Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Func¸o˜es e suas Propriedades David Zavaleta Villanueva. villanueva@ccet.ufrn.br §1 Conceitos Ba´sicos Sejam X e Y dois conjuntos. Suponhamos que seja dada uma lei ou regra f pela qual a cada nu´mero(elemento) x ∈ X fazemos corresponder com um u´nico nu´mero(elemento) y ∈ Y , enta˜o dizemos que esta´ definida uma func¸a˜o y = f(x). Definic¸a˜o. O conjunto X chama-se domı´nio da func¸a˜o e o conjunto Y chama-se contradomı´nio da func¸a˜o. Vejamos um exemplo para ilustrar a definic¸a˜o acima. A a´rea de um retaˆngulo inscrito num triaˆngulo e´ uma func¸a˜o do comprimento da sua base. Exemplo. Expresse a a´rea do retaˆngulo ABCD em func¸a˜o do compri- mento de sua base x, se ele esta´ inscrito no triaˆngulo MNP cuja base mede 10cm e cuja altura mede 6cm como indica a figura embaixo. A a´rea do nosso retaˆngulo e´ uma func¸a˜o de x, isto e´, a a´rea do retaˆngulo vai depender de como sera´ inscrito o retaˆngulo no triaˆngulo. Assim, de- 1 notemos o comprimento da altura do retaˆngulo por AB = a, e portanto PT = 6−a. Podemos escrever a a´rea do triaˆngulo MNP como sendo a soma das a´reas de treˆs triaˆngulos mais a soma da a´rea de nosso retaˆngulo, isto e´, A´rea(4MNP ) = A´rea(4MAB) + A´rea(4CDN) + A´rea(4PBC) + A´rea(2ABCD) 10× 6 2 = MA× AB 2 + CD ×DN 2 + BC × PT 2 + AB × AD 10× 6 2 = MA× a 2 + a×DN 2 + x(6− a) 2 + ax 30 = (MA+DN)× a 2 + x(6− a) 2 + ax 30 = (10− x)a 2 + x(6− a) 2 + ax 60 = 10a− ax+ 6x− ax+ 2ax. Daqui temos, 60 = 10a+ 6x, donde a = 60− 6x 10 = 6(10− x) 10 = 0, 6(10− x). Como a a´rea do retaˆngulo ABCD e´ dado por ax, enta˜o temos A´rea retaˆngulo ABCD = 0, 6x(10− x). A notac¸a˜o que usaremos para dizer que f e´ uma func¸a˜o de X em Y e´ a seguinte; f : X → Y x 7→ f(x) onde, x 7→ f(x) e´ para indicar que f faz corresponder o elemento x ao elemento f(x). Definic¸a˜o. O conjunto Im(f) ⊂ Y de todos os valores de y, tal que para cada um deles existe ao menos um x ∈ X com y = f(x), chama-se Imagem da func¸a˜o f . Em termos da teoria de conjuntos, Im(f) = {y ∈ Y ; ∃ x ∈ X tal que f(x) = y}. Se a func¸a˜o esta´ dada mediante uma fo´rmula, enta˜o dizemos que ela esta´ definida de forma anal´ıtica, como por exemplo, as seguintes func¸o˜es: 1. y = 4x5 − 2x+ 3, x ∈ [0,∞) 2 2. y = x+ 8 x2 + 4x , x ∈ R\ ({0} ∪ {−4}) 3. y = { 2x3 − 1, se x ≤ 0, 3x2 + x+ 5, se x > 0, §2 Domı´nio de uma Func¸a˜o Chamamos de domı´nio de definic¸a˜o de uma func¸a˜o f : X → Y ao conjunto de todos os valores de x ∈ X, para os quais a expressa˜o f(x) esteja bem definida, ou seja, f(x) ∈ Y . Consideremos alguns exemplos. Exemplo. Encontre o domı´nio da func¸a˜o f(x) = 1√ 9− x2 . O domı´nio da func¸a˜o dada consiste de todos os pontos x para os quais a expresa˜o √ 9− x2 tenha sentido e ale´m disso, seja poss´ıvel a divisa˜o por√ 9− x2. Desta forma, temos 9− x2 > 0, isto e´ |x| < 3. Portanto o domı´nio da func¸a˜o acima e´ o intervalo (−3, 3). Exemplo. Encontre o domı´nio de existeˆncia da func¸a˜o f(x) + g(x), se f(x) = √ log5(3− √ x− 1) e g(x) = √ log5 x√−x2 + x+ 6 . O domı´nio de f(x) + g(x) sera´ o domı´nio comum de f(x) e g(x). Como log5(3− √ x− 1) ≥ 0 ⇐⇒ 3−√x− 1 ≥ 1 ⇐⇒ 2 ≥ √x− 1 ⇐⇒ ⇐⇒ { x− 1 ≥ 0 4 ≥ x− 1 ⇐⇒ { x ≥ 1 x ≤ 5 ⇐⇒ 1 ≤ x ≤ 5, segue que o domı´nio de existeˆncia da func¸a˜o f(x) e´ o intervalo [1, 5]. Como −x2 − x+ 6 > 0 ⇐⇒ x2 + x− 6 < 0 ⇐⇒ ⇐⇒ (x+ 3)(x− 2) < 0 ⇐⇒ ⇐⇒ −3 < x < 2, 3 log5 x ≥ 0 ⇐⇒ x ≥ 1, enta˜o, resolvendo o sistema { −3 < x < 2, x ≥ 1, encontramos que o domı´nio de existeˆncia da func¸a˜o g(x) e´ o intervalo [1, 2). Resolvendo o sistema { 1 ≤ x ≤ 5, 1 ≤ x < 2, encontramos que o domı´nio da func¸a˜o f(x)+g(x) consiste do intervalo [1, 2). Exemplo. Encontre o domı´nio de existeˆncia da func¸a˜o f(x) = √ log15 cos 2x. Como log15 cos 2x ≥ 0 ⇐⇒ cos 2x ≥ 1 ⇐⇒ cos 2x = 1 ⇐⇒ 2x = 2kpi, ⇐⇒ x = kpi, k ∈ Z. Exemplo. Encontre o domı´nio da func¸a˜o f(x) = √ log3 1− x x+ 2 . Primeiramente, observamos log3 1− x x+ 2 ≥ 0 ⇐⇒ 1− x x+ 2 ≥ 1, x 6= −2 ⇐⇒ ⇐⇒ 1− x x+ 2 − 1 ≥ 0 ⇐⇒ ⇐⇒ (−2x− 1)(x+ 2) (x+ 2)2 ≥ 0 ⇐⇒ ⇐⇒ (2x+ 1)(x+ 2) ≤ 0, donde, encontramos, x ∈ (−2,−1/2]. Exemplo. Encontre o domı´nio da func¸a˜o f(x) = log2(5−x)−log2(x+8). Da definic¸a˜o de logaritmo, temos, 5− x > 0, e x + 8 > 0, ou seja, x < 5 e x > −8, donde −8 < x < 5. Exemplo. Encontre o domı´nio das seguintes func¸o˜es 4 1. f(x) = 3 √ x+ 10− 7√x− 9; 2. f(x) = √ x+ 8− 4√12− x 1. Observamos que a func¸a˜o 3 √ x+ 10 esta´ definida para todo x+ 10 ∈ R, ou seja −∞ < x + 10 < ∞ ⇐⇒ −∞ < x < ∞. Da mesma forma, concluimos que a func¸a˜o 7 √ x− 9 esta´ definida para todo x ∈ R. Logo podemos dizer que a func¸a˜o f(x) = 3 √ x+ 10 − 7√x− 9 esta´ definida para todo x ∈ R. 2. A func¸a˜o √ x+ 8 esta´ definida para todo x + 8 ≥ 0, ou seja x ≥ −8. Da mesma forma, observamos que a func¸a˜o 4 √ 12− x esta´ definida para todo 12 − x ≥ 0, ou seja x ≤ 12. Logo podemos dizer que a func¸a˜o f(x) = √ x+ 5− 4√12− x esta´ definida para todo x ∈ [−8, 12]. §3 Gra´fico de uma Func¸a˜o Definic¸a˜o. O gra´fico de uma func¸a˜o f : X → Y e´ o subconjunto deno- tado por G(f) e definido, como sendo G(f) = {(x, y) ∈ X × Y ; y = f(x)} ⊂ X × Y. Figura 1: Gra´fico e na˜o gra´fico de uma func¸a˜o 5 A figura a esquerda representa o gra´fico de uma func¸a˜o f : X → Y , no entanto a figura da direita na˜o representa o gra´fico da func¸a˜o f : X → Y . Definic¸a˜o. Uma func¸a˜o f : A → B chama-se injetiva se verificamos o seguinte: dados x, y ∈ A, f(x) = f(y) segue que x = y, ou em outras palavras, se tivermos x1, x2 ∈ A, com x1 6= x2 implica f(x1) 6= f(x2). Claramente, a func¸a˜o identidade I : A → A, I(x) = x e´ injetiva. A func¸a˜o constante e´ injetiva se e somente se seu domı´nio A possuir apenas um elemento. Definic¸a˜o. Uma func¸a˜o f : A → B chama-se sobrejetiva se verificamos que Im(f) = B, ou dito de outra forma, para todo y ∈ B existe pelo menos um x ∈ A, tal que f(x) = y. Por exemplo, a func¸a˜o f : R→ R, definida por f(x) = x3 e´ sobrejetiva, enquanto a func¸a˜o f : R→ R x 7→ x2 na˜o e´ sobrejetiva, pois para −5 ∈ R na˜o existe x ∈ R tal que x2 = −5. E´ conveniente fazer o seguinte esclarecimento. Diz-se que f e´ uma func¸a˜o do conjunto A “sobre”o conjunto B se f(A) = B; no caso geral, quando f(A) ⊂ B, dizemos que f e´ uma func¸a˜o de A “em”B. Definic¸a˜o Uma func¸a˜o f : A → B chama-se bijetiva quando e´ simulta- neamente injetiva e sobrejetiva. Exemplo. A func¸a˜o f : R→ R definida por f(x) = x3 + 3 e´ bijetiva. Primeiramente mostremos que e´ injetora. De fato, sejam x1, x2 ∈ R tais que x1 6= x2. Analisemos f(x1)− f(x2) = x31 + 3− (x32 + 3) = x31− x32 = (x1− x2)(x21 + x1x2 + x22) 6= 0. Agora mostremos que f e´ sobrejetora. Dado b ∈ R, existe x = 3√b− 3 tal que f(x) = ( 3 √ b− 3)3 + 3 = b. 6 Figura 2: Gra´fico da func¸a˜o f(x) = x3 Definic¸a˜o. Dada uma func¸a˜o f : A→ B e dado Y ⊂ f(A), o conjunto f−1(Y ) = {x;x ∈ A tal que f(x) ∈ Y } e´ chamado de imagem inversa do conjunto Y pela func¸a˜o f . Assim, da definic¸a˜o segue que f−1(Y ) ⊂ A. §4 Func¸a˜o Inversa Dada a func¸a˜o bijetiva f : X → Y , dizemos que a func¸a˜o f−1 : Y → X, x = f−1(y) chama-se func¸a˜o inversa de f . Com isto, a func¸a˜o inversa possui domı´nio Y e imagem X, e a cada yo corresponde um u´nico xo, tal que f(xo) = yo, com xo ∈ X. Portanto para cada x ∈ X, temos f−1(f(x)) = x, x ∈ X. Desta forma, o par de func¸o˜es f e f−1 : Y → X sa˜o mutuamente inversas: f−1(f) : X → X, f(f−1) : Y → Y, ou seja f−1(f(x)) ≡ x, x ∈ X, f(f−1(y)) ≡ y, y ∈ Y. 7 Como f(x1) = y1 ⇐⇒ f−1(y1) = x1, significa que o par ordenado (x1, y1) pertence ao gra´fico de f se e somente se (y1, x1) pertence ao gra´ficode f−1. Desta forma obtemos o par ordenado (y1, x1) a partir do par or- denado (x1, y1) refletindo-o em torno da reta y = x. Podemos usar este resultado para dizer o seguinte: quando trocamos x por y para encontrar a func¸a˜o inversa, obtemos o gra´fico da func¸a˜o f−1 a partir do gra´fico de f , ou seja as representac¸o˜es gra´ficas de f e f−1 sa˜o sime´tricas em relac¸a˜o a reta y = x. Figura 3: Gra´fico da func¸a˜o inversa Quando estudamos as func¸o˜es inversas f e f−1, as varia´veis independentes costuma-se indicar por x, e os valores destas func¸o˜es indica-se por y. Em outras palavras, para a func¸a˜o y = f(x), x ∈ X, a func¸a˜o inversa escreve-se na forma y = f−1(x), x ∈ Y . Assim, com estas novas notac¸o˜es, temos as seguintes identidades: f−1(f(x)) = x, x ∈ X, f(f−1(x)) = x, x ∈ Y. Por exemplo, as func¸o˜es y = x + 3, x ∈ R, e y = x − 3, x ∈ R sa˜o func¸o˜es inversas, assim como as func¸o˜es y = x5 e y = 5 √ x. Teorema. Se a func¸a˜o f : A→ B e´ bijetiva, enta˜o existe uma e somente uma func¸a˜o f−1 : B → A, tal que f(f−1(y)) = y 8 qualquer que seja y ∈ B. Prova: Como f e´ bijetiva, enta˜o f(A) = B e a cada y ∈ B corresponde um u´nico x ∈ A, tal que f(x) = y. Desta forma fica definida uma func¸a˜o representada por f−1 : B → A tal que f−1(y) = x. Segue que para todo y ∈ B, temos f(f−1(y)) = y. Exemplo. Encontre a func¸a˜o inversa da func¸a˜o y = 7− 5−x. Vamos resolver a equac¸a˜o abaixo com relac¸a˜o a x, 5−x = 7− y, tomando logaritmo aos dois membros da equac¸a˜o, obtemos −x ln 5 = ln(7− y) ou seja, x = − ln(7− y) ln 5 . E´ obvio que o domı´nio da func¸a˜o inversa f−1(y) e´ o intervalo (−∞, 7). Exemplo. Encontre a func¸a˜o inversa da func¸a˜o f(x) = x2 + x, x ∈ [1/2, 2]. Claramente a func¸a˜o f(x) e´ injetiva. Podemos escrever a func¸a˜o f(x) = x2 + x na forma: f(x) = x2 + x = (x+ 1/2)2 − 1/4 ≥ 0, x ∈ [1/2, 2], ou seja, f(x) + 1/4 = (x+ 1/2)2 ⇐⇒ 4f(x) + 1 4 = (x+ 1/2)2 ⇐⇒ ⇐⇒ √4f(x) + 1/2 = x+ 1/2 ⇐⇒ ⇐⇒ x = (√4f(x) + 1− 1)/2. 9 Donde y = f−1(x) = ( √ 4x+ 1− 1)/2, x ∈ [3/4, 6], e´ a func¸a˜o inversa de f(x). §5 Func¸a˜o Composta Consideremos a func¸a˜o f : A → B com f(A) ⊂ C ⊂ B. Defina- mos a func¸a˜o g : C → D, fazendo corresponder a cada x ∈ A o elemento g(f(x)) ∈ D, pois f(x) ∈ f(A) ⊂ C. Agora definamos uma nova func¸a˜o h : A → D chamada de func¸a˜o com- posta e denotada por h = g ◦ f , isto e´, para todo x ∈ A, h(x) = (g ◦ f)(x) = g(f(x)). A seguir vamos monstrar um resultado importante para func¸o˜es compostas. Teorema. Sejam A,B,C,D,A1, D1 conjuntos, enta˜o 1. Se a func¸a˜o f : A→ B e g : C ⊃ f(A)→ D, e A1 ⊂ A, enta˜o, (g ◦ f)(A1) = g(f(A1)). 2. Se D1 ⊂ (g ◦ f)(A), enta˜o, (g ◦ f)−1(D1) = f−1(g−1(D1)). Exemplo. Encontre f(g(x)), f(f(x)), g(f(x)), f(ϕ(a)), ϕ[f(a)] e g(ϕ(a)), onde f(x) = x3, ϕ(x) = lnx e g(x) = 3x. 1. f(g(x)) = f(3x) = (3x)3 = 33x; 2. f(f(x)) = f(x3) = (x3)3 = x6; 3. g(f(x)) = g(x3) = 3x 3 ; 10 4. f(ϕ(a)) = ϕ3(a) = (ln a)3; 5. ϕ [f(a)] = ln a3 = 3 ln a; 6. g(ϕ(a)) = g(ln a) = 3ln a. 11
Compartilhar