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O Liberalismo e o neoliberalismo Ananda Moraes O Liberalismo é uma teoria que valoriza prioritariamente os sujeitos individuais sendo uma teoria anti-Estado, se origina em oposição ao Absolutismo do século XVI, conhecido com Antigo Regime onde o poder era centralizado ao Estado. Na visão do pensamento liberal cabe aos indivíduos a busca de sua própria felicidade, sob uma visão moral, política e econômica, porém o núcleo econômico do pensamento liberal se tornou mais importante para os estilos de vida, ou para o que se acredita ser uma boa qualidade de vida, individualista pura e simples, onde o papel do Estado é proteger o indivíduo. O livre mercado, sem intervenções do Estado, a ordem espontânea das ações humanas, a propriedade privada, são alguns exemplos do modelo de vida proposto pelo pensamento liberal. O pensamento liberal nasceu com a negação a política econômica mercantilista de super-regulamentação, caracterizado por uma tutela dos poderes públicos sobre a indústria. Tal regulamentação da fabricação ao empacotamento, à circulação, transporte e venda, agregado a super fiscalização visava evitar fraudes, porém ainda existindo burlas e contrabando, e também evitava aperfeiçoamentos e inovações. Com a publicação de “A Riqueza das Nações”, de Adam Smith, em 1776, as ideias do liberalismo tomaram maior consistência, seu pensamento afirma que o mundo seria mais eficiente e produtivo se houvesse liberdade econômica para seus indivíduos, onde suas relações não fossem limitadas por regulamentos e monopólios estatais, pois esse sistema mostraria de modo espontâneo e incontestável as necessidades de cada um e de todos os indivíduos da sociedade, demonstraria toda eficácia da empresa e dos empreendedores. David Ricardo afirma que cada país irá se dedicar ao trabalho que lhe for mais benéfico, pontuando a união das nações no quesito econômico, promovendo a paz e harmonia internacional, gerando riquezas. Adam Smith é considerado o principal teórico liberal, é conhecido como pai da economia moderna, defendia que a iniciativa privada deveria agir livremente. Smith acreditava que a competição livre geraria a queda dos preços dos produtos e também a constante criação de novas tecnologias, barateando os custos da produção e vencendo competidores. Adam Smith era contra a intervenção do Estado em questões comerciais, agrícolas e industriais. O autor cunhou o termo “mão invisível” fazendo referência ao que hoje chamamos de “oferta e procura”, seria essa mão invisível que ajustaria o mercado e suas necessidades. John Stuart Mill foi um dos pensadores mais influentes do século XIX, defendia o utilitarismo, teoria cunhada primeiramente pelo seu padrinho Jeremy Bentham, onde os princípios capazes de fundamentar a moral e orientar os comportamentos humanos seriam o egoísmo, a busca pelo prazer e ações utilitárias. O utilitarismo defendia que as ações boas produziriam felicidade e ações más tendem a gerar o oposto a felicidade. Para Mill o aumento do poder do Estado desencadeia uma redução dos poderes dos sujeitos individuais, o filósofo e economista britânico no ensaio sobre a “Liberdade” resume os ideais do liberalismo: “1- Qualquer limitação imposta pelo governo é má. 2- Mesmo se o indivíduo não pode fazer bem determinadas coisas, o Estado não deverá fazê-las, de modo a evitar enfraquecer a independência e iniciativa do indivíduo. 3- Qualquer aumento dos poderes do Estado é ruim, prejudicial, diminui a liberdade individual. As pessoas não devem permitir um aumento do poder do Estado.” David Ricardo outro teórico do liberalismo desenvolveu a teoria do valor-trabalho, partindo da ideia de que a atividade econômica é uma atividade coletiva, ou seja, o valor da mercadoria será definido pela quantidade de trabalho, desde a captação de sua matéria- prima até a conclusão de sua produção. Como Adam Smith, David Ricardo também acredita no ajuste do mercado pela lei da oferta e procura. Na visão dos economistas britânicos o Liberalismo possui três núcleos: o núcleo moral, o núcleo político e o núcleo econômico. O núcleo moral afirma o direito a qualidade e respeito a vida pois dizem respeito a natureza do ser humano, assegurando a garantia da liberdade de busca pela sua auto-realização. O núcleo político abrange decisões no âmbito governamental, como direito a voto, escolhendo o tipo de governo a ser seguido, este núcleo está relacionado a democracia representativa. O núcleo econômico é o conceito base ao liberalismo, sua crença tornou-se tão vasta e profunda que se sobressai ao núcleo moral e político, suas estruturas econômicas do individualismo como a propriedade privada, direito de herança e de acumular riquezas, a liberdade de compra e venda e a economia de mercado livre de controles estatais fazem parte indispensável a lógica liberal. O Neoliberalismo começou a ser divulgado pela Escola de Viena, também conhecida como Escola Austríaca, com sua teoria do Estado Mínimo, posteriormente pela Escola de Chicago, ficando restrito ao mundo acadêmico até o ano de 1978, porém em 1979 com a vitória de Maragareth Thatcher pelo Partido Conservador na Inglaterra através de uma redução do poder do Estado, corte de pessoal, privatizações e enfraquecimento dos sindicatos, estabeleceu o neoliberalismo como política de governo na prática. O Neoliberalismo vem para minimizar o excesso de individualismo do Liberalismo, porém mantendo-se fiel as raízes liberais, não desconhecendo as dimensões sociais do homem e adequando-se a realidade laissez-faire do século XX. O movimento neoliberal agrega pensamentos do liberalismo clássico, mas traz o prefixo “neo” como singularidade, que busca responder a novas questões, com a promessa de ser inovador e contemporâneo. Nas atividades econômicas os pensamentos liberais e neoliberais se assemelham quando priorizam as escolhas individuais, pois na ordem política liberal determina uma harmonização dos diferentes esforços e vontades gerando a competição necessária a lógica mercadológica liberal. Acreditam que os inimigos do progresso seriam os regulamentos estatais (materiais, técnicas, preços e monopólios, sobre mão-de-obra) e as corporações fazendo-se necessário restringir o Estado a preocupações de fiscalizações e regulamentações das leis, sendo o mercado modelado pelas iniciativas privadas. Se destacam interesses em comum como o capital e o lucro, devido as raízes do neoliberalismo serem essencialmente liberais. A redução dos postos de trabalho, o corte das despesas públicas, privatizações, e corte no poder dos sindicatos, também são semelhanças. Leopold von Wiese (1876-1969) importante teórico neoliberal sobre a estabilidade da moeda, ficou conhecido na segunda metade do século XIX. Friedrich Von Heyek (1899-1992), defendeu a abertura do mercado mundial, foi economista e um dos principais nomes da Escola Austríaca, escreveu em 1944 o “Manifesto do Neoliberalismo - O Caminho da Servidão”, crítica ao fascismo e até ao socialismo-democrático. Milton Friedman (1912 -2006) da Escola de Chicago, foi conselheiro econômico do Presidente republicano dos Estados Unidos, Ronald Reagan, defendia o livre mercado, pesquisou consumo, história e política monetária, era contra o salário mínimo e o piso salarial que era fixado pelos sindicatos, alegando que gerava aumento nos preços. Friedman foi um crítico da política do New Deal, política para reformar e recuperar a economia norte-americana e promover assistência aos prejudicados da Grande Depressão de 1929. Em termos gerais, a política do New Deal gerou resultados positivos que contribuíram para a saída da crise econômica. Em 1960 Friedman desenvolveu o Monetarismo,política macroeconômica, afirmava que era natural existir uma taxa de desemprego, e que o aumento do emprego por parte do governo acima dessa taxa geraria um aumento continuo da inflação. No neoliberalismo os ricos são a parte dinâmica da sociedade, possuem as iniciativas racionais de investimentos baseados em critérios lucrativos. A crise seria resultado das demandas excessivas feitas pelos sindicatos operários que pressionam o Estado. O mercado é o local divino onde tudo se regula, estimula a produção, elimina o incompetente e premia o sagaz e o empreendedor, seu poder é ilimitado e sua falência é a sua condenação. O socialismo é um demônio ao pensamento neoliberal, pois é completamente avesso aos princípios da iniciativa privada e da propriedade privada, injusto porque premia o capaz e o incapaz, o útil e o inútil, o trabalhador e o preguiçoso, reduz a sociedade ao nível de pobreza e graças à igualdade e a política de salários equivalentes, termina estimulando a inércia provocando a baixa produção. O neoliberalismo combina-se com qualquer regime que assegure os direitos da propriedade privada. Sendo indiferente ao regime, se é democrata, autoritário ou mesmo ditatorial. O regime político ideal é o que consegue neutralizar os sindicatos e diminuir a carga fiscal sobre os lucros e fortunas, ao mesmo tempo em que desregula o máximo possível a economia. Pode conviver tanto com a democracia parlamentar inglesa, como durante o governo da Sra. M. Thatcher, como com a ditadura do General Augusto Pinochet no Chile. Sua associação com regimes autoritários é tática e justificada dentro de uma situação de emergência (evitar uma revolução social ou a ascensão de um grupo revolucionário). Em longo prazo o regime autoritário, ao assegurar os direitos privados, mais tarde ou mais cedo, dará lugar a uma democracia. A ideologia neoliberal é expressada na globalização encobrindo à hegemonia americana no mundo, e a imposição dos seus interesses as demais nações. O Estado se reduz a função de polícia, defendendo a propriedade privada, e os contratos assumidos nos mercados. As reformas econômicas devem ser feitas com objetivo de propiciar maior liberdade possível ao capital na busca de lucro máximo, pois o neoliberalismo tem como forma de política objetivos de conquistas de mercados pelo grande capital dos países desenvolvidos, com objetivo de hegemonia do imperialismo americano. Atualmente a hegemonia do Neoliberalismo é de tal dimensão que países de tradições diferentes, governados por partidos dos mais diversos, aplicam a mesma doutrina. Os Estados Neoliberais têm como prioridades: Exportações e marginalização do mercado interno; produzir para fazer dinheiro e não as necessidades da sociedade civil; Capital financeiro, a especulação, na qual o Estado assume a defesa dos ricos, que são vistos como aqueles que multiplicam os investimentos e teoricamente multiplicariam os empregos, o que não ocorre na prática. Em consequência a adoção do Estado neoliberal, nas décadas de 1980 e 1990 o desemprego tornou-se estrutural, os sindicatos ficaram esvaziados e desprestigiados, empresas públicas foram entregues a privatização, como estradas, escolas, saúde, meios de comunicação e transportes. O neoliberalismo acredita que fazer política assistencialista mais intensa joga os pobres nos braços da preguiça e da inércia, assim a abolição do salário mínimo e de custos sociais seriam alternativas viáveis, pois supostamente falsificam o valor da mão-de-obra encarecendo-a, pressionando o aumento dos preços assim gerando inflação. Porém, na perspectiva dos mais pobres o estabelecimento do salário mínimo é uma garantia de comida na mesa, que não chega nem perto de se igualar as boas qualidades de vida das elites. Paulo Nogueira Batista, 1994, em seu trabalho sobre análises críticas da onda "neoliberal" afirma que “Os resultados do neoliberalismo na América Latina, apesar dos esforços dos meios de comunicação em só mostrar os aspectos considerados positivos, não podem deixar de ser vistos como modestos, limitados que estão à estabilização monetária e ao equilíbrio fiscal. Miséria crescente, altas taxas de desemprego, tensão social e graves problemas que deixam perplexa a burocracia internacional baseada em Washington e angustiados seus seguidores latino-americanos.” p. 26. O Consenso de Washington esquece das realidades vividas pelos diferentes países, as mesmas diretrizes indicadas ao Brasil já substancialmente industrializado também são indicadas aos pequenos Uruguai ou Bolívia ainda na fase pré-industrial, bem como não se diferem muito do que o FMI e o Banco Mundial estão recomendando à Europa oriental na sua transição para economias de mercado. Graduada em Licenciatura em Geografia – UPE Graduanda em Bacharelado em Ciências Sociais - UFRPE Referências: BATISTA, Paulo Nogueira. O Consenso de Washington: a visão neoliberal dos problemas latino-americanos. Programa Educativo Dívida Externa - PEDEX, Caderno Dívida Externa, n. 6, 2. ed., nov.1994. MORAES, Reginaldo C. Correa de. Liberalismo e neoliberalismo: uma introdução comparativa. Primeira Versão n. 73. Campinas: IFCH Unicamp, março de 1997.