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43 UNIDADE 2 A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Nessa unidade vamos: • analisar as diferentes fases da criança e sua influência na escolha de livros; • refletir sobre alguns dos fatores que contribuem para a formação do jovem leitor; • perceber que o texto literário não se limita ao ensino da gramática e/ou escolas literárias; • identificar a transmissão de valores e contravalores de algumas das perso- nagens encontradas na literatura infantojuvenil. Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles você encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados. TÓPICO 1 – ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL TÓPICO 2 – GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I TÓPICO 3 – GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II 44 45 TÓPICO 1 ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Há palavras verdadeiramente mágicas. O que há de mais assustador nos monstros é a palavra “monstro”. Se eles se chamassem leques ou ventarolas, ou outro nome assim, todo arejado de vogais, quase tudo se perderia do fascinante horror de Frankenstein... (QUINTANA, 1979, p. 21) A magia e o encanto da expressão literária perpassam gerações e é sobre essa literatura que nos deteremos, mais especificamente àquela destinada ao jovem leitor, que recebeu o adjetivo de infantil. Por vezes, essa qualidade, essa adjetivação inquieta o próprio estatuto de literário, uma vez que muitas histórias foram transformadas, adaptadas para o público infantil, e para este trabalho de reescritura importava validar o aspecto pedagógico da literatura. Hoje é sabido que, por expressar e refletir a complexidade do ser humano, o seu mundo e suas relações existenciais, a literatura se apresenta fascinante, essencial e favorece o desenvolvimento intelectual. Enquanto atividade cognitiva, contribui para a ampliação do processo perceptivo do leitor. Daí a necessidade da presença do livro literário em sala de aula, por representar possibilidade de conhecimento e descoberta. São essas questões que serão abordadas. FIGURA 5 - SENECIO, PAUL KLEE FONTE: Disponível em: <http:\\www.ricci-arte biz.543.jpg>. Acesso em: 12 ago. 2012. UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES 46 2 OS TEXTOS DESTINADOS AO JOVEM LEITOR Ao que parece, o surgimento de uma literatura para crianças encontra-se ligado à novelística popular medieval, que tem suas origens na Índia. Descobriu-se que a magia e o encanto dessas criações, vindas, em sua maioria, da tradição oral e mitológica, repassadas através de gerações e adaptadas pela experiência do adulto, poderiam satisfazer a mente fértil e inesgotável do público infantil (OLIVEIRA, 2007). A literatura infantil constitui-se como gênero durante o século XVII, na Europa, e seu aparecimento possui características próprias. A ela foi atribuída a função de suscitar situações para uma educação moral. Os textos, em sua estrutura maniqueísta, demarcavam claramente o bem e o mal, o que a criança deveria fazer e o que não deveria. Com uma sociedade burguesa em ascensão, a criança, ou melhor dizendo, o que fez parte de sua infância, no caso a escola, passou por uma reorganização. As histórias destinadas à criança foram associadas à Pedagogia, que as converteu em aliado instrumento pedagógico. Nessa abordagem, a criança era considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias. Para tanto, deveria receber uma educação especial, que a preparasse para a vida adulta e priorizasse os valores morais. Assim surge a chamada literatura infantil, que, desde sua gênese, esteve atrelada a fins pedagógicos, a serviço da divulgação dos ideais burgueses” (OLIVEIRA, 2007). Somente a partir de estudos da psicologia experimental é que se altera a concepção. Entra em questão a sucessão das fases evolutivas da inteligência. A partir de então passa a existir a preocupação de falar com autenticidade, aos possíveis destinatários das mais tenras idades. Transforma-se, assim, o foco da literatura infantil. Entretanto, vejamos: A literatura infantil é comunicação histórica (localizada no tempo e no espaço) entre um locutor e um escritor adulto (emissor) e um destinatário - criança (receptor), que por definição do período considerado, não dispõe senão de modo parcial da experiência do real e das estruturas linguística, intelectuais, afetivas e outras que caracterizam a idade adulta. (COELHO, 1997, p. 185). Nesse sentido, lembre-se de nossas discussões iniciadas na primeira unidade: o livro destinado ao infante é produzido por um adulto que comunica experiências já adquiridas a um público que não possui tal experiência. É direcionada a uma idade que é de aprendizagem e, mais especificamente, de aprendizagem linguística, donde advém sua inclinação pedagógica. Assim, a literatura no espaço escolar foi incorporada como tarefa a ser cumprida. Para Abramovick (1989), é justamente este caráter de cobrança que distancia a criança da leitura de literatura. Sobre essa função utilitário-pedagógica, à qual a literatura infantojuvenil é exposta, leiamos Palo e Oliveira (1986, p.13), que afirmam: TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL 47 a função pedagógica implica a ação educativa do livro sobre a criança. De um lado, relação comunicativa leitor-obra, tendo por intermediário o pedagógico, que dirige e orienta o uso da informação; de outro, a cadeia de mediadores que interceptam a relação livro-criança: família, escola, biblioteca e o próprio mercado editorial, agentes controladores de usos que dificultam à criança a decisão e escolha do que e como ler. Esse contexto de literatura infantil interfere sobre o universo da criança. Assim, questões que envolvem a literatura no espaço escolar e, consequentemente, no universo infantil são o mote de vários estudos. Bruno Bettelheim (2007) discorre sobre as personagens infantis, o maravilhoso, o fantástico, seus conflitos e o papel que os enredos dessas histórias desempenha no imaginário do jovem leitor. Afirma que toda a simbologia presente no literário infantil ajuda a resolver problemas existenciais da criança. Enfatiza também o poder regenerador dos contos de fada, que, por conterem na sua estrutura elementos simbólicos, criam uma ponte com o inconsciente, propiciando ao jovem leitor conforto e consolo em termos emocionais. Dito de outro modo, apresentam temas relacionados ao medo, ao amor, ao ódio, à alegria, à busca, à tristeza, que fazem parte do cotidiano infantojuvenil, propiciando um treino para as emoções. A postura que considera a literatura “objeto pedagógico” sofre forte reação, pois há quem a defenda como entretenimento, ludicidade e deleite. Então, podemos inferir que sob um olhar é arte, é emoção e prazer, e sob o aspecto de instrumento manipulado para uma intenção educativa, ela é objeto pedagógico. Uma dicotomia existe, entretanto salientamos que a literatura infantil acaba sendo aquela que corresponde, de alguma forma, aos anseios do leitor (OLIVEIRA, 2007). É objeto de entretenimento e, ao mesmo tempo, traduz o homem e atua na sua formação (CANDIDO, 2002). É nesse sentido que devemos pensar a literatura destinada à humanidade, em especial, neste nosso estudo, a destinada ao público infantojuvenil. Atribui-se o ponto de partida para a literatura infantil à Europa do século XVII, mais especificamente França. Para instigar sua curiosidade sobre esse universo literário, leia o item seguinte. Neste elegemos alguns escritores e obras, no intuito de fazer uma incursão pela história da literatura inafantojuvenil. 3 A LITERATURA INFANTIL – UM POUCO DE HISTÓRIA Estudos apontamCharles Perrault como precursor da literatura infantil. Iniciou seu trabalho adaptando histórias contadas oralmente em locais parisienses com enredos de personagens que viviam em estado de precariedade, sofriam e ao final venciam. Caro(a) acadêmico(a), façamos o exercício de recordar o conto A gata borralheira. Confira uma das versões na trilha de aprendizagem da disciplina. Lembre-se de que borralheira significa: local onde existe acúmulo de borralha, mais conhecida como cinza do forno ou lareira. UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES 48 Cinderela: sua origem tem diferentes versões. A versão mais conhecida é a do escritor francês Charles Perrault, de 1697, baseada num conto italiano popular chamado A gata borralheira. A mais antiga é originária da China, por volta de 860 a.C. Existe também a dos Irmãos Grimm, semelhante à de Charles Perrault. Sociólogos, historiadores e literatos veem na história de Cinderela muito mais do que uma simples trama romântica. Por ter origem atemporal e ter surgido em várias civilizações diferentes, a trajetória da protagonista traduziria uma espécie de arquétipo fundamental, traduzindo o anseio natural da psiquê humana em ser reconhecida especial e levada a uma existência superior. A literatura e o cinema, cientes disso, utilizaram-se de seu arco dramático para o desenvolvimento de inúmeras outras obras de apelo popular. FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/CinderelaDisponível>. Acesso em: 5 out. 2012. UNI Que tal? Recordou? Então, atente para o fato de que, neste conto, Perrault descreve a preocupação dos convidados quanto ao vestuário, os salões de festa, as danças, a carruagem, enfim, o glamour da nobreza contrapondo-se à vida dos camponeses, marcada pela privação devido ao agravamento das contradições econômicas. Enredos com aspectos que provinham do povo humilde, elementos da corte, a vida e as festas nos palácios. FIGURA 6 – A GATA BORRALHEIRA FONTE: Disponível em: <http://prosimetron.blogspot.com.br/2012/06/gata- borralheira.html>. Acesso em: 5 out. 2012. Além de Perrault, Fénelon dedicou-se a escritos com qualidades pedagógicas. Sua obra Telêmaco relata as aventuras do filho de Ulisses, personagem da Odisseia, de Homero. Quando Ulisses, rei de Ítaca, partiu para a Guerra de Troia, deixou seu filho Telêmaco aos cuidados de seu fiel e amigo Mentor. Mesmo tendo a guerra terminado, Ulisses não retorna ao seu lar. Telêmaco cresce vendo o patrimônio de TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL 49 seu pai ser dilapidado pelos pretendentes de sua mãe. Indignado com tal situação, parte em busca de notícias do pai e leva consigo Mentor para orientá-lo e encorajá-lo. Os reveses da viagem de Telêmaco à procura do pai, o auxílio dos deuses, dos amigos, fazem parte do enredo desta história. Além disso, a história revela o quanto Mentor foi importante na educação de Telêmaco, na formação de seu caráter, de seu senso de responsabilidade e na transição da infância à maturidade. Podemos dizer que a personagem Mentor adquire outro status a partir do momento no qual Fénelon escreve As Aventuras de Telêmaco, em 1699, elevando-o à condição de um professor, um guia, do jovem Telêmaco. A palavra mentor passou, então, a figurar nos dicionários como sinônimo de conselheiro sábio, além de protetor e financiador. “Pessoa que inspira, estimula, cria ou orienta (ideias, ações, projetos, realizações etc.)” (HOUAISS; VILLAR, 2009, p. 1275). O escritor Fénelon foi tutor do neto de Luis XIV e seu livro fez grande sucesso, inspirando muitos pedagogos. UNI La Fontaine, por sua vez, imortalizou-se através das fábulas, entre outros escritos. Leiamos uma de suas fábulas: A Raposa e a Cegonha A Raposa convidou a Cegonha para jantar e lhe serviu sopa em um prato raso. - Você não está gostando de minha sopa? - Perguntou, enquanto a cegonha bicava o líquido sem sucesso. - Como posso gostar? - A Cegonha respondeu, vendo a Raposa lamber a sopa que lhe pareceu deliciosa. Dias depois foi a vez de a cegonha convidar a Raposa para comer na beira da Lagoa, serviu então a sopa num jarro largo embaixo e estreito em cima. - Hummmm, deliciosa! - Exclamou a Cegonha, enfiando o comprido bico pelo gargalo. - Você não acha? UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES 50 A Raposa não achava nada nem podia achar, pois seu focinho não passava pelo gargalo estreito do jarro. Tentou mais uma ou duas vezes e se despediu de mau humor, achando que por algum motivo aquilo não era nada engraçado. MORAL: Às vezes recebemos na mesma moeda por tudo aquilo que fazemos. FONTE: Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/frase/ODEwMzk3/>. Acesso em: 5 out. 2012. Do século XIX, destacamos o dinamarquês Hans Christian Andersen, autor de 156 contos maravilhosos, entre os quais figuram O soldadinho de chumbo e O patinho feio. Confira versão na trilha de aprendizagem. Os Irmãos Grimm, Jocob e Wilhelm, por sua vez, além de filólogos e lexicógrafos, foram celebrizados com as publicações de contos e lendas alemãs emanados da tradição e saber popular. Pinóquio é outro clássico da literatura. Um pedaço de madeira falante aparece nas mãos de Gepeto. O velho Gepeto tem planos ambiciosos para a marionete que ele fabrica. É capaz de dançar, cantar e falar. Pinóquio, entretanto, revela-se um títere arteiro e que sonha em tornar-se um menino de verdade. As aventuras de Pinóquio é a obra original de Carlo Collodi, publicada pela primeira vez em 1883. Em seu percurso de transição de boneco a menino, Pinóquio se mete em confusão atrás de confusão, enfrenta a autoridade da lei, a solidão da condição humana e outras tantas aventuras perigosas. Outra relevante figura para a literatura infantil é Lewis Carrol, autor de Alice no país das maravilhas, uma história-romance considerada complexa e que sugere variadas interpretações, por abordar em seu contexto assuntos de diferentes temáticas. Carrol explora elementos dos contos de fada, animais que falam, reis e rainhas, personagens enigmáticos que em um passe de mágica aparecem, desaparecem e mudam de tamanho. A história se passa dentro de um sonho, é marcada pelo recurso do nonsense - termo que indica ausência de sentido. No caso da narrativa em questão, os episódios são permeados por algum recurso de ligação, garantindo, assim, uma coerência interna. Além disso, o enredo de Alice no país das maravilhas não exige uma lógica total dos acontecimentos, uma vez que se passa no “mundo dos sonhos”, um universo no qual coisas mais insólitas são aceitas como naturais. Alice é uma obra que permite várias interpretações. Uma delas é a de que as mudanças, os conflitos da adolescência à maturidade podem estar representados na obra. Além dessa interpretação, podemos considerar questões históricas, como, por exemplo, críticas à sociedade inglesa vitoriana. TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL 51 Outros escritores que merecem destaque são: Jonathan Swift (1667-1745) – Em 1726, o autor publica sua obra-prima: As viagens de Gulliver. Daniel Defoe (1660-1731) – Seu romance mais famoso, Robinson Crusoé, foi publicado em 1719. Mme. Leprince de Beaumont (1711-1780) – Sua obra denuncia preocupação educativa. Entre suas produções salientamos A fada das ameixas, A bela e a fera, entre outras. Mark Twain (1835-1910) – Publicado em 1876, o livro trouxe popularidade ao escritor americano, com seu Tom Sawyer. Júlio Verne (1828-1905) – Autor de obras de ficção científica, popularizou-se em trabalhos como Vinte mil léguas submarinas, A Ilha misteriosa, Cinco semanas em um balão, Volta ao mundo em 80 dias, Os filhos do Capitão Grant. Podemos ainda juntara esta lista obras como: As mil e uma noites, Dom Quixote de la Mancha (de Miguel de Cervantes), Os três mosqueteiros, O Conde de Monte Cristo, e um rol interminável de leituras. 3.1 PANORAMA DA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA Na Europa, a literatura infantil assumiu a função pedagógica e difundiu modos e modelos comportamentais, e no Brasil seu objetivo não foi diferente. A literatura infantil chega ao nosso país nos fins do século XIX. Conforme Célia Doris Becker (2001, p. 36), “o mercado requer dos escritores livros que atendam ao público infantil”. Começa, então, a importação desses textos e, com eles, a mesma atitude didática e redutora que difunde normas e doutrinava as crianças. Para Becker, a história da literatura infantil brasileira é dividida em quatro fases. A primeira fase, final do século XIX e início do século XX, é norteada por adaptações e traduções de textos europeus, principalmente de produções portuguesas. Os textos tinham a intenção de incutir o patriotismo, a valorização do nacionalismo. Destacam-se entre as produções nacionais com essa finalidade: “Contos pátrios e Através do Brasil (Olavo Bilac, Coelho Neto), Era uma vez (Júlia Lopes de Almeida), Saudade (Tales de Andrade). Dentre as traduções, podemos citar as obras de Carlos Jansen, Figueiredo Pimentel, Robinson Crusoé e outros” (BECKER, 2001, p. 36). A segunda fase, descrita por Becker (2001), abrange os anos de 1920-1945 e poderá ser assim sintetizada em nosso país: como o momento em que acontecem mudanças advindas da expansão cafeeira e da indústria. Essa “efervescência social” atinge a educação, que apresentava um sistema educacional com altos índices de analfabetismo. Constatou-se, com esse fato, que, para o Brasil inserir-se entre as grandes potências internacionais, necessário era, além de outras medidas, acabar com o analfabetismo. UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES 52 Neste período criou-se a Escola Nova; eclodiram inovações diversas nas áreas culturais, expressas na Semana de Arte Moderna. A literatura infantil, especialmente a partir de Monteiro Lobato, recebeu “roupagem nova”, com temáticas e uma linguagem coloquial próximas à realidade da criança. O folclore mostrou-se revelador de um mundo bem brasileiro, porém, com o mesmo caráter pedagógico. Muitos dos autores coadunavam com o autoritarismo, através de personagens que não questionavam as ações. A terceira fase, de aproximadamente 1950 e década de 1960, foi marcada pelas trocas de governo, pelas lutas por uma democracia e pelo golpe militar que culminou com os Atos Institucionais, a partir dos quais “[...] a sociedade passou a conviver com os órgãos de repressão e com a censura aos meios de comunicação” (BECKER, 2001, p. 39). A literatura infantil, nesse período, de acordo com Becker (2001), recorreu a temas que abordaram a supremacia da vida urbana sobre a rural, na qual os moradores rurais foram desprestigiados e até estereotipados; o café apareceu como fonte primeira de riqueza; a Amazônia era destacada, bem como o passado histórico e o heroísmo dos Bandeirantes foram os temas abordados. A quarta e última fase, 1970-1980, segundo Becker (2001), foi marcada por personagens que contestavam fatos. Apareceram a gíria, os dialetos, as falas regionais, ou seja, uma literatura inovadora e plena de desafios. Registrou-se, também, um significativo aumento de obras e autores. “Abrandou-se, se não foi totalmente abandonado, o caráter didático-pedagógico que historicamente comprometia a produção literária infantil” (BECKER, 2001, p. 40). No Brasil, o rico material literário favorece ao professor subsídios para o desenvolvimento da criatividade, da imaginação, do gosto pela leitura e, consequentemente, a ampliação do conhecimento do jovem leitor. No que tange à literatura infantil, os primeiros trabalhos em solo brasileiro repetiam o que acontecia na Europa, porém escritores se consagraram por arquitetar uma literatura infantil brasileira, uma vez que, além de traduzir os contos de fada europeus, eternizaram narrativas que faziam parte da oralidade do povo brasileiro, entre os quais destacamos: Figueiredo Pimentel (1869-1914) – Com os Contos da carochinha, Histórias da baratinha, Álbum das crianças, Teatrinho infantil e Os meus brinquedos, Pimentel pode ser considerado o precursor de nossa literatura infantil. Viriato Padilha (1866-1924) – Autor de Histórias do arco da velha. Olavo Bilac (1865-1918) – Publicou (em colaboração) Poesias infantis e Contos pátrios. Escreveu poemas que enalteciam o civismo, o nacionalismo e a história política do Brasil daquela época. TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL 53 Viriato Corrêa (1884-1967) – Notabilizou-se com Varinha de condão, No reino da bicharada, A macacada, No país da bicharada, As belas histórias da história do Brasil, História do Brasil para crianças etc. Malba Tahan (1885-1974) – Pseudônimo literário do professor de Matemática Julio Mello e Souza. Desse autor destacamos as seguintes obras: O homem que calculava, Maktub, Céu de Allah, Seleções, A caixa do futuro, Lendas do céu e da terra, Lendas do povo de Deus, Minha vida querida, As aventuras do Rei Baribê, entre outras. Outro nome relevante da literatura infantil brasileira é Monteiro Lobato, criador de Emília, Dona Benta e o Visconde de Sabugosa, bem como os demais personagens do Picapau Amarelo. Seres da fantasia, que saíram dos livros para as telas da TV, para lojas e supermercados, para as festas de aniversário, escolas, jogos, brincadeiras, revelando que “a realidade fabulosa que saiu de sua cabeça acabou sendo maior, mais poderosa e mais duradoura do que ele mesmo cogitou (ZILBERMAN, 2005, p. 22). Monteiro Lobato dedicou o livro Reinações de Narizinho para apresentação da menina Lúcia a Narizinho, informando também ao leitor que ela mora com a avó, Dona Benta, e ganhou de Anastácia, a cozinheira, uma boneca de pano, batizada de Emília. Pedrinho, primo de Narizinho, também fará parte desse mundo encantado. Visconde de Sabugosa, outro boneco, feito a partir de um sabugo de milho, tornou-se famoso tanto quanto os demais personagens. FIGURA 7 – VISCONDE DE SABUGOSA FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/ search?q=sabugosa&hl=pt-BR&prmd=imvns&tbm=isch&tbo=u&so urce=univ&sa=X&ei=6CvaT6ChO4e09QTQheTuBQ&ved=0CG0Qs AQ&biw=1280&bih=618>. Acesso em: 12 set. 2012. Lobato optou pela sistemática de repetir as personagens, tal qual histórias em série, criando narrativas que revelam o espírito desafiador e heroico, estereótipo dos legendários contos folclóricos, dos mitos e das lendas. UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES 54 São personagens que enfrentam variados problemas, embrenham-se nas mais variadas peripécias, demonstrando inteligência, autonomia e emancipação, ou seja, a relação estabelecida entre as personagens adultas e infantis é de igual para igual. Para tanto, bastará observar o comportamento da boneca Emília e das crianças que, por vezes, ignoram certos limites, o que lhes confere autenticidade. A personagem Dona Benta é quem dirige o sítio. Instruída, inteligente, bem-intencionada, modelo do político que, segundo Lobato, deveria governar o Brasil. Ao perceber que não poderá mais contar com a renda propiciada pelas lavouras de café que estão arruinadas, “adere ao ideal de Lobato (não por acaso tem o nome do próprio escritor, José Bento): patrocina a prospecção de petróleo em suas terras, obtendo grandes lucros e promovendo o progresso não apenas na área, mas em todo o país” (ZILBERMAN 2005, p. 28).Dona Benta é quem geralmente narra as fábulas, fato este que, na opinião dos críticos, é um recurso do próprio escritor para demonstrar a reflexão e ponderação das pessoas mais vividas. Tia Nastácia se mostra bastante inclinada a aceitar a moral das fábulas. Já Pedrinho e Narizinho fazem comentários, de acordo com seu espírito irrequieto de crianças curiosas, e Emília tenta, a cada momento, contestar a lição de moral que a fábula encerra. Lobato revela um Brasil a partir do sítio. Mostra um país com predomínio da economia agrícola, expressando o que deseja para o Brasil, a possibilidade de modernização, crescimento e fortuna graças à exploração das riquezas minerais, em especial, do petróleo. O sítio, na visão de Lobato, constitui uma espécie de república ideal, que admite seres dotados de qualidades positivas e expulsa o julgado negativo, como o próprio sistema governamental. Quando aparecem os vilões, estes jamais levam a melhor. O sítio é o Brasil conforme o desejo de Lobato, que, desde os primeiros livros, mesmo criticando as mazelas nacionais, nunca deixou de colocar o país no centro e propor alternativas para problemas cruciais. Monteiro Lobato prezou pela nacionalidade desde os primeiros livros, como “Urupês”, de 1918. Criticou as mazelas nacionais e propôs alternativas para os problemas que assolavam o país. As ações do Sítio do Picapau Amarelo podem ocorrer em vários locais e épocas: na Lua, nos planetas, na cidade, em outros séculos, todavia é o sítio o cenário recorrente. Monteiro Lobato adaptou clássicos da literatura, como Dom Quixote das crianças (1936), e de obras europeias destinadas à infância: Peter Pan (1930). Estabeleceu incursões no folclore, com Histórias de tia Nastácia (1937), e na mitologia ocidental - O Minotauro (1939). TÓPICO 1 | ASPECTOS DA LITERATURA INFANTIL 55 Podemos dizer que com Lobato a nossa literatura infantil atingiu projeção universal. Criou uma concepção para a fabulação infantil, suas personagens vivem tipos que integram o cenário literário, a exemplo de Emília, boneca admirável, misto de fada e ser humano. Por sua vez, os protagonistas Pedrinho e Narizinho retratam as preocupações e atividades que ocupam os meninos e meninas daquela época e, por que não dizer, de nossa época. A obra infantil de Lobato está reunida em vários volumes: Reinações de Narizinho, Viagem ao céu, O Saci, Caçadas de Pedrinho, Emília no país da gramática, Aritmética de Emília, Geografia de Dona Benta, entre outras histórias que encantaram e encantam os jovens leitores. E as traduções e adaptações de Contos de Grimm, Novos contos de Grimm, Contos de Andersen, Novos contos de Andersen, Alice no país das maravilhas. Além disso, Lobato atentava para o fato dos conteúdos moralizantes da literatura destinada ao jovem leitor. A partir da fábula A cigarra e a formiga, de La Fontaine, escreve A formiga boa e a Formiga má. Naquela versão a formiga reconhece o valor do canto da cigarra, a distração que tal cantoria lhe proporcionava nas horas de labuta, sendo assim, recompensa a cigarra protegendo-a do rigoroso inverno. Exibe uma formiga solidária, tolerante e que respeita os outros e suas diferenças, ao contrário da personagem da fábula A Formiga má, que é perversa, não se deixa levar pelos apelos da fragilizada cigarra, negando-lhe qualquer auxílio. FIGURA 8 – A CIGARRA E A FORMIGA FONTE: Disponível em: <http://aprendercentrodeestudos.blogspot.com. br/2012/05/conto-cigarra-e-formiga.html>. Acesso em: 12 set. 2012. UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES 56 A Formiga má Já houve, entretanto, uma formiga má que não soube compreender a cigarra e com dureza a repeliu de sua porta. Foi isso na Europa, em pleno inverno, quando a neve recobria o mundo com seu cruel manto de gelo. A cigarra, como de costume, havia cantado sem parar o estio inteiro e o inverno veio encontrá-la desprovida de tudo, sem casa onde abrigar-se nem folhinhas que comesse. Desprovida, bateu à porta da formiga e implorou - emprestado, notem! - uns miseráveis restos de comida. Pagaria com juros altos aquela comida de empréstimo, logo que o tempo o permitisse. Mas a formiga era uma usurária sem entranhas. Além disso, invejosa. Como não soubesse cantar, tinha ódio à cigarra por vê-la querida de todos os seres. - Que fazia você durante o bom tempo? - Eu... eu cantava!... - Cantava? Pois dance agora, vagabunda! - e fechou-lhe a porta no nariz. Resultado: a cigarra ali morreu entanguidinha; e quando voltou a primavera o mundo apresentava um aspecto mais triste. É que faltava na música do mundo o som estridente daquela cigarra, morta por causa da avareza da formiga. Mas se a usurária morresse, quem daria pela falta dela? "Os artistas - poetas, pintores, escritores, músicos - são as cigarras da humanidade". Leia a seguir uma fábula de Monteiro Lobato. FONTE: Disponível em: <http://recantodasletras.uol.com.br/contos/1184720>. Acesso em: 12 set. 2012. Lobato escreveu o primeiro livro voltado ao público infantil, A Menina do narizinho arrebitado, em 1921, e o último, Os doze trabalhos de Hércules, em 1944. Ele faleceu em 1948 (ZILBERMAN, 2005). Graças à atividade dos escritores Monteiro Lobato, Viriato Correa, Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Figueiredo Pimentel, Maria José Dupré, entre outros, é que a literatura infantil brasileira traça seus caminhos inovadores e ganha projeção nacional e universal. 57 RESUMO DO TÓPICO 1 Caro(a) acadêmico(a), neste tópico você viu que: • O adjetivo “infantil” determina o público a que se destina. Entretanto, é o que é escrito para a criança e lido pela criança. • Alguns escritores e especialistas preferem dispensar o adjetivo infantil, afirmando não poder haver distinções que reduzam ou orientem os diferentes leitores. • A literatura infantil brasileira, a exemplo da europeia, assumiu a função pedagógica e difundiu modos e modelos comportamentais. • A primeira fase da literatura infantil no Brasil é norteada por adaptações e traduções de textos europeus, principalmente de produções portuguesas. Os textos tinham a intenção de incutir o patriotismo, a valorização do nacionalismo. • Entre as décadas de 1920 a 1945, em termos de literatura infantil, eclodiram inovações diversas nas áreas culturais, expressas na Semana de Arte Moderna. A literatura infantil, especialmente a partir de Monteiro Lobato, recebeu “roupagem nova”, com temáticas e uma linguagem coloquial, próximas à realidade da criança. • Pode-se afirmar que atualmente a literatura infantil é marcada por personagens que contestavam fatos; apareceram as gírias, os dialetos, as falas regionais, ou seja, uma literatura inovadora e plena de desafios. • A literatura surge como um mundo aberto, um convite à liberdade de interpretação, à criatividade e à exploração das formas. • O encontro com a arte literária possibilita transformação, enriquecimento, experiência de vida e transmissão de ideias. 58 AUTOATIVIDADE Para a autoatividade, leia o texto que segue: Desafio aos educadores Um famoso filósofo alemão do século passado, Frederico Nietzsche, tece uma crítica radical à civilização ocidental, dizendo que ela educa os homens para desenvolverem apenas instinto da tartaruga. O que quer dizer isso? A tartaruga é o animal que, diante do perigo, da surpresa, recolhe a cabeça para dentro de sua casca. Anula, assim, todos os seus sentidos e esconde, também na casca, os membros, tentando proteger-se contra o desconhecido. Este é o instinto da tartaruga: defender-se, fechar-se ao mundo, recolher-se para dentro de si mesma e, em consequência,nada ver, nada sentir, nada ouvir, nada ameaçar. Formar boas tartarugas parece ter sido o objetivo dos processos educacionais e políticos de educação desenvolvidos no mundo ocidental nos últimos anos. Temos educado os homens para aprenderem a se defender contra todas as ameaças externas, sendo apenas reativos. Ensinamos o espírito da covardia e do medo. Precisamos assumir o desafio de educar o homem para desenvolver o instinto da águia. Águia é o animal que voa acima das montanhas, que desenvolve seus sentidos e habilidades, que aguça ouvidos, olhos e competência para ultrapassar os perigos, alçando voo acima deles. É capaz, também, de afiar as suas garras para atacar o inimigo, no momento que julgar mais oportuno. As nossas escolas têm procurado fazer com que nossas crianças se recolham para dentro de si e percam a agressividade — o instinto próprio do homem corajoso, capaz de vencer o perigo que se lhe apresenta. Temos criado, neste país, uma geração-tartaruga, uma geração medrosa, recolhida para dentro de si. E estamos todos impregnados por esse espírito de tartaruga. Não temos coragem para contestar nossos dirigentes, para nos opor às suas propostas e criar soluções alternativas. Agimos apenas de maneira reativa, negativa, covarde. Temos ensinado às nossas crianças que os nossos instintos são pecaminosos. A parte mais rica do indivíduo, que é a sua sensibilidade — sua capacidade de amar e de odiar, sua capacidade de se relacionar de maneira erótica com o mundo —, tem sido desprezada. Temos ensinado o homem a ser obediente, servil, pacífico, incompetente e depositar todas as suas esperanças num poder maior ou no fim das tempestades. 59 Quando ensinaremos aos nossos alunos que eles não precisam se esconder diante das ameaças, porque todos nós temos capacidade de alçar voo às alturas, ultrapassando as nuvens carregadas de tempestade e perigo? Temos ensinado às nossas crianças a se arrastar como vermes, e porque se arrastam como vermes, elas se tornam incapazes de reclamar se lhes pisam na cabeça. O que desejamos, afinal, desenvolver em nós mesmos e nos jovens? O instinto da tartaruga ou o espírito das águias? FONTE: RODRIGUES, Neidson. Lições do príncipe e outras lições. 18. ed. São Paulo: Cortez, 1999, p. 110. Agora responda: 1 Na sua opinião, atualmente a escola cumpre seu papel no que se refere à formação de leitores? Comente. 2 No texto “Desafio aos educadores”, lemos que a escola desenvolve nos alunos apenas o instinto das tartarugas, sendo que deveria desenvolver o espírito das águias. Você concorda? Por quê? 60 61 TÓPICO 2 GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO As narrativas, sejam elas contos de fada, lendas, fábulas, romance, entre outras, constituem-se em objeto de leitura. Propiciam ao leitor ou ouvinte uma ou várias interpretações, de acordo com seus referenciais. Há que se considerar que tais textos possuem características pertinentes, que provocam efeitos diferentes em diversas pessoas. É, em parte, a história de vida de cada um que determinará sua significação. O encontro com essa literatura favorece a liberdade, a satisfação e desperta o imaginário. Assim, após considerações que situam a literatura como arte envolvida com a palavra descompromissada com a verdade lógica, com a racionalidade utilitária, e sua inclusão no universo infantil, interessa-nos agora definir uma de suas formas de manifestação mais praticadas, a saber: o texto narrativo. 2 AS NARRATIVAS E O ESTILO Pessoas das mais variadas condições socioculturais têm prazer de ouvir e contar histórias. O romancista e ensaísta Forster (1998) cita a obra As mil e uma noites, na qual a protagonista Sherazade narrava, diariamente, histórias ao sultão e as interrompia em momentos de suspense. Essa atitude da jovem contadora de histórias motivava sempre mais a curiosidade do sultão. Tal fato livrou Sherazade da morte, visto que o sultão enamorou-se da habilidosa narradora. Para Forster, nós também somos como o sultão, pois, quando nossa curiosidade é aguçada, permanecemos muito atentos ao desenrolar de um fato. Entre os gêneros literários, a narrativa poderia ser conceituada como uma forma de “discurso que nos apresenta uma história imaginária como se fosse real, constituída por uma pluralidade de personagens, cujos episódios de vida se entrelaçam num tempo e num espaço determinados” (D’ONOFRIO 2006, p. 53), isto é, características que fariam da narrativa um gênero universal, cuja inventividade revela-se nas diversas modalidades artísticas em que ainda se concretiza: A narrativa pode ser sustentada pela linguagem articulada, oral ou escrita, pela imagem, fixa ou móvel, pelo gesto ou pela mistura ordenada de todas essas substâncias; está presente no mito, na fábula, UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES 62 no conto, na novela, na epopeia, na história, na tragédia, no drama, na comédia, na pantomima, na pintura, no vitral, no cinema, nas histórias em quadrinhos, no faits divers, na conversação. Além disso, sob essas formas quase infinitas, a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades. (BARTHES, 1972, p. 19). Você já parou para pensar o quanto a nossa vida é marcada pela presença da narrativa? A todo instante estamos contando – para alguém ou, silenciosamente, para nós mesmos – fatos e episódios que nos acontecem ou que poderiam vir a acontecer em nosso dia a dia. Basta levantarmos da cama e começa a se desenhar mais uma história, mais uma forma de narrativa que vamos indefinidamente tecendo até a nossa morte. Alguns de nós, mais talentosos, conseguem transformar o essencial desses relatos em textos literários, por isso são escritores. UNI À estrutura da narrativa, portanto, corresponderia uma lógica não matemática ou exclusivamente racional, mas captada de um modo simples e ao mesmo tempo maravilhoso, posto que originalmente resultante de uma intuição presente na arte primitiva da caça, que ademais pressupunha uma lógica da adivinhação: Talvez a própria ideia de narração (...) tenha surgido, pela primeira vez, numa sociedade de caçadores, da experiência do deciframento de indícios mínimos. (...) O caçador teria sido o primeiro a “contar uma história” porque era o único capaz de ler, nas pegadas mudas (se não imperceptíveis) deixadas pela sua presa, uma série coerente de acontecimentos. (GINZBURG apud COMPAGNON, 2010, p. 129). Além da estrutura da narrativa, assunto que será ampliado nos próximos tópicos, vale ressaltar a questão relacionada ao que conhecemos como estilo. Do dicionário escolhemos as seguintes asserções da palavra estilo: maneira de exprimir-se, utilizando palavras, expressões que identificam e caracterizam o feitio de determinados grupos, classes ou profissões; conjunto de tendências e características formais, conteudísticas, estéticas etc. que identificam ou distinguem uma obra, um artista etc., ou determinado período ou movimento; conjunto de traços que identificam determinada manifestação cultural. (HOUAISS; VILLAR, 2009, p. 835). A noção de estilo, conforme pensadores alemães, ingleses e franceses, resume o espírito, a visão de mundo própria de uma comunidade. Pode representar uma norma, um ornamento, um desvio, um gênero, uma cultura, ou ainda, a soma de todos esses conceitos (COMPAGNON, 2003). Assim, a história da literatura pode ser descrita considerando os vários estilos ou os traços marcantes de determinado período: o estilo romântico, o barroco, o clássico,o moderno. TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I 63 Compagnon (2003), após um levantamento das noções que permeiam o entendimento do estilo, considerou que três aspectos são inevitáveis e insuperáveis para o entendimento das noções de estilo: O estilo é uma variação formal a partir de um conteúdo (mais ou menos) estável; o estilo é um conjunto de traços característicos de uma obra que permite que se identifique e se reconheça (mais intuitivamente do que analiticamente) o autor; o estilo é uma escolha entre várias “escrituras” (COMPAGNON, 2003, p. 194). Estilo pode ser entendido como uma forma mais ou menos constante, que varia de acordo com as qualidades e as expressões que persistem na arte de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos. “A esse conjunto de textos de determinada nação, que se singulariza pela presença de determinados valores estéticos, dá-se, nas palavras de Diderot, o nome de arte” (apud SILVA, 1986, p. 6). Então, podemos afirmar que no que tange à literatura há que se considerar que o estilo abarca questões relativas à natureza e público a que se destina e, em nosso caso, o jovem leitor. Além disso, a classificação é feita não somente em função do aspecto temático, mas levando em conta a predominância de elementos constitutivos de cada gênero. A maneira do escritor organizar e expressar ideias e pensamentos, elementos e estruturas caracteriza o estilo, tais como: a apresentação, o conflito ou a complicação, o clímax, o desfecho, o tema ou enredo, a fala das personagens, o espaço, ou seja, o ambiente, o tempo, são recursos dos quais o escritor lança mão para compor os mais variados gêneros. Nesse sentido, é importante que, na escola, o professor atente para esses aspectos, a fim de que possa refletir, juntamente com os alunos, o que engendra um texto literário. Caro(a) acadêmico(a), a partir do conceito de estilo proposto por Compagnon, elencamos uma característica marcante nos escritos de Machado de Assis, qual seja, a de um narrador intrometido: as personagens machadianas contam sua vida e intercalam a narração, em primeira pessoa, com frequentes explicações para o leitor. Parecem justificar para si e explicar aos que os “escutam” os acontecimentos que motivaram seus atos. O narrador e/ou protagonista provoca o leitor em uma série de afirmações, interrogações, exclamações. Nos contos machadianos encontramos este recurso, a exemplo do conto O Sainete: Pode o leitor coçar o nariz, à procura da explicação; a leitora não precisa desse recurso para adivinhar que o Dr. Maciel ama, que uma "seta do deus alado" o feriu mesmo no centro do coração. O que a leitora não pode adivinhar, sem que eu lho diga, é que o jovem médico ama a viúva Seixas, cuja maravilhosa beleza levava após si os olhos dos mais consumados pintalegretes. O Dr. Maciel gostava de a ver como todos os outros; amou-a desde certa noite e certo baile, em que ela, andando a passeio pelo seu braço, perguntou-lhe de repente com a mais deliciosa languidez do mundo: (ASSIS, 2011, p. 68). UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES 64 Após mapear alguns atributos que definem a narrativa literária, resenharemos acerca dos gêneros mais comuns na modalidade literatura infantojuvenil. Além disso, atente para a sua estrutura, seu estilo, suas características, procure estabelecer diferenças e semelhanças. Bom estudo! 3 NARRATIVAS: O CONTO No mundo dos contos de fadas não devem ser despertados sentimentos de angústia, e tampouco sentimentos inquietantes. (...) Quanto ao silêncio e escuridão, tudo o que podemos dizer é que são realmente os fatores a que se acha ligada a angústia infantil, que na maioria das pessoas nunca desaparece inteiramente (FREUD, 2010, p. 376). Os contos populares, contos de fada, as lendas, bem como o cordel, o mito, sempre foram associados ao folclore e, por vezes, foram suprimidos dos estudos literários. Segundo Leal (1985, p. 9), “a partir do século XX, com a linguística saussuriana, ocorre um resgate acadêmico desse material de origem popular. Assim, despontam novas perspectivas, sugerindo outros modelos de análise para essas narrativas”. As reflexões compreenderam que o ato de narrar, de recontar histórias é inerente ao ser humano. Desde o princípio das civilizações, o contar oralmente era a única possibilidade de registro e, sendo assim, foi reconstruído seu valor tanto literário, quanto no processo de formação do leitor. Nesse sentido, esse resgate da chamada literatura oral beneficiou a construção de uma memória de leitura de um povo, bem como os estudos dessa literatura. Além dos crescentes trabalhos sobre as narrativas de tradição oral, o mercado editorial também ampliou o número de edições dessas histórias, geralmente catalogadas como literatura infantil e juvenil, com um tratamento editorial e gráfico aprimorado, colorido, com ilustrações e traços que realçam as novas configurações e os elementos visuais. No Brasil, Cascudo (2004) coletou e registrou histórias contadas pelo povo, especialmente do Nordeste brasileiro, sempre com o cuidado de ser um coletor, não um autor. Cascudo declarou que mantinha cerca de noventa por cento da linguagem oral. Nenhum vocábulo foi substituído. Apenas não julguei indispensável grafar muié, prinspo, prinspa, timive, terrive. Conservei a coloração do vocabulário individual, as imagens, perífrases, intercorrências. Impossível será a ideia do movimento, o timbre, a representação personalizadora das figuras evocadas, instintivamente feita pelo narrador (CASCUDO, 2004, p. 16). Segundo Leal (1985), nas coletâneas de Câmara Cascudo há, nos textos, um estilo, revelando um contorno peculiar de composição oral marcada pela escritura. TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I 65 Esses contos, lendas, narrativas míticas, é bom lembrar, são expressões de culturas orais, propagadas por narradores, passadas de geração em geração, portanto passíveis de modificações, fusões, acréscimos, cortes, substituições e influências. Eis porque os contos populares revelam certa dificuldade de identificar sua “verdadeira origem”. Ainda segundo Câmara Cascudo, folclorista brasileiro, para ser classificado como conto popular “é preciso que o conto seja velho na memória do povo, anônimo em sua autoria, divulgado em seu conhecimento e persistente nos repertórios orais”. Que seja omisso nos nomes próprios, localizações geográficas e datas (CASCUDO, 2004, p. 13). O conto difere de outras formas de narrativa de ficção, não somente por sua brevidade, que oferece um episódio, uma amostra da vida, mas por conter outras características. É o que procuraremos elencar. 3.1 OS CONTOS DE FADA Estas narrativas surgiram com os celtas, aproximadamente no século II a.C., propagadas através da oralidade. O conto de fada apresenta uma estrutura com início, meio e fim. A história inicia-se com uma situação de equilíbrio, alterada por um conflito. No decorrer dos acontecimentos, a tranquilidade é retomada pelo herói ou heroína, efetuando-se, assim, o desfecho da história. Fada. Palavra derivada do latim fáta,ae ‘a deusa do destino, Parca’ (HOUAISS; VILLAR, 2009, p. 867). UNI Nessas narrativas aparecem fadas, duendes, espelhos mágicos, príncipes, princesas, reis, rainhas, bruxas gigantes, ou seja, objetos ou seres mágicos, elementos que conferem uma simbologia a esse modelo literário. Apresentam temas relacionados ao medo, ao amor, às carências, às perdas e buscas. Essas questões fazem parte do cotidiano infantojuvenil e favorecem a autodescoberta - quemsomos e o que desejamos -, conforme nossos valores morais e éticos: Os contos de fada trazem a magia que alimenta a imaginação, ajudam a encarar os problemas da vida e, por vezes, trazem esperanças de dias melhores. É um pouco por isso que ainda hoje esses contos continuam a ser tão encantadores para adultos e crianças, que podem acreditar UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES 66 pelo menos na fantasia de que é possível “viver feliz para sempre” (GAGLIARDI; AMARAL, 2001, p. 86). O conto possibilita à criança dar vazão a seus afetos e angústias, ou seja, o conto faz rir e chorar, é um treino para as emoções. Bruno Bettelheim (1980), em sua obra A Psicanálise dos Contos de Fada, afirma que os mesmos ajudam a resolver problemas da existência da criança. Enfatiza também o poder regenerador dos contos. Por conterem, na sua estrutura, elementos simbólicos, criam uma ponte com o inconsciente, propiciando ao jovem leitor conforto e consolo em termos emocionais. Outro elemento característico dos contos de fada é a presença de personagens que não mudam bruscamente suas ações ou reações no decorrer da narrativa (são bem delineadas quanto ao seu caráter ou modo de ser: bom ou mau). São representantes destas personagens os reis, as rainhas, os príncipes, as princesas, as fadas, as bruxas. Personagens classificadas como planas. E que serão objeto de estudos futuros. Algumas características são recorrentes entre os contos, tais como: a existência de poderes desconhecidos, feitiços, monstros, encantos, instrumentos mágicos, vozes do além, viagens extraordinárias. Costumam ocorrer num tempo desconhecido, reconhecido pelas expressões “era uma vez..., há muito tempo..., há milhares de anos...”. Nelly Novaes Coelho (2000, p. 173) distingue conto maravilhoso do conto de fadas. Segundo a autora, o conto maravilhoso foi difundido pelos árabes. São narrativas nas quais a aventura é “de natureza material/social/sensorial”, ou seja, no enredo aparece a satisfação do corpo e busca pela riqueza e poder. Ainda de acordo com a autora, isto o diferencia do conto de fadas, uma vez que este é de origem celta e é permeado por uma natureza “espiritual/ética/ existencial”, com aventuras ligadas ao sobrenatural, daí a aparecerem os seres dotados de poderes, como as fadas com extraordinários encantos. IMPORTANT E As personagens geralmente são apresentadas como “a bela adormecida”, “um certo rei”, “uma princesa muito linda“, “a filha mais amada”, e que no decorrer da narrativa enfrentam os mais variados perigos, nos quais aventuram- se, são castigados, vencem, casam e, quanto ao aspecto físico, não mudam. Além disso, exploram o bem como tudo o que corrobora para com os objetivos do herói ou da heroína. Ao contrário, o que prejudica ou atrapalha é denominado de mal. Em outras palavras, é uma moral relativa, determinada por situações do contexto. TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I 67 As personagens nos contos de fadas não são ambivalentes – não são ao mesmo tempo boas e más, como somos todos na realidade. Mas, uma vez que a polarização domina a mente da criança, ela também domina os contos de fadas. Uma pessoa é boa ou má, sem meio-termo. Um irmão é tolo, o outro esperto. Uma irmã é virtuosa e trabalhadora, as outras vis e preguiçosas. Uma é bela, as outras feias. (BETTELHEIM, 2007, p. 20). É assim que, para Bettelheim, ao lado das relações parentais e afetivas, seria o conto de fadas a mais alta expressão de uma herança cultural que poderia verdadeiramente contribuir para propiciar às crianças uma infância emocionalmente sadia: Enquanto diverte a criança, o conto de fadas esclarece sobre si próprio e favorece o desenvolvimento de sua personalidade. Oferece tantos níveis distintos de significado e enriquece a sua existência de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à profusão e diversidade das contribuições dadas por esse conto à vida da criança. (...) O prazer que experimentamos quando nos permitimos ser sensíveis a um conto de fadas, o encantamento que sentimos, não vêm do significado psicológico de um conto (embora isso contribua para tal), mas de suas qualidades literárias – o próprio conto como uma obra de arte. (BETTELHEIM, 2007, p. 17). São narrativas que pressupõem sempre uma voz que conta, até porque, como já sabemos, nasceram na oralidade, são textos lineares, com começo, meio e fim. Bettelheim (2007), por exemplo, acredita que a simplificação das ações narrativas através do uso da tríade básica – começo, meio e fim –, aliada à polarização das personagens em boas e más, capta uma origem inconsciente e profunda dos valores humanos que podem contribuir significativamente para a evolução emocional da criança; evolução que se deve dar de forma progressiva, posto que só em idade madura ela estaria apta a estabelecer relações mais complexas e mais próximas da realidade tal como a experimentamos. Vejamos outras questões encontradiças nessas narrativas, quais sejam: a metamorfose: personagens ou objetos podem ser encantados por algum efeito maléfico. Essa transformação, ao que parece, está ligada a antigas crenças de que todos os seres anormais ou disformes possuíam poderes de intervenção na vida humana. Geralmente é uma figura feminina que consegue “quebrar”, desfazer o encanto. Outro elemento são os objetos mágicos, que em “um passe de mágica” interferem no destino das personagens, ajudando ou prejudicando. Exemplos bem difundidos foram o espelho mágico e a varinha de condão. Há que se considerar que os elementos sobrenaturais estão ligados a um enigma desafiador, um obstáculo a ser vencido. Os contos de fada apresentam, geralmente, seres dotados de poderes que vencem obstáculos e, a partir de então, modificam sua vida. Conseguem, por UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES 68 exemplo, conquistar a pessoa amada e/ou o trono de algum reino. São enredos voltados a problemáticas existenciais, nos quais, de acordo com Bettelheim (2007, p. 15): A cultura dominante deseja fingir, particularmente no que se refere às crianças, que o lado obscuro do homem não existe, e professa a crença num aprimoramento otimista. (...) [Em contrapartida] essa é exatamente a mensagem que os contos de fadas transmitem à criança de forma variada: que uma luta contra dificuldades graves na vida é inevitável, é parte intrínseca da existência humana – mas que, se a pessoa não se intimida e se defronta resolutamente com as provações inesperadas e muitas vezes injustas, dominará todos os obstáculos e ao fim emergirá vitoriosa. Em tais enredos paira a ideia do maravilhoso. A história inicia-se com uma situação de equilíbrio, alterada por um conflito, devendo este ser resolvido pelo herói ou heroína. A restauração da ordem acontece no desfecho da narrativa, a trama é revelada ao leitor de forma rápida e surpreendente. As fadas, os duendes, objetos mágicos, príncipes, princesas, reis, rainhas, bruxas, gigantes, são elementos que assinalam o estilo desse gênero literário. Assim, por ser a forma narrativa de maior destaque na relação da literatura com a infância, o conto popular, mais conhecido como conto de fadas, agrupa temáticas variadas, que expressam a psicologia coletiva e inconsciente dos povos, relatam coisas e eventos que não como eles são, mas sim como deveriam ser, portanto fazendo predominar, sobre os aspectos negativos da vida, os valores considerados sagrados pelas comunidades, tais como o triunfo do bem sobre o mal, da beleza sobre a feiura, da verdade sobrea mentira, da justiça sobre a injustiça, entre outros. As narrativas constituem-se em objeto de leitura dentro e fora do espaço escolar. O encontro com os contos de fada ainda favorece a liberdade e desperta o imaginário do leitor? É o assunto que discutiremos a seguir. 4 O PODER DOS CONTOS NA CONTEMPORANEIDADE Ainda que o tempo tenha evoluído, os contos infantis não perderam o seu valor, pois tanto as crianças quanto os jovens tiram proveito das suas mensagens, ou seja, fazem crescer e despertam a consciência. Contribuem no despertar o interesse na literatura; são estímulos à imaginação e criatividade; favorecem o diálogo com os seus familiares e amigos; potenciam a cultura e a inteligência emocional; tratam de valores de comportamento ético, entre outros. Uma das prováveis vantagens dos contos de fadas [...] sobre as outras formas de ficção deve-se à universalidade de sua difusão. O compartilhamento de trechos do imaginário entre as crianças é o que possibilita sua utilização como se fosse um brinquedo. Se uma menina diz para a outra: “seremos princesas, eu quero ser a Bela Adormecida”, TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I 69 a amiga pode responder: “e eu a Cinderela”; e então a brincadeira pode começar sem maiores esclarecimentos. (CORSO; CORSO, 2003, p. 78). De acordo com o exposto, infere-se que a criança, através da imaginação, incorpora traços da personalidade, das personagens e cenários advindos da ficção. No dizer de Bruno Bettelheim (2001, p. 15), “a criança necessita muito particularmente que lhe sejam dadas sugestões em forma simbólica sobre o modo como ela pode lidar com estas questões (os problemas existenciais) e crescer a salvo para a maturidade”. Com base nesse pressuposto, o autor em questão vê o conto de fadas como possibilidade que conduz a um plano superior de compreensão e elaboração. Bettelheim (2001, p. 33) afirma que “o conto de fadas é terapêutico, porque o paciente encontra sua própria solução através da contemplação do que a história parece implicar acerca de seus conflitos internos neste momento da vida”. E argumenta ainda que “a forma e a estrutura dos contos de fadas sugerem imagens à criança, com as quais estrutura seus devaneios” (BETTELHEIM, 2001, p. 16). Ressalta a importância da história e dela extrair os elementos que vão servir de “remédio” para o convívio com os demais, são as escolhas que as crianças fazem a partir do seu imaginário. Seria esse o potencial dos contos: traduzir o que se passa conosco, ainda que não compreendamos uma angústia ou um sofrimento. Uma história pode dar um sentido, delinear o nosso sofrimento. Nesse caso, um conto de fadas estabelece uma relação com um problema real, mérito que Bettelheim (2001) enfatiza, pois a criança, ao ouvir histórias fantásticas, sente segurança e conforto; ainda que não compreenda as dificuldades e onde estão, consegue superá-las pela sensação de um bem-estar. Para o autor em questão, as crianças conseguem lidar melhor com o mundo extrafamiliar por conta das esperanças e promessas contidas nos contos de fadas, ou seja, “à medida que a criança cresce, consegue satisfações emocionais com pessoas que não fazem parte de sua família” (BETTELHEIM, 1992, p. 155). A criança se apropria de certas habilidades que não realizava, mas que, por força do seu natural desenvolvimento, é desafiada, como as mudanças de relações e hábitos. Esse fato pode causar desapontamentos, frustração, desespero e decepção especialmente em relação aos seus pais, seus provedores. Segundo Bettelheim (1992, p. 157), “esse é o momento em que a criança começa a fantasiar e acreditar nas fantasias que forma e vive mais presa ao futuro, fugindo das angústias de um presente que não a agrada”. A criança passa então a manejar os acontecimentos e suas relações com o mundo são determinadas pelo contato com contos de fadas durante a sua formação, pelos avanços e retrocessos em seu desenvolvimento, os quais se constituem forma sadia de crescer. Desse modo, quando insatisfeita, é comum que ela imagine para UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES 70 si um reino encantado, cujo fato é positivo para o seu desenvolvimento, pois é nesse fazer que a criança constrói sua personalidade (BETTELHEIM, 1992). É preciso então considerar o mito e a fantasia inerentes à formação humana, afinal a simbologia é capaz de representar os pensamentos, especialmente os da criança. Os contos infantis contribuem para o conhecimento, para o convívio harmonioso, para a compreensão dos conflitos, na medida em que a criança, pelo contato e leitura, cresce cognitivamente e estrutura a sua personalidade. Ao compreender a simbologia dos contos de fadas, pais e professores terão a seu favor um precioso recurso de desenvolvimento infantil, que favorecerá a fantasia e a imaginação. Diante disso, é preciso um olhar atento sobre esse assunto, com vistas a discussões acerca do papel dos contos de fadas no processo de ensino e aprendizagem. “Do ponto de vista antropológico e filosófico, o mito é encarado como a palavra que designa um estágio do desenvolvimento humano anterior à história” (MOISÉS, 2004, p. 342). Assim, as histórias expressavam uma compreensão fantástica ou um ponto de vista religioso do mundo, e o mito aludia a uma forma de narrativa ficcional que em sua origem versaria sobre divindades e a interferência delas na vida e no comportamento humanos, e que, por ser criado por uma coletividade, não possuiria uma autoria específica. A maior parte deles, por expressarem valores de comunidades primitivas, passou a ser também estudada pela Mitologia. Há, entretanto, os mitos literários, criados por autores específicos e que buscam exprimir valores de vida pessoais, obedecendo assim a um encadeamento mais lógico e subjetivo. UNI TÓPICO 2 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA I 71 A discussão acerca do poder dos contos de fada teve por base o livro Psicanálise dos contos de fadas, publicado pela Bertand Editora (2001), que aborda os contos de fadas numa perspectiva psicológica e social. Bruno Bettelheim reflete sobre os efeitos benéficos dos contos infantis na criança, ajudando pais, professores e outros profissionais que atuam com as crianças a compreender os impactos dos contos no desenvolvimento pessoal, social e afetivo. Para o estudioso, além do entretenimento, os contos infantis fornecem às crianças pistas para a resolução dos seus problemas: como lidar com as mudanças de vida, enfrentar um amigo na escola, aprender a lutar pelo que se deseja, entre outras possibilidades. O autor aborda também as teorias da psicologia, sociologia e psicanálise, como o Complexo de Édipo, o Inconsciente, o Princípio do prazer versus princípio da realidade, entre outras, para embasar os seus estudos acerca do conto de fadas e o seu efeito na criança. FONTE: Disponível em: <http://www.netsaber.com.br/>. UNI 72 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico apresentamos: • A narrativa poderá ser conceituada como uma história imaginária, composta por uma pluralidade de personagens, com episódios que se entrelaçam num tempo e num espaço. • O estilo presente nas narrativas e nas demais formas de expressão da arte pode ser entendido como uma norma, um ornamento, um traço marcante de determinado período, autor, obra, levando em conta a predominância de elementos característicos de cada gênero. • Os contos, as lendas, as narrativas míticas, é bom lembrar, são expressões de culturas orais, propagadas por narradores, passadas de geração em geração, portanto passíveis de modificações, fusões, acréscimos, cortes, substituiçõese influências. • No Brasil, Câmara Cascudo coletou e registrou histórias contadas pelo povo, especialmente do Nordeste brasileiro , sempre com o cuidado de ser um coletor, não um autor. • O conto de fadas apresenta uma estrutura, com início, meio e fim. A história inicia-se com uma situação de equilíbrio, alterada por um conflito. No decorrer dos acontecimentos, a tranquilidade é retomada, efetuando-se, assim, o desfecho da história. • Os temas recorrentes nos contos estão relacionados ao medo, ao amor, às carências, às perdas e buscas. • Outro elemento característico dos contos de fadas é a presença de personagens planas, envoltas em temáticas que expressam a psicologia coletiva e inconsciente dos povos, relatando valores considerados sagrados pelas comunidades, tais como o triunfo do bem sobre o mal, da beleza sobre a feiura, da verdade sobre a mentira, da justiça sobre a injustiça, entre outros. • Nos contos maravilhosos as questões emanam do social e do econômico, isto é, são problemáticas ligadas à vida e à sobrevivência. A personagem central lutará para conquistar bens, status e poder. Para tanto, será auxiliada por elementos mágicos e maravilhosos. São exemplos de conto maravilhoso O gato de botas, Aladim e a lâmpada maravilhosa, muitos dos contos de As mil e uma noites. • Os contos destinados ao público infantil não perderam seu encanto mágico e contribuem para despertar o interesse na literatura, são estímulos à imaginação, à criatividade e à interpretação, favorecem o diálogo; potenciam a cultura e a inteligência emocional. 73 • Para Bettelheim (2001), um conto de fadas estabelece uma relação com um problema real; assim, a criança, ao ouvir histórias fantásticas, sente segurança e conforto; ainda que não compreenda as dificuldades, consegue superá-las pela sensação de um bem-estar. • Os contos de fadas contribuem para o conhecimento, para o convívio harmonioso, para a compreensão dos conflitos, na medida em que a criança, pelo contato e leitura, cresce cognitivamente e estrutura a sua personalidade. • O mito e a fantasia são inerentes à formação humana, afinal a simbologia é capaz de representar os pensamentos. • O mito, em sua origem, acena para uma forma de narrativa ficcional, que versa sobre divindades e a interferência delas na vida e no comportamento humanos; foi criado por uma coletividade, não possuindo uma autoria específica. Há, entretanto, os mitos literários, criados por autores específicos e que buscam exprimir valores de vida pessoais, obedecendo assim a um encadeamento mais lógico e subjetivo. • A modalidade infantojuvenil, devido à sua funcionalidade estética, lúdica e cognitiva, é fonte de instrução e arte, porque pressupõe que, desde a infância, o homem necessita da expressão e da compreensão do mundo. • No constante contato com a arte, a visualização da fantasia, da imaginação, do faz de conta, a criança experimenta novas sensações, com emoção, prazer, e aguça o fascínio pelo belo, pela expressão artística. 74 AUTOATIVIDADE Caro(a) acadêmico(a), propomos algumas questões com o objetivo de levá-lo(a) a refletir sobre sua vida como leitor(a). 1 Dos livros que você já leu, qual deles você indicaria para um amigo? Por quê? 2 Quais são suas preferências de leitura, quanto ao assunto? Enumere de 1 a 9, indicando sua preferência, de forma crescente: ( ) Humor. ( ) Ficção científica. ( ) Terror. ( ) Poesia. ( ) Autoajuda. ( ) Mistério. ( ) Ciência e saúde. ( ) Policial. ( ) Filosofia. ( ) Esoterismo. ( ) Outros____________________________________. 3 Você gosta de ler revistas? Em caso afirmativo, quais? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 4 Você lê jornais? Qual assunto mais interessa a você? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 5 Quais seus escritores brasileiros preferidos? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 6 Quais seus escritores estrangeiros preferidos? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 7 Enumere de 1 a 10, de modo crescente, as atividades de sua preferência: ( ) Ouvir música. ( ) Dançar. ( ) Ler. ( ) Ir ao cinema. ( ) Praticar esportes. ( ) Assistir TV. 75 ( ) Ir ao teatro. ( ) Viajar. ( ) Namorar. ( ) Navegar na internet. 8 Você se considera um leitor? Justifique. _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Importante que o(a) Professor(a)-Tutor(a) Externo(a) comente sobre a necessidade de que, para sermos professores, devemos antes ser leitores. Caro(a) acadêmico(a), socialize suas respostas. Peça para o(a) Professor(a)-Tutor(a) Externo(a) ouvir o que os colegas escreveram. Fomente o diálogo e a troca de ideias. 76 77 TÓPICO 3 GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Você já observou a tripartição das ações que aparece nas narrativas? É o caso dos filmes sobre piratas, em que se apresenta, nos primeiros minutos, uma ilha paradisíaca na qual vive uma linda moça, que geralmente é filha de um governante ou rei. Após ser mostrada essa situação inicial harmônica, inicia- se o conflito, quando a linda jovem, ao passear distraidamente em uma praia, é raptada por um grupo de piratas malfeitores. Organiza-se, então, uma expedição em busca de recuperar a moça indefesa, momento em que um belo e valoroso jovem, encarnando o papel de herói da trama, salva a filha do governante e, por ter restituído a harmonia inicial, recebe a mão dela em casamento como forma de compensação por sua bravura. Não será assim a estrutura da maior parte dos filmes hollywoodianos? Pense nos que vêm à mente e reflita se eles estão ou não voltados para agradar ao senso comum. 2 A COMPOSIÇÃO DOS TEXTOS LITERÁRIOS Após este exercício de reflexão, discorreremos sobre a estrutura ou a composição das narrativas, sobre o encadeamento de uma sequência de fatos reais ou imaginários, na qual as personagens, após uma série de acontecimentos, restabelecem o equilíbrio - diferente ou não do equilíbrio inicial. Assim, podemos dizer que um texto narrativo apresenta a seguinte estrutura: Apresentação: também conhecida como início, no qual o autor apresenta parte dos personagens, do ambiente e algumas das circunstâncias da história. Deve-se atentar para o fato de que existem textos nos quais já de início mostra-se a ação em pleno desenvolvimento. Atente para o fato de que existe uma técnica literária conhecida como In media res, expressão latina que significa no meio dos acontecimentos. O escritor omite personagens, cenários e conflitos no início da narrativa e os retoma adiante, por meio de uma série de flashbacks ou por intermédio de personagens que discorrem entre si sobre eventos passados. Essa forma de iniciar a narrativa não no início temporal, mas a partir de um ponto médio de seu desenvolvimento, pode ser encontrada nas obras clássicas, como a Eneida de Virgílio, e a Ilíada de Homero. 78 UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES O escritor Luís de Camões, a exemplo dos clássicos, lançou mão dessa técnica em Os Lusíadas. NOTA Conflito ou complicação: momento do texto no qual se inicia propriamente a ação.O aparente equilíbrio dá lugar a transformações expressas em um ou mais episódios que se sucedem, conduzindo ao clímax. A partir desse primeiro movimento de entrada na narrativa, no qual identificamos uma convivência harmônica entre as personagens e a sociedade retratada, seguir-se-á inevitavelmente um segundo movimento, denominado fase de transgressão, e que é caracterizado pela ruptura daquela forma de convivência ordeira e pacífica por parte de um indivíduo vil ou fraco de caráter, transgressão esta a partir da qual se inicia o terceiro movimento, agora em direção ao fim da história, e que trata do restabelecimento da ordem inicial, conhecido como clímax. Neste momento, a narrativa atinge seu ponto máximo e crítico, que convergirá no desfecho. Para entendermos o arranjo das funções contratuais, é preciso pressupor um contrato natural e implícito, subjacente a toda organização social: o indivíduo deve admitir uma hierarquia de valores e a ela subordinar-se. Em troca do conforto, da proteção e de outros inúmeros benefícios que a vida em sociedade lhe oferece, o indivíduo obriga-se ao respeito das normas impostas pelo viver em comunidade. A transgressão de uma ordem por parte de um membro da sociedade implica a ruptura desse contrato natural, implicitamente aceito. No seio da sociedade, o elemento disfórico, o transgressor, é contrabalançado pelo herói, o reparador. (D’ONOFRIO, 2006 p. 78). Desenlace ou desfecho: parte do texto na qual se restabelece o equilíbrio e em que, geralmente, acontece a solução do conflito. Os episódios que compõem as narrativas podem seguir uma sequência cronológica. No entanto, encontramos narrativas em que o desfecho aparece antes da complicação e do clímax. É interessante notar que essa forma estrutural das histórias, estabelecida segundo três movimentos estruturais básicos – três pontos centrais fixos: começo ou equilíbrio, transgressão ou dano, e reparação –, adveio de um estudo contundente do teórico russo Vladimir Propp, não propriamente sobre textos eruditos, mas acerca dos tradicionais contos populares. Assim, Propp “foi o pioneiro da abordagem interna ou estrutural do texto literário. [Para ele] uma narrativa é vista como uma obra de arte que (...) uma vez produzida, passa a ter uma vida independente do autor e da época” (D’ONOFRIO, 2006, p. 66). TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II 79 Dessa forma, a partir do estudo de cem contos maravilhosos, o referido autor pôde constatar que poderiam ocorrer não apenas três, mas 31 funções fixas, comuns e possíveis não apenas aos contos de fadas e histórias maravilhosas, mas a toda e qualquer forma de narrativa literária; funções sobre as quais devem se debruçar todos aqueles interessados em aprofundar seus estudos em teoria da literatura. Caro(a) acadêmico(a), relacionamos a seguir as 31 funções elencadas por Vladimir Propp: afastamento, interdição, transgressão, interrogação, informação, engano, cumplicidade, dano, pedido de socorro, início da ação contrária, partida, função do doador, reação do herói, recepção do objeto mágico, deslocamento espacial, luta, marca, vitória, reparação, volta, perseguição, socorro, chegada incógnita, pretensões falsas, tarefa difícil, tarefa cumprida, reconhecimento, desmascaramento, transfiguração, punição, casamento. UNI Além de sua estrutura, vários elementos compõem a narrativa: personagens, ação, tempo, espaço, tema ou enredo e estilo integrados numa obra a ser apreciada pelo leitor. Refletiremos, caro(a) acadêmico(a), sobre cada um destes. 2.1 A AÇÃO Ação, história, trama, assunto, tema ou o enredo são alguns dos termos usados para designar o que sucede na narrativa. No caso das narrativas infantis e contos tradicionais, desenrolam-se dois tipos padrões de ação: um em que alguém, por sentir-se inadequado ao meio social em que vive, pretende modificar, na maior parte das vezes de modo ilícito, a harmonia social existente – papel geralmente desempenhado pelo vilão da história –; e um segundo em que algum personagem, colocado em contraposição àquele, encarna os valores sociais idealizados pela comunidade e, por ser destinado ao bem, consegue restituí-los na medida em que vence o mal e vilania a ele associada: O conto de fadas simplifica todas as situações. Suas personagens são esboçadas claramente; e detalhes, exceto quando muito importantes, são eliminados. Todas as personagens são típicas em lugar de únicas. (...) Em praticamente todo conto de fadas, o bem e o mal são corporificados sob a forma de alguns personagens e de suas ações. (...) Não é o fato de a virtude vencer no final que promove a moralidade, mas sim o fato de o herói ser extremamente atraente para a criança, que se identifica com ele em todas as suas lutas. (BETTELHEIM, 2007, p. 16). 80 UNIDADE 2 | A LITERATURA INFANTIL: FONTE DE EMOÇÕES O enredo envolve o que acontece com as personagens, suas ações e reações. É o desenrolar dos acontecimentos simples ou complexos, de conflitos que surgem de uma situação que desequilibra a vida da(s) personagem(ns) e que pode ser resolvida ou não. Então, podemos dizer que a ação refere-se à sequência dos acontecimentos de uma narrativa literária, teatral, cinematográfica, entre outras. Acerca, ainda, dessa tripartição fabular: começo, meio e fim – que possibilita categorizar o gênero narrativo como um conjunto de obras que se valem dos mesmos elementos estruturais e que os utilizam de um modo semelhante –, é interessante destacar que uma ação decorreria da outra, e todas partiriam do desenvolvimento de uma situação inicial, que é: determinada pelas relações existentes entre as personagens, anteriormente a qualquer ação. Geralmente ela é representada simbolicamente por uma paisagem edênica, pitoresca e colorida e indica um estado de felicidade, que serve como fundo contrastivo à infelicidade que vai se seguir. (...) A situação inicial é, ao mesmo tempo, “estática” e “conflitual”. Estática porque não contém nenhum movimento ou ação. Conflitual porque contém, virtualmente, um motivo dinâmico de conflito, que irá possibilitar o desenrolar dos acontecimentos. (D’ONOFRIO, 2006 p. 75-76). Mas, de modo geral, e independente do tipo de gênero da obra literária, trata o enredo de um conjunto de acontecimentos narrados na trama (termo que se reporta mais aos arranjos estilísticos dos episódios da narrativa ficcional), ou, para utilizar uma terminologia mais estrutural, do desenrolar das ações da “fábula” (termo que se reporta mais à sucessão cronológica dos acontecimentos), em que personagens participam, sofrem e reparam danos em um tempo sequencial e em um espaço determinado. 2.2 AS FALAS NA NARRATIVA No que tange às falas das personagens, estas podem ser classificadas em: Discurso direto: o discurso direto, nas palavras de Ulisses Infante (1999, p. 116), “é a reprodução direta das falas das personagens e um recurso que imprime maior agilidade ao texto”. Você poderá constatar no exemplo que segue: TÓPICO 3 | GÊNEROS LITERÁRIOS E SUA ESTRUTURA II 81 (...) Seu major! Seu major suspendeu as instruções, ficou esperando. - Seu major! Deu-se! - O quê? - A coisa! - Hein? - A coisa! O Washington! - Não percebo, homem! - A REVOLUÇÂO VENCEU! - Estás doido! O chefe da estação ficou possesso: - Eu, doido? O senhor é que está maluco! Se não é analfabeto leia isto! FONTE: MACHADO, Antônio de Alcântara. Contos avulsos: as cinco panelas de ouro. Disponível em: <http://www.biblio.com.br/conteudo/alcantaramachado/mcontosavulsos.htm>. Acesso em: 12 nov. 2012. O discurso indireto: neste caso, ao narrador cabe a tarefa de
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