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INFÂNCIA NA HISTÓRIA E NA CULTURA CONTEMPORÂNEA 2

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INFÂNCIA NA 
HISTÓRIA E NA 
CULTURA 
CONTEMPORÂNEA 
CAPÍTULO 2 - CRIANÇA 
PRODUZ CULTURA?] 
Introdução 
Você já parou para pensar sobre a infância hoje? Será que a 
criança de hoje é diferente da de ontem e da que virá nos 
próximos anos? Quando pensamos em cultura, temos que levar 
em consideração que ela é um organismo vivo que está sempre 
mudando e tomando rumos outros a partir das pessoas que 
vivem suas vidas de determinadas maneiras e pensam de 
determinadas formas. Todas essas falas e vivências vão se 
entrelaçando e contando a história de cada um, ao mesmo 
tempo em que contam a história de uma comunidade ou de um 
conjunto de pessoas. Mas será que a influência dos que vieram 
antes de nós e daqueles que vivem conosco pode mudar toda 
uma conjuntura espaço-temporal de forma a influenciar os 
indivíduos em uma escala ainda maior do que imaginamos? O 
antropólogo Lévi-Strauss (1976, p. 19) afirma que cultura “[...] é 
este conjunto complexo que inclui conhecimento, crença, arte, 
leis, costumes e várias outras aptidões e hábitos adquiridos pelo 
homem como membro de uma sociedade”. Dessa forma, pensar 
na criança como um indivíduo passando por mudanças no 
decorrer dos tempos, e a partir da influência das pessoas que 
vieram antes e convivem agora para juntas transformarem o 
amanhã, é premissa que se prova a partir de pesquisas 
antropológicas, sociológicas e histórias contadas entre 
gerações. Neste capítulo, você entenderá melhor as leis que 
regem a infância no país, assim como conhecerá o conceito de 
cultura em que se baseiam as literaturas sobre a infância, e de 
que forma a interação entre as gerações influencia a criança e a 
infância. Além disso, aprenderá que a cultura também é 
constituída por outros conceitos como educação, diversidade, 
cidadania, identidade, e que ela se constrói a partir das relações 
entre as pessoas dos diferentes grupos etários, seus contextos 
e suas relações com o meio. Bom estudo! 
2.1 Infância na contemporaneidade a partir das crianças e dos 
adultos (gerações) 
Quando tratamos de conceitos e concepções sobre um determinado 
tema, temos de levar em conta que não há uma verdade única, mas sim 
teorias e pensamentos nos quais as pessoas acreditam, se identificam ou 
aceitam – e que acabam por transformar essas ideias em verdades. 
Bourdieu (1998) alerta-nos sobre a “ilusão biográfica”, ou seja, para o 
entendimento de que a unidade do “eu” de cada um nada mais seria do 
que sua apresentação sociocultural. Dessa forma, seríamos 
influenciados, de forma consciente ou não, por conceitos, ideias, 
pensamentos e atitudes que ocorrem em conjunto com os outros com os 
quais nos relacionamos, e é a partir disso que recriamos nossos próprios 
conceitos, ideias, pensamentos e atitudes. 
Nesse sentido, podemos concluir que a criança é o indivíduo que 
também ouve, entende e cria conceitos, já que está imersa e atuante na 
cultura desde o nascimento. Essas ressignificações da criança, ou seja, 
sua maneira de ver, entender e dar sua própria significação aos fatos, é 
o que também perpetua as constantes mudanças que ocorrem na 
sociedade. 
A infância, nessa perspectiva, refere-se a uma determinada classe de 
idade, porém revestida pelo conceito de geração, num viés histórico e 
também relacional, na diferenciação com as outras classes de idade, ou 
seja, outras gerações. A partir desses pressupostos, a infância é 
considerada uma categoria geracional de caráter relacional, pois é 
histórica e socialmente construída, por meio da participação das 
crianças em suas culturas e de sua geração com as dos adultos, 
instâncias mutuamente entrelaçadas. 
Note que, por meio dessa análise, entende-se que as crianças vivem suas 
vidas como parte de um grupo social – a geração –, que por sua vez, faz 
parte de uma estrutura social mais ampla: a sociedade. Nesse âmbito, a 
infância pode ser reconhecida como a fase de descobertas do indivíduo, 
um período em que a criança, desde que nasce, é apresentada e inserida 
em um grupo cultural, com costumes e ideias específicas do contexto 
em que vive. 
Assim, desde que nasce, o indivíduo é inserido em um grupo social, é 
um integrante da sociedade cuja cultura, costumes e valores lhe são 
passados por aqueles que nela convivem, em uma relação 
primeiramente de transmissão, realizada pelos demais integrantes do 
grupo, como seus familiares e outras pessoas. À medida que o indivíduo 
convive com seu grupo cultural, também recria as influências e os 
hábitos recebidos, estabelecendo relações de recriação e trocas. 
A partir dessas informações e trocas, que são oriundas do convívio com 
o grupo cultural no qual estão inseridas, as crianças também vão se 
constituindo e se reconhecendo como cidadãos com direitos e deveres. 
Nesse sentido, você consegue perceber a importância do outro na 
constituição do ser criança e do viver a infância? Isso porque a criança 
se constitui a partir das múltiplas relações que estabelece com as 
pessoas às quais se relaciona, e com elas determina formas de interação 
com o mundo. 
Observe o exemplo ilustrado pela figura a seguir. 
Deslize sobre a imagem para Zoom 
 
Figura 1 - Os vínculos com a criança permitem que ela estabeleça relações de afeto desde os 
primeiros anos de idade.Fonte: Sunnystudio, Shutterstock, 2017. 
Apoiada na perspectiva das pessoas que fazem parte de seu convívio, a 
criança vai estabelecendo formas de criar seus próprios entendimentos 
e suas concepções sobre o mundo. 
Dessa maneira, quando se pensa na concepção de infância hoje, não se 
pode tratá-la como momento isolado, já que “[...] não pode ser 
entendida fora da relação com a vida adulta, configurando-se também 
como uma categoria de caráter relacional.” (SALGADO, 2014, p. 67). 
Esse caráter relacional se estende ao convívio entre a criança e todos 
aqueles que compartilham sua vida social, como representa a figura a 
seguir.Deslize sobre a imagem para Zoom 
 
Figura 2 - A infância é cercada de diversidade de ideias, pessoas, histórias, permitindo 
inúmeras possibilidades relacionais para a criança.Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 
2017. 
Você pode imaginar que a escola, por sua vez, é o local em que as 
relações estabelecidas são as mais diversificadas, é onde a criança 
estabelecerá, obrigatoriamente, vínculos com várias pessoas à sua volta 
– das mais variadas idades –, permitindo relações intergeracionais que 
irão agregar conhecimento ao seu entendimento de mundo. 
O “fazer-fazendo”, que acontece na escola e na vida cotidiana das 
crianças a partir da relação que elas estabelecem com o outro, deve ser 
levado em conta ao se construir o currículo escolar (MARTINS FILHO, 
2013). Assim, deve-se garantir à criança que seja ela mesma na escola, 
mas em interação com os outros alunos da sua faixa etária e com os 
professores. A proposta pedagógica, portanto, deve levar em 
consideração os conhecimentos prévios e os saberes trazidos pelas 
crianças, considerando-se seu contexto social e cultural. 
De acordo com essa visão da infância, deve-se criar, então, situações de 
aprendizagens nas quais as crianças, a partir dos conhecimentos 
adquiridos em seu meio social, poderão ampliar e reconstruir conceitos 
e habilidades. Essas vivências devem também levar em consideração as 
aprendizagens coletivas, entendendo que é coletivamente e nas relações 
entre as pessoas que o conhecimento se amplia. 
VOCÊ QUER VER? 
No filme Mogli: o menino lobo, fica evidente quanto se aprende no contexto natural e/ou 
cultural em que se vive a infância. Depois de ter sua vida ameaçada por um temível tigre, 
Mogli, um menino criado por lobos, deixa o seu lar na selva e parte em uma viagem de 
autodescoberta, guiado por uma pantera austera e um urso alegre eindependente. Para 
assistir à versão dublada, acesse o endereço: <http://filmesonlinegratisahd.com/mogli-o-
menino-lobo-dublado-online/>. 
Dessa forma, é possível compreender quanto a multiplicidade de 
encontros, trocas e experiências durante a vida da criança – 
comcoetâneos, familiares, professores e pessoas das mais diversas 
idades, ou seja, trocas intergeracionais – agregam conhecimento de 
mundo e permitem à criança se apropriar da sociedade a partir da 
realidade em que vive. Ademais, note quanto a escola é local 
privilegiado para se estabelecer essas trocas, seja em momentos de 
escolha entre as próprias crianças, seja a partir da mediação do 
professor, como você pode inferir a partir do exemplo de relação que 
consta na figura a seguir.a Zoom 
 
Figura 3 - A professora também é quem faz a mediação entre o conhecimento dos alunos e 
as propostas de ensino da escola e oportuniza a troca de conhecimentos entre os atores 
sociais.Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2017. 
Quando tratamos da importância da mediação do professor, é 
conveniente ressaltar que ele é mais um dos mediadores entre a criança 
e o conhecimento, e que este se faz também a partir das relações 
estabelecidas entre a criança e todos os outros com os quais ela faz 
contato durante sua vida, permitindo a elacompreendero mundo a partir 
de inúmeras perspectivas. 
[...] é básico que a escola, as crianças, os jovens e os adultos recuperem, aprendam, 
descubram a paixão pelo conhecimento, porque só o ser humano pode conhecer e, nesse 
processo – de construção de conhecimento – o papel do outro e da coletividade é 
fundamental (KRAMER; LEITE, 1998, p. 20). 
VOCÊ QUER LER? 
No livro “As Marcas do Humano: as origens da constituição cultural da criança na 
perspectiva de Lev S. Vigotski”, você pode conferir como o professor Angel Pino (2005) 
explana sobre a constituição do ser cultural e social da criança desde seu nascimento e a 
influência do outro no entendimento de mundo da criança. 
É muito importante que você compreenda, como já explicamos, que a 
criança traz seus conhecimentos prévios e diferentes de acordo com o 
seu grupo social. Estando na escola, ela terá contato com outras crianças 
com diferentes conhecimentos, além do contato com os saberes das 
ciências e os conceitos científicos. Assim, na escola, através da 
mediação dos professores e das outras crianças, serão construídos 
outros conhecimentos, a partir daqueles que a criança já carrega 
consigo. É na troca que está o entendimento, a partir do outro e com o 
outro os saberes se entrelaçam e se multiplicam, dando forma a uma 
cultura multifacetada e viva. 
No próximo tópico, você continuará a aprender sobre os diferentes 
modos de viver a infância, bem como os modos de se estabelecer 
relações com as crianças no contexto geracional. 
2.2 Infância na contemporaneidade a partir das experiências das 
crianças e dos adultos (gerações) 
Quando tratamos do conceito de infância, nos referimos também à 
maneira pela qual a sociedade vê essa criança e ao que espera 
dela.Nesse sentido, se entrecruzam as expectativas das diferentes 
gerações: das crianças e dos adultos. 
De acordo com Shultz e Barros (2011, p. 139) “[...] a infância é ligada 
diretamente às outras fases da vida e construída ao longo do tempo.” 
Dessa forma, relaciona-se com o entendimento que se tem também 
sobre as outras gerações ao longo da história e os papéis assumidos 
pelos integrantes de cada uma. 
A partir desses pressupostos, podemos concluir que ser integrante da 
categoria geracional da infância indica assumir diferentes 
comportamentos e atitudes de acordo com o contexto histórico e 
cultural vivido. Nos itens a seguir serão exploradas mais detidamente a 
questão geracional e suas implicações. 
2.2.1 Relações intergeracionais 
Como você já pôde perceber, as relações intergeracionais são múltiplas 
e inevitáveis quando pensamos na criança e em seu círculo social. 
Quando a criança é muito pequena, essas relações se limitam a seus 
familiares e amigos próximos;mas, conforme vai crescendo, as suas 
conexões aumentam, e a criança começa a frequentar outros lugares e a 
conhecer outras pessoas. 
Cada pessoa é produto das relações que estabelece desde o nascimento, 
entre as pessoas com quem convive em casa, na escola, no trabalho e 
nos locais que frequenta. Seja por muito, seja por pouco tempo, cada 
interação que ocorre durante a vida acaba por montar um pouco do que 
forma cada indivíduo. “[A] socialização é um termo amplo que indica 
que o ser humano, desde que nasce, não apenas está sujeito a influências 
da sociedade de que participa e ajuda a construir, como também a 
influencia.” (MORAGAS, 1997, p. 101). Assim, cabe nos 
perguntarmos: de que forma se dão essas relações intergeracionais? 
Dessa forma, o que acontece são interações baseadas em trocas e 
assimilação de regras de conduta e formas de viver em determinada 
sociedade. Essas trocas acontecem – ou deveriam acontecer – de forma 
que a transmissão de memórias e experiências permita que as várias 
gerações se respeitem e se compreendam em um processo recíproco de 
aprendizagens. 
VOCÊ QUER LER? 
No livro “Vidas Compartilhadas: cultura e relações intergeracionais na vida cotidiana”, 
de Paulo de Salles Oliveira (2011), você pode ter acesso a um estudo do dia a dia de 
crianças cuidadas por seus avós, nas classes populares. Esse estudo mostra o encontro de 
sujeitos sociais diferentes e o caminho que passam a construir juntos, buscando cultivar 
interações igualitárias, nos direitos e nos deveres. 
Você pode imaginar como, para a criança, qualquer evento, a exemplo 
da ida para a creche, abre um novo mundo de possibilidades relacionais 
entre gerações, tanto com coetâneosquanto com adultos ou crianças 
mais novas ou mais velhas,e essas relações oferecem aprendizagem e 
ampliação de conhecimento de mundo da criança. 
Assumindo a visão de que as crianças são seres sociais desde que 
nascem, vemos que elas continuam, na creche, sua busca por 
socialização com o outro, e essas relações devem ser otimizadas na 
instituição, de forma que se priorizem princípios baseados em respeito 
às diferenças, solidariedade e troca de experiências, ampliando o bem-
estar entre as gerações, e garantindo que as trocas sejam feitas de forma 
constante e harmoniosa, em que todos ganham e doam seu 
conhecimento.Dessa forma, pode-se caminhar para uma sociedade mais 
igualitária, justa e respeitosa, tendo a instituição educacional como 
ponto chave desse caminhar. 
Por tudo o que já expomos a respeito do tema, você deve ter em vista 
que essa troca deve ser via de mão dupla, na qual adultos, jovens, 
crianças e idosos compartilham experiências.Porém, é inegável o fato 
de que os papéis de cada envolvido na relação diferem, sendo que “há 
posições geracionais de uma geração sobre a outra” (LIBARDI, 2016, 
p. 53), ou seja, aos adultos e idosos cabe uma responsabilidade com a 
geração mais nova de jovens e crianças.Então, tanto nas instituições de 
educação quanto nas relações que se estabelecem em qualquer âmbito 
social, cabe aos mais velhos proteger os mais novos e passar a eles 
determinados conhecimentos. 
Por outro lado, também deve ser permitido aos mais novos contribuir 
com a sociedade a partir daquilo que recebem dela, pois também os 
menores têm algo a compartilhar e aplicar perante as informações a que 
foram expostos. Consequentemente, essas relações intergeracionais 
devem ser baseadas em fatores de reciprocidade e interdependência, de 
forma que crianças, jovens, adultos e idosostroquem compreensões e 
entendimentos, cada um à sua maneira, dentro daquilo que veja como 
verdade, na percepção de que são muitas histórias emuitas verdades 
existentes. 
2.2.2 A geração como um constructo sociológico 
Como já expusemos brevemente, a questão das gerações e todas as 
implicações relacionais entre elas é um constructo sociológico. Essa 
afirmação se baseia na ideia de que há interações dinâmicas a todo 
momento entre as gerações, ou seja, crianças, adolescentes, jovens, 
adultos e idosos se relacionam das mais diversas maneiras em suas 
interações (SARMENTO, 2005). No entanto, é importante destacar que 
em cada geração hápapéis constituídos socialmente no 
transcorrerhistórico. 
É importante que você perceba que as dinâmicas intergeracionais 
acontecem quando os mais velhos trocam informações e conhecimentos 
com os mais novos, e estes os ressignificam. 
CASO 
Sabemos que, paracrianças de quatro a cinco anos, todas as descobertas são 
interessantes, pois são movidas pela curiosidade pelas coisas do mundo, e que as 
brincadeiras têm valor simbólico a partir da tentativa de entender esse mundo que as 
rodeia.Numa escola pública, em sala de aula com crianças dessa idade, como um 
professor ou professora deve agir? 
Nesse caso que trazemos, a professora está participando de uma conversa com as 
crianças, a quem eles fazem perguntas e explicam a partir do seu entendimento e de 
suas hipóteses sobre a metamorfose e o ciclo de vida das borboletas. Nesse momento, 
uma criança diz ter visto minhocas em sua casa e que elas ficam na terra.A professora 
aproveita essa fala e questiona sobre o ambiente em que vivem as borboletas e as 
minhocas. As crianças falam animadamente e escutam o que os colegas pensam 
sobre isso. A professora propõe que juntos possam descobrir mais informações e 
façam investigações. Dessa forma, a professora leva em consideração oque as 
crianças têm como hipóteses e também se propõe a criar condições de ampliar esses 
conhecimentos. É muito provável que, juntos, aprendam muito. 
Com base no exemplo analisado e no que já discutimos anteriormente, 
é importante que você perceba que as relações intergeracionais 
ultrapassam a transmissão de valores e conhecimento, agindocomo uma 
forma de se estabelecer a mediação entre diferentes conhecimentos, 
sendo as crianças respeitadas em seu processo de busca por esses 
conhecimentos. A professora não impõe o conhecimento, mas parte do 
interesse e da curiosidade das crianças. Tanto na escola quanto fora 
dela, as relações entre os indivíduos de diferentes gerações devem 
acontecer a partir do respeito pelo conhecimento do outro, buscando um 
convívio colaborativo e de trocas entre os envolvidos. 
Como você pode perceber, a imagem a seguir ilustra a ideia de quanto 
as crianças podem participar da tomada de decisões e envolver-se em 
situações de aprendizagem.Deslize sobre a imagem para Zoom 
 
Figura 4 - Crianças atuantes em sala de aula desenvolvem o convívio colaborativo.Fonte: 
Monkey Business Images, Shutterstock, 2017. 
Além da relação intergeracional em si, você precisa ter em mente a 
existência de fatores externos que a influenciam. Deve-se levar em 
conta que a mudança de entendimento sobre o mundo, que também 
perpassa as gerações, é fator relevante para a troca de ideias 
intergeracional. Por outro lado, no mundo contemporâneo estão 
disponíveis elementos diferentes em relação a outras épocas; a 
tecnologia é um desses fatores e influencia diretamente as vivências 
diárias das crianças dentro e fora da escola: “Para as professoras, a 
tecnologia também aparece como um significativodiferencial entre a 
infância de sua geração e a das crianças hoje [...]” (SALGADO, 2014, 
p. 74). Esse fato precisa ser levado em consideração na mediação dos 
processos de aprendizagem. 
Nesse sentido, entende-se que,pelo fatode as crianças e os jovens serem 
indivíduos que nasceram emum contexto com mais acesso a novos 
recursos tecnológicos, têm mais facilidade para utilizar computadores, 
celulares, tablets etc. do que os adultos.Assim, este é um desafio para o 
professor:que sejam implementadas propostas em que a tecnologia seja 
um recurso utilizado na escola, a fim de transformar informações em 
conhecimentos. 
VOCÊ SABIA? 
O Ministério da Educação (MEC) lançou em 1997 o Programa Nacional 
de Tecnologia Educacional (Proinfo), no intuito de promover o uso 
pedagógico das tecnologias de informação e comunicação na escola 
pública. O site é colaborativo e de livre acesso pela população. Para mais 
informações, acesse: <http://e-
proinfo.mec.gov.br/eproinfo/interativo/acessar_espaco_sistema/acessar.h
tm>. 
Perceba que a tecnologia, então, não pode ser considerada apenas algo 
que separa gerações, mas também pode ser vista como uma ferramenta 
a partir da qual outras interações permitiriam aproximações. 
Dessa forma, as relações intergeracionais, independentemente de seu 
tempo, são capazes de proporcionar uma aprendizagem recíproca que 
valoriza as diferenças e as histórias dos envolvidos. 
No próximo tópico, você irá aprender mais sobre a infância como um 
direito, sabendo analisar criticamente esses direitos, assim como 
reconhecer a visibilidade social da infância e a criança como produtora 
de cultura. 
2.3 Infância como um direito da criança 
Ao entendermos que a visão do que hoje compreendemos por infância 
é uma construção histórica, podemos perceber quenão é estáticanem 
imutável. Nesse sentido, também os direitos relacionados às crianças 
foram constituídos ao longo de processos de defesa da infância. 
Atualmente, temos a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da 
Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, como os pilares legais dos 
direitos das crianças no Brasil. Mas será que essas leis protegem todas 
as crianças da mesma forma? O que pode ser feito para permitir aos 
pequenos gozarem desses direitos de maneira plena, como cidadãos que 
são desde o nascimento? 
2.3.1 Visibilidade social da infância 
Qual o papel social da criança na sociedade de hoje? Para responder 
essa questão, você precisa ter em mente que esse papel mudou 
consideravelmente conforme os anos e séculos foram passando. Assim, 
pode-se dizer de forma introdutória que, atualmente,pelomenos no 
mundo das ideias e teorias, a criança tem um papel atuante socialmente, 
ela é entendida como indivíduo participante da sociedade. 
Observe a imagem a seguir antes de continuarmos a discussão.magem 
para Zoom 
 
Figura 5 - A imagem revela uma criança que não tem direito à infância.Fonte: Gallery 3.0.9 
(Chartres), Shutterstock, 2017. 
Com base nesse sentimento de infância,histórica e socialmente 
construído, você podeobservar essa imagem e perceber que esse 
menino, aparentemente ainda tão pequeno, não está vivendo sua 
infância. O ato de pedir esmola leva a crer que esse menino, muito 
provavelmente, não frequenta a escola e não leva uma vida que o 
permita gozar de seus direitos comocidadão. Assim, sua cidadania, ao 
mesmo tempo que garantida por lei, está lhe sendo retirada, por motivos 
imbricados por questões sociais, econômicas e políticas.Sendo assim, o 
fato de ser criança não garante uma infância digna e com os direitos 
básicos garantidos. 
VOCÊ QUER VER? 
Crianças do Brasil é um roadmovie filmado em muitas cidades brasileiras. O Brasil, do 
extremo Norte (Oiapoque) ao extremo sul (Chuí), é visto sob a ótica das crianças. Trata-
se de uma série de 10 programas de 12 minutos de duração sobre várias regiões do Brasil 
mostradas por crianças de diferentes classes sociais, etnias, sotaques e 
culturas. Trailer disponível em: <https://youtu.be/LKQaRhKpG2k>. 
Ainda analisando o exemplo da figura anterior, podemos pensar que a 
visibilidade sobre a infância muitas vezes está pautada em uma visão 
unilateralde criança, ou seja, o olhar das pessoas hojejá está 
acostumado a ver crianças pelas ruas ou como pedintes. Assim, esse 
fato passa a ser banalizado, e nem sempre se exigem mudanças. 
Destarte, se faz importante que você – e todas as pessoas – compreenda 
os direitos e deveres constitucionais, participando da busca por 
diminuições das barreiras que impedem o acesso às condições mínimas 
de vida para todos os cidadãos brasileiros. 
Perceba, dessa forma, que ser criança no Brasil e no mundo não implica, 
necessariamente, gozar plenamente da infância e de todos os direitos 
que derivam do fato de ser criança. A execução na práticadesses 
direitos, de forma que sejam realmente garantidos a todas as crianças 
do país, ainda está em pauta e será ainda uma luta a ser travada por 
muito tempo. 
Estar criança não é direito, é condição; o indivíduo nasce e passa, 
obrigatoriamente, pela fase da infância, não sendo possível a mudança 
por nenhum ator social. Contudo, para que seja permitido à criança o 
direito ao ser plenamente criança, deve-se entendê-la em suas 
particularidades e garantir seus direitos legais e constitucionais, sendo 
este dever político e social. Na esfera política, cabe aos legisladores 
fazerem valer os direitos das crianças não apenas no papel, mas 
igualmente em seu dia a dia. Na esfera social, é importante que todos 
os indivíduos tenham um olhar sensível voltado à criança, a todas as 
crianças, independentementede sua condição social. 
Observe a imagem e reflita sobre o direito que esse menino tem de ser 
criança.oom 
 
Figura 6 - Muitas famílias de baixa renda dependem do trabalho infantil para garantir 
sustento. Fonte: Zzvet, Shutterstock, 2017. 
Com uma leitura mais atenta da imagem, pode-se supor que esse 
menino não faz parte de uma família que mantém uma renda sustentável 
para uma vida que lhe permita gozar dos direitos à alimentação, saúde 
e habitação dignas, devendo, por isso, complementar a renda familiar à 
custa da venda de sua própria força de trabalho. 
O ser criança deve levar em conta todos os direitos que permitam viver 
a infância: 
[...] a existência de um direito, seja em sentido forte ou fraco, implica sempre a existência 
de um sistema normativo, onde por "existência" deve entender-se tanto o mero fator 
exterior de um direito histórico ou vigente quanto o reconhecimento de um conjunto de 
normas como guia da própria ação. A figura do direito tem como correlato a figura da 
obrigação. (BOBBIO, 1992, p. 79-80). 
Você deve se lembrar, pois já tratamos desse assunto, que as leis mais 
importantes que delineiam a criança são a Constituição de 1988 e o 
ECA, de 1990.A Constituição do país assegura inúmeros direitos a todo 
brasileiro.Em seu artigo 6º, caput, dispõe: “São direitos sociais a 
educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o 
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à 
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.” 
(BRASIL, 1988, s. p.). 
Além disso, a mesma Carta também trata sobre o direito à educação de 
todas as crianças de zero a seis anos, conforme análise de Kramer 
(1999, s. p.): 
A população brasileira, a partir da progressiva consciência de seus direitos e da 
participação em movimentos sociais, teve papel central numa das maiores conquistas da 
educação infantil no Brasil: o reconhecimento, na Constituição de 1988, [...] do dever do 
Estado de oferecer creches e pré-escolas para tornar fato este direito. Movimentos sociais 
e instâncias públicas (municipais e estaduais) vêm se esforçando no sentido de expandir 
com qualidade a educação infantil e enfrentar os desafios que se colocam. Pela primeira 
vez na história da educação brasileira, foi formulada uma política nacional de educação 
infantil, com diretrizes para a formação dos profissionais. 
Dessa forma, a criança, assim como todo cidadão brasileiro, tem direito 
a uma vida plena, com boa moradia, saúde e educação de qualidades, 
lazer e assistência. A luta, da qual trata Kramer (1999), fez valer as leis 
no mundo das ideias, mas ainda temos que fazê-las valer para todas as 
crianças, não apenas para aquelas cujas famílias conseguiram se 
adequar à desigual sociedade em que vivemos, mas também as ditas 
marginais, às quais foi negado o direito de viver e ser criança. 
O ECA foi criado com o objetivo de proteger integralmente crianças e 
adolescentes. Em seu artigo 7º o estatuto prevê que a criança e o 
adolescente “[...] têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a 
efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o 
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de 
existência.” (BRASIL, 1990, s. p.). 
Infelizmente, não é essa a realidade das crianças brasileiras, pois as 
manchetes do ano de 2017 de jornais e revistas do país sobre a infância 
contam outra história. A história contada é de um país em que milhões 
de crianças vivem em situação de extrema pobreza (LAMBERT, 2017), 
com o retorno à condição de “país da miséria” (O BRASIL…, 2017), 
local em que 40% das crianças até 14 anos vivem em situação de risco 
e desamparo (CRUZ, 2017). Essas são histórias de um país que não se 
preocupa com sua infância, um país que mantém leis de proteção à 
criança apenas no papel e que permite à criança estar criança, mas não 
permite a todas o ser criança e aproveitar o que esse ato traz em sua 
plenitude. 
Apenas a luta da sociedade, assim como o trabalho do professor na sala 
de aula e fora dela, permitirá relevantes mudanças no panorama social 
e político do país.Se foi com luta que se garantiu as leis, também com 
luta se garantirá a efetivação dessas leis para todas as crianças e todos 
os adolescentes brasileiros, assim como para todos os cidadãos do país. 
No próximo tópico, vamos abordar a questão das culturas infantis, para 
que você possa reconhecê-las e detectar aspectos que indicam a relação 
entre concepções de infância, educação, cultura, conhecimento, 
diversidade, cidadania e identidade. 
2.4 Culturas infantis 
As pesquisas com crianças aumentaram, assim como o conceito de 
criança e a concepção de infância foram se transformando. Hoje aceita-
se que a criança, para além de ser influenciada pela cultura que a cerca, 
também produz cultura a partir das relações com seus pares e adultos. 
Corsaro (2002) apresenta o conceito de “reprodução interpretativa (p. 
115), construindo a ideia de que as crianças contribuem ativamente para 
a preservação social, assim como para sua mudança. E são essas 
mudanças que acontecem coletivamente que permitem reconhecermos 
a participação das crianças na construção cultural da sociedade. 
Nos itens a seguir, você entenderá melhor a visão da criança como 
produtora de cultura, além de conhecer a área de estudo da Sociologia 
da Infância. 
2.4.1 Criança como produtora de cultura 
Como você já pôde constatar a partir da visão atual de infância, é 
indiscutível que a criança influencia e é influenciada pelo grupo cultural 
que integra. O que ainda é objeto de estudo é o olhar para a criança 
como produtora de cultura, sob uma perspectiva pela qual a criança cria 
sobre aquilo que absorve.Ou seja, primeiramente ela age concretamente 
sobre a realidade que a cerca, levando em consideração todos os 
aspectos da cultura e as relações entre seus pares; a partir disso, ela 
também reelabora as influências recebidas e assim produz cultura. 
 Elas [as crianças] elaboram sentidos para o mundo e suas experiências compartilhando 
plenamente de uma cultura. Esses sentidos tem uma particularidade, e não se confundem 
nem podem ser reduzidos àqueles elaborados pelos adultos; as crianças têm autonomia 
cultural frente ao adulto. Essa autonomia deve ser reconhecida e também relativizada:digamos, portanto, que elas têm uma relativa autonomia cultural. Os sentidos que 
elaboram partem de um sistema simbólico compartilhado com os adultos (COHN, 2005, 
p. 35). 
Dessa forma, entende-se que as crianças produzem cultura a partir 
daquilo que vivenciam e aprendem,conforme o grupo cultural em que 
nascem, as conversas com as pessoas com quem convivem, brincando 
com outras crianças, enfim,emvariadas formas de interação com o meio 
e as pessoas. 
 
Figura 7 - As inúmeras relações disponíveis para a criança durante suas vivências formam o 
seu mundo.Fonte: Guz Anna, Shutterstock, 2017 
Porém, há uma complexidade no entendimento dessas dinâmicas 
infantis (SARMENTO; PINTO, 1997), já que é necessário escutar e 
observar a criança,estimulando o seu protagonismo. Para tanto, você 
deveter em mente que as infâncias são vividas das mais diversas formas, 
dependendo dos contextos sociais e culturais; assim,não há apenas um 
tipo de criança ou um tipo de infância. 
Sendo assim, as pesquisas que se debruçam sobre a infância devem 
levar em consideração os contextos nos quais as crianças estão imersas 
para entender a complexidade dos envolvidos. Somente dessa forma há 
a possibilidade de compreender as culturas infantis de determinado 
grupo partindo da estrutura social que o cerca, das relações que se 
estabelecem e das suas visões de mundo. 
Esse estudo mais aprofundado a partir do entendimento da criança 
como produtora de cultura é considerado como fazendo parte de uma 
linha de pesquisa denominada Sociologia da Infância, uma ramificação 
da sociologia determinada a estudar a criança imersa em seus 
constructos culturais, sociais e históricos, e será tratada no próximo 
item. 
2.4.2 A Sociologia da Infância 
Pode-se afirmar que a Sociologia da Infância é uma área de estudo 
relativamente nova, que busca compreender a condição social da 
infância e as relações das crianças com os adultos e entreseuspares. 
Como forma de ampliar essa interpretação, segue trecho de uma 
explicação do professor Sarmento (2005, p. 361): 
A sociologia da infância propõe-se a constituir a infância como objecto sociológico, 
resgatando-a das perspectivas biologistas, que a reduzem a um estado intermédio de 
maturação e desenvolvimento humano, e psicologizantes, que tendem a interpretar as 
crianças como indivíduos que se desenvolvem independentemente da construção social 
das suas condições de existência e das representações e imagens historicamente 
construídas sobre e para eles. Porém, mais do que isso, a sociologia da infância propõe-
se a interrogar a sociedade a partir de um ponto de vista que toma as crianças como 
objecto de investigação sociológica por direito próprio, fazendo acrescer o conhecimento, 
não apenas sobre infância, mas sobre o conjunto da sociedade globalmente considerada. 
Dessa forma, a Sociologia da Infância não procura estudar as 
crianças per se, mas sim em sociedade, e busca posicioná-las como 
atores sociais, tanto no campo teórico como no metodológico. 
VOCÊ SABIA? 
A Sociologia da Infância surgiu no Brasil em meados da década de 1980, 
contrapondo-se às teorias biológicas e higienistas que entendiam a criança como um 
vir a ser, um indivíduo simples em constante maturação. Porém, foi somente no final 
da década de 1990 que pesquisas relevantes na área começaram a ser publicadas, o 
que coloca essa área do estudo ainda como algo novo e em ascensão no país. Para 
mais informações, 
acesse: <http://www.fe.ufg.br/nedesc/cmv/controle/DocumentoControle.php?oper=
download&cod=1547>. 
Essa área de estudo busca transpor o pensamento adultocêntrico, ainda 
tão vigente na sociedade, assim como convida estudiosos e 
profissionais da educação a pensar a infância sob outroângulo: o da 
criança por ela mesma, ou seja, entender que há uma criança que é 
sujeito de sua aprendizagem e de seu conhecimento, ao mesmo tempo 
em que também é motivada a partir das atitudes do outro. 
Além disso, os professores Manuel Sarmento e Manuel Pinto (1997) 
atentam para o fato de que estudar as infâncias, para além de aumentar 
a compreensão sobre o ser criança, também auxilia na compreensão de 
toda a sociedade: 
O olhar das crianças permite revelar fenômenos sociais que o olhar dos adultos deixa na 
penumbra ou obscurece totalmente. Assim, interpretar as representações sociais das 
crianças pode ser não apenas um meio de acesso à infância como categoria social, mas às 
próprias estruturas e dinâmicas sociais que são desocultadas no discurso das crianças 
(SARMENTO; PINTO, 1997, p. 25). 
Essa explanação permite destacar ainda mais importância ao estudo 
sociológico da infância, já que legitima a importância do estudo da 
criança não apenas por ela mesma, mas em uma perspectiva mais 
ampla, de entendimento social, cultural e histórico. 
VOCÊ O CONHECE? 
Ana Lúcia Goulart de Faria é professora doutora da Faculdade de Educação da Unicamp, 
grande precursora da Sociologia da Infância no Brasil, com inúmeros textos e livros 
publicados sobre o tema. Para mais informações e acesso a publicações da professora, 
veja: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4793285J1>. 
Estudos na área da Sociologia da Infância são como uma “[…] 
retomada do movimento de luta a favor das crianças, da infância e da 
educação.” (ROCHA, 2011, p. 3). Para além da criança vista através da 
psicologia, medicina ou psicanálise, a infância observada sob a lente 
das ciências sociais vem ganhar uma nova forma, permitindo aos 
profissionais da área e a toda a sociedade um melhor agir sobre a 
infância. 
Síntese 
Concluímos o segundo capítulo relativo aos diferentes modos de viver 
a infância e às culturas infantis. Agora você já sabe como é entendida a 
infância no mundo contemporâneo, sua relação com a educação e as 
gerações. Além disso, é de seu conhecimento que a cultura infantil é 
algo socialmente definido e que esse aspecto da infância deu início a 
uma nova vertente sociológica conhecida como Sociologia da Infância. 
Neste capítulo, você teve a oportunidade de: 
 compreender que o entendimento da infância pela sociedade é 
uma construção política e social; 
 perceber o que são relações intra e intergeracionais e no que elas 
influenciam a criança de seu tempo; 
 conhecer as mais importantes leis que regem a educação e o bem-
estar de crianças e jovens no Brasil; 
 aprender que a criança pequena, para além de compreender a 
cultura do grupo que a cerca, também produz cultura; 
 identificar que existe uma vertente da sociologia que se dedica a 
estudar a infância: a Sociologia da Infância. 
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