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Resumo Cap IV - Como o Dinheiro se Transf em Capital - Parte 2

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Cap IV - Como o Dinheiro se Transf em Capital / Item 2 (p. 175 a 
186) 
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 No item 2 do capítulo em questão, Marx ocupa-se em mostrar que o comércio e seus 
pormenores - preços, o ato da permuta em si - não explicam a geração de mais-valia e, 
portanto, também não explicam a transformação de dinheiro (instrumento de troca de 
mercadorias) em capital (o dinheiro em busca de mais dinheiro). No entanto, é na 
circulação que se encontra o trabalho humano, o que acrescenta valor ao material ao se 
adicionar nele novo trabalho. Logo, o capital, apesar de não se originar na circulação, 
como percebido primeiramente, origina-se na circulação também, porque advém da maior 
quantidade de trabalho inserida. Percebe-se um problema para o capital: um possuidor de 
dinheiro, que está no estágio anterior de se tornar um capitalista, tem de comprar as 
mercadorias por seu valor, vendê-las por seu valor e, mesmo assim, extrair no final do 
processo mais valor do que lançou nele, o que deve e não deve ocorrer na esfera da 
circulação. 
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2. CONTRADIÇÕES DA FÓRMULA GERAL 
 
A forma de circulação na qual o dinheiro se revela como capital contradiz todas as leis 
investigadas anteriormente sobre a natureza da mercadoria, do valor, do dinheiro e da 
própria circulação. 
 
A sequencia inversa dos dois processos opostos na circulação, venda e compra, só existe 
para UM dos três parceiros do negócio. Um indivíduo C, enquanto capitalista, compra 
mercadoria do parceiro A e a revende para o parceiro B. Enquanto simples possuidor de 
mercadorias, C vende mercadoria para o parceiro B e compra mercadoria do parceiro A. 
 
Para os parceiros A e B, não há diferença nesses processos. A conexão dos dois atos existe 
apenas para C. O primeiro ato de C, uma compra, foi uma venda aos olhos do parceiro A. O 
segundo ato de C, uma venda, foi uma compra do ponto de vista de B. 
 
Pode-se dizer que a inversão de sequência realizada por C é supérflua. O parceiro A 
venderá a mercadoria diretamente para B, e B comprá-la diretamente de A, o que reduz a 
sequência em um ato de circulação simples de mercadorias. Não é daí que se perceber o 
acréscimo de valor, a geração de mais-valia. 
 
Considerando o processo de circulação simples, sabe-se que o dinheiro serve como 
expressão dos valores das mercadorias em seus preços, não se confrontando 
materialmente com as mercadorias. 
 
À medida que se trata do valor de uso, ambos os permutadores podem ganhar. Eles 
alienam bens que não lhes são úteis como valor de uso e adquirem mercadorias de que 
necessitam para uso. 
 
Com o valor de troca é diferente. Deixando de considerar as circunstâncias que não se 
originam das leis da circulação simples, ocorre na circulação uma mudança de forma da 
mercadoria. O mesmo valor permanece nas mãos do possuidor de mercadoria: primeiro 
na figura de sua mercadoria, depois na do dinheiro em que se transforma e, finalmente, na 
da mercadoria a qual esse dinheiro se “retransforma”. 
 
Por trás das tentativas de apresentar a circulação de mercadorias como fonte de mais-
valia, espreita uma confusão entre valor de uso e valor de troca, equívoco reproduzido por 
muitos economistas modernos, que atribuem ao comércio a geração de valor. 
 
Em sua forma pura, o processo de circulação das mercadorias exige a troca de 
equivalentes. Suponhamos, no entanto, que as coisas na realidade não se passam de 
modo puro, considerando uma permuta de bens não-equivalentes. Só o possuidor de 
mercadorias se confronta com possuidor de mercadorias e o poder que essas pessoas 
exercem umas sobre as outras é apenas o poder de suas mercadorias. A diferença material 
delas é o motivo central da troca e torna os possuidores de mercadorias reciprocamente 
dependentes, pois ninguém mais produz tudo do que precisa, percebendo nas mãos de 
terceiros um objeto de necessidade. 
 
Admitindo que um vendedor, por um privilégio qualquer, venda mercadoria acima do seu 
valor - a 110 quando ela vale 100 – percebe-se um excedente de 10. Após ter sido 
vendedor, ele, no entanto, torna-se um comprador e pagará mais caro a um terceiro, 
detentor de mercadoria de seu interesse que goza do mesmo privilégio. Aí o comprador, 
antes vendedor, perde 10. Em outras palavras, o aumento – e também a diminuição - 
nominal e geral do preço não acarreta efeitos nas relações de valor. Assim, a formação de 
mais-valia e a transformação de dinheiro em capital não são explicadas pelas 
diferenciações de preços. Na permuta de mercadorias, não se produz valor. Logo, o 
capital não se origina na circulação. 
 
Em respeito ao valor da mercadoria, a relação se limita ao fato de que ela contém 
quantidade de seu próprio trabalho, medida conforme determinadas leis sociais, 
expressando-se na grandeza de valor de sua mercadoria e materializada em dinheiro, em 
um preço. Pode-se aumentar o valor de uma mercadoria, acrescentando, mediante mais 
trabalho, novo valor ao valor original. Quando um homem produz uma roupa a partir de 
algodão, ele está valorizando o material, pois depositou maior quantidade de trabalho. 
 
Assim, o capital, apesar de não se originar na circulação, como vimos, origina-se na 
circulação. Lembremos: não se origina porque, no comércio, os preços podem oscilar, mas 
isso não valoriza as mercadorias; e origina-se porque advém da quantidade de trabalho 
inserida, de novo trabalho. 
 
Temos um resultado duplo. A transformação do dinheiro em capital tem de ser explicada 
com base nas leis imanentes da troca de mercadorias de modo que a permuta de 
equivalentes sirva de ponto de partida. Um possuidor de dinheiro, um “pré-capitalista”, 
tem de comprar as mercadorias por seu valor, vendê-las por seu valor e, mesmo assim, 
extrair no final do processo mais valor do que lançou nele, o que deve e não deve ocorrer 
na esfera da circulação. Esse problema se mostrará como a própria solução.

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