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Fisiopatologia da Anemia É definida como número anormalmente baixo de eritrócitos circulantes ou nível baixo de hemoglobina, resultando em diminuição da capacidade de transporte de O2. Em geral, resulta de perdas excessivas de sangue, hemólise ou deficiência na produção de eritrócitos, devido insuficiência medular ou ausência de elementos nutricionais. Não é uma doença, mas uma indicação de alteração corporal. Seus efeitos podem ser divididos em: Manifestações do comprometimento de transporte de O2 e seus mecanismos compensatórios, como taquicardia e palpitações; Redução dos índices eritrocitários e de hemoglobina, evidenciada em hemograma ou coloração da pele, p.ex; sinais e sintomas relacionados à causa da anemia. ● Anemia por perda excessiva (há perda de eritrócitos que contém ferro) ● Anemia por hemólise (há retenção de ferro) ● Anemia por produção diminuída: Ferropriva, megaloblástica e aplásica. ➔ Manifestações: Palidez, pela presença diminuída de hemoglobina e redistribuição do sangue a partir dos tecidos cutâneos. Fraqueza e fadiga, devido a hipóxia tecidual por transporte ineficiente de O2. Mecanismos compensatórios: taquicardia e palpitações, quando o corpo tenta compensar com o aumento do DC. ➔ Pode ocorrer sopro sistólico do tipo em fluxo por alterações da viscosidade, bem como hipertrofia e insuficiência de alto débito em pacientes com anemia grave, especialmente os com histórico de doenças cardíacas. ➔ A eritropoese encontra-se acelerada e isso pode ser identificado por dor óssea difusa e hipersensibilidade esternal. ➔ Nas anemias hemolíticas costuma ocorrer icterícia e na aplásica petéquias e púrpuras, em decorrência da queda da função plaquetária. ➔ Exames laboratoriais: úteis na determinação da gravidade (contagem de eritrócitos e os níveis de hemoglobina) e da causa (tamanho, cor e morfologia dos eritrócitos). Anemia por perda sanguínea: Manifestações dependem da velocidade de hemorragia e da ocorrência de sangramento interno ou externo. Em rápida perda pode ocorrer choque e colapso circulatório, em uma perda mais lenta, a massa eritrocitária pode chegar a 50% sem aparecimento de sintomas ou sinais. Os efeitos da perda sanguínea aguda são principalmente devidos a perda do volume intravascular. Com essa perda há movimento de líquido para o interior do compartimento vascular, causando hemodiluição do hematócrito, da contagem de eritrócitos e da hemoglobina. Inicialmente a cor e o tamanho dos eritrócitos são normais. A hipóxia em decorrência da perda sanguínea estimula proliferação de células-tronco eritroides comprometidas. A maturação da progênie se dá em 5 dias, levando a aumento de reticulócitos no sangue. Se houver controle do sangramento e houver também reserva de ferro, em 3-4 semanas há normalização da concentração dos eritrócitos. Com sangramento externo há perda de ferro e comprometimento disso. Na perda crônica (comumente por sangramento no TGI ou distúrbios menstruais), não há alteração do volume sanguíneo, mas há desenvolvimento de anemia ferropriva por acabar o estoque de ferro. Os eritrócitos produzidos possuem pouca hemoglobina e tornam-se hipocrômicos e microcíticos. Com os mecanismos compensatórios, os sinais e sintomas aparecem quando a hemoglobina chega a 8g/dL. Anemias Hemolíticas: Destruição prematura dos eritrócitos, retenção de ferro e de outros produtos da destruição da hemoglobina, além de eritropoiese aumentada. Quase todas as hemolíticas têm eritrócitos normocíticos e normocrômicos. Como há queda do tempo de vida do eritrócito, há hiperatividade da medula e consequente presença de reticulócitos no sangue. Pode haver hemólise intravascular ou extravascular. A extra é mais frequente e ocorre quando os eritrócitos estão menos deformáveis e não passam pelos sinusóides esplênicos, sendo então capturados pelos macrófagos. As manifestações incluem anemia e icterícia. Já na hemólise intravascular, em decorrência de fixação de complemento nas reações transfusionais, em lesões mecânicas ou tóxicas, há presença de hemossiderinúria, hemoglobinúria, icterícia e hemoglobinemia. Podem ser divididas ainda em extrínsecas ou intrínsecas. As intrínsecas ocorrem por defeitos nas membranas do eritrócito, pelas hemoglobinopatias (talassemia e anemia falciforme) ou por defeitos enzimáticos. Já as extrínsecas ocorrem por fatores externos, tais como fármacos, toxinas bacterianas, anticorpos etc. ● Esferocitose Hereditária: É um distúrbio da membrana eritrocitária, transmitido em grande parte por caráter autossômico e afetando as proteínas espectrina e anquirina. O eritrócito se torna uma estrutura rígida e esférica, com capacidade de transporte de O2 presente mas sofre destruição na passagem pelos sinusóides esplênicos. Costuma cursar com icterícia, anemia hemolítica leve, esplenomegalia e cálculos de bilirrubina. O tratamento é por esplenectomia e transfusões em casos de crises aplásica por infecção. ● Anemia Falciforme: É um distúrbio hereditário, mais prevalente em negros e que se manifesta quando em homozigose. Quando em heterozigose, há apenas o traço falcêmico e raramente manifestação sintomática. Se dá por substituição pontual de um aminoácido ácido glutâmico por valina, gerando a HbS. O afoiçamento dos eritrócitos se dá quando a HbS está desoxigenada ou na presença de baixa tensão de O2, mas fatores de risco incluem ainda frio, esforço físico, infecção e doenças hipoxêmicas, desidratação e acidose. A HbF (Hemoglobina fetal) inibe a polimerização da HbS, por isso lactentes só sofrem efeitos do afoiçamento depois de 8-10 semanas de idade. Há duas consequências principais do afoiçamento: Anemia hemolítica crônica (destruição no baço devido perda da deformabilidade) e oclusão vascular por aderência a parede do vaso e ativação plaquetária e de substâncias vasoconstritoras, podendo gerar isquemia e infartos teciduais. Os homozigotos apresentam anemia hemolítica grave, hiperbilirrubinemia (levando a cálculos e icterícia) crônica e crises vaso-oclusivas. Hemólise provoca valores de hematócrito de 18-30%. A oclusão vascular resulta em hipóxia e dor aguda em várias partes do corpo. Pode ocorre AVE, o baço é susceptível à lesão pelo fluxo lento os eritrócitos desoxigenados. E há susceptibilidade a infecções por micro-organismos encapsulados, como Klebsiella, Haemophilus influenzae B e Streptococcus pneumoniae. Podem surgir ainda úlceras cutâneas, osteomielite, pneumonia atípica, cegueira. O diagnóstico neonatal se dá pelos achados clínicos e resultados de solubilidade da hemoglobina, confirmados pela eletroforese da hemoglobina. Já o pré-natal é por meio da análise de DNA fetal pelo líquido amniótico. Manifestações clínicas da anemia falciforme: AVE, Infartos Retinianos: Cegueira, Infartos pulmonares: Pneumonia, Síndrome torácica aguda, Cálculos biliares, Necrose avascular da cabeça do fêmur, Infartos dolorosos: Ossos dos dedos das mãos e dos pés, Osteomielite, Úlceras cutâneas, Baço atrófico, Sobrecarga de ferro: Coração, fígado, Infartos Renais: Doença Renal Crônica. ● Talassemias: São distúrbios hereditários da síntese de hemoglobina, gerandosíntese diminuída de cadeias alfa ou beta. O defeito tem herança mendeliana e pode ser heterozigoto, forma leve, ou homozigoto, forma grave. Assim como a anemia falciforme, são observadas mais frequentemente em negros, afrodescendentes e populações do mediterrâneo.. Dois fatores desenvolvem a anemia: Hemoglobina intracelular baixa (hipocromia), devido baixa síntese da cadeia afetada e acúmulo da cadeia não afetada (corpúsculos de Heinz), levando a comprometimento do desenvolvimento normal de eritrócitos e acometimento da membrana, gerando hemólise. Beta-Talassemias: Manifestações dependem da gravidade e há duas classificações básicas: Presença de um gene normal (talassemia minor) e presença de dois alterados, homozigoto (talassemia major). Há aumento da secreção de eritropoetina e hiperplasia da medula e de locais de hematopoese extramedular (fígado e baço, gerando hepatoesplenomegalia). A massa de medula em hematopoese invade o osso cortical e compromete-o, provocando alterações ósseas, tais como osteoporose e osteopenia. Há sobrecarga de ferro e acúmulo, devido o consumo dietético aumentado e as muitas transfusões. Isso afeta o coração, o fígado e órgãos endócrinos. Alfa-talassemias: A cadeia alfa é regulada por 4 genes. Quando ocorre alteração de 1 não há acometimento, de 2 apresenta o traço de alfa-talassemia e anemia hemolítica leve, já 3 há grave acometimento, gerando a chamada Hemoglobina H. Quando há acometimento de lactentes, a HbF torna-se a Hb Bart, que possui alta afinidade pelo O2 e tem dificuldade de soltá-lo nos tecidos. ● Defeito Enzimático da G6PD: É uma enzima que funciona como proteção da membrana das células. Sua deficiência gera exposição a fatores oxidantes e transforma a hemoglobina em metemoglobina (incapaz de levar o O2). A passagem dos eritrócitos afetados pelos sinusóides esplênicos leva a hemólise, gerando hemoglobinúria, hemoglobinemia e icterícia. É mais presente também em negros e principalmente populações do mediterrâneo. ● Anemias hemolíticas adquiridas: Causadas por fármacos (como penicilina, alfametildopa, quinidina), subs. químicas, toxinas, venenos, infecções (como a malária), cânceres linfoproliferativos, doenças do colágeno (LES), infecções virais e distúrbios inflamatórios (colite p.ex). Cerca de 80% é causada pela IgG e 20% pela IgM. Anemias por Deficiência na Produção de Eritrócitos: Pode ocorrer por deficiência de nutrientes necessários ou por falha da própria medula. ● Anemia Ferropriva: Como o ferro é um componente do heme, sua perda resulta em diminuição da síntese de hemoglobina. A perda crônica de sangue é a causa mais comum de perda de ferro em adultos. Pode ocorrer devido sangramentos do TGI ou alterações menstruais. A necessidade de ferro é maior em lactentes, crianças e em gestantes. Nesse tipo de anemia há redução do hematócrito e da hemoglobina e os eritrócitos são hipocrômicos e microcíticos. Há ainda poiquilocitose (forma irregular) e anisocitose (tamanho irregular). O VCM e o CHCM estão reduzidos no hemograma. Há aparecimento de pica e atrofia epitelial, com pele cérea, cabelos e unhas quebradiços, deformidades côncavas nas unhas, língua lisa, ulceração nos cantos da boca e por vezes disfagia e diminuição da secreção ácida. Alimentos com alta quantidade de ferro: carne vermelha, vegetais verde-escuros, leguminosas, castanha de caju, gergelim, abóbora. Recomenda-se evitar o uso de leite de vaca em lactentes, usar suplementos dos 4 aos 6 meses e fórmulas e cereais com o conteúdo. ● Anemias Megaloblásticas: São causadas por síntese anormal do DNA, resultando em aumento dos eritrócitos e VCM>100 fl (Valor de referência: 80-100 fl). As deficiências de ácido fólico e vitamina B12 (cobalamina) são as causas mais comuns. A vit. B12 está associada a síntese de DNA e maturação nuclear, bem como ao impedimento de incorporação de ácidos graxos anormais aos lipídeos neuronais. Com a anormalidade disso há degradação da mielina e alterações nos eritrócitos. Há reservas corporais de 1000-5000 microgramas, que podem suprir por muito tempo as necessidades diárias de 1 micrograma. Por isso é incomum a deficiência dietética. O que pode ser mais comum é perda do mecanismo de absorção. Esse se dá por ligação a um fator intrínseco produzido pelas células parietais do epitélio gástrico e posterior transporte até células epiteliais do íleo, de onde vai ser absorvida pela circulação porta. Com gastrite atrófica e comprometimento das células parietais, desenvolve-se a anemia perniciosa. É uma destruição imunologicamente mediada da mucosa gástrica. Outras causas que afetem essa mucosa também podem desenvolver essa anemia, como neoplasias no íleo terminal ou infecções. A característica da anemia megaloblástica é de eritrócitos grandes e núcleos imaturos. O VCM apresenta-se elevado e o CHCM normal. Há ainda acometimento neurológico, com desmielinização das cadeias laterais e dorsais da medula espinhal, provocando parestesias simétricas no pés, dedos das mãos e perda do sentido de vibração e posição atáxica espástica eventual. Já na anemia por deficiência de ácido fólico, há as mesmas características mas sem manifestações neurológicas. As causas mais comuns dessas são a deficiência dietética, principalmente em idosos ou alcoólatras. Como há pouca reserva e muita necessidade diária, pode ocorrer a anemia em poucos dias. Fármacos para distúrbios convulsivos e o triantereno predispõe a deficiência. A doença neoplásica há competição pelo folato e comum ocorrência da anemia. Anemia Aplásica: É distúrbio das células-tronco pluripotentes da medula, resultando em redução das 3 linhagens: eritrócitos, leucócitos e plaquetas. É decorrente da incapacidade de repor os eritrócitos senescentes, apesar dos circulantes serem normais. Como as outras linhagens tem um ciclo de vida mais curto, há antes a manifestação da redução dessas. O início pode ser insidioso ou súbito, podendo também ocorrer em qualquer idade. Dentre as causas, destacam-se exposição a altas doses de irradiação, subs. químicas e toxinas. Quimioterapia e irradiação resultam comumente em mielodepressão. Como agentes tóxicos, cita-se os usados no tratamento de neoplasias e o cloranfenicol. Pode ocorrer ainda com infecções, a destacar: hepatite viral, mononucleose e AIDS. em ⅔ dos casos é idiopática. A terapia consiste no transplante de medula ou de sangue periférico. Anemia de doenças crônicas: Citocinas e células do SRE: Causam= Tempo curto de vida dos eritrócitos, produção deficiente dessas células, resposta atenuada à eritropoetina, e baixos níveis de ferro sérico. Doenças associadas a isso: 1. AIDS 2. Osteomielite 3. Cânceres 4. Distúrbio autoimunes: Artrite reumatóide, LES, DII, Doença Renal Crônica A insf. renal crônica quase sempre resulta em anemia. Primeiro devido baixa de eritropoietina, depois pelas toxinas urêmicas e o nitrogênio que também interferem, além disso há a hemólise e a perda de sangue associadas a hemodiálise e a tendência hemorrágica.
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