foram	os	temas	abordados.
A	 quarta	 e	 última	 fase,	 1970-1980,	 segundo	 Becker	 (2001),	 foi	 marcada	
por	personagens	que	contestavam	fatos.	Apareceram	a	gíria,	os	dialetos,	as	falas	
regionais,	 ou	 seja,	 uma	 literatura	 inovadora	 e	 plena	 de	 desafios.	 Registrou-se,	
também,	 um	 significativo	 aumento	 de	 obras	 e	 autores.	 “Abrandou-se,	 se	 não	
foi	 totalmente	 abandonado,	 o	 caráter	 didático-pedagógico	 que	 historicamente	
comprometia	a	produção	literária	infantil”	(BECKER,	2001,	p.	40).	
No	 Brasil,	 o	 rico	material	 literário	 favorece	 ao	 professor	 subsídios	 para	
o	 desenvolvimento	 da	 criatividade,	 da	 imaginação,	 do	 gosto	 pela	 leitura	 e,	
consequentemente,	a	ampliação	do	conhecimento	do	jovem	leitor.
No	que	tange	à	literatura	infantil,	os	primeiros	trabalhos	em	solo	brasileiro	
repetiam	 o	 que	 acontecia	 na	 Europa,	 porém	 escritores	 se	 consagraram	 por	
arquitetar	 uma	 literatura	 infantil	 brasileira,	 uma	 vez	 que,	 além	 de	 traduzir	 os	
contos	de	fada	europeus,	eternizaram	narrativas	que	faziam	parte	da	oralidade	do	
povo	brasileiro,	entre	os	quais	destacamos:
 
Figueiredo Pimentel (1869-1914)	–	Com	os	Contos	da	carochinha,	Histórias	
da	 baratinha,	 Álbum	 das	 crianças,	 Teatrinho	 infantil	 e	 Os	 meus	 brinquedos,	
Pimentel	pode	ser	considerado	o	precursor	de	nossa	literatura	infantil.
Viriato Padilha (1866-1924) –	Autor	de	Histórias	do	arco	da	velha.
Olavo Bilac (1865-1918)	 –	 Publicou	 (em	 colaboração)	 Poesias	 infantis	 e	
Contos	pátrios.	Escreveu	poemas	que	enalteciam	o	 civismo,	o	nacionalismo	e	a	
história	política	do	Brasil	daquela	época.
TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL
53
Viriato Corrêa (1884-1967)	–	Notabilizou-se	com	Varinha	de	condão,	No	
reino	 da	 bicharada,	 A	 macacada,	 No	 país	 da	 bicharada,	 As	 belas	 histórias	 da	
história	do	Brasil,	História	do	Brasil	para	crianças	etc.
Malba Tahan (1885-1974)	 –	 Pseudônimo	 literário	 do	 professor	 de	
Matemática	 Julio	Mello	 e	 Souza.	Desse	 autor	destacamos	 as	 seguintes	 obras:	O	
homem	que	calculava,	Maktub,	Céu	de	Allah,	Seleções,	A	caixa	do	futuro,	Lendas	
do	céu	e	da	terra,	Lendas	do	povo	de	Deus,	Minha	vida	querida,	As	aventuras	do	
Rei	Baribê,	entre	outras.
Outro	nome	relevante	da	literatura	infantil	brasileira	é	Monteiro Lobato,	
criador	de	Emília,	Dona	Benta	e	o	Visconde	de	Sabugosa,	bem	como	os	demais	
personagens	do	Picapau	Amarelo.	Seres	da	fantasia,	que	saíram	dos	 livros	para	
as	telas	da	TV,	para	lojas	e	supermercados,	para	as	festas	de	aniversário,	escolas,	
jogos,	brincadeiras,	revelando	que	“a	realidade	fabulosa	que	saiu	de	sua	cabeça	
acabou	sendo	maior,	mais	poderosa	e	mais	duradoura	do	que	ele	mesmo	cogitou	
(ZILBERMAN,	2005,	p.	22).
Monteiro	Lobato	dedicou	o	livro	Reinações de Narizinho	para	apresentação	
da	menina	Lúcia	 a	Narizinho,	 informando	 também	ao	 leitor	que	 ela	mora	 com	
a	 avó,	Dona	Benta,	 e	 ganhou	de	Anastácia,	 a	 cozinheira,	 uma	boneca	de	pano,	
batizada	de	Emília.	Pedrinho,	primo	de	Narizinho,	também	fará	parte	desse	mundo	
encantado.	Visconde	de	Sabugosa,	outro	boneco,	feito	a	partir	de	um	sabugo	de	
milho,	tornou-se	famoso	tanto	quanto	os	demais	personagens.
FIGURA 7 – VISCONDE DE SABUGOSA
FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/
search?q=sabugosa&hl=pt-BR&prmd=imvns&tbm=isch&tbo=u&so
urce=univ&sa=X&ei=6CvaT6ChO4e09QTQheTuBQ&ved=0CG0Qs
AQ&biw=1280&bih=618>. Acesso em: 12 set. 2012.
Lobato	optou	pela	sistemática	de	repetir	as	personagens,	tal	qual	histórias	
em	série,	criando	narrativas	que	revelam	o	espírito	desafiador	e	heroico,	estereótipo	
dos	legendários	contos	folclóricos,	dos	mitos	e	das	lendas.
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
54
São	personagens	que	 enfrentam	variados	problemas,	 embrenham-se	nas	
mais	variadas	peripécias,	demonstrando	inteligência,	autonomia	e	emancipação,	
ou	seja,	a	relação	estabelecida	entre	as	personagens	adultas	e	infantis	é	de	igual	
para	igual.	Para	tanto,	bastará	observar	o	comportamento	da	boneca	Emília	e	das	
crianças	que,	por	vezes,	ignoram	certos	limites,	o	que	lhes	confere	autenticidade.	
A	 personagem	Dona	 Benta	 é	 quem	 dirige	 o	 sítio.	 Instruída,	 inteligente,	
bem-intencionada,	modelo	do	político	que,	segundo	Lobato,	deveria	governar	o	
Brasil.	
Ao	perceber	 que	 não	poderá	mais	 contar	 com	 a	 renda	propiciada	pelas	
lavouras	de	café	que	estão	arruinadas,	“adere	ao	ideal	de	Lobato	(não	por	acaso	
tem	o	nome	do	próprio	escritor,	José	Bento):	patrocina	a	prospecção	de	petróleo	
em	suas	terras,	obtendo	grandes	lucros	e	promovendo	o	progresso	não	apenas	na	
área,	mas	em	todo	o	país”	(ZILBERMAN	2005,	p.	28).Dona	Benta	é	quem	geralmente	narra	as	fábulas,	fato	este	que,	na	opinião	
dos	 críticos,	 é	 um	 recurso	 do	 próprio	 escritor	 para	 demonstrar	 a	 reflexão	 e	
ponderação	das	pessoas	mais	vividas.	Tia	Nastácia	se	mostra	bastante	inclinada	a	
aceitar	a	moral	das	fábulas.	Já	Pedrinho	e	Narizinho	fazem	comentários,	de	acordo	
com	seu	espírito	irrequieto	de	crianças	curiosas,	e	Emília	tenta,	a	cada	momento,	
contestar	a	lição	de	moral	que	a	fábula	encerra.	
Lobato	revela	um	Brasil	a	partir	do	sítio.	Mostra	um	país	com	predomínio	
da	economia	agrícola,	expressando	o	que	deseja	para	o	Brasil,	a	possibilidade	de	
modernização,	crescimento	e	fortuna	graças	à	exploração	das	riquezas	minerais,	
em	especial,	do	petróleo.
O	 sítio,	 na	 visão	 de	 Lobato,	 constitui	 uma	 espécie	 de	 república	 ideal,	 que	
admite	seres	dotados	de	qualidades	positivas	e	expulsa	o	julgado	negativo,	como	o	
próprio	 sistema	governamental.	Quando	 aparecem	os	 vilões,	 estes	 jamais	 levam	a	
melhor.	O	sítio	é	o	Brasil	conforme	o	desejo	de	Lobato,	que,	desde	os	primeiros	livros,	
mesmo	criticando	as	mazelas	nacionais,	nunca	deixou	de	colocar	o	país	no	centro	e	
propor	alternativas	para	problemas	cruciais.
 
Monteiro	Lobato	prezou	pela	nacionalidade	desde	os	primeiros	 livros,	como	
“Urupês”, de	1918.	Criticou	as	mazelas	nacionais	e	propôs	alternativas	para	os	problemas	
que	assolavam	o	país.
As	ações	do	Sítio	do	Picapau	Amarelo	podem	ocorrer	em	vários	 locais	e	
épocas:	 na	 Lua,	 nos	 planetas,	 na	 cidade,	 em	outros	 séculos,	 todavia	 é	 o	 sítio	 o	
cenário	recorrente.
Monteiro	 Lobato	 adaptou	 clássicos	 da	 literatura,	 como	 Dom Quixote 
das crianças	 (1936),	 e	de	obras	 europeias	destinadas	 à	 infância:	Peter Pan	 (1930).	
Estabeleceu	incursões	no	folclore,	com	Histórias de tia Nastácia	(1937),	e	na	mitologia	
ocidental	-	O Minotauro	(1939).	
TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL
55
Podemos	dizer	que	com	Lobato	a	nossa	literatura	infantil	atingiu	projeção	
universal.	Criou	uma	concepção	para	a	fabulação	infantil,	suas	personagens	vivem	
tipos	 que	 integram	o	 cenário	 literário,	 a	 exemplo	de	Emília,	 boneca	 admirável,	
misto	de	fada	e	ser	humano.
Por	 sua	 vez,	 os	 protagonistas	 Pedrinho	 e	 Narizinho	 retratam	 as	
preocupações	e	atividades	que	ocupam	os	meninos	e	meninas	daquela	época	e,	
por	que	não	dizer,	de	nossa	época.	A	obra	infantil	de	Lobato	está	reunida	em	vários	
volumes:	Reinações	de	Narizinho,	Viagem	ao	céu,	O	Saci,	Caçadas	de	Pedrinho,	
Emília	no	país	da	gramática,	Aritmética	de	Emília,	Geografia	de	Dona	Benta,	entre	
outras	histórias	que	encantaram	e	encantam	os	 jovens	 leitores.	E	as	 traduções	e	
adaptações	de	Contos	de	Grimm,	Novos	contos	de	Grimm,	Contos	de	Andersen,	
Novos	contos	de	Andersen,	Alice	no	país	das	maravilhas.
Além	 disso,	 Lobato	 atentava	 para	 o	 fato	 dos	 conteúdos	moralizantes	 da	
literatura	destinada	ao	jovem	leitor.	A	partir	da	fábula	A cigarra e a formiga,	de	La	
Fontaine,	escreve	A formiga boa e a Formiga má.	Naquela	versão	a	formiga	reconhece	
o	valor	do	canto	da	cigarra,	a	distração	que	tal	cantoria	lhe	proporcionava	nas	horas	
de	 labuta,	 sendo	assim,	 recompensa	 a	 cigarra	protegendo-a	do	 rigoroso	 inverno.	
Exibe	uma	formiga	solidária,	tolerante	e	que	respeita	os	outros	e	suas	diferenças,	ao	
contrário	da	personagem	da	fábula	A Formiga má,	que	é	perversa,	não	se	deixa	levar	
pelos	apelos	da	fragilizada	cigarra,	negando-lhe	qualquer	auxílio.
FIGURA 8 – A CIGARRA E A FORMIGA
FONTE: Disponível em: <http://aprendercentrodeestudos.blogspot.com.
br/2012/05/conto-cigarra-e-formiga.html>. Acesso em: 12 set. 2012.
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
56
A Formiga má
Já	 houve,	 entretanto,	 uma	 formiga	 má	 que	 não	 soube	 compreender	
a	cigarra	e	com	dureza	a	repeliu	de	sua	porta.	Foi	 isso	na	Europa,	em	pleno	
inverno,	quando	a	neve	recobria	o	mundo	com	seu	cruel	manto	de	gelo.
A	cigarra,	como	de	costume,	havia	cantado	sem	parar	o	estio	inteiro	e	
o	inverno	veio	encontrá-la	desprovida	de	tudo,	sem	casa	onde	abrigar-se	nem	
folhinhas	que	comesse.
Desprovida,	bateu	à	porta	da	formiga	e	implorou	-	emprestado,	notem!	
-	uns	miseráveis	restos	de	comida.	Pagaria	com	juros	altos	aquela	comida	de	
empréstimo,	logo	que	o	tempo	o	permitisse.
Mas	a	formiga	era	uma	usurária	sem	entranhas.	Além	disso,	invejosa.	
Como	não	soubesse	cantar,	tinha	ódio	à	cigarra	por	vê-la	querida	de	todos	os	
seres.
-	Que	fazia	você	durante	o	bom	tempo?
-	Eu...	eu	cantava!...
-	Cantava?	Pois	dance	agora,	vagabunda!	-	e	fechou-lhe	a	porta	no	nariz.
Resultado:	 a	 cigarra	 ali	 morreu	 entanguidinha;	 e	 quando	 voltou	 a	
primavera	o	mundo	apresentava	um	aspecto	mais	triste.	É	que	faltava	na	música	
do	mundo	o	 som	estridente	daquela	 cigarra,	morta	por	 causa	da	avareza	da	
formiga.	Mas	se	a	usurária	morresse,	quem	daria	pela	falta	dela?
"Os	 artistas	 -	 poetas,	 pintores,	 escritores,	músicos	 -	 são	 as	 cigarras	 da	
humanidade".
Leia	a	seguir	uma	fábula	de	Monteiro	Lobato.
FONTE: Disponível em: <http://recantodasletras.uol.com.br/contos/1184720>. Acesso em: 12 set. 
2012.
Lobato	escreveu	o	primeiro	livro	voltado	ao	público	infantil,	A	Menina	do	
narizinho	arrebitado,	em	1921,	e	o	último,	Os	doze	trabalhos	de	Hércules,	em	1944.	
Ele	faleceu	em	1948	(ZILBERMAN,	2005).
Graças	à	atividade	dos	escritores	Monteiro	Lobato,	Viriato	Correa,	Érico	
Veríssimo,	 Graciliano	 Ramos,	 Figueiredo	 Pimentel,	 Maria	 José	 Dupré,	 entre	
outros,	é	que	a	literatura	infantil	brasileira	traça	seus	caminhos	inovadores	e	ganha	
projeção	nacional	e	universal.
57
RESUMO DO TÓPICO 1
Caro(a) acadêmico(a), neste tópico você viu que:
•	O	adjetivo	“infantil”	determina	o	público	a	que	se	destina.	Entretanto,	é	o	que	é	
escrito	para	a	criança	e	lido	pela	criança.
•	Alguns	escritores	e	especialistas	preferem	dispensar	o	adjetivo	infantil,	afirmando	
não	poder	haver	distinções	que	reduzam	ou	orientem	os	diferentes	leitores.
•	 A	 literatura	 infantil	 brasileira,	 a	 exemplo	 da	 europeia,	 assumiu	 a	 função	
pedagógica	e	difundiu	modos	e	modelos	comportamentais.
•	A	 primeira	 fase	 da	 literatura	 infantil	 no	 Brasil	 é	 norteada	 por	 adaptações	 e	
traduções	 de	 textos	 europeus,	 principalmente	 de	 produções	 portuguesas.	 Os	
textos	tinham	a	intenção	de	incutir	o	patriotismo,	a	valorização	do	nacionalismo.
•	 Entre	 as	 décadas	 de	 1920	 a	 1945,	 em	 termos	 de	 literatura	 infantil,	 eclodiram	
inovações	diversas	nas	áreas	culturais,	expressas	na	Semana	de	Arte	Moderna.	A	
literatura	infantil,	especialmente	a	partir	de	Monteiro	Lobato,	recebeu	“roupagem	
nova”,	 com	 temáticas	 e	 uma	 linguagem	 coloquial,	 próximas	 à	 realidade	 da	
criança.
•	Pode-se	afirmar	que	atualmente	a	literatura	infantil	é	marcada	por	personagens	
que	contestavam	fatos;	apareceram	as	gírias,	os	dialetos,	as	falas	regionais,	ou	
seja,	uma	literatura	inovadora	e	plena	de	desafios.	
•	 A	 literatura	 surge	 como	 um	 mundo	 aberto,	 um	 convite	 à	 liberdade	 de	
interpretação,	à	criatividade	e	à	exploração	das	formas.
•	 O	 encontro	 com	 a	 arte	 literária	 possibilita	 transformação,	 enriquecimento,	
experiência	de	vida	e	transmissão	de	ideias.
58
AUTOATIVIDADE
Para a autoatividade, leia o texto que segue:
Desafio aos educadores
 
Um	famoso	filósofo	alemão	do	século	passado,	Frederico	Nietzsche,	tece	
uma	crítica	radical	à	civilização	ocidental,	dizendo	que	ela	educa	os	homens	
para	desenvolverem	apenas	 instinto	da	 tartaruga.	O	que	quer	dizer	 isso?	A	
tartaruga	é	o	animal	que,	diante	do	perigo,	da	surpresa,	recolhe	a	cabeça	para	
dentro	de	sua	casca.	Anula,	assim,	todos	os	seus	sentidos	e	esconde,	também	
na	casca,	os	membros,	 tentando	proteger-se	 contra	o	desconhecido.	Este	é	o	
instinto	da	tartaruga:	defender-se,	fechar-se	ao	mundo,	recolher-se	para	dentro	
de	 si	 mesma	 e,	 em	 consequência,nada	 ver,	 nada	 sentir,	 nada	 ouvir,	 nada	
ameaçar.
Formar	 boas	 tartarugas	 parece	 ter	 sido	 o	 objetivo	 dos	 processos	
educacionais	e	políticos	de	educação	desenvolvidos	no	mundo	ocidental	nos	
últimos	anos.	Temos	educado	os	homens	para	aprenderem	a	se	defender	contra	
todas	as	ameaças	externas,	sendo	apenas	reativos.
Ensinamos	o	espírito	da	covardia	e	do	medo.
Precisamos	 assumir	 o	 desafio	 de	 educar	 o	 homem	para	 desenvolver	
o	 instinto	 da	 águia.	 Águia	 é	 o	 animal	 que	 voa	 acima	 das	 montanhas,	 que	
desenvolve	seus	sentidos	e	habilidades,	que	aguça	ouvidos,	olhos	e	competência	
para	ultrapassar	os	perigos,	alçando	voo	acima	deles.	 É	 capaz,	 também,	
de	 afiar	 as	 suas	 garras	 para	 atacar	 o	 inimigo,	 no	momento	 que	 julgar	mais	
oportuno.
As	 nossas	 escolas	 têm	 procurado	 fazer	 com	 que	 nossas	 crianças	 se	
recolham	para	dentro	de	si	e	percam	a	agressividade	—	o	instinto	próprio	do	
homem	corajoso,	capaz	de	vencer	o	perigo	que	se	lhe	apresenta.
Temos	criado,	neste	país,	uma	geração-tartaruga,	uma	geração	medrosa,	
recolhida	para	dentro	de	 si.	E	 estamos	 todos	 impregnados	por	 esse	 espírito	
de	 tartaruga.	Não	temos	coragem	para	contestar	nossos	dirigentes,	para	nos	
opor	às	suas	propostas	e	criar	soluções	alternativas.	Agimos	apenas	de	maneira	
reativa,	negativa,	covarde.
Temos	 ensinado	 às	 nossas	 crianças	 que	 os	 nossos	 instintos	 são	
pecaminosos.	A	parte	mais	rica	do	indivíduo,	que	é	a	sua	sensibilidade	—	sua	
capacidade	de	amar	e	de	odiar,	 sua	capacidade	de	se	 relacionar	de	maneira	
erótica	com	o	mundo	—,	tem	sido	desprezada.	Temos	ensinado	o	homem	a	ser	
obediente,	servil,	pacífico,	incompetente	e	depositar	todas	as	suas	esperanças	
num	poder	maior	ou	no	fim	das	tempestades.
59
Quando	 ensinaremos	 aos	 nossos	 alunos	 que	 eles	 não	 precisam	 se	
esconder	diante	das	ameaças,	porque	todos	nós	temos	capacidade	de	alçar	voo	
às	alturas,	ultrapassando	as	nuvens	carregadas	de	tempestade	e	perigo?	Temos	
ensinado	às	nossas	crianças	a	se	arrastar	como	vermes,	e	porque	se	arrastam	
como	vermes,	elas	se	tornam	incapazes	de	reclamar	se	lhes	pisam	na	cabeça.
O	que	desejamos,	afinal,	desenvolver	em	nós	mesmos	e	nos	jovens?	O	
instinto	da	tartaruga	ou	o	espírito	das	águias?
FONTE: RODRIGUES, Neidson. Lições do príncipe e outras lições. 18. ed. São Paulo: Cortez, 
1999, p. 110.
Agora	responda:
1		Na	sua	opinião,	atualmente	a	escola	cumpre	seu	papel	no	que	se	 refere	à	
formação	de	leitores?	Comente.
2		No	 texto	 “Desafio	 aos	 educadores”,	 lemos	 que	 a	 escola	 desenvolve	 nos	
alunos	apenas	o	 instinto	das	 tartarugas,	 sendo	que	deveria	desenvolver	o	
espírito	das	águias.	Você	concorda?	Por	quê?
60
61
TÓPICO 2
GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA 
ESTRUTURA I
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
As	narrativas,	 sejam	elas	contos	de	 fada,	 lendas,	 fábulas,	 romance,	entre	
outras,	constituem-se	em	objeto	de	leitura.	Propiciam	ao	leitor	ou	ouvinte	uma	ou	
várias	interpretações,	de	acordo	com	seus	referenciais.	Há	que	se	considerar	que	
tais	 textos	 possuem	 características	 pertinentes,	 que	provocam	 efeitos	 diferentes	
em	diversas	pessoas.	É,	em	parte,	a	história	de	vida	de	cada	um	que	determinará	
sua	significação.	O	encontro	com	essa	literatura	favorece	a	liberdade,	a	satisfação	
e	desperta	o	imaginário.	
Assim,	após	considerações	que	situam	a	literatura	como	arte	envolvida	com	
a	palavra	descompromissada	com	a	verdade	lógica,	com	a	racionalidade	utilitária,	
e	sua	inclusão	no	universo	infantil,	interessa-nos	agora	definir	uma	de	suas	formas	
de	manifestação	mais	praticadas,	a	saber:	o	texto	narrativo.
2 AS NARRATIVAS E O ESTILO
Pessoas	das	mais	 variadas	 condições	 socioculturais	 têm	prazer	 de	 ouvir	
e	contar	histórias.	O	romancista	e	ensaísta	Forster	(1998)	cita	a	obra	As	mil e uma 
noites, na	qual	a	protagonista	Sherazade	narrava,	diariamente,	histórias	ao	sultão	
e	as	interrompia	em	momentos	de	suspense.	Essa	atitude	da	jovem	contadora	de	
histórias	motivava	sempre	mais	a	curiosidade	do	sultão.	Tal	fato	livrou	Sherazade	
da	morte,	visto	que	o	sultão	enamorou-se	da	habilidosa	narradora.	Para	Forster,	
nós	 também	 somos	 como	 o	 sultão,	 pois,	 quando	 nossa	 curiosidade	 é	 aguçada,	
permanecemos	muito	atentos	ao	desenrolar	de	um	fato.
Entre	os	gêneros	literários,	a	narrativa	poderia	ser	conceituada	como	uma	
forma	 de	 “discurso	 que	 nos	 apresenta	 uma	 história	 imaginária	 como	 se	 fosse	
real,	constituída	por	uma	pluralidade	de	personagens,	cujos	episódios	de	vida	se	
entrelaçam	num	tempo	e	num	espaço	determinados”	(D’ONOFRIO	2006,	p.	53),	isto	
é,	características	que	fariam	da	narrativa	um	gênero	universal,	cuja	inventividade	
revela-se	nas	diversas	modalidades	artísticas	em	que	ainda	se	concretiza:
A	 narrativa	 pode	 ser	 sustentada	 pela	 linguagem	 articulada,	 oral	
ou	 escrita,	 pela	 imagem,	 fixa	 ou	 móvel,	 pelo	 gesto	 ou	 pela	 mistura	
ordenada	de	todas	essas	substâncias;	está	presente	no	mito,	na	fábula,	
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
62
no	conto,	na	novela,	na	epopeia,	na	história,	na	tragédia,	no	drama,	na	
comédia,	na	pantomima,	na	pintura,	no	vitral,	no	cinema,	nas	histórias	
em	quadrinhos,	no	faits	divers,	na	conversação.	Além	disso,	sob	essas	
formas	quase	 infinitas,	a	narrativa	está	presente	em	todos	os	 tempos,	
em	todos	os	lugares,	em	todas	as	sociedades.	(BARTHES,	1972,	p.	19).
Você já parou para pensar o quanto a nossa vida é marcada pela presença da 
narrativa? A todo instante estamos contando – para alguém ou, silenciosamente, para nós 
mesmos – fatos e episódios que nos acontecem ou que poderiam vir a acontecer em nosso dia 
a dia. Basta levantarmos da cama e começa a se desenhar mais uma história, mais uma forma de 
narrativa que vamos indefinidamente tecendo até a nossa morte. Alguns de nós, mais talentosos, 
conseguem transformar o essencial desses relatos em textos literários, por isso são escritores.
UNI
À	 estrutura	 da	 narrativa,	 portanto,	 corresponderia	 uma	 lógica	 não	
matemática	ou	exclusivamente	racional,	mas	captada	de	um	modo	simples	e	ao	
mesmo	tempo	maravilhoso,	posto	que	originalmente	resultante	de	uma	intuição	
presente	 na	 arte	 primitiva	 da	 caça,	 que	 ademais	 pressupunha	 uma	 lógica	 da	
adivinhação:
 
Talvez	 a	 própria	 ideia	 de	 narração	 (...)	 tenha	 surgido,	 pela	 primeira	
vez,	 numa	 sociedade	 de	 caçadores,	 da	 experiência	 do	 deciframento	
de	 indícios	 mínimos.	 (...)	 O	 caçador	 teria	 sido	 o	 primeiro	 a	 “contar	
uma	história”	porque	era	o	único	capaz	de	ler,	nas	pegadas	mudas	(se	
não	 imperceptíveis)	 deixadas	 pela	 sua	 presa,	 uma	 série	 coerente	 de	
acontecimentos.	(GINZBURG	apud	COMPAGNON,	2010,	p.	129).
Além	da	estrutura	da	narrativa,	assunto	que	será	ampliado	nos	próximos	
tópicos,	vale	ressaltar	a	questão	relacionada	ao	que	conhecemos	como	estilo.	Do	
dicionário	escolhemos	as	seguintes	asserções	da	palavra	estilo:	
maneira	de	exprimir-se,	utilizando	palavras,	expressões	que	identificam	
e	caracterizam	o	feitio	de	determinados	grupos,	classes	ou	profissões;	
conjunto	 de	 tendências	 e	 características	 formais,	 conteudísticas,	
estéticas	 etc.	 que	 identificam	 ou	 distinguem	 uma	 obra,	 um	 artista	
etc.,	 ou	 determinado	 período	 ou	movimento;	 conjunto	 de	 traços	 que	
identificam	 determinada	manifestação	 cultural.	 (HOUAISS;	 VILLAR,	
2009,	p.	835).
A	 noção	 de	 estilo,	 conforme	 pensadores	 alemães,	 ingleses	 e	 franceses,	
resume	o	espírito,	a	visão	de	mundo	própria	de	uma	comunidade.	Pode	representar	
uma	norma,	um	ornamento,	um	desvio,	um	gênero,	uma	cultura,	ou	ainda,	a	soma	
de	todos	esses	conceitos	(COMPAGNON,	2003).
Assim,	 a	 história	 da	 literatura	 pode	 ser	 descrita	 considerando	 os	 vários	
estilos	 ou	 os	 traços	 marcantes	 de	 determinado	 período:	 o	 estilo	 romântico,	 o	
barroco,	o	clássico,o	moderno.
TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I
63
Compagnon	 (2003),	 após	um	 levantamento	das	 noções	 que	permeiam	o	
entendimento	do	estilo,	considerou	que	três	aspectos	são	inevitáveis	e	insuperáveis	
para	o	entendimento	das	noções	de	estilo:
O	estilo	é	uma	variação	formal	a	partir	de	um	conteúdo	(mais	ou	menos)	
estável;	o	estilo	é	um	conjunto	de	traços	característicos	de	uma	obra	que	
permite	que	se	identifique	e	se	reconheça	(mais	intuitivamente	do	que	
analiticamente)	o	autor;	o	estilo	é	uma	escolha	entre	várias	“escrituras”	
(COMPAGNON,	2003,	p.	194).
Estilo	 pode	 ser	 entendido	 como	 uma	 forma	 mais	 ou	 menos	 constante,	
que	 varia	 de	 acordo	 com	 as	 qualidades	 e	 as	 expressões	 que	 persistem	 na	 arte	
de	um	indivíduo	ou	de	um	grupo	de	 indivíduos.	“A	esse	conjunto	de	textos	de	
determinada	 nação,	 que	 se	 singulariza	 pela	 presença	 de	 determinados	 valores	
estéticos,	dá-se,	nas	palavras	de	Diderot,	o	nome	de	arte”	(apud	SILVA,	1986,	p.	6).
Então,	podemos	afirmar	que	no	que	tange	à	literatura	há	que	se	considerar	
que	o	estilo	abarca	questões	relativas	à	natureza	e	público	a	que	se	destina	e,	em	
nosso	 caso,	 o	 jovem	 leitor.	Além	 disso,	 a	 classificação	 é	 feita	 não	 somente	 em	
função	do	aspecto	temático,	mas	levando	em	conta	a	predominância	de	elementos	
constitutivos	de	cada	gênero.	
A	 maneira	 do	 escritor	 organizar	 e	 expressar	 ideias	 e	 pensamentos,	
elementos	e	estruturas	caracteriza	o	estilo,	tais	como:	a	apresentação,	o	conflito	ou	
a	complicação,	o	clímax,	o	desfecho,	o	tema	ou	enredo,	a	fala	das	personagens,	o	
espaço,	ou	seja,	o	ambiente,	o	tempo,	são	recursos	dos	quais	o	escritor	lança	mão	
para	compor	os	mais	variados	gêneros.	Nesse	sentido,	é	importante	que,	na	escola,	
o	professor	atente	para	esses	aspectos,	a	fim	de	que	possa	refletir,	juntamente	com	
os	alunos,	o	que	engendra	um	texto	literário.	
Caro(a)	 acadêmico(a),	 a	 partir	 do	 conceito	 de	 estilo	 proposto	 por	
Compagnon,	 elencamos	 uma	 característica	 marcante	 nos	 escritos	 de	 Machado	
de	Assis,	qual	seja,	a	de	um	narrador	intrometido:	as	personagens	machadianas	
contam	 sua	 vida	 e	 intercalam	 a	 narração,	 em	 primeira	 pessoa,	 com	 frequentes	
explicações	para	o	leitor.	Parecem	justificar	para	si	e	explicar	aos	que	os	“escutam”	
os	acontecimentos	que	motivaram	seus	atos.	
O	narrador	e/ou	protagonista	provoca	o	leitor	em	uma	série	de	afirmações,	
interrogações,	exclamações.	Nos	contos	machadianos	encontramos	este	recurso,	a	
exemplo	do	conto	O Sainete:
Pode	o	leitor	coçar	o	nariz,	à	procura	da	explicação;	a	leitora	não	precisa	
desse	recurso	para	adivinhar	que	o	Dr.	Maciel	ama,	que	uma	"seta	do	
deus	alado"	o	feriu	mesmo	no	centro	do	coração.	O	que	a	 leitora	não	
pode	 adivinhar,	 sem	 que	 eu	 lho	 diga,	 é	 que	 o	 jovem	médico	 ama	 a	
viúva	Seixas,	cuja	maravilhosa	beleza	levava	após	si	os	olhos	dos	mais	
consumados	pintalegretes.	O	Dr.	Maciel	gostava	de	a	ver	como	todos	os	
outros;	amou-a	desde	certa	noite	e	certo	baile,	em	que	ela,	andando	a	
passeio	pelo	seu	braço,	perguntou-lhe	de	repente	com	a	mais	deliciosa	
languidez	do	mundo:	(ASSIS,	2011,		p.	68).
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
64
Após	mapear	alguns	atributos	que	definem	a	narrativa	literária,	resenharemos	
acerca	 dos	 gêneros	 mais	 comuns	 na	 modalidade	 literatura	 infantojuvenil.	 Além	
disso,	atente	para	a	sua	estrutura,	seu	estilo,	suas	características,	procure	estabelecer	
diferenças	e	semelhanças.	Bom	estudo!
3 NARRATIVAS: O CONTO
No mundo dos contos de fadas não devem ser despertados 
sentimentos de angústia, e tampouco sentimentos 
inquietantes. (...) Quanto ao silêncio e escuridão, tudo 
o que podemos dizer é que são realmente os fatores a que 
se acha ligada a angústia infantil, que na maioria das 
pessoas nunca desaparece inteiramente (FREUD,	2010,	
p.	376).
Os	contos	populares,	contos	de	fada,	as	lendas,	bem	como	o	cordel,	o	mito,	
sempre	foram	associados	ao	folclore	e,	por	vezes,	foram	suprimidos	dos	estudos	
literários.	 Segundo	 Leal	 (1985,	 p.	 9),	 “a	 partir	 do	 século	 XX,	 com	 a	 linguística	
saussuriana,	 ocorre	 um	 resgate	 acadêmico	 desse	 material	 de	 origem	 popular.	
Assim,	despontam	novas	perspectivas,	sugerindo	outros	modelos	de	análise	para	
essas	narrativas”.
As	reflexões	compreenderam	que	o	ato	de	narrar,	de	recontar	histórias	é	
inerente	ao	ser	humano.	Desde	o	princípio	das	civilizações,	o	contar	oralmente	era	
a	única	possibilidade	de	registro	e,	sendo	assim,	foi	reconstruído	seu	valor	tanto	
literário,	quanto	no	processo	de	formação	do	leitor.	Nesse	sentido,	esse	resgate	da	
chamada	literatura	oral	beneficiou	a	construção	de	uma	memória	de	leitura	de	um	
povo,	bem	como	os	estudos	dessa	literatura.
Além	 dos	 crescentes	 trabalhos	 sobre	 as	 narrativas	 de	 tradição	 oral,	
o	 mercado	 editorial	 também	 ampliou	 o	 número	 de	 edições	 dessas	 histórias,	
geralmente	 catalogadas	 como	 literatura	 infantil	 e	 juvenil,	 com	 um	 tratamento	
editorial	e	gráfico	aprimorado,	colorido,	com	ilustrações	e	traços	que	realçam	as	
novas	configurações	e	os	elementos	visuais.	
No	Brasil,	Cascudo	(2004)	coletou	e	registrou	histórias	contadas	pelo	povo,	
especialmente	do	Nordeste	brasileiro,	sempre	com	o	cuidado	de	ser	um	coletor,	
não	 um	 autor.	Cascudo	declarou	 que	mantinha	 cerca	 de	 noventa	 por	 cento	 da	
linguagem	oral.
 
Nenhum	 vocábulo	 foi	 substituído.	Apenas	 não	 julguei	 indispensável	
grafar	 muié,	 prinspo,	 prinspa,	 timive,	 terrive.	 Conservei	 a	 coloração	
do	 vocabulário	 individual,	 as	 imagens,	 perífrases,	 intercorrências.	
Impossível	 será	 a	 ideia	 do	 movimento,	 o	 timbre,	 a	 representação	
personalizadora	 das	 figuras	 evocadas,	 instintivamente	 feita	 pelo	
narrador	(CASCUDO,	2004,	p.	16).	
Segundo	Leal	(1985),	nas	coletâneas	de	Câmara	Cascudo	há,	nos	textos,	um	
estilo,	revelando	um	contorno	peculiar	de	composição	oral	marcada	pela	escritura.		
TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I
65
Esses	 contos,	 lendas,	 narrativas	míticas,	 é	 bom	 lembrar,	 são	 expressões	
de	culturas	orais,	propagadas	por	narradores,	passadas	de	geração	em	geração,	
portanto	 passíveis	 de	 modificações,	 fusões,	 acréscimos,	 cortes,	 substituições	 e	
influências.	Eis	porque	os	contos	populares	revelam	certa	dificuldade	de	identificar	
sua	“verdadeira	origem”.
Ainda	segundo	Câmara	Cascudo,	folclorista	brasileiro,	para	ser	classificado	
como	 conto	 popular	 “é	 preciso	 que	 o	 conto	 seja	 velho	 na	 memória	 do	 povo,	
anônimo	 em	 sua	 autoria,	 divulgado	 em	 seu	 conhecimento	 e	 persistente	 nos	
repertórios	orais”.	Que	seja	omisso	nos	nomes	próprios,	localizações	geográficas	e	
datas	(CASCUDO,	2004,	p.	13).
O	conto	difere	de	outras	formas	de	narrativa	de	ficção,	não	somente	por	sua	
brevidade,	que	oferece	um	episódio,	uma	amostra	da	vida,	mas	por	conter	outras	
características.	É	o	que	procuraremos	elencar.
3.1 OS CONTOS DE FADA
Estas	 narrativas	 surgiram	 com	 os	 celtas,	 aproximadamente	 no	 século	 II	
a.C.,	propagadas	através	da	oralidade.	O	conto	de	fada	apresenta	uma	estrutura	
com	início,	meio	e	fim.	A	história	inicia-se	com	uma	situação	de	equilíbrio,	alterada	
por	um	conflito.	No	decorrer	dos	acontecimentos,	a	tranquilidade	é	retomada	pelo	
herói	ou	heroína,	efetuando-se,	assim,	o	desfecho	da	história.
Fada. Palavra derivada do latim fáta,ae ‘a deusa do destino, Parca’ (HOUAISS; VILLAR, 
2009, p. 867).
UNI
Nessas	narrativas	aparecem	fadas,	duendes,	espelhos	mágicos,	príncipes,	
princesas,	 reis,	 rainhas,	 bruxas	 gigantes,	 ou	 seja,	 objetos	 ou	 seres	 mágicos,	
elementos	que	conferem	uma	simbologia	a	esse	modelo	literário.
Apresentam	temas	relacionados	ao	medo,	ao	amor,	às	carências,	às	perdas	
e	buscas.	Essas	questões	 fazem	parte	do	cotidiano	 infantojuvenil	 e	 favorecem	a	
autodescoberta	-	quemsomos	e	o	que	desejamos	-,	conforme	nossos	valores	morais	
e	éticos:	
Os	contos	de	fada	trazem	a	magia	que	alimenta	a	imaginação,	ajudam	
a	encarar	os	problemas	da	vida	e,	por	vezes,	trazem	esperanças	de	dias	
melhores.	É	um	pouco	por	isso	que	ainda	hoje	esses	contos	continuam	
a	 ser	 tão	 encantadores	 para	 adultos	 e	 crianças,	 que	 podem	 acreditar	
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
66
pelo	 menos	 na	 fantasia	 de	 que	 é	 possível	 “viver	 feliz	 para	 sempre”	
(GAGLIARDI;	AMARAL,	2001,	p.	86).
O	conto	possibilita	à	criança	dar	vazão	a	seus	afetos	e	angústias,	ou	seja,	o	
conto	faz	rir	e	chorar,	é	um	treino	para	as	emoções.	Bruno	Bettelheim	(1980),	em	
sua	obra	A Psicanálise dos Contos de Fada, afirma	que	os	mesmos	ajudam	a	resolver	
problemas	 da	 existência	 da	 criança.	 Enfatiza	 também	o	 poder	 regenerador	 dos	
contos.	Por	conterem,	na	sua	estrutura,	elementos	simbólicos,	 criam	uma	ponte	
com	 o	 inconsciente,	 propiciando	 ao	 jovem	 leitor	 conforto	 e	 consolo	 em	 termos	
emocionais.
Outro	 elemento	 característico	 dos	 contos	 de	 fada	 é	 a	 presença	 de	
personagens	 que	 não	 mudam	 bruscamente	 suas	 ações	 ou	 reações	 no	 decorrer	
da	narrativa	(são	bem	delineadas	quanto	ao	seu	caráter	ou	modo	de	ser:	bom	ou	
mau).	São	representantes	destas	personagens	os	reis,	as	rainhas,	os	príncipes,	as	
princesas,	as	fadas,	as	bruxas.	Personagens	classificadas	como	planas.	E	que	serão	
objeto	de	estudos	futuros. 
Algumas	 características	 são	 recorrentes	 entre	 os	 contos,	 tais	 como:	 a	
existência	de	poderes	desconhecidos,	 feitiços,	monstros,	 encantos,	 instrumentos	
mágicos,	vozes	do	além,	viagens	extraordinárias.	Costumam	ocorrer	num	tempo	
desconhecido,	reconhecido	pelas	expressões	“era	uma	vez...,	há	muito	tempo...,	há	
milhares	de	anos...”.
Nelly Novaes Coelho (2000, p. 173) distingue conto maravilhoso do conto de fadas. 
Segundo a autora, o conto maravilhoso foi difundido pelos árabes. São narrativas nas quais a 
aventura é “de natureza material/social/sensorial”, ou seja, no enredo aparece a satisfação do 
corpo e busca pela riqueza e poder. Ainda de acordo com a autora, isto o diferencia do conto 
de fadas, uma vez que este é de origem celta e é permeado por uma natureza “espiritual/ética/
existencial”, com aventuras ligadas ao sobrenatural, daí a aparecerem os seres dotados de poderes, 
como as fadas com extraordinários encantos.
IMPORTANT
E
As	personagens	geralmente	são	apresentadas	como	“a	bela	adormecida”,	
“um	 certo	 rei”,	 “uma	 princesa	 muito	 linda“,	 “a	 filha	 mais	 amada”,	 e	 que	 no	
decorrer	da	narrativa	enfrentam	os	mais	variados	perigos,	nos	quais	aventuram-
se,	são	castigados,	vencem,	casam	e,	quanto	ao	aspecto	físico,	não	mudam.
Além	 disso,	 exploram	 o	 bem	 como	 tudo	 o	 que	 corrobora	 para	 com	 os	
objetivos	do	herói	 ou	da	heroína.	Ao	 contrário,	 o	 que	prejudica	 ou	 atrapalha	 é	
denominado	de	mal.	Em	outras	palavras,	é	uma	moral	relativa,	determinada	por	
situações	do	contexto.
TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I
67
As	personagens	nos	contos	de	fadas	não	são	ambivalentes	–	não	são	ao	
mesmo	tempo	boas	e	más,	como	somos	todos	na	realidade.	Mas,	uma	
vez	que	a	polarização	domina	a	mente	da	criança,	ela	também	domina	
os	contos	de	fadas.	Uma	pessoa	é	boa	ou	má,	sem	meio-termo.	Um	irmão	
é	tolo,	o	outro	esperto.	Uma	irmã	é	virtuosa	e	trabalhadora,	as	outras	vis	
e	preguiçosas.	Uma	é	bela,	as	outras	feias.	(BETTELHEIM,	2007,	p.	20).
É	 assim	 que,	 para	 Bettelheim,	 ao	 lado	 das	 relações	 parentais	 e	 afetivas,	
seria	 o	 conto	 de	 fadas	 a	 mais	 alta	 expressão	 de	 uma	 herança	 cultural	 que	
poderia	 verdadeiramente	 contribuir	 para	 propiciar	 às	 crianças	 uma	 infância	
emocionalmente	sadia:
Enquanto	diverte	a	criança,	o	conto	de	fadas	esclarece	sobre	si	próprio	e	
favorece	o	desenvolvimento	de	sua	personalidade.	Oferece	tantos	níveis	
distintos	de	 significado	e	enriquece	a	 sua	existência	de	 tantos	modos	
que	 nenhum	 livro	 pode	 fazer	 justiça	 à	 profusão	 e	 diversidade	 das	
contribuições	dadas	por	esse	conto	à	vida	da	criança.	(...)	O	prazer	que	
experimentamos	quando	nos	permitimos	ser	sensíveis	a	um	conto	de	
fadas,	o	encantamento	que	sentimos,	não	vêm	do	significado	psicológico	
de	um	conto	(embora	isso	contribua	para	tal),	mas	de	suas	qualidades	
literárias	 –	 o	 próprio	 conto	 como	 uma	 obra	 de	 arte.	 (BETTELHEIM,	
2007,	p.	17).
São	narrativas	que	pressupõem	sempre	uma	voz	que	 conta,	 até	porque,	
como	já	sabemos,	nasceram	na	oralidade,	são	textos	lineares,	com	começo,	meio	e	
fim.
Bettelheim	 (2007),	 por	 exemplo,	 acredita	 que	 a	 simplificação	 das	 ações	
narrativas	através	do	uso	da	tríade	básica	–	começo,	meio	e	fim	–,	aliada	à	polarização	
das	 personagens	 em	 boas	 e	 más,	 capta	 uma	 origem	 inconsciente	 e	 profunda	
dos	valores	humanos	que	podem	contribuir	 significativamente	para	 a	 evolução	
emocional	da	criança;	evolução	que	se	deve	dar	de	forma	progressiva,	posto	que	
só	em	idade	madura	ela	estaria	apta	a	estabelecer	relações	mais	complexas	e	mais	
próximas	da	realidade	tal	como	a	experimentamos.
Vejamos	 outras	 questões	 encontradiças	 nessas	 narrativas,	 quais	 sejam:	 a	
metamorfose:	 personagens	 ou	 objetos	 podem	 ser	 encantados	 por	 algum	 efeito	
maléfico.	Essa	transformação,	ao	que	parece,	está	ligada	a	antigas	crenças	de	que	
todos	os	seres	anormais	ou	disformes	possuíam	poderes	de	intervenção	na	vida	
humana.	Geralmente	é	uma	figura	feminina	que	consegue	“quebrar”,	desfazer	o	
encanto.	
Outro	 elemento	 são	 os	 objetos	mágicos,	 que	 em	 “um	passe	 de	mágica”	
interferem	no	destino	das	personagens,	ajudando	ou	prejudicando.	Exemplos	bem	
difundidos	foram	o	espelho	mágico	e	a	varinha	de	condão.	Há	que	se	considerar	que	
os	elementos	sobrenaturais	estão	ligados	a	um	enigma	desafiador,	um	obstáculo	a	
ser	vencido.
Os	contos	de	fada	apresentam,	geralmente,	seres	dotados	de	poderes	que	
vencem	 obstáculos	 e,	 a	 partir	 de	 então,	 modificam	 sua	 vida.	 Conseguem,	 por	
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
68
exemplo,	 conquistar	a	pessoa	amada	e/ou	o	 trono	de	algum	reino.	São	enredos	
voltados	a	problemáticas	existenciais,	nos	quais,	de	acordo	com	Bettelheim	(2007,	
p.	15):
A	cultura	dominante	deseja	fingir,	particularmente	no	que	se	refere	às	
crianças,	que	o	lado	obscuro	do	homem	não	existe,	e	professa	a	crença	
num	aprimoramento	otimista.	(...)	[Em	contrapartida]	essa	é	exatamente	
a	mensagem	 que	 os	 contos	 de	 fadas	 transmitem	 à	 criança	 de	 forma	
variada:	que	uma	luta	contra	dificuldades	graves	na	vida	é	inevitável,	
é	parte	intrínseca	da	existência	humana	–	mas	que,	se	a	pessoa	não	se	
intimida	e	se	defronta	resolutamente	com	as	provações	 inesperadas	e	
muitas	vezes	injustas,	dominará	todos	os	obstáculos	e	ao	fim	emergirá	
vitoriosa.	
Em	tais	enredos	paira	a	ideia	do	maravilhoso.	A	história	inicia-se	com	uma	
situação	de	equilíbrio,	alterada	por	um	conflito,	devendo	este	ser	resolvido	pelo	
herói	ou	heroína.	A	restauração	da	ordem	acontece	no	desfecho	da	narrativa,	a	
trama	é	revelada	ao	leitor	de	forma	rápida	e	surpreendente.	As	fadas,	os	duendes,	
objetos	mágicos,	príncipes,	princesas,	reis,	rainhas,	bruxas,	gigantes,	são	elementos	
que	assinalam	o	estilo	desse	gênero	literário.	
Assim,	por	ser	a	forma	narrativa	de	maior	destaque	na	relação	da	literatura	
com	 a	 infância,	 o	 conto	 popular,	mais	 conhecido	 como	 conto	 de	 fadas,	 agrupa	
temáticas	variadas,	que	expressam	a	psicologia	coletiva	e	inconsciente	dos	povos,	
relatam	 coisas	 e	 eventos	 que	 não	 como	 eles	 são,	mas	 sim	 como	 deveriam	 ser,	
portanto	 fazendo	 predominar,	 sobre	 os	 aspectos	 negativos	 da	 vida,	 os	 valores	
considerados	 sagrados	 pelas	 comunidades,	 tais	 como	 o	 triunfo	 do	 bem	 sobre	
o	mal,	da	beleza	 sobre	 a	 feiura,	da	verdade	 sobrea	mentira,	da	 justiça	 sobre	 a	
injustiça,	entre	outros.	
As	narrativas	constituem-se	em	objeto	de	leitura	dentro	e	fora	do	espaço	
escolar.	O	encontro	com	os	contos	de	fada	ainda	favorece	a	liberdade	e	desperta	o	
imaginário	do	leitor?	É	o	assunto	que	discutiremos	a	seguir.
4 O PODER DOS CONTOS NA CONTEMPORANEIDADE
Ainda	que	o	tempo	tenha	evoluído,	os	contos	infantis	não	perderam	o	seu	
valor,	pois	tanto	as	crianças	quanto	os	jovens	tiram	proveito	das	suas	mensagens,	ou	
seja,	fazem	crescer	e	despertam	a	consciência.	Contribuem	no	despertar	o	interesse	
na	literatura;	são	estímulos	à	imaginação	e	criatividade;	favorecem	o	diálogo	com	
os	seus	familiares	e	amigos;	potenciam	a	cultura	e	a	inteligência	emocional;	tratam	
de	valores	de	comportamento	ético,	entre	outros.	
Uma	 das	 prováveis	 vantagens	 dos	 contos	 de	 fadas	 [...]	 sobre	 as	
outras	 formas	 de	 ficção	 deve-se	 à	 universalidade	 de	 sua	 difusão.	 O	
compartilhamento	de	trechos	do	 imaginário	entre	as	crianças	é	o	que	
possibilita	sua	utilização	como	se	fosse	um	brinquedo.	Se	uma	menina	
diz	para	a	outra:	“seremos	princesas,	eu	quero	ser	a	Bela	Adormecida”,	
TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I
69
a	amiga	pode	responder:	“e	eu	a	Cinderela”;	e	então	a	brincadeira	pode	
começar	sem	maiores	esclarecimentos.	(CORSO;	CORSO,	2003,	p.	78).
De	acordo	com	o	exposto,	infere-se	que	a	criança,	através	da	imaginação,	
incorpora	traços	da	personalidade,	das	personagens	e	cenários	advindos	da	ficção.
No	 dizer	 de	 Bruno	 Bettelheim	 (2001,	 p.	 15),	 “a	 criança	 necessita	 muito	
particularmente	que	lhe	sejam	dadas	sugestões	em	forma	simbólica	sobre	o	modo	
como	 ela	 pode	 lidar	 com	 estas	 questões	 (os	 problemas	 existenciais)	 e	 crescer	 a	
salvo	para	a	maturidade”.	
Com	base	nesse	pressuposto,	o	autor	em	questão	vê	o	conto	de	fadas	como	
possibilidade	 que	 conduz	 a	 um	 plano	 superior	 de	 compreensão	 e	 elaboração.	
Bettelheim	 (2001,	 p.	 33)	 afirma	 que	 “o	 conto	 de	 fadas	 é	 terapêutico,	 porque	 o	
paciente	encontra	sua	própria	solução	através	da	contemplação	do	que	a	história	
parece	 implicar	 acerca	 de	 seus	 conflitos	 internos	 neste	 momento	 da	 vida”.	 E	
argumenta	ainda	que	“a	forma	e	a	estrutura	dos	contos	de	fadas	sugerem	imagens	
à	criança,	com	as	quais	estrutura	seus	devaneios”	(BETTELHEIM,	2001,	p.	16).	
Ressalta	a	importância	da	história	e	dela	extrair	os	elementos	que	vão	servir	
de	 “remédio”	 para	 o	 convívio	 com	 os	 demais,	 são	 as	 escolhas	 que	 as	 crianças	
fazem	a	partir	do	seu	imaginário.	Seria	esse	o	potencial	dos	contos:	traduzir	o	que	
se	passa	conosco,	ainda	que	não	compreendamos	uma	angústia	ou	um	sofrimento.	
Uma	história	pode	dar	um	sentido,	delinear	o	nosso	sofrimento.	
Nesse	caso,	um	conto	de	fadas	estabelece	uma	relação	com	um	problema	
real,	 mérito	 que	 Bettelheim	 (2001)	 enfatiza,	 pois	 a	 criança,	 ao	 ouvir	 histórias	
fantásticas,	sente	segurança	e	conforto;	ainda	que	não	compreenda	as	dificuldades	
e	onde	estão,	consegue	superá-las	pela	sensação	de	um	bem-estar.	
Para	o	autor	em	questão,	as	crianças	conseguem	lidar	melhor	com	o	mundo	
extrafamiliar	por	conta	das	esperanças	e	promessas	contidas	nos	contos	de	fadas,	
ou	 seja,	 “à	 medida	 que	 a	 criança	 cresce,	 consegue	 satisfações	 emocionais	 com	
pessoas	que	não	fazem	parte	de	sua	família”	(BETTELHEIM,	1992,	p.	155).
A	criança	se	apropria	de	certas	habilidades	que	não	realizava,	mas	que,	por	
força	do	seu	natural	desenvolvimento,	é	desafiada,	como	as	mudanças	de	relações	e	
hábitos.	Esse	fato	pode	causar	desapontamentos,	frustração,	desespero	e	decepção	
especialmente	 em	 relação	 aos	 seus	 pais,	 seus	 provedores.	 Segundo	 Bettelheim	
(1992,	p.	157),	“esse	é	o	momento	em	que	a	criança	começa	a	fantasiar	e	acreditar	
nas	fantasias	que	forma	e	vive	mais	presa	ao	futuro,	fugindo	das	angústias	de	um	
presente	que	não	a	agrada”.	
A	criança	passa	então	a	manejar	os	acontecimentos	e	suas	relações	com	o	
mundo	são	determinadas	pelo	contato	com	contos	de	fadas	durante	a	sua	formação,	
pelos	avanços	e	retrocessos	em	seu	desenvolvimento,	os	quais	se	constituem	forma	
sadia	de	crescer.	Desse	modo,	quando	insatisfeita,	é	comum	que	ela	imagine	para	
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
70
si	um	reino	encantado,	 cujo	 fato	é	positivo	para	o	 seu	desenvolvimento,	pois	 é	
nesse	fazer	que	a	criança	constrói	sua	personalidade	(BETTELHEIM,	1992).	
É	preciso	então	considerar	o	mito	e	a	fantasia	inerentes	à	formação	humana,	
afinal	 a	 simbologia	 é	 capaz	 de	 representar	 os	 pensamentos,	 especialmente	 os	
da	criança.	Os	contos	infantis	contribuem	para	o	conhecimento,	para	o	convívio	
harmonioso,	para	a	compreensão	dos	conflitos,	na	medida	em	que	a	criança,	pelo	
contato	e	leitura,	cresce	cognitivamente	e	estrutura	a	sua	personalidade.
Ao	compreender	a	simbologia	dos	contos	de	fadas,	pais	e	professores	terão	
a	 seu	 favor	um	precioso	 recurso	de	desenvolvimento	 infantil,	 que	 favorecerá	 a	
fantasia	e	a	imaginação.	Diante	disso,	é	preciso	um	olhar	atento	sobre	esse	assunto,	
com	vistas	a	discussões	acerca	do	papel	dos	contos	de	fadas	no	processo	de	ensino	
e	aprendizagem.	
“Do ponto de vista antropológico e filosófico, o mito é encarado como a palavra 
que designa um estágio do desenvolvimento humano anterior à história” (MOISÉS, 2004, p. 342). 
Assim, as histórias expressavam uma compreensão fantástica ou um ponto de vista religioso do 
mundo, e o mito aludia a uma forma de narrativa ficcional que em sua origem versaria sobre 
divindades e a interferência delas na vida e no comportamento humanos, e que, por ser criado 
por uma coletividade, não possuiria uma autoria específica. A maior parte deles, por expressarem 
valores de comunidades primitivas, passou a ser também estudada pela Mitologia. Há, entretanto, 
os mitos literários, criados por autores específicos e que buscam exprimir valores de vida pessoais, 
obedecendo assim a um encadeamento mais lógico e subjetivo.
UNI
TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I
71
 A discussão acerca do poder dos contos de fada teve por base o 
livro Psicanálise dos contos de fadas, publicado pela Bertand 
Editora (2001), que aborda os contos de fadas numa perspectiva 
psicológica e social. 
Bruno Bettelheim reflete sobre os efeitos benéficos dos 
contos infantis na criança, ajudando pais, professores e outros 
profissionais que atuam com as crianças a compreender os 
impactos dos contos no desenvolvimento pessoal, social e 
afetivo. Para o estudioso, além do entretenimento, os contos 
infantis fornecem às crianças pistas para a resolução dos seus 
problemas: como lidar com as mudanças de vida, enfrentar 
um amigo na escola, aprender a lutar pelo que se deseja, entre 
outras possibilidades. O autor aborda também as teorias da 
psicologia, sociologia e psicanálise, como o Complexo de Édipo, 
o Inconsciente, o Princípio do prazer versus princípio da realidade, entre outras, para embasar 
os seus estudos acerca do conto de fadas e o seu efeito na criança. 
FONTE: Disponível em: <http://www.netsaber.com.br/>.
UNI
72
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico apresentamos:
•	A	narrativa	poderá	ser	conceituada	como	uma	história	imaginária,	composta	por	
uma	pluralidade	de	personagens,	com	episódios	que	se	entrelaçam	num	tempo	e	
num	espaço.	
•	O	 estilo	 presente	 nas	 narrativas	 e	 nas	 demais	 formas	 de	 expressão	 da	 arte	
pode	 ser	 entendido	 como	uma	norma,	 um	ornamento,	 um	 traço	marcante	 de	
determinado	 período,	 autor,	 obra,	 levando	 em	 conta	 a	 predominância	 de	
elementos	característicos	de	cada	gênero.
•	Os	 contos,	 as	 lendas,	 as	 narrativas	míticas,	 é	 bom	 lembrar,	 são	 expressões	de	
culturas	 orais,	 propagadas	 por	 narradores,	 passadas	 de	 geração	 em	 geração,	
portanto	 passíveis	 de	modificações,	 fusões,	 acréscimos,	 cortes,	 substituiçõese	
influências.
•	No	Brasil,	Câmara	Cascudo	coletou	e	 registrou	histórias	 contadas	pelo	povo,	
especialmente	do	Nordeste	brasileiro	,	sempre	com	o	cuidado	de	ser	um	coletor,	
não	um	autor.	
•	O	conto	de	 fadas	apresenta	uma	estrutura,	 com	 início,	meio	e	fim.	A	história	
inicia-se	com	uma	situação	de	equilíbrio,	alterada	por	um	conflito.	No	decorrer	
dos	acontecimentos,	a	tranquilidade	é	retomada,	efetuando-se,	assim,	o	desfecho	
da	história.
•	 Os	 temas	 recorrentes	 nos	 contos	 estão	 relacionados	 ao	 medo,	 ao	 amor,	 às	
carências,	às	perdas	e	buscas.
•	Outro	elemento	característico	dos	contos	de	fadas	é	a	presença	de	personagens	
planas,	envoltas	em	temáticas	que	expressam	a	psicologia	coletiva	e	inconsciente	
dos	povos,	relatando	valores	considerados	sagrados	pelas	comunidades,	tais	como	
o	triunfo	do	bem	sobre	o	mal,	da	beleza	sobre	a	feiura,	da	verdade	sobre	a	mentira,	
da	justiça	sobre	a	injustiça,	entre	outros.	
•	Nos	contos	maravilhosos	as	questões	emanam	do	social	e	do	econômico,	isto	é,	
são	problemáticas	ligadas	à	vida	e	à	sobrevivência.	A	personagem	central	lutará	
para	conquistar	bens,	status	 e	poder.	Para	 tanto,	 será	auxiliada	por	elementos	
mágicos	 e	maravilhosos.	 São	 exemplos	de	 conto	maravilhoso	O gato de botas, 
Aladim e a lâmpada maravilhosa, muitos	dos	contos	de	As mil e uma noites.
• Os	contos	destinados	ao	público	 infantil	não	perderam	seu	encanto	mágico	e	
contribuem	para	despertar	o	interesse	na	literatura,	são	estímulos	à	imaginação,	
à	 criatividade	e	à	 interpretação,	 favorecem	o	diálogo;	potenciam	a	cultura	e	a	
inteligência	emocional.
73
• Para	 Bettelheim	 (2001),	 um	 conto	 de	 fadas	 estabelece	 uma	 relação	 com	 um	
problema	real;	assim,	a	criança,	ao	ouvir	histórias	fantásticas,	sente	segurança	e	
conforto;	ainda	que	não	compreenda	as	dificuldades,	consegue	superá-las	pela	
sensação	de	um	bem-estar.
• Os	contos	de	fadas	contribuem	para	o	conhecimento,	para	o	convívio	harmonioso,	
para	a	compreensão	dos	conflitos,	na	medida	em	que	a	criança,	pelo	contato	e	
leitura,	cresce	cognitivamente	e	estrutura	a	sua	personalidade.
• O	mito	e	a	fantasia	são	inerentes	à	formação	humana,	afinal	a	simbologia	é	capaz	
de	representar	os	pensamentos.
• O	mito,	em	sua	origem,	acena	para	uma	forma	de	narrativa	ficcional,	que	versa	
sobre	divindades	e	a	interferência	delas	na	vida	e	no	comportamento	humanos;	
foi	 criado	 por	 uma	 coletividade,	 não	 possuindo	 uma	 autoria	 específica.	 Há,	
entretanto,	 os	 mitos	 literários,	 criados	 por	 autores	 específicos	 e	 que	 buscam	
exprimir	valores	de	vida	pessoais,	obedecendo	assim	a	um	encadeamento	mais	
lógico	e	subjetivo.
• A	 modalidade	 infantojuvenil,	 devido	 à	 sua	 funcionalidade	 estética,	 lúdica	 e	
cognitiva,	é	fonte	de	instrução	e	arte,	porque	pressupõe	que,	desde	a	infância,	o	
homem	necessita	da	expressão	e	da	compreensão	do	mundo.
• No	constante	contato	com	a	arte,	a	visualização	da	fantasia,	da	imaginação,	do	faz	
de	conta,	a	criança	experimenta	novas	sensações,	com	emoção,	prazer,	e	aguça	o	
fascínio	pelo	belo,	pela	expressão	artística.	
74
AUTOATIVIDADE
Caro(a)	acadêmico(a),	propomos	algumas	questões	com	o	objetivo	de	
levá-lo(a)	a	refletir	sobre	sua	vida	como	leitor(a).
1	Dos	livros	que	você	já	leu,	qual	deles	você	indicaria	para	um	amigo?	Por	quê?
2	Quais	são	suas	preferências	de	leitura,	quanto	ao	assunto?	Enumere	de	1	a	9,	
indicando	sua	preferência,	de	forma	crescente:
(		)	Humor.
(		)	Ficção	científica.
(		)	Terror.
(		)	Poesia.
(		)	Autoajuda.
(		)	Mistério.
(		)	Ciência	e	saúde.
(		)	Policial.
(		)	Filosofia.
(		)	Esoterismo.
(		)	Outros____________________________________.
3	Você	gosta	de	ler	revistas?	Em	caso	afirmativo,	quais?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
4	Você	lê	jornais?	Qual	assunto	mais	interessa	a	você?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
5	Quais	seus	escritores	brasileiros	preferidos?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
6	Quais	seus	escritores	estrangeiros	preferidos?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
7	Enumere	de	1	a	10,	de	modo	crescente,	as	atividades	de	sua	preferência:
(		)	Ouvir	música.
(		)	Dançar.
(		)	Ler.
(		)	Ir	ao	cinema.
(		)	Praticar	esportes.
(		)	Assistir	TV.
75
(		)	Ir	ao	teatro.
(		)	Viajar.
(		)	Namorar.
(		)	Navegar	na	internet.
8	Você	se	considera	um	leitor?	Justifique.
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
Importante	que	o(a)	Professor(a)-Tutor(a)	Externo(a)	 comente	sobre	a	
necessidade	de	que,	para	sermos	professores,	devemos	antes	ser	leitores.
Caro(a)	 acadêmico(a),	 socialize	 suas	 respostas.	 Peça	 para	 o(a)	
Professor(a)-Tutor(a)	Externo(a)	ouvir	o	que	os	colegas	escreveram.	Fomente	o	
diálogo	e	a	troca	de	ideias.
76
77
TÓPICO 3
GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA 
ESTRUTURA II
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Você	 já	observou	a	tripartição	das	ações	que	aparece	nas	narrativas?	É	o	
caso	dos	filmes	sobre	piratas,	em	que	se	apresenta,	nos	primeiros	minutos,	uma	
ilha	 paradisíaca	 na	 qual	 vive	 uma	 linda	 moça,	 que	 geralmente	 é	 filha	 de	 um	
governante	 ou	 rei.	 Após	 ser	 mostrada	 essa	 situação	 inicial	 harmônica,	 inicia-
se	o	conflito,	quando	a	linda	 jovem,	ao	passear	distraidamente	em	uma	praia,	é	
raptada	por	um	grupo	de	piratas	malfeitores.	Organiza-se,	então,	uma	expedição	
em	busca	de	 recuperar	 a	moça	 indefesa,	momento	 em	que	um	belo	 e	 valoroso	
jovem,	encarnando	o	papel	de	herói	da	trama,	salva	a	filha	do	governante	e,	por	
ter	 restituído	 a	harmonia	 inicial,	 recebe	 a	mão	dela	 em	 casamento	 como	 forma	
de	compensação	por	sua	bravura.	Não	será	assim	a	estrutura	da	maior	parte	dos	
filmes	hollywoodianos?	Pense	nos	que	vêm	à	mente	e	reflita	se	eles	estão	ou	não	
voltados	para	agradar	ao	senso	comum.
2 A COMPOSIÇÃO DOS TEXTOS LITERÁRIOS
Após	 este	 exercício	 de	 reflexão,	 discorreremos	 sobre	 a	 estrutura	 ou	 a	
composição	 das	 narrativas,	 sobre	 o	 encadeamento	 de	 uma	 sequência	 de	 fatos	
reais	ou	 imaginários,	na	qual	as	personagens,	após	uma	série	de	acontecimentos,	
restabelecem	o	equilíbrio	-	diferente	ou	não	do	equilíbrio	inicial.	Assim,	podemos	
dizer	que	um	texto	narrativo	apresenta	a	seguinte	estrutura:
Apresentação: também	conhecida	como	início,	no	qual	o	autor	apresenta	
parte	 dos	 personagens,	 do	 ambiente	 e	 algumas	 das	 circunstâncias	 da	 história.	
Deve-se	atentar	para	o	fato	de	que	existem	textos	nos	quais	já	de	início	mostra-se	a	
ação	em	pleno	desenvolvimento.
Atente	para	o	fato	de	que	existe	uma	técnica	literária	conhecida	como	In 
media res,	 expressão	 latina	que	significa	no	meio	dos	acontecimentos.	O	escritor	
omite	personagens,	cenários	e	conflitos	no	início	da	narrativa	e	os	retoma	adiante,	
por	 meio	 de	 uma	 série	 de	 flashbacks	 ou	 por	 intermédio	 de	 personagens	 que	
discorrem	entre	si	sobre	eventos	passados.	Essa	forma	de	iniciar	a	narrativa	não	no	
início	temporal,	mas	a	partir	de	um	ponto	médio	de	seu	desenvolvimento,	pode	
ser	encontrada	nas	obras	clássicas,	como	a	Eneida de Virgílio,	e	a	Ilíada de Homero.	
78
UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
O escritor Luís de Camões, a exemplo dos clássicos, lançou mão dessa técnica em 
Os Lusíadas.
NOTA
Conflito	ou	complicação:	momento	do	texto	no	qual	se	inicia	propriamente	
a	ação.O	aparente	equilíbrio	dá	lugar	a	transformações	expressas	em	um	ou	mais	
episódios	que	se	sucedem,	conduzindo	ao	clímax.
A	 partir	 desse	 primeiro	 movimento	 de	 entrada	 na	 narrativa,	 no	 qual	
identificamos	 uma	 convivência	 harmônica	 entre	 as	 personagens	 e	 a	 sociedade	
retratada,	seguir-se-á	inevitavelmente	um	segundo	movimento,	denominado	fase	
de	transgressão,	e	que	é	caracterizado	pela	ruptura	daquela	forma	de	convivência	
ordeira	e	pacífica	por	parte	de	um	indivíduo	vil	ou	fraco	de	caráter,	transgressão	
esta	a	partir	da	qual	se	inicia	o	terceiro	movimento,	agora	em	direção	ao	fim	da	
história,	e	que	trata	do	restabelecimento	da	ordem	inicial,	conhecido	como	clímax.	
Neste	momento,	a	narrativa	atinge	seu	ponto	máximo	e	crítico,	que	convergirá	no	
desfecho.
Para	entendermos	o	arranjo	das	funções	contratuais,	é	preciso	pressupor	
um	contrato	natural	e	implícito,	subjacente	a	toda	organização	social:	o	indivíduo	
deve	admitir	uma	hierarquia	de	valores	e	a	ela	subordinar-se.	Em	troca	do	conforto,	
da	proteção	e	de	outros	inúmeros	benefícios	que	a	vida	em	sociedade	lhe	oferece,	o	
indivíduo	obriga-se	ao	respeito	das	normas	impostas	pelo	viver	em	comunidade.	
A	 transgressão	 de	 uma	 ordem	por	 parte	 de	 um	membro	 da	 sociedade	 implica	
a	 ruptura	 desse	 contrato	 natural,	 implicitamente	 aceito.	 No	 seio	 da	 sociedade,	
o	elemento	disfórico,	o	 transgressor,	é	contrabalançado	pelo	herói,	o	 reparador.	
(D’ONOFRIO,	2006	p.	78).
 
Desenlace	ou	desfecho:	parte	do	texto	na	qual	se	restabelece	o	equilíbrio	e	
em	que,	geralmente,	acontece	a	solução	do	conflito.	Os	episódios	que	compõem	
as	narrativas	podem	seguir	uma	sequência	cronológica.	No	entanto,	encontramos	
narrativas	em	que	o	desfecho	aparece	antes	da	complicação	e	do	clímax.
É	 interessante	notar	que	essa	forma	estrutural	das	histórias,	estabelecida	
segundo	três	movimentos	estruturais	básicos	–	três	pontos	centrais	fixos:	começo	ou	
equilíbrio,	transgressão	ou	dano,	e	reparação	–,	adveio	de	um	estudo	contundente	
do	teórico	russo	Vladimir	Propp,	não	propriamente	sobre	textos	eruditos,	mas	acerca	
dos	 tradicionais	 contos	populares.	Assim,	Propp	 “foi	 o	pioneiro	da	 abordagem	
interna	ou	estrutural	do	texto	literário.	[Para	ele]	uma	narrativa	é	vista	como	uma	
obra	de	arte	que	(...)	uma	vez	produzida,	passa	a	ter	uma	vida	independente	do	
autor	e	da	época”	(D’ONOFRIO,	2006,	p.	66).	
TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II
79
Dessa	 forma,	a	partir	do	estudo	de	 cem	contos	maravilhosos,	o	 referido	
autor	pôde	constatar	que	poderiam	ocorrer	não	apenas	três,	mas	31	funções	fixas,	
comuns	e	possíveis	não	apenas	aos	contos	de	fadas	e	histórias	maravilhosas,	mas	
a	 toda	e	qualquer	 forma	de	narrativa	 literária;	 funções	sobre	as	quais	devem	se	
debruçar	 todos	 aqueles	 interessados	 em	 aprofundar	 seus	 estudos	 em	 teoria	 da	
literatura.
Caro(a) acadêmico(a), relacionamos a seguir as 31 funções elencadas por Vladimir 
Propp: afastamento, interdição, transgressão, interrogação, informação, engano, cumplicidade, 
dano, pedido de socorro, início da ação contrária, partida, função do doador, reação do herói, 
recepção do objeto mágico, deslocamento espacial, luta, marca, vitória, reparação, volta, 
perseguição, socorro, chegada incógnita, pretensões falsas, tarefa difícil, tarefa cumprida, 
reconhecimento, desmascaramento, transfiguração, punição, casamento.
UNI
Além	de	sua	estrutura,	vários	elementos	compõem	a	narrativa:	personagens,	
ação,	tempo,	espaço,	tema	ou	enredo	e	estilo	integrados	numa	obra	a	ser	apreciada	
pelo	leitor.	Refletiremos,	caro(a)	acadêmico(a),	sobre	cada	um	destes.
2.1 A AÇÃO
Ação,	história,	 trama,	 assunto,	 tema	ou	o	 enredo	 são	alguns	dos	 termos	
usados	para	designar	o	que	sucede	na	narrativa.	
No	caso	das	narrativas	infantis	e	contos	tradicionais,	desenrolam-se	dois	
tipos	 padrões	 de	 ação:	 um	 em	 que	 alguém,	 por	 sentir-se	 inadequado	 ao	meio	
social	em	que	vive,	pretende	modificar,	na	maior	parte	das	vezes	de	modo	ilícito,	a	
harmonia	social	existente	–	papel	geralmente	desempenhado	pelo	vilão	da	história	
–;	e	um	segundo	em	que	algum	personagem,	colocado	em	contraposição	àquele,	
encarna	os	valores	 sociais	 idealizados	pela	 comunidade	e,	por	 ser	destinado	ao	
bem,	consegue	restituí-los	na	medida	em	que	vence	o	mal	e	vilania	a	ele	associada:
O	conto	de	 fadas	 simplifica	 todas	as	 situações.	Suas	personagens	 são	
esboçadas	claramente;	e	detalhes,	exceto	quando	muito	importantes,	são	
eliminados.	Todas	as	personagens	são	típicas	em	lugar	de	únicas.	(...)	
Em	praticamente	todo	conto	de	fadas,	o	bem	e	o	mal	são	corporificados	
sob	a	forma	de	alguns	personagens	e	de	suas	ações.	(...)	Não	é	o	fato	de	
a	virtude	vencer	no	final	que	promove	a	moralidade,	mas	sim	o	fato	de	
o	herói	ser	extremamente	atraente	para	a	criança,	que	se	identifica	com	
ele	em	todas	as	suas	lutas.		(BETTELHEIM,	2007,	p.	16).
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UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES
O	enredo	envolve	o	que	acontece	com	as	personagens,	suas	ações	e	reações.	
É	o	desenrolar	dos	acontecimentos	simples	ou	complexos,	de	conflitos	que	surgem	
de	 uma	 situação	 que	 desequilibra	 a	 vida	 da(s)	 personagem(ns)	 e	 que	 pode	 ser	
resolvida	 ou	 não.	 Então,	 podemos	 dizer	 que	 a	 ação	 refere-se	 à	 sequência	 dos	
acontecimentos	de	uma	narrativa	literária,	teatral,	cinematográfica,	entre	outras.
Acerca,	 ainda,	 dessa	 tripartição	 fabular:	 começo,	 meio	 e	 fim	 –	 que	
possibilita	categorizar	o	gênero	narrativo	como	um	conjunto	de	obras	que	se	valem	
dos	mesmos	elementos	estruturais	e	que	os	utilizam	de	um	modo	semelhante	–,	
é	 interessante	destacar	que	uma	ação	decorreria	da	outra,	 e	 todas	partiriam	do	
desenvolvimento	de	uma	situação	inicial,	que	é:	
determinada	 pelas	 relações	 existentes	 entre	 as	 personagens,	
anteriormente	 a	 qualquer	 ação.	 Geralmente	 ela	 é	 representada	
simbolicamente	 por	 uma	 paisagem	 edênica,	 pitoresca	 e	 colorida	 e	
indica	 um	 estado	 de	 felicidade,	 que	 serve	 como	 fundo	 contrastivo	
à	 infelicidade	 que	 vai	 se	 seguir.	 (...)	 A	 situação	 inicial	 é,	 ao	 mesmo	
tempo,	“estática”	e	“conflitual”.	Estática	porque	não	contém	nenhum	
movimento	 ou	 ação.	 Conflitual	 porque	 contém,	 virtualmente,	 um	
motivo	 dinâmico	 de	 conflito,	 que	 irá	 possibilitar	 o	 desenrolar	 dos	
acontecimentos.	(D’ONOFRIO,	2006	p.	75-76).
Mas,	de	modo	geral,	e	 independente	do	tipo	de	gênero	da	obra	literária,	
trata	o	enredo	de	um	conjunto	de	acontecimentos	narrados	na	trama	(termo	que	se	
reporta	mais	aos	arranjos	estilísticos	dos	episódios	da	narrativa	ficcional),	ou,	para	
utilizar	uma	 terminologia	mais	 estrutural,	do	desenrolar	das	 ações	da	 “fábula”	
(termo	que	se	reporta	mais	à	sucessão	cronológica	dos	acontecimentos),	em	que	
personagens	participam,	sofrem	e	reparam	danos	em	um	tempo	sequencial	e	em	
um	espaço	determinado.
2.2 AS FALAS NA NARRATIVA
No	que	tange	às	falas	das	personagens,	estas	podem	ser	classificadas	em:	
Discurso	direto:	o	discurso	direto,	nas	palavras	de	Ulisses	Infante	(1999,	p.	116),	“é	
a	reprodução	direta	das	falas	das	personagens	e	um	recurso	que	imprime	maior	
agilidade	ao	texto”.
Você	poderá	constatar	no	exemplo	que	segue:
TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II
81
(...)	
Seu	major!
Seu	major	suspendeu	as	instruções,	ficou	esperando.
-	Seu	major!	Deu-se!
-	O	quê?
-	A	coisa!
- Hein?
-	A	coisa!	O	Washington!	
-	Não	percebo,	homem!
-	A	REVOLUÇÂO	VENCEU!
-	Estás	doido!
O	chefe	da	estação	ficou	possesso:
-	Eu,	doido?	O	senhor	é	que	está	maluco!	Se	não	é	analfabeto	leia	isto!
FONTE: MACHADO, Antônio de Alcântara. Contos avulsos: as cinco panelas de ouro. 
Disponível em: <http://www.biblio.com.br/conteudo/alcantaramachado/mcontosavulsos.htm>. 
Acesso em: 12 nov. 2012.
O discurso	indireto:	neste	caso,	ao	narrador	cabe	a	tarefa	de

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