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Caderno Penal I - Daniela Portugal

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Prévia do material em texto

Direito Penal I 
Eric Carvalho de Andrade 
 
Professora Daniela Portugal 
Referência bibliográfica 
Indicações de leitura 
 Estarão as prisões obsoletas? – Angela Davis; 
 A nova segregação, racismo e encarceramento em massa – Micheller Alexander; 
 Mulheres Raça e classe – Angela Davis; 
Livros base 
 Cezar Roberto Bitencourt (tenho 2013) 
https://www.saraiva.com.br/tratado-de-direito-penal-parte-geral-vol-1-24-ed-2018-10000612.html 
 Rogério Grecco (tenho 2007) 
https://www.saraiva.com.br/curso-de-direito-penal-parte-geral-vol-i-20-edicao-9973720.html 
 Paulo Busato 
https://www.saraiva.com.br/direito-penal-parte-geral-8686353.html 
 Paulo Queiroz 
https://www.editorajuspodivm.com.br/direito-penal-v1-parte-geral-2018 
 Zaffaroni e Nilo Batista 
https://www.amazon.com.br/Manual-Direito-Penal-Brasileiro-Parte/dp/8520372449?tag=goog0ef-
20&smid=A1ZZFT5FULY4LN&ascsubtag=4685bf7b-c70b-4aec-9cd9-b4642c9bdbcd 
Meu contato 
E-mail: ericcarvalhoandrade@gmail.com 
Direito Penal - Introdução 
1. Conceito 
“Direito Penal” é uma terminologia mais usada, porém também se utiliza o termo “direito criminal”. As sanções 
penais são mais incisivas do que outras penas, pois altera a liberdade do indivíduo. 
2. Direito penal comum x complementar x especial 
Direito Penal Comum: é aquela que está presente no Código Penal e tem como destinatário toda a sociedade. 
 Princípio da reserva do código: na medida do possível é interessante que todos os crimes estejam 
reunidos no Código Penal para que se torne conhecimento geral da sociedade. 
Direito Penal Complementar: as normas que integram esse direito são aquelas situadas fora do Código Penal 
(leis especiais, extravagantes ou ordinárias), porém a complementam e também se destina a toda a sociedade. 
 Exemplo: Lei 11.343/2006 (“Lei de Drogas”). 
Direito Penal Especial: é assim chamado, pois ele tem princípios próprios e destinatários específicos. 
 Exemplo: Código Penal Militar, que, inclusive, possui uma justiça própria. 
Nas palavras de Cezar Roberto Bitencourt, em seu livro Tratado de direito penal, Parte Geral: “... se a norma 
penal objetiva pode ser aplicada através da justiça comum, sua qualificação será de Direito Penal comum; se, 
no entanto, somente for aplicável por órgãos especiais, constitucionalmente previstos, trata-se de norma penal 
especial”. 
3. Direito Penal Objetivo x Subjetivo 
Direito Penal Objetivo: constitui-se do conjunto de preceitos legais que regulam o exercício do jus puniendi pelo 
Estado, definindo crimes e cominando as respectivas sansões penais; 
Eric Carvalho de Andrade
Direito Penal Subjetivo: emerge do próprio direito penal objetivo ao passo que confere, através do texto da lei, 
as prerrogativas para que o Estado aplique sanções contra quem descumprir as leis, ou seja, o direito penal 
subjetivo é mesmo que direito de punir (jus puniendi). Em regra se trata de titularidade exclusiva do Estado, 
porém há as exceções de autotutela autorizada/tolerada por ele. Além disso, o direito penal subjetivo é limitado 
pelo direito penal objetivo. 
Observação: Quando se falava em “ciências auxiliares” do Direito Penal, as obras clássicas se referiam a outros 
ramos do conhecimento que trabalhavam junto ao direito penal como, por exemplo, a medicina legal. 
Entretanto, atualmente, essa nomenclatura é ultrapassada, pois a palavra “auxiliar” traz uma ideia de 
superioridade do direito penal frente às outras áreas. 
 
 
Eric Carvalho de Andrade
Ciências Penais 
1. Criminologia 
É uma as ciência causal explicativas, que se preocupa com a análise da gênese do crime, das causas da 
criminalidade, numa interação entre crime, homem e sociedade, ou seja, tem como objetivo estudar a origem e 
as causas dos crimes. 
a) Criminologia etiológica 
É também chamado de criminologia tradicional e vai surgir no século XIX, com seu grande expoente Cesare 
Lombroso, autor da famosa obra “O homem delinquente”, na qual investiga “espécies” de criminosos, trazendo 
a figura do “criminoso nato” que padece do “atavismo”, ou seja, inerente à essência do ser. Essa época sofre 
influência do evolucionismo (Darwin e Spencer) e, dentro desse modelo, entende-se que o “criminoso nato” é 
um humano não evoluído, portanto é um pensamento determinista e racista, pois prega que há “raças” mais 
evoluídas que outras. 
Nessa época, o “saber cientifico” era supervalorizado e, por isso, Lombroso fazia experimentos com criminosos, 
chegando a conclusão de que as características fenotípicas teria ligação com o “criminoso nato”. A partir disso, 
inicia-se a “frenologia”, que é o estudo das regiões cerebrais e de aspectos físicos de um indivíduo. 
Aqui no Brasil, o maior seguidor dessa linha de pensamento é o médico Nina Rodrigues, principalmente com seu 
livro “As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil”. Nesse período é que surge a “medida de 
segurança” como sendo ou o cárcere ou o hospício. 
b) Criminologia crítica / Radical / Marxista 
É uma corrente de pensamento que surge no século XX, tendo como alguns expoentes dessa linha exemplos 
como Alessandra Barata, Becker, Goffman, que criaram a Teoria do Conflito (que se opõem as teorias do 
consenso). Essa teoria entende que as nossas normas penais não refletem um consenso da coletividade e sim 
de uma minoria privilegiada. 
Além disso, a criminologia crítica desenvolve também a teoria do Labelling Approach (Teoria do entiquetamento 
ou Teoria da relação social). Essa teoria sustenta que a origem do crime está no processo de criminalização, ou 
seja, há um grande rol de condutas que se escolhem quais são criminosas ou não. Nesse aspecto, existem 
vários tipos de criminalização: 
 Criminalização primária: desempenhada pelo legislativo no momento em que este criminaliza uma 
conduta; 
 Criminalização secundária: o processo de criminalização não se esgota no legislativo, surgindo aqui 
outros tipos de criminalização, ou seja, feita por agências estatais de controle (polícia, Ministério 
Público, Juízes, Defensoria Pública); 
 Criminalização terciária: já esse tipo de criminalização se dá quando o indivíduo, mesmo depois de 
cumprir pena, ainda é visto como criminoso, criando um estigma perpétuo para o egresso. 
 Seletividade penal: o Estado escolhe a sua “clientela”, ou seja, quais grupos mais serão atingidos 
quando se criminaliza uma conduta. Exemplo disso é a proibição da Capoeira que, de 1890 a 1937 foi 
“proibida” sendo classificada como “crime de vadiagem”, atingindo, claramente, não os grandes donos 
de propriedades brancos, mas sim os escravos negros. 
c) Vitimologia x Vitmodogmática 
A criminologia tradicional se limitava a estudar o crime e o criminoso. Já a nova criminologia, passou a estudar, 
não só esses dois elementos, crime e criminoso, mas também a vítima (vitimologia), e as formas de controle 
social. A vitimologia, por sua vez, vai estudar a relação da vítima com as causas do crime e o processo de 
“vitimização”. Então, basicamente, essa ciência vai estudar um fenômeno chamado “precipitação da vitima”, ou 
seja, de que maneira a vítima dá causa ao crime. 
Eric Carvalho de Andrade
Exemplo: fulano agride fisicamente beltrano e este dispara cinco tiros matando-o. Neste caso, a vítima, 
“fulano”, apesar de ser vítima, teve comportamento determinante no caso. 
 Vitimização primária: se verifica quando a vítima efetivamente sofre o delito; 
 Vitimização secundária: é também chamada de “sobrevitimização”, quando o Estado age de forma 
agressiva depois que ela já sofreu o delito, como, por exemplo, quando promotores de justiça ao 
questionarem as vítimas de um delito a fazem relembrar toda a situação com perguntas irrelevantes 
para a resolução do caso; Vitimização terciária: é operada por agentes da sociedade, por meio de julgamentos, culpando a vítima; 
 Auto vitimização: a própria vítima passa a se achar culpada por ser vítima do crime sofrido, ou seja, 
nesse estágio há uma internalização das vitimizações anteriormente citadas. 
A vítima dogmática é a atribuição de consequências jurídicas para o comportamento da vítima. 
d) Criminologia feminista 
Epistemicídio: é o ato de anular alguns pontos de vista. 
Epistemologia feminista: tem como função agregar um novo ponto de vista diferente do majoritário, pois parte 
de outro lugar de fala. 
Criminologia feminista estuda as causas, culpabilização e criminalização necessariamente levando em conta o 
ponto de vista feminista. 
e) Direito penal e neurociências (estudar Paulo Busato) 
Entende que ninguém é totalmente livre nem totalmente determinista. 
2. Política Criminal 
Enquanto a Criminologia estuda as causas do crime, a Política Criminal, debruçando-se nesses estudos, formas 
de controle (“combate”) da criminalidade. 
a) Lei e ordem e tolerância zero 
Fonte: http://meusitejuridico.com.br/2017/10/21/o-que-se-entende-em-criminologia-por-movimento-de-lei-e-ordem/ 
O movimento de Lei e Ordem – assim como o de Tolerância Zero – ficou conhecido, sobretudo, por sua 
implementação nos Estados Unidos da América com o propósito de combater a crescente criminalidade, 
especialmente em grandes cidades. Trata-se de movimento segundo o qual novos tipos penais devem ser 
criados e os tipos penais já existentes devem ser aplicados com rigor para o efetivo restabelecimento da ordem. 
Basicamente, parte-se do pressuposto de que a pena é sobretudo uma retribuição, que crimes graves devem 
ser punidos com penas altas, privativas de liberdade, e que a prisão provisória deve ser considerada como uma 
resposta imediata a práticas delitivas de maior gravidade e que causam inquietude na população de bem. 
b) Minimalismo e abolicionismo 
Fonte: https://jus.com.br/artigos/22596/breve-analise-sobre-o-abolicionismo-e-o-minimalismo 
Observação: O texto a seguir são trechos extraídos do artigo “Breve análise sobre o abolicionismo e o minimalismo”. Para ter acesso ao texto completo, acesse o link acima. 
A partir da constitucionalização do Direito Penal, ganha relevo o valor da dignidade da pessoa humana, 
alavancando debates acerca da intensidade, proporção e efetividade da intervenção estatal por meio das 
normas penais e de suas drásticas consequências nas vidas dos indivíduos. Das principais críticas ao sistema 
de justiça penal, destacam-se os movimentos abolicionista e minimalista, que, propondo a radical supressão do 
sistema penal por outras instâncias de controle social e a máxima redução deste sistema, respectivamente, 
mostram-se ambos como movimentos deslegitimadores do sistema penal vigente. 
I. Abolicionismo 
[Em sua origem] O objetivo vislumbrado era buscar uma solução para a violência que não fosse baseada em 
violência, pacificar os conflitos sociais através de modelos de atuação que pressupõem o princípio do acordo 
indivíduo-indivíduo, privilegiando o diálogo e substituindo a disciplina. 
Eric Carvalho de Andrade
A proposta abolicionista se desenvolve em torno da criação de alternativas para o processo de Justiça Criminal, 
de natureza legal ou não legal, propondo a criação de micro-organismos sociais baseados na solidariedade e 
fraternidade, com vistas à reapropriação social dos conflitos entre agressores e ofendidos e a criação 
espontânea de métodos ou formas de composição. 
O sistema penal é encarado, em si mesmo, como um problema social, um “mal social” que mais cria problemas 
que resolve, devendo ser por isso abolido, dando vida às comunidades, às instituições e aos homens. 
(...) não existiu uma dita essência para o abolicionismo ou mesmo uma teoria única que abarcasse os aspectos 
de todas as variantes do movimento. O ponto coincidente que se pode distinguir em toda essa diversidade é 
exatamente a busca, comum a todas as variantes, de caminhos e objeto da abolição, isto é, a extensão, os 
métodos, as táticas e os consequentes impactos sociais. 
(...) Uma delas [críticas] é o descrédito que atribui à prevenção geral, afirmando que o direito penal é incapaz de 
motivar comportamentos subjetivos a fim de evitar os delitos, uma vez que, a despeito da incriminação, diversos 
crimes – como o tráfico ilícito de entorpecentes, por exemplo – continuam a se repetir sistematicamente. 
A prevenção especial é, igualmente, posta em xeque pelos abolicionistas. A prisão, local onde pretensamente se 
operaria a ressocialização e a reintegração dos infratores ao meio social, ao contrário, dessocializa, desumaniza 
e estigmatiza os apenados, relevelando-se sim como um verdadeiro fator criminógeno. 
É também contestada a função garantista do Direito Penal, pois a lei, vocacionada a restringir a intervenção do 
Estado na esfera individual, ao reverso, autoriza e legitima essa intervenção. 
Critica-se o sistema penal, ainda, por ser arbitrariamente seletivo, pois, assentado sobre uma estrutura social 
profundamente desigual, angaria sua “clientela” entre os mais miseráveis, reproduzindo, assim, a injustiça e 
desigualdade sociais. 
Aliado a isso, critica-se o fato de que o sistema criminaliza um número muito superior de condutas do que o que 
está capacitado para efetivamente lidar, o que sobrecarrega os órgãos incumbidos da repressão criminal e 
impede que, de fato, funcione. Ademais, o sistema penal somente atua num número muito reduzido de casos, 
devido às “cifras ocultas” da criminalidade – a soma de crimes praticados no cotidiano e que não são 
registrados ou sequer chegam ao conhecimento do sistema – o que torna regra a imunização e não a 
criminalização. 
Além das críticas supramencionadas, somam-se as direcionadas à atuação reativa e não preventiva do sistema 
penal, a sua atuação mediata ou tardia em relação à prática do delito e o fato de não ser o sistema penal 
inerente às sociedades, tendo em vista que, antes da lei penal, havia outras formas de manejar os conflitos e 
resolver os problemas no meio social. 
II. Minimalismo 
O minimalismo toma por base as mesmas críticas que os abolicionistas levantam contra o sistema penal, 
diferindo destes por apregoar a necessidade do direito penal, embora reduzido sua incidência a um mínimo 
necessário, restrita a um núcleo absolutamente essencial de condutas particularmente danosas. 
(...) a visão minimalista impõe que não se deva recorrer ao direito penal e sua gravíssima sanção se existir a 
possibilidade de garantir proteção suficiente por meio de outros instrumentos jurídicos não penais. 
Já o minimalismo em sua dimensão pragmática ou como reforma penal designa um movimento que, no embalo 
do princípio da intervenção mínima, do uso da prisão como última ratio e da busca de penas que lhes sejam 
alternativas, desenvolveu-se desde a década 80 do século XX e, no Brasil, a partir da reforma penal e 
penitenciária de 1984, com marcos como a introdução das penas alternativas (Leis 7.209 e 7.210/84), a 
edição da atual lei das penas alternativas (Lei 9.714/98) e a implantação dos juizados especiais criminais 
estaduais (Lei 9.099/95) para tratar dos crimes de menor potencial ofensivo. 
Eric Carvalho de Andrade
3. Dogmática Penal 
Tem como objetivo decidir conflitos, sendo sempre tardia, ou seja, há primeiro o crime para posteriormente 
haver a incidência da lei (subsunção – “encaixar” a lei no fato). 
 
 
Eric Carvalho de Andrade
Evolução histórica do direito penal 
1. Introdução 
Antiguidade/Idade Média: direito penal como ideia de vingança; Aqui havia uma grande mistura entre direito e 
moral, onde as penas aplicadas eram, muitas vezes, feitas “em nome de Deus”. A partir do ImpérioRomano é 
que se começa a ter uma separação entre Estado e Religião. 
A vingança, por sua vez, poderia ser divina, privada (tribo contra tribo ou indivíduo contra indivíduo), 
Estatal/Institucionalizada (titularização estatal do jus puniendi). 
Nesse cenário, a lógica da punição está historicamente vinculada à ideia de vingança. 
No direito penal comum, com os Estados absolutistas, atribui ao Estado a exclusividade de se aplicar penas ( jus 
puniendi). Apesar de se tratar de uma grande evolução, ainda existia uma insegurança jurídica, pois o poder de 
punir era usado de acordo os interesses do príncipe, com constante temor social. Esses Estados absolutistas 
trabalhavam muito com sanções corporais, como, por exemplo, a mutilação. 
2. Direito Canônico 
O direito canônico, mesmo na atualidade, ainda influência muito o direito penal. 
A lógica da privação da liberdade é fortemente influenciada por esse direito, disciplinando os “rebeldes” que 
destoassem do comportamento aceito. Surgem então as “penitências”, justificado pela teoria da Expiação, que 
é “zerar”, “aplacar”, os pecados a fim de pagá-los. 
3. Período humanizado 
O marco de humanização do direito penal se dá com a revolução francesa, com os seus três pilares “liberdade, 
igualdade e fraternidade”, que começa a se preocupar com a insegurança jurídica dos estados absolutistas. 
Aqui o corpo deixa de ser o principal alvo da punição e passa a ser a liberdade do ser humano, considerado o 
valor mais alto de todos. 
4. Escolas penais 
a) Escola clássica 
Não houve uma escola clássica propriamente dita, pois na verdade essa classificação fora feita de forma 
pejorativa pelas escolas seguintes. De forma geral, as produções de matéria penal desse período foram 
inspiradas no iluminismo, e tinham em comum o combate à crueldade da pena, a contestação à tirania estatal, 
igualdade perante a lei. O delinquente que infringisse a lei era considerado um inimigo da sociedade, 
justamente pelo fato de ter quebrado o acordo de vontades feito. De forma geral, essa escola representou um 
marco ideológico adequado para a proteção da burguesia nascente, e dividiu-se em dois períodos: 
I. Teórico-filosófico: possuía um cunho iluminista, utilitarista (contrato social). 
II. Ético-jurídico: período em que tais ideias “clássicas” passam a dominar o Direito Penal. 
b) Escola positiva 
É a escola do Direito Penal que nasceu no final do século XIX, onde os preceitos do positivismo, cientificismo e 
evolucionismo estavam em seu ápice. Nasce aqui a criminologia, ou seja, o estudo da origem do crime, 
afirmando ser o criminoso um ser menos evoluído (evidenciando aqui as ideias de Darwin e seu evolucionismo) 
e que possuía características físicas em comum a outros criminosos. 
Essa escola, entretanto, procurava uma roupagem científica na busca da origem do crime, falhando gravemente 
ao ser reducionista, ou seja, utilizar de um simples fator para se chegar a uma conclusão geral. 
Tinha como principais escritores, Cesare Lombroso, Rafael Garofalo e Enrico Ferri. 
Eric Carvalho de Andrade
c) Terceira escola italiana 
A terceira escola italiana tem como preocupação diferenciar imputáveis de inimputáveis, ou seja, a capacidade 
de determinação do moral e imoral. Por conta disso, nega, porém não rompe, com livre-arbítrio e com o 
determinismo atávico de Lombroso, onde os imputáveis poderiam sofrer a pena de privação de liberdade, ao 
passo que os inimputáveis seriam tratados a partir da medida de segurança. 
d) Escola moderna alemã 
A escola moderna alemã vai trabalhar com o sistema duplo binário, ou seja, o sujeito poderia cumprir pena e 
medida de segurança, sobretudo uma categoria que era referida aos semi-imputáveis, ficando em um meio 
termo. O método utilizado é a subsunção, ou seja, encaixar o ato no texto da lei. 
5. Estado de coisas inconstitucionais 
De acordo com a Corte Constitucional Colombiana, que passou a desenvolver essa teoria, desde a Sentencia de 
Unificación (SU) 559, de 1997, esse Estado de Coisas existe quando um quadro insuportável de violações de 
direitos fundamentais começam a ocorrer de forma massiva/generalizada, decorrente da omissão ou comissão 
de diferentes autoridades públicas, agravado pela inércia reiterada dessas mesmas autoridades, ou seja, a 
estrutura da ação estatal está com sérios problemas e não consegue modificar a situação tida como 
inconstitucional. 
Fonte: https://fabiomarques2006.jusbrasil.com.br/artigos/296134766/o-que-se-entende-por-estado-de-coisas-inconstitucional 
Exemplo: no sistema prisional brasileiro existe um verdadeiro "Estado de Coisas Inconstitucional", pois possui as 
seguintes características: 
a) violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais; 
b) inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a conjuntura; 
c) situação que exige a atuação não apenas de um órgão, mas sim de uma pluralidade de autoridades para 
resolver o problema. 
Diante disso, o STF reconheceu que no sistema prisional brasileiro realmente há uma violação generalizada de 
direitos fundamentais dos presos. As penas privativas de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo 
penas cruéis e desumanas e que não ressocializam os presos. 
Fonte: https://www.dizerodireito.com.br/2015/09/entenda-decisao-do-stf-sobre-o-sistema.html 
 
 
Eric Carvalho de Andrade
Princípios 
1. Legalidade 
A fim de combater os Estados Absolutistas, o princípio da legalidade visa proteger os indivíduos de uma conduta 
arbitraria e imprevisível da parte dos governantes. No nosso ordenamento jurídico, esse princípio está previsto 
tanto na constituição quanto no código penal, enquanto nesse está no artigo 5º e neste, no 1º, sendo o artigo 
mais importante do código penal. 
O nosso atual código penal, publicado em 1940, é organizado em parte geral, que vai do artigo 1º até o 120º, e 
a parte especial, a partir do artigo 121º. Antes desse código penal, tivemos as Ordenações Filipinas, o Código de 
1830 (código criminal do império) e o código de 1890 (código republicano). 
Na parte geral, estão as normas gerais (princípios, aplicação, lei e etc.), já na parte especial, é apresentado os 
crimes em espécie (tipos criminais). 
O artigo primeiro abre o Código Penal com o princípio de legalidade, ou seja, previsibilidade tanto do que é crime 
quanto do que pode ser adotado como pena. 
Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 
 “lei” / “legal”: reserva legal. 
 “lei anterior” e “prévia combinação”: anterioridade; 
 “defina”: taxatividade; 
Reserva legal – quando fazemos menção a esse princípio, estamos limitando a criação legislativa quando se 
trata de matéria penal. Esse princípio faz um recorte ainda maior no princípio da legalidade, pois a lei penal 
precisa ser formalmente legal, ou seja, para que ela venha a produzir efeitos é indispensável passar por 
todos os trâmites legais previstos pela Constituição, cabendo salientar que não existe lei penal oriunda do 
executivo nem do judiciário. Além disso, a lei penal precisa ser materialmente legal, ou seja, seus preceitos 
não podem desrespeitar os direitos fundamentais previstos pela constituição. Portanto, essa junção de 
legalidade formal e legalidade material formam o princípio da legalidade estrita. 
Anterioridade - a lei que caracteriza um ato como sendo criminoso precisa estar em vigor antes de este ser 
praticado. Neste aspecto, a Constituição Federal, no seu artigo 5º inciso XL, declara: 
“a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”, 
Sendo que essa retroatividade declarada é a chamada “benéfica”, “in mellius”, ou seja, quando uma 
conduta deixa de ser considerada criminosa (“abolitio criminis”). 
Taxatividade– a lei precisa ser precisa, ou seja, não pode deixar dúvidas para os intérpretes. Cabe observar 
também, que o princípio da legalidade veda também o recurso de analogia para se criar hipóteses que 
possam vir a prejudicar o agente. 
a) Normas Penais em Branco 
São aquelas que carecem de complementação de outro diploma legal (leis, decretos regulamentos e etc.) para 
que se possa haver subsunção entre a norma e o caso concreto. São subdivididas em dois tipos, de acordo com 
a fonte de produção da norma: 
 Homogêneas (em sentido amplo) / impróprias; 
Complemento possui mesma hierarquia, ou seja, o Código Penal é complementado por outra lei advinda 
do Congresso Nacional (exemplo: o Código Civil complementando o Código Penal). Essas normas penais 
em branco homogêneas subdividem-se em duas outras espécies: 
o Homovitelinas: Código Penal completando ele mesmo; 
Eric Carvalho de Andrade
o Heterovitelinas: Código Civil complementando o Código Penal. 
 Heterogêneas (em sentido estrito) / próprias; 
Complemento possui hierarquia diversa, ou seja, o Código Penal é complementado por leis que não são 
oriundas do Congresso Nacional, e sim de outras instâncias inferiores (exemplo: uma Portaria 
complementando o Código Penal). 
Observação: Normas penais em branco às avessas: 
É o que ocorre quando o preceito primário, a descrição da conduta, é completo, mas falta preceito secundário 
(que dispõe sobre a sanção penal). No Brasil não se admite as normas penais em branco inversas. 
b) Debate da constitucionalidade das normas penais em branco 
O grupo que defende a inconstitucionalidade das normas penais em branco afirma que estas ferem o princípio 
da legalidade estrita ao passo que a norma complementar, quando advinda de um órgão diverso ao Congresso 
Nacional, pode até cumprir o sentido material, mas fere o trâmite formal. A consequência disso é que a 
criminalização de uma conduta poderá ser feita sem antes haver um amplo debate, podendo restringir a 
decisão a um órgão pequeno e pouco representativo, como, por exemplo, a cúpula de direção da ANVISA - 
autarquia vinculada ao Ministério da Saúde (Poder Executivo) - quando versa sobre o conceito de drogas. 
O entendimento que prevalece (STJ e STF), entretanto, é pela constitucionalidade da existência de normas 
penais em branco heterogêneas. Fundamenta-se essa linha de pensamento no fato de que é necessária tal 
complementação diversa do Congresso Nacional, desde que não seja complementado o preceito secundário da 
norma (aquele que versa sobre a pena a ser aplicada). 
2. Intervenção Mínima e fragmentariedade 
Os bens existências (desde um carro, até mesmo o amor) são matéria prima – substrato subjetivo – para se 
criar os bens jurídicos. Partindo então, deste bem jurídico, cria-se o bem jurídico penal, ou seja, o legislador 
seleciona as condutas mais relevantes que deverão merecer atenção do direito penal. Para isso, portanto, é 
necessário basear-se em dois critérios: o da subsidiariedade e o da fragmentariedade. 
 Fragmentariedade: regula os bens jurídicos mais relevantes, ou seja, o direito penal analisa os outros 
ramos do direito aplicando uma dupla proteção, criando os crimes ambientais, tributários, civis, 
trabalhistas e entre outros. Tudo o que está regulado no direito penal é antes um ilícito de algum outro 
ramo. 
 Subsidiariedade: o direito penal atua como “ultima ratio”, ou seja, para se criminalizar uma conduta, não 
basta que o bem jurídico seja importante, mas é também necessário demonstrar que os outros ramos 
do direito não são, sozinhos, capazes de proteger tal bem jurídico. 
3. Lesividade 
Lesão x Perigo Concreto 
De acordo a esse princípio, ninguém poderá ser punido pelo que pensa ou mesmo por seus sentimentos 
pessoais. Se tais sentimentos não ferem exteriorizados e não produzirem lesão a outrem, não se pode punir a 
pessoa que em seu íntimo teve tais pensamentos. Ademais, não se podem punir também os atos preparatórios 
que antecedem a execução de determinada infração penal. 
Portanto, de acordo com esse principio só se pode punir quando há lesão ou perigo concreto de lesão a um 
determinado bem jurídico. 
Bens 
existênciais 
SUBSTRATO SUBJETIVO Bens jurídicos SUBSIDIARIEDADE FRAGMENTARIEDADE 
Bem jurídico 
penal 
Eric Carvalho de Andrade
Observação: crimes de perigo abstrato são aqueles que não exigem a lesão de um bem jurídico ou a colocação 
deste bem em risco real e concreto. São tipos penais que descrevem apenas um comportamento, uma conduta, 
sem apontar um resultado específico como elemento expresso do injusto. 
Podemos citar como exemplo o crime de dirigir embriagado: (Lei 9.503/97 "Conduzir veículo automotor, na via 
pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou 
sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência"). O tipo penal não exige a 
lesão ou a morte de alguém, e também não prevê que seja demonstrado que alguém foi exposto a um risco 
concreto pelo veículo dirigido pelo condutor embriagado. Descreve apenas um comportamento e determina a 
aplicação da pena, independente do resultado. 
Ler: http://www.cartaforense.com.br/conteudo/entrevistas/crime-de-perigo-abstrato/6433 
4. Insignificância 
Como já visto, o Direito Penal funciona como última “ratio” para tutelar bens jurídicos, ou seja, o Estado procura 
selecionar os casos mais relevantes para colocar sob proteção de matéria penal. Entretanto, mesmo nessa 
seleção, pode o legislador acaba atingindo – por meio da norma – casos irrelevantes. O princípio da 
insignificância surge justamente para “corrigir” essa incapacidade de o legislador, ao criar uma norma para 
proteger algo importante, acabe atingindo também casos irrelevantes, ou seja, a simples adequação formal de 
um comportamento não é suficiente para incriminar um indivíduo. 
Diante da ausência de previsão legal, fica a cargo da jurisprudência a indicação das situações cabíveis para 
aplicação do princípio. 
a) Requisito para se configurar um crime como insignificante: 
Para que seja possível sua aplicação, há certos requisitos estabelecidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), 
quais sejam: 
 Mínima ofensividade (analisar a conduta); 
O crime não pode envolver violência ou grave ameaça à pessoa. 
 Inexpressividade da lesão (analisar a vítima); 
É necessário analisar o impacto para a vítima. 
 Reduzido grau de Reprovabilidade (analisar o réu); 
Será estudado se o réu é reincidente, assíduo. 
 Ausência de periculosidade (analisar a sociedade). 
Por fim, se analisa qual foi o risco que a conduta ofereceu à sociedade. 
b) Aplicação do princípio da insignificância nos casos de contrabando e descaminho: 
Embora muitos confundam os dois tipos penais, há que se destacar que o descaminho – previsto no artigo 334 
do Código Penal Brasileiro (CPB) – fala do (não) pagamento do imposto devido pela entrada, saída ou consumo 
de mercadoria. Já no contrabando, disposto no artigo 334-A do mesmo instrumento normativo, a essência do 
tipo penal versa sobre a mercadoria, nesse caso, proibida no país, de ser importada ou exportada. 
No que diz respeito ao crime de contrabando, os tribunais superiores têm se posicionado, de modo geral, 
contrariamente à aplicação do princípio da insignificância, uma vez que os prejuízos não se demonstram 
somente em um aspecto tributário, mas também na possibilidade de danos graves – a exemplo da saúde, no 
caso de contrabando de cigarros. Já no que se refere ao descaminho, há divergência sobre o valor máximo do 
tributo sonegado para que se permita o benefício. 
Neste caso, para o STJ, a insignificância somente seria aplicável quando o montante questionado fosse igual ou 
inferior a R$ 10 mil – referindo-seao artigo 20 da Lei 10.522/02. Já o STF considera o valor de R$ 20 mil como 
limite, respaldando-se também no instrumento normativo invocado pelo STJ, porém, já atualizado pelas 
portarias 75 e 130, ambas de 2012, do Ministério da Fazenda. 
Fonte: http://domtotal.com/noticia/1240270/2018/03/aplicacao-do-principio-da-insignificancia-nos-crimes-de-descaminho-e-contrabando/ 
Eric Carvalho de Andrade
c) O crime de posse de drogas para uso pessoal e o princípio da insignificância ou bagatela 
De acordo com o artigo 28, da Lei 11.343/06: 
[...] Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, 
drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às 
seguintes penas: 
I - advertência sobre os efeitos das drogas; 
II - prestação de serviços à comunidade; 
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo [...] 
Em uma interpretação literal da norma, não importa a quantidade de droga que o sujeito esteja portando, se 
ínfima ou expressiva. Para a configuração do tipo incriminador basta que ele esteja portando droga para seu 
consumo. 
O Superior Tribunal de Justiça – STJ - vem reiteradamente decidindo que a pequena quantidade de drogas faz 
parte da própria essência do delito, classificando o crime do art. 28 da Lei de Drogas como de perigo abstrato 
ou presumido, por atingir a saúde e a incolumidade pública. O Ministro Og Fernandes, ao relatar o RHC n.º 
34.466/DF, asseverou que “a utilização de drogas constitui situação de perigo e dano à sociedade, seja pela 
propagação do vício, seja pela indução à prática de outros delitos, evidenciando-se a existência de lesividade da 
conduta”. 
Fonte: https://mateuscminuzzi.jusbrasil.com.br/artigos/118053667/o-principio-da-insignificancia-ou-bagatela-e-o-crime-de-posse-de-drogas-para-uso-pessoal-art-28-da-lei-11343-03 
d) Observações: 
 Tribunais não aplicam insignificância para casos de violência doméstica conta a mulher (Súmula 589 
STJ). 
 STJ não admite insignificância para crimes contra a administração pública: 
Súmula 599 - O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração 
pública. (Súmula 599, CORTE ESPECIAL, julgado em 20/11/2017, DJe 27/11/2017) 
Já o STF, excepcionalmente, admite. 
 Tribunais não admitem princípio da insignificância para tráfico de entorpecentes. 
 Não cabe ao delegado aplicar princípio da insignificância, aplicação que caberá ao Ministério Público 
(não oferecimento de denúncia) ou ao Juiz (absolvição do réu). 
 Uma vez aplicado o princípio, a conduta será considerada ATIPICA, por ausência de TIPICIDADE 
MATERIAL. 
 STJ não aplica insignificância para o porte de arma ilegal. Também não aplica para tráfico de 
entorpecentes e furto qualificado (exemplo: artigo 155, §4 inciso I). 
 Nos crimes contra ordem tributária os tribunais aplicam o princípio da insignificância para lesões 
inferiores a 20.000 reais (portarias 75 e 130 do Ministério da Fazenda). 
Observação: furto de bem de pequeno valor e furto de bem de valor insignificante: 
Fonte: https://jus.com.br/artigos/17039/a-fronteira-entre-os-conceitos-de-bem-de-pequeno-valor-e-de-bem-de-valor-insignificante-para-aplicacao-do-principio-da-bagatela-no-crime-de-furto/1 
 Bem de pequeno valor Bem de valor insignificante 
Lei 
C. Penal: Art. 155 - Subtrair, para si ou para 
outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, 
de um a quatro anos, e multa. ... § 2º - Se o 
criminoso é primário, e é de pequeno valor a 
coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de 
reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a 
dois terços, ou aplicar somente a pena de 
multa. 
Não é tutelado pelo CP, e sim pela 
jurisprudência. 
Sanção Redução da pena / Substituição Desconsideração da pena (conduta atípica) 
Subsunção 
A subsunção é feita analisando se esse bem 
furtado se encaixa no conceito de pequeno 
Baseia-se no princípio da insignificância / 
bagatela. 
Eric Carvalho de Andrade
valor. Essa analise é feita não em relação às 
vitimas, mas sim em relação à sociedade. 
Alguns tribunais entendem como pequeno 
valor o bem que não ultrapassa um salário 
mínimo da época do fato. 
Analisa-se a conduta (violenta ou não), a 
vítima (dano sofrido), o réu (reincidência) e a 
sociedade (risco oferecido). 
Em resumo: 
1. Analisa-se a significância do bem; 
2. Classifica-se a tipicidade (típica ou atípica); 
3. Se ultrapassar a proteção do princípio da insignificância, o direito penal passa a regular tal ação em sua lei. 
5. Adequação Social 
Não se pune a conduta socialmente adequada, ou seja, a conduta socialmente aceita. Esse princípio, portanto, 
tem duas funções: restringir o âmbito de abrangência do tipo penal e orientar o legislador em relação à seleção 
que ele faz dos bens existenciais. 
Para esclarecer esse princípio na prática, vejamos os seguintes casos: 
 De acordo com o STJ, a compra e venda de CDs e DVDs piratas não é uma conduta socialmente 
adequada (Súmula 502 do STJ). 
 Furar a orelha de bebês do sexo feminino é uma conduta socialmente aceita, apesar de ser uma lesão 
corporal. 
 Usina nuclear, apesar de oferecer um perigo abstrato, é aceito socialmente e não havendo interferência 
do direito penal. 
6. Individualização das penas 
O juiz quando for aplicar a pena, deverá fazer isso de forma proporcional / dosada (dosimetria). Trazendo esse 
conceito para o princípio da individualização das penas, o juiz analisará cada caso de forma individual e aplicar 
sentenças “dosadas”, ou seja, o juiz não pode “julgar em bloco”, como, por exemplo, no caso do escândalo do 
mensalão, onde vários políticos envolvidos foram julgados de forma individual de acordo com seus atos. 
Norma: previsão abstrata. 
Sentença: individualizadas para casos concretos. 
7. Proporcionalidade 
Esse princípio tem dois destinatários: o legislador, no plano abstrato, que deve estabelecer penas proporcionais 
ao delito; e ao juiz, no plano concreto, deve aplicar a norma nos limites impostos de forma proporcional. 
 
De acordo com Robert Alexy: 
Proporcionalidade em sentido amplo: 
 Adequação: pressupõe a análise de se os meios usados são hábeis para alcançar os fins buscados, ou 
seja, cabe o questionamento se a medida é apta para resolver o problema; 
 Necessidade: requer a analise para averiguar se somente aquela medida pode resolver o problema, ou 
seja, cabe ao legislador e ao aplicador da lei ponderar se existem medidas menos gravosas que 
resolveriam o problema; 
 Proporcionalidade em sentido estrito: é basicamente a analise do “custo-benefício” da medida a ser 
tomada, ou seja, ponderar as desvantagens dos meios em relação às vantagens do fim. 
Por fim, Alexy afirma que os direitos fundamentais devem ser concretizados na maior medida possível, ou seja, 
o Estado deve procurar restringir o mínimo possível desses direitos para se chegar a solução. 
8. Princípio da limitação das penas / humanidade / humanização 
É pautado no princípio da dignidade da pessoa humana. Durante o século das luzes é que se começou a 
substituir as penas aflitivas pelas penas privativas de liberdade. 
Eric Carvalho de Andrade
De acordo com esse princípio, não haverá penas (Art. 5º da CF de 88): 
 De morte, salvo em caso de guerra; 
 De caráter perpétuo; 
 De banimento (expulsão do país); 
 De trabalhos forçados (cabe salientar aqui que a Constituição visa proibir aqueles trabalhos forçados 
que humilha o condenado pelas condições que é executado, e não aqueles trabalhos cumpridos pelos 
prisioneiros que têm como finalidade de reduzir a sua pena); 
 Cruéis / Degradantes. 
9. Responsabilidade pessoal / Intranscendência penal 
Ninguémserá condenado por conduta de terceiros e nenhuma pena passará da pessoa do condenado. 
Cabe salientar que se estivermos diante de uma responsabilidade não penal, como a obrigação de reparar o 
dano, e a pessoa que praticou a lesão, vier a óbito, a obrigação de tal reparo e o perdimento de bens poderá ser 
estendida aos sucessores até o limite do valor que lhes foi transferido por herança. 
Portanto, a responsabilidade penal é diferente da responsabilidade civil. 
Entretanto, nos casos de multa penal, não poderá o valor a ser cobrado transcender aos seus herdeiros. 
Portanto, a pena continua tendo caráter personalíssimo. 
10. Princípio da culpabilidade (responsabilidade subjetiva) 
Esse princípio afirma que a responsabilização penal depende do exame de dolo e culpa (elementos subjetivos). 
Contrapõe-se a responsabilidade objetiva, que independe do exame do dolo e da culpa. 
No direito penal é trabalhada a intenção do sujeito que praticou o crime, se, por exemplo, ele matou uma 
pessoa intencionalmente ou não, ou se ele teve culpa ou não. 
Art. 121. Matar alguém: 
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) 
Pena - detenção, de um a três anos. 
 
Art. 163. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Dano qualificado 
Parágrafo único. Se o crime é cometido: 
I – com violência à pessoa ou grave ameaça; 
II – com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave; 
III – contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou 
sociedade de economia mista; IV – por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima: 
IV – por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima: 
Pena – detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência. 
 
Diante desse art. 163, por exemplo, caso uma pessoa acidentalmente destrua um patrimônio, não há 
subsunção entre essa lei e o caso concreto, pois tal indivíduo não teve a intenção de destruir, ou seja, foi 
culposo ao invés de doloso. 
11. Ne bis in idem 
Não se admite a dupla punição ou duplo processamento em virtude de uma mesma circunstância fática. Só se é 
possível abrir um novo processo para o mesmo fato para beneficiar o réu caso seja verificado erro. 
Eric Carvalho de Andrade
Observação: o desarquivamento de inquérito, em virtude de novas provas não viola o princípio do Ne bis in idem 
(Art. 18 CPP e Súmula 524 do STF). Diferentemente, a sentença absolutória fundamentada na ausência de 
provas não poderá ser revista após o trânsito em julgado. 
Ne bis in idem e o artigo 61, inciso I do CP. Como entende o STF? 
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o 
crime:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 I - a reincidência; 
Observação: o presente texto tem trechos extraídos de artigo publicado no JusBrasil. Para ler a obra na íntegra, acesse o link: 
https://eduardocabette.jusbrasil.com.br/artigos/146239815/agravante-da-reincidencia-nao-e-inconstitucional-posicao-do-supremo-tribunal-federal 
O Supremo Tribunal Federal, no bojo do Recurso Extraordinário 453000, interposto contra Acórdão do Tribunal 
de Justiça do Rio Grande do Sul, enfrentou a velha celeuma referente à Constitucionalidade ou 
Inconstitucionalidade da reincidência como agravante genérica do Código Penal Brasileiro, conforme consta de 
seu artigo 61, I. A decisão unânime foi pelo reconhecimento da constitucionalidade do disposto no 
artigo 61, I, CP. 
A argumentação da Defensoria Pública, que refletia orientação de boa parte da doutrina brasileira e pretendia a 
declaração da inconstitucionalidade do dispositivo em destaque, pode ser resumida nos seguintes pontos 
principais: 
a) A agravação da pena pela reincidência do condenado implicaria em odioso “bis in idem”, vez que o indivíduo 
seria apenado duas vezes pelo mesmo fato. Já teria cumprido a pena que gera a reincidência e, mesmo assim, 
essa antiga condenação lhe renderia um acréscimo na reprimenda atual. 
b) A defensoria, inclusive durante a sustentação oral em plenário, acenou com a alegação de que pessoas na 
área administrativa de trânsito, mesmo quando reincidentes, não são punidas com maior rigor, o que não 
permitiria tal procedimento na seara penal. 
c) A agravante da reincidência também violaria o Princípio da Individualização da Pena. 
d) Outro fator seria que a reincidência causaria uma estigmatização do infrator, criando-lhe também óbices para 
o alcance de benefícios penais, processuais penais e executórios. 
Doutra banda, essas argumentações foram rechaçadas pelo E. STF com as seguintes assertivas: 
a) O sistema penal brasileiro adota uma dupla finalidade para a pena: finalidade repressiva e preventiva. Dessa 
forma, o apenado que insiste nas práticas criminosas deve ser tratado com maior rigor. 
b) Não haveria “bis in idem” na medida em que não se pune o infrator pelo mesmo fato, mas fatos diversos, 
considerando uma circunstância pessoal que compõe o histórico de vida pregressa do condenado. 
c) Não haveria infração alguma ao Princípio Constitucional da Individualização da pena. Muito ao reverso, a 
aplicação da agravante da reincidência estaria a dar guarida exatamente a esse princípio, evitando tratar em 
vala comum pessoas desiguais. 
d) O Ministro Relator Marco Aurélio chamou também a atenção para ponto importante, qual seja, as 
repercussões de eventual reconhecimento de inconstitucionalidade da reincidência, já que ela não se reduz à 
agravante genérica, mas se espraia para mais de vinte institutos penais e processuais, bem como da fase de 
execução penal (v. G. Progressão de regime, penas substitutivas, livramento condicional, suspensão condicional 
do processo etc.). Seria uma temeridade a provocação de uma avalanche de questionamentos e alterações no 
sistema penal como um todo com fulcro em alegações pouco fundadas. 
Diante do caso o STF pronunciou-se de forma segura, responsável, equilibrada e justa. 
Eric Carvalho de Andrade
12. Auto responsabilidade (Bernd Schünemann) 
Para o autor alemão o titular de bem jurídico que se comporta de maneira negligente ou arriscada deve ser 
considerado responsável pela lesão que vier a sofrer e, consequentemente, punido com a não incidência da 
intervenção penal (“princípio vitmodogmático”). 
13. Princípio da confiança (Günther Jakobs) 
Para o autor, cada pessoa na sociedade desempenha papéis conforme a função que ocupa. Isso permite que se 
estabeleça uma relação de expectativa / confiança no agir do outro ainda que seja um desconhecido. 
Quebrando-se injustificadamente esta confiança a norma penal deverá incidir para reestabelecer a expectativa 
de conduta. 
14. Publicidade 
É uma garantia penal / processual que deve ser interpretada a favor do réu e não contra ele não se podendo 
confundido, portanto, publicidade e sensacionalismo / superexposição / espetacularização. 
 
 
Eric Carvalho de Andrade
Funções da Pena 
1. Introdução 
A concepção de direito penal está intimamente relacionada com os efeitos que ele deve produzir. 
Fim ou finalidade da pena: relaciona-se com os efeitos sociais buscados. 
Função da pena: relaciona-se com a analise descritiva dos efeitos sociais produzidos. 
2. Discursos legitimadores da pena 
2.1. Teorias absolutas ou retributivas 
Advinda desde a Grécia antiga, perpassando também pela Idade Média, a teoria retributiva é aquela que retribui 
o “mau” causado por alguém. 
São todas as todas as teorias que veem o direito penal como o fim em si mesmo, independentemente de razões 
utilitárias ou preventivas. Significa dizer que a legitimidade aqui decorre apenas do fato de o delitoter sido 
cometido. 
Até o Estado Absolutista, “reinava” essa ideia de pena como sendo uma punição pelo “pecado” cometido. Com o 
Estado burguês, entretanto, há uma laicização do Estado e por consequência do direito penal. Desta forma, a 
pena deixa de ser uma retribuição ao pecado, e sim uma retribuição à ordem jurídica adotada pelos homens e 
consagrada pelas leis. Portanto, com esse novo modelo de estado, a pena é a necessidade de restaurar a 
ordem jurídica interrompida pelo delito. 
Neste compasso, o criminoso é então considerado um “traidor” que, usando do seu livre-arbítrio rompe com o 
contrato social estabelecido entre os homens e, por isso, deve ser punido. A pena aqui tem como fim apenas 
fazer justiça. 
Pode-se aqui destacar Kant e Hegel. 
Kant (teoria da retribuição moral): a pena aqui é justificada apenas pelo cometimento do delito, havendo a 
justificação moral, ou seja, a pena é a resposta do Estado ao delito. 
Kant entende a lei como sendo o imperativo categórico, isto é, a ação a ser adotada pelo ser humano. 
Hegel (teoria da retribuição jurídica): o direito está na nossa sociedade para estabelecer regras (direito positivo) 
e, a partir do momento em que se comete o delito, esse indivíduo nega a existência do direito, tendo como 
consequência a pena. Em outras palavras, esta é explicada por um processo dialético inerente à ideia do 
Direito, considerando o delito como uma violência contra o direito, a pena é uma violência que anularia a 
primeira, reafirmando o Direito. 
2.2. Teorias relativas ou preventivas 
Percebem a pena como um meio a serviço de determinados fins, considerando-a utilitariamente, ou seja, a pena 
não serve apenas para punir o sujeito e sim para, também, prevenir o delito. Por isso, as teorias relativas 
também são conhecidas como teorias utilitaristas. 
A finalidade preventiva da pena se divide – a partir de Feurbach – em: prevenção geral (para toda a sociedade) 
e prevenção especial (para aquele que delinquiu). 
a) Prevenção Geral 
Prevenção Geral Negativa 
Forma de coação psicológica exercida sobre seus destinatários, distinguindo-se na cominação (previsão) e 
aplicação da lei. Feurbach foi o formulador da “teoria da coação psicológica”, isto é, a pena impõe um medo nos 
indivíduos fazendo com que estes não cometam o delito. O não cometimento deste delito, portanto, seria fruto 
da intimação à pessoa e da sua ponderação em relação às consequências (livre arbítrio). 
Eric Carvalho de Andrade
 
Prevenção Geral Positiva 
Günther Jakobs: parte da funcionalidade do direito penal para o sistema social. 
Difundida na consciência geral a necessidade de preservar os bens jurídicos. A pena tem função de proteger as 
interações sociais por meio de sua aplicação ante as frustrações decorrentes da violação das normas. 
b) Prevenção Especial ou individual 
Diz Paulo Queiroz: “Para essa corrente, a finalidade do direito penal é prevenir novos crimes, ressocializando os 
seus autores, reeducando-os etc.; ou seja, o sentido do castigo é evitar a reincidência, razão pela qual a 
prevenção não se dirige a todos, mas a algumas pessoas em particular, os criminosos. O direito penal pretende, 
em última análise, a conversão do delinquente num homem de bem”. 
A prevenção especial não busca a intimidação do grupo social nem a retribuição do fato praticado, visando 
apenas aquele indivíduo que já delinquiu para fazer com que não volte a transgredir as normas jurídico penais. 
Prevenção especial negativa 
Teoria voltada à neutralização do delinquente perigoso. 
Prevenção especial positiva 
Teoria dirigida à reeducação do delinquente. 
2.3. Teoria Mista ou Unificadora da pena (Roxin) 
Diferencia-se por negar o caráter retributivo, ou seja, o a pena, ainda que justa, não se legitima se for 
desnecessária (inútil), tanto quanto se, embora necessária, (útil), não for justa. Portanto, a pena precisa ser ao 
mesmo tempo, justa e útil. 
A pena, para Roxin, tem como finalidade a proteção subsidiária e preventiva - tanto geral (direcionada a todos, 
prevenindo o delito) como individual (direcionada ao delinquente, ressocializando-o) - de bens jurídicos 
importantes. 
Momentos 
 Pena cominada; 
 Sentença; 
 Execução penal. 
Cominação da Pena (ameaça) Imposição da pena (aplicação) Execução da pena 
É a pena criada pelo legislador Aplicada pelo juiz com base na lei. 
Momento prático em que a pena 
está sendo cumprida (prisão, 
prestação de trabalho comunitário, 
e etc.). 
Geral e direcionada a toda 
sociedade 
Função de prevenção especial. Função de prevenção especial. 
Limita-se no princípio da 
proporcionalidade, à medida que o 
legislador cria uma pena 
proporcional ao delito. 
Baseia-se na culpabilidade, ou seja, 
analisa-se o grau de culpa do 
indivíduo. 
Limita-se ao princípio da 
humanidade, ou seja, a pena na 
prática não pode ser desumana. 
 
O código penal brasileiro usa a teoria mista, porém é bem diferente da teoria de Roxin. Aproxima-se no artigo 59 
do CP., ao passo que este declara os princípios da retribuição e prevenção. 
Eric Carvalho de Andrade
3. Discursos deslegitimadoras da pena 
3.1. Abolicionismo; 
A pena não cumpre nenhuma função que a legitime (sendo a pena uma “vingança pública” e um ato que não 
previne); Obra: “Penas perdidas”, de Louk Hulsman e Jacqueline de Celis. 
3.2. Teoria agnóstica da pena (Zaffaroni) - minimalismo como meio (caminho) para 
abolicionismo; 
Reafirma que a pena não cumpre função que a legitime; não há justificativa racional para a prisão; por isso se 
deve utilizar a pena no menor número possível; Prisão é vingança, violência e irracionalidade. 
Obra: “Em busca das penas perdidas” – Zaffaroni. 
 
 
Eric Carvalho de Andrade
Aplicação da lei penal no tempo 
1. Tempo do crime (quando o crime foi cometido?). 
A resposta a essa pergunta é peça básica do direito penal, pois o tempo vai definir a pena a ser aplicada. 
Portanto, indaga-se: o que o direito penal considera? O tempo do cometimento do crime ou o do seu resultado? 
Esta resposta se encontra no artigo 4º do CP, onde temos a presença da Teoria da conduta / atividade, a qual 
afirma: “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do 
resultado”. Logo: 
 
No caso acima se aplica a lei “A”, pois o disparo foi feito enquanto o criminoso estava sob a tutela desta 
primeira. 
2. Extra-atividade da lei penal 
É a capacidade da lei penal se mover no tempo; sendo para 
ocorrer a ultratividade da lei (quando a lei incide sobre fatos 
ocorridos durante a sua vigência mesmo que ela esteja revogada 
por uma lei penal mais severa) ou a retroatividade da lei 
(quando uma nova lei mais benéfica para o réu entra em vigor). 
3. Retroatividade x Irretroatividade 
Art. 5º XL, CF/88 
 Irretroatividade prejudicial (“in pejus”) 
Não se pode retroagir a nova lei penal mais prejudicial ao réu 
 Retroatividade benéfica (“in melius”) 
Temos por exemplo a sanção aplicada aos usuários de drogas. Pela lei 6368/71 era punido de seis meses a 
dois anos. A nova lei 11343/06 prevê como pena a advertência, curso e serviços comunitários. Nesse caso, se 
em 2005 uma pessoa foi processada com base na lei de 1971 e condenada após a nova lei de 2006, esta que 
será aplicada, ou seja, ela retroagirá em benefício do réu. 
Num outro giro, o crime de importação ao pudor era punido pelo artigo 61 da lei de contravenções penais com 
pena de multa. Com a nova lei 13.718/2018, a importunação ao pudor passou a ser punida com pena de 
privação de liberdade de um a cinco anos. Nesse caso, a lei não pode retroagir, pois é prejudicial ao réu. Isso se 
chama ultratividade benéfica penal, que nesse caso do artigo 61. 
AConstituição, portanto, consagra, simultaneamente, a irretroatividade da lei penal gravosa e a retroatividade 
penal da lei benéfica. Nota-se que, implicitamente, a irretroatividade in pejus acaba por consagrar a 
ultratividade benéfica da lei penal revogada desde que aplicável aos crimes praticados durante a sua vigência. 
Além disso, a retroatividade benéfica se opera enquanto for possível extrair qualquer reflexo benéfico de sua 
aplicação, ainda que, para tanto, rompa-se com o obstáculo da coisa julgada. 
Observação: retroatividade das leis penais em branco – o complemento da lei penal em branco só pode 
retroagir se for a benefício do réu, conforme o princípio da legalidade. 
Disparo de arma 
•Autor: 17 anos 
•20/09/2018 
•Lei "A" - inputabilidade para menor. 
Morte da vítima 
•Autor: 18 anos 
•01/10/2018 
•Lei "B" - imputabilidade para maior. 
Eric Carvalho de Andrade
4. Leis excepcionais / temporárias 
A lei temporária é aquela cujo prazo de vigência vem nela prefixado; e excepcional é a lei editada para atender a 
situações anormais ou emergenciais (guerra, calamidade pública etc.) enquanto persistirem as razões que a 
determinaram. Ambas estão previstas no artigo 3º do código penal. 
Este tipo legal produz efeitos mesmo após o advento da cessação de sua vigência, relativamente às infrações 
cometidas durante a sua existência, e não antes ou depois dela. Estas leis são, portanto, ultrativas, visto que 
valem para além do tempo legal de sua existência. Essa ultratividade é justificada pela autoridade da lei, pois, 
se assim não fosse, a norma não possuiria nenhuma eficácia, já que, após passada o tempo de sua vigência, 
todos aqueles que cometeram o delito estariam livres da incidência da pena. 
Por exemplo, a lei da Copa (2663/14), que prevê uma pena maior (em relação a já existente) à falsificação da 
marca da Copa do Mundo. Neste caso, então, se durante a copa do mundo um sujeito falsificou a marca da dela 
(o Fuleco) e o seu julgamento é feito depois da vigência dessa lei, fica a questão: com qual lei se julga tal caso? 
Neste caso se aplica a lei da copa, mesmo essa não sendo mais vigente e mais gravosa ao sujeito. Isso é 
possível por conta do Artigo 3º do CP, o qual garante essa ultratividade prejudicial das leis excepcionais / 
temporais. 
As doutrinas e jurisprudências majoritárias entendem pela recepção constitucional do artigo terceiro do CP 
admitindo com isso a ultratividade gravosa das leis excepcionais e temporárias para os crimes praticados 
durante a sua vigência. O argumento aqui é que se esse tipo de lei não forem ultrativas, não terão efetividade. 
Trata-se do único caso da ultratividade gravosa, ou seja, a lei mais gravosa vigente à época do crime pode vir a 
fazer efeito mesmo depois de revogada. 
5. Lei intermediária 
Aplica-se a lei intermediária benéfica mesmo já tendo sido revogada ao tempo do julgamento pois, enquanto 
esteve em vigor, ela retroagiu à data do fato e manterá seus efeitos a menos que venha a ser substituída por 
nova lei ainda mais benéfica. 
Se quando o crime foi cometido, estava em vigor a lei “A” e, até o julgamento, fora criado uma lei intermediária 
“B” que beneficia o réu, está será aplicada. Entretanto, se esta lei “B” foi revogada e entrar em vigor a lei “C” 
mais gravosa, a lei “B” será aplicada. 
6. Vacatio Legis 
Majoritariamente entende-se pela impossibilidade de aplicação imediata de lei em vacatio mediante 
requerimento do réu. Argumenta-se que é possível que a lei venha a ser revogada antes mesmo de entrar em 
vigor. Portanto, enquanto a lei ainda não entrou em vigor, ela não pode produzir efeitos nem mesmo em 
benefício do réu. 
7. Combinação de leis 
Se um crime é cometido e tem a lei “A”, que prevê pena de 4 a 8 anos para este delito e, posteriormente, entra 
em vigor a lei “B” revogando a anterior e prevendo pena de 2 a 10 anos, discute-se a possibilidade de combinar 
as partes benéficas da lei “A” e da lei “B”, ou seja, seria “criada” uma lei “C” com pena de 2 a 8 anos. 
Eric Carvalho de Andrade
Conforme entendimento do STF e STJ, não se admite a combinação de leis sob o argumento de que o juiz 
estaria usurpando função legislativa para dar origem a uma lex tertia. 
Caso o sujeito tenha maus 
antecedentes, aplica-se a lei 
anterior, pois esta é mais 
benéfica. Porém, se a pessoa tem 
bons antecedentes, se aplica a 
segunda norma, por essa ser 
mais benéfica, ou seja, não se 
permitindo a combinação, a 
solução será trabalhar na íntegra 
com a lei mais benéfica para 
aquele caso concreto, nos termos 
da súmula 501 do STJ. 
8. Súmula 711 do STF 
Crimes instantâneos x Crimes permanentes. 
 São classificados dessa forma quanto à consumação. 
 Nos crimes instantâneos, o momento consumativo é definido em um instante, e tudo o que ocorrer 
posteriormente é chamado de “exaurimento”. 
Exemplo: 
 
 Nos crimes permanentes, a consumação do crime se prolonga no tempo, durando o tempo em que se 
há a permanência. 
Exemplo: 
 
Crimes continuados (art. 71 CP) 
 Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma 
espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os 
subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se 
idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. 
Pluralidade de crimes da mesma espécie praticados em círculos fáticos temporais semelhantes. 
Conforme Súmula 711 do STF, a 
Lei Penal mais grave aplica-se aos 
crimes continuados e permanentes 
se sua vigência é anterior ao 
término da continuidade ou da 
permanência. 
Não significa com isso que a lei 
Eric Carvalho de Andrade
aplicável será sempre a mais grave. Será a lei em vigor quando sessa a permanência ou a continuidade seja ela 
gravosa ou benéfica. 
Não significa uma exceção ao princípio constitucional da irretroatividade da nova lei gravosa pois, conforme STF, 
caso sobrevenha nova lei posterior ao término da continuidade ou permanência, ela se aplicará conforme o 
comando constitucional. 
Texto normativo Norma 
Ponto de partida Resultado de um processo 
 
Não há entendimento jurisprudencial pacificado acerca da aplicação no tempo de novos entendimentos 
jurisprudenciais e de novos complementos normativos de norma em branco. Há precedentes aplicando 
retroativamente novas orientações benéficas ainda que inalterado o texto legal. 
Em resumo: 
 Aplica-se a última lei vigente à época do crime, mesmo que essa seja mais gravosa; 
A doutrina contrária a essa súmula 711 afirma que tal decisão fere o princípio da legalidade. 
 Se uma ação continuada passou a ser considerada crime, só se julga os atos a partir da criminalização. 
 
 
 
 
Eric Carvalho de Andrade
 
Aplicação da Lei Penal no espaço 
Onde o crime aconteceu? 
 Dentro do Brasil – normas de territorialidade 
 Fora do Brasil – normas de extraterritorialidade 
Princípios básicos norteadores das leis penais de extraterritorialidade: 
 Princípio da nacionalidade: o Estado sanciona atos cometidos por ou contra seus nacionais; 
 Princípio da proteção: o Estado castiga os atos que vão de encontro aos seus interesses; 
 Princípio universal ou cosmopolita: o Estado castiga os fatos puníveis conforme o seu direito, sem 
importar onde, por quem e contra quem (é o caso do genocídio acontecido na Segunda Guerra contra os 
Judeus, que é regulado pela Lei do genocídio 2889/90). 
1. Lugar do Crime 
Teoria da ubiquidade: é o lugar do crime tanto o local da ação ou omissão quanto do resultado. Pouco importa 
que o crime tenha se iniciado em território brasileiroe se consumado no exterior ou vice versa. Em ambos os 
casos, a justiça Brasileira poderá intervir. Portanto, crimes que envolvem mais de um Estado Soberano aplica-se 
o artigo 6º do CP. 
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem 
como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 
2. Territorialidade 
O código penal em seu artigo 5º define do §1º quais são as extensões do território brasileiro (sendo elas as 
embarcações e aeronaves, públicas ou privadas, onde quer que se encontrem) e, no §2º estabelece que 
embarcações e aeronaves estrangeiras privadas, em território nacional, também são alcançadas pelo nosso 
código penal. 
Vale acrescentar ainda que a lei penal brasileira é aplicável aos crimes cometidos a bordo de aeronaves e 
embarcações privadas nacionais que se achem em território estrangeiro e aí não sejam julgados, ou seja, o 
nosso ordenamento jurídico é subsidiário neste caso, para assim evitar o bis in idem (dupla condenação). 
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao 
crime cometido no território nacional. 
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves 
brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as 
aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, 
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. 
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações 
estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço 
aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. 
a) Territorialidade mitigada 
Existem crimes praticados no Brasil que não são de interesse nosso processar e julgar (exceções previstas em 
convenções e tratadas internacionais assinados pelo Brasil). 
b) Território natural brasileiro (lei 8.617/93) 
Composto por: 
 Território continental (solo); 
Eric Carvalho de Andrade
 Território marítimo: 12 milhas náuticas a partir do continente; 
 Território aéreo (camadas atmosféricas); 
 Subsolo e plataforma continental; 
 Zona contígua (Faixa entre o mar territorial e o alto-mar): de 12 até 24 milhas náuticas; 
 Zona econômica exclusiva (ZEE): de 12 a 200 milhas náuticas; 
Observação: direito de passagem inocente (lei 8.617/93): 
A passagem não pode apresentar risco à ordem, paz, segurança, devendo ser contínua e rápida. É possível 
ainda parada técnica ou de emergência, como parar para abastecer, consertar a embarcação/aeronave ou 
socorrer um passageiro a bordo (incidentes comuns ou força maior); 
Se em um cruzeiro, entretanto, em passagem inocente, acontecer um crime como um furto de uma câmera, por 
exemplo, não será julgado pelo Brasil. Pois o delito não oferece risco a paz do país, diferentemente do que 
ocorre quando se trata de um assassinato ou tráfico de drogas, que atrai o interesse jurídico do Brasil. 
Art. 3º É reconhecido aos navios de todas as nacionalidades o direito de passagem inocente no mar territorial 
brasileiro. 
§ 1º A passagem será considerada inocente desde que não seja prejudicial à paz, à boa ordem ou à segurança 
do Brasil, devendo ser contínua e rápida. 
§ 2º A passagem inocente poderá compreender o parar e o fundear, mas apenas na medida em que tais 
procedimentos constituam incidentes comuns de navegação ou sejam impostos por motivos de força ou por 
dificuldade grave, ou tenham por fim prestar auxílio a pessoas a navios ou aeronaves em perigo ou em 
dificuldade grave. 
§ 3º Os navios estrangeiros no mar territorial brasileiro estarão sujeitos aos regulamentos estabelecidos pelo 
Governo brasileiro. 
Observação I: a passagem de aeronaves é regulamentada pelo código brasileiro de aeronáutica (Lei 7.565/86) 
e Pela Lei do Abate (Lei 9.614/98), por representarem risco à soberania nacional. 
Observação II: Denomina-se espaço aéreo a porção de atmosfera localizada acima do território do Estado. As 
normas do Direito internacional reconhecem a soberania do Estado nesse território, que não admite passagem 
inocente, ao contrário do mar territorial. Na teoria, uma aeronave estrangeira, ao sobrevoar este espaço, 
necessita do consentimento do Estado. 
3. Extraterritorialidade 
Trata-se dos crimes praticados fora do Brasil, porém alcançados, de forma excepcional, pela nossa Lei. 
a) Hipótese de extraterritorialidade incondicionada (art. 7, inciso I – Cód. Penal) 
São aquelas hipóteses que atraem atenção do Brasil independentemente de condições jurídicas, ou seja, as 
normas penais brasileiras são exercidas independentemente da concordância do país onde o crime ocorreu. É 
desnecessário, inclusive, o ingresso do agente no território nacional, podendo neste caso ser julgada a revelia. 
É o caso da falsificação de documentos, moeda e etc., ações estas que atentam diretamente contra o Brasil. O 
mesmo ocorre se alguém destruir uma plataforma da Petrobrás em outro país, por se tratar de uma empresa de 
economia mista. 
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: 
I - os crimes: 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de 
empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; 
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; 
Eric Carvalho de Andrade
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; (princípio da justiça universal). 
 
Nas hipóteses de extraterritorialidade incondicionada aplica-se a lei brasileira ainda que o agente tenha sido 
absolvido, condenado ou mesmo cumprido pena no estrangeiro (art. 7 §1º). 
b) Hipótese de extraterritorialidade condicionada (art. 7, inciso II – Cód. Penal) 
Aqui só se atrai o interesse de o Brasil punir quando atendidas os requisitos cumulativamente, ou seja, é 
necessário que os casos do inciso II estejam sob as condições do §2º. 
Os crimes, portanto, que atraem o interesse nacional, ainda que praticado lá fora, além dos previstos no inciso I, 
são: 
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: 
II - os crimes: 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; (princípio da universalidade/cosmopolita). 
b) praticados por brasileiro; (princípio da nacionalidade). 
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em 
território estrangeiro e aí não sejam julgados. (princípio da bandeira). 
Observação: quando a alínea “c” diz: “praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de 
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados” , na prática significa que caso 
seja cometido um crime por uma embarcação brasileira privada na Itália, por exemplo, e se neste país não 
houver punição, o Brasil fará tal ação. Aqui fica claro que a aplicação do direito penal neste caso é subsidiária. 
Condições gerais para extraterritorialidade condicionada (art. 7 §2º) 
O parágrafo segundo apresenta as condições de procedibilidade, que são aquelas necessárias para que o 
processo se inicie. Cabe salientar, entretanto, que não se confunde com as condições de prosseguibilidade, que 
são aquelas que são necessárias para a continuação do processo; 
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: 
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: 
a)entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo 
a lei mais favorável. 
Em resumo, para iniciar o processo contra os indivíduos que foram enquadrados pelo inciso II do art. 7º, é 
necessário: 
 Que o agente entre no território nacional, ainda que não permaneça nele; 
 Que haja dupla tipicidade (ser crime aqui e no país onde foi cometido a ilicitude); 
 Que o crime esteja incluído no rol dos que o Brasil autoriza extradição; 
 Que inexista de absolvição ou pena cumprida no estrangeiro; 
c) Hipótese de extraterritorialidade hipercondicionada (art. 7 §3º) 
Trata-se do crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil. Além das condições previstas no §2º, 
para a aplicação da lei brasileira é preciso observar ainda: a) não ter sido pedida ou ter sido negada a 
extradição; b) ter havido requisição do ministro da Justiça 
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: 
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, 
reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; 
Eric Carvalho de Andrade
b) houve requisição do Ministro da Justiça. 
d) Outras normas sobre aplicação penal 
Pena cumprida no estrangeiro – ne bis in idem. 
O autor não cumprirá pena no Brasil se o fizer no estrangeiro, relativamente ao mesmo crime. Na hipótese de 
apena ser inferior àquela a ser cumprida aqui, deverá submeter-se ao tempo restante da pena. 
Eficácia de sentença estrangeira (art. 9º, CP) – princípio da soberania. 
Em regra, uma sentença penal estrangeira não tem eficácia no Brasil. Só poderá ter efeitos no Brasil, em caráter 
excepcional, caso homologado em território nacional. 
Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas 
consequências, pode ser homologada no Brasil para: 
I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; 
II - sujeitá-lo a medida de segurança. 
Parágrafo único - A homologação depende: 
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; 
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária 
emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. 
Lei de migração 
A lei de migração de 2017 tratou a partir do artigo 103 da transferência de pessoa condenada, feita a fim de 
cumprir pena determinada por autoridade jurisdicional de outro Estado Soberano. A grande diferença deste 
instituto para a homologação prevista no artigo 9º inciso I do CP é que a transferência de condenado é feita no 
interesse da pessoa presa mediante manifestação de vontade sua ou de seu representante legal. 
Contagem de prazo 
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário 
comum. 
Contagem material (direito penal) ex.: 5 dias 
 Inclui-se o dia do começo e exclui-se o dia final (art. 10 CP); 
 Não importa se o dia é útil ou não. 
Domingo Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado 
Prisão 
temporária 
(primeiro dia) 
Segundo dia 
de prisão 
Terceiro dia 
de prisão 
Quarto dia de 
prisão 
Quinto dia de 
prisão 
No quinto dia 
do prazo, o 
sujeito é 
solto. 
- 
 
Contagem Processual (direito processual penal) ex.: 5 dias 
 Exclui-se o dia do começo, inclui-se o dia final. 
 O termo inicial e o termo final precisam ser dia útil. Em caso de o termo inicial ou termo final seja dia 
não útil, prorroga-se a data para o primeiro dia útil subsequente. 
Observação 
Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na 
pena de multa, as frações de cruzeiro. 
A menor fração de pena é de um dia. 
 
Eric Carvalho de Andrade
Aplicação da lei penal com relação às pessoas 
Alguns conceitos preliminares: 
Estado acreditante: é o Estado que envia a missão diplomática; 
Estado acreditado: é o Estado que recebe a missão diplomática. 
 Exemplo: embaixada de Portugal (Estado acreditante) no Brasil (Estado acreditado). 
1. Imunidades diplomática e consular 
a) Imunidade diplomática (atividades de ordem pública) 
Imunidades diplomáticas (Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas): 
Promulgada no Brasil pelo decreto n. 56.435/65, estabelece para o diplomata imunidade de jurisdição penal, 
ficando sujeito à jurisdição do Estado a que representa, como se vê no artigo 31. 
Art. 31 – não vincula a imunidade ao exercício da função. O diplomata será julgado conforme o Estado que ele 
representa. Dessa forma um diplomata italiano que comete um crime no Brasil será julgado pela Itália. 
Art. 32 – a renuncia da imunidade só pode ser exercida pelo Estado acreditante. 
Art. 37 – o alcance da imunidade: 
 Familiares que com ele convivam desde que não sejam nacionais do Estado acreditado; 
 Os funcionários do corpo técnico e administrativo bem como seus respectivos familiares; 
 Empregados particulares não gozam de imunidade. 
b) Imunidade consular (atividades de ordem privada) 
Art. 43 – A imunidade é expressamente vinculada ao exercício das funções consulares; 
Art. 45 – A renuncia da imunidade é feita somente pelo Estado acreditante; 
Art. 53.1 – Abrange todos os membros da repartição consular (corpo técnico e administrativo). 
Art. 53.2 – Familiares que com ele conviver; não se inclui os empregados particulares. 
A imunidade consular, portanto, é mais restrita do que a diplomática pelo fato de ela ser vinculada ao exercício 
da função. 
2. Imunidade parlamentar 
O parlamentar possui algumas imunidades concedidas pela constituição para o exercício de sua função, sendo 
elas de caráter personalíssimo, ou seja, não podem ser estendidas a ninguém. 
a) Imunidade material, substancial ou absoluta. 
Os parlamentares são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. 
No caso dos deputados e senadores – todo território nacional (Art. 53 CF); 
No caso dos vereadores – na circunscrição do Município (Art. 29, Inciso VIII da CF). O STF entende que se o 
Vereador sair da circunscrição do Município dentro do exercício funcional, este continua abrigado por sua 
imunidade. 
b) Imunidade formal, processual ou relativa – foro por prerrogativa de função. 
Imunidade em relação à prisão: a Constituição Federal, no art. 53, § 2º, afirma que os parlamentares, desde a 
expedição do diploma, não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Essa imunidade 
Eric Carvalho de Andrade
pertence aos Deputados Federais, Senadores, Deputados Estaduais e Distritais. Os Vereadores não possuem 
essa garantia. 
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras 
e votos. 
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em 
flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa 
respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. 
Imunidade em relação ao processo: a imunidade formal em relação ao processo está no artigo 53, §§ 3/ e 4°. 
Recebida a denúncia ou queixa contra o Senador ou Deputado Federal, por crime ocorrido após a diplomação, o 
Supremo dará ciência a Casa

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