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Derivadas de Funções de uma ou mais variáveis Universidade do Sul de Santa Catarina UnisulVirtual Palhoça, 2014 Universidade do Sul de Santa Catarina Derivadas de Funções de uma ou mais Variáveis Créditos Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul Reitor Sebastião Salésio Herdt Vice-Reitor Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitor de Ensino, de Pesquisa e de Extensão Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional Luciano Rodrigues Marcelino Pró-Reitor de Operações e Serviços Acadêmicos Valter Alves Schmitz Neto Diretor do Campus Universitário de Tubarão Heitor Wensing Júnior Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis Hércules Nunes de Araújo Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual Fabiano Ceretta Campus Universitário UnisulVirtual Diretor Fabiano Ceretta Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) - Educação, Humanidades e Artes Marciel Evangelista Cataneo (articulador) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Ciências Sociais, Direito, Negócios e Serviços Roberto Iunskovski (articulador) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Produção, Construção e Agroindústria Diva Marília Flemming (articuladora) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Saúde e Bem-estar Social Aureo dos Santos (articulador) Gerente de Operações e Serviços Acadêmicos Moacir Heerdt Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão Roberto Iunskovski Gerente de Desenho, Desenvolvimento e Produção de Recursos Didáticos Márcia Loch Gerente de Prospecção Mercadológica Eliza Bianchini Dallanhol Livro didático UnisulVirtual Palhoça, 2014 Designer instrucional Eliete de Oliveira Costa Diva Marília Flemming Derivadas de Funções de uma ou mais Variáveis Livro Didático Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul Copyright © UnisulVirtual 2014 Professor conteudista Diva Marília Flemming Designer instrucional Eliete de Oliveira Costa Projeto gráfico e capa Equipe UnisulVirtual Diagramadores Fernanda Fernandes Frederico Trilha Revisor(a) Contextuar ISBN 978-85-7817-674-7 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. 515.83 F62 Flemming, Diva Marília Derivadas de funções de uma ou mais variáveis da UA : livro didático / Diva Marília Flemming ; design instrucional Eliete de Oliveira Costa. – Palhoça : UnisulVirtual, 2014. 140 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7817-674-7 1. Funções de variáveis reais. 2. Funções - Matemática. I. Costa, Eliete de Oliveira. II. Título. Sumário Introdução | 7 Capítulo 1 Contextualização das derivadas | 9 Capítulo 2 Calculando Derivadas | 37 Capítulo 3 Derivadas Sucessivas, Derivação Implícita e Diferencial | 69 Capítulo 4 Aplicações Elementares | 91 Considerações Finais | 133 Referências | 135 Sobre o Professor Conteudista | 137 Anexos | 139 Introdução Prezados estudantes No decorrer deste texto, você terá a oportunidade de avançar nos seus estudos do Cálculo Diferencial e Integral. Mais especificamente, você terá a oportunidade da analisar as derivadas das funções e as aplicações que modelam situações reais em diferentes espaços com duas ou três dimensões. Trata-se de um texto inovador, para que você possa apreciar as aplicações das derivadas no contexto de situações que envolvem as taxas de variações, como, por exemplo, velocidade e aceleração. Nos estudos propostos neste livro, as situações práticas surgem modeladas; e para a compreensão dos resultados, os objetos do cálculo serão discutidos justificando-se a própria denotação “diferencial”. Elementos da História da Matemática nos ajudam nos alicerces conceituais, e também a tecnologia, quando bem aplicada, nos ajuda nos momentos considerados “braçais”, ou seja, nos momentos em que as técnicas e os longos algebrismos nos levam a uma rotina em que os métodos se sobrepõem ao raciocínio e à lógica. No decorrer dos estudos, você vai desenvolver muitos cálculos, vivenciando diferentes métodos e técnicas. Na sequência, esses cálculos serão aplicados em situações problemas. No primeiro capítulo, vamos apresentar uma visão mais geral das derivadas em suas interpretações geométrica e física. No segundo capítulo, vamos trabalhar a parte mais técnica com as regras de derivação envolvendo as derivadas de funções de uma variável e as derivadas parciais no contexto das funções de várias variáveis. No terceiro capítulo, vamos formalizar o conceito de Diferencial e vamos discutir o processo de derivação em situações em que as funções não estão explicitadas. 8 Finalmente, no quarto capítulo completamos o estudo com aplicações das derivadas consideradas elementares. Ao final de cada capítulo, apresentamos uma relação de atividades formativas para autoavaliação do seu processo de aprendizagem. Os quadros, tabelas e gráficos no decorrer do livro, quando não citadas as fontes, foram elaborados pela autora. Bons estudos! Profa. Diva Marília Flemming 9 Habilidades Seções de estudo Capítulo 1 Contextualização das derivadas Seção 1: Retas tangentes e taxas de variação. Seção 2: Derivadas de funções de uma variável e derivadas parciais. Seção 3: Derivadas parciais. Seção 4: Plano tangente e vetor gradiente A partir do estudo deste capítulo, espera-se que o estudante possa visualizar a aplicação das derivadas em situações problemas, discutir o conceito de derivada de uma função e interpretar geometricamente as derivadas em situações problemas que envolvem funções de uma ou mais variáveis. 10 Capítulo 1 Seção 1 Retas tangentes e taxas de variação No contexto do Cálculo Diferencial e Integral, o conceito de Derivada é tradicionalmente discutido nas áreas exatas como um dos mais importantes conceitos. Você estudará a derivada de uma função de uma ou mais variáveis e perceberá, ao longo do estudo do Cálculo, que a derivada é um poderoso instrumento da matemática. No decorrer dos seus estudos, você vai se deparar com situações que podem responder a diversas questões: Como encontrar a inclinação de uma reta tangente a uma curva? E o que isso significa? Qual a relação entre as taxas de variação e a inclinação da reta tangente a uma curva em um ponto P? O que significa um acréscimo ou a diferencial de uma variável? Na natureza, em nosso dia a dia, existem muitos fenômenos que envolvem a variação de grandezas. Por exemplo, a velocidade de um automóvel, os índices de inflação de um país, a taxa de crescimento populacional, a intensidade de um terremoto etc. Para estudar tais fenômenos que envolvem taxas de variação de grandezas, usa-se o conceito de derivada. O conceito de função, já estudado, pode parecer simples, mas é o resultado de uma lenta e longa evolução histórica, iniciada na Antiguidade, pelos Babilônios e Pitagóricos. No decorrer do tempo, as funções eram estudadas, os conceitos geométricos foram incorporados e o Cálculo Diferencial foi se desenvolvendo. O Cálculo é o resultado de estudos e pesquisas realizados por matemáticos importantes que nos deixaram suas descobertas como tesouros prontos a serem desfrutados. Fermat, Newton, Leibniz, a família Bernoulli, Euler, Lagrange, Cauchy e tantos outros são nomes que devem ficar em sua mente por terem contribuído para o desenvolvimento do Cálculo. Discutir e analisar as derivadas passa a ser essencial para o estudante de um curso superior que possui a matemática como base em seu currículo, visto que, posteriormente, poderá aplicar em situações práticas. No estudo das derivadas, antes de defini-las, é interessante que você conheça alguns objetos de estudo que auxiliam na compreensão das definições, proposições e aplicações. Vamos discutir: 11 Derivadas de Funçõesde uma ou Mais Variáveis • Inclinação de uma reta tangente a uma curva; • Planos tangentes a uma superfície; • Taxas de variações. 1.1 Inclinação de uma reta tangente a uma curva Uma reta qualquer possui uma inclinação que é dada pelo ângulo formado entre a reta e o eixo horizontal. Veja um exemplo na Figura 1.1. Figura 1.1 – Reta r inclinada A inclinação da reta r é dada pela tangente do ângulo . Vamos agora analisar essa inclinação no contexto de uma função, como mostra a Figura 1.2. Observe que, no gráfico, uma função e uma reta secante, que passa pelos pontos P e Q. Figura 1.2 – Curva dada por y = f (x) e a reta secante s. Reta secante Uma reta é secante a uma curva quando passa por dois pontos pertencentes à curva. 12 Capítulo 1 Para determinar a inclinação da reta secante s, vamos definir a tangente de , já que o triângulo PMQ é retângulo. Temos: . Agora, imagine que colocamos um alfinete no ponto P para que fique fixo, e o ponto Q passa a se mover em direção ao ponto P. Perceba que a reta se move, mas, com o alfinete imaginário, o ponto P não sai do lugar. Quando Q chega próximo a P, a reta secante passa a se transformar em uma reta tangente (ver Figura 1.3). Figura 1.3 – Reta secante se deslocando até o limite da reta tangente Nesse processo, o que interessa é a análise da variação das inclinações que a reta secante assume nesse movimento e a inclinação da reta tangente. Se a reta secante se aproxima da reta tangente, então, podemos dizer que o ponto Q tende para o ponto P ou, ainda, que a inclinação da reta secante varia cada vez menos e tende a um valor limite constante. Qual o conceito já estudado, que pode ser lembrado nesse movimento, que leva a reta secante a se transformar em uma reta tangente? Estamos agora falando em tendências e limites, ou seja, estamos usando o conceito de limite. 13 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis É possível formalizar algebricamente o que observamos nas figuras 1.2 e 1.3 da seguinte forma: . Se considerarmos que , ou , podemos reescrever o limite anterior como: , sendo a inclinação da reta tangente à curva no ponto P. Fermat (1601 – 1664), no século XVII, se deu conta das limitações do conceito clássico de reta tangente a uma curva. Para reformular tal conceito, realizou o mesmo procedimento que você acabou de visualizar quando tratamos da reta tangente, ou seja, a partir de uma reta PQ, secante à curva, é possível deslizar Q em direção à P, até que se obtenha a reta tangente à curva no ponto P. Essa reformulação ficou conhecida como o “Problema da Tangente” e muito contribuiu para o conceito que é hoje adotado. 1.2 Exemplos (1) Determinar a inclinação da reta tangente à curva no ponto P (1,1) . A inclinação da reta tangente é dada por , visto que o ponto P possui , e pode ser calculada pelo limite: , sendo ; . Assim, temos: 14 Capítulo 1 Portanto, a inclinação da reta tangente à curva no ponto P (1,1) é igual 3. Veja a Figura 1.4 que representa a curva e a reta tangente no ponto P (1,1) . Figura 1.4 – Reta tangente à curva no ponto P (1,1) (2) Encontrar a equação da reta tangente à curva no ponto em que . O problema solicita a equação da reta tangente. Para encontrar essa equação, vamos determinar a inclinação da reta, calculando m e substituindo na equação da reta tangente, que é dada por ou , sendo o ponto de tangência. Vamos calcular o valor de : Esse limite é uma indeterminação do tipo . Portanto, é necessário resolver essa indeterminação, multiplicando numerador e denominador por : Quando o limite que define m for infinito, a equação da reta tangente é dada por . Observe, também, que a expressão dada pode ser obtida a partir da forma algébrica de uma função , sendo que a é a inclinação da reta tangente e b é obtido a partir do fato da reta passar pelo ponto . 15 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis . A reta tangente será: A Figura 1.5 mostra a função e a reta tangente. Figura 1.5 – Função e a reta tangente no ponto 16 Capítulo 1 1.3 Atividades de autoavaliação 1. Determine a inclinação da reta tangente à curva no ponto (–1,7). Apresente o resultado graficamente. 2. Qual a equação da reta tangente à curva no ponto (2, –2)? 1.4 Taxa de variação no contexto das funções de uma variável Você pode achar estranho discutir retas tangentes, um assunto que parece ser da Geometria. Mas foi a partir das retas tangentes que houve um aprofundamento no estudo do movimento de objetos. A partir desses estudos, é possível definir a taxa média de variação e a taxa instantânea de variação. Para contextualizar uma taxa média de variação, basta lembrar o conceito de velocidade medida no velocímetro de um carro. É usual falarmos que uma viagem ou um deslocamento foi realizado com uma velocidade média de 80 km/hora. Estamos, assim, diante de uma taxa média de variação. O que é uma velocidade instantânea? Como calcular a velocidade instantânea? Se você, em uma fração de segundos, olhar para o velocímetro de um carro, vai poder fazer a leitura de uma velocidade naquele instante. Seu olhar deve ser rápido, pois há mudanças rápidas nos valores. Calcular a velocidade média é um cálculo do dia a dia das pessoas, mas calcular a velocidade instantânea já não é algo tão comum. A matemática elementar não tem métodos diretos para fazer esse cálculo. Vamos precisar da nossa atual ferramenta de estudo – as derivadas –, que, nesse momento, se apresentam como uma taxa de variação. 17 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis A taxa média de variação é dada pela inclinação da reta secante, que pode ser escrita como: . A taxa de variação instantânea é dada pela inclinação da reta tangente, que pode ser escrita como: . Ao representar algebricamente velocidades e aceleração, podemos usar letras diferentes das tradicionais x e y. Mais genericamente, podemos considerar que um corpo se move em linha reta e que é a distância percorrida até o instante t. Assim, temos: • Velocidade média do corpo no intervalo de tempo é igual a ; • Velocidade no instante t é igual a . De forma similar, o conceito de aceleração média e instantânea pode ser introduzido, considerando-se, agora, que a aceleração é a taxa de variação da velocidade : • Aceleração média do corpo no intervalo de tempo é igual a ; • Aceleração no instante t é igual a . 1.5 Exemplos (1) Seja a função . (a) Determinar a taxa média de variação de y em relação a x no intervalo . Aplicando a definição apresentada temos: Taxa média 18 Capítulo 1 (b) Encontrar a taxa de variação instantânea de y em relação a x no ponto . Taxa instantânea . (2) No instante , um corpo inicia um movimento em linha reta. Sua posição é modelada pela função . Determinar: a. A velocidade média do corpo no intervalo de tempo [1,4]; b. A velocidade do corpo no instante t = 2. Para resolver essa situação, vamos simplesmente aplicar as definições estabelecidas por meio de fórmulas práticas. Temos: (a) A velocidade média do corpo no intervalo de tempo [1,4] é dada por (b) Para calcular a velocidade do corpo no instante t = 2 é necessário usar sendo no ponto t = 2. 19 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis 1.6 Atividades de autoavaliação Seja para a equação do movimento de uma partícula. Vamos considerar que s é medido em centímetros e t em segundos. a) Determinar a velocidade no instante t = 1,5 segundos; b) Determinar a aceleração no instante t = 1 segundo; c) Em que momento a velocidade se anula?; d) Em que momento a aceleraçãose anula?; e) Supondo que o movimento é na horizontal, tomando como referência o instante t = 0, podemos dizer que a partícula está andando para frente? E para trás?; f) Determinar a aceleração da partícula toda vez que a velocidade for nula. Seção 2 Derivadas de Funções de uma Variável Precisamos, agora, formalizar a definição de derivada de uma função de uma variável e, posteriormente, analisar a definição de derivadas no contexto de funções de duas variáveis. 2.1 Derivada de uma função y = f (x) O conceito de derivada passa a ser simples se você entendeu as considerações apresentadas na Seção 1. A derivada de uma função é também uma função calculada pelo limite: . Se esse limite existe, ele representa a derivada de uma função, que escrevemos como e lemos “f linha de x”. 20 Capítulo 1 Além da notação , também é possível escrever: – derivada de em relação a x; – derivada de y em relação a x; – derivada de y em relação a x. Perceba que, ao calcular uma derivada em um ponto P qualquer, você está calculando a inclinação da reta tangente à curva dada neste mesmo ponto P. Além disso, a derivada pode representar a taxa de variação de uma grandeza em relação à outra. Vale a pena lembrar que Newton (1643 – 1727) era fascinado pela Astronomia, procurando sempre observar o movimento dos planetas. Acredita-se que foi questionando as órbitas dos planetas, observando e estudando seus movimentos, que sua longa produção científica englobou as derivadas e integrais, assim como a base da mecânica clássica. 2.2 Exemplo (1) Calcular a derivada da função e discutir a reta tangente no ponto x = 0. Se a derivada da função é dada por , então, para um ponto , temos: . Se a inclinação é igual a zero, significa que a , ou seja, . Portanto, nesse caso, vamos ter a reta tangente paralela ao eixo dos x. Veja na Figura 1.6 a representação da reta tangente no ponto . 21 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis Figura 1.6 – Gráfico de com a reta tangente no ponto . Existe um teorema que usamos para discutir a continuidade em um ponto a partir da existência da derivada no ponto x1 . A afirmação que pode ser feita é que “se a derivada existe em um ponto, a função também é contínua nesse ponto”. (2) O que podemos concluir quando o limite que define a derivada em um ponto não existe? Pode acontecer que o limite da definição da derivada de uma função em um ponto não exista. Nesse caso, dizemos que a derivada não existe no ponto. Esse fato é facilmente visualizado numa representação gráfica, pois um ponto anguloso é observável (veja a Figura 1.7). É possível mostrar isso formalmente usando os limites laterais. Figura 1.7 – Gráfico de uma função que possui um ponto anguloso em x = 3. 22 Capítulo 1 (3) Verificar que a função não é derivável no ponto . Vamos aplicar a definição e observar o que acontece. Temos que a derivada da função dada no ponto é calculada fazendo: Perceba que o limite envolve uma função modular que pode ser reescrita como: Dessa forma, será necessário calcular os limites laterais, pois a função fica definida por duas sentenças. No conceito de limites temos os limites laterais. Lembrando que podemos analisar a tendência da função pela direita e pela esquerda do zero quando temos o : a. Analisando à direita do zero: b. Analisando à esquerda do zero: Se os limites laterais não são iguais, dizemos que o limite não existe, ou seja, não existe . Assim, verifica-se que a função não é derivável no ponto , visto que o limite nesse ponto não existe. Na Figura 1.8, temos o gráfico dessa função. É perceptível a existência de um ponto anguloso em . 23 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis Figura 1.8 – Ponto anguloso em x = 0 da função 2.3 Atividades de autoavaliação 1. Determine a derivada da função . 2. Analise as funções que seguem, sobre a possibilidade da existência da derivada em seu domínio. Faça simulações usando a visualização gráfica: a. ; b. . Seção 3 Derivadas Parciais Vamos discutir o conceito de derivada como uma taxa de variação para as funções de duas variáveis. Esse conceito auxilia a análise de diversas situações problemas, como exemplo, podemos citar a análise da função temperatura, que depende basicamente do tempo e da altitude. Mais recentemente, tem-se, também, os índices de calor que dependem da temperatura real e da umidade do ar. A ideia é discutir a sensação de calor ou de mudanças de temperatura. Como varia a temperatura em relação à altitude em um horário específico de um dia? Como varia a temperatura em relação ao horário do dia quando estamos localizados em um pico de um morro? 24 Capítulo 1 No decorrer do estudo das derivadas no contexto de funções de várias variáveis, você vai encontrar ferramentas que possibilitarão encontrar respostas a essas questões. Basta conhecer as funções e calcular as taxas de variação instantâneas em situações específicas. O conceito de derivada como taxa de variação, no caso das funções de várias variáveis, é igual ao de uma variável. É preciso lembrar que, ao fixar todas as variáveis independentes de uma função de várias variáveis, exceto uma, vamos obter uma função de uma variável e, portanto, podemos aplicar a definição de derivada de função de uma variável. Costumamos, nesse caso, denotar as derivadas como derivadas parciais. O que vai acontecer com a função quando fixamos uma variável? Ao fixar uma das variáveis da função , vamos encontrar uma curva resultante da intersecção do gráfico da função com um plano. Para esclarecer, vamos discutir detalhes que nos levam à definição das derivadas parciais. 3.1 Contextualização das derivadas parciais Vamos considerar a função , apresentada nas Figuras 1.9 e 1.10. Ao fixar a variável y no ponto 2, vamos obter: A curva pode ser visualizada no plano , na Figura 1.9. Ao fixar a variável x no ponto 1, vamos obter: A curva pode ser visualizada no plano , na Figura 1.10. 25 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis Figura 1.9 – Curva Fonte: Flemming e Luz (2008, p. 87) Figura 1.10 – Curva Fonte: Flemming e Luz (2008, p. 87) Diante dessas duas funções, é possível pensar no cálculo da derivada da função no ponto considerado. Veja a definição que segue. 3.1.1 Definição das derivadas parciais Sejam uma função de duas variáveis definida em um conjunto e Fixado , podemos considerar a função . A derivada de g no ponto , denominada derivada parcial de f em relação a x no ponto , denotada por , é definida por: ou se o limite existir. 26 Capítulo 1 Analogamente, definimos a derivada parcial de f em relação a y no ponto por se o limite existir. Fazendo e , é possível usar outra notação para a definição das derivadas parciais. Veja: 1. Derivada parcial de f em relação a x no ponto . 2. Derivada parcial de f em relação a y no ponto . Valem as notações: • ; Dx f (x, y) ; D1 f (x, y) ; fx (x, y) ; • ; Dy f (x, y) ; D2 f (x, y) ; fy (x, y) . 3.1.2 Exemplo Considerando a função , apresentada nas Figuras 1.9 e 1.10, podemos calcular as derivadas parciais no ponto (1,2) . A derivada parcial da função em relação a x no ponto (1,2) pode ser calculada usando a definição como segue: = = = = = = –2. 27 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis A derivada parcial da função , em relação a y no ponto (1,2) , pode ser calcula usando a definição como segue: = = = = = = –4. 3.1.3 Atividades de autoavaliação Determine as derivadas parciais das seguintes funções, usando a definição: a. ; b. . 3.2 Inclinação da reta tangente a uma curva no espaço Épossível visualizar a interpretação geométrica das derivadas parciais. Basta observar novamente as Figuras 1.9 e 1.10, pois ambas mostram caminhos para fazer a interpretação geométrica das derivadas parciais. Vamos discutir, inicialmente, as declividades de retas tangentes e, na sequência, mostramos a existência do plano tangente à superfície em um ponto. Supondo que a função z = f (x, y) admite derivadas parciais em pontos de seu domínio, podemos afirmar que: • Para , temos que é uma função de uma variável cujo gráfico é uma curva , resultante da interseção da superfície com o plano (ver Figuras 1.9 e 1.11). A inclinação ou coeficiente angular da reta tangente à curva no ponto é dada por . • Para , temos que é uma função de uma variável cujo gráfico é uma curva , resultante da interseção da superfície com o plano (ver Figura 1.10 e 1.11). A inclinação ou coeficiente angular da reta tangente à curva no ponto é dada por 28 Capítulo 1 Na Figura 1.11, são visíveis os ângulos e e as retas tangentes às curvas no ponto . Figura 1.11 – Declividade das retas tangentes 3.2.1 Exemplo Encontrar a inclinação da reta tangente à curva, resultante da interseção de com: (a) o plano y=1, no ponto (3, 1, –16); (b) o plano , no ponto (3, 1, –16). Para resolver o item (a), basta, no plano , considerar a equação da curva dada por , que tem como derivada . A sua inclinação, no ponto (3, 1, -16), é calculada usando o fato de que . Como , temos . Para resolver o item (b), basta, no plano considerar a equação da curva dada por , que tem como derivada . A sua inclinação, no ponto (3, 1, –16), é calculada usando o fato de que . Como , temos . 29 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis 3.2.2 Atividades de autoavaliação 1. Encontre a inclinação da reta tangente à curva resultante da interseção de com o plano no ponto . 2. Encontre a inclinação da reta tangente à curva resultante da interseção de com o plano no ponto . Seção 4 Plano Tangente e Vetor Gradiente Nesta seção vamos analisar inicialmente o conceito de diferenciabilidade de funções de várias variáveis para alicerçar o estudo do Plano Tangente e do Vetor Gradiente. No contexto das funções de uma variável, a análise informal da diferenciabilidade ou a verificação da existência da derivada em um ponto é discutida a partir da existência de pontos angulosos no gráfico da função. Para o caso de funções de duas variáveis, podemos pensar na existência de “quinas”. Assim, a suavidade do gráfico é uma referência para a diferenciabilidade de uma função de uma ou duas variáveis. Lembre-se de que o termo Quina lembra a existência de uma aresta, por exemplo, a superfície de um cubo é cheia de quinas. 4.1 Plano Tangente 4.1.1 Diferenciabilidade Dizemos que a função é diferenciável no ponto se as derivadas parciais e existem e se , sendo que e . Dizemos que f é diferenciável num conjunto , se f for diferenciável em todos os pontos de A. 30 Capítulo 1 A definição dada parece num primeiro momento muito formal, mas não podemos deixar de observar que é importante analisar a diferenciabilidade da função, principalmente quando estamos trabalhando com aplicações práticas. Deve-se observar a exigência de duas condições: a existência das derivadas parciais e o resultado zero para o limite apresentado. A diferenciabilidade de uma função em um ponto vai implicar na continuidade nesse ponto. 4.1.2 Exemplo Analisar a diferenciabilidade da função no seu domínio. A função dada é um paraboloide virado para baixo e o seu domínio é todo o plano . Temos que verificar as duas condições da definição: (1) As derivadas parciais existem em todos os pontos Temos, e . (2) Vamos analisar o limite da definição 4.1.1. Temos, 31 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis Assim, a função é diferenciável em qualquer ponto , ou seja, em qualquer ponto do seu domínio. Não esqueça que o fato das derivadas existirem não garante a diferenciabilidade da função. Uma condição suficiente para a diferenciabilidade é dada por meio de uma proposição mais formal, na qual acrescentamos a continuidade das derivadas parciais. Proposição: Seja um ponto do domínio da função Se possui derivadas parciais e num conjunto aberto A que contém e se essas derivadas parciais são contínuas em então f é diferenciável em Flemming e Gonçalves (2007). Ao analisar o gráfico de uma função de duas variáveis diferenciável em um subconjunto de pontos do seu domínio, denotado por A, podemos observar a suavidade da superfície em todos os pontos. Dessa forma é possível imaginar a existência de um plano tangente em qualquer um dos pontos de A. As derivadas parciais auxiliam na determinação desse Plano Tangente. 4.1.3 Definição de Plano Tangente Seja uma função diferenciável no ponto no ponto Chamamos plano tangente ao gráfico de f no ponto ao plano dado pela equação . A Figura 1.12 mostra a visualização gráfica dessa definição. Figura 1.12 – Plano Tangente 32 Capítulo 1 4.1.4 Exemplo Determinar, caso exista, o plano tangente ao gráfico da função nos pontos e . Para resolver vamos fazer inicialmente as derivadas parciais da função para qualquer ponto usando a definição. Temos: Ao tentar calcular essas derivadas no ponto (0,0), vamos obter uma indeterminação do tipo 0/0. Assim é necessário usar a definição de derivada parcial no ponto (0,0). Veja: Para concluir este limite é necessário usar o limite à direita e o limite à esquerda. Assim, • Limite à direita: • Limite à esquerda: Portanto, não existe o . 33 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis Dessa forma a derivada não existe e de forma similar podemos concluir que também não existe. Portanto a função dada não admite plano tangente em . Vamos agora investigar o ponto . Neste caso o plano tangente existe, pois as derivadas parciais existem. Veja: = . = . Substituindo na equação do plano tangente, dada na definição 4.1.3 temos: A Figura 1.13 apresenta o gráfico do cone e do plano no ponto . Figura 1.13 – Plano tangente ao cone elítico em 34 Capítulo 1 4.2 Vetor Gradiente Um objeto matemático muito importante para ser discutido no contexto das funções de várias variáveis é o vetor gradiente. Este vetor é reconhecido na natureza quando observamos uma queda d’água em um morro. Intuitivamente sabemos que a água vai seguir o caminho que tem o maior declive. Este caminho pode ser delineado com a ideia do vetor gradiente. 4.2.1 Vetor Gradiente Seja uma função que admite as derivadas parciais e no ponto . O gradiente de f no ponto , denotado por ou , é um vetor cujas componentes são as derivadas parciais de f nesse ponto, ou seja, . Geometricamente, interpretamos como um vetor aplicado no ponto , isto é, trasladado paralelamente da origem para o ponto . Para um ponto genérico usualmente representamos o vetor gradiente por: ou Analogamente, definimos o vetor gradiente de funções de mais de duas variáveis. Por exemplo, para uma função de três variáveis , temos: ou . Observe que os vetores , e são os vetores unitários na direção dos eixos x, y e z respectivamente. 35 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis 4.2.2 Exemplos Neste momento não estamos fazendo o detalhamento das derivadas parciais com o uso da definição, pois no capítulo seguinte vamos discutir as regras de derivação para facilitar todos os cálculos. (1) Determinar o vetor gradiente da função . Temos: . (2) Determinar o vetor gradiente da função .Temos: . (3) Determinar o vetor gradiente da função no ponto (1, 3). Temos: ; . 4.2.3 Propriedades Vamos apresentar informalmente as propriedades do vetor gradiente. Temos: 1. O vetor gradiente indica a direção de maior crescimento da função. 2. O vetor gradiente é perpendicular à curva de nível que passa por . A propriedade (2) pode ser generalizada para funções de três ou mais variáveis. Para funções de três variáveis , temos que ,quando não nulo, é normal à superfície de nível S de f em . 4.2.4 Exemplos (1) A Figura 1.14 mostra uma imagem de satélite e a Figura 1.15 mostra um mapa com curvas de nível. A partir de um ponto A podemos traçar uma curva de maior decrescimento (caminho percorrido por uma gota de chuva). Observe que ao traçar a curva podemos visualizar vetores gradientes aplicados às curvas de nível. 36 Capítulo 1 Figura 1.14 – Imagem de satélite Figura 1.15 – Curvas de nível 4.3 Atividades de autoavaliação 1. Determine, caso exista, o plano tangente ao gráfico da função no ponto . 2. Determine o vetor gradiente das funções dadas nos pontos indicados: a) , b) , . 3. Determine, caso exista, o plano tangente ao gráfico da função nos pontos e . 4. Determine o vetor gradiente das seguintes funções: a) b) . 37 Habilidades Seções de estudo Capítulo 2 Calculando Derivadas Seção 1: Regras de derivação. Seção 2: Regra da cadeia. Seção 3: Derivadas que envolvem funções elementares. A partir do estudo deste capítulo, espera-se que o estudante possa identificar o uso das derivadas em problemas que envolvem funções de várias variáveis e taxas de variação. Com o uso das regras de derivação, o estudante deverá calcular as derivadas das funções elementares e das funções de mais de uma variável. 38 Capítulo 2 Seção 1 Regras de derivação Nesta seção, você perceberá que calcular derivadas é ainda mais simples do que você pensava! Mas a simplicidade do uso de regras de derivação não nos permite deixar de lembrar que a sua construção, no decorrer da história da matemática, está alicerçada num palco de lutas intelectuais. Há um marco histórico, quando de forma rápida, dizemos que Newton e Leibniz foram os inventores, por terem discutido métodos para o cálculo da inclinação da tangente de uma curva em um ponto específico. Ambos também perceberam que a integração é o inverso da diferenciação. Entretanto, os alicerces teóricos do cálculo foram consolidados posteriormente com a análise matemática. Quando analisamos os processos de derivação, podemos pensar que o conceito de limites é um conceito anterior ao de derivadas, entretanto, isso não é verdadeiro. A discussão do conceito de derivada sob o contexto da geometria antecede historicamente o formalismo do cálculo de limites. Com a compreensão intuitiva dos limites, podemos alicerçar a definição de derivada de uma função e discutir as regras de derivação como uma metodologia para o cálculo das derivadas. Entretanto, é importante deixar aqui o registro que essa escolha metodológica não nos exime de continuar os estudos do cálculo de uma forma mais profunda, em momentos posteriores, quando retomarmos todo o formalismo do cálculo e da análise. A partir da definição, as regras são deduzidas e não há complexidade para tal processo. 39 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis 1.1 Cálculo da derivada de funções de uma variável O Quadro 2.1 tem vários exemplos das regras de derivação. Veja, na sequência, como podemos demonstrar a derivada de uma soma. Quadro 2.1 – Exemplos iniciais de regras de derivação Regra Função Derivada Derivada de uma constante. , c é uma constante. Regra da potência. , n inteiro positivo Derivada do produto de uma constante por uma função. , c é uma constante. Derivada de uma soma. Derivada de um produto. Derivada de um quociente. , com . Neste momento, estamos trabalhando sempre com funções de uma variável do tipo Supondo que estamos diante de uma soma de funções: . Para calcular a derivada de , escreve-se o limite: Apenas reescrevendo os termos desse limite, tem-se: 40 Capítulo 2 1.2 Exemplos Usando as regras de derivação, como mostra o Quadro 2.1, calcule as derivadas das funções dadas: (1) Usando a derivada de uma constante, temos: . (2) Usando a Regra da Potência, temos: . (3) Usando a derivada do produto de uma constante por uma função, temos: . Para determinar usamos a regra da potência, assim, . (4) Perceba que pode ser vista como o produto de uma constante por uma função, assim, a derivada é dada por: (5) A função é a soma de outras quatro funções. Assim, usamos a derivada de uma soma: 41 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis (6) Perceba que a função y é dada pelo produto das funções e . Usando a derivada de um produto, teremos: É comum realizarmos as multiplicações para, quando possível, simplificar a expressão da derivada. Neste exemplo temos: (7) Usando a derivada de um quociente, temos que e . Então, a derivada será dada por: Observe que em todos os exemplos usamos a notação da derivada de uma função como . Mas também podemos usar a notação . 42 Capítulo 2 1.3 Cálculo de derivadas parciais Na prática, podemos obter as derivadas parciais mais facilmente, usando as regras de derivação das funções de uma variável. Nesse caso, para calcular a derivada parcial da função em relação a x, ou , mantemos y constante e, para calcular a derivada parcial em relação a y, ou , vamos manter o x como constante. As regras de derivação podem ser usadas, basta que você lembre que uma das variáveis é considerada constante. Os exemplos que seguem ilustram essa prática. 1.4 Exemplos Calcule as derivadas parciais das seguintes funções: (1) Mantendo y constante, podemos usar as regras de derivação para calcular a derivada parcial da função em relação a x. Temos: Analogamente, mantendo x constante, obtemos: (2) Vamos aplicar a regra do produto para cada uma das derivadas parciais. 43 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis 1.5 Atividades de autoavaliação 1. Calcule a derivada das seguintes funções: a) b) c) d) e) f) g) h) i) j) 2. Encontre as derivadas parciais das seguintes funções: a. c. b. d. 44 Capítulo 2 Seção 2 Regra da cadeia No estudo das funções, é comum tratarmos de funções compostas. Por exemplo, se e , então, diz-se que (leia f bola g ou f composta com g) será dada por: . Tendo em mente as funções compostas, o interesse desta seção é mostrar uma regra das derivadas que envolvem a composição de funções e, por esse motivo, possibilita o cálculo de derivadas de funções mais elaboradas. 2.1 Aplicando a regra da cadeia no contexto de funções de uma variável A regra da cadeia enuncia que, se tivermos uma função , sendo que , é possível calcular se conhecermos e . Podemos escrever: . Assim, a derivada de y em relação a x é calculada pelo produto da derivada de y em relação a u e da derivada de u em relação a x. 2.1.1 Exemplos (1) Calcule a derivada sendo e . Vamos calcular as derivadas e : 45 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis Usando a regra da cadeia, dizemos que é dada pelo produto das derivadas calculadas: . Substituindo temos: . (2) Dada a função , encontre . É possível reescrever a função y da seguinte forma: , sendo . Usando a regra da cadeia, é possível encontrar por meio do produto . Assim, temos:e . Perceba que pode ser calculada pela regra do quociente: 46 Capítulo 2 Portanto, para y = 2x + 5 x 2 + 3 10 , usando a regra da cadeia temos que: 2.1.2 Tabela de derivadas Como consequência da regra da cadeia, é possível formular resultados importantes para o cálculo de derivadas. Veja a proposição destacada. Proposição: Se , sendo e n um número inteiro não nulo, então . Podemos generalizar essa proposição e torná-la uma regra para ser usada quando n é um número racional. Para auxiliar na resolução de exercícios, as regras de derivação são agrupadas em uma Tabela de Derivadas, que você encontra no Anexo deste livro. Nesta tabela, as regras de derivação já absorvem a regra da cadeia. Por exemplo, vamos transcrever aqui, na Tabela 2.1, as regras iniciais e você poderá inicialmente fazer uma comparação com o que foi apresentado no Quadro 2.1. Observe que, na Tabela 2.1, estamos considerando a aplicação da regra da cadeia com: ; ; e c e m como constantes, sendo que . 47 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis Tabela 2.1 – Tabela inicial das derivadas (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) Nos próximos exemplos, você poderá visualizar a aplicação das regras de derivação e da regra da cadeia. Tenha a tabela de derivadas sempre à mão quando estiver analisando exemplos e resolvendo exercícios que envolvem as derivadas. 2.1.3 Exemplos Calcule a derivada das funções dadas aplicando as regras de derivação e a regra da cadeia quando necessário: (a) Neste exemplo, vamos derivar a função encontrando , usando da regra do quociente: 48 Capítulo 2 (b) Usando a regra do produto, temos: (c) Usando a generalização da regra da potência, vamos aplicar a regra da cadeia (Tabela 2.1 (7)). Considerando que , temos: (d) É possível reescrever a função usando expoente fracionário. Veja: . Agora, basta derivar y usando a regra da potência, indicada na Tabela 2.1 (7): 49 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis (e) Podemos reescrever a raiz quadrada, usando expoente fracionário , e derivar a função y, usando inicialmente a regra da soma (Tabela 2.1 (4)) e, posteriormente, a regra da potência: (f) Para derivar esta função, vamos novamente reescrever a raiz quadrada como um expoente fracionário. Assim, a derivada pode ser calculada a partir da regra do quociente (Tabela 2.1 (6)): 50 Capítulo 2 (g) Reescrevendo a função, temos: . A derivada será dada pela aplicação da regra do produto das funções e : Observe atentamente que a escolha inicial da regra de derivação a ser usada é fundamental para a resolução completa do cálculo da derivada de uma função. Fique atento que, na apresentação final, as simplificações algébricas devem ser realizadas, mas usando-se sempre a coerência em termos de “trabalho braçal”, pois nem sempre o desenvolvimento de uma potência, raiz ou outra operação, possibilita um visual mais claro da expressão. 2.1.4 Atividades de autoavaliação Calcule a derivada das funções dadas: a. b. c. d. e. f. g. h. i. j. 51 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis 2.1.5 Uso das regras de derivação para o cálculo das derivadas parciais A Tabela 2.1 foi concebida para o contexto das funções de uma variável, mas podemos aplicá-la no contexto das derivadas parciais, considerando que, ao fazer a derivada parcial da função em relação a x, vamos considerar o y como uma constante e, ao fazer a derivada parcial da função em relação a y, vamos considerar o x como uma constante. Além disso, a função u é, de um modo geral, uma função de duas variáveis ou mais variáveis. Veja as situações que seguem, com a função e . (1) Dada a função , podemos reescrever usando potência fracionária: . Assim, podemos aplicar a regra da Tabela 2.1 (7) para calcular as derivadas parciais, considerando que : (a) Derivada parcial de em relação a x = = = . (b) Derivada parcial de em relação a y = = = . Observe que estamos usando as notações e para representar a derivada da função em relação a x e em relação a y respectivamente. 52 Capítulo 2 (2) Para a função , podemos usar a Tabela 2.1 (5), considerando que e . Assim, temos: (a) Derivada parcial de em relação a x (b) Derivada parcial de em relação a y 2.1.6 Atividades de autoavaliação Calcule as derivadas parciais e das funções dadas: a) b) c) d) e) f) g) h) 2.2 A Regra da cadeia no contexto das funções de várias variáveis Nesta seção, vamos fazer o estudo da Regra da Cadeia para funções de várias variáveis. Você terá a oportunidade de verificar a similaridade com o contexto de funções de uma variável. Vamos ter situações específicas que envolvem uma regra de diferenciação de uma função composta. 53 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis Inicialmente, vamos trabalhar com dois casos de composição e, posteriormente, vamos escrever a generalização da regra. A Tabela 2.2 apresenta os dois casos que serão analisados. Tabela 2.2 – Teoremas resumidos CASO Funções diferenciáveis Regra da Cadeia I II Observem que, no quadro apresentado, tem-se um resumo de dois famosos teoremas aqui destacados. Teorema 1: Regra da Cadeia para funções de duas variáveis independentes. Se for diferenciável e x e y forem funções diferenciáveis em t, então, z será uma função diferenciável de t e . Teorema 2: Regra da Cadeia para funções de duas variáveis independentes e duas variáveis intermediárias. Se for diferenciável e x e y forem funções diferenciáveis, então, z será uma função diferenciável e vale a regra: . (Veja a demonstração em Flemming e Gonçalves, 2007) Antes de exemplificar, vamos apresentar uma representação gráfica da Regra da Cadeia. A ideia é auxiliar na montagem da regra. Veja o Quadro 2.2. 54 Capítulo 2 Quadro 2.2 – Representações semióticas da regra da cadeia CASO Representação semiótica Regra da Cadeia I II Observe que, na representação semiótica apresentada no Quadro 2.2, usamos a disposição apresentada na Figura 2.1. Para escrever a regra, basta seguir as setas para montar as derivadas parciais e efetuar os produtos. Ao final, adiciona- se os produtos encontrados. Figura 2.1 – Montagem da regra da cadeia A Figura 2.1 também facilita visualizar que as expressões do caso II podem ser escritas com uma representação matricial. Veja: . 55 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis 2.2.1 Exemplos (1) Verifique a fórmula do caso I da regra da cadeia para com e . Para verificar a fórmula df dt f x dx dt f y dy dt = + ∂ ∂ ∂ ∂ . . , vamos encontrar inicialmente a função composta. Temos, Assim, usando a expressão anterior obtemos . Ao usar a regra da cadeia, vamos fazer: df dt f x dx dt f y dy dt = + ∂ ∂ ∂ ∂ . . . Observe que, em geral, o uso da Regra da Cadeia reduz os cálculos. É ideal sempre deixar a resposta na variável solicitada, neste exemplo, na variável t. (2) Dada , e , encontre a derivada usando a Regra da Cadeia. Usando a regra da cadeia temos: = ∂ ∂ ∂ ∂ y f x dx dt f dy dt . .+ = Fazendo a substituição das variáveis e , temos: = = (3) Verifique a fórmula do caso II da regra da cadeia para sendo e . Podemos usar a forma matricial: . 56 Capítulo 2 Aplicando o cálculo das derivadas indicadas, temos:Dessa forma, temos que: (a) A derivada de z em relação a u é dada por: Substituindo o valor de x, temos: ∂ ∂ z u u v uv= − + +1 2 4 3( ) . (b) A derivada de z em relação a v é dada por: x u v x u v= - + = - +( ).1 2 1 1 6 1 2 62 2 2 2 Substituindo o valor de x, temos: ∂ ∂ v z u v u v= − + +1 2 6 2 2( ) . Para verificar a regra da cadeia, podemos, inicialmente, substituir os valores de e na função . Veja: Dessa forma, temos as derivadas parciais e podemos observar que vamos obter os resultados iguais ao processo anterior. ∂ ∂ z u uv u v= + − −1 4 2 23 . ∂ ∂ z v u v u v= + − −1 6 2 22 2 . 2.2.2 Atividades de autoavaliação 1. Verifique a fórmula da regra da cadeia para a função com e . 2. Dada , e , calcule a derivada usando a Regra da Cadeia. 3. Verifique a fórmula da regra da cadeia para a função , sendo e . 4. Escreva o sistema matricial e a fórmula genérica da regra da cadeia para o caso da função , sendo e 57 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis Seção 3 Derivadas que envolvem funções elementares Após estudar a regra da cadeia e as principais regras de derivação, você pode, agora, conhecer as regras de derivação que envolvem funções elementares, tais como exponenciais, logarítmicas, trigonométricas e hiperbólicas. Lembre-se que essas funções já foram estudadas e a derivada de cada uma delas representa a inclinação da reta tangente em um ponto x qualquer. Além disso, na Tabela de Derivadas, você encontrará todas as regras de derivação que serão apresentadas nesta seção. 3.1 Derivadas das funções exponencial e logarítmica Veja na Tabela 2.3 as regras de derivação para as funções exponencial e logarítmica, lembrando que foram deduzidas a partir do cálculo do limite que define a derivada de uma função qualquer. Tabela 2.3 – Continuação da tabela das derivadas (funções exponenciais e logarítmicas) (8) com e (9) com e n0. neperiano (10) com e (11) (12) com u > 0 3.1.1 Exemplos Determine a derivada das seguintes funções, usando as regras de derivação. (a) 58 Capítulo 2 (b) . (c) (d) (e) 3.1.2 Atividades de autoavaliação Determine as derivadas das funções, usando as regras de derivação. a) b) c) d) e) f) 59 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis 3.2 Derivadas das funções trigonométricas e trigonométricas inversas Veja na Tabela 2.4 as regras de derivação para as funções trigonométricas e trigonométricas inversas. Tabela 2.4 – Continuação da tabela das derivadas (funções trigonométricas e suas inversas) (13) (14) (15) (16) (17) (18) (19) (20) (21) (22) (23) com |u| >1 (24) com |u| ≥1 60 Capítulo 2 3.2.1 Exemplos Determine a derivada das seguintes funções, usando as regras de derivação. (a) Perceba que a expressão não multiplica o argumento do seno, mas sim, toda a função seno. (b) (c) 61 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis (d) (e) (f) 3.2.2 Atividades de autoavaliação Determine a derivada das funções, usando as regras de derivação. a) b) c) d) e) f) 62 Capítulo 2 3.3 Derivadas parciais de funções que envolvem funções mais gerais Podemos ter funções de duas variáveis que envolvem as exponenciais, logaritmos e funções trigonométricas. De acordo com toda a discussão contida neste capítulo, aplicamos sempre as regras de derivação para calcular as derivadas parciais, com a consideração de que uma delas é constante. 3.3.1 Exemplos (1) Calcule as derivadas parciais das seguintes funções (a) Temos: (b) 63 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis 3.3.2 Atividades de autoavaliação 1. Calcule as derivadas parciais das seguintes funções: a) b) c) d) 2. Dada , e , calcule a derivada , usando a Regra da Cadeia. 3. Calcule as derivadas parciais e da função , sendo e . 3.4 Uso das regras de derivação em aplicações No decorrer do capítulo 1 foram discutidas as definições das derivadas de funções de uma ou mais variáveis. Algumas aplicações surgem naturalmente consideradas geométricas. Por exemplo, temos: • A inclinação da reta tangente à curva em um ponto é dada por . • A equação da reta tangente à curva no ponto de tangência é dada por ou . • A inclinação da reta tangente à curva no espaço definida pela intersecção da superfície com um plano , no ponto , é dada por . • A inclinação da reta tangente à curva no espaço definida pela intersecção da superfície com um plano , no ponto , é dada por . • Quando a função tem as derivadas parciais no ponto podemos calcular a equação do plano tangente à superfície no ponto dado. Temos: . 64 Capítulo 2 • Quando a função tem as derivadas parciais no ponto podemos calcular o vetor gradiente que é dado por: ou , sendo que as derivadas são aplicadas no ponto. Em todas as aplicações citadas vamos usar o cálculo das derivadas e podemos sempre aplicar as regras de derivação nos cálculos. Os exemplos que seguem mostram essa opção de cálculo. 3.4.1 Exemplos que envolvem funções de uma variável (1) Calcular a inclinação da reta tangente à curva no ponto . A inclinação da reta tangente à curva no ponto é calculada por meio das derivadas: . Temos que: Aplicando no ponto dado temos: . Lembrando que este valor obtido representa a tangente do ângulo, medido em radianos, que a reta tangente à curva no ponto dado faz com o eixo dos x. Na figura 2.2 temos a representação do exemplo. 65 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis Figura 2.2 – Inclinação da reta tangente (2) Calcular a equação da reta tangente à curva da no exemplo (1). A equação da reta tangente à curva no ponto , isto é no ponto de tangência , é dada por: . 3.4.2 Exemplos que envolvem funções de duas variáveis (1) Encontrar a inclinação da reta tangente à curva resultante da intersecção de com: (a) o plano no ponto ; (b) o plano no ponto . Para resolver o item (a) podemos fazer a derivada parcial da função em relação a x e aplicar no ponto dado. Temos: . Assim, temos que . 66 Capítulo 2 Para resolver o item (b) podemos fazer a derivada parcial da função em relação a y e aplicar no ponto dado. Temos: Assim, temos que (2) Escrever a equação do plano tangente à superfície no ponto . No exemplo anterior já calculamos as derivadas parciais no ponto dado, portanto, basta aplicar os dados na equação do plano tangente. Temos: (3) Dada a função (ver Figura 2.3), achar o vetor gradiente no ponto O vetor gradiente é calculado como: . 67 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis Figura 2.3 – Função A curva de nível que pode ser visualizada na Figura 2.4. Podemos observar que o vetor gradiente é perpendicular a reta tangente à curva no ponto Figura 2.4 - Curva de Nível e Vetor Gradiente 68 Capítulo 2 3.4.3 Atividades de autoavaliação 1. Calcular a inclinação da reta tangente à curva no ponto . 2. Calcular a equação da reta tangente à curva nos pontos: a) b) . 3. Encontrar a inclinação da reta tangente à curva resultante da intersecção de com: a) o plano no ponto ; b) o plano no ponto . 4. Determine, caso exista, o plano tangente ao gráfico da função no ponto . 5. Determine o vetor gradiente das funções dadas nos pontos indicados: a) , ; b) , . 69 Habilidades Seções de estudo Capítulo 3 DerivadasSucessivas, Derivação Implícita e Diferencial Seção 1: Derivadas sucessivas Seção 2: Derivação implícita Seção 3: Diferencial A partir do estudo deste capítulo espera-se que o estudante possa discutir situações práticas que requerem o uso das derivadas sucessivas e funções escritas na forma implícita. Além disso, por meio de técnicas e aplicações, ampliará a sua visão para a diferença entre o conceito de derivadas e o conceito de diferenciais. 70 Capítulo 3 Seção 1 Derivadas sucessivas Após ter estudado e exercitado as regras de derivação, veja que é possível derivar quantas vezes você achar interessante! É o que se chama de derivação sucessiva, a derivada da derivada, da derivada, da derivada etc. 1.1 Derivadas sucessivas de funções de uma variável As derivadas sucessivas de uma função f são denotadas como exemplos a seguir: • Derivada de f ou derivada de primeira ordem: ou • Derivada segunda de f ou derivada de segunda ordem de f : ou • Derivada terceira de f ou derivada de terceira ordem de f: ou • Derivada quarta de f ou derivada de quarta ordem de f: ou • Derivada de ordem 10 de f : ou • Derivada de ordem n de f : ou 1.1.1 Exemplos (1) Calcular a derivada de terceira ordem da função . Para calcular a derivada de terceira ordem, é necessário derivar sucessivamente três vezes a função dada: (2) Determinar a derivada de segunda ordem da função . Num primeiro momento, vamos reescrever a função . 71 Derivadas de funções de uma ou mais variáveis A derivada de segunda ordem é a derivada da derivada: Para derivar novamente, perceba que agora a função está escrita como o produto de por Assim, usando a regra do produto, temos: (3) Determinar a derivada de segunda ordem da função . 72 Capítulo 3 (4) Determinar a derivada de ordem da função . Para determinar a derivada solicitada, vamos derivar a função sucessivamente: . Perceba que as derivadas começarão a se repetir, visto que . Pelo menos, não será necessário derivar 100 vezes! Para perceba que, a partir da quarta ordem, as derivadas começam a se repetir. Vamos numerar estas derivadas (ver Quadro 3.1). Quadro 3.1 – Derivadas sucessivas (1) (5) (9) E assim sucessivamente, até que se chegue em que será igual ao . Assim, (2) (6) (10) (3) (7) (11) (4) (8) (12) Dividindo 100 por 4 teremos como resultado 25. Isso significa que até chegar em as derivadas passarão 25 vezes em e encerrarão nesta ordem. Se fosse 103, ao dividirmos por 4 teríamos 25 inteiros e o resto seria igual a 3. Então: . 1.1.2 Atividades de autoavaliação 1. Encontre a derivada de quarta ordem da função . 2. Determine a derivada de segunda ordem das funções: a) b) 3. Determine a derivada de terceira ordem da função . 4. Determine a derivada de ordem 153 de . 73 Derivadas de funções de uma ou mais variáveis 1.2 Derivadas sucessivas de funções de duas variáveis Se é uma função de duas variáveis, então, em geral, suas derivadas parciais de primeira ordem são, também, funções de duas variáveis. Se as derivadas dessas funções existem, elas são chamadas derivadas parciais de segunda ordem de . Temos quatro derivadas parciais de segunda ordem. A partir da derivada de f em relação a x, obtemos as seguintes derivadas parciais de segunda ordem: . A partir da derivada obtemos: . As derivadas e são conhecidas como derivadas parciais mistas. 1.2.1 Exemplos: (1) Dada a , determinar suas derivadas parciais de segunda ordem. As derivadas parciais de primeira ordem de f são: e . A partir de obtemos: 74 Capítulo 3 . A partir de obtemos: . (2) Dada a , determinar e . Temos: . Observando os resultados obtidos nos exemplos (1) e (2), vemos que, em ambos os casos, as derivadas parciais mistas de segunda ordem, e são iguais. Isso ocorre para a maioria das funções que aparecem frequentemente na prática. Temos o seguinte teorema. 1.2.2 Teorema de Schwartz Seja uma função com derivadas parciais de segunda ordem definidas em uma região aberta contendo um ponto todas contínuas em , então . 75 Derivadas de funções de uma ou mais variáveis Podemos ter derivadas de terceira ordem, quarta ordem etc. Basta seguir o mesmo raciocínio anterior. Veja, por exemplo: • Derivada parcial de terceira ordem em relação a x: . • Derivada mista de terceira ordem: . • Derivada mista de terceira ordem: . • Derivada de quarta ordem em relação a y: . O Teorema de Schwartz pode ser generalizado para as derivadas mistas de ordem superior. De forma geral, podemos dizer que: “Se todas as derivadas parciais em questão forem contínuas num conjunto aberto A, então, para os pontos de A, a ordem da derivação parcial pode ser mudada sem alterar o resultado.” 1.2.3 Exemplo Dada a função , calcular ; , e . Para o cálculo de : . 76 Capítulo 3 Para o cálculo de , temos: . Para o cálculo e temos: Usando o Teorema de Schwartz, podemos dizer que = para um conjunto em que as hipóteses do teorema são válidas. Assim, . É importante observar que as notações do tipo são lidas na seguinte forma: Derivada de primeira ordem em relação a x. Derivada de segunda ordem em relação a y. Derivada da terceira ordem em relação a y. 1.2.4 Atividades de autoavaliação 1. Encontre as derivadas de segunda ordem da função . 2. Encontre as derivadas parciais de terceira ordem da função . 3. Determine as derivadas parciais indicadas considerando: a) , . 77 Derivadas de funções de uma ou mais variáveis b) , , . 4. Diante de uma função de três variáveis , calcular: e . Constante que os resultados são iguais. Seção 2 Derivação implícita 2.1 Derivadas de funções de uma variável escritas implicitamente Existem algumas funções que são escritas na forma implícita. Você sabe o que isso significa? Para entender, veja a equação: . Perceba que, ao isolar a variável y, você terá uma função do segundo grau, dada por: . Portanto, uma é definida na forma implícita se puder ser escrita como uma equação e, ao substituir y por esta equação se torna uma identidade. Na equação ao substituir tem-se: ou seja, uma identidade. Mas por que falar em derivação de funções na forma implícita? 78 Capítulo 3 Isso acontece, pois nem sempre é possível encontrar a função na forma explícita, ou ainda, quando possível, há casos em que existem infinitas formas explícitas de uma mesma função. Por exemplo, não é possível encontrar na equação . Em existem infinitas maneiras de escrever dentre elas, . Portanto, justifica-se a importância de se determinar a derivada das funções escritas na forma implícita, sem que seja necessário isolar uma das variáveis em relação às demais. Para derivar uma função escrita na aplicam-se as regras de derivação e a regra da cadeia sem que seja necessário escrever . Os exemplos irão ajudá-lo a entender melhor este tipo de derivação. 2.1.1 Exemplos (1) Encontrar da função derivável , definida implicitamente pela equação . Para derivar ambos os lados da equação: . Usando a regra da cadeia temos: . Diante de uma função y = f(x), perceba que a derivada da variável independente (x) é igual a 1 e a derivada da variável dependente (y) é igual . 79 Derivadas de funções de uma ou mais variáveis Isolando teremos: (2) Determinar das funções definidas implicitamente pelas equações: (a) (b) 80 Capítulo 3 2.1.2 Atividades de autoavaliação Encontre das funções definidas implicitamente pelas equações: a) . b) . c) . 2.2 Derivadas de funções de duas variáveis escritas implicitamente No estudodas funções de uma variável, podemos observar que uma é definida implicitamente pela equação se, ao substituirmos por na equação, esta se transforma numa identidade. Analogamente, dizemos que uma é definida implicitamente pela equação se, ao substituirmos por a equação se reduz a uma identidade. Por exemplo, seja o hemisfério que pode ser definido implicitamente pela equação da esfera de raio r definida por: . Estamos diante de uma situação matemática, na qual a regra da cadeia é o ponto de partida. Inicialmente, vamos considerar a situação em que a função implícita está definida pela equação . Admitindo que e são funções diferenciáveis e que no ponto , podemos obter a derivada , aplicando a regra da cadeia, temos, ou . 2.2.1 Exemplo: (1) Sabendo que a função é definida implicitamente pela equação , determinar sua derivada . A função dada é definida implicitamente pela equação , sendo que . 81 Derivadas de funções de uma ou mais variáveis Sabemos que: e , vamos usar a expressão já estabelecida para o cálculo: ( . Assim, o resultado para este exemplo é um valor constante. 2.2.2 Função de duas variáveis Vamos agora discutir a situação em que a função é definida pela equação . Admitindo que e são funções diferenciáveis e que no ponto e , usando a regra da cadeia, podemos obter as derivadas parciais e . Temos: (a) Derivando em relação a x: ou com 82 Capítulo 3 (b) Derivando em relação a y, obtemos: com . 2.2.3 Exemplo Sabendo que a função é definida pela equação , determinar e . A função é definida pela equação , sendo . Como , e , usando as expressões estabelecidas temos: . Em todas as situações analisadas partimos da premissa de que as funções diferenciáveis estão definidas implicitamente e, então, determinamos as derivadas correspondentes. Nem sempre as expressões dadas definem funções na forma implícita. Nesse caso, se adotarmos os procedimentos descritos, podemos encontrar resultados totalmente não significativos. O Teorema da Função Implícita, considerado um dos principais teoremas do Cálculo Avançado ou da Análise Matemática, em suas várias versões, assegura condições suficientes para que os procedimentos descritos nesta seção sejam consistentes ou nossa hipótese seja válida. 83 Derivadas de funções de uma ou mais variáveis 2.2.4 Teorema da Função Implícita Temos duas versões para fazer a contextualização: Versão 1: Se definida numa bola aberta sendo: , e e são funções contínuas nessa bola, então a equação define y como uma função de x perto do ponto e a derivada dessa função é dada pela equação . Versão 2: Se é definida dentro de uma esfera contendo , sendo: , e , e funções contínuas dentro da esfera, então a equação define z como uma função de x e y perto do ponto e as derivadas parciais dessa função são dadas por e . 2.2.5 Atividades de autoavaliação 1. Sabendo que a função diferenciável é definida implicitamente pela equação , determine sua derivada . 2. Sabendo que a função diferenciável é definida pela equação , determine e . 3. Supondo que a função diferenciável é definida implicitamente pela equação , determine sua derivada . 84 Capítulo 3 Seção 3 Diferencial Inicialmente, vamos discutir a diferencial no contexto de funções de uma variável e na sequência vamos discutir no contexto de funções de duas variáveis. 3.1 Conceito e representação gráfica das diferenciais Quando temos podemos automaticamente usar a derivada . Nesta seção vamos olhar para essa notação de forma mais significativa, pois vamos analisar o significado e e discutir como uma razão que representa taxa de variação. Newton e Leibniz usaram diferentes notações para a derivada de uma função. Por mais de 50 anos, houve uma grande disputa sobre qual era a melhor notação. Venceu a notação de Leibniz, que denota a derivada como uma razão das diferenciais dy e dx. Para entender o conceito de diferencial no caso de funções de uma variável, veja a Figura 3.1. Figura 3.1 – Representação dos acréscimos e diferenciais x y y2 dy y1 Δy dx x1 x2 Δx y=f(x) É possível representar uma variação na variável x como . A variação de x origina uma variação de y, representada por e definida por: 85 Derivadas de funções de uma ou mais variáveis . Veja na Figura 3.1 a representação e . Os símbolos e que aparecem na derivada são chamados de diferenciais. Assim, temos que a diferencial da variável independente x será dada . Por outro lado, a diferencial da variável dependente y, será dada . Como , então . Veja na Figura 3.1 a representação das diferenciais e . Ainda na Figura 3.1, perceba que: se a distância for pequena, então a diferença entre e torna-se cada vez menor. Na prática, quando tende para zero, é possível dizer que é aproximadamente igual a ( ). 3.1.1 Exemplos (1) Calcular o acréscimo e a diferencial para a função quando e . Num primeiro momento, vamos determinar fazendo: 86 Capítulo 3 A diferencial será , sendo a derivada de dada por: . Ainda, e Observar que a diferença entre e dy é pequena. (2) Determinar e na função no ponto x = 4 com . (3) Use diferenciais para estimar o erro na medida da resistência elétrica R de um fio, que é dada por , sendo k uma constante e r o raio do fio. No momento em que o foi medido, acredita-se que houve um erro de 0,05. Podemos escrever a função que mede a resistência elétrica de um fio como . Do enunciado do problema, é possível dizer que , portanto, . Vamos calcular o erro na medida da resistência elétrica, , fazendo: 87 Derivadas de funções de uma ou mais variáveis . Portanto, o erro é de, aproximadamente, unidades de resistência elétrica. 3.1.2 Atividades de autoavaliação 1. Encontrar e para as funções indicadas: a) , , b) , , 2. Use diferenciais para estimar o volume de cobre na cobertura de um cubo de aço com 20cm de lado e coberto com 0,01cm de cobre. 3.2 Diferencial de funções de várias variáveis Para discutir o conceito de diferencial de várias variáveis é conveniente lembrar que o plano tangente a uma superfície em um ponto é uma boa aproximação da superfície nas proximidades do ponto. É usual afirmar que estamos diante de uma aproximação linear ou que a função dada foi linearizada. A diferencial é usada para analisar a sensibilidade à variação. Por exemplo, como vai variar o volume de um recipiente quando a espessura do vasilhame sofre pequena alteração. 3.2.1 Definição Seja uma função diferenciável no ponto . Se nos movermos do ponto para um ponto próximo, , a variação resultante na linearização de é chamada de diferencial total de f (x, y) e é dada por . 88 Capítulo 3 Tradicionalmente podemos dizer que as diferenciais das variáveis independentes são dadas por: dx = Δx e dy = Δy e a diferencial de z é aproximadamente igual ao acréscimo Δz. Neste caso usamos a notação . Lembrando que Δx e Δy são os acréscimos das variáveis independentes e Δz o acréscimo da variável dependente. 3.2.2 Exemplos: (1) Calcular a diferencial no ponto (3, 3). Usando a definição de diferencial, temos: . Assim, e . Portanto, . (2) Sabemos que ao medir determinados objetos podemos cometer erros relativos aos instrumentos e também relativos ao visual do operador. Assim, veja a seguinte situação: Foram feitas medidas do raio da base e da altura de um cone circular reto e obtivemos as medidas raio da base = 8cm e altura = 20cm com um possível erro de no máximo 0,1cm. Podemos utilizar a diferencial para estimar o erro máximo cometido no cálculo dovolume do cone. Temos os seguintes dados para resolver o problema: • Função volume: ; • Derivadas parciais: e ; • Dados: ponto ; e . 89 Derivadas de funções de uma ou mais variáveis Assim, ou seja, o erro máximo é de . (3) O conceito de diferencial pode ser usado para funções com mais de duas variáveis. Por exemplo, podemos calcular a diferencial da no ponto . Neste caso, podemos dizer que: . Temos: ; ; . Portanto, . 3.2.3 Atividades de autoavaliação 1. Calcule a diferencial no ponto . 2. Generalize o conceito de diferencial e calcule a diferencial de no ponto (1,1,1). 3. As dimensões de uma caixa retangular são medidas como 25cm, 60cm e 30cm, cada medida feita com precisão de 0,2cm. Use diferenciais para estimar o maior valor possível do erro quando calculamos o volume da caixa usando essas medidas. 4. Calcule e da função f(x,y) = x – x3y2 considerando e . Comparar os resultados obtidos. 5. Calcule a diferencial das seguintes funções: a) b) 90 Capítulo 3 6. A energia consumida num resistor elétrico é dada por watts. Se volts e ohms, calcule um valor aproximado para a variação de energia quando V decresce de 0,001 volts e R aumenta de 0,02 ohms. 91 Habilidades Seções de estudo Capítulo 4 Seção 1: Taxa de variação. Seção 2: Análise de comportamento das funções. A partir da identificação e discussão de situações práticas, modeladas com funções de uma ou mais variáveis com diversas representações semióticas e taxas de variação, espera-se que o estudante possa analisar o comportamento das funções usando gráficos e técnicas de derivação. Aplicações Elementares 92 Capítulo 4 Seção 1 Taxa de Variação Nesta seção você vivenciará a resolução de problemas cuja modelagem e resolução requer o uso de derivadas. Em geral, são problemas que envolvem uma taxa de variação. Veja algumas questões que podem ser respondidas nesta seção. O que é taxa de variação? Por que a velocidade e aceleração são consideradas interpretações físicas da derivada? 1.1 A derivada como taxa de variação Na introdução do conceito de derivada você teve a oportunidade de analisar a interpretação geométrica da derivada. Vamos agora retomar esse contexto apresentando a derivada como taxa de variação. Você terá a oportunidade de verificar que temos também a interpretação física da derivada. De forma simples, podemos pensar em variação como mudança em relação ao tempo, mas você terá a oportunidade de vivenciar problemas em que outras variáveis são consideradas. Por exemplo, um economista pode querer estudar como o custo da produção de um produto varia de acordo com o número produzido. Matematicamente, quando temos a taxa média de variação de y em relação x no intervalo é dada por sendo a variação de x e variação correspondente de y. É possível conhecer a taxa de variação num ponto específico , neste caso, estamos diante de uma taxa de variação instantânea da função . Lembrando a definição de derivada podemos afirmar que essa taxa pode ser encontrada usando a expressão . 93 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis Como x2 = x1 + Δx, podemos reescrever a expressão anterior como . Observe que a palavra “instantânea” lembra tempo, daí o fato de associarmos taxa de variação como mudança em relação ao tempo. Observe nos exemplos que seguem as diferentes aplicações da derivada quando esta se apresenta na forma de uma taxa de variação. 1.2 Velocidade e Aceleração O exemplo clássico da Física relacionada com velocidade e aceleração é uma taxa de variação e podemos considerá-lo como a interpretação física de derivada. Vamos considerar um corpo que se desloca ao longo de um eixo s e a sua posição em função do tempo t é modelada por uma função . O deslocamento do objeto no intervalo de tempo é , e sua velocidade média nesse intervalo é dada por: . A velocidade instantânea é a derivada da posição em relação ao tempo dada por . A taxa com que a velocidade de um corpo varia é a aceleração do corpo. Podemos dizer que a aceleração mede quanto o corpo ganha ou perde velocidade. Usando a ideia de taxa de variação é possível constatar que a aceleração é a taxa de variação da velocidade. A aceleração média no intervalo de tempo é . A aceleração instantânea é a derivada da velocidade em relação ao tempo ou a derivada de segunda ordem da posição em relação ao tempo. Podemos escrever . 94 Capítulo 4 Anote os conceitos com fórmulas: (1) velocidade média: ; (2) velocidade instantânea: ; (3) aceleração média: ; (4) aceleração instantânea: . 1.2.1 Exemplos (1) No instante t = 0 um corpo inicia um movimento em linha reta. Sua posição é modelada pela função . Determinar: (a) a velocidade média do corpo no intervalo de tempo [1,4]; (b) a velocidade do corpo no instante t = 2; (c) a aceleração média no intervalo de tempo [0,3]; (d) a aceleração instantânea no instante t = 4. Para resolver os itens solicitados vamos utilizar as expressões destacadas. Temos que: (a) A velocidade média do corpo no intervalo de tempo [1,4] é dada por (b) Para calcular a velocidade do corpo no instante t = 2 é necessário encontrar a derivada da função no ponto t = 2. . 95 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis (c) A aceleração média no intervalo [0,3] é dada por . O sinal negativo nos mostra que a velocidade do corpo está diminuindo no intervalo de tempo dado. (d) A aceleração instantânea no tempo t = 4 é a derivada da velocidade no ponto t = 4. Assim, . Você já deve ter ouvido falar no famoso matemático e astrônomo italiano Galileu Galilei (1564-1642). Ele é considerado o fundador da mecânica e da física moderna. Sem recursos para frequentar a Universidade de Pisa, foi autodidata em matemática, tornando-se professor na Universidade de Pisa e depois na Universidade de Pádua. Nessa última, desenvolveu as conclusões do movimento de queda livre sob a ação da gravidade e o movimento dos planetas. (2) Se Galileu tivesse deixado cair uma pedra do topo da torre de Pisa, 54,5 metros acima do solo, sua altura t segundos depois de cair teria sido em relação ao solo. (a) Qual é a velocidade e a aceleração da pedra no instante t? (b) Quanto tempo a pedra levaria, aproximadamente, para atingir o solo? (c) Qual teria sido a velocidade da bala no momento do impacto? Vamos usar as fórmulas já estabelecidas para resolver os itens propostos. (a) A velocidade da pedra no instante t é . A aceleração é dada por (valor já esperado, pois é a aceleração da gravidade). (b) Quando a pedra chega o solo temos s = 0 (ver Figura 4.1). 96 Capítulo 4 Assim para saber o tempo que a pedra levaria para atingir o solo vamos fazer Figura 4.1 – Gráfico da função 1 2 3 10 20 30 40 50 60 x y A velocidade da pedra no momento do impacto é dada por (3) Seja para a equação do movimento de uma partícula. Vamos considerar que s é medido em centímetros e t em segundos. (a) Determinar a velocidade no instante t. (b) Determinar a aceleração no instante t. (c) Em que momento a velocidade se anula? (d) Em que momento a aceleração se anula? (e) Supondo que o movimento é na horizontal, tomando o instante t = 0 como referência, podemos dizer que a partícula está andando para frente? E para trás? (f) Determinar a aceleração do corpo toda vez que a velocidade for nula. Observe que neste problema estamos buscando uma análise sobre as características do movimento da partícula. Para facilitar a visualização dos resultados vamos fazer o gráfico da função na Figura 4.2. 97 Derivadas de Funções de uma ou Mais Variáveis Figura 4.2 – Gráfico da função 2 4 -4
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