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REGIÃO NORDESTE Maranhão • Piauí • Ceará • Rio Grande do Norte • Paraíba • Pernambuco • Bahia • Sergipe • Alagoas • Gostosamente variada e tropicalmente colorida, tem suas raízes mergulhadas no tempo da colonização, quando aqui chegaram os primeiros portugueses trazendo seus hábitos alimentares, presentes nas sopas aceboladas, nas mais diferentes maneiras de preparar a carne, nos peixes quase nadando em alourado azeite de oliva, nas verduras frescas ou em conserva, no vinho feito em casa, nas compotas de frutas, nos queijos, nos licores feitos em mosteiros, nos bolos de receitas tradicionais. • Trouxeram seus hábitos alimentares da mesma maneira como conduziram, na sua bagagem sentimental, seus hábitos e costumes, seus folguedos populares e sua música, suas crendices e superstições, suas canções e sua saudade, sua religiosidade e sua mobilidade aventureira através de mares e continentes que descobriram ou ajudaram a descobrir e a colonizar, sem preconceitos raciais, juntando ao seu, nas noites quentes do trópico, o sangue dos nativos numa miscigenação que, entre nós, foi responsável pela mulata, faceira, sensual, bonita, nos babados e no decote generoso dos vestidos de chita. • Maravilhados, deslumbrados, estupefatos ficaram os portugueses logo que aqui chegaram,respirando um ar misturado com o perfume de milhares de flores silvestres, comendo frutas exóticas e deliciosas, pescando outros peixes, caçando outras caças, vivendo em função de uma fauna e de uma flora miraculosas, a ponto de Pero Vaz de Caminha mandar dizer a seu rei e senhor, em carta que se tornou célebre como verdadeiro hino entoado à beleza e ao esplendor da Terra de Vera Cruz, que a terra era "muy chã e muy fremoza” e nela se plantando tudo dá". • Os portugueses não se cansavam de apreciar a beleza da natureza tropical, os rios largos de águas mansas e sinuosas onde viviam os mais estranhos peixes que se possa imaginar, a caça abundante e variada, as frutas diferentes e mais gostosas que as de sua terra. • Sólidos homens, membros da tripulação de Pedro Álvares Cabral estavam fartos das comidas de bordo, consumidas durante a longa e aventurosa travessia e, depois que fizeram o reconhecimento da região, começaram logo a aprender com os nativos quais as frutas e quais as caças que podiam usar na alimentação. • Foi uma transição alimentar das mais radicais. • Tiveram que substituir as frutas, peixes e carnes que comiam há séculos por novas frutas, outros peixes e diferentes carnes do trópico luxuriante. • Aprenderam, por força e em conseqüência dessa transição alimentar, com os indígenas, os diversos e estranhos usos da farinha de mandioca,participando da feijoada (com toucinho, charque, jerimum, maxixe e couve), farofa branca (feita com água, sal, cebola e coentro), farofa de batata-doce (para se comer com charque assada na brasa), farofa de jerimum (para se comer com carne-de-sol), tapioca, cuscuz de mandioca, beiju, pirão de galinha, pirão de ovo e de peixe, do bode do nosso rurícola,do pedaço de rapadura e outro de carne-seca, quando trabalha longe de casa, da mistura com o mel de engenho como sobremesa na zona da mata nordestina. • Quando começou a faltar gente para cuidar da lavoura e do gado (os indígenas, em conseqüência de uma série de abusos sofridos da parte de portugueses de maus antecedentes,foram fugindo do litoral), os colonizadores começaram a comprar escravos africanos, que atravessaram o Atlântico no bojo imundo dos navios negreiros para construir a grandeza econômica deste país, como figuras de primeira grandeza que foram dos ciclos do ouro, açúcar, cacau, gado, algodão e pedras preciosas. • Com seu banzo, com sua tristeza, os escravos africanos, também trouxeram consigo seus deuses, sua música, suas crendices, seus hábitos alimentares, seu paladar apimentado e nos legaram muitas comidas gostosas como abará, acarajé, bobó, caruru, cuxá, efó, munguzá, muqueca, quibebe, sabongo, vatapá, xinxim e tantas outras. Hoje, a cozinha nordestina continua sendo o maravilhoso resultado da fusão aculturada de hábitos alimentares do português colonizador, do indígena e do escravo africano, através de pratos que falam das nossas raízes e que simbolizam a região nordestina. Como em várias outras cozinhas no Brasil, é uma mágica de miscigenação entre africanos, indígenas e europeus. No café da manhã, sucos e frutas regionais de pitanga, caju, abacaxi, acerola, graviola, entre outros, além de mungunzá, tapioca com coco ou queijo de coalho, cuscuz de milho, macaxeira, inhame ou batata-doce, acompanhados de charque frita na cebola ou carne-de-sol assada. No almoço, os pratos típicos mais conhecidos, como galinha de cabidela, sarapatel, chambaril, cozido, mão-de-vaca, buchada, peixada, guaiamum com pirão e como sobremesa queijo de manteiga ou de coalho assados com mel de engenho e licor regional. Há também uma infinidade de doces caseiros que fazem parte da tradição da culinária pernambucana: doces de batata-doce, bananas em rodelas, carambolas estreladas, mamão verde, cocada branca e preta, passa de caju, bolo de massa, bolo Souza Leão, bolo-de-rolo. Durante todo o ano, mas principalmente no período junino, não faltam as deliciosas comidas de milho, como a pamonha, a canjica, o bolo de milho e também o pé-de- moleque Arrumadinho - Prato composto de feijão verde cozido e, depois, misturado, numa travessa, com carne-de-charque ou carne-de-sol cortada em pequenos pedaços, farinha de mandioca e tempero verde. Ingredientes: •200 g feijão de corda novo (ou feijão verde) •250 g carne seca (coxão mole) cozida e desfiada •50 g jabá •1 cebola •1 cebola roxa •3 colheres de pimentão verde,vermelho e amarelo •2 colheres de tomate verde picado •2 colheres de farinha de mandioca crua •manteiga de garrafa •azeite •couve manteiga fatiada •salsinha •coentro •cebolinha verde •louro •alho/sal • Forma de preparo: ARRUMADINHO • •Deixe por 3 horas o feijão de molho, cozinhe, adicionando o pedaço inteiro de jabá, 2 folhas de louro, 2 dentes de alho amassados. Quando estiver macio, sem desmanchar, coe e reserve. •Refogue o feijão na manteiga de garrafa, acrescente alho picado, salsinha, cebolinha e por último a farinha de mandioca. Reserve. •Refogue no azeite a carne seca, cebola fatiada e cebolinha verde. Reserve. •Misture cebola roxa, pimentão verde, vermelho e amarelo e tomate verde, tudo picadinho. •Num prato, coloque o feijão, faça um buraco no meio, ponha a carne seca e ao redor o vinagrete. Enfeite com a couve fatiada fria e escaldada em água fervente, enrolada com o auxílio de um garfo, decore com estrelas de carambola e tomate cereja. • Dica : O arrumadinho é um petisco muito famoso nos bares do Recife. Seu nome vem do modo como é servido : os ingredientes arrumados em camadas ESCONDIDINHO : Clássico prato nordestino. Consiste em charque desfiado coberto com purê de macaxeira. Ingredientes: • 500g de carne de charque cozida e desfiada • 500g de cebola cortada em tiras grossas • 6 dentes de alho grandes espremidos • 1,5kg de macaxeira (também conhecida como mandioca ou aipim) • 2 colheres de sopa de manteiga • sal e pimenta a gosto • 50g de queijo ralado • óleo para fritar a carne • Cozinhe a macaxeira com sal até ficar bem macia. Bata no processador ou no liquidificador com um pouco da água do cozimento até formar uma pasta grossa. Leve de volta ao fogo com a manteiga, fazendo um purê. Reserve. Frite a carne de charque com a cebola e o alho e tempere com a pimenta a gosto. Não deixe ficar muito seca. Em um refratário faça uma camada com metade do purê, despeje por cima a carne e cubra com o restante do purê de macaxeira. Polvilhe com o queijo ralado e leve ao forno atédourar. Um prato originalmente nordestino, ganhou o estrelato e brilha hoje nos principais cardápios da culinária brasileira. O escondidinho pode ser servido como petisco, acompanhado de uma cerveja gelada, ou como prato principal. Neste caso o único acompanhamento necessário é uma salada leve, com alface, tomate e cebolas. • Sarapatel é uma designação comum de diversas iguarias preparadas com vísceras de porco, cabrito ou borrego. Nascido no Alto Alentejo, em Portugal, o sarapatel foi adaptado e adotado no Brasil • O sarapatel é um alimento típico da culinária do Nordeste brasileiro. É feito com tripas e outras vísceras de porco, além do sangue coalhado e cortado em pedaços.Uma das características da iguaria é seu teor de gordura, bastante acentuado por causa da presença de pedaços de toucinho e da tripa. Durante o cozimento acrescenta- se hortelã e uma ou duas grandes pimentas-de-cheiro, inteiras. Serve-se o prato acompanhado de farinha e/ou de arroz O Brasil é um pais cheio de culturas diferentes, entre estas a gastronomia, que também não é diferente. Assim como cada estado tem sua gastronomia, o Ceará também tem a sua. Os sabores da terra se misturam fazendo um verdadeiro festival de aromas. E tem coisa melhor que comer algo com sabor? No Ceará descobre-se o que a culinária pode fazer com o seu paladar, não deixando escapar ninguém que não fique com "água na boca". No litoral, os frutos do mar fazem a festa e são preparados logo após a pesca, fresquinhos, com o uso moderado de leite de coco e temperos regionais, garantido a qualidade e o sabor dos pratos. O caranguejo e a lagosta já são símbolos da culinária cearense. O peixe tem suas várias formas de preparo, tanto cozido como frito ou assado, ele tem aqui seu tempero especial. Na região do sertão, a carne de sol e a paçoca são bem acompanhadas pelo "baião-de-dois". As frutas regionais também são muito bem servidas na forma de sucos, doces, geléias, licores e sorvetes. O caju é a fruta símbolo do Ceará, sem contar também com outra frutas em destaque, como sirigüela, murici, caju, ata, imbu, cajarana, sapoti, graviola e manga. Entre outro produtos típicos da gastronomia regional estão a castanha de caju, a cajuína, a rapadura, o caldo de cana e a nossa famosa cachaça. Baião de dois com carne-de-sol • Uma gostosa combinação de carne-de-sol, carne-seca, toucinho, calabresa, feijão-de-corda, queijo coalho e arroz. • Receita de Baião de Dois ingredientes3 copos de arroz; 2 copos de feijão de corda; 5 fatias de calabresa; 50 grs de toucinho em cubos; 50 grs de queijo coalho; 200 grs. de carne seca cozida e desfiada; 2 cebolas grandes picadas; 3 galhos de coentro preparo • Cozinhe o feijão em panela comum sem amolecer muito. • Frite o toucinho e a calabresa até dourar. • Junte a cebola e o coentro. • Coloque a carne seca e deixe fritar mais um pouco. • Junte o feijão e misture, acrescente o coentro, arroz e pedaços de queijo coalho. • Sirva com farinha de mandioca acompanhada de pimenta. • Rendimento: 4 pessoas • • Galinha à Cabidela A famosa galinha à cabidela é preparada por cozimento e depois regada com o molho feito do seu sangue. Os temperos básicos são: alho, cebola, cheiro-verde, pimenta-do-reino, sal e pimentão. Melhor ainda se feito com galinha caipira, galinha do sertão ou galinha pé-duro. Galinha de Cabidela • Ingredientes 1 galinha cortada pelas juntas Sal, colorau, pimenta-do-reino e cominho a gosto 3 colheres de sopa de óleo 1 cebola picada 3 dentes de alho picados 1 pimentão picado 2 tomates sem sementes picados 100 ml de sangue de galinha • PREPARO Tempere a galinha com sal, colorau, pimenta e cominho. Aqueça o óleo e doure a cebola e o alho. Acrescente o pimentão, o tomate e refogue bem. Coloque o frango temperado e água suficiente para cozinhar, mas não em excesso. Quando o frango estiver cozido e o molho resumido, misture o sangue e mexa até ferver. Retire do fogo e sirva. Onde se adquire a galinha caipira é também encontrado o sangue congelado em pequenos saquinhos. Caso se adquira a galinha viva, recolha o sangue em um prato, misture um pouco de vinagre e mexa com o garfo para não talhar. • G História da carne-de-sol “A História da Alimentaçno Brasil”, do mais importante pesquisador do folclore e dos costumes populares brasileiros, o norte-rio-grandense, Luís da Câmara Cascudo. Segundo Cascudo, a carne-seca pela exposição solar é pré-histórica, mas posterior à exposição ao lume. A primeira carne secou sendo aproximada do fogo e não do calor solar. No Brasil dos primeiros séculos a menção é mínima. Evreux fala que no Maranhão secavam peixes ao sol. A maioria absoluta era ao moquém. Para o folclorista, não parece que a “nossa carne-do-sertão, carne-de-vento, carne-de-sol” habitual nos sertões tenha sido uma influência indígena. O português possuía a tradição de secar ao sol frutas, notadamente peixes e sequeiros de bacalhau. Do peixe passou às carnes, utilizando a mesma técnica. Nasceria esta na orla do mar, entre pescadores, conservando o pescado para revendê-lo para o interior. O sol do Brasil, que justificaria o processo, não o determinou para os indígenas. Apesar de uma ou outra informação fortuita, o indígena não salgava carnes e peixes para conservá-los. Era condimento raro. O mesmo ocorria na Ásia, África, Polinésia, e Melanésia. Salgar seria elemento do ciclo da agricultura, imposto pela deficiência do cloreto de sódio nos cereais. Assar a carne em cima da fogueira, atravessando-a pela vara; espeto, e o fogo aceso sobre a laje, teria sido, evidentemente o primeiro fogão, cozinha e aquecimento. • A provisão mais vulgar do Brasil é a carne-seca, de sol, de vento ou do sertão, do Ceará, charque, jabá, carne de gado, salgada, exposta ao sol e vento brando, e com alguma duração (*). A forma tradicional portuguesa, além do fumado que se destinava às peças isoladas, em quantidades reduzidas, era a salga com salmoura... dali traziam muitos gados mortos que salgavam em tinas, informava Fernão Lopes (Crônica de D. João I, 1, CXV). As mais antigas referências são do século XVII. Constituem uma base normal para a alimentação coletiva em todo o país. Arribando à Bahia, agosto a outubro de 1610, Pyrard de Laval elogiava sem restrições: “É impossível terem-se carnes mais gordas e tenras e de melhor sabor. Verdade é que são os mais belos e os maiores bois do mundo. Salgam as carnes, cortam-nas em pedaços bastante largos, mas pouco espessos, quando muito dois dedos de espessura, se tanto. Quando estão bem salgadas, tiram-nas sem lavar, pondo-as a secar ao sol; quando bem secas, podem conservar-se por muito tempo, sem se estragar, contanto que fiquem secas (...)”. • Martins em 1818, informava: “A carne cortada em tiras estreitas, esfregada com sal e seca ao sol, é um importante artigo de comércio dos portos de São Paulo e Rio Grande do Sul para os portos do Norte, sobretudo para o Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Maranhão, onde, com o nome de carne-seca do sertão, paçoca ou carne charqueada constitui uma parte principal da alimentação de todo brasileiro, especialmente os escravos negros”. • O Rio Grande do Norte e o Ceará disputaram a iniciativa de industrialização da carne-de-sol no Nordeste quando, sem nome especial, já nos finais do século XVII, iam barcas de Pernambuco aos rios Assu e Mossoró carregar “carne-seca de boi”. Semelhantemente ocorria no Ceará, ambas as Capitanias com salinas naturais e grande rebanho bovino. Em 1788 o Capitão General de Pernambuco, a quem as capitanias eram subordinadas, permitiu a indústria das carnes . O nome de carne-do-ceará popularizou-se. Já em 1780, um cearense, JoséPinto Martins de família possuidora de fábricas de carne, instalou a sua à margem direita do rio Pelotas, no Rio Grande do Sul, criando a indústria que se desenvolveria. As repetidas secas, dizimando o gado, foram diminuindo a produção cearense enquanto a do Rio Grande do Sul prosperava incessantemente. • Vinha a carne do Sul trazendo a denominação quíchua de charque, dominando o mercado nortista. Mais salgada, mais rija, menos cuidada. O gado era outro assim como os pastos. • Todas as províncias nordestinas produzem carne-de-sol para o consumo local, embora sem satisfazê-lo. É tão indispensável, e talvez mais na simpatia sertaneja, que a própria carne verde, fresca. Servem-na sob as mesmas formas da outra, prestando-se a todas as iguarias e combinações. A típica é assada, comida logo depois de assar, com farofa, coentro verde e cebola, também com o pirão de leite ou feijão verde. Característica nos cozidos e feijoadas. Dá o gosto inconfundível. • (*) A diferença entre a carne de charque, do RS e as congêneres do Norte está na quantidade de sal durante a preparação e maior tempo na exposição solar. Dura, evidentemente, muito mais que a carne-do-sertão, de sol, etc., mas o sal lhe dá maior peso e menos digestão para o consumidor. • Antes do advento da geladeira, no longínquo século 17, moradores do Nordeste lançavam mão de uma técnica simples, porém eficiente, para conservar a carne bovina. Para que o alimento não se deteriorasse rapidamente, eles o salgavam. • Assim, as partes que seriam consumidas nos dias subseqüentes ao abate do animal eram envolvidas por uma pequena camada de sal e levemente desidratas. As demais recebiam uma quantidade maior da substância e passavam por um processo de secagem mais prolongado, de modo que tivessem a vida útil aumentada. O primeiro método de conservação deu origem à carne-de-sol, alimento que, 400 anos depois, ainda tem preparo artesanal e consumo restrito a alguns estados brasileiros. • A salga e a desidratação, seguida ou não da defumação, foram e ainda são as formas mais primitivas de conservação da carne e decorrem da necessidade de preservar o excedente do produto obtido no abate, dessecando-o ao vento ou próximo a fogueiras. • Carne-de-sol, carne-do-ceará, carne-do-sertão, carne seca ou “jerked beef”, charque, carne-de-vento, jabá, todos esses nomes são aplicados para designar praticamente um único produto: mantas de carne desidratadas e dessecadas, muito consumidas e usadas em um sem número de recitas de norte a sul do País. • Quem Inventou As primeiras “charqueadas” de que se tem notícia datam de 1780, realizadas pelo cearense José Pinto Martins, numa propriedade situada às margens do Rio Pelotas, no Rio Grande do Sul. Tudo feito com muita simplicidade num galpão onde se preparavam e salgavam as carnes que ficavam expostas ao ar livre para secar. Nessa época, a capitania do Rio Grande foi considerada o “inferno dos negros”, pois eles eram utilizados como mão-de-obra escrava e quase sempre, tratados rudemente para se conseguir maior produção. Com o passar do tempo o charque, que era usado na alimentação dos escravos e das camadas mais pobres da população, acabou ganhando status e tornou-se um dos principais produtos da economia sulista. Atualmente deixou de fazer parte só do cardápio dos pobres e passou a fazer parte também dos mais requintados restaurantes, com muitas variações de receitas. • Charque ou Jerked Beef Existem pequenas diferenças entre a carne seca ou jerked beef (carne bovina salgada curada e seca) e o charque (carne bovina, salgada e dessecada). O processo tecnológico básico é o mesmo. Só que, no caso da carne seca, é adicionado nitrito de sódio ou de potássio à salmoura e o teor de umidade é maior. • Assim que chegou aqui, o português cozinhava no estilo da sua terra, adotando um ou outro alimento nativo. Depois, com a negra na cozinha, entraram na comida os ingredientes africanos. O resultado, na Bahia, foi uma comida mais negra do que branca, porque ela cozinhava e ali desembarcavam, junto com os pratos, os de comer africanos. E não para os pretos, que eles não consumiam, por exemplo, o dendê, condimento caro demais para a boca de negro cativo. • Segundo Saint-Hilaire, eles comiam “fazendo cozer o fubá na água, sem acrescentar sal”, o que resultava em “uma espécie de polenta grosseira, que se chama angu e constitui o principal alimento dos escravos”. (Diz Luiz Câmara Cascudo: o mesmo matete de Angola, xima em Moçambique.) Um quarto de farinha e três libras e meia de carne salgada era tudo o que o escravo comia, e a quantidade devia durar dez dias. No mais eram obrigados a “comer uns matos”. Foi o excesso de mão-de-obra escrava e o declínio da indústria açucareira que possibilitaram a melhoria das condições de vida do escravo – lembra Darwin Brandão • O negro passou a ser admitido nos trabalhos de engenho e da casa-grande. • Quando a negra entrou na cozinha é que começou a influir na vida do branco, que já comia camarão seco e dendê, mas tinha cozinha pobre como inventiva. Edson Carneiro (em Ladinos e Crioulos, Editora Civilização Brasileira) diz: “O negro era a maioria da população. Assim ao lado da exploração agrícola, o senhor teve de criar entre a escravaria um corpo de artífices para a satisfação das suas necessidades: pedreiros, carpinteiros, ferreiros, oleiros, seleiros, colchoeiros, sapateiros, mecânicos • Em estágio posterior, foi-lhe preciso tirar do trabalho de campo negras costureiras, doceiras e cozinheiras. E, quando o comércio exterior se desinteressava dos seus produtos, e em conseqüência era grande o número de escravos ociosos, trazia boa parte deles para compor a criadagem nas cidades. A estes teve de ensinar a ler, de treinar em prendas domésticas e em boas maneiras, de preparar para as funções de confiança. Com a sua multiplicação, teve de alugá-los a estrangeiros e à burguesia sem escravos e, mais tarde, se viu na contingência de lhes permitir ganhar a vida por si mesmos, com a condição de lhe pagar uma pequena diária”. • Escolhidas entre as mais bonitas e agradáveis, as cozinheiras só começaram a mudar a cozinha por volta de 1750. Luís dos Santos Vilhena (Cartas de Vilhena, impressas na Imprensa Oficial, na Bahia, em 1922) informa que, por esta época, “das casas mais opulentas desta cidade” saem as negras de ganho, “oito, dez e mais, a vender pelas ruas a pregão, mocotó, isto é, mão-de-vaca, cururus, vatapá, mingaus, pamonhas, canjicas, isto é, papas de milho, acaçás, acarajés, abarás, arroz de coco, feijão de coco, angus, pão-de-ló de arroz, o mesmo milho, roletes de cana, queimados, isto é, rebuçados a oito por vintém, doces de infinitas qualidades, ótimos muitos deles, pelo seu asseio, para tomar por vomitórios”. O Senhor Vilhena ia mais longe: dizia ser impossível comer na Bahia, “onde a gentinha tomou conta das cozinhas com sua comida bárbara e desagradável até para os olhos”. Mal vista, a comida dos pretos minas ficou e tornou-se importante, vale mais que a cozinha do branco. • Preconceito que ainda existe hoje como no tempo do Sr. Rui Barbosa, a quem perguntaram o que significava arroz-de-hauçá. E ele, muito senhor de si: “É uma corruptela de arroz de água e sal”. Não sabia que os hauçás formam uma nação (é o povo de Biafra, província que tentou a sua independência da Nigéria, há poucos anos). De qualquer forma, o certo é que todos os pratos baianos têm a marca do negro. No dendê, na pimenta, no prazer da mistura, na técnica, no amor que exige, na criatividade espontânea, no desmedido. • A cozinha africana, ou de santo, não é do dia-a-dia da mesa do baiano. No trivial entra sempre o dendê, muita pimenta, mas os pratos que fazem a honra e a glória da Bahia só figuram nos jantares melhorados, nos dias de festa, ou para receber gente de fora • Nos restaurantestambém não é fácil comer a boa comida típica. E mais: o que toda gente chama de cozinha baiana devia ser chamada antes cozinha de Salvador, porque a cozinha africana está restrita à cidade de Salvador e à sua área de influência. • Darwin Brandão, baiano nascido no Espírito Santo, informa (Cozinha Baiana, Editora Letras e Artes) que “a partir da Feira de Santana, rumo ao sul, os pratos típicos de azeite-de-dendê desaparecem, dando lugar à comida sertaneja, mais pobre e mais simples. O mesmo ocorre na direção de São Francisco, a partir de Alagoinhas não se encontra mais a comida típica que tanta fama carreou para a Bahia”. • Roger Bastide (A Cozinha dos Deuses. SAPS, Rio), diz mais: que há um certo preconceito branco em relação à cozinha negra, mesmo na Bahia. E que a algumas senhoras baianas irrita muito fazer vatapá, caruru, efó, quando preferiam servir o stroganoff, que entrou errado no Brasil, continuou errado, mas tem (ou teve, até bem pouco tempo) uma posição invejável: a de prato mais servido nas reuniões de gente de bem, nos últimos dez anos. • O problema, também, é que é preciso ter dedo para fazer um bom prato baiano. O dedo, segundo Sodré Viana (Caderno de Xangô, Editora Bahiana), é o talento que permite às cozinheiras saber colocar a quantidade exata de tempero, medir o tempo exato de feitura, e não ligar muito para receitas e tabelas de cocção • Gilberto Freyre (Açúcar, Livraria José Olympio) explica por que há poucos livros de cozinha no Brasil: culpa da maçonaria das mulheres, que guardavam os segredos das receitas em casa, passando de mãe para filha, de vez em quando para a afilhada, às vezes para a nora e de raro em raro para a comadre, na base da troca. E, mesmo assim, sempre ensinando pelo geral. • A baiana em particular, e a brasileira em geral, nunca foi de receita bem medida. E muita gente boa defendia a tradição, alegando que, assim, o feijão-de-leite com bacalhau ficava um na casa de Joaninha, e outro, tão bom mas certamente outro, em casa de Dona Flor, obrigada a pesquisar, a procurar, a trabalhar uma receita que ensinava tudo, menos as quantidades e o segredo. • A Cozinha Brasileira - São Paulo: Circulo do Livro S.A. (Edição integral Revista Cláudia - Editora Abril S.A.), sem data. ACARAJÉ O acarajé é um bolinho característico do candomblé. Acarajé é uma palavra composta da língua iorubá: “acará” (bola de fogo) e “jé” (comer), ou seja, “comer bola de fogo”. Sua origem é explicada por um mito sobre a relação de Xangô com suas esposas, Oxum e Iansã. O bolinho se tornou, assim, uma oferenda a esses orixás. Mesmo ao ser vendido num contexto profano, o acarajé ainda é considerado pelas baianas como uma comida sagrada. Para elas, o bolinho de feijão fradinho frito no azeite de dendê não pode ser dissociado do candomblé. Por isso, a sua receita, embora não seja secreta, não pode ser modificada e deve ser preparada apenas pelos filhos- de-santo. O ofício das baianas do acarajé foi declarado patrimônio cultural do Brasil pelo IPHAN 30 • As mulheres de tabuleiro de ontem e de hoje... • A comercialização do acarajé tem início ainda no período da escravidão com as chamadas escravas de ganho que trabalhavam, nas ruas, para as suas senhoras (geralmente pequenas proprietárias empobrecidas), desempenhando diversas atividades, dentre elas, a venda de quitutes nos seus tabuleiros. Ainda na costa ocidental da África as mulheres já praticavam um comércio ambulante de produtos comestíveis, o que lhes conferia autonomia em relação aos homens e muitas vezes o papel de provedoras de suas famílias. • O comércio de rua nas cidades brasileiras permitiu às mulheres escravas ir além da prestação de serviços aos seus senhores: elas garantiam, muitas vezes, o sustento de suas próprias famílias, foram importantes para a constituição de laços comunitários entre os escravos urbanos e também para a criação das irmandades religiosas e do candomblé: muitas filhas-de-santo começaram a vender acarajé para poder cumprir com suas obrigações religiosas que precisavam ser renovadas periodicamente. • Devido a essa liberdade de movimento é que as escravas de tabuleiro eram vistas como elementos perigosos, tornando-se, por isso, alvos de posturas e leis repressivas. A venda do acarajé permaneceu como uma atividade econômica relevante para muitas mulheres mesmo com o fim da escravidão. Hoje, atrás das baianas existem famílias inteiras dependendo dos seus tabuleiros: 70% das mulheres pertencentes à Associação das Baianas de Acarajé e Mingau do Estado da Bahia são chefes de família. A rotina dessas mulheres é caracterizada pela compra dos ingredientes necessários para o preparo do acarajé, um trabalho diário e árduo: precisam levantar cedo, ir à feira, buscar produtos de qualidade a preços acessíveis. O preço do camarão e do azeite de dendê são os que mais variam. Muitas ainda enfrentam problemas para adquirir tabuleiros novos ou mesmo para guardá-los, deixando-os, muitas vezes, na praia. • “Às vezes nos sentimos órfãs porque trabalhamos sozinhas com nosso tabuleiro, de sol a sol, expostas ao frio, ao calor e mesmo à violência. Mas somos mulheres negras e perseverantes: se não vendemos hoje, venderemos amanhã. Somos um símbolo de resistência desde a escravidão”, lembra Maria Lêda Marques. • ACARAJÉ • INGREDIENTES: • 1 quilo de feijão fradinho • 4 cebolas • sal a gosto • água azeite de dendê para fritar • Modo de preparar: • Deixe o feijão fradinho de molho na água até amolecer (aproximadamente durante 6 horas). Escorra a água e parta o feijão na pedra com o rolo. Em seguida tire as cascas e os pontos pretos. Passe no liquidificador com a cebola e um pouco de água. Retire do liquidificador e coloque em uma tigela batendo com uma colher de pau. Tempere com sal e frite às colheradas em azeite de dendê bem quente. • MOLHO PARA O ACARAJÉ 1 cebola 200 gramas de camarão seco azeite de dendê sal e pimenta a gosto MOLHO: Bata no liquidificador a pimenta, a cebola e um pouco de água, depois acrescente o camarão seco ligando o liquidificador só para misturar, sem dissolver o camarão totalmente. Leve ao fogo para cozinhar e secar. Por último, acrescente o azeite de dendê. Corte os acarajés ao meio sem separar as duas metades, recheie e sirva quente, logo após retirar do fogo. • • Ingredientes • 750 gr de camarão rosa - 750 gr de mandioca em pedaços médios - 1/2 unidade(s) de pimentão vermelho picado(s) - 1/2 unidade(s) de pimentão verde picado(s) - 3 unidade(s) de tomate sem pele(s), sem sementes - 1 unidade(s) de cebola picada(s) - 2 dente(s) de alho amassado(s) - 1/2 xícara(s) (chá) de azeite de dendê - 50 ml de azeite de oliva - 100 ml de leite de côco - 1 litro(s) de água - 1 unidade(s) de limão - quanto baste de coentro - quanto baste de pimenta de cheiro - quanto baste de sal • Modo de Preparo Descasque os camarões, afervente as cabeças e as cascas em um litro de água salgada. Coe a água e reserve. Retire o fio central da mandioca e, em seguida, cozinhe na água reservada e processe (bata em liquidificador ou processador) ainda quente. Reserve este creme. Salteie os camarões (temperados com sal e limão) no azeite de oliva e alho. Reserve. Na mesma panela (com o resíduo de azeite e alho), adicione os pimentões, depois a cebola e por último o tomate. Depois refogue. Acrescente o creme da mandioca, deixe ferver por mais ou menos sete minutos. Acerte o sal e finalize com os camarões salteados, o azeite-de-dendê, o leite de côco, a pimenta e o coentro. • 4 porções • Bobó é um prato da culinária brasileira popular na cozinha da Bahia, de origem africana. Trata-se de um creme pouco consistente feito de inhame, vinagreira, etc., cozidos e amassados com azeite-de-dendê, pimenta, sal e um pouco decamarão seco. Pode ser servido quente, morno ou frio, como prato principal ou como acompanhamento. • O bobó de inhame e o de vinagreira são os mais antigos, preparados desde o século XVII. Depois, foram sendo sofisticados com o acréscimo, à massa básica, de frutos do mar (camarão fresco, caranguejo desfiado, mexilhão, bacalhau, etc.), previamente refogados. • O atual bobó de camarão, prato de renome, também tem, entre seus ingredientes mandioca e leite de coco. • BOBO DE CAMARÃO Ingredientes • 750 gr de camarão rosa - 750 gr de mandioca em pedaços médios - 1/2 unidade(s) de pimentão vermelho picado(s) - 1/2 unidade(s) de pimentão verde picado(s) - 3 unidade(s) de tomate sem pele(s), sem sementes - 1 unidade(s) de cebola picada(s) - 2 dente(s) de alho amassado(s) - 1/2 xícara(s) (chá) de azeite de dendê - 50 ml de azeite de oliva - 100 ml de leite de côco - 1 litro(s) de água - 1 unidade(s) de limão - quanto baste de coentro - quanto baste de pimenta de cheiro - quanto baste de sal • Modo de Preparo Descasque os camarões, afervente as cabeças e as cascas em um litro de água salgada. Coe a água e reserve. Retire o fio central da mandioca e, em seguida, cozinhe na água reservada e processe (bata em liquidificador ou processador) ainda quente. Reserve este creme. Salteie os camarões (temperados com sal e limão) no azeite de oliva e alho. Reserve. Na mesma panela (com o resíduo de azeite e alho), adicione os pimentões, depois a cebola e por último o tomate. Depois refogue. Acrescente o creme da mandioca, deixe ferver por mais ou menos sete minutos. Acerte o sal e finalize com os camarões salteados, o azeite-de-dendê, o leite de côco, a pimenta e o coentro.
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