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LUÍS FELIPE PONSONI – MED UFOB Cap. 14 Abbas: resumo. Imunidade Especializada em Barreiras Epiteliais e em Tecidos Imunologicamente Privilegiados CARACTERÍSTICAS GERAIS DA IMUNIDADE NAS BARREIRAS EPITELIAIS 1.0 IMUNIDADE NO SISTEMA GASTRINTESTINAL 1.1 Imunidade Inata no Trato Gastrintestinal 1.2 Imunidade Adaptativa no Trato Gastrintestinal 1.3 Regulação da Imunidade no Trato Gastrintestinal pelas células T Regulatórias e Citocinas 1.4 Tolerância Oral e Vacinas Orais 1.5 O Papel da Microbiota Comensal na Regulação do Sistema Imune 1.6 Doenças Relacionadas a Respostas Imunes no Intestino ________________________________________________________________ CARACTERÍSTICAS GERAIS DA IMUNIDADE NAS BARREIRAS EPITELIAIS O sistema imune regional abrange tanto o sistema imune de mucosa, como os tecidos broncopulmonares, gastrintestinais e geniturinários, como o sistema imune cutâneo. o sistema imune de mucosa é o principal devido a dois fatores: alto numero de linfócitos localizados no tecido e a grande quantidade de anticorpos produzidos lá. O sistema imune regional se especializa de diferentes formas em cada tipo de tecido, a fim de cumprir de modo mais eficiente com seu papel de proteção. Isso se explica pela susceptibilidade a LUÍS FELIPE PONSONI – MED UFOB diferentes patógenos para cada tipo de tecido, já que os distintos aspectos físicos de cada um (tecidos de mucosa são moles, quentes e úmidos e a pele é resistente, seca e fria) vão favorecer diferentes tipos de infecções patogênicas. O sistema imune nas barreiras epiteliais compartilha uma organização anatômica básica, com uma camada epitelial externa que previne a invasão microbiana, o tecido conjuntivo subjacente contendo células de vários tipos que são mediadoras das respostas imunes aos organismos comensais ou patogênicos que atravessam o epitélio, além da presença de linfonodos drenantes mais distantes, cujas respostas imunes adaptativas aos microrganismos invasores são iniciadas e amplificadas. Os tecidos mucosos também contêm tecidos linfoides secundários não encapsulados, mas organizados sob a barreira epitelial, que incluem linfócitos B e T, células dendríticas e macrófagos. Essas coleções de celulas são frequentemente denominadas MALT. Na pele e nos tecidos mucosos, os antígenos externos à barreira epitelial são capturados pelas células especializadas no epitélio e levados aos linfonodos drenantes ou ao MALT. Os sistemas imunes regionais contêm tipos celulares especializados e moléculas que podem não ser abundantes em outros locais. Por exemplo, há subpopulações de células dendríticas (células de Langherans na pele), células de transporte de antígenos (células M no intestino, subpopulações de linfócitos T (linfócito T gama-delta) e subpopulações de linfócito B (secretores de IgA e tals). Os linfócitos efetores que são gerados nos linfonodos drenantes ou no MALT de um sistema imune regional particular (p. ex., pele, intestino delgado) entrarão no sangue e preferencialmente retornarão para o mesmo órgão (p. ex., derme, lâmina própria). LUÍS FELIPE PONSONI – MED UFOB Os sistemas imunes regionais têm funções regulatórias importantes que servem para prevenir respostas indesejáveis a microrganismos não patogênicos e substâncias estranhas que provavelmente estão presentes em diferentes barreiras. O exemplo mais claro é o tecido mucoso do intestino, em que as celulas do sistema imune devem suprimir respostas aos alimentos (substancias estranhas) e as bactérias comensais, e ao mesmo tempo desencadear respostas contra patógenos presentes no lúmen do órgão. 1.0 IMUNIDADE NO SISTEMA GASTRINTESTINAL No intestino dos mamíferos, há uma quantidade de bactérias cerca de 10 vezes maior do que a quantidade total de células humanas. Essas bactérias comensais tem importância para diversos fatores, entre eles, degradar substancias que nossas células não conseguem degradar, e competir por nutrientes e espaço com microrganismos patogênicos, prevenindo infecções prejudiciais. Embora os microrganismos comensais sejam benéficos na porção externa da barreira mucosa intestinal, ao cruzarem essas barreias eles podem ser letais, principalmente em indivíduos imunossuprimidos. Além disso, microrganismos patogênicos não comensais podem ser ingeridos e acabarem se desenvolvendo junto com as células comensais no lúmen do intestino, e podem frequentemente causar doenças mesmo sem ultrapassar a barreira mucosa intestinal. Para a saúde ser mantida, o sistema imune deve reconhecer e eliminar esses patógenos numericamente raros, em meio a um grande número de microrganismos não patogênicos. Para vencer esses desafios, um conjunto complexo de estratégias de reconhecimento imune inato e adaptativos foram desenvolvidos através da evolução. 1.1 Imunidade Inata no Trato Gastrintestinal • Existem vários tipos de celulas epiteliais intestinais, e todas são parte integrante do sistema imune inato gastrointestinal, pois estão envolvidas em resposta a patógenos, tolerância a organismos comensais e amostragem de antígenos para APC ao sistema imune adaptativo no intestino. Dentre essas células, estão as células caliciformes produtoras de muco, as células M apresentadoras de antígenos, células epiteliais absortivas secretoras de citocinas e defensinas, células de Paneth secretoras de peptídeos antibacterianos. Barreiras físico e químicas fornecidas pelas células epiteliais que medeiam a imunidade inata no intestino: 1. Junções de oclusão, por proteínas que unem as células epiteliais adjacentes (zônula ocludens 1 e claudinas), bloqueando o mov. de microrganismos entre os espaços intercelulares até a lâmina própria. 2. Produção de substancias antimicrobianas, como as defensinas. Diversos tipos de células localizados na mucosa, incluindo células epiteliais, células dendríticas e macrófagos, são capazes de montar respostas antinflamatórias e antivirais, que são na maioria das vezes induzidas pela interação entre os PRRs e ligantes microbianos (PAMPs). Alguns receptores da imunidade inata que promovem inflamação em outras partes do corpo têm função antinflamatória no intestino. • Mucinas são proteínas glicosiladas e incluem glicoproteínas secretadas e de superfície células. Entre as mucinas secretadas, MUC2, MUC5 e MUC6 contém LUÍS FELIPE PONSONI – MED UFOB duas camadas: uma externa, menos densa e normalmente colonizada por bactérias e uma camada interna densa que está ligada ao epitélio e é livre de bactérias. Essas camadas de muco previnem o contato entre microrganismos e as celulas epiteliais de revestimento, e também servem como uma matriz para a exposição de substancias antimicrobianas produzidas por celulas epiteliais. Algumas mucinas se desprendem do epitélio e atuam como moléculas neutralizantes de adesinas de patógenos, pois se ligam às adesinas que bactérias patogênicas usam para se aderir às membranas celulares do hospedeiro. Além do muco secretado, as celulas epiteliais da superfície apical expressam mucinas de membrana, incluindo MUC1, MUC3A/b, MUC12, MUC 13 e MUC17. Essas mucinas ligadas a membrana formam uma camada macromolecular densa na superfície das celulas epiteliais denominadas glicocálice, que, como o muco secretado, serve como barreira física p/ prevenir o contato microbiano. • A barreira mucosa do intestino sofre renovação e alterações químicas em resposta a vários sinais ambientais imunes que geram rápido aumento na produção de mucinas. Esses estímulos incluem citocinas (IL-1, IL-4, IL-6, IL-9, IL-13, TNF e intérferons do tipo 1) produtos de neutrófilos e proteínas de adesão microbiana. Acredita-se que a alteração na quantidade ena glicosilação das mucinas aumente sua função de barreira contra patógenos. • As defensinas são peptídeos secretados por vários tipos celulares no corpo que participam da imunidade inata por comprometerem a integridade das membranas fosfolipídicas de patógenos. No intestino delgado, as principais defensinas são as alfa-defensinas, incluindo a defensinas humanas HD5 e HD6, que são produzidas constitutivamente, na sua forma inativa, pelas células de Paneth situadas entre as microvilosidades, nas bases das criptas. Esses peptídeos inativos são clivados pelas tripsinas, também produzidas pelas celulas de Paneth, e tornam-se defensinas ativas. No cólon, as beta-defensinas são produzidas pelas células epiteliais absortivas nas criptas intestinas, algumas de forma constitutiva e outras em resposta a IL-1 ou bactérias invasivas. Além disso, os grânulos neutrófilos são ricos em alfa- defensinas. Vários estudes identificaram defeitos na produção de defensinas por celulas epiteliais nas regiões do intestino afetadas pela doença de Crohn- uma doença inflamatória crônica que pode envolver todo o trato gastrointestinal. As celulas de Paneth e outras celulas epiteliais do intestino também produzem uma lectina do tipo C chamada proteína y (gama), que bloqueia a colonização bacteriana na superfície epitelial. • Os receptores TLR e NOD nas celulas epiteliais intestinais promovem respostas imunes aos patógenos invasores pelo reconhecimento de PAMPs. As bactérias comensais também expressam PAMPS, contudo, vários mecanismos de controles foram desenvolvidos para limitar respostas pró-inflamatórias induzidas por TLRs a bactérias comensais. Esses mecanismos podem atuar da seguinte maneira: 1. A ligação de alguns TLR aumenta a função de barreira, mas não a inflamação. Isso por que a ligação resulta em fosforilação e reorganização da zona ocludens e maior resistência das junções de oclusão entre as celulas epiteliais. a sinalização dos TLRs também aumenta a motilidade e proliferação do epitélio intestinal. LUÍS FELIPE PONSONI – MED UFOB 2. As respostas ao TLR no intestino também são reguladas por níveis de expressão ou expressão compartimentalizada somente em determinados locais. P. ex., TLR5, que reconhece flagelinas de bactérias, só é expresso na superfície basolateral de celulas epiteliais intestinal, acessível somente as bactérias que invadiram e transpuseram a barreira. Similarmente, os receptores da família NLR para flagelinas são expressos no citoplasma das células epiteliais e só vão induzir inflamação quando os patógenos ou produtos patogênicos tiverem acesso ao citoplasma. Esses mecanismos reguladores da inflamação apresentam um limiar muito mais alto nas mucosas do que nos sistemas imunes regionais de outros locais do corpo, já que a inflamação na mucosa é altamente prejudicial as células do epitélio, podendo romper a barreira de mucosa e favorecer a invasão dos patógenos para o interior dos tecidos. FIGURA 14-2 Expressão de receptores de reconhecimento de padrões moleculares na mucosa intestinal. Os receptores de reconhecimento de padrões moleculares que reconhecem a flagelina bacteriana são concentrados no citoplasma (NLR) ou na membrana basal (TLR5) de células epiteliais intestinais, mas não na membrana apical/luminal, e assim não reconhecem microrganismos do lúmen. • Em indivíduos saudáveis, celulas dendriticas e macrófagos na lâmina propria do intestino inibem a inflamaçao e servem para manter a homeostase. Alguns macrófagos intestinais tem um fenótipo singular, que os capacita fagocitar e matar microrganismo, mas ao mesmo tempo secretar citocinas anti-inflamatórias, como IL-10. esse fenótipo é induzido no ambiente mucoso local pelo fator de transformação de crescimento TGF-beta. A expressão do TLR4 em Macrófagos e células dendríticas da lâmina propria é menor que em outros tecidos, e a expressão de genes inflamatórios é frequentemente inibida pelos produtos microbianos. Tudo isso serve para prevenir a inflamação deletéria em resposta a bactérias comensais e a produtos bacterianos que podem atravessar a barreira epitelial. • Células Linfoides inatas, que se assemelham as celulas T auxiliares pelas citocinas que produzem, como IL-17 e IL-22, mas não expressam TCR, estão presentes na mucosa intestinal e contribuem para a defesa imune contra algumas bactérias e também para a função da barreira epitelial. IL-17 e IL-22 induzem as celulas epiteliais a aumentarem a produção de muco e defensinas, além de aumentarem o a função das junções de oclusão do epitélio. As citocinas também aumentam o transporte de IgA para o lúmen intestinal, que já é um componente da imunidade adaptativa. 1.2 Imunidade Adaptativa no Trato Gastrintestinal • A principal forma de imunidade adaptativa no intestino é a imunidade humoral direcionada aos microrganismos no lúmen, que evita que organismos comensais e patógenos invadam a barreira epitelial de mucosa. Essa função é mediada pelos anticorpos IgA diméricos que são secretados para o intestino ou, no caso dos lactantes, LUÍS FELIPE PONSONI – MED UFOB pelo IgA presente no leite ou colostro ingerido. Quantidades significativas de IgG e IgM também estão presentes nesse local. • A resposta imune celular protetora dominante é mediada por células efetoras TH17, que correspondem à maior parte da subpopulação de células T efetoras encontrada na mucosa intestinal. • O principal mecanismo de regulação da imunidade adaptativa do intestino são as células T regulatórias. O sistema imune deve suprimir respostas imunes aos antígenos de alimentos ou dos microrganismos comensais, a fim de não gerar uma inflamação deletéria. Em nenhum outro lugar do corpo há um desempenho tão grande em manter tolerância a antígenos estranhos. Anatomia Funcional do Sistema Imune Adaptativo no Trato Gastrintestinal A anatomia do S.I adaptativo do trato gastrointestinal evoluiu para lidar eficientemente com as condições dessa região: pouco número de patógenos em meio a um grande número de microrganismos comensais. As respostas imunes adaptativas têm início no MALT, onde linfócitos imaturos são expostos a antígenos e diferenciados em células efetoras. As estruturas do GALT mais proeminentes são as placas de Peyer, as quais têm estrutura de folículos linfoides, com centros germinativos contem linfócitos B, células T auxiliares foliculares, células dendríticas foliculares e macrófagos. Os linfócitos B desses centros germinativos são imaturos que expressam IgM e IgD. De modo geral, a proporção de células B para células T no GALT é muito maior do que a proporção correspondente nos linfonodos. Além disso, as estruturas do GALT não são encapsuladas, e existem rotas de apresentação de antígenos a essas estruturas que são independentes de vasos linfáticos. O desenvolvimento das placas de Peyer e folículos isolados na lâmina propria do intestino requer células indutoras inatas do tecido linfoide, que são celulas linfoides inatas que expressam o fator de transcrição RORyT e produzem a citocina linfotoxina-Beta (LTB) As células M, presentes no epitélio da cúpula/epitélio associado ao folículo que recobrem as placas de Peyer e outras estruturas do GALT, são especializadas em transportar os antígenos do lúmen e expô-los às células apresentadoras de antígeno subjacentes(células dendriticas presentes nas regiões das cúpulas das placas de Peyer subjacentes e dos folículos linfoides da lamina própria). As células M são da mesma linhagem das outras celulas epiteliais, porém, se distinguem por terem uma fina camada de glicocálice, seus microvilos irregulares relativamente curtos e pelas grandes fenestrações em suas membranas. tudo isso em conjunto, aumenta a captura de antígenos do lúmenintestinal. As células M apreendem o conteúdo luminal de várias formas, incluindo fagocitose, como os macrófagos, e a endocitose de vesículas cobertas por clatrinas ou de fase liquida. essas vias possibilitam a captura de bactérias inteiras, vírus e produtos microbianos solúveis, que serão liberados por exocitose da membrana basolateral sem passarem por um processamento extenso no citosol da célula M. Alguns microrganismos evoluíram para utilizar as Celulas M ao seu favor, utilizando-as como rota para atravessar a barreira mucosa. As bactérias Salmonella typhimurium, por exemplo, podem se ligar as lectinas expressas nas células M e assim serem internalizadas. As bactérias são citotóxicas para as celulas M, o que leva a formação de lacunas no epitélio intestinal que promovem a invasão de mais microrganismos. Essas lectinas de celulas M também pode ser utilizadas por vírus para romper a barreira epitelial. LUÍS FELIPE PONSONI – MED UFOB Células dendriticas presentes na lâmina propria do intestino podem emitir projeções citoplasmáticas entre as celulas epiteliais, sem que as zonas de oclusões sejam rompidas, para capturar antígenos presentes no lúmen e apresenta-los aos linfócitos no interior do GALT. Diferentemente das células M, as células dendríticas podem processar os antígenos para apresenta-los via MHC para os linfócitos T. As células dendríticas residentes na lâmina propria tbm pode capturar antígenos que penetram entre as células epiteliais. Os linfonodos mesentéricos coletam antígenos trazidos pela linfa que drena o intestino grosso e delgado, e promove a diferenciação de linfócitos efetores e regulatórios que retornam para a lâmina própria. Os linfonodos mesentéricos contêm algumas funções parecidas com a do GALT, como a diferenciação de linfócitos B em plasmócitos secretores de IgA, desenvolvimento de células T efetoras bem como de células T regulatórias. LUÍS FELIPE PONSONI – MED UFOB As tonsilas linguais e palatinas, junto com as tonsilas nasofaríngeas, são estruturas linfoides que pertencentes ao MALT que são conhecidas como o anel de Waldeyer. As tonsilas palatinas e linguais respondem as infecções da mucosa epitelial por meio do aumento do seu tamanho (proliferação de linfócitos) e da produção de anticorpos, principalmente IgA. Embora seja frequentemente associada ao GALT, as tonsilas palatinas e linguais diferem desse por estarem separadas da boca por varias camadas de celulas epiteliais escamosas. HOMING INTESTINAL As funções gastrintestinais dependem grandemente de células B e T geradas no GALT e em linfonodos mesentéricos que tenham a capacidade de recircular e retornar para a lâmina propria, respondendo prontamente aos patógenos. Essa capacidade de retornar especificamente ao intestino requer a expressão de integrinas e receptores de quimiocinas específicos para ligantes do intestino. Nesse sentido, a principal integrina para as células B e T para o homing intestinal é a α4β7, que se adere à proteína de adesão MaDCAM-1, expressa nas celulas endoteliais venulares pós-capilares na lâmina própria do intestino. O homing intestinal também requer o endereçamento via quimiocinas, em que as celulas B e T expressam o receptor CCR9, que reconhece seu ligante CCL25 produzidos pelas celulas epiteliais intestinais. A expressão combinada de MADCAM-1 e CCL25 é restrita ao intestino, e isso determina esse endereçamento específico. As células produtoras de IgA expressam também o receptor CCR10, que reconhece o ligante CCL28, mas essa não é uma via restrita ao intestino, já que o CCL28 é produzido por outras células da mucosa, tais como pulmão e tecido geniturinário. Na doença inflamatória intestinal, o bloqueio de α4β7 com anticorpos específicos tem sido utilizado como medida terapêutica, com base no conhecimento de que as células T efetoras usam essa integrina para entrar nos tecidos intestinais nessa doença. ➔ Esse fenótipo de integrina e receptores de quimiocina das celulas B e T do intestino é induzido pelas células dendríticas do GALT e dos linfonodos mesentéricos que, induzidas pela linfopoetina estromal tímica (TSLP), expressam a retinaldeído desidrogenase (RALDH), que converte a vitamina A da dieta em ácido retinóico. Quando as celulas B e T são ativadas no GALT e nos linfonodos mesentéricos, o ácido retinóico lá presente as induz a expressarem a integrina α4β7 e o receptor CCR9. Vale lembrar que somente as células dendriticas intestinais expressam a retinaldeído desidrogenase. ➔ A lâmina propria é o local efetor da resposta imune adaptativa gastrointestinal, onde estão presentes grande número de células dendríticas, macrófagos, linfócitos B que secretam anticorpos em direção ao lúmen e linfócitos T prontos para responderem aos antígenos. RESPOSTA IMUNE HUMORAL NO TRATO GASTRINTESTINAL LUÍS FELIPE PONSONI – MED UFOB IMUNIDADE HUMORAL NO TRATO GASTROINTESTINAL 1. A principal função da imunidade humoral no trato gastrointestinal é neutralizar os microrganismos luminais; essa função é mediada principalmente por IgA produzida na lâmina própria do GALT e transportada através do epitélio mucoso, via receptores Poli-Ig, até o lúmen. dentro do lúmen, os anticorpos IgA, IgG e IgM se ligam aos antígenos e os neutralizam, impedindo que se liguem a receptores nas células do hospedeiro. Essa forma de imunidade humoral é chamada Imunidade Secretória, e é o mecanismo de proteção induzido nas vacinais orais como a vacina contra pólio. 2. A IgA é produzida em maiores quantidades do que qualquer isotipo de anticorpo. 3. A produção dominante de IgA por plasmócitos intestinais é atribuída, em parte, a indução seletiva de troca de classe para o isotipo IgA no GALT e nos linfonodos periféricos, tanto por mecanismos T dependentes como T independentes. A TGF-B é a principal citocina requerida para a troca de classe para IgA e é produzida por celulas epiteliais intestinais e por células dendríticas no GALT. Várias moléculas que induzem a troca de subtipo para IgA são expressas em resposta a ativação de TLR em células epiteliais intestinais ou células dendriticas do GALT. As bactérias comensais no lúmen produzem ligantes que se ligam aos TLRs apropriados. Por exemplo, a citocina APRIL, que é reconhecida por TACI e faz a troca de IgA e IgG, é produzida por celulas epiteliais intestinais que reconhecem bactérias comensais via TLR. As células epiteliais também produzem TSLP que estimula a produção adicional de APRIL por células dendríticas do GALT. A troca de classe T-dependente da célula B para IgA é estimulada pela ligação do CD40L na célula T ao CD40 na célula B, juntamente à ação do TGF-β. Esta via dependente de células T produz anticorpos IgA de alta afinidade. B, A troca de classe para IgA independente de células T envolve a ativação de células B IgM+IgD+ por células dendríticas, incluindo células B-1. As células dendríticas ativadas pelo ligante de TLR secretam citocinas que induzem a troca de classe para IgA, incluindo BAFF, APRIL e TGF- β. Esta via independente de células T produz anticorpos IgA de afinidade relativamente baixa a bactérias intestinais. LUÍS FELIPE PONSONI – MED UFOB O complexo do receptor de Ig é endocitado para o interior da célula epitelial e, contrariamente aos outros endossomos que tipicamente trafegam para os lisossomos, as vesículas contendo o receptor poli-Ig são direcionadas para a membrana plasmática apical (luminal) da célula epitelial, fundindo-se com ela. Este processo é denominado transcitose. A parte clivada do receptor poli-Ig, denominada componente secretório, permanece associada à IgA dimérica no lúmen. Acredita-se que o componente secretório ligado protege a IgA (e IgM) da proteólisepor enzimas presentes no lúmen intestinal e esses anticorpos são, dessa maneira, capazes de cumprir suas funções de neutralização de microrganismos e toxinas no lúmen. O receptor poli-Ig também é responsável pela secreção de IgA na bile, no leite, no escarro, na saliva e no suor. O transporte da IgG para as secreções mucosas é mediado por outro receptor de transcitose, o receptor Fc neonatal (FcRn), que é capaz de transportar a IgG bidireccionalmente. 1.3 Regulação da Imunidade no Trato Gastrintestinal pelas células T Regulatórias e Citocinas As células Treg participam da regulação da inflamação intestinal e da manutenção dos microrganismos comensais. A indução dessas células requer o reconhecimento de antígenos reconhecidos localmente, além da ação de células dendriticas, contato com ácido retinóico e com a TGF-B. As células Treg suprimem a resposta imune por diversos fatores, entre eles, a citocina IL-10. No caso da regulação da inflamação intestinal dependente de TGF-β e IL-10, evidências indicam que Treg seja uma fonte importante dessas citocinas. Por exemplo, a deleção seletiva do gene da IL-10 em células FoxP3+ conduz à colite grave, mas não a outras manifestações da doença inflamatória, consistente com o papel essencial de IL-10 produzida por Treg na manutenção da homeostase no trato gastrintestinal. É possível que macrófagos produtores de IL-10 sejam outro importante fonte dessa citocina. As células-alvo que expressam os receptores e são reguladas por TGF-β e IL-10 provavelmente incluem células dendríticas, células T efetoras e células efetoras inatas, tais como macrófagos e células epiteliais. A doença inflamatória intestinal em camundongos deficientes em IL-2 ou seu receptor é uma consequência dos LUÍS FELIPE PONSONI – MED UFOB defeitos no desenvolvimento e função de Treg, que necessitam de IL-2. 1.4 Tolerância Oral e Vacinas Orais 1.5 O Papel da Microbiota Comensal na Regulação do Sistema Imune Os organismos comensais no intestino são necessários para regular as respostas imunes inatas no intestino e também influenciam a imunidade inata sistêmica. As células epiteliais reconhecem os PAMPs das bactérias comensais via TLR e, em resposta, secretam mucinas e peptídeos antimicrobianos, que protegem a imunidade de barreira contra patógenos como bactérias gram-positivas. Além disso, produtos bacterianos comensais estimulam a ação de neutrófilos circulantes e macrófagos, bem como estimulam a produção de BAFF, APRIL e ácido retinóico por células dendríticas, que são necessários para a troca de isotipo para IgA, dependente e independente de célula T. 1.6 Doenças Relacionadas a Respostas Imunes no Intestino
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