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1 Carlos Henrique Fernandes1 1 Professor Afiliado, Chefe do Grupo de Cirurgia da Mão da Universidade Federal de São Paulo SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO INTRODUÇÃO O túnel do carpo é a região anatômica do pu- nho. Seu teto é formado pelo ligamento trans- verso do carpo (LTC), uma banda fibrosa de 3 a 4 cm de largura com inserção do lado ulnal, no osso pisiforme e hâmulo do hamato e do lado radial, no tubérculo do osso escafóide e no osso trapézio. No seu interior encontramos o nervo mediano, os flexores superficiais e profundos dos dedos e o flexor longo do polegar. O ramo tenar do nervo mediano é, frequentemente, extra liga- mentar e radial aos músculos tenares. (1) A síndrome do túnel do carpo (STC) caracte- riza-se pela compressão do nervo mediano nesta região. A compressão ocorre por diminuição do espaço no interior do canal ou por aumento do volume das estruturas dentro dele. Clinicamente a síndrome do túnel do carpo (STC) é definida como um conjunto de sinto- mas causados pela compressão do nervo media- no dentro do túnel do carpo. (2) O acometimento bilateral ocorre na maioria dos pacientes. Existe uma ampla predominân- cia no sexo feminino. A maior incidência ocorre entre os 40 e 60 anos, é rara na infância e ado- lescência, estando associada nestes casos a sín- dromes congênitas como a mucopolissacaridose ou presença de músculos anômalos. 2 A associação da STC com fibromialgia, hi- potireoidismo, artrite reumatóide e gravidez são bem conhecidos e devem ser pesquisados duran- te a avaliação clínica. (3) A STC pode ser dividida em aguda e crôni- ca. A STC aguda é aquela em que rapidamente ocorre um aumento da pressão dentro do túnel do carpo. A causa mais comum é a fratura distal do rádio. Outras causas são as fraturas-luxações do carpo, hemorragias por uso de anticoagulan- tes, hemofilia, queimaduras, infecções e tumo- res. Na STC crônica os sintomas são de longa duração, muitas vezes o paciente tem dificulda- de de precisar. Quanto a etiologia, podemos dividir em idio- pática ou secundária. A STC secundaria pode ser pós-traumática, sendo mais comum após fra- tura da extremidade distal do rádio viciosamente consolidada e luxação do semilunar. O diagnóstico da Síndrome do túnel do car- po nem sempre é fácil devido ao fato do quadro clínico poder variar muito quanto a duração e intensidade dos sintomas. Em 2009, a “Ameri- can Academy of Orthopaedic Surgeons” publi- cou as recomendações para realização do diag- nóstico da STC. (4) O médico deve obter uma detalhada história clinica, deve realizar o exame físico que deve incluir as características pessoais, testes provocativos, exame da sensibilidade, exa- me muscular e/ou testes discriminatórios para diagnósticos diferenciais. A eletroneuromio- grafia deve ser realizada para realizar diagnós- tico diferencial, na presença de atrofia tenar e/ ou dormência persistente, nos casos de suspeita clínica e que o tratamento cirúrgico está sendo considerado. Outros exames como o ultra som, a ressonância magnética, tomografia axial com- putadorizada ou potencial evocado devem ser solicitados nos casos de dúvidas diagnósticas. O diagnóstico ultrasonográfico tem nos últi- mos anos se desenvolvido por ser não-invasivo, de baixo custo, mas é operador-dependente. Pode-se observar o abaulamento do LTC e men- surar o nervo mediano. (5) Na história clínica, a queixa mais comum do paciente é a de “formigamentos” e dor na mão, comprometendo principalmente o pole- gar, indicador e dedo médio, mas não é rara a referência de parestesias em todos dedos da mão. 3 Freqüentemente estes sintomas pioram durante o sono e provocam o despertar do paciente du- rante a noite e que melhoram com o movimen- to dos dedos da mão. Esta parestesia noturna é causada por uma postura habitual de dormir à noite mantendo o punho flexionado. Outras vezes ocorrem durante atividades realizadas com flexão ou extensão extrema do punho. Algumas vezes os sintomas dolorosos são mais proximais, às vezes atingindo até o ombro. Podem haver queixas de quedas de objetos da mão ou dificuldade de manipular objetos pequenos, devido à diminuição da sensibili- dade. Mais tardiamente podemos observar le- sões tróficas nas pontas dos dedos e alterações dos fâneros como queda dos pelos dorsais dos dedos e fragilidade ungueal. Devemos ter cuidado, pois nem sempre es- ses sintomas são específicos de STC. Com a progressão da doença pode ocorrer fraqueza e atrofia dos músculos da eminência tenar. A presença da atrofia tenar é uma in- dicação absoluta para cirurgia e a simples des- compressão promove, a partir do sexto mes de cirurgia, início da recuperação da força mus- cular. (6) Os testes provocativos dos sintomas são mui- to úteis. O sinal de Tinel deve ser pesquisado pelo exa- minador, realizando um toque com a ponta de seu dedo indicador na prega de flexão do punho. Se o paciente referir a sensação de choque ou formigamento irradiado para a palma da mão e dedos radiais, o sinal deve ser considerado posi- tivo. Caso o paciente nada referir o sinal deve ser considerado negativo. O teste de Phalen deve ser realizado solicitan- do-se ao paciente apoie na mesa de exame, os cotovelos em 90 graus de flexão e que faça flexão do punho. Considera-se o sinal positivo quando o paciente relatas aparecimento ou exacerbação de parestesias na área inervada pelo nervo me- diano após 30 até 60 segundos e apresenta me- lhora com o retorno do punho à posição neutra. É considerado negativo quando o paciente nada sente. 4 A avaliação da sensibilidade da mão pode ser feita por diferentes métodos. Utilizamos um conjunto de sete tubos, cada um contendo um par de monofilamentos. A cor de cada fio indica com precisão a força axial, em gramas, necessária para envergar o filamento. Verde- 0,05 g; azul - 0,20 g; violeta - 2,00 g; vermelho escuro - 4,00 g; laranja - 10,00 g; ver- melho magenta - 300,00 g. Para realizarmos o exame, a mão do paci- ente é posicionada com a palma virada para cima. O exame é demonstrado em uma área de pele com sensibilidade normal e solicita-se ao paciente mexer o dedo quando sentir o toque. O exame é realizado sem observação visual do paciente, de modo que o monofilamento de náilon fique perpendicular à superfície da pele da polpa digital. A força exercida é suficiente para curvar o monofilamento, mantendo-o aproximadamente durante 1,5 segundos. O teste é iniciado com o monofilamento mais leve, 0,05 g (verde). Caso não haja resposta do paciente, prossegue-se o exame com o filamen- to imediatamente mais pesado (0,20 g - azul), e assim progressivamente. Os filamentos de 0,05g e 0,20 g (verde e azul) são aplicados até três vezes em cada local, sendo suficiente ape- nas uma única resposta positiva para confirmar a sensibilidade. Os outros são testados apenas uma vez. A força da mão é avaliada por meio de mensuração das forças de preensão palmar, polpa-polpa, lateral e tridigital. Utiliza-se um dinanômetro de preensão palmar hidráulico, Fig.1 - Teste de Phalen. Fig. 2 - Material utilizado para o teste de monofilamentos. 5 ajustado na segunda posição e um dinanômet- ro de preensão digital hidráulico. Para realizar a mensuração, os indivíduos ficam sentados com o braço aduzido paralelo ao tronco, cotovelo fletido em 90 graus, antebraço e punho em posição neutra. São efetuadas três mensurações, com o máximo de força possível. A média das mensurações são anotadas emkgf. A mão con- tralateral não deve ser usada como parâmetro por haver uma alta incidência de bilateralidade. Os protocolos de auto-avaliação podem ser utilizados para avaliar a gravidade dos sintomas e a função da mão nos pacientes com STC. O protocolo criado por Levine, abaixo descrito, tem sido usado com freqüência em vários tra- balhos internacionais e foi validado para o por- tuguês. O protocolo é de fácil preenchimento e recomendamos que o paciente seja explicado quanto a ultima parte do protocolo quanto a graduação de 0 a 5. PROTOCOLO DE AUTO-AVALIAÇÃO - PROTOCOLO DE BOSTON Nome:............................................................. RGHSP: ......................................................... Mão: ( ) Direita ( ) Esquerda Data da Avaliação: ....../....../...... Data da Cirurgia: ....../....../...... As questões a seguir referem - se aos seus sin- tomas num período típico de 24 horas, duran- te as últimas duas semanas. (assinale uma resposta para cada pergunta) 1) Qual a intensidade da dor na mão ou punho que você tem à noite? 1- eu não tenho dor na mão ou no punho à noi- te. 2- pouca dor 3- dor moderada 4- dor intensa 5- dor muito intensa 2) Quantas vezes a dor na mão ou punho acordou você durante uma noite típica nas duas últimas semanas? 1- nenhuma 6 2- uma 3- duas a três vezes 4- quatro a cinco vezes 5- mais que cinco vezes 3) Você usualmente tem dor na mão ou punho durante o dia? 1- eu nunca tenho dor durante o dia 2- eu tenho pouca dor durante o dia 3- eu tenho dor moderada durante o dia 4- eu tenho dor intensa durante o dia 5- eu tenho dor muito intensa durante o dia 4) Com que freqüência você tem dor na mão ou punho durante o dia? 1- nunca 2- uma ou duas vezes por dia 3- três a cinco vezes por dia 4- mais que cinco vezes por dia 5- a dor é constante 5) Quanto tempo, em média, duram os episódios de dor durante o dia? 1- eu nunca tenho dor durante o dia 2- menos que 10 minutos 3- de 10 a 60 minutos 4- mais que 60 minutos 5- a dor é constante durante o dia 6) Você tem adormecimento (perda da sen- sibilidade) em sua mão? 1- não 2- eu tenho pouco adormecimento 3- eu tenho adormecimento moderado 4- eu tenho adormecimento intenso 5- eu tenho adormecimento muito intenso 7) Você tem fraqueza na sua mão ou punho? 1- sem fraqueza 2- pouca fraqueza 3- fraqueza moderada 4- fraqueza intensa 5- fraqueza muito intensa 8) Você tem sensação de formigamento em sua mão? 1- sem formigamento 7 2- pouco formigamento 3- formigamento moderado 4- formigamento intenso 5- formigamento muito intenso 9) Qual a intensidade do adormecimento (perda da sensibilidade) ou do formiga- mento à noite? 1-eu não tenho adormecimento ou formiga- mento à noite 2- pouca 3- moderada 4- intensa 5- muito intensa 10) Com que freqüência o adormecimento ou o formigamento acordaram você du- rante uma noite típica nas duas últimas semanas? 1- nenhuma 2- uma 3- duas a três vezes 4- quatro a cinco vezes 5- muito intensa 11) Você tem dificuldade em pegar e usar pequenos objetos, tais como chaves ou ca- netas? 1- sem dificuldade 2- pouca dificuldade 3- dificuldade moderada 4- dificuldade intensa 5- dificuldade muito intensa Num dia típico, durante as duas últimas se- manas, os sintomas da sua mão ou punho têm causado a você alguma dificuldade em fazer as atividades listadas abaixo? Por favor circule o número que melhor des- creva sua habilidade para fazer atividade. ATIVIDADE GRAU DE DIFICULDADE Escrever 1 2 3 4 5 Abotoar as roupas 1 2 3 4 5 Segurar um livro enquanto lê 1 2 3 4 5 Segurar o telefone 1 2 3 4 5 Trabalhos domésticos 1 2 3 4 5 Abrir tampa de um vidro 1 2 3 4 5 Carregar sacos de supermercados 1 2 3 4 5 Tomar banho e vestir - se 1 2 3 4 5 8 Nenhuma dificuldade __________________1 Pouca dificuldade _____________________2 Dificuldade moderada_________________3 Dificuldade intensa____________________4 Não pode realizar atividade nehuma, por causa dos sintomas das mãos e punhos__________5 TRATAMENTO O tratamento deve ser individualizado para cada tipo de paciente. É diferente o tratamento de uma paciente com STC na gravidez e uma paciente que já apresenta atrofia tenar. O tra- tamento conservador deve ser sempre utilizado salvo na presença de atrofia ou negativa do pa- ciente por esta opção. Vários tipos de tratamento clínico são pro- postos, alguns com sua utilidade comprovada outros ainda discutidos. A correção dos distúrbios hormonais que existam e correção da postura inadequada do punho durante atividades diárias diárias são fundamentais O uso de órtese para o punho em posição neutra impedem a flexão do punho durante a noite. Promovem um alívio dos sintomas, ainda que de forma paliativa. O uso de corticosteróide intramuscular pro- voca melhora temporária na grande maioria dos pacientes. O uso da vitamina B6 não influi na história natural da STC. A injeção de corticosteróides no túnel do carpo mostra-se mais eficiente na melhora dso sintomas que o corticoide oral. De acordo com a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) o principal fator de adoeci- mento envolvido na etiologia e fisiopatologia é o emocional. A remissão dos sintomas ocorre em 30 a 50% dos pacientes submetidos a tratamento conser- vador. (7) Este baixo índice de melhora clínica com o tratamento conservador leva a grande maioria dos autores a optar pelo tratamento ci- rúrgico. TRATAMENTO CIRÚRGICO 9 A técnica cirúrgica a ser utilizada depende da experiência do cirurgião. A cirurgia de descompressão do nervo me- diano deve ser realizada em centro cirúrgico e pode ocorrer em caráter ambulatorial. A téc- nica anestésica pode variar de acordo com a preferência do anestesista ou do cirurgião, po- dendo ser geral, bloqueio do plexo braquial, bloqueio regional intravenoso ou local com sedação. O uso de garrote é fundamental para perfeita identificação das estruturas, seguida de rigorosa assepssia e antissepsia. O membro superior é posto em abdução sobre a mesa de cirurgia, mantem-se o antebraço em supinação e o punho em posição neutra, evitando desvios radial ou ulnal da mão. A incisão “ideal” para realizar a descompres- são do canal do carpo é, sem dúvida, um dos pontos mais discutidos na literatura. Alguns pacientes operados com incisão lon- gitudinal permanecem com edema e dor na cicatriz ou região intertenar. Por este motivo, quando utilizamos a via aberta, damos prefe- rência à via de acesso ulnal(8). A via de acesso consiste de uma incisão lon- gitudinal de aproximadamente 4 cm e acom- panha a borda externa da eminência hipotênar. Caso seja necessário, a incisão é prolongada ul- nalmente, seguindo a prega do punho, numa extensão de 1 cm, com configuração em “L”. Incisa-se a pele e o tecido celular subcutâneo e visualiza-se o ligamento transverso do carpo, que é secionado na sua inserção ulnal (hâmulo do hamato e piramidal), em toda sua extensão. A fáscia ventral antebraquial distal é secionada longitudinalmente, com tesoura romba sob vi- são direta, depois de isolada dos tendões flexo- res e do tecido celularsubcutâneo. Desde 1995, temos utilizado com muito sucesso, o tratamento cirúrgico com uso de reti- Fig. 3 10 naculótomo de Paine por via de acesso palmar(9). Realizamos uma incisão longitudinal feita no eixo da borda radial do 4º dedo, com 1,5 a 2,0 cm de comprimento, iniciando aproxima- damente a 1,0 cm do sulco palmar médio em direção proximal, incluindo pele e tecido celular subcutâneo. São colocadas duas garras e a apo- neurose palmar é visibilizada. Abre-se a aponeu- rose no sentido de suas fibras e a artéria ulnar e o arco palmar superficial são identificados. Há sempre um coxim gorduroso que cobre os ra- mos do nervo mediano que deve ser dissecado de forma cuidadosa, para identificar o ramo digital comum ao 3º e 4º dedos. O lado ulnal da mar- gem distal do retináculo dos flexores é a última estrutura a ser identificada. Os contornos destas três estruturas formam um triângulo, constitu- indo a “Zona de Segurança de AGEE”(1992). Através desta zona de segurança, é introduzido cuidadosamente, o mais ulnal possível, uma tesoura de ponta romba, curva e fechada para identificação do canal do carpo e liberação das aderências ao retináculo. A ponta desta tesoura deve estar sempre voltada para cima de modo a ser sentido o término do retináculo. A ponta da tesoura é palpada percutaneamente com a outra mão, proximal ao sulco de flexão do punho. A tesoura é retirada do canal e realiza-se uma pequena incisão na margem distal do retináculo dos flexores a 2 mm aproximadamente da in- serção no hamato. Em seguida, o instrumento de Paine® é posicionado no local incisado, com a base paralela ao eixo do nervo mediano e com força contínua, controlada, o instrumento é empurrado em sentido proximal até acabar a re- sistência provocada pela consistência do retiná- culo. Neste momento, o fim da base do instru- mento é palpado percutaneamente a 1,0 cm do sulco de flexão do punho. O instrumento é retirado e um afastador pequeno é colocado na parte proximal da incisão. Fig. 4 11 Dessa maneira observam-se a abertura do canal, o nervo mediano e o retináculo seccionado. Se restar ainda alguma estrutura compri- mindo o nervo, uma segunda passagem do instrumento é realizada. No caso de dúvida, devido a qualquer dificuldade técnica ou ne- cessidade de uma exploração do canal, a incisão deve ser prolongada proximalmente. Os resultados pós-operatórios quanto à re- missão dos sintomas, retorno ao trabalho e as- pecto estético se mostraram excelentes na gran- de maioria dos pacientes. Pode-se destacar nos últimos anos a crescen- te utilização dos métodos endoscópicos para a liberação do canal do carpo, com o intuito de diminuir a morbidade e agilizar o retorno dos pacientes ao trabalho. A indicação para utilização de descompres- são endoscópica do túnel do carpo é para pa- cientes com STC idiopática. Pacientes com STC secundária, por trauma ou doenças reu- máticas tem contra-indicação relativa. Nos ca- sos de recidiva dos sintomas após uma primeira descompressão, uma descompressão endoscó- pica pode ser realizada. As desvantagens dessa técnica são a demo- rada curva de aprendizagem e o alto custo do treinamento do cirurgião e do instrumental. Não importa qual o tipo equipamento en- doscópico que voce utilizará, mas é fundamen- tal conhecer as peças que compõe o Kit, sua montagem e seu funcionamento. Quanto a técnica endoscópica temos experiência com a de um portal na região do punho. O conjun- to que utilizamos é composto de uma cânula fendida (A) com medidor de comprimento do canal (B), 2 palpadores do hamato, sendo um Fig. 5 12 grosso (C1) e um fino (C2), um descolador de sinóvia (cureta) (D), peça de mão (E), ótica (F) e a lâmina descartável com lâmina de corte (G). Utilizamos este sistema porque é fabricado no Brasil e com isso temos uma grande diminu- ição nos custos do procedimento. A montagem do equipamento é bastante simples. e antes de iniciar o procedimento cirúrgico, verifique o correto funcionamento da lâmina de corte. A incisão deve ser realizada em uma das pre- gas de flexão do punho que separa a pele da palma da mão da pele do antebraço. Deve ser transversa, de 2 a 3 cm entre os tendões do fle- xor ulnar do carpo e palmar longo. Em seguida uma incisão transversa na fáscia do antebraço na mesma direção da incisão de pele. Tome muito cuidado nesse momento, pois geralmen- te o nervo mediano está situado imediatamente abaixo da fáscia antebraquial. Uma vez identifi- cado a parte proximal do túnel do carpo, intro- duz-se o elevador de sinóvia em direção à base do dedo anular. Deve-se conseguir sentir com a ponta do elevador de sinóvia, a margem dis- tal do Ligamento Transverso do Carpo (LTC), onde termina o túnel do carpo. Utilize a polpa digital do indicador ou do polegar para palpar a ponta do elevador de sinóvia na pele da região palmar, quando termina o túnel do carpo. Durante a curetagem da parte interna do LTC para retirada do tecido sinovial, deve-se sentir a aspereza de suas fibras transversas, sen- do possíveml também ouvir o ruído provocado. Retire o máximo possível de tecido sinovial si- tuado no LTC. Esse passo será importante para que, quando introduzirmos a ótica, possamos ter uma visão muito clara da direção das fibras transversas. Se quando fizer a curetagem não sentir aspereza do ligamento, atenção, prova- velmente voce, inadvertidamente, introduziu o descolador no canal de Guyon. Fig. 6 13 Em seguida, introduz-se o palpador fino com o objetivo de palpar o hâmulo do hamato, que é o limite mais ulnar do túnel do carpo. Palpe sua ponta percutaneamente com a polpa digital. Com intuito de se dilatar o caminho para a futura entrada do conjunto lâmina-ótica retira-se o palpador fino e passa-se o palpador grosso. Evite introduzir e retirar o palpador múlti- plas vezes, isso pode traumatizar o nervo me- diano. Após retirar o palpador de hamato, in- troduzimos no túnel do carpo a cânula com o medidor milimetrado, com a sua parte fendida situada para cima, de modo que fique em con- tato com a parte interna do LTC. Tenha paci- ência e cuidado para não traumatizar o nervo mediano. Em casos extremos, onde o túnel é muito apertado, utilize a lâmina sem a cânula. Palpe com a polpa digital, percutaneamente, a ponta da cânula e verifique no medidor, a pro- fundidade do túnel do carpo. Na imensa maio- ria dos pacientes a profundidade varia entre 3 e 4 cm. Sem mexer na posição da cânula, retira-se o medidor e introduz-se a lâmina até o final da cânula. Mantenha a lâmina voltada para cima em contato com o LTC através da fenda exis- tente na cânula. Com o conjunto cânula-lâmi- na-ótica dentro do túnel do carpo, identifique a direção das fibras transversas e a transição en- tre a gordura palmar e o bordo distal do LTC. Para ajudar a identificação da transição, pressione com a polpa de seu dedo a região Fig. 7 Fig. 8 14 palmar e empurre a gordura palmar contra a ponta da lâmina. Se o nervo mediano aparece interposto entre a lâmina e o LTC, remova o conjunto constituído pela lâmina-ótica, reco- loque o medidor dentro da cânula, remova a cânula com o medidor em seu interior e repita o passo de curetagem e os passos seguintes, pre- viamente descritos. Caso ocorra embaçamento da ótica e per- da da perfeita visão endoscópica do túnel do carpo, mantenha a cânula na mesma posição, remova a lâmina e enxugue a ótica com uma gaseseca e reintroduza a lâmina. Quando voce tiver certeza de estar vizualizando perfeitamen- te o bordo distal e as fibras transversas do LTC, realize o corte do LTC em duas etapas. Segure a cânula com a sua mão não dominante, e com a visão do bordo distal do LTC, pressione o ga- tilho que eleva a lâmina de corte com sua mão dominante. Com firmeza, puxe o aparelho em sentido proximal até a metade do ligamento, 1,5 a 2 cm aproximadamente, lembre-se que a lâmina é milimetrada. Solte o gatilho para baixar a lâmina de corte e retorne o aparelho até a posição inicial para ver as fibras do LTC seccionadas. Repita o procedimento se houverem fibras remanescentes até observar a gordura superfi- cial. Este procedimento em dois tempos, evita que a gordura superficial prolapse para o inte- rior do túnel e voce perca a visão deste espaço. Nunca insira a lâmina e corte além do li- mite distal do LTC, isso evitará lesão vascu- lar do arco superficial ou artéria ulnar e lesão nervosa do nervo digital comum ou do ramo comunicante do nervo mediano para ulnar. Uma vez seccionado totalmente as fibras distais, acione novamente a lâmina de corte e seccione as fibras proximais até descomprimir Fig. 9 15 totalmente o túnel. Voce terá certeza de ter aberto o túnel completamente introduzindo dentro do túnel o descolador de sinóvia ou uma pinça Kelly curva com a ponta direcio- nada para a palma e puxando, de distal para proximal (palma para o punho), sentindo a ponta dos intrumentos no subcutâneo. Não esqueça de seccionar a fáscia antebra- quial proximal com uma tesoura romba. Nunca acione a lâmina corte sem ter certeza do que está cortando. Em qualquer momento da cirurgia, se houver qualquer mal funcio- namento do equipamento ou se as estruturas não puderem ser identificadas adequadamen- te, remova o equipamento e prolongue sua incisão para a região palmar. Transforme o procedimento endoscópico em uma liberação aberta. Lembre-se que muitos pacientes com STC também tem tenossinovite estenosante dos dedos que deverão ser liberados concomitan- temente. Independente da técnica utilizada, as etapas descritas a seguir devem ser realizadas em todos os pacientes. Os submetidos à anes- tesia tipo bloqueio venoso de Bier, são anes- tesiados na incisão, com Marcaína® 0,5%, sem vasoconstritor. O fechamento da incisão é re- alizado com pontos simples, separados na pele com monofilamento de náilon 5-0. A mão é enfaixada em posição neutra do punho, de- ixando as articulações metacarpofalângicas livres. Não é colocada nenhuma imobilização gessada ou órtese. A paciente é orientada e estimulada a fazer movimentos de flexo-ex- tensão nas articulações metacarpofalângicas, interfalângicas proximais e interfalângicas dis- tais.Durante as primeiras vinte e quatro horas a mão submetida à intervenção cirúrgica deve ser mantida em posição elevada acima do nív- el do tronco. Os pontos serão retirados após o oitavo dia de cirurgia juntamente com o en- faixamento. As complicações per e pós-operatórias po- dem acontecer independente da técnica cirúr- gica utilizada. As complicações mais comuns são a diminuição de força de preensão, edema e dor residual, chamada de dor no pilar . Com o uso da técnica tradicional, podem ocorrer descompressão inadequada, recorrência da 16 compressão por processo de fibrose, lesão ia- trogênica do nervo mediano, do ramo palmar, do ramo muscular tenar, hematoma pós-ope- ratório, cicatriz hipertrófica, deslocamento anterior do nervo mediano com aderência e distrofia simpático reflexa. As complicações com o uso da liberação endoscópica são lesões do nervo ulnal, do ramo muscular tenar, do nervo mediano e do arco palmar superficial, do nervo digital e do tendão flexor, liberação incompleta, hematoma, distrofia simpático reflexa, abertura acidental do canal de Guyon, infecção e neuropraxia também foram relata- das. 17 BIBLIOGRAFIA 1. Fernandes CH, Meirelles LM, Carneiro RS, Faloppa F, Albertoni WM. Tratamento cirúr- gico da síndrome do canal do carpo por incisão palmar e utilização do instrumento de Paine. 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