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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES LICENCIATURA PLENA EM LETRAS HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA ANA COELY MENDES MOREIRA LETRAMENTO DIGITAL E O USO DA TECNOLOGIA: FORMAÇÃO DOCENTE PARA/NA MEDIAÇÃO DO CONHECIMENTO SISTEMÁTICO DE LÍNGUA MATERNA JOÃO PESSOA-PB 2013 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES LICENCIATURA PLENA EM LETRAS HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA ANA COELY MENDES MOREIRA LETRAMENTO DIGITAL E O USO DA TECNOLOGIA: FORMAÇÃO DOCENTE PARA/NA MEDIAÇÃO DO CONHECIMENTO SISTEMÁTICO DE LÍNGUA MATERNA Trabalho apresentado ao Curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) como requisito para obtenção do grau de Licenciado em Letras, habilitação em Língua Portuguesa. Orientador: Professor Doutor Denilson Pereira de Matos. JOÃO PESSOA-PB 2013 Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal da Paraíba. 3 Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA). LETRAMENTO DIGITAL E O USO DA TECNOLOGIA: FORMAÇÃO DOCENTE PARA/NA MEDIAÇÃO DO CONHECIMENTO SISTEMÁTICO DE LÍNGUA MATERNA Moreira, Ana Coely Mendes. Letramento digital e o uso da tecnologia: formação docente para/na mediação do conhecimento sistemático de língua materna/ Ana Coely Mendes Moreira. - João Pessoa, 2013. 43f. : il. Monografia (Graduação em Língua Portuguesa) – Universidade Federal da Paraíba - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Orientador: Prof. Dr.Denilson Pereira de Matos. 1. Língua materna.2.Aulas de Língua Portuguesa -Uso das tecnologias. 3. Letramento digital. I. Título. BSE-CCHLA CDU 81’242 4 Trabalho apresentado ao Curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal da Paraíba como requisito para obtenção do grau de Licenciado em Letras, habilitação em Língua Portuguesa. Data de aprovação: 28/08/2013 Banca examinadora Prof.º Dr. Denilson Pereira de Matos. DLCV/UFPB Orientador Prof.º Me. Fábio Pessoa. PROLING/UFPB Examinador Prof.ª Oriana de Nadai Fulaneti. DLCV/UFPB Examinador Prof.ª Dra. Rosana Costa. DLCV/UFPB Suplente 5 Ao meu Deus Salvador, por tudo que tem me proporcionado, por sua mão amiga que me tem sustentado nos momentos mais difíceis, sem Ele jamais teria concluído este trabalho. Aos meus pais pelo incentivo aos estudos, desde a infância, e pelo apoio incessante, pois sem eles jamais teria conseguido realizar esse sonho. Dedico 6 AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar ao meu Deus Todo Poderoso, pela oportunidade que a mim concedeu de começar a trilhar um caminho evolutivo. Como também, por me propiciar tantas oportunidades de aprendizagem colocando em meu caminho pessoas especiais e amigas que me ajudam a crescer e dar frutos e por tudo mais que não conseguiria expressar em palavras. Grandes coisas têm feito o Senhor por mim e com isso muito me alegro. A minha família: meu pai Alturimar Moreira, minha mãe Regina Coely Mendes Moreira, ao meu irmão Alturimar Rodrigues Segundo e a minha avó Josita Mendes, que me apoiaram em muitas noites de estudo, pelas orações intercedidas e por todo tempo de dedicação a minha formação social. Estes são minhas maiores conquistas, pois juntos superamos todos os obstáculos com muito amor, companheirismo e dedicação. As minhas amigas Juliette Nascimento, Poliana Ferreira, Helciele Cavalcante e Matilde Mendes que com seus conselhos e experiências me motivaram a nunca desistir. Ao meu amigo Jaaziel Borges pela ajuda na construção estrutural deste trabalho e por todas as palavras de motivação. Ao meu orientador, pelo apoio, compreensão e competência. Enfim, a todos os amigos de curso, funcionários e outros professores que me ajudaram, direta ou indiretamente, a conquistar esse importante passo profissional. Deus abençoe a todos! 7 RESUMO Esta monografia, intitulada Letramento Digital e o uso da Tecnologia: Formação Docente para/na mediação do conhecimento sistemático de língua materna, visa apresentar algumas reflexões teóricas sobre o ensino institucionalizado de língua materna sob a óptica do letramento digital, destacando a inserção do uso das tecnologias nas aulas de língua portuguesa. Haja vista que, as modernas teorias acerca da aprendizagem, já reconhecem a importância das experiências extraescolar do aluno para a amplitude do seu letramento. Deste modo, é a escola, em especial o professor de língua materna, que possui a função de possibilitar ao aluno condições para que ele desenvolva cada vez mais as habilidades de leitura e de escrita, as quais se cernem em situações sociais concretas. O interesse para realização desse trabalho partiu da participação no projeto “Letramento: teoria e prática na formação do professor cidadão”, da qual selecionamos parte do corpus a ser analisado. Como aporte teórico, estudamos autores como Bagno (2002), Tomé (2012), Soares (1998), Matos (2010, 2012), entre outros, cujas concepções de letramento e a função do ensino de língua materna são vistas sempre em virtude de práticas sociais. Neste trabalho, apresentaremos o letramento digital discutindo sobre sua relevância para o processo ensino/aprendizagem, a partir das observações dos discentes da graduação em Letras/Português da UFPB e de alunos da educação básica de instituições públicas e privadas da cidade de João Pessoa/PB. De modo a identificar as lacunas presentes entre a formação e a prática docente pela ausência do conhecimento sobre o letramento, com enfoque na utilização dos materiais tecnológicos e/ou espaços digitais como auxiliadores para aprendizagem. Neste sentido, acreditamos que o professor de língua materna, dependendo do modo como utiliza as tecnologias, influenciará ou não seu aluno a construir/ampliar seus diversos tipos de letramento(s), em especial os relacionados ao contínuo desenvolvimento de suas habilidades de leitura e de escrita mediante o intensivo uso dos aparelhos tecnológicos e da participação em ambientes virtuais. Palavras-chave: letramento digital, formação do professor, aulas de língua materna, prática docente, uso das tecnologias. 8 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 09 Objetivo Geral ..................................................................................................... 11 Objetivos Específicos ........................................................................................... 11 Justificativa ........................................................................................................... 13 Metodologia.......................................................................................................... 14 2. ÂMBITO EDUCACIONAL: DO LETRAMENTO AO LETRAMENTO DIGITAL ............................................................................................................ 16 2.1 LETRAMENTO(S)...............................................................................................17 2.2 LETRAMENTO DIGITAL E ENSINO DE LÍNGUA MATERNA................... 19 3. FORMAÇÃO DOCENTE E O ENSINO.......................................................... 22 3.1 O PROFESSOR DE PORTUGUÊS E AS TECNOLOGIAS.............................. 27 3.2 APRENDIZAGEM: PERFIL DO ALUNO......................................................... 31 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 33 5. REFERÊNCIAS................................................................................................... 36 6. ANEXO................................................................................................................. 38 7. APÊNCIDE........................................................................................................... 39 9 1. INTRODUÇÃO O contexto cultural atual da sociedade, com o avanço tecnológico, vem sofrendo relevantes evoluções em função das necessidades sociais inerentes à pós-modernidade iniciada no final do século XX. Por isso, pensadores e estudiosos de vários ramos das ciências humanas utilizam-se das ciências tecnológicas para repensar sobre os paradigmas teóricos já existentes, na tentativa de direcionar os cidadãos a atuarem nas diferentes esferas de inserção social que eclodem neste novo século, destacando-se a virtual, que suscitou inúmeras mudanças nas práticas cotidianas vigentes. Em vista disso, no que se refere ao âmbito educacional, no discurso dos especialistas das ciências Linguística e Educação priorizou-se, a partir dessas indagações, reflexões sobre a educação formal/sistemática. Nesta mesma lógica, Tomé (2012) afirma que: Cabe assim, à didática, à pedagogia e às teorias da aprendizagem e não à ciência informática, escolherem quais os recursos tecnológicos, quais os meios de interação e mediação que possibilitam e sirvam os métodos e estratégias de ensino para todos os alunos, a fim de melhorar significativamente a aprendizagem (TOMÉ, 2012, p. 150). Em pesquisas recentes, realizadas pelo autor, um dos problemas encontrados para a utilização de ferramentas virtuais por parte do professores é o fato de muitos deles ou a maioria serem “imigrantes digitais”, isto é, nasceram antes de 1981, ano do primeiro computador comercializado. Enquanto os alunos, por serem “nativos digitais”, em sua maioria, chegam a possuir maiores competências digitais se comparadas as do professor. Deste modo, os alunos utilizam diariamente muitos espaços gerenciados pela web 2.0, os quais permitem e encorajam esses usuários à participação, ou melhor, estimulam-nos a colaborarem com processos de interação complexos nos quais comportamentos, competências e habilidades sofrem transformações, dentre elas as habilidades de leitura e de escrita, em função de uma interação bem sucedida entre os sujeitos/usuários. Como é o caso das redes sociais, dos bloggers, wikis e etc. Assim sendo, a escola, em especial o professor, precisa considerar a inclusão digital como um processo que antecede qualquer discussão acerca da relação ensino/aprendizagem. O uso das tecnologias em sala de aula através dos aparelhos e/ou meios digitais utilizados pelo professor precisa ser auxiliador de recursos pedagógicos para ele, a fim de oferecer ao aluno suportes alternativos de aprendizagem. Deste modo, o professor não pode 10 “deletar” o conhecimento a cerca dos Sistemas Interativos de Comunicação (SIC)1 presentes nos meios digitais, como também não pode deixar de valorizar a utilização dos novos procedimentos didáticos pedagógicos, frutos desses novos espaços presentes no cotidiano, em especial do aluno. O professor precisa se desarmar para essa nova realidade de interação social que se configura através dos espaços digitais, pois ele é responsável pela inclusão digital na sala de aula, como também, e, principalmente, pela forma como o aluno enxerga e/ou utiliza as tecnologias em função do conhecimento sistemático. Nesta mesma ambiência reflexiva, Kenski (2003) afirma que: É necessário, sobretudo, que os professores se sintam confortáveis para utilizar esses novos auxiliares didáticos. Estar confortável significa conhecê- los, dominar os principais procedimentos técnicos para sua utilização, avaliá- los criticamente e criar novas possibilidades pedagógicas, partindo da integração desses meios com o processo de ensino. (KENSKI, 2003, p.77) A interação entre o aluno e o professor, para que a aprendizagem aconteça implica uma mediação do conhecimento de maneira adequada, que se dá de diversas formas. Por isso, o objetivo do ensino é possibilitar aos alunos uma aprendizagem que se cerne a relação entre o contexto sociocultural e o institucionalizado, isto é, o conhecimento prévio que eles trazem a partir de suas experiências extraescolares e os conteúdos programáticos mediados pelo professor. No que se refere ao ensino de língua materna, no nosso caso do Português, o professor precisa favorecer aos alunos a elevação dos seus níveis/graus de letramento, de modo a ser um condutor diante das diversas mudanças existentes atualmente na sociedade. Nesta mesma lógica, Kleiman (2006, p. 08) afirma que o professor é “[...] um promotor das capacidades e recursos de seus alunos e suas redes comunicativas para que participem das práticas sociais de letramento, das práticas de uso da escrita situadas, das diversas instituições." Assim sendo, ver-se a necessidade do professor repensar sua prática buscando novos conhecimentos extraconteúdos e, consequentemente, as suas formas de mediar o conteúdo, transformando-se e inserindo-se nas diferentes mudanças tecnológicas sociais existentes, as quais poderão ser verdadeiras aliadas no processo ensino/aprendizagem. 1 Segundo Tomé (2012, p.149) “a conceituação de Sistemas Interativos de Comunicação (SIC) encobre e inclui o conceito de Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC), pois, embora sejam sistemas interativos de comunicação com origem na informática sua complexidade e riqueza ultrapassa uma visão mecanizada do processo e dos procedimentos tecnológicos. Neste sentido, engloba o “vector tecnológico”: as mídias digitais, os programas à telemática com vectores comunicacionais e educativos”. 11 A escola, em especial o professor, possui uma função essencial na formação da construção intelectual e social dos alunos, não só em nível de conhecimento sistemático, mas, sobretudo, no modo como o aluno poderá desenvolver-se em sua vida social por meio deste conhecimento, gerando, de fato, uma aprendizagem eficaz resultante de um ensino verdadeiramente contextualizado. Acreditamos que o professor além de condutor é um grande influenciador, bem como formador de novas maneiras de perceber-se e inserir-se no mundo. Destarte, a utilização do espaço digital na sala de aula poderá viabilizar momentos bem mais criativos e construtivos. Se o professor conseguir conduzir o aluno, certamente estará formando este aluno e estimulando-o a agir conscientemente ao usar o espaço digital, também fora da sala de aula. Segundo as Orientações Curriculares Nacionais do Ensino Médio – OCNEM (2006): [...] cabe à escola, junto com os professores, precisar os conteúdos a serem transformados em objetos de ensino e de aprendizagem bem como os procedimentos por meio dos quais se efetivará sua operacionalização. (OCNEM, 2006, p. 35, ênfase nosso) Nesta óptica, como objetivo geral, refletiremos sobre a importância do letramento digital no que se refere ao processo de ensino/aprendizagem, com ênfase na postura do professorde língua portuguesa. E como objetivos específicos: a) apresentar o conceito de letramento digital, discutindo sobre a relevância teórica e prática do letramento para o processo ensino/aprendizagem; b) Identificar as lacunas presentes na relação entre a formação e o ensino quanto à utilização dos materiais tecnológicos e/ou espaços digitais como recursos auxiliadores para aprendizagem, considerando a visão de alunos da graduação em Letras e da educação básica sobre o tema. O problema norteador desta pesquisa é: de que forma os futuros professores e os em atuação compreendem e utilizam as novas tecnologias e quais algumas lacunas existentes entre a formação e o ensino para uma aprendizagem contextualizada à luz do letramento digital. Deste modo, partimos da ideia de que o professor exerce influência fundamental no modo como os alunos utilizam o espaço digital, dependendo da maneira como o professor trabalha os aparatos tecnológicos dentro da sala de aula, como também, na sua interação social com os alunos dentro dos ambientes virtuais. Visto que, é de extrema importância o conhecimento sobre o letramento para o processo ensino/aprendizagem. Pretendemos discutir sobre algumas lacunas existentes entre a formação e o ensino no que diz respeito ao letramento digital, a partir do recorte de pesquisa ora delimitado. Pois, 12 acreditamos que esse seja um relevante caminho alicerçante na discussão do nosso propósito de pesquisa. Identificaremos tais lacunas por meio de depoimentos de alunos da graduação em Letras; e da opinião de alunos da educação básica sobre as influências do uso de dispositivos e ambientes virtuais utilizados pelo professor para a aprendizagem, buscando relacionar teoria e prática, isto é, formação, ensino e aprendizagem. Para o desenvolvimento deste trabalho, a priori, nos voltamos às leituras que nos fornecem um aparato teórico, a fim de que possamos trabalhar a questão do processo ensino/aprendizagem neste novo contexto. Nosso aporte teórico fundamenta o letramento digital como um direcionador na relação entre a teoria e a prática docente, de modo a possibilitar uma aprendizagem construtiva, que tome enquanto ponto de partida o conhecimento prévio do aluno direcionando-o aos níveis cada vez mais elevados de letramento(s), resultante da ponte que o professor constrói com o aluno, levando-se em consideração o sujeito, a cultura e as práticas em que se insere uma determinada sociedade e comunidade. Para tanto, selecionamos autores como Bagno (2002), Tomé (2012), Pedro Demo (2006), Soares (1998), Matos (2010, 2012), Moura (2005), entre outros que discorrem sobre a temática do letramento e/ou letramento digital, no que diz respeito ao ensino e à formação docente como condutor da aprendizagem. Nosso trabalho, inicialmente, suscita a importância do conhecimento sobre o letramento e letramento digital nas academias, pois de acordo com Matos (2010, p. 04): Convém acrescentar, no entanto, que tais dificuldades também podem ser atribuídas à lacuna que há entre as exigências escriturais da academia e a falta de metodologias que norteiem tais práticas, além, de uma base, por vezes comprometida, na instituição que ocorre antes do ensino superior: currículos e ementas sugerem a formação de alfabetizados, sem a garantia de se formarem letrados. No que se refere à relevância das teorias apontadas, na parte de discussão dos dados, realizamos entrevistas com os discentes do Curso Letras/Português da UFPB e com alunos de Ensino Fundamental do 9º ano de instituições públicas e privadas da Cidade de João Pessoa- PB buscando relacionar formação, ensino e aprendizagem à luz do letramento digital. 13 Parte deste corpus faz parte do projeto de pesquisa realizado na UFPB 2 , intitulado por “Letramento: Teoria e Prática na formação do Professor cidadão”. Neste há questionamentos que revalidam a relevância do letramento para a formação docente. A última parte do corpus é resultante de uma pesquisa realizada com os alunos da pesquisadora, a qual consiste em opiniões e posicionamentos deles sobre os impactos e influências do espaço digital frente ao ensino e a aprendizagem. Como justificativa para realização deste trabalho monográfico, partindo de um interesse pessoal enquanto aluna na graduação e professora iniciante, pudemos perceber nitidamente as lacunas existentes desde a formação docente à mediação/condução do conhecimento no espaço escolar, levando em consideração os novos e infinitos meios de auxílio na construção do conhecimento frente aos avanços tecnológicos existentes atualmente. Inicialmente no que se refere ao desenvolvimento metodológico desse trabalho, o que levou a desenvolver esta monografia foi à participação como bolsista no projeto de pesquisa, citado anteriormente, filiado ao Programa de Apoio às Licenciaturas (PROLICEN), no qual participamos trabalhando com reflexões a cerca do plano de formação e prática docente. O foco era verificar a teoria do letramento presente nas ementas e entrevistar professores a fim de investigar suas práticas relacionadas à luz do letramento. Analisamos as ementas e as entrevistas realizadas com discentes do curso de Letras/Português da UFPB do ano de 2010 e reavaliamos no ano de 2012, buscando apresentar uma discussão sobre: os cursos de formação docente e sua qualidade; como os currículos são organizados; e como se dá a construção da identidade do professor que se pretende formar. Ademais, podemos ressaltar as entrevistas realizadas com alunos, os quais estão cursando o 9º ano do ensino fundamental e que participarão de exames seletivos para ingressar no ensino médio, com o objetivo de relacionar a postura do professor mediante a visão do aluno no que se refere à utilização das tecnologias no espaço sala de aula. A segunda parte de análise dessa pesquisa foi fruto de uma necessidade vivenciada pela pesquisadora com seus os alunos, tanto de instituições públicas quanto de escolas privadas, os quais possuem bastantes habilidades técnicas com o manuseio de aparelhos tecnológicos, no entanto não os utilizam como auxiliadores para seu crescimento intelectual e social. Deste modo, enquanto agente social responsável pela transformação social 2 Projeto de pesquisa filiado ao PROLICEN, desenvolvido e coordenado pelo professor doutor Denilson Pereira de Matos desde 2010. Esse projeto busca avaliar, verificar e analisar o programa das disciplinas pedagógicas do curso de Letras/Português, a importância da inclusão de abordagem do letramento para formação docente e atuação dos alunos licenciados que atuam na rede publica do estado da Paraíba, respectivamente, concebendo o letramento enquanto prática social. 14 da vida dos alunos, encontramos essa necessidade advinda das condições empíricas dos mesmos. Assim sendo, pretendemos adotar quanti-qualitativamente uma pesquisa de caráter exploratório, a priori, revisamos as leituras que embasaram as reflexões trazidas acerca do tema letramento e letramento digital. A posteriori, analisamos o corpus da pesquisa sempre buscando relacionar a teoria do letramento a reais práticas presentes nas instituições, tanto de formação (universidade) quanto de ensino básico (escola). Como também, apresentamos dados estatísticos que a validez dessa pesquisa. O corpus dessa pesquisa tem como sujeitos futuros professores/ discentes da UFPB e alunos de escolas públicas e privadas da cidade de João Pessoa-PB, respectivamente. Para a análise, procuramos no corpus fornecido questões que validassem nossas reflexões teóricas sobre a importância da inclusão do letramento digital nos moldes educacionaisdo ensino, em especial no ensino de língua materna. O instrumento de coleta foi questionários realizados com os alunos para encontrar as lacunas existentes na relação entre a postura docente do professor de língua materna, ao utilizarem os suportes tecnológicos e a opinião dos alunos sobre o assunto, por serem aqueles que concebem a aprendizagem. No segundo momento da pesquisa, voltamo-nos à postura do professor e sua relação com as tecnologias, de modo a verificar a presença ou ausência da utilização das tecnologias e, se há utilização, com que frequência se dá esse uso. Assim, investigamos a utilização das tecnologias; os materiais tecnológicos utilizados e suas implicações na mediação do conhecimento nas aulas de língua portuguesa. Deste modo, presumimos, pela falta do conhecimento de abordagem sobre o letramento desde a formação, que os professores que utilizam as tecnologias em sala de aula o fazem de maneira superficial, isto é, utilizando-as apenas como uma maneira de substituição dos suportes e/ou materiais didáticos pedagógicos. Neste sentido, ver-se a necessidade do conhecimento do letramento para a formação e prática docente. Uma vez que, ao utilizar os meios tecnológicos, antes de tudo, o professor precisa transformar dispositivos/aparelhos em ferramentas auxiliadoras para mediação do conhecimento, revendo sua prática, a fim de oferecer ao aluno outras maneiras dinâmicas e eficazes de aprendizagem, as quais não anulam outras, mas enriquece as estratégias do ensino. Diante disso, destacamos o professor como agente essencial no desenvolvimento escolar e social do aluno, pois durante toda pesquisa verificamos a importância do professor para formação social do educando. Acreditamos que este estudo contribuirá para verificarmos a importância do Letramento para formação e prática do professor, o qual exerce influência sobre o(s) 15 letramento(s) incalculável(is) que o aluno pode desenvolver. Embora, muitas vezes o próprio professor não se dê conta que está diante de uma turma de adolescentes em formação e que ele pode, por meio de atividades e de sua postura, influenciá-los de modo positivo ou de modo negativo em relação a vários objetos e objetivos. Destarte, dentre eles, destacamos a utilização das tecnologias frente ao conhecimento sistemático de língua portuguesa. 16 2. ÂMBITO EDUCACIONAL: DO LETRAMENTO AO LETRAMENTO DIGITAL Letramento é um conceito suficiente quanto à ambiência reflexiva da necessidade de se conceber as habilidades de leitura e de escrita em situações concretas, sejam estas presenciais ou virtuais, pois pertence a um plano conceitual relacional contínuo. A leitura de mundo precede a leitura da palavra (FREIRE, 1989, p.20), ao passo que a leitura da palavra permite a continuidade da leitura de mundo, bem como a ampliação dos níveis de letramento(s). Neste sentido, mediante o atual contexto em que se configuram a instituição escolar e a realidade do aluno nesse novo tempo, acreditamos que um passo importante para contribuição de uma significativa aprendizagem é tornar de fato os aparelhos tecnológicos e as TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) acessíveis e auxiliadoras na construção social dos alunos, através de adequados métodos que prevejam as peculiaridades de cada nível escolar, cada escola, cada sala de aula, em especial cada aluno, propiciando acesso e utilização a toda comunidade escolar (alunos e professores). Observa–se que dentro deste novo contexto o aluno precisa encontrar um elo/eixo entre o seu mundo/contexto(s) e o conhecimento mediado pelo professor. No Brasil, desde a segunda metade dos anos de 1980, dentre os vários temas e propostas educacionais sugeridas e discutidas, o termo letramento surge como uma nova proposta de leitura e de escrita que se cerne nas diversas práticas sociais. Observou-se que é na escola onde as habilidades de ler e escrever precisam ser estimuladas a fim de proporcionar ao aluno a participação em ambientes reais de interação, levando-o a interagir ativamente, dentro e fora da escola/sala de aula, nas mais diversas práticas que norteiam a utilização de tais habilidades. Ou seja, é a escola a responsável por ensinar a ler e a escrever e por conduzir o aluno ao mundo sistematicamente organizado e mediado pela escrita. Nesta perspectiva, Pedro Demo (2006, p.18; 22) afirma que: [...] leitura figura entre os processos que favorecem a participação do ser humano na vida em sociedade, à medida que ativa a habilidade de compreensão questionadora com respeito à trajetória passada e presente, bem como às condições de futuros alternativos. [...] Não se lê para aceitar, reverenciar, mas para se contrapor [...] no sentido profundo de aceitar o desafio de transformar a leitura em alavanca de transformação social. [...] O domínio da escrita está sempre associado ao desenvolvimento político- cultural de um povo. 17 Através da postura da escola, em especial do professor, o ensino precisa assumir um caráter construtor, permitindo aos alunos uma aprendizagem contextualizadora e transformadora frente ao conhecimento prévio e sistemático, isto é, extraescolar e institucionalizado, respectiva e dinamicamente. Com ênfase nas aulas de língua materna, destacamos a atuação do professor, o qual precisa estar preparado e disposto a ultrapassar a simples aquisição do código (ler/decodificação e escrever/codificação) e promover situações e circunstâncias reais do uso da leitura e da escrita no cotidiano do aluno. O professor possui referências diretas na forma como o aluno observa a língua nas suas diferentes práticas de interação social diárias. 2.1 LETRAMENTO(S) Vemos a necessidade de compreender o letramento nas suas mais variadas dimensões, as quais se relacionam e são complementares entre si, por partirem da gênese da imprescindibilidade da organização sócio-cultural de qualquer comunidade e/ou sociedade. As reflexões teóricas que suscitam o letramento focam-se, através da óptica de diferentes autores, não apenas no aspecto individual, mas, sobretudo, nos aspectos históricos e sociais da aquisição das habilidades de leitura e de escrita realizadas pelos indivíduos inseridos nas teias das organizações sociais, políticas e culturais de uma sociedade. Deste modo, Letramento é concebido por Bagno (2002, p. 55), no seu sentido mais amplo, como: [...] a capacidade que os seres humanos sempre tiveram nas mais diversas épocas e culturas, de transmitir conhecimento, preservar a memória do grupo e estabelecer vínculos de coesão social por meio de práticas que independem do conhecimento de qualquer forma de escrita. Como também, em meio à significância social que a leitura e a escrita possuem nas diferentes práticas sociais de caráter institucionalizado, as quais vêm se aflorando mediante o crescimento de um mundo cada vez mais globalizado, o Letramento também pode ser compreendido por diversas formas complementares através de posicionamentos de diferentes autores. De acordo com a proposta dos New Literacy Studies (Barton, Hamilton & Roz, 2000, grifo nosso), podemos entendê-lo como prática social que abrange o conhecimento do código da língua, ou seja, é concebido como a relação do indivíduo com a escrita permeada e mediada pela cultura/ideologia/crença. Nesta mesma perspectiva, de acordo com Rojo (2009, p.44, grifo nosso), o termo é concebido por Letramentos, pois compete a “um conjunto muito 18 diversificado de práticas sociais situadas que envolvem sistemas de signos, como a escrita.”;Segundo Soares (1998, p.37, grifo nosso), o termo letramento também pode ser compreendido enquanto “[...] o estado ou condição de quem exerce as práticas socais de leitura e de escrita, de quem participa de eventos em que a escrita é parte integrante da interação entre pessoas”. Neste sentido, Matos (2010, p.03, grifo nosso) afirma que Letramento “enquanto processo é resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever, bem como é o resultado da ação de usar essas habilidades em situações sociais.”, ademais, é “processo e movimento que só se realiza em sociedade e que é motivado pelas diversas ações dos agentes dos processos sociais.” (MATOS, 2012, p.06, ênfase nossa). No que se refere à aprendizagem, com base no contexto social, podemos reconhecer que diante dos meios sociais como: família, igreja, espaços virtuais de interação, dentre outros, dos quais o aluno faz parte, ele já chega à escola com determinado nível de letramento. Por isso, sabe-se que tudo que ele irá aprender dentro do espaço escolar precisa gerar nele reais transformações e evoluções do seu conhecimento a partir desse nível analógico já existente. Deste modo, o que o educando precisa é ser estimulado a ampliar seus níveis de letramento, que vai se concretizando ao passo que o conhecimento e a prática da leitura e da escrita vão sendo apreendidos, aprimorados e usados nas diferentes e novas situações sociais de produção nas quais ele estará inserindo-se. Hodiernamente, as práticas sociais vêm se transformado devido à acessibilidade à informação por meio das tecnologias conectadas à internet e o aluno passou a inserir-se em espaços sociais muito mais diversificados e amplos. Além disso, vale ressaltar que os responsáveis pela formação dos alunos, em especial o professor de língua portuguesa, não pode “deletar” essa realidade, podendo encontrar à luz do letramento outros métodos que levem os alunos a uma aprendizagem contextualizada, que os conduza a alcançarem uma concreta, consciente e prazerosa inserção social nas diferentes esferas. Numa sociedade em que prevalece a modalidade escrita, cabe à escola, especificamente, aos professores de língua materna, o desafio de possibilitar aos alunos níveis/graus de letramento mais elevados. Uma vez que são inúmeros os tipos de letramentos que existem, como também, os que surgem por meio das constantes transformações sociais. Segundo Rojo (2009, p.10) um dos principais papéis da instituição escolar e por que não dizer o maior deles, no mundo contemporâneo, “[...] é estabelecer a relação de permeabilidade entre culturas e letramento locais/globais dos alunos e a cultura valorizada que nela circula ou pode vir a circular”. De acordo com a autora, além da compreensão das 19 diferentes modalidades de letramento(s), é preciso que a escola tenha uma visão dicotômica entre o amplo e o específico, do social e do individual. A fim de garantir por meio da prática do letramento um possível caminho para a superação do insucesso escolar, que resulta mais na exclusão do que na inclusão social dos alunos. 2.2 LETRAMENTO DIGITAL E ENSINO DE LÍNGUA MATERNA Observou-se que a partir do crescimento da tecnologia aliada a sua utilização na/para interação social o uso da internet cresceu rapidamente. Neste sentido, um novo conceito vem ganhando espaço por trazer nuanças que contribuem para o ensino-aprendizagem, é o chamado letramento digital. Podendo ser entendido, grosso modo, como o uso das habilidades de leitura e de escrita incorporadas às novas tecnologias de comunicação digital, enxergando os objetos tecnológicos como auxiliadores nos procedimentos de aprendizagens. De acordo Bagno (2002 p. 55-56): (...) tipo de letramento é o letramento digital, uma vez que o computador se tornou um novo portador de textos (hipertextos), suscitando novos gêneros, novos comportamentos sociais referente às práticas de uso da linguagem oral e escrita, e cobrando de nós, novas teorizações e novos modelos de interpretação dos fenômenos da linguagem. Por isso, acreditamos que se as novas tecnologias forem usadas para propósitos educacionais como auxiliadoras e/ou complementares para a aprendizagem dos alunos ao serem utilizadas pelo professor, possivelmente o ajudarão a oferecer ao aluno um ensino de língua que proporciona a ele amplas condições para que adquira um grau de letramento cada vez mais elevado. Ou seja, um ensino de língua que vise, acima de tudo, à aprendizagem significativa em função da construção social de cada aluno/sujeito, de modo a possibilitar o desenvolvimento de conjuntos de habilidades e comportamentos os quais envolvem a leitura e a escrita nos mais diversos níveis e situações, conduzindo os alunos/usuários a utilizarem com eficácia o espaço digital. Considerando os entornos sócio-contextuais que envolvem o letramento digital, segundo Matos (2010, p.05) “[...] as novas tecnologias educacionais vieram atender às necessidades humanas. O computador, portanto, passa a ser visto como ferramenta de fundamental importância a todas as atividades profissionais e intelectuais.”. 20 Nesta óptica, destacaremos neste trabalho a relevância da utilização de novas ferramentas no espaço sala de aula, não como métodos exigidos ou idealizados, mas como mais um aliado na construção do planejamento do ensino, expresso nas aulas metodologicamente organizadas pelo professor, que visa, sobretudo, uma aprendizagem “real” por parte dos alunos. Sendo esta, contextualizada e que gere através do conhecimento linguístico crescimento intelectual e social, não acúmulo de normalizações gramaticais. Pois de acordo com Almeida (2005): A fluência tecnológica se aproxima do conceito de letramento como prática social, e não como simplesmente aprendizagem de um código ou tecnologia; implica a atribuição de significados às informações provenientes de textos construídos com palavras, gráficos, sons e imagens dispostos em um mesmo plano, bem como localizar, selecionar e avaliar (grifo nosso) criticamente a informação, dominando as regras que regem a prática social da comunicação e empregando‐as na leitura do mundo, na escrita da palavra usada na produção e representação de conhecimentos. (ALMEIDA, 2005, p.174). Para a autora, a “fluência tecnológica” se apresenta sobre a relação entre a inclusão digital e o letramento digital, encontrando neles uma essência sócio-cultural dicotômica. Pois, ao passo que o letramento digital aponta caminhos para uma concreta inclusão digital através da tão discutida educação formal na busca para garantir oportunidades a todos que entram na escola, a inclusão digital possibilita aos cidadãos a ampliarem cada vez mais seus níveis de letramento digital. No que se refere ao ensino de língua materna, todo conteúdo precisa ser trabalhado de tal modo que as habilidades de leitura e de escrita sejam o alicerce para o desenvolvimento cognitivo e social do aluno, a fim de que ele possa alcançar cada vez mais a amplitude do letramento. Por isso, o professor através de estratégias e métodos adequados deve oferecer ao educando possibilidades de utilizarem os conteúdos programáticos em seus contextos mais variados, gerando a apropriação de seus conhecimentos lingüísticos. O ensino de língua materna, ao prever o conhecimento do letramento, enxerga e estuda a língua de modo a estimular nos alunos a reflexão sobre as várias formas que ela se manifesta, em quaisquer ambientes de interação. Bem como, prioriza as regras normativas que dirigem o uso das variantes de maior ou menor ascensão presente nas estruturas sociais vigentes, oferecendo ao aluno a inclusão social e o exercíciode uma efetiva cidadania. Ainda com relação ao ensino de língua materna, Matos (2010, p.02) afirma que: 21 O domínio da língua, necessariamente, não está associado à compreensão do domínio de uma regra de uma língua. Se não há consciência do uso da regra, se não há consciência da importância da regra, não adianta conhecer ou decorar a regra, pois ela não será suficiente para dar conta de todas as necessidades comunicativas, sociais e lingüísticas presentes no cotidiano de qualquer falante. Deste modo, ao refletirmos sobre os desafios enfrentados pelo ensino de língua materna sob a ótica do letramento, consideramos o professor uma importante ferramenta nas engrenagens sociais da atuação escolar, pois é por meio de mudanças práticas que poderemos possibilitar aos alunos reais aprendizagens. O professor precisa ser o primeiro a reorganizar seus propósitos sociais, de modo a ajudar a reconfigurar o cenário escolar, pois a mediação do conhecimento é responsabilidade dele. Ao (re) pensar sobre as necessidades provenientes da realidade do aluno, como também na sua formação inicial e/ou continuada e, sobretudo, na sua atuação vivenciada nos momentos de mediação do conhecimento, o professor precisa considerar e (re) avaliar os novos métodos que surgem mediante o crescente aumento de aparelhos tecnológicos e espaços virtuais. Por isso, propomos neste trabalho encontrar à luz do letramento digital reflexões que alcancem relevantes (re) avaliações acerca do papel social do professor, em especial o de língua portuguesa. Procuramos estimulá-lo a repensar sobre sua atuação relacionando-a às necessidades educacionais emergenciais, fruto das transformações sociais advindas do uso das tecnologias. Sobretudo, buscamos incentivá-lo a refletir sobre o processo de ensino/aprendizagem diante de tal realidade, considerando, por exemplo, os conhecimentos prévios de cada aluno, bem como sua própria maneira de aprender. Deste modo, as tecnologias, por si só, não garantem nenhuma experiência revolucionária de educação e de mediação do conhecimento sistemático linguístico, mas se utilizadas como instrumentos metodológicos conscientes, resultarão em um possível caminho de interação entre o ensino/aprendizagem de língua materna. 22 3. FORMAÇÃO DOCENTE E O ENSINO É necessário que o professor desde sua formação possa, concretamente, a partir dos aportes teóricos apresentados nas disciplinas do curso de licenciatura, conhecer, refletir, criar e recriar meios de manter relações dialógicas, reflexivas e pedagógicas entre o conhecimento sistemático e a realidade dos seus futuros alunos, bem como o ensino em virtude das necessidades encontradas para uma eficaz aprendizagem. Pois, como afirma Demo (2006, p.16) “... o professor precisa deter habilidades inequívocas de alfabetizador, para que o aluno tenha o direito de aprender devidamente preservado, já que é deste que se parte e é a este que se chega.”. O professor de língua materna, ao considerar as diferentes situações sócio- comunicativas de interação que se cernem nas habilidades de leitura e de escrita, compreende que a gramática normativa não suporta em suas orientações e explicações os diversos usos da língua, exceto o uso da Norma Padrão. Por isso, necessita-se compreender a materialidade linguística a partir do uso da língua, no nosso caso o português, justificando a importância de sê-la pela lógica do pertinente e do inadequado, não do certo e do errado. Nesta ótica, segundo Bagno (2002, p.78): A universidade, como formadora de professores de língua, tem de responder a tais exigências renovando a maneira de empreender essa formação, deixando de concentra-se na transmissão da NP (Norma Padrão) e da gramática normativa para estimular o conhecimento dinâmico da língua em toda sua diversidade. É na universidade que o professor de português tem o pleno direito de conhecer a importância das teorizações sobre os usos da língua, como também de posicionar-se frente às teorias apresentadas, priorizando sua prática docente. Desde modo, as reflexões partem dos muros acadêmicos em direção às escolas, pois se o professor desde a sua formação não construir métodos teórico-práticos que o auxiliem na sua formação, as salas de aulas continuarão com o mesmo caráter frígido, distante da realidade do aluno. Nesta mesma lógica, de acordo com Matos (2010, p.03), “Não se pode perder de vista que, conforme Becharra (1999), devemos ser poliglotas em nossa própria língua, ou seja, devemos ser capazes de lidar com as realidades linguísticas, sejam elas quais forem, conforme o momento social, o contexto social.” O conhecimento sobre o letramento é de extrema importância para formação 23 do professor, que tem responsabilidade com a cidadania dos alunos e para tal precisa ser bem formado para exercer sua função. No que validasse nossa pesquisa de campo, as perguntas feitas no questionário de pesquisa realizado com os futuros professores junto à análise das ementas do curso letras/português abordamos questões como: período em curso, experiência na prática docente e distinção entre alfabetização e letramento, nas quais apresentaram seus depoimentos, contribuindo-nos para identificarmos seus conhecimentos acerca do Letramento. Segundo dados estatísticos de pesquisas 3 realizadas nos anos de 2010 e de 2012, respectivamente, com futuros professores de língua portuguesa da UFPB, os percentuais foram alarmantes quanto à ausência do Letramento no currículo do curso dessa licenciatura, em especial nas disciplinas pedagógicas. No ano de 2010 (dois mil e dez), aproximadamente 70% (setenta por cento), isto é, 80 (oitenta) dos futuros professores, não entendiam ou nunca haviam estudado sobre o letramento, os quais em sua maioria estavam cursando entre o 1º e o 6º período (Grupo I); Apesar de 18 (dezoito) dos entrevistados compreenderem o Letramento, cerca de 16% (dezesseis por cento), não o haviam estudado no curso. Este conhecimento fora obtido por outros métodos. O público discente desse grupo variava entre o 6º e o 9º período (Grupo II); E apenas 16 (dezesseis) dos futuros professores, aproximadamente 14% (quatorze por cento) dos entrevistados, mostraram conhecer e afirmaram ter estudado o letramento no curso (Grupo III). Desta forma, totalizamos 114 entrevistados. No ano de 2012 (dois mil e doze), foram entrevistados 78 (setenta e oito) discentes do curso de letras/português. Neste ano, aproximadamente 63% (sessenta e três por cento) dos entrevistados, ou seja, 49 (quarenta nove) deles não entendiam ou nunca haviam estudado sobre o Letramento. Estes cursavam entre 1º e o 6º período (Grupo I); No grupo seguinte, cerca de 22% (vinte e dois por cento), isto é, 17 (dezessete) dos entrevistados não estudaram este conhecimento no curso, obtiveram-no por atividades extracurriculares. Estes discentes estavam cursando entre 5º e o 8º período (Grupo II). Por fim, apenas 15% (quinze por cento) afirmam ter aprendido no curso a respeito do Letramento, ou seja, 12 (doze) dos entrevistados (Grupo III). Como podemos observar no gráfico a seguir: 3 Projetos desenvolvidos na UFPB, intitulado Letramento: teoria e prática na formação do professor cidadão. (Projeto PROLICEN, UFPB,2010 e 2012). 24 Gráfico I Gráfico I. Percentual relacionado à formação do professor de Língua Portuguesa à luz do letramento. Para melhor compreensão dos dados obtidos, destacamos alguns depoimentos considerados importantes, que nos revelam as concepções dos alunos sobre o letramento. Vejamosalgumas respostas coletadas no corpus da pesquisa: “Tenho conhecimento sobre letramento, mas não o conheci na universidade, não sei diferenciar letramento e alfabetização”. (futuro professor – Grupo I). “Faço 5º período e aqui na UFPB não aprendi ainda nada concreto sobre letramento ensino o 8º e 9º ano do ensino fundamental e pelo pouco que aprendi fora do curso acho que a principal diferença entre letramento e alfabetização é maneira de relacionar ao ensino a teoria, junto com a cultura que é visto no letramento, e a alfabetização só envolve uma determinada disciplina e não inserem no ensino as outras visões dos alunos”. (futuro professor- Grupo I). “Leciono no ensino fundamental, e não sei a real diferença entre alfabetização e letramento” (futuro professor- Grupo I). Nos depoimentos acima, percebemos que alguns discentes trazem esse conhecimento consigo para a universidade, ou seja, o estudaram, embora superficialmente, na educação básica. No entanto, em sua grande maioria, os entrevistados desse grupo desconhecem e alguns deles nunca ouviram falar do letramento. Como podemos perceber nos depoimentos que se seguem. 25 “Na minha visão alfabetização é quando se ensina a ler e escrever, sendo isso o básico. Já o letramento vai, além disso, ensina uma decodificação do que está escrito, estou no 1º período e este conhecimento não foi ainda embasado no meu curso. (futuro professor – Grupo I)”. “Sei pouco sobre letramento, acredito que o letramento é o ato de conhecer o assunto, falar sobre ele e transpor para o papel acredito que esta é a diferença entre alfabetização e letramento. (futuro professor Grupo I)”. Fazem parte do Grupo II, os discentes que cursavam entre 5º e o 8º período, em sua grande maioria, os quais não estudaram no curso este conhecimento, mas o obtiveram por métodos extracurriculares, como por exemplo, projetos, debate ou congresso de que participaram. É importante destacar a dúvida constante dos alunos ao responder qual a distinção entre letramento e alfabetização. “Alfabetizar é apenas a decodificação sem considerar os sentidos, o letramento considera os conhecimentos prévios dos alunos e as inferências que podem ter. (futuros professores – Grupo II)”. “Letramento é todo aquele que utiliza seu conhecimento de mundo, alfabetização é aquele que se utiliza da escrita. (futuro professor – Grupo II)” Com relação ao Grupo III, os discentes mostraram em suas respostas conhecer e estudar sobre letramento nas disciplinas do curso, sendo imprescindivelmente acentuada a ausência do tema letramento na formação docente, inerente à falta do mesmo nas ementas curriculares das disciplinas do curso. Sobretudo, é importante ressaltar que poucos discentes, gradativamente, mediante os períodos previstos na organização curricular, em isolados casos, estudam o tema. Foram citadas as disciplinas “Leitura e Produção de Texto I e II” e a disciplina “Teoria Linguística I”. Sendo importante destacar, também nesse grupo, dúvidas acerca da distinção entre alfabetização e letramento. “Alfabetizar é apenas a decodificação sem considerar os sentidos, o letramento considera os conhecimentos prévios dos alunos e as inferências que podem ter. (futuro professor - Grupo III)” “Letramento é todo aquele que utiliza seu conhecimento de mundo, alfabetização é aquele que se utiliza da escrita. (futuro professor – Grupo III)” Deste modo, a partir da análise dos questionários realizados com os discentes/ futuros professores, podemos destacar uma tênue presença/marca do letramento na formação docente, explícitas nas respostas dos discentes de diversas turmas do curso letras/Português. Vale 26 ressaltar, também, que alguns discentes são privilegiados por terem professores atentos à necessidade desse tema/conteúdo para formação do professor de língua portuguesa. Enquanto, muitos deles não têm oportunidade de conhecer e aplicar o letramento enquanto prática docente, contribuindo assim, para uma melhor aprendizagem de seus alunos. Porém, comparando-se os dois anos, os quais a pesquisa foi realizada, observar-se um sutil aumento do conhecimento sobre o Letramento por parte dos discentes. O letramento é discutido nas universidades brasileiras desde meados da segunda metade dos anos de 1980 e surge como uma nova proposta pedagógicas de compreender as habilidades de ler e de escrever inseridas em práticas sociais concretas. Neste sentido, partindo de princípios definidos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LBD (Nº 9.394/96), os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – PCNEM (2000) ao aprofundar a compreensão de nuanças para o ensino/aprendizagem de língua materna diante do surgimento de novas tecnologias afirmam que: As tecnologias da comunicação e informação não podem ser reduzidas a máquinas; resultam de processos sociais e negociações que se tornam concretas. Elas fazem parte da vida das pessoas, não invadem a vida das pessoas. [...] Novos modos de sentir, pensar, viver e ser, construídos historicamente, se mostram nos processos comunicativos derivados das necessidades sociais. Cabe à escola o esclarecimento das relações existentes, [...] o reconhecimento de suas possibilidades, a democratização de seus usos. (PCNEM, 2000, p.12) Nesta ambiência reflexiva, percebemos que desde a formação os professores de língua materna ainda não se apropriaram devidamente desse conhecimento, gerando, deste modo, uma lacuna entre a formação e a prática docente. Ou a formação inicial não privilegia a óptica do letramento ou há uma transposição ineficiente dos conhecimentos acadêmicos para a pedagogia em sala de aula. No que se refere ao letramento digital, pressupomos diante dos resultados obtidos na pesquisa acerca do letramento, que esse tipo de letramento ainda não suscitou relevantes reflexões e práticas no âmbito acadêmico. Desta forma, uma formação docente de qualidade é o primeiro passo para que se realizem mudanças significativas no atual contexto institucional e educacional presente nas inúmeras salas de aula. 27 3.1 O PROFESSOR DE PORTUGUÊS E AS TECNOLOGIAS Dentre as múltiplas práticas do letramento que eclodem no espaço escola/sala de aula, concebemos o letramento digital enquanto possível caminho de inclusão social, para professores e alunos, a ser praticado adequadamente pelo professor ao utilizar as tecnologias em sala de aula, a fim de possibilitar ao aluno “links” na relação entre os conteúdos programáticos e seus usos diários. Na tentativa de combater, deste modo, um ensino de caráter ultrapassado e/ou descontextualizado, relacionando conteúdo programático ao conhecimento prévio do aluno, fruto do contexto o qual o aluno está inserido, neste caso, com ênfase nos espaços digitais. Ao observarmos a realidade do aluno, a partir de suas experiências extraescolares, destacamos o intenso uso das tecnologias em suas práticas cotidianas. Dentre as mudanças no uso da linguagem escrita que circundam suas práticas sociais, destaca-se o uso das redes sociais. Uma vez que um dos ambientes virtuais utilizados pelos professores foi o Facebook. No caso da escrita, nesses ambientes de interação, o que ocorre é uma adequação ao sistema ortográfico da língua, isto é, o uso da escrita nas redes sociais, em geral, respeita outra regra, a abreviação, para uma interação bem sucedida entre os sujeitos. Por exemplo, o “pronome de tratamento” “você” se transforma em “vc”. Portanto, mesmo que não corresponda fielmente aos princípios ortográficos do sistema padrão da língua portuguesa, não subjaz a eles. Não se trata de profissionais da escrita,mas de pessoas que escrevem com eficácia. Sendo assim, o professor precisa conhecer e mediar para o aluno conteúdos programáticos que envolvam a língua viva que é o português. Neste sentido, Matos (2010, p.03) afirma que: O processo da escrita sob a ótica do letramento vai além dos muros da alfabetização do ensino básico. [...] na medida em que a leitura, enquanto uma atividade que capacita os indivíduos, de modo geral, para uma escrita mais preparada, deve ser admitida como processo contínuo, um ato de compreensão, uma atividade que possibilita analisar e entender o mundo de diversas maneiras, como ato social manifesto. Em uma sociedade em que prevalece a modalidade escrita, o espaço escolar vem desenvolvendo um papel fundamental em torno dessas realidades de uso da língua. Neste sentido, devido a esta nova realidade, da mesma forma que a postura do aluno mudou, pela crescente quantidade de informação, o professor também precisa adequar-se contextualizando o ensino promovendo uma aprendizagem com significado. A escola juntamente com o professor de língua materna deve oferecer um ensino que tenha o objetivo de proporcionar aos 28 alunos condições para eles adquirirem um grau de letramento cada vez mais elevado (BAGNO, 2002). Ou seja, que desenvolva neles um conjunto de habilidades e comportamento de leitura e de escrita que lhes permitam fazer com excelência o uso das capacidades técnicas dessas habilidades. De acordo com Soares (1996), faz-se necessário que os educadores revejam suas práticas, pois é através da transformação e das exigências da sociedade que a educação também se transforma. De modo que, neste novo contexto social o professor não desassocie a alfabetização e o letramento, mas valorize-os igualmente, pois corresponde a princípios educacionais dialógicos. Assim não se trata de escolher entre alfabetizar ou letrar; trata-se de alfabetizar letrando. Por isso, no processo ensino/aprendizagem, consideramos que o conhecimento prévio dos alunos seja o alicerce, ou melhor, o ponto de partida para que o professor de língua possa estimular a construção da contiguidade e/ou da amplitude dos níveis de letramentos dos alunos, os quais se concretizam no uso da língua em diferentes práticas sociais. Neste sentido, um novo cenário se configura no espaço escolar, com o crescente aumento de materiais tecnológicos disponíveis na escola e no cotidiano de aluno, os quais podem vir a ser usados pelo professor em sua prática mediadora. É importante que o professor antes de apropriar-se deles, enquanto recurso didático, os inseriram em seu planejamento de modo a facilitar a consolidação do processo contínuo de aprendizagem do aluno. Sendo assim, essa pesquisa cerne-se em identificar de que forma os professores, em especial os de língua materna, compreendem e se relacionam com as novas tecnologias em sala de aula e quais as lacunas existentes entre a formação e o ensino. Neste mesmo âmbito reflexivo, Moura (2005, p.3143), da Escola Profissional de Braga localizada em Portugal, ao realizar sua pesquisa afirma que: Neste contexto, mais do que ensinar, é necessário desenvolver nos estudantes a capacidade de aprender. [...] O desafio que se coloca, hoje, a qualquer instituição educativa é a necessidade de desenvolver a capacidade permanente de aprender. Assim, os benefícios da implementação das tecnologias em sala de aula são enormes. Porém, para se concretizarem é necessário, antes de tudo, que os agentes educativos, como por exemplo, o diretor, o coordenador e o supervisor, sobretudo, o professor, reflitam suas funções, de modo que possam exercê-las de maneira libertadora e autônoma. O professor precisa estar preparado ao utilizar a tecnologia, relacionado-a ao conhecimento sistemático, 29 promovendo novas formas de aprender. Formas essas que facilitarão o desenvolvimento do aluno em vários âmbitos, como por exemplo, a capacidade cognitiva e o aprimoramento de habilidades técnicas, como também seu modo de enxergar e utilizar tais recursos digitais a favor do conteúdo sistematizado, neste caso, os das disciplinas de Língua Portuguesa. Deste modo, a partir dos questionários realizados com os alunos identificou-se que alguns professores das disciplinas de Língua Portuguesa (Gramática, Literatura e Produção Textual) ainda não inseriram em sua prática docente aparelho tecnológico nem espaços virtuais. No entanto, outros utilizam, porém de maneira aleatória e superficial no que tange às inovadoras formas de mediação. Verificou-se, mediante as respostas dos alunos, que dos 41(quarenta e um) professores mencionados, 13 (treze) não utilizam nenhum aparelho tecnológico, ao passo que 28 (vinte oito) deles usam em sala de aula algum suporte tecnológico e digital. Dos professores citados que utilizam as tecnologias, cerca de 78% (setenta e oito por cento) fazem o uso, especialmente, do Datashow em média três vezes ao mês e desses, 11 (onze) usam o Facebook e apenas 1 (um) utiliza e-mail. A frequência de uso encontrada foi à seguinte: Gráfico II Gráfico II. Percentual relacionado à frequência do uso das tecnologias pelos professores de Língua Portuguesa. 30 A partir da leitura do gráfico acima, podemos observar que tais professores utilizam pouco os recursos tecnológicos disponível na escola, além disso, percebe-se a ausência de ferramentas e/ou ambientes de uso exclusivo da aprendizagem. Pois, tanto o Datashow como os ambientes virtuais citados abrangem vários usos, isto é, podem ser usados para outros fins que não a aprendizagem. Visto que a falta de formação do professor no que se refere ao manuseio das tecnologias, pode ser um relevante fator para que ele não ouse recorrer às ferramentas virtuais, em especial às especificas para a aprendizagem. Estas ainda se encontram em processo de consolidação, uma vez que devido às constantes transformações sociais advindas do uso de novas tecnológicas que favorecem o surgimento e aprimoramento das ferramentas voltadas à educação. Diante da autonomia do professor, ele poderia ousar bem mais se servindo dos diferentes suportes tecnológicos existentes. No que concerne à postura do professor frente a essa realidade, em especial ao uso das TIC, Moura (2005, p.57) afirma que: Uns, olham para elas com alguma desconfiança [...]. Muitas vezes, por resistência à mudança, por cepticismo ou mesmo desinteresse pelas tecnologias. Outros as usam no seu quotidiano como utilizadores, mas não estão bem certos de como incorporá-las na sua rotina profissional. Outros, ainda, procuram trazê-las para a sala de aula, sem, contudo, inovar as suas práticas. Porém, há uma minoria de profissionais inovadores que desbrava caminho, buscando continuamente novas ferramentas e ideias. Deste modo, o professor, que ainda não utiliza como aquele que já recorre aos suportes e recursos tecnológicos, precisa (re) pensar didaticamente a postura adotada em sala de aula ao ousar utilizar os dispositivos tecnológicos e/ou espaços digitais para mediação dos conteúdos das aulas de Língua Portuguesa. Uma vez que, o uso aleatório de novas ferramentas, resultante do não domínio das TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação), não contribuirá em nada com a formação cidadã do aluno. O educando ao invés de ampliar seus domínios e desenvolver suas habilidades, dentre elas a de ler e de escrever, vivenciará uma aprendizagem nos mesmos moldes educacionais já solidificados, ou pior, será exposto a um ensino defasado, mascarado pelo mal uso de diferentes suportes, que deveriam ser pedagógicos. Neste sentido, à luz do letramento digital prevemos um possível caminho para que osaparelhos tecnológicos sejam instrumentos de mediação entre o conhecimento prévio do aluno e o conhecimento sistemático, aquele mediado pelo professor de português, ao serem 31 inseridos na sala de aula enquanto recursos didáticos, gerando novas estratégias de consolidação dos conteúdos programáticos por parte do aluno possibilitando à aprendizagem. 3.2 APRENDIZAGEM: PERFIL DO ALUNO O aluno é o sujeito da ação de aprender, aquele que age com e sobre o objeto de conhecimento. No que se refere ao ensino de língua materna, o professor precisa ter o propósito de oferecer ao aluno uma aprendizagem que completem o conhecimento lingüístico adquirido na escola a favor das práticas sociais das quais o aluno participa, desde as exercidas no espaço escolar às demais as quais ele está e/ou estará inserindo-se. Segundo dados da pesquisa realizada com alunos, verificou-se que grande parte deles cerca de 98%, com raras exceções, utilizam a internet diariamente, mas não possuem uma construtiva aprendizagem de caráter autônomo, pois quando tentam estudar ou pesquisa assuntos relacionados ao conteúdo dado em sala de aula na internet, não conseguem pesquisar nem tratar a informação de modo a transformá-la em conhecimento. Nesta perspectiva, Rojo (2009, p.44) afirma que: Para ler, por exemplo, não basta conhecer a alfabeto e decodificar letras em sons da fala. É preciso também compreender o que se lê, isto é, acionar o conhecimento de mundo para relacioná-lo com temas do texto, inclusive o conhecimento de outros textos/discursos (intertextualizar), prever, hipotetizar, inferir, comparar informações e generalizar. Neste sentido, supõe-se que o professor organize situações de aprendizagem, assumindo como ponto de partida o conhecimento prévio dos alunos, levando em consideração às situações de interação concretas, nas quais eles exercem e desenvolvem suas habilidades de leitura e de escrita como alicerce para uma participação social bem sucedida. E a partir daí, planeje momentos de mediação nos quais os conhecimentos lingüísticos sistemáticos dos alunos sejam construídos e o uso da língua/linguagem seja ampliado nos diferentes contextos sociais, inerentes ao espaço escolar. Encontrando como objetivo nas aulas de língua materna possibilitar uma aprendizagem concreta, significativa e transformadora, de modo a oferecer ao aluno melhores condições para tal propósito. O aluno necessita da influência, mediação e condução do professor para progressivamente desenvolver suas habilidades de ler e de escrever em direção a níveis cada vez mais elevados de letramento(s). O aluno precisa descobrir quais as melhores maneiras que ele pode aprender de modo a relacionar os conteúdos programáticos das disciplinas de língua portuguesa ao seu 32 crescimento intelectual/individual, bem como a uma prazerosa participação social, gerando seu desenvolvimento contínuo a partir da sua interação com o mundo e com o outro, (re) descobrindo-se a cada novo conhecimento. O professor tem a função de estimular e promover condições para que o aluno possa alcançar diferentes graus de letramento(s). Neste sentido, o professor de língua portuguesa, ao utilizar as tecnologias em sua prática docente, através de métodos adequados a cada sala de aula, poderá encontrar relevantes auxiliadores de recurso didáticos, como também e, sobretudo, favorecer ao aluno suportes alternativos de aprendizagem. 33 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante das discussões expostas neste trabalho monográfico, verificou-se por meio do questionário realizado com os futuros professores, que a ausência do letramento é predominantemente, no discurso dos licenciados. Alguns deles reconhecem a relevância acerca do letramento para sua formação, mas não compreendem a dimensão da importância dessa teoria para a formação de todos os envolvidos no processo ensino/aprendizagem, em especial, professor e aluno. Ademais, também verificou-se que a maioria dos professores de Língua Portuguesa que fizeram parte dessa pesquisa utilizam alguma tecnologia em sua prática, mas pela falta de uma formação docente que preveja o conhecimento teórico acerca do letramento, como também do letramento digital, esse uso se dá de madeira superficial, isto é, o conhecimento programático de língua materna e as habilidades desenvolvidas na/para aprendizagem do aluno, em especial as de leitura e de escrita, são desprezadas e as potencialidades presentes nas tecnologias não são exploradas, resultando, desta forma, apenas numa substituição ou no acúmulo de suportes que não favorecem a contínua aprendizagem do aluno. Deste modo, o professor, mesmo que venha a se desarmar para essa nova realidade do aluno, não possui conhecimentos teórico-práticos que o subsidiem a criar novas formas de mediação dos conteúdos programáticos das disciplinas de Língua Portuguesa. Além disso, partindo das informações fornecidas pelos alunos de educação básica, os professores que estão em atuação tentam utilizar a tecnologia enquanto novos recursos didático-pedagógicos, mas não os exploram de maneira ampla e precisa, através de métodos e de estratégias bem definidas as quais devem germinar e gerenciar diferentes formas de aprendizagem por parte do aluno. De acordo com as entrevistas realizadas com os alunos da educação básica, verificamos que eles têm se configurado aberto a novas formas de aprendizagem mediante a utilização das tecnologias no espaço escolar, pois, como pudemos observar, eles são nativos digitais. O maior problema surge quando falamos do conhecimento a cerca dos espaços e das ferramentas digitais por parte do professor e, sobretudo, da utilização desses ambientes e dispositivos frente às aulas. Acreditamos que a falta de uma formação docente que contemple o letramento e letramento digital seja um direcionador para eficazes mudanças didático-pedagógicas através do uso das tecnologias, as quais possam favorecer a aprendizagem do aluno. Assumindo 34 assim, este uso, um caráter significativo valorizando a ignição de efetivas transformações no espaço escolar. Neste sentido, com relação a esse novo contexto educacional, Matos (2010) afirma que essa moldura sócio-educacional que se configura institucionalmente com o intensivo uso da tecnologia, por parte não apenas dos indivíduos, mas também dos profissionais e das instituições, propicia a difusão do conhecimento “[...] e, consequentemente, uma porta aberta ao letramento, seja ele midiático – possibilitado pelo advento das novas tecnologias (TICs) - ou não.” (MATOS,2010, p.06). Segundo o autor, o letramento é concebido como processo e movimento inerente ao âmago organizacional e institucionalizado de qualquer sociedade e que é motivado pela Ação dos responsáveis pela emancipação dos processos e das transformações sociais. (MATOS, 2012) Vale ressaltar, portanto, que as teorizações e ideologias que contemplam o Letramento não são utópicas, alienadas e nem aleatórias respeitam uma contiguidade de transformações geradas por necessidades sociais. Deste modo, no tocante à postura e função docente, de acordo com Moura (2005, p.58): O papel do professor mudou, deixou de ser o receptáculo do saber para passar a ser o guia, o orientador, o supervisor. Neste contexto, a sua atribuição principal não é a de criar o conhecimento, mas de orientar o aluno pelo caminho do saber. O professor de Língua Portuguesa precisa do conhecimento do letramento para agir de acordo com sua função profissional, e, sobretudo, social, arraigada nas necessidadessociais. Deste modo, se o professor não tiver ciência do seu espaço de atuação assumido uma postura firme e flexível frente ao seu contínuo desenvolvimento profissional, visto que ele também aprende com o aluno e que precisa de novos recursos técnico-didáticos para atuar de maneira efetiva com estratégias e métodos que favorecem a aprendizagem, não será um condutor da aprendizagem do aluno frente ao conhecimento sistemático de língua materna. O professor de Português, ao mediar os conteúdos programáticos das aulas, precisa encontrar meios didáticos e metodológicos que ofereçam ao aluno a oportunidade de ampliação de seu(s) letramento(s). Pois, ou dominamos a língua valorizando as suas diferentes formas de utilização, através de possibilidades geradas pelas oportunidades em situações sociais concretas, a fim de desenvolvermos nossas habilidades de leitura e de escrita ampliando nosso conhecimento de mundo, como é o caso do uso da internet, ou não exerceremos com excelência nossas potencialidades intelectuais, e consequentemente, sociais. 35 O professor precisa (re) conhecer os usos das tecnologias a partir das situações concretas de interação social, nas quais as habilidades de leitura e de escrita estão presentes como cernes de uma interação bem sucedida, para promover mudanças significativas na construção social do aluno, com o propósito de ultrapassar esses usos, de modo a possibilitar ao aluno a desenvolver níveis/graus de letramento cada vez mais elevados frente a sua própria língua. No que tange ao estudo realizado, identificou-se que o principal aspecto que inviabiliza os procedimentos metodológicos do professor de português, ao buscar relacionar os materiais tecnológicos e/ou espaços digitais ao processo ensino/aprendizagem de maneira satisfatória, é a ausência de uma formação inicial e/ou continuada que contemple o ensino na óptica do letramento, como também, em especial do letramento digital. Portanto, vale ressaltar que encontramos no letramento digital um possível caminho que clareie a atuação do professor frente a sua função de educador, estimulando-o a buscar novos conhecimentos em virtude da sua prática docente, de modo que os aparelhos tecnológicos sejam instrumentos que o ajudem a redirecionar o ensino de língua materna, no nosso caso, o de língua portuguesa. 36 5. REFERÊNCIAS: ALMEIDA, Maria Elizabeth B. Letramento digital e hipertexto: contribuições à educação. In: SCHLÜNZENJUNIOR, Klaus, (Org.) Inclusão digital: tecendo redes afetivas/cognitivas. Riode Janeiro: DP&A, 2005. BARTON, David & HAMILTON, Mary & ROZ, Ianic. Studied Literacies. New York: Taylor and Francis Group, 2000. BAGNO, Marcos. Língua materna: letramento, variação & ensino. São Paulo. Parábola, 2002. BRASIL, Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Linguagens, códigos e suas tecnologias / Secretaria de Educação Básica do Estado da Paraíba. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. (volume 1) BRASIL, MEC. Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (OCNEM). Vol.: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. DEMO, Pedro. Leitores para sempre. Porto Alegre, BR-RS. Editora Mediação, 2006. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Coleção leitura. São Paulo. Paz e terra, 1996. _______________. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados, 1989. KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 6ªed. São Paulo: Campinas, 2003. KLEIMAN, A. B. Processos identitários na formação profissional - O professor como agente de Letramento. In: CORRÊA, M.; BOCH, F. Ensino de língua: representação e letramento. Campinas, SP. Mercado das Letras, 2006. MATOS, Denilson P. de. Letramento: reflexões e possibilidades. In: Pesquisa em discurso pedagógico, Rio de Janeiro: PUC-RJ, 2010. ___________________. Letramento:teoria e prática na formação do professor cidadão.Projeto PROLICEN, UFPB,2010-2012. MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: Parte I- Bases Legais e Parte II – Linguagem, Códigos e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEF, 2000. MOURA, A. Como rentabilizar a Web nas Aulas de Português: uma experiência. In António Mendes, Isabel Pereira e Rogéro Costa (eds), Simpósio Internacional de Informática Educativa. Leiria: Escola Superior de Educação de Leiria, 2005, p. 57-62. 37 _____________. "Português on-line”: um contributo para a inovação. In: Actas do 4º Congresso Galaico-Português, 2005, p. 3143-3158. ROXO, Roxane. Letramentos Múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. SOARES, Becker Magda. Letramento: Um Tema Em Três Gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998, v.1. p.190. _____________________. Letramento/Alfabetismo. Belo Horizonte: Presença Pedagógica, 1996,v.2, nº10, p.83-89. ______________________. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educ. Soc. vol.23 no.81 Campinas Dec. 2002. TOMÉ, Irene. Uso do Padcast no Ensino-Aprendizagem: estudo de caso. In: JUNIOR, B.B; COUTINHO, C.P (Orgs.). Educação on-line: conceitos, metodologias, ferramentas e aplicações. 1ª Ed. Curitiba, PR: CRV, 2012. P. 147-164. 38 6. ANEXO UNIVERSIDADE FERERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS PROLICEN/Projeto Letramento: Teoria e prática na formação do professor cidadão Questionário de pesquisa 1. Qual o período que está cursando? 2. Já lecionou ou leciona? Qual a série? 3. Há quanto tempo leciona. Em que período começou a lecionar? 4. Nas disciplinas cursadas você reconhece alguma ligação entre a teoria do que é visto no curso e sua prática de ensino em sala de aula? ( ) Sim ( ) Não 5. O que você entende sobre o letramento? ( ) Entendo o que é letramento, estudei na disciplina_______________. ( ) Nada, não estudei o assunto no curso. ( ) Tenho noção sobre o assunto, porém não estudei no curso. 6. O curso de letras/português atualmente transmite a visão do letramento para o aluno em formação? ( ) Sim ( ) Não 7. Como você conceitua o letramento? Existe alguma distinção entre o letramento e a alfabetização? Se sim, qual? 39 7.APÊNCIDE AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA REFLETIR: MEU PROFESSOR E AS TECNOLOGIAS ESCOLA:______________________________ BAIRRO: ______________________________ 1. Seus professores de Língua Portuguesa (literatura, gramática ou produção textual) utilizam algum material/meio tecnológico? Se eles utilizam, qual? ( ) não utilizam ( ) Datashow ( ) blogs ( ) Facebook ( ) outros. Qual? _______________________________ ______ 2. Com relação ao conteúdo, as aulas com material/meio tecnológico são: ( ) mais fáceis de entender, aprendo novas formas de ampliar meu conhecimento. ( ) não muda se comparada as aulas sem os materiais/meios tecnológicos. Por exemplo, quando o professor usa o datashow