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SISTEMA DIGESTIVO COMPARADO PROF° CLÁUDIA M. DE LAZZARI MEDICINA VETERINÁRIA - 2018 Afinal, o que é digestão? - Os alimentos, após ingeridos, devem ser transformados em pequenas moléculas de nutrientes para que possam ser absorvidos e então utilizados. - A função dos diversos processos digestórios consiste em reduzir as partículas alimentares ou solubilizá-las de forma que possam ser absorvidas. • Boca - Alimentos são triturados e amolecidos. • Glândulas salivares - Produzem a saliva que contém enzimas digestivas em algumas espécies. • Faringe - Tubo de condução do esôfago e das vias respiratórias (Epiglote e Glote) • Esôfago - Conduz o alimento ao estômago. • Estômago - Prepara o alimento para então liberá-lo no duodeno na forma de uma mistura pastosa denominada quimo. • Fígado e Pâncreas - Produzem sucos digestivos que auxiliam a digestão no ID. • Intestino Delgado - Local onde ocorre a absorção dos alimentos (presença de microvilosidades e vilosidades que aumentam a área de absorção) • Duodeno - Local onde ocorre a quilificação. • Intestino Grosso - Absorção de água e produção do bolo fecal. • Ânus - Elimina o bolo fecal para o meio externo. SISTEMA DIGESTÓRIO - Constituição X Funções Funções gerais do aparelho digestivo a) Armazenamento do alimento por um período de tempo; b) Preparação do alimento para absorção (digestão) Ação mecânica: mastigação e contrações musculares do TGI Ação química: HCl no estômago, bilis no ID Ação enzimática: através de enzimas produzidas no TGI ou microrganismos do trato c) Absorção dos nutrientes: inclui diversos processos que permitem que pequenas moléculas atravessem as membranas do TGI para alcançar o sistema sanguíneo linfático. - Absorção dos nutrientes ocorre principalmente no ID. Vitaminas, aas, glicose, sais minerais- absorvidos através das vilosidades do intestino. - As enzimas digestivas são específicas, ou seja, cada enzima só atua sobre um tipo de substância. ( Proteína-Pepsina; Lipídios- Lípase) H2O: pode ser absorvida ou excretada em qualquer segmento do ID e IG. Digestão no estômago: - Após a mastigação e a deglutição, o bolo alimentar passa p/ faringe e esôfago, atingindo o estômago, órgão que produz o suco gástrico. - Suco gástrico: HCl, pepsina e renina. - A secreção do suco gástrico é regulada por hormônios: • Gastrina: estimula a produção de suco gástrico. • Enterogastrona: inibe a produção do suco gástrico. - Quimificação: Com a ajuda dos movimentos peristálticos o bolo alimentar mistura-se com o suco gástrico e essa pasta recebe o nome de quimo. Digestão no Intestino Delgado: ocorre devido a ação conjunta de 3 sucos digestivos: -Biliar -Pancreático -Entérico Suco Biliar (bílis): produzido pelo fígado, armazenado na vesícula biliar, com função de emulsificar gorduras Suco Pancreático: produzido pelo pâncreas, órgão anexo ao duodeno. Líquido incolor e rico em enzimas: Completa a digestão das proteínas, que teve início no estômago. Principais enzimas: tripsina, amilase e lipase. - A produção do suco pancreático é estimulada pela ação de 2 hormônios produzidos pela mucosa intestinal: • Secretina (quando chega o quimo no duodeno) • Colecistocinina (estimula a liberação da bile e do suco pancreático) " A presença de quimo no intestino faz com que seja liberado no sangue o hormônio enterogastrona → diminui os movimentos peristálticos estomacais, diminuindo assim a quantidade de quimo liberado no duodeno" . Suco Entérico (suco intestinal): produzido pela mucosa intestinal. Enzimas entéricas: - Enteroquinases → ativa tripsinogênio - Peptidases - Maltases - Lactases Quilificação: após a digestão dos sucos digestivos, o bolo alimentar transforma-se num líquido branco chamado quilo. Particularidade do processo digestivo nos eqüinos - A digestão nesses animais pode ser dividida em pré-cecal → intensa digestão enzimática; e pós-ileal → digestão é basicamente microbiana. - Preensão dos alimentos: utiliza principalmente o lábio superior e os dentes incisivos. - Secreção salivar apresenta enzima amilolítica muito pouco eficaz e praticamente sem tempo de atuar (pH = 7,6). A cada 10 kg MS ingerida → 50 kg de saliva. Digestão gástrica: - Estômago relativamente pequeno (12L; 9% volume total TGI) - A passagem de alimento é relativamente rápida → digestão gástrica pouco eficaz - Ocorre o início da digestão de proteínas (pepsina) e lipídeos (lipase) Digestão no ID: - Basicamente enzimática, não ocorrendo alteração com a fração fibrosa . - Digestão e absorção CNE Lipídeos Proteínas (10 a 100 vezes mais eficaz do que no IG) - Absorção de > parte de vitaminas e minerais Digestão no IG: - O bolo alimentar permanece por ≈ 24 h no IG - Ceco e cólon bastante desenvolvidos e funcionais - Microrganismos semelhantes ao rúmen (cólon menor n° que no ceco) a) Digestão de CHOS fibrosos: - No IG chegam apenas 30% dos CHOS solúveis e do amido da dieta (o restante são digeridos e absorvidos principalmente no ID. - Os CHOS fibrosos são digeridos no ceco, onde ocorre a formação de AGV. AGV Acético (± 70%) Propiônico (± 20%) Butírico (± 10%) ↓ celulose ↑ amido ↑ propiônico ↓ acético - Devido à digestão enzimática e absorção no ID dos CNE e aas, a qualidade da digesta que alcança o IG pode prejudicar a digestão microbiana, ↓ a eficiência de utilização da fibra. b) Digestão de alimentos nitrogenados: - No IG, a microflora utiliza parte do N disponível p/ elaborar sua própria proteína - Equinos não utilizam a proteína microbiana, pois sua produção ocorre no IG....e absorção seria no ID!!!! - Compostos nitrogenados não protéicos (uréia) não podem ser fornecidos p/ equinos, porque são hidrolisados e absorvidos antes de alcançarem o IG, provocando intoxicação pela amônia. c) Síntese de vitaminas: - No ceco e cólon ocorre a síntese de vitaminas do complexo B e K , porém aproveitam ↓, pois a produção ocorre após o local de > absorção → ID. Particularidade do processo digestivo nos coelhos - Animais de ceco funcional. - Anatomicamente, apresentam estômago e ceco bastante desenvolvidos, bem adaptados à digestão de forragens e cereais. - Coelho adulto alimenta-se de 20 a 40 vezes ao dia (necessário para a manutenção de um trânsito eficiente da digesta). - Amilase salivar com alta atividade. - O trato digestivo é capaz de excretar rápida e seletivamente a fibra dietética, retendo as frações solúveis e partículas pequenas no ceco. - Outra particularidade desta espécie → a dualidade da excreção fecal → capacidade de produzir e reingerir parte do material fecal → fezes moles ou cecotrofos → coprofagia ou cecotrofia → melhor aproveitamento alimentos vegetais - A composição das fezes duras e cecotrofos são influenciadas pela dieta. Em dietas com ↓ teor de fibra, a cecotrofia é ↓, em função da baixa motilidade intestinal e maior tempo de retenção cecal. - Após a separação de partículas no ceco, o material cecal permanece durante algumas horas → microrganismos promove fermentação com e incorporação de nutrientes como proteínas, vitaminas do complexo B e K, bem como AGV. - As fezes duras são constituídas pelas partículas maiores. Digestibilidade da parede celular vegetal em algumas espécies animais. ESPÉCIE LOCAL DE DIGESTÃO % DE DIGESTÃO Ruminante Rúmen - Ceco 50 - 90 Equinos Ceco - Cólon 34 - 40 Coelhos Ceco 16 – 18 Cobaias Ceco 34 - 40 Fonte: Ferreira et al. (Fundamentos da Nutrição de Coelhos) Suínos Anatomia do trato gastro-intestinal Arcuri, 2005 Cavidade oral, faringe e esôfago • Cavidade oral longa, que varia com a raça • Lábio inferiore língua finos e longos, que levam o alimento à boca • Glândulas salivares – Principais: parótica, mandibulares e sublinguais – Secretam muco, água e α-amilase • Faringe longa (até segunda vértebra cervical) • Esôfago reto e fino Estômago Região esofágica Extensão do esôfago Aglandular Região cárdica 1/3 do estômago Secreta muco, proteases e lipases Região gástrica própria 1/3 do estômago Secreção de HCl Região pilórica Intestino delgado • Longo • 16 a 21 metros no adulto – 4-5% duodeno – 80-91% jejuno – 4-5% íleo • Digestão e absorção de nutrientes como nos cães Intestino Grosso • Ceco curto e cólon longo • 3,5 a 6m no total • Ocorre a fermentação bacteriana nutrientes que não foram absorvidos no ID • Fermetação de fibras – produção de AGVs – absorção e uso no intestino, fígado e tecidos adjacentes • Absorção de água e eletrólitos Aves Cavidade oral • Bico córneo e boca • Bico: formas variáveis, de acordo com o hábito alimentar • Não há dentes • Apreensão e deglutição, não ocorre mastigação • Língua: estrutura rígida, cornificada, com poucas papilas gustativas • Glândulas salivares bem desenvolvidas em espécies que ingerem alimentos secos – pardal – amilase salivar Papo • Também chamado de inglúvio • Armazena e umidece alimentos • Ausente em algumas espécies (aves insetívoras e corujas • Varia de um simples alargamento até uma bolsa(galinha), ou até duas bolsas (pombo) Proventrículo • Órgão pequeno • Alimento passa rapidamente • Secreção de fluidos gástricos • HCl • Pepsina • Não há movimentos p/ mistura do bolo alimentar Ventrículo ou moela • Estômago muscular • Órgão mecânico p/ triturar e misturar os alimentos com o suco gástrico • Mais desenvolvido em espécies que ingerem grãos • As aves podem ingerir partículas como pedras e areia, que na moela ajudam a triturar o alimento e ↑ o seu aproveitamento Intestino delgado • Duodeno semelhante aos mamíferos, não há distinção histológica entre jejuno e íleo • Comprimento depende do hábito alimentar da ave – Carnívora – curto – Herbívora – mais longa • Secreção de enzimas digestivas intestinais, pancreáticas e hepáticas • Vilosidades mais altas, delgadas e numerosas do que nos mamíferos • Absorção de nutrientes no íleo Intestino grosso • O intestino grosso desses animais é curto e termina na cloaca, onde também são lançados os ductos do sistema excretor e reprodutor. • Cloaca: estrutura que elimina os produtos da digestão e da excreção urinária Peixes Os peixes apresentam múltiplas variações da estrutura básica do trato gastrintestinal, geralmente correlacionadas ao tipo de alimento consumido e ao ambiente, e podem influenciar a presença, posição, formato e tamanho de um órgão em particular. A maioria dos peixes é pouco especializada nos seus hábitos alimentares, isto é, são generalistas, uma condição necessária p/ ingerir, digerir e absorver os ≠s tipos de alimentos, explorando uma grande diversidade de itens alimentares disponíveis, naturais ou industrializados. Durante o desenvolvimento larval dos peixes, tanto nas espécies herbívoras como nas carnívoras, passam por uma mudança no hábito alimentar, que inicialmente é planctônico, alimentando-se primeiramente de fitoplâncton, depois de zooplâncton e, posteriormente, se especializando na ingestão de organismos animais ou vegetais. • Os peixes podem ser divididos, de acordo com o tipo de alimento consumido: • Os herbívoros ingerem itens de origem vegetal (ex.: piava, piau, piavuçu, pacu-peva; • Os onívoros se alimentam de itens de origem animal e vegetal. (ex.: lambari, piraputanga, pacu, tambaqui, tambacu, tilápia, tuvira); • Os carnívoros ingerem sobretudo itens de origem animal (ex.: tucunaré, dourado, pintado, salmão, cachorra, piranha, traíra). • Os peixes que se alimentam de plâncton, lama ou detritos não podem ser facilmente classificados como herbívoros ou carnívoros, sendo classificados como planctófagos (ex.:tamboatá), iliófagos ou detritívoros (ex.: curimbatá, acari).