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Mariana Mendonça de Almeida Imunidade Regional - abbas Os sistemas imunes regionais incluem os sistemas imunes das mucosas, que protegem as barreiras das mucosas gastrintestinal, broncopulmonar e geniturinária, bem como do sistema imune cutâneo (pele). O sistema imune gastrintestinal é o maior e mais complexo. Considerando duas razões simples – o número de linfócitos localizados no tecido e a quantidade de anticorpos produzidos lá –, o sistema gastrintestinal supera todas as outras partes do sistema imune combinadas. Os tecidos mucosos também contêm tecidos linfoides secundários não encapsulados, mas organizados sob a barreira epitelial, que incluem linfócitos B e T, células dendríticas e macrófagos. Estas coleções de células imunes frequentemente denominadas tecido linfoide associado à mucosa (MALT) são locais nos quais respostas imunes adaptativas especializadas para uma determinada mucosa em particular são iniciadas. As respostas imunes adaptativas em sistemas imunes associados a barreiras epiteliais também são induzidas em linfonodos drenantes que estão localizados fora dos tecidos das barreiras. Na pele e nos tecidos mucosos, os antígenos externos à barreira epitelial são capturados pelas células especializadas no epitélio e levados aos linfonodos drenantes ou ao MALT. Os sistemas imunes regionais têm funções regulatórias importantes que servem para prevenir respostas indesejáveis a microrganismos não patogênicos e substâncias estranhas que provavelmente estão presentes em diferentes barreiras. O exemplo mais claro é o sistema imune associado ao intestino, que deve suprimir respostas a bactérias comensais que colonizam a mucosa intestinal, bem como a substâncias estranhas derivadas de alimentos, mas que deve responder a bactérias patogênicas menos frequentes. Imunidade no Sistema Gastrintestinal: O sistema gastrintestinal, como outros tecidos de mucosas, é composto de uma estrutura tubular revestida por uma camada de células epiteliais contínuas sobre uma membrana basal que serve como uma barreira física ao ambiente externo. Abaixo do epitélio, localiza-se o tecido conjuntivo frouxo do intestino denominado lâmina própria, que contém vasos sanguíneos, vasos linfáticos e tecidos linfoides associados à mucosa. A submucosa é uma camada de tecido conjuntivo denso que conecta a mucosa às camadas de músculo liso. Mariana Mendonça de Almeida Imunidade Inata no Trato Gastrintestinal: Células epiteliais intestinais que revestem os intestinos delgado e grosso são parte integrante do sistema imune inato gastrintestinal, envolvidas em respostas a patógenos, tolerância a organismos comensais e amostragem de antígenos para a apresentação ao sistema imune adaptativo no intestino. Existem vários tipos distintos de células epiteliais intestinais, todas derivadas de um precursor comum encontrado nas criptas de glândulas intestinais. Dentre essas estão as células caliciformes secretoras de muco, que residem no ápice das vilosidades intestinais; as células epiteliais absortivas secretoras de citocinas; as células M apresentadoras de antígenos, encontradas em estruturas especializadas em forma de cúpula que recobrem os tecidos linfoides e as células de Paneth secretoras de peptídios antibacterianos, encontradas na porção basal das criptas. Todos esses tipos de células contribuem de diferentes maneiras para a função de barreira da mucosa. A imunidade inata protetora no intestino é mediada, em parte, por barreiras físicas e químicas fornecidas por células epiteliais mucosas e suas secreções de muco. As células epiteliais intestinais adjacentes são unidas por proteínas que formam as junções de oclusão, incluindo a zônula ocludens 1 e claudinas, que bloqueiam o movimento de microrganismos pelos espaços intercelulares até a lâmina Para a saúde ser mantida, o sistema imune mucoso deve ser capaz de reconhecer e eliminar os patógenos numericamente raros, mesmo na presença de números elevados de microrganismos não patogênicos. Esses desafios foram vencidos pela evolução de um conjunto complexo de estratégias de reconhecimento imune inato e adaptativo e mecanismos efetores. Infelizmente, as infecções intestinais por organismos patogênicos não são frequentemente controladas pela imunidade das mucosas e são responsáveis por milhões de mortes por ano em todo o mundo. Mariana Mendonça de Almeida própria. Além disso, as células epiteliais mucosas produzem substâncias antimicrobianas, incluindo as defensinas. Diversos tipos de células localizados na mucosa, incluindo células epiteliais, células dendríticas e macrófagos, são capazes de montar respostas inflamatórias e antivirais. A maioria dessas respostas é induzida pela interação entre receptores de reconhecimento de padrões moleculares associados a patógenos e ligantes microbianos. De modo interessante, alguns receptores da imunidade inata que promovem inflamação em outras partes do corpo têm ações anti-inflamatórias no intestino. Diversas proteínas extensamente glicosiladas, denominadas mucinas, formam uma barreira física viscosa que previne o contato entre microrganismos e células do trato gastrintestinal. As mucinas contêm diferentes oligossacarídios O-ligados e incluem glicoproteínas secretadas e de superfície celular. As mucinas secretadas, incluindo MUC2, MUC5 e MUC6, formam um gel hidratado que tem duas camadas, elas previnem o contato entre microrganismos e as células de revestimento do epitélio e também servem como uma matriz para exposição de substâncias antimicrobianas produzidas por células epiteliais. A barreira mucosa do intestino sofre renovação e alterações químicas em resposta a vários sinais ambientais e imunes, que permitem rápido aumento na função da barreira mucosa. Diversos estímulos ambientais e imunes podem induzir o aumento drástico na produção de mucina. Esses estímulos incluem citocinas (IL-1, IL-4, IL-6, IL-9, IL-13, fator de necrose tumoral [TNF] e interferons do tipo I), produtos de neutrófilos (tais como elastase) e proteínas de adesão microbiana. Esses estímulos aumentam não apenas a expressão gênica de mucina, mas também alteram a glicosilação das mucinas em virtude das alterações induzidas na expressão de enzimas glicosiltransferases. Acredita-se que as alterações na quantidade e glicosilação das mucinas aumentem sua função de barreira contra patógenos. As defensinas produzidas por células epiteliais intestinais fornecem proteção imune inata contra bactérias luminais, e os defeitos na sua produção estão associados à invasão bacteriana e doença inflamatória intestinal. As defensinas são peptídios produzidos por vários tipos celulares no corpo que exercem efeitos tóxicos letais em microrganismos por inserirem e causarem perda da integridade das membranas fosfolipídicas externas dos patógenos. No intestino delgado, as principais defensinas são as α-defensinas, incluindo as defensinas 5 humana (HD5) e HD6, produzidas constitutivamente como Mariana Mendonça de Almeida proteínas precursoras inativas por células de Paneth localizadas na base das criptas entre as microvilosidades. No cólon, as β-defensinas são produzidas por células epiteliais absortivas nas criptas intestinais, algumas constitutivamente e outras em resposta a IL-1 ou a bactérias invasivas. Além disso, os grânulos neutrofílicos são ricos em α-defensinas, que provavelmente contribuem para as funções antimicrobianas nos locais de infecção da parede intestinal. As células de Paneth e outras células epiteliais do intestino também secretam uma lectina do tipo C chamada proteína γ derivada de ilhas de regeneraçãoIII γ (REGIIIγ), que bloqueia a colonização bacteriana na superfície epitelial. Os receptores do tipo Toll (TLRs) e receptores do tipo NOD citoplasmáticos (NLRs) expressos por células epiteliais intestinais promovem respostas imunes a patógenos invasores, mas também limitam respostas inflamatórias a bactérias comensais. TLRs e NLRs são receptores celulares que reconhecem padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs) produzidos por microrganismos e que geram sinais promotores de respostas inflamatórias e antivirais pelas células. Como as respostas inflamatórias que envolvem as células epiteliais intestinais podem prejudicar a função de barreira e levar à invasão bacteriana e à inflamação patológica, os mecanismos de controle rigorosos se desenvolveram para limitar as respostas pró-inflamatórias induzidas por TLRs a bactérias comensais. Células epiteliais do intestino expressam uma grande variedade de TLRs, incluindo TLRs 2, 4, 5, 6, 7 e 9, com diferentes receptores expressos em distintas regiões do intestino. A ligação de alguns TLRs resulta em fosforilação e reorganização da zona ocludens 1 e maior resistência das junções de oclusão entre as células epiteliais. A sinalização dos TLRs também aumenta a motilidade e proliferação do epitélio intestinal. Essas respostas funcionais à sinalização do TLR aumentam a função de barreira, mas não a inflamação. As respostas ao TLR no intestino também parecem ser reguladas por níveis de expressão ou expressão compartimentalizada somente em determinados locais. Por exemplo, TLR5, que reconhece flagelinas de bactérias, é exclusivamente expresso na superfície basolateral de células epiteliais intestinais, acessível apenas às bactérias que invadiram e transpuseram a barreira. Os receptores de reconhecimento de padrões moleculares que reconhecem a flagelina bacteriana são concentrados no citoplasma (NLR) ou na membrana basal (TLR5) de células epiteliais intestinais, mas não na membrana apical/luminal, e assim não reconhecem microrganismos do lúmen. Mariana Mendonça de Almeida • Em indivíduos saudáveis, células dendríticas e macrófagos na lâmina própria do intestino inibem a inflamação e servem para manter a homeostase. • Células linfoides inatas que produzem IL-17 e IL-22 são encontradas principalmente na mucosa intestinal e contribuem para a defesa imune contra algumas bactérias, bem como para a função da barreira epitelial mucosa. Imunidade Adaptativa no Trato Gastrintestinal: O sistema imune adaptativo no trato gastrintestinal tem características que são distintas das funções imunes adaptativas em outros sistemas orgânicos. A principal forma de imunidade adaptativa no intestino é a imunidade humoral direcionada aos microrganismos no lúmen, que evita que organismos comensais e patógenos colonizem e invadam a barreira epitelial mucosa. Esta função é mediada pelos anticorpos IgA diméricos que são secretados para o lúmen do intestino ou, no caso de lactentes, a IgA que é secretada no colostro e no leite materno e ingerida pelo bebê. Quantidades significativas de anticorpos IgG e IgM também estão presentes no lúmen intestinal e contribuem para a imunidade humoral nesse local. • A resposta imune celular protetora dominante é mediada por células efetoras TH17, que correspondem à maior parte da subpopulação de células T efetoras encontrada na mucosa intestinal . • O principal mecanismo para controle das respostas no intestino é a ativação das células T regulatórias (Treg). O sistema imune adaptativo no intestino deve suprimir continuamente as respostas imunes potenciais aos antígenos alimentares e antígenos de microrganismos comensais para prevenir reações inflamatórias que poderiam comprometer a barreira mucosa. Anatomia Funcional do Sistema Imune Adaptativo no Trato Gastrintestinal: As respostas imunes adaptativas no intestino são iniciadas em populações distintamente organizadas de linfócitos e células apresentadoras de antígenos intimamente associadas ao revestimento epitelial mucoso do intestino e nos linfonodos mesentéricos. Linfócitos imaturos são expostos a antígenos nesses locais e diferenciados em células efetoras. Esses tecidos linfoides associados ao intestino que são adjacentes ao epitélio mucoso recebem, algumas vezes, a denominação GALT. As estruturas do Mariana Mendonça de Almeida GALT mais proeminentes são as placas de Peyer, encontradas principalmente no íleo distal e em pequenos agregados dos folículos linfoides ou folículos isolados no apêndice e no cólon. As placas de Peyer têm a estrutura de folículos linfoides, com centros germinativos contendo linfócitos B, células T auxiliares foliculares, células dendríticas foliculares e macrófagos. De modo geral, a proporção de células B para células T no GALT é aproximadamente cinco vezes maior que nos linfonodos. Também de maneira distinta dos linfonodos, as estruturas do GALT não são encapsuladas e existem rotas de apresentação de antígenos a essas estruturas que são independentes dos linfáticos. A principal via de exposição do antígeno do lúmen para o GALT ocorre por meio das células especializadas no interior do epitélio intestinal, denominadas células de micropregas (M). As células M estão localizadas em regiões do epitélio intestinal, denominadas epitélio da cúpula ou associado ao folículo, que recobrem as cúpulas das placas de Peyer e outras estruturas do GALT. As células M são células epiteliais intestinais especializadas encontradas no epitélio do intestino delgado que recobre as placas de Peyer e os folículos linfoides da lâmina própria. Diferentemente das células epiteliais vizinhas com bordas de microvilosidades altas e funções primariamente absortivas, as células M apresentam vilosidades mais curtas e se encarregam em transportar microrganismos intactos ou moléculas através da barreira mucosa até os tecidos linfoides associados ao intestino, onde são entregues às células dendríticas. Embora as células M tenham um papel importante na imunidade protetora contra microrganismos luminais, alguns microrganismos evoluíram de forma a tirarem vantagem das células M como rota de invasão pela barreira mucosa. Antígenos microbianos no lúmen intestinal podem ser capturados por células dendríticas. Essas células apresentadoras de antígenos podem promover respostas imunes adaptativas a patógenos no lúmen. Ao contrário das células M, essas células dendríticas são capazes de processar e apresentar antígenos proteicos a células T no interior do GALT. As células dendríticas estão presentes na mucosa intestinal e reconhecem os antígenos que são apresentados às células T no GALT e nos linfonodos mesentéricos. Algumas células dendríticas estendem projeções citoplasmáticas entre as células epiteliais intestinais em direção ao lúmen para reconhecer antígenos. Os macrófagos também podem reconhecer antígenos luminais dessa maneira. Mariana Mendonça de Almeida Os linfonodos mesentéricos têm algumas funções iguais às do GALT, incluindo diferenciação de células B em plasmócitos secretores de IgA e desenvolvimento de células T efetoras, bem como de células T regulatórias. • Os linfócitos efetores que são gerados no GALT e nos linfonodos mesentéricos possuem propriedades seletivas de homing intestinal, dependentes de integrinas e de receptores de quimiocinas, fazendo-os circular do sangue de volta para a lâmina própria do intestino. As propriedades de homing intestinal dos linfócitos efetores são determinadas nos tecidos linfoides, onde sofrem diferenciaçãoa partir de precursores imaturos. • A lâmina própria contém linfócitos efetores, células dendríticas e macrófagos distribuídos difusamente e é o local da fase efetora das respostas imunes adaptativas gastrintestinais. • A principal função da imunidade humoral no trato gastrintestinal é neutralizar os microrganismos luminais, e essa função é mediada principalmente pela IgAproduzida no GALT e transportada através do epitélio mucoso para o lúmen. Quantidades pequenas, mas significativas de IgG e IgM também são secretadas para o lúmen intestinal. Dentro do lúmen, anticorpos IgA, IgG e IgM se ligam a microrganismos e toxinas e os neutralizam, prevenindo sua ligação a receptores em células do hospedeiro. • A IgA é produzida em maiores quantidades do que qualquer outro isótipo de anticorpo. Esse fato deve-se ao grande número de plasmócitos produtores de IgA no GALT, que, de acordo com algumas, estimativas, representa em torno de 80%de todos os plasmócitos produtores de anticorpos no corpo. As células T têm papel importante na proteção contra patógenos microbianos no sistema gastrintestinal e na regulação das respostas a antígenos alimentares e de organismos comensais. Além disso, as células T contribuem para as doenças inflamatórias do trato gastrintestinal. Como em outras partes do corpo, a imunidade mediada por células T no intestino envolve diferentes subpopulações de células T e é influenciada de diversas formas por células dendríticas apresentadoras de antígenos, que também pertencem a diferentes subpopulações. As células T são encontradas no interior da camada epitelial do intestino, espalhadas por toda a lâmina própria e submucosa, nas placas de Peyer e em outras coleções organizadas de folículos. Em humanos, a maioria das células T intraepiteliais corresponde a células CD8+. Mariana Mendonça de Almeida As células T da lâmina própria em sua maioria são CD4 + e a maior parte tem o fenótipo de células T efetoras ativadas ou de memória, sendo a última com fenótipo efetor de memória. Lembre-se de que essas células T efetoras e de memória da lâmina própria são geradas a partir precursores imaturos no GALT e nos linfonodos mesentéricos, entram na circulação e preferencialmente retornam para a lâmina própria. As células T no interior das placas de Peyer e em outros folículos adjacentes ao epitélio intestinal são em grande parte células T auxiliares CD4 + , incluindo células T auxiliares foliculares e células T regulatórias. As células dendríticas e os macrófagos são abundantes no sistema imune gastrintestinal e podem participar da estimulação das respostas protetoras de células T efetoras ou da indução de respostas das células T regulatórias que suprimem a imunidade aos antígenos ingeridos e aos organismos comensais. • As células dendríticas que capturaram antígenos migram, através da linfa, para os linfonodos mesentéricos, onde apresentam antígenos proteicos processados a células T imaturas e induzem a diferenciação dessas células T em células efetoras produtoras de IFN-γ, IL-17 ou IL-4, ou em células Treg FoxP3 + . • Os macrófagos do tecido intestinal também podem promover a expansão local de células T regulatórias. A capacidade das células dendríticas e de macrófagos para direcionar a indução ou expansão de células T regulatórias é dependente da capacidade para produzir TGF-β e ácido retinoico durante a apresentação de antígeno às células T. As células T regulatórias são abundantes no GALT e previnem as reações inflamatórias contra microrganismos comensais no intestino. Várias citocinas, incluindo TGF-β, IL-10 e IL-2, parecem ter papéis cruciais na manutenção da homeostase no sistema imune do intestino e deficiências nessas citocinas ou em seus receptores resultam na inflamação intestinal patológica. Mutações nos genes que codificam IL-10 e o receptor de IL-10 também estão associadas à colite grave em crianças, confirmando a importância da IL-10 em prevenir a inflamação intestinal patológica em humanos.
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