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literatura infantil e infancia um panorama historico da producao literaria voltada para criancas

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CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE 
FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI – FACECAP 
 
- PEDAGOGIA - 
 
 
 
 
 
LITERATURA INFANTIL E INFÂNCIA: UM PANORAMA 
HISTÓRICO DA PRODUÇÃO LITERÁRIA VOLTADA PARA 
CRIANÇAS 
 
 
 
TAMIRIS APARECIDA CADONI GIOLLO 
 
 
 
 
 
Capivari, São Paulo 
2012 
 
 
CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE 
FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI – FACECAP 
 
- PEDAGOGIA - 
 
 
 
LITERATURA INFANTIL E INFÂNCIA: UM PANORAMA 
HISTÓRICO DA PRODUÇÃO LITERÁRIA VOLTADA PARA 
CRIANÇAS 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Curso de Pedagogia da FACECAP/CNEC 
Capivari para obtenção do título de Pedagogo. 
Orientador: Profº. Dr. Carlos Eduardo de Oliveira 
Klebis. 
 
 
 
TAMIRIS APARECIDA CADONI GIOLLO 
 
 
 
 
Capivari, São Paulo 
2012 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 Primeiramente agradeço a Deus, que me deu sabedoria e força para continuar a buscar 
o meu sonho e nunca desistir. 
 Agradeço aos meus pais, Maura e Geraldo, que sempre estiveram ao meu lado, nas 
minhas horas de desespero e angústias. Muito obrigada por todo o carinho, amor e dedicação 
que vocês sempre me deram. Amo vocês! 
 As amigas que conquistei ao longo desses três anos de graduação, que sempre ficaram 
ao meu lado, rindo, trocando confidências, jogando conversa fora, mas que se tornaram 
pessoas muito especiais na minha vida e jamais vou me esquecer de vocês, Amanda, Janaina 
M. e Bianca P. Muito obrigada meninas! 
Não posso deixar de agradecer a minha querida amiga, ex-professora de Geografia, 
Bethânia Alves de Menezes, que mesmo ocupada com suas aulas e sua vida particular, me 
atendeu, me escutou e me auxiliou no andamento dessa monografia. Muito obrigada Bê! 
Um agradecimento especial ao meu orientador, professor Carlos Eduardo de Oliveira 
Klebis, pela sua contribuição para o andamento do trabalho, e principalmente, pela sua 
enorme paciência comigo. Muito obrigada Edu! 
 Enfim, agradeço a todas as pessoas que ouviram as minhas dificuldades quanto à 
elaboração do trabalho monográfico, que me apoiaram quando eu precisei (sempre!) e ficaram 
ao meu lado: Obrigada!! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Todas as vidas dos homens são contos de fadas escritos pelas mãos de Deus.” 
 
Hans Christian Andersen 
 
 
 
GIOLLO, Tamiris Aparecida Cadoni. Literatura Infantil e infância: um panorama histórico 
da produção literária voltada para crianças. Projeto de Pesquisa de Monografia de 
Conclusão de Curso. Curso de Pedagogia. Faculdade Cenecista de Capivari – CNEC. 41 p. 
2012. 
 
 
RESUMO 
 
Este trabalho apresenta um breve histórico da Literatura Infantil Européia e Brasileira através 
dos séculos, analisa o conceito de infância construído durante esse tempo para compreender 
como a Literatura contribuiu/contribui para o desenvolvimento e educação das crianças e por 
fim, analisa alguns dos clássicos contos de fadas, na intenção de entender como a Literatura 
Infantil influencia a criança com suas narrativas. Será apresentada a biografia de dois dos 
principais autores brasileiros, a fim de valorizar os autores de nosso país. Também veremos 
como a literatura para crianças se desenvolve na escola, analisando também a sua importância 
no ambiente escolar. 
 
Palavras-chave: 1. Literatura Infantil Europeia. 2. Literatura Infantil Brasileira. 3. Infância. 
4. Análise de Contos de Fada. 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 08 
1. Breve Histórico da Literatura Infantil na Europa .................................................... 10 
 1.1 – Surgimento da Literatura Infantil na Europa ..................................................... 10 
 1.2 – A Literatura Infantil durante a Industrialização ................................................. 13 
 1.3 – A concepção e a representação da infância ........................................................ 16 
2. Breve Histórico da Literatura Infantil Brasileira ..................................................... 20 
 2.1 – O início da Literatura Infantil no Brasil ............................................................. 20 
 2.2 – Monteiro Lobato e Ziraldo: grandes escritores infantis de épocas distintas ...... 24 
 2.3 – A Literatura Infantil na Escola ........................................................................... 28 
3. As Análises dos Contos de Fadas Segundo a Psicologia ........................................ 32 
 3.1 – Breve Biografia de Charles Perrault ................................................................... 32 
 3.2 – Análise do conto “Pele de Asno” ....................................................................... 33 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 38 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 40 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Este trabalho de pesquisa busca estudar o histórico da Literatura Infantil na Europa e 
no Brasil, analisar os conceitos de infância ao longo do tempo, para poder compreender como 
a Literatura Infantil contribui para o desenvolvimento da criança, apresentar os autores 
brasileiros e suas obras, mostrar a importância da Literatura Infantil no ambiente escolar e 
analisar o conto de fadas “Pele de Asno” escrito por Charles Perrault. 
 Para o desenvolvimento deste trabalho, foram realizadas pesquisas bibliográficas com 
diversos autores que tratam do assunto, que abordaram a Literatura Infantil, as concepções de 
infância e os Contos de Fadas, para apresentarmos o histórico da Literatura para crianças na 
Europa entre os séculos IX e XVIII, e o seu surgimento no Brasil, como o conceito de 
infância também mudou durante esse tempo, e a importância dos Contos de Fadas para o 
desenvolvimento da criança na educação infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental. 
 A autora Barbara Vasconcelos de Carvalho escreve como a literatura é importante no 
desenvolvimento infantil: 
 
A Literatura é, sem dúvida, a forma de recreação mais importante na vida da 
criança: por manipular a linguagem verbal, pelo papel que desempenha no 
crescimento psicológico, intelectual e espiritual da criança; pela riqueza de 
motivações, de sugestões e de recursos que oferece. Ouvindo estórias, dizendo um 
poema, lendo, dramatizando um texto, realizando um jogral ou um coro falado, 
encenando uma peça de teatro, de todas essas maneiras a criança, desde os 3 anos, 
está divertindo-se, enriquecendo a sua linguagem e a sua bagagem cultural, 
ajustando-se ao seu mundo afetivo, através de símbolos (respostas a suas tensões) e 
liberando seus impulsos. E todas essas modalidades são formas de Literatura. 
(CARVALHO, 1983, p. 176-177). 
 
 A Literatura Infantil surge entre os séculos IX e X na Europa, com narrações orais 
pelos povos. Essas histórias eram sobre vivências do cotidiano das pessoas, que foram sendo 
transmitidas para outros povos, se modificando de acordo com a sociedade e a época. 
 Somente no século XVII é que se inicia uma preocupação com uma literatura para 
crianças. Começou a produção da escrita de livros com histórias adaptadas pelos escritores, 
que mais tarde, se tornaram sinônimo de Literatura Infantil: La Fontaine, Fénelon,Charles 
Perrault, Grimm e Andersen. 
 A concepção de infância foi se modificando conforme os anos passaram, de acordo 
com cada sociedade da época; as crianças constroem o seu conhecimento interagindo com 
outras pessoas, com o meio em que vivem. O conhecimento se constitui de um intenso 
trabalho de criação, significação e ressignificação. (BRASIL, 1998, p. 21 - 22). 
9 
 
 A Literatura Infantil surge no Brasil no fim do século XIX por causa da rápida 
urbanização do país, aumentando o número dos empregados, ampliando o quadro de 
funcionários públicos e o movimento dos portos. Com isso, a população das cidades aumenta, 
e se inicia a literatura voltada às crianças. 
 Nesse trabalho, é apresentada uma biografia breve de dois autores de histórias infantis 
do Brasil: Monteiro Lobato e Ziraldo, apresentando a grande importância que ambos tem na 
constituição da Literatura Infantil brasileira. 
 Em seguida, discutimos sobre as primeiras obras indicadas ao público infantil que 
eram escritas por pedagogos e professores, com o intuito de educar os alunos. Contudo, a 
autora Coelho (2010) diz que devemos valorizar a relação da escola e da leitura, pois a 
unidade escolar é um espaço privilegiado, onde o indivíduo faz uma leitura de mundo de 
várias formas, constrói sua consciência e seu conhecimento. 
 No terceiro capítulo é apresentada ao leitor uma breve biografia de Charles Perrault, 
que escreveu o conto “Pele de Asno”, conto este analisado a partir de duas obras que tratam 
do assunto: Fadas no Divã, de Diana L. Corso e Mário Corso, e Análise dos Contos de Fadas, 
de Bruno Bettelheim. 
 
 
 
10 
 
1. Breve Histórico da Literatura Infantil na Europa 
 
 Este primeiro capítulo apresenta um breve histórico sobre o início da Literatura 
Infantil na Europa, destacando como a industrialização promove a produção de livros infantis 
no século XVIII. 
Foram utilizadas obras de Marisa Lajolo, Regina Zilberman, Lígia Cademartori 
Magalhães, Philippe Ariès, Nelly Novaes Coelho e Barbara Vasconcelos de Carvalho, além 
do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e Parâmetros Nacionais de 
qualidade para a educação infantil. 
 
1.1 – Surgimento da Literatura Infantil na Europa 
 
Durante a Idade Média em terras européias, surge uma literatura narrativa de duas 
fontes diferentes: uma popular, que deriva de narrações orientais ou gregas, e a outra, a 
narrativa culta, que se origina através de aventuras de cavalarias com inspiração ocidental 
(COELHO, 1991, p. 30). 
 
Nestas, é realçado um idealismo extremo e um mundo de magia e de maravilhas 
completamente estranhas à vida real e concreta do dia-a-dia. Naquela, afirmam-se os 
problemas da vida cotidiana, os valores de comportamento ético-social ou as 
“lições” advindas da sabedoria prática. (COELHO, 1991, p. 30). 
 
 Entre os séculos IX e X, se inicia oralmente na Europa a circulação de literatura 
popular, que séculos mais tarde iria se tornar a Literatura Infantil que hoje conhecemos 
(COELHO, 1991, p. 30). 
 Oralmente, as histórias foram transmitidas e levadas a outros povos; essas histórias 
eram sobre as suas vivências, divulgando ideais, buscando sempre ensinar e divertir. Nelly 
Novaes Coelho (1991) escreve que: 
 
Através dos manuscritos ou das narrativas transmitidas oralmente e levadas de uma 
terra para outra, de um povo a outro, por sobre distâncias incríveis, que os homens 
venciam em montarias, navegações ou a pé, - a invenção literária de uns e de outros 
vai sendo comunicada, divulgada, fundida, alterada... Com a força da religião, como 
instrumento civilizador, é de se compreender o caráter moralizante, didático, 
sentencioso que marca a maior parte da literatura que nasce nesse período, fundindo 
o lastro oriental e o ocidental. No fundo é sempre uma literatura que divulga ideais, 
que busca ensinar, divertindo, no momento em que a palavra literária (privilégio de 
poucos e difundida pelos jograis, menestréis, rapsodos, trovadores...) era vista como 
11 
 
atividade superior do espírito: a atividade de um homem que tinha o Conhecimento 
das Coisas. (COELHO, 1991, p. 33). 
 
 Por causa da guerra permanente entre os povos naquela época, as marcas dessa 
violência ficaram sinalizadas em várias narrativas. Ela vai desaparecendo dos contos 
conforme o tempo e de acordo com os costumes da sociedade. As histórias também variam de 
acordo com o autor, de acordo com a versão: “ao passarem da versão de Perrault para a de 
Grimm e deste para as versões contemporâneas. Hoje, transformados em literatura infantil, 
perderam toda a agressividade original.” (COELHO, 1991, p. 34). 
 Coelho diz que até o século XVII, as histórias foram se cristalizando, se modificando 
na voz do povo europeu, se tornando o folclore das nações. Ela também cita alguns dos 
personagens que compunham as narrativas que os escritores foram descrevendo em seus 
livros: 
 
Cavaleiros andantes, reis, rainhas, princesas e príncipes bons e maus, fadas, bruxas, 
metamorfoses de criaturas humanas em animais (ou vice-versa), ogres e ogressas 
canibalescos, maldições, profecias, madrastas, crianças abandonadas, crianças que 
são entregues a alguém para serem mortas, fantasmas e magos, gênios benfazejos e 
malfazejos... é a fantástica legião de personagens que a partir do século XVII os 
escritores cultos vão descobrir na tradição oral dos povos europeus e criar a 
Literatura Infantil que hoje conhecemos como “tradicional” [...] (COELHO, 1991, p. 
66). 
 
No século XVII, durante o Classicismo Francês, na monarquia de Luís XIV, se inicia a 
manifestação de uma preocupação com uma literatura para jovens e crianças (COELHO, 
1991, p. 75). Foram escritas histórias que eram direcionadas ao público infantil; elas foram 
editadas entre 1668 e 1697, como as Fábulas de La Fontaine, As Aventuras de Telêmaco, de 
Fénelon e os Contos da Mamãe Gansa (com título original de Histórias ou narrativas do 
tempo passado com moralidades) de Charles Perrault. 
Este livro de Perrault publicado em 1697 trouxe uma situação bastante curiosa: ele já 
era uma figura importante na França, mas escrever uma obra popular era algo que não poderia 
fazer. Por isso, Perrault atribui a autoria do livro ao seu filho Pierre Darmancourt. 
 
A recusa de Perrault em assinar a primeira edição do livro é sintomática do destino 
do gênero que inaugura: desde o aparecimento, ele terá dificuldades de legitimação. 
Para um membro da Academia Francesa, escrever uma obra popular representa fazer 
uma concessão a que ele não podia se permitir. Porém, como ocorrerá depois a 
tantos outros escritores, da dedicação à literatura infantil advirão prêmios 
recompensadores: prestígio comercial, renome e lugar na história literária. 
(LAJOLO e ZILBERMAN, 2010, p. 15 - 16). 
 
12 
 
Nelly Novaes Coelho (1991) quando cita os clássicos infantis de Perrault, La Fontaine, 
Grimm ou Andersen, afirma que esses nomes não são os verdadeiros autores das narrativas: 
 
Quando hoje falamos nos livros consagrados como clássicos infantis, os contos-de-
fada ou contos maravilhosos de Perrault, Grimm ou Andersen, ou as fábulas de La 
Fontaine, praticamente esquecemos (ou ignoramos) que esses nomes não 
correspondem aos dos verdadeiros autores de tais narrativas. São eles alguns dos 
escritores que, desde o século XVII, interessados na literatura folclórica criada pelo 
povo de seus respectivos países, reuniram as estórias anônimas, que há séculos 
vinham sendo transmitidas, oralmente, de geração para geração, e as transcreveram 
por escrito. (COELHO, 1991, p. 12). 
 
De acordo com Coelho (1991), estudiosos vem tentando descobrir como essa 
Literatura Popular chegou atéos dias de hoje. Eles levantaram hipóteses, como a de memórias 
privilegiadas dos contadores de estórias, e documentos que foram encontrados em diferentes 
regiões e escritos de vários modos: pedras, argila, pergaminho, ou em grossos livros 
manuscritos guardados com correntes e cadeados. 
 A Literatura Infantil, segundo Coelho (1991), valoriza a imaginação e a fantasia, e foi 
construída a partir de narrativas orais transmitidas pelo povo. Essas histórias foram escritas 
em livros e receberam os nomes de seus recriadores, se expandindo através dos anos pelo 
mundo. 
 A autora Barbara Vasconcelos de Carvalho, em seu livro A Literatura Infantil Visão 
Histórica e Crítica (1983), fala sobre como a Literatura enriquece o imaginário infantil: 
 
A criança é criativa e precisa de matéria-prima sadia, e com beleza, para organizar 
seu “mundo mágico”, seu universo possível, onde ela é dona absoluta: constrói e 
destrói. Constrói e cria, realizando-se e realizando tudo o que ela deseja. A 
imaginação bem motivada é uma fonte de libertação, com riqueza. [...] A Literatura 
Infantil, enriquecendo a imaginação da criança, vai oferecer-lhe condições de 
liberação sadia, ensinando-lhe a libertar-se pelo espírito: levando-a a usar o 
raciocínio e a cultivar a liberdade. (CARVALHO, 1983, p. 20 – 21). 
 
 Segundo Marisa Lajolo e Regina Zilberman (2010), Charles Perrault foi responsável 
pelo surto de Literatura Infantil, determinando a incorporação dos textos de La Fontaine e 
Fénelon. Seu livro trouxe uma preferência extraordinária pelo conto de fadas, que era até 
aquele momento transmitido oralmente pela população. 
 
Perrault não é responsável apenas pelo primeiro surto de literatura infantil, cujo 
impulso inicial determina, retroativamente, a incorporação dos textos citados de La 
Fontaine e Fénelon. Seu livro provoca também uma preferência inaudita pelo conto 
de fadas, literarizando uma produção até aquele momento de natureza popular e 
circulação oral, adotada doravante como principal literatura infantil. (LAJOLO e 
ZILBERMAN, 2010, p. 16). 
13 
 
 
O desenvolvimento da Literatura Infantil não ocorreu somente na França; a Inglaterra 
se expandiu na associação a acontecimentos de fundo econômico e social. 
 
 
1.2 – A Literatura Infantil durante a Industrialização 
 
A Inglaterra era o país com maior potência marítima (sendo a marinha mais respeitada 
da época) e comercial, e por possuir a matéria-prima necessária, vai para a industrialização 
contando com um mercado consumidor em expansão na Europa e no Novo Mundo. 
Pela industrialização a sociedade cresceu, se modernizou com as tecnologias 
disponíveis, e a Literatura Infantil assumiu a condição de mercadoria desde o seu início. 
Lajolo e Zilberman explicam que: 
 
No século XVIII, aperfeiçoa-se a tipografia e expande-se a produção de livros, 
facultando a proliferação dos gêneros literários que, com ela, se adequam à situação 
recente. Por outro lado, porque a literatura infantil trabalha sobre a língua escrita, ela 
depende da capacidade de leitura das crianças, ou seja, supõe terem estas passado 
pelo crivo da escola. (LAJOLO e ZILBERMAN, 2010, p. 18). 
 
As primeiras publicações direcionadas ao público infantil surgiram na primeira metade 
do século XVIII, quando ocorreu a Industrialização, classificada como revolucionária, pois 
houve atividades renovadoras nos quadros: econômico, social, político e ideológico da época 
(LAJOLO e ZILBERMAN, 2010, p. 16). 
Regina Zilberman e Ligia Cademartori Magalhães também comentam sobre esse 
período em seu livro Literatura Infantil: Autoritarismo e Emancipação: “Além disto, o 
progresso das técnicas de industrialização atingiu a arte literária, gerando produções em série 
de fácil distribuição e consumo, o que foi posteriormente designado como cultura de massas” 
(ZILBERMAN e MAGALHÃES, 1987, p. 3). 
Neste contexto surge a Literatura Infantil, com características próprias como a 
promoção da burguesia, a nova condição de infância na sociedade e a escola. As histórias 
elaboradas para crianças foram associadas a instrumentos de ensino para a pedagogia. 
Zilberman e Magalhães afirmam que “por tal razão, careceu de imediato de um estatuto 
artístico, sendo-lhe negado a partir de então um reconhecimento em termos de valor estético, 
14 
 
isto é, a oportunidade de fazer parte do reduto seleto da literatura.” (ZILBERMAN e 
MAGALHÃES, 1987, p. 3-4). 
 Motivou a sua identificação com a cultura de massas, sendo feito um 
redimensionamento necessário para a verificação das características do gênero, o exame de 
suas relações com a pedagogia e a aproximação da literatura com a arte. 
A produção artesanal aumentou com o aparecimento de tecnologias e invenções 
inovadoras. As fábricas se localizavam nos centros urbanos, e atraíram trabalhadores rurais, 
que procuravam melhores oportunidades na cidade, aumentando o número de pessoas e o 
desemprego também. 
Com o crescimento político e financeiro das cidades, a urbanização ocorre de forma 
desigual: de um lado as pessoas que vieram do campo para a cidade, o proletariado; do outro, 
no perímetro urbano, os que financiam com o capital do comércio ou da exploração marítima, 
as plantas industriais, a burguesia. 
A burguesia se torna classe social, e incentiva instituições que trabalhem ao seu favor 
para ajudá-la a atingir suas metas. 
A família é a primeira instituição: ela depende algumas vezes da interferência do 
Estado absolutista, que estimula um modo de vida doméstico, sem participação pública. É 
visto como padrão para ser imitado por todos os outros. 
 
A manutenção de um estereótipo familiar, que se estabiliza através da divisão do 
trabalho entre seus membros (ao pai, cabendo a sustentação econômica, e à mãe, a 
gerência da vida doméstica privada), converte-se na finalidade existencial do 
indivíduo. Contudo, para legitimá-la, ainda foi necessário promover, em primeiro 
lugar, o beneficiário maior desse esforço conjunto: a criança. (LAJOLO e 
ZILBERMAN, 2010, p. 17). 
 
 A criança passa a ter um novo papel, motivando o surgimento de objetos industriais (o 
brinquedo) e culturais (o livro), e o aparecimento da psicologia infantil, pediatria e pedagogia. 
Lajolo e Zilberman (2010) explicam que a função da criança é simbólica, pois ela passa a ser 
o alvo da atenção e interesse dos adultos, ressaltando de modo negativo, virtudes como a 
fragilidade, a desproteção e a dependência no adulto. 
 A escola é a segunda instituição que colabora com a solidificação política e ideológica 
da burguesia, sendo primeiramente facultativa e dispensável até o século XVIII, vai sendo 
incluída na vida das crianças, e como destino natural, a frequência na sala de aula. 
 
Como a família, a escola se qualifica como espaço de mediação entre a criança e a 
sociedade, o que mostra a complementaridade entre essas instituições e a 
15 
 
neutralização do conflito possível entre elas [...] a escola incorpora ainda outros 
papéis, que contribuem para reforçar sua importância, tornando-a, a partir de então, 
imprescindível no quadro da vida social. (LAJOLO e ZILBERMAN, 2010, p. 17). 
 
A escola passa a ser então, obrigatória para todas as crianças de todas as classes 
sociais e não apenas da burguesia, diminuindo o número de operários mirins das fábricas.
 A literatura e a escola se unem para habilitar a criança a consumir as obras impressas. 
A literatura se torna intermediária entre a criança e a sociedade do consumismo, e auxilia a 
escola na promoção e estímulo da circulação dos livros. 
 Os livros, “tem características peculiares à produção industrial, a começar pelo fato de 
que todo livro é, de certa maneira, o modelo em miniatura de produçãoem série.” (LAJOLO e 
ZILBERMAN, 2010, p. 18). As autoras explicam que essas obras visam um mercado 
específico, e dependem da escolarização das crianças, adotando posturas pedagógicas para 
serem utilizados nas escolas. 
 Os livros de Literatura Infantil apresentam histórias de como o adulto quer que a 
criança veja o mundo; a ficção infantil traz com maior liberdade a imaginação, a fantasia, 
fazendo com que a criança passe as fronteiras do realismo. “E essa propriedade, levada às 
últimas consequências, permite a exposição de um mundo idealizado e melhor, embora a 
superioridade desenhada nem sempre seja renovadora ou emancipatória.” (LAJOLO e 
ZILBERMAN, 2010, p. 19). 
 Dessa forma, o escritor adulto transmite ao seu leitor mirim, uma realidade histórica, 
buscando aceitação afetiva e intelectual da criança. A Literatura Infantil equilibra a reunião do 
texto do universo afetivo e emocional da criança. 
 
Por intermédio desse recurso, traduz para o leitor a realidade dele, mesmo a mais 
íntima, fazendo uso de uma simbologia que, se exige, para efeitos de análise, a 
atitude decifradora do intérprete, é assimilada pela sensibilidade da criança. 
(LAJOLO e ZILBERMAN, 2010, p. 20). 
 
 Do grande número de obras infantis publicadas no século XVIII, poucas 
permaneceram, porém, o sucesso dos contos de fadas de Perrault, e as adaptações de 
aventuras de Daniel Defoe e Jonathan Swift, asseguraram a regularidade na criação e 
consumo das obras para crianças (LAJOLO e ZILBERMAN, 2010, p. 20). 
 O século XIX se inicia com o sucesso da coleção de contos de fadas dos Irmãos 
Grimm (1812), que se tornam sinônimo de literatura para crianças; a partir deles ficam 
definido quais tipos de histórias mais agradam os pequenos. Lajolo e Zilberman (2010) citam 
alguns exemplos de histórias: a fantasia, em Contos (1833) escrito por Hans Christian 
16 
 
Andersen, Alice no país das maravilhas (1863) de Lewis Carroll, Pinóquio (1883) de Collodi 
e Peter Pan (1911) de James Barrie; histórias de aventura como A ilha do tesouro (1882) de 
Robert Louis Stevenson; e a apresentação do cotidiano infantil, como em As meninas 
exemplares (1857) de Condessa de Ségur e Coração (1886) escrito por Edmond de Amicis. 
 Esses autores são da segunda metade do século XIX, e confirmam a Literatura Infantil 
como uma “parcela significativa da produção literária da sociedade burguesa e capitalista” 
(LAJOLO e ZILBERMAN, 2010, p. 21), dando ao gênero um perfil definido que garantiu a 
sua continuação e atração. 
 
 
1.3 – A concepção e a representação da infância 
 
O Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil (1998, p. 21) traz uma 
concepção de infância como uma noção historicamente construída, que muda ao longo do 
tempo, e não se apresenta homogeneamente nem mesmo no interior de uma mesma sociedade 
e mesma época. 
Segundo Philippe Ariès, o conceito de infância foi sendo construído conforme a 
mudança dos tempos. Até o século XII, as crianças não eram retratadas na arte medieval como 
crianças; elas eram pintadas como adultos em miniaturas. Philippe Ariès escreve que “é difícil 
crer que essa ausência se devesse à incompetência ou à falta de habilidade. É mais provável 
que não houvesse lugar para a infância nesse mundo.” (ARIÈS, 2006, p. 17). 
O Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil (1998), explica que: 
 
A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma 
organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada 
cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo 
meio social em que se desenvolve, mas também o marca. A criança tem na família, 
biológica ou não, um ponto de referência fundamental, apesar da multiplicidade de 
interações sociais que estabelece com outras instituições sociais. (BRASIL, 1998, p. 
21). 
 
Os pintores representavam as crianças sem nenhuma característica da infância, elas 
foram reproduzidas como adultos, mas numa escala menor, sem diferença nos traços ou 
expressão. Os quadros eram pintados em sua maioria, com temas cristãos: Jesus com os 
apóstolos ou homens em miniatura, São Nicolau, São Luís de Leyde: 
 
17 
 
O pintor não hesitava em dar à nudez das crianças, nos raríssimos casos em que era 
exposta, a musculatura do adulto: assim, no livro de salmos de São Luís de Leyde, 
datado do fim do século XII ou do início do XIII, Ismael, pouco depois de seu 
nascimento, tem os músculos abdominais e peitorais de um homem. Embora 
exibisse mais sentimento ao retratar a infância, o século XIII continuou fiel a esse 
procedimento. Na Bíblia moralizada de São Luís, as crianças são representadas com 
maior frequência, mas nem sempre são caracterizadas por algo além de seu tamanho. 
(ARIÈS, 2006, p. 17). 
 
Só a partir do século XIII as crianças começaram a ser representadas iconicamente, 
mais próximas do real. Surgiu então, a figura de anjos, representados como rapazes jovens, 
com traços delicados de crianças que acabaram de sair da infância: “Esse tipo de anjos 
adolescentes se tornaria muito frequente no século XIV e persistiria ainda até o fim do 
quattrocento italiano: são exemplos os anjos de Fra Angelico, de Botticelli e de Ghirlandajo.” 
(ARIÈS, 2006, p. 19). 
 Existe também um segundo tipo de representação de criança que seria modelo para a 
história da arte: o Menino Jesus. No início, ele também era um adulto em miniatura, porém 
aos poucos foi sendo representado como uma criança. 
 Até o século XII, as características da infância não aparecem somente nas imagens, os 
trajes também são de adultos pequenos. Ariès diz que “assim que a criança deixava os cueiros, 
ou seja, a faixa de tecido que era enrolada em torno de seu corpo, ela era vestida como os 
outros homens e mulheres de sua condição.” (ARIÈS, 2006, p. 32). O autor compara duas 
épocas distintas: de 1900 a 1920, as roupas que vestiam as crianças eram prorrogadas até o 
início da adolescência; na Idade Média, vestia todas as fases de uma mesma forma, sem 
distinção alguma, com a preocupação de manter visível a hierarquia social. 
 A partir do século XVII as crianças de famílias nobres começaram a ter trajes próprios 
para a sua idade, porém as crianças do povo, filhos de camponeses continuaram a usar o 
mesmo estilo de roupas dos adultos. 
 A infância naquela época era diferente, o sentimento de infância não existia. Assim 
que a criança conseguisse viver sem a ajuda da família, ela era inserida na realidade adulta: 
trabalho, casamento. 
 
O sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: 
corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que 
distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não 
existia. Por essa razão, assim que a criança tinha condições sem a solicitude 
constante de sua mãe ou de sua ama, ela ingressava na sociedade dos adultos e não 
se extinguia mais destes. (ARIÈS, 2006, p. 99). 
 
18 
 
Ariès (2006) explica que então, surge um novo sentimento chamado “paparicação”, 
onde a criança, ingênua, gentil e graciosa, se torna uma fonte de distração e relaxamento do 
adulto, originalmente, as mães ou amas. 
 A criança começa a ser tratada como criança a partir do século XVII, quando houve a 
criação das primeiras escolas, e na segunda metade do século XVIII, com a Revolução 
Industrial e a ascensão da burguesia, ela toma seu lugar na família e na sociedade 
(CARVALHO, 1983, p. 86). 
 A autora Barbara Vasconcelos de Carvalho, explica que nos séculos XVII e XVIII, as 
escolas faziam distinção de idade, e também a discriminação da criança pobre e rica, 
dividindo a escola e seu ensino em duas classes:“[...] ensino para o povo e ensino para a 
burguesia e aristocracia, para formar o pequeno-burguês, que tão bem floresceu na França, e o 
gentleman, que assinala o clímax da burguesia, no século XIX.” (CARVALHO, 1983, p. 88). 
Carvalho (1983), afirma que: “a criança exige um tratamento especial, específico e 
adequado; se isso não acontece, estaremos diante de miniaturas humanas, numa flagrante 
deformação psicológica.” (CARVALHO, 1983, p. 75). 
A autora cita a importância de Rousseau quando ele reconhece a criança como criança 
no século XVIII: 
 
O século XVIII reconheceu a individualidade da criança graças a Rousseau, que não 
viu o homem na criança, mas “o que ela é antes de ser homem”, pois “a Natureza 
quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens”. A filosofia de 
Rousseau, do “retorno à Natureza”, tem por fim a criação de uma sociedade ideal. 
(CARVALHO, 1983, p. 88). 
 
Marisa Lajolo e Regina Zilberman (2010) explicam que durante o século XVIII, a 
preservação da infância, sua efetivação só poderia ocorrer no espaço restrito da família. Com 
a Revolução Industrial, a criança passa a ser consumidora dos produtos comercializados: 
 
A criança passa a deter um novo papel na sociedade, motivando o aparecimento de 
objetos industrializados (o brinquedo) e culturais (o livro) ou novos ramos da ciência 
(a psicologia infantil, a pedagogia ou a pediatria) de que ela é destinatária. Todavia, 
a função que lhe cabe desempenhar é apenas de natureza simbólica, pois se trata 
antes de assumir uma imagem perante a sociedade, a de alvo de atenção e interesse 
dos adultos [...] (LAJOLO e ZILBERMAN, 2010, p. 17). 
 
Os Parâmetros Nacionais de qualidade para a educação infantil (2006) trazem uma 
ampla definição de criança: 
 
19 
 
Muitas vezes vista apenas como um ser que ainda não é adulto, ou é um adulto em 
miniatura, a criança é um ser humano único, completo e, ao mesmo tempo, em 
crescimento e em desenvolvimento. É um ser humano completo porque tem 
características necessárias para ser considerado como tal: constituição física, formas 
de agir, pensar e sentir. É um ser em crescimento porque seu corpo está 
continuamente aumentando em peso e altura. É um ser em desenvolvimento porque 
essas características estão em permanente transformação. (BRASIL, 2006, p. 14). 
 
 Esse trecho nos mostra que a criança está sempre em desenvolvimento físico, social e 
emocional. Essas modificações são constantes e quanto mais a criança se desenvolve, mais 
conhecimento ela apreende do mundo ao seu redor, através do contato com a Literatura 
buscando mais informações e descobrindo coisas novas com a ajuda da leitura. 
 
 
20 
 
2. Breve Histórico da Literatura Infantil Brasileira 
 
Neste segundo capítulo abordamos como a Literatura Infantil surge no Brasil, quais 
são suas características, as primeiras traduções européias, alguns dos autores mais 
consagrados no nosso país e como a Literatura Infantil está inserida na escola. 
 
2.1 – O início da Literatura Infantil no Brasil 
 
Se a Literatura Infantil na Europa se iniciou no final do século XVII, quando em 1697, 
Charles Perrault publicou seu livro Contos da Mamãe Gansa, a Literatura Infantil brasileira 
surge muito tempo depois, no fim do século XIX, quando começam a aparecer uma ou outra 
obra para crianças. 
Segundo Coelho (1991), durante a primeira metade do século XIX, em 1808, com a 
mudança da corte portuguesa para o Brasil, o país inicia uma caminhada rumo ao progresso 
econômico, independência política e a conquista da cultura para colocá-lo entre as nações 
civilizadas do Ocidente. D. João VI, para preparar a colônia brasileira para ser a nova sede de 
Portugal, fez tudo o que precisava ser feito em um tempo bastante curto; em 1822, o Príncipe 
Dom Pedro reage à decisão da nova Constituição Portuguesa, que pretendia fazer o Brasil 
voltar a ser colônia, e proclama a Independência se tornando Imperador do Brasil, com o 
título de D. Pedro I. 
Carvalho (1983) também comenta sobre a Família Real: “A chegada da Família Real, 
com a vinda de D. João VI para o Brasil, inaugura uma nova era, abrindo novos horizontes à 
educação e novas perspectivas à vida cultural do país.” (CARVALHO, 1983, p. 125). 
O ensino no Brasil estava muito necessitado, pois de acordo com Coelho (1991), 
 
O Brasil enfrentava ainda as consequências da supressão do ensino jesuíta, sem que 
outro sistema viesse substituí-lo, apesar de algumas tentativas isoladas, em 
diferentes pontos do país. Entre as primeiras medidas oficiais tomadas por D. João 
VI, estava a criação de Academias, Cursos, Escolas, etc., visando atender, com 
urgência, à formação de profissionais competentes em todos os setores da 
Sociedade. (COELHO, 1991, p. 203-204). 
 
O estudo e a cultura precisam de muito tempo para o povo apreender. Coelho (1991) 
afirma que a educação era o que mais preocupava os mentores do desenvolvimento do país. 
Depois da Abolição da Escravatura (1888) e da Proclamação da República (1889), o sistema 
escolar nacional incorpora a produção de literatura para crianças e jovens: 
21 
 
Simultaneamente ao aumento de traduções e adaptações de livros literários para o 
público infanto-juvenil, começa a se firmar, no Brasil, a consciência de que uma 
literatura própria, que valorizasse o nacional, se fazia urgente para a criança e para a 
juventude brasileiras. (COELHO, 1991, p. 204). 
 
Lajolo e Zilberman (2010) contam que após a implantação da Imprensa Régia em 
1808, a atividade editorial se inicia oficialmente no Brasil, e então, começam a publicar livros 
para crianças. Porém, as publicações eram escassas nessa época, não sendo possível a 
caracterização de produção literária para as crianças: 
 
[...] a tradução de As aventuras pasmosas do Barão de Munkausen e, em 1818, a 
coletânea de José Saturnino da Costa Pereira, Leitura para meninos, contendo uma 
coleção de histórias morais relativas aos defeitos ordinários às idades tenras, e um 
diálogo sobre geografia, cronologia, história de Portugal e história natural. Mas 
essas publicações eram esporádicas (a obra que se seguiu a elas só surgiu em 1848, 
outra edição das Aventuras do Barão de Münchhausen, agora com a chancela da 
Laemmert) e, portanto, insuficientes para caracterizar uma produção literária 
brasileira regular para a infância. (LAJOLO e ZILBERMAN, 2010, p. 23-24). 
 
 Carvalho (1983), diz que em 1811 foi instalada a primeira tipografia na Bahia, sendo 
possível a circulação de jornais; em 1831, em Salvador, surge o primeiro jornal infanto-
juvenil: “O Adolescente”. Assim, vai aparecendo em outros Estados como o Rio de Janeiro 
(1835), Maranhão (1845) e em São Paulo (1860), jornais dedicados à infância e juventude. 
 
É curioso observar-se, em todo o País, a importância atribuída à Imprensa infantil e 
juvenil, durante o período que antecede a Literatura específica da criança. Isso 
confirma o valor do jornal para os pequenos leitores, despertando-lhes o interesse 
pela informação, pela cultura, pelos acontecimentos que lhes dizem respeito, e até 
despertando vocações. (CARVALHO, 1983, p. 126). 
 
 Em Literatura Infantil Brasileira – História e Histórias, Lajolo e Zilberman falam 
que: 
 
Por volta da segunda metade do século XIX, a leitura de textos e autores brasileiros 
já constituía um hábito até certo ponto arraigado entre os privilegiados assinantes 
dos jornais, onde os escritores mais famosos colaboravam com crônicas e poemas, 
folhetins de romance e crítica literária. Figuras como Machado de Assis e Olavo 
Bilac, consagradas nas rodas mundanas e intelectuais, faziam da vida literária um 
ponto de referência para a vida cultural daqueles anos.(LAJOLO e ZILBERMAN, 
2010, p. 26). 
 
 A Literatura Infantil Brasileira é antecedida por uma intensa atividade de jornais e 
traduções, sendo admitida por Carvalho (1983), como a primeira fase da Literatura Infantil. 
22 
 
Barbara Vasconcelos Carvalho cita alguns dos tradutores dessa primeira fase da Literatura 
para as crianças: 
 
Caetano de Lopes Moura, O Último dos Moicanos (1838), de Fenimore Cooper; 
Jovina Cardoso, obras de Júlio Verne; Ciro Cardoso, obras de Alexandre Dumas; 
Carlos Jansen, Robinson Crusoé (1883), de Daniel Defoe (pref. de Sílvio Romero); 
As Viagens de Gulliver (1888), de Jonathan Swift (pref. de Rui Barbosa); D. 
Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, (para a faixa juvenil); As 
Aventuras do Barão de Münchhausen, contadas por: Erich Kästner, G. A. Burger e 
outros, (para a faixa infantil); Francisco de Paula Brito, Fábulas de Esopo (92 
textos), as primeiras traduções completas. (CARVALHO, 1983, p. 126-127). 
 
 Lajolo e Zilberman (2010) também citam outros tradutores, como João Ribeiro em 
1891, do livro italiano Cuore; Júlia Lopes de Almeida e Adelina Lopes Vieira em 1886, do 
livro Contos infantis; em 1904, Olavo Bilac e Coelho Neto editam Contos Pátrios e em 1907, 
Júlia Lopes de Almeida lança Histórias da nossa terra. 
 De acordo com Lajolo e Zilberman (2010), essas são algumas obras que estavam 
disponíveis para as crianças brasileiras da época, em particular, as que frequentavam as 
escolas e se preparavam para ser o futuro do país. 
 As autoras explicam que entre o fim do século XIX e começo do XX, houve uma 
rápida urbanização no Brasil, que após o crescimento do número de empregados para o café, 
surge um aumento no número de bancos e casas exportadoras, é ampliado o quadro de 
funcionários públicos, cresce as redes de ferrovias e também o movimento dos portos. A 
partir disso, começa a surgir a população das cidades, tornando-se um momento favorável 
para o aparecimento da Literatura Infantil. (LAJOLO e ZILBERMAN, 2010, p. 25). 
 
Gestam-se aí as massas urbanas que, além de consumidoras de produtos 
industrializados, vão constituindo os diferentes públicos, para os quais se destinam 
os diversos tipos de publicações feitos por aqui: as sofisticadas revistas femininas, 
os romances ligeiros, o material escolar, os livros para crianças. (LAJOLO e 
ZILBERMAN, 2010, p. 25). 
 
 A primeira edição, em 1861 do Livro do Povo, escrito por Antônio Marques 
Rodrigues, foi o primeiro livro brasileiro que teve grande repercussão nas escolas do 
Nordeste. Coelho (1991) conta que por mais de vinte anos, foram produzidas diversas edições 
do livro e foi um sucesso durante várias gerações. 
 De acordo com Carvalho (1983), só no fim do século XIX o ensino se torna prático, 
menos tedioso, trazendo alguns autores que segundo a autora, são reformadores: Rui Barbosa 
23 
 
e Teodoro Morais. Ela também cita Paulo Freire, “com seu trabalho notável [...]” 
(CARVALHO, 1983, p. 127). 
 A autora explica que a partir disso, 
 
Finalmente, cogita-se das leituras para a criança: os contos maravilhosos; a 
Literatura de ficção recreativa que começou a ser adaptada ao gosto infantil, para 
distrair e instruir. [...] A sua Literatura tem tomado considerável incremento: o 
conto, o folclore, a fábula, o teatro, as revistas, a poesia, tudo tem sido motivo de 
adaptação para recrear e educar, de modo interessante e proveitoso, o menor de hoje, 
para que seja, amanhã, um adulto sadio de espírito. (CARVALHO, 1983, p. 128). 
 
Em 1894, pela Editora Quaresma, foi publicado o primeiro livro destinado às crianças. 
Escrito por Alberto Figueiredo Pimentel, Contos da Carochinha reúne 40 contos populares 
que foram traduzidos e adaptados para o Brasil. Carvalho (1983) conta que entre autores dos 
contos traduzidos, estão Perrault, Grimm e Andersen. Dois anos depois, Pimentel publica seu 
segundo livro, Histórias da Baratinha, sendo o precursor da Literatura Infantil brasileira, 
 
[...] dedicando-se à infância, ora com estórias maravilhosas, ora com a poesia, de 
que nos apresenta uma selecionada coletânea, em Álbum das Crianças, ora com o 
teatro – Teatrinho Infantil – ora, enfim, com o interessantíssimo livro que se intitula 
Os meus Brinquedos, onde ele parte das cantigas de berço, chega aos jogos e 
brincadeiras, passa pelos salões de ruidosa alegria e aniversários, até o teatrinho, 
incluindo, ainda aí, nesta última movimentação recreativa, uma tradução adaptada da 
comédia O Mentiroso, da Condessa de Ségur. (CARVALHO, 1983, p. 128). 
 
 Para a leitura da infância brasileira, os textos eram traduzidos e adaptados dos livros 
europeus, e circulavam em edições portuguesas; eram escritos em um português bem diferente 
da língua falada pelas crianças do Brasil. Lajolo e Zilberman (2010) explicam que: 
 
Essa distância entre a realidade linguística dos textos disponíveis e a dos leitores é 
unanimemente apontada por todos que, no entre-séculos, discutiam a necessidade da 
criação de uma literatura infantil brasileira. Dentro desse espírito, surgiram vários 
programas de nacionalização desse acervo literário europeu para crianças. (LAJOLO 
e ZILBERMAN, 2010, p. 31). 
 
 Assim como Carvalho, Lajolo e Zilberman também falam da importância das 
adaptações que Alberto Figueiredo Pimentel escreveu em 1894, que inaugura a coleção 
Biblioteca Infantil Quaresma. Em 1915, a Editora Melhoramentos introduz a sua Biblioteca 
Infantil com a direção de Arnaldo de Oliveira Barreto, publicando como primeiro volume da 
coleção, O patinho feio, de Andersen. 
24 
 
 A Literatura Infantil do Brasil se inicia assim: traduções e adaptações de histórias 
vindas da Europa, mas com uma linguagem mais portuguesa que brasileira. Com livros 
didáticos, que traziam histórias para uso nas escolas primárias, o primeiro livro destinado às 
crianças de Monteiro Lobato, em 1921, foi Narizinho Arrebitado, e veio também, como 
“literatura escolar”, garantindo sua distribuição nas escolas da época. 
 
2.2 – Monteiro Lobato e Ziraldo: grandes escritores infantis de épocas 
distintas 
 
 Um dos principais autores da Literatura Infantil brasileira, José Bento Marcondes 
Monteiro Lobato, inicia sua carreira de autor de livros infantis com a publicação de 
“Narizinho Arrebitado”, em 1921, trazendo a possibilidade de novas perspectivas na leitura 
das crianças do Brasil. 
 A autora Maria Antonieta Antunes Cunha, em seu livro “Literatura Infantil – Teoria e 
Prática” (2003), afirma que: 
 
Com Monteiro Lobato é que tem início a verdadeira literatura infantil brasileira. 
Com uma obra diversificada quanto a gêneros e orientação, cria esse autor uma 
literatura centralizada em algumas personagens, que percorrem e unificam seu 
universo ficcional. No Sítio do Picapau Amarelo vivem Dona Benta e Tia Nastácia, 
as personagens adultas que “orientam” crianças (Pedrinho e Narizinho), “outras 
criaturas” (Emília e Visconde de Sabugosa) e animais como Quindim e Rabicó. 
(CUNHA, 2003, p. 24). 
 
 Carvalho (1983) coloca Monteiro Lobato como “o maior clássico da Literatura Infantil 
Brasileira” (1983, p. 133), que não escreveu somente para as crianças, mas inventou um 
mundo inteiro para elas, criando histórias, personagens e fantasia: 
 
Ao contrário dos clássicos estrangeiros, ele não recriou seus contos de outros; ele os 
criou. Embora se utilizasse do rico acervo maravilhoso da Literatura Clássica 
Infantil de todo o mundo, a inspiração maior e básica de Lobato foi a própria 
criança, os motivos e os ingredientes de sua vivência: suas fantasias, suas aventuras, 
seus objetos de jogos e brinquedos, suas travessuras e tudo o que povoa a sua 
imaginação... Reencontrou a criança, amealhoutoda a riqueza e criatividade de seu 
mundo maravilhoso e construiu um universo para ela, num cenário natural, 
enriquecido pelo Folclore de seu povo, aspecto indispensável à obra infantil. 
(CARVALHO, 1983, p. 133). 
 
25 
 
 De acordo com Regina Zilberman e Ligia Cademartori Magalhães, “Narizinho 
Arrebitado” surge como literatura para a escola com uso nas escolas primárias como segundo 
livro de leitura, garantindo, assim, a sua distribuição. 
 
[...] o texto apresenta uma feição bastante distinta daquela que marca a narrativa 
didática e moralizante. O principal traço de diferenciação consiste em que a história 
de Monteiro Lobato procura interessar a criança, captar sua atenção e diverti-la. É 
bastante conhecido o seu ideal de livro: um lugar onde a criança possa morar. Para 
alcançá-lo, o autor reconhecia a necessidade do gênero sofrer modificações e 
expressa essa intenção já na sua primeira obra. (ZILBERMAN e MAGALHÃES, 
1987, p. 135 – 136). 
 
Para Coelho (1991), Monteiro Lobato criou uma nova Literatura Infantil, rompendo 
com os estereótipos, trazendo novas ideias e formas de escrever. Lobato escreveu crônicas e 
artigos para a imprensa do interior e capital paulistas desde a sua adolescência; ele 
preocupava-se com a renovação na literatura, apresentando autenticidade da realidade 
brasileira. Lobato obteve total sucesso entre os pequenos leitores, pois, 
 
[...] eles se sentiam identificados com as situações narradas; sentiam-se à vontade 
dentro de uma situação familiar e afetiva, que era subitamente penetrada pelo 
maravilhoso ou pelo mágico, com a mais absoluta naturalidade. Tal como Lewis 
Carroll fizera com Alice no País das Maravilhas, na Inglaterra de cinquenta anos 
antes, Monteiro Lobato o fazia no Brasil dos anos 20: fundia o Real e o Maravilhoso 
em uma única realidade. (COELHO, 1991, p. 227). 
 
 Com a criação do sítio do Picapau Amarelo, Monteiro Lobato apresenta personagens 
que irão participar de muitas aventuras em suas histórias. Marisa Lajolo e Regina Zilberman 
citam alguns deles: 
 
[...] é o sítio do Picapau Amarelo, propriedade de Dona Benta, que vive 
originalmente acompanhada de sua neta, a menina Lúcia, conhecida por Narizinho, e 
de uma cozinheira antiga e fiel, Tia Nastácia. Trata-se de uma população pequena 
para preencher um cenário tão grande, mas as personagens multiplicam-se 
rapidamente, com a inclusão de outros seres humanos (Pedrinho), seres mágicos (os 
bonecos animados Emília e Visconde), animais falantes (o porco Rabicó, o burro 
Conselheiro e o rinoceronte Quindim), sem falar dos eventuais seres aquáticos, 
habitantes do Reino das Águas Claras, localizado nas cercanias do sítio, ou dos 
visitantes mais ou menos habituais, como Peninha, o Gato Félix ou o Pequeno 
Polegar. (LAJOLO e ZILBERMAN, 2010, p. 55). 
 
 De acordo com as autoras citadas acima, o livro “Reinações de Narizinho” foi o 
primeiro de uma coleção escrita por Lobato, dedicada a infância. Esse grupo de personagens 
representa a união, a família; o sítio representa “uma concepção a respeito do mundo e da 
26 
 
sociedade, bem como uma tomada de posição a propósito da criação de obras para a infância.” 
(LAJOLO e ZILBERMAN, 2010, p. 56). 
 Em seu outro livro, A Literatura Infantil na Escola, Regina Zilberman escreve que o 
autor, 
 
Localizando a ação do presente de seus leitores e desdobrando as peripécias com 
base no cotidiano das personagens, Monteiro Lobato teve os meios para romper com 
a tradição literária destinada aos jovens de seu tempo. Essa era caudatária do 
folclore europeu, constituído por narrativas de transmissão oral, recolhidas, e 
consequentemente cristalizadas, nas compilações dos irmãos Grimm e de Hans 
Christian Andersen. O sucesso que alcançaram ocasionou a cópia e adaptação delas 
em diferentes partes da Europa. (ZILBERMAN, 2005, p. 155). 
 
 As obras de Lobato representam a sua época, acrescentando à Literatura Infantil, 
valores, comportamentos, representação da realidade com detalhes e a valorização do 
relacionamento entre as personagens, misturando imaginação com o material, o autor 
apresenta suas histórias como algo possível de acontecer. 
 De acordo com Coelho, Monteiro Lobato “cada vez mais, deixa-se impregnar pela 
psicologia infantil (onde o real e o maravilhoso não se diferenciam...), e nas histórias que 
continua a inventar e a publicar, os limites entre o mundo real e o outro vão-se enfraquecendo, 
até desaparecerem completamente.” (COELHO, 2010, p. 139). 
 Monteiro Lobato não é apenas um marco na Literatura Infantil brasileira, mas sim, sua 
referência máxima (ZILBERMAN e MAGALHÃES, 1987, p. 139); suas obras trazem antes, 
uma vasta pesquisa das diversas linguagens utilizadas em seus textos, com humor nas falas da 
boneca Emília, mas nunca deixando de lado a aprendizagem. Seus livros encantam, 
incentivam a imaginação, a inteligência, educando até hoje os leitores que se aventuram pelo 
sítio do Pica Pau Amarelo. 
 Outro escritor que também faz muito sucesso com o público infantil é Ziraldo Alves 
Pinto, ou somente Ziraldo, como é conhecido. Seu primeiro livro infantil foi Flicts publicado 
em 1969, que conta a história de uma cor rara que sai pelo mundo procurando o seu lugar, 
pois Flicts acha que não tem nenhuma tonalidade que faça par com ela. 
 De acordo com Castro (2008), 
 
O texto toca diretamente no temor ao abandono, sentido pelas crianças, que é 
traduzido pelo sentimento de não pertencer a um grupo, de rejeição, de exclusão 
causada pelas diferenças, que são a matéria prima da literatura, porque é com elas 
que se constroem as personagens e grande parte das histórias. (CASTRO, 2008, p. 
79). 
 
27 
 
 Ziraldo descreve esse medo do abandono, da solidão de Flicts: 
 
Tudo no mundo tem cor/ tudo no mundo é/ Azul/ Cor-de-rosa/ ou furta-cor/ é 
vermelho ou/ Amarelo/ quase tudo tem seu tom/ Roxo/ Violeta ou lilás/ Mas/ não 
existe no mundo/ nada que seja Flicts/ (nem a sua solidão)/ Flicts nunca teve par/ 
nunca teve um lugarzinho/ num espaço bicolor/ (e tricolor muito menos/ - pois três 
sempre foi demais)/ não/ não existe no mundo/ nada que seja Flicts. (ZIRALDO, 
1994, p. 12-13). 
 
 Em 1979, Ziraldo publicou o livro O Planeta Lilás, um poema sobre o amor aos livros. 
No ano seguinte, lança o seu livro de maior sucesso: O Menino Maluquinho. Em seu site, na 
área de sua biografia, Ziraldo conta sobre a Bienal do Livro de São Paulo de 1979, em que 
pela publicação do Menino Maluquinho, ele ganha o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do 
Livro. 
 O Menino Maluquinho foi traduzido para diversos países, adaptado para televisão, 
teatro, histórias em quadrinhos, tirinhas e cinema. No livro que ele escreveu e ilustrou, 
Ziraldo conta a história de um menino maluquinho: 
 
Ele tinha o olho maior do que a barriga/ tinha fogo no rabo/ tinha vento nos pés/ 
umas pernas enormes (que davam para abraçar o mundo)/ e macaquinhos no sótão 
(embora nem soubesse o que significava macaquinho no sótão)./ Ele era muito 
sabido/ ele sabia de tudo/ a única coisa que ele não sabia/ era como ficar quieto. 
(ZIRALDO, 2011, p. 8-14). 
 
 Em 2005 foi publicado pela editora Globo “25 anos do Menino Maluquinho”. A 
história foi ilustrada por Ziraldo e mais 27 artistas que foram convidados, entre eles: Maurício 
de Sousa, Angeli, Ota e Guto Lins. 
 Na contracapa do livro O Menino Maluquinho (2011), Fanny Abramovich faz uma 
avaliação da personagem: 
 
Uma delícia das mais deliciosas este menino maluquinho que o Ziraldo inventou. 
Este menino que tem cara do irmão que a gente queria ter, do amigão do peito muito 
do bem escolhido. Porque de maluquinho ele não tem é nada... É um menino 
divertido,solto, com uma cuca muito da saudável, inventor de invenções ótimas, 
curtidor de tudo que é gostoso, sabedor do que precisa se saber e até poeta. Um 
menino mesmo, daqueles que a gente conhece e ama de cara! Eu, pelo menos, me 
apaixonei por ele, de paixão perdida... (ABRAMOVICH, [s. d.], apud ZIRALDO, 
2011, contracapa). 
 
 Já em seu livro “Literatura Infantil – Gostosuras e Bobices” (1991), Abramovich 
também fala sobre como ela vê a personagem de Ziraldo: 
 
28 
 
Um livro que se refere a uma criança muito amada, contente, que sabe crescer, que 
se interessa por muita gente, por muitas coisas, por muitas atividades... Que sabe 
estar consigo e com os outros e que sobretudo sabe viver (sem achar que isso 
significa um campo florido, em eterna primavera, onde só acontecem coisas boas, 
calmas, e onde nada se altera...). Não, tudo se altera, e, como ela sabe encarar as 
diferentes situações da vida, consegue crescer e perceber o quanto tinha sido feliz, 
em sua meninice estouvada, vibrante e cheia de vida. (ABRAMOVICH, 1991, p. 
110). 
 
 Ziraldo é cartunista, escritor, chargista, pintor, cronista, ilustrador e jornalista. Tornou-
se um dos mais conhecidos escritores e ilustradores infantis do Brasil. Seu trabalho faz parte 
do cotidiano dos brasileiros, com personagens marcantes para a história da literatura infantil. 
 
2.3 – A literatura Infantil na Escola 
 
 Os primeiros livros para as crianças foram elaborados entre os séculos XVII e XVIII, 
pois antes, conforme exposto nesta monografia, não se escrevia para o público infantil, não 
existia o termo “infância”. 
 De acordo com Zilberman (2005), as primeiras obras destinadas às crianças são 
escritas por pedagogos e professores, com a intenção de educar seus alunos. A autora afirma 
que a Literatura Infantil permanece como uma “colônia da pedagogia”, pois possui como 
objetivo a didática, ocasionando atividades de dominação da criança. 
 Por isso, a relação entre literatura e ensino ficou difícil, pois: 
 
De um lado, o vínculo de ordem prática prejudica a recepção das obras; o jovem 
pode não querer ser instruído por meio da arte literária; e a crítica desprestigia 
globalmente a produção destinada aos pequenos, antecipando a intenção pedagógica, 
sem avaliar os casos específicos. De outro, a sala de aula é um espaço privilegiado 
para o desenvolvimento do gosto pela leitura, assim como um campo importante 
para o intercâmbio da cultura literária, não podendo ser ignorada, muito menos 
desmentida sua utilidade. Revela-se imprescindível e vital um redimensionamento 
de tais relações, de modo que eventualmente transforme a literatura infantil no ponto 
de partida para um novo e saudável diálogo entre o livro e seu destinatário mirim. 
(ZILBERMAN, 2005, p. 16). 
 
 Mas, é importante que essa relação possua um aspecto em comum: o ensino, pois tanto 
o livro como a unidade escolar se preocupam em aperfeiçoar o indivíduo que estão formando. 
Zilberman (2005) explica a finalidade da literatura e da escola: a literatura sintetiza através da 
ficção, a realidade, mesmo que a fantasia do autor seja muito exagerada ou diferente, o que 
importa é que ela continua a participar do cotidiano do leitor, pois ainda o ajuda a se 
conhecer, apresentando-o ao seu mundo e o auxilia em possíveis dificuldades. 
29 
 
Dessa maneira, embora compartilhem uma função, literatura e escola não se 
identificam, se bem que este tenha sido o pretexto para justificar o uso da obra de 
arte ficcional em sala de aula com intuito unicamente pedagógico; aproxima, porém, 
os dois setores. E, se isso já representou a sujeição da arte ao ensino, pode-se 
investigar as possibilidades que oferece o oposto deste modelo, no qual a didática se 
submete às virtualidades cognitivas do texto literário. (ZILBERMAN, 2005, p. 26). 
 
 Zilberman (2005) afirma que através do texto literário, o aluno pode ser reinserido no 
presente, exercendo um papel ativo, rompendo a barreira da escola e do coletivo. O professor 
deve escolher um texto que se adeque ao aluno, valorizando a obra e a sua leitura. 
 De acordo com Coelho (2010), a escola é um espaço privilegiado, pois é onde nascem 
as bases de formação do indivíduo; os estudos literários estimulam a mente, apresentam 
múltiplos significados, melhora a consciência e a relação entre os alunos, faz uma leitura do 
mundo de variadas formas, aumentando o estudo e o conhecimento da língua. 
 A autora explica que: 
 
Essa nova valorização do espaço-escola não quer dizer, porém, que o entendemos 
como o sistema rígido, reprodutor, disciplinador e imobilista que caracterizou a 
escola tradicional em sua fase de deterioração. Longe disso. Hoje, esse espaço deve 
ser, ao mesmo tempo, libertário (sem ser anárquico) e orientador (sem ser 
dogmático), para permitir ao ser em formação chegar ao seu autoconhecimento e a 
ter acesso ao mundo da cultura que caracteriza a sociedade a que ele pertence. 
(COELHO, 2010, p. 17). 
 
 A seleção de textos para as crianças deve mostrar-lhes uma visão de mundo e 
realidade, atraindo-os para um lugar de convívio diário, mas que se desconhecia até então, 
surgindo uma relação entre a obra e aquele que lê, pois quanto mais o leitor tiver a 
consciência do real e possuir um posicionamento a respeito, mais o livro de ficção trará um 
enorme benefício, com a abertura de novos caminhos. Zilberman (2005) explica que: 
 
Em vista disso, a grande carência dela é o conhecimento de si mesma e do ambiente 
no qual vive, que é primordialmente o da família, depois o espaço circundante e, por 
fim, a história e a vida social. O que a ficção lhe outorga é uma visão de mundo que 
ocupa as lacunas resultantes de sua restrita experiência existencial, por meio de sua 
linguagem simbólica. Logo, não se trata de privilegiar um gênero ou uma espécie 
em detrimento de outras, uma vez que os problemas peculiares necessitam ser 
examinados à luz dos resultados alcançados por escritor; e sim de admitir que, seja 
pelo conto de fadas, pela reapropriação de mitos, fábulas e lendas folclóricas, ou 
pelo relato de aventuras, o leitor reconhece o contorno no qual está inserido e com o 
qual compartilha lucros e perdas. (ZILBERMAN, 2005, p. 27). 
 
 A autora orienta que as atividades com Literatura Infantil e ficção, devem ter 
exercícios de interpretação do sentido do texto, pois é de extrema importância a compreensão 
da criança. O professor ensina o aluno a ler corretamente, ensina ter o domínio dos códigos 
30 
 
que permitem a leitura, auxilia na compreensão e deciframento do texto, estimulando a 
leitura, tornando-o um leitor crítico. (ZILBERMAN, 2005, p. 28-29). 
 Sobre o possível desenvolvimento que o pequeno leitor pode alcançar, Bruno 
Bettelheim (2010) explica que, 
 
Para que uma história realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e 
despertar a sua curiosidade. Contudo, para enriquecer a sua vida, deve estimular-lhe 
a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas emoções; 
estar em harmonia com suas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas 
dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que a 
perturbam. Resumindo, deve relacionar-se simultaneamente com todos os aspectos 
de sua personalidade – e isso sem nunca menosprezar a seriedade de suas 
dificuldades mas, ao contrário, dando-lhe total crédito e, a um só tempo, 
promovendo a confiança da criança em si mesma e em seu futuro. (BETTELHEIM, 
2010, p. 11). 
 
 Regina Zilberman (2005, p. 30) esclarece que a Literatura Infantil quando aproveitada 
na sala de aula, traz para a criança um conhecimento de mundo, não fica presa ao “ensino bem 
comportado”, mas evolui, transformando-aem um leitor crítico, dando ao livro um papel 
transformador, que apresenta ao estudante a sua realidade. 
 Penteado (2007) escreve que “a sala de aula precisa ter um ambiente acolhedor, 
atraente e capaz de promover de forma mais eficiente o gosto pela leitura e escrita.” 
(PENTEADO, 2007, p. 39). O professor deve incentivar a leitura, lendo; colocar os alunos em 
contato com diversos tipos de literatura, para que eles possam se apropriar do conhecimento 
apresentado. 
“Primeiro a criança tem que ouvir histórias e poemas para depois ler sozinha: seja em 
que série ela estiver, esse princípio é válido para despertar o gosto pela leitura.” (AGUIAR, 
2007, p. 135). 
De acordo com Aguiar (2007), os interesses de leitura variam com a idade da criança, 
assim como outros fatores: 
 
[...] as condições ambientais, os apelos de outros produtos culturais (como os 
programas de televisão, por exemplo), a educação diferenciada para meninos e 
meninas, o acesso a uma diversidade de materiais de leitura, os modelos de leitor/ 
não-leitor com que a criança convive, a tradição oral da sua comunidade, entre 
outros. (AGUIAR, 2007, p. 139). 
 
 Em seu livro “Era uma vez... na escola – Formando educadores para formar leitores”, 
Vera Teixeira de Aguiar apresenta dicas para selecionar textos de literatura infantil: “o 
31 
 
atendimento aos interesses do leitor, a provocação de novos interesses que lhe agucem o senso 
crítico e a preservação do caráter lúdico do jogo ficcional poético.” (AGUIAR, 2007, p. 139). 
 Portanto, o interesse do leitor deve ser levado em consideração, assim como o 
professor deve adaptar a obra ao seu aluno, em termos de assunto, estilo, forma, aspectos 
externos e estrutura (AGUIAR, 2007, p. 140). Como forma de investigação, Aguiar apresenta 
três pontos para explorar a preferência de temas dos alunos: 
 
- oferecer os mais variados textos aos alunos e observar suas reações (favoráveis ou 
não); 
- pesquisar na localidade quais as bibliotecas existentes (públicas ou privadas); 
- pôr as crianças em contato com os livros através de visitas e registrar suas 
impressões. (AGUIAR, 2007, p. 140). 
 
 Dessa forma, para auxiliar na escolha do texto, o educador deve partir de algo próximo 
ao aluno, do que ele já conhece, assim, aos poucos ele vai buscar novas leituras e novas 
formas de ler as mesmas obras. 
 
 
32 
 
3. As análises dos Contos de Fadas Segundo as Contribuições da 
Psicanálise 
 
Nesse capítulo vamos abordar os Contos de Fadas do ponto de vista da psicanálise, 
como Bruno Bettelheim, Diana Lichtenstein Corso e Mário Corso analisam esses contos, 
vindos das tradições orais, e como eles apresentam seu verdadeiro significado. 
Apresentaremos uma breve biografia de Charles Perrault, autor do conto “Pele de 
Asno” que também será discutida sua análise psicológica. 
 
3.1 – Breve biografia de Charles Perrault 
 
Charles Perrault (1628-1703), nascido na França, advogado e escritor de livros para 
adultos, tornou-se conhecido até os dias de hoje pelo seu único volume de contos infantis, “Os 
Contos da Mamãe Gansa”, publicado em 1697 sob o nome de seu filho. 
 
Escrito num momento em que ainda não existia o gênero “literatura infantil”, Os 
Contos da Mamãe Gansa (Contes de Ma Mère I’Oye), com o tempo, se divulgam 
como leitura para crianças e se imortalizando: o que prova mais uma vez o quanto o 
“acaso” (ou o mistério?) interfere nos projetos e acontecimentos da vida humana. 
(COELHO, 1991, p. 85). 
 
 De acordo com Abramovich (1991), as histórias foram contadas pela população, e 
Perrault respeitou a crueldade, a moral e poesia que existiam nos contos. 
A publicação de 1697 agradou as crianças e os adultos; contava com oito contos: A 
Bela Adormecida no Bosque, Chapeuzinho Vermelho, O Barba Azul, O Gato de Botas, As 
Fadas, A Gata Borralheira ou Cinderela, Henrique, o Topetudo e o Pequeno Polegar. Em 
seguida, foram incluídos mais três contos: A Pele de Asno, Os Desejos Ridículos e Grisélidis 
(COELHO, 1991, p. 90). 
Essas histórias passam a circular na França com o rótulo de “contos de fadas”, mesmo 
que, segundo Coelho (1991), metade dos contos não apresentam fadas, “[...] são apenas 
‘contos maravilhosos’, por existirem em um espaço ‘maravilhoso’, isto é, fora da realidade 
concreta.” (COELHO, 1991, p. 90). 
Carvalho (1983) comenta sobre os tipos de personagens que Perrault escreve em seus 
contos: 
 
33 
 
Perrault retrata a sociedade do seu tempo, a sua época, em suas estórias infantis, 
com toda a carga existencial, fazendo desfilar nelas os opulentos e poderosos, os 
humildes e fracos; os nobres e poderosos, que o povo faz descender de canibais, 
devoradores; os fracos, compensados e fortificados pelas qualidades morais e 
espirituais. As intrigas das classes elevadas, dos nobres, das princesas despeitadas 
por não serem convidadas para os grandes acontecimentos na nobreza, dos palácios. 
O desenfreado despotismo dos reis, que nada respeitavam ou admitiam além de seus 
desejos. Suas personagens são de todos os níveis sociais; aí se agitam e transitam, 
com os nobres, toda a classe de plebeus: pescadores, cozinheiros, camponeses, 
lavadeiras, revelando verdades, em seu habitat alegórico, dentro do clima dialético 
do século, e numa linguagem viva e plástica. (CARVALHO, 1983, p. 77). 
 
 Segundo Carvalho (1983), Perrault era o “mago do reino” na França no século XVII, 
transformando o país em “o reinado da fantasia”. Para a autora, “os contos de Perrault, como 
os de Grimm e Andersen, são conhecidos das crianças antes das letras do alfabeto: eles se 
antecipam à alfabetização, porque fazem parte da vida afetiva da criança.” (CARVALHO, 
1983, p. 79). 
 O século XVII foi, portanto, o período do reinício do folclore nos contos de fadas por 
Charles Perrault, com o seu estilo incomparável, popular, conhecido pelas crianças do mundo. 
De acordo com Carvalho (1983), “Pele de Asno” foi a primeira história escrita por Perrault 
dirigida ao público infantil. 
 
3.2 – Análise do conto “Pele de Asno” 
 
Antes de se iniciar a análise da história, apresentamos um resumo do conto. “Pele de 
Asno” escrito por Charles Perrault no século XVII traz a história de um rei muito bom. Ele 
então escolhe para ser sua rainha uma mulher encantadora, linda, serena e doce; do casamento 
nasce uma menina. Algum tempo depois, a rainha fica muito doente, e faz um último pedido 
ao seu esposo: 
 
[...] quero seu juramento de que não se casará. Eu o atenuo, contudo, com essa 
ressalva: se encontrar uma mulher mais bela, mais perfeita e mais sábia do que eu, aí 
sim estará livre para empenhar sua palavra e desposá-la. 
Sua confiança em seus encantos era tal que a fazia tomar esse compromisso como 
uma promessa do rei de jamais se casar. Assim o rei jurou, os olhos banhados de 
lágrimas, tudo que a rainha desejou. (PERRAULT, 2010, p. 33-34). 
 
 Após alguns meses da morte da rainha, o rei resolveu procurar uma nova esposa; ele 
procurou em todo o reino, nos reinos vizinhos, mas não encontrou nenhuma mulher que 
tivesse as mesmas qualidades que sua rainha recém sepultada. O rei então percebeu que sua 
única filha era mais bonita, e mais sedutora do que sua esposa fora. 
34 
 
 
Numa atitude que assombra a todos do reino e especialmente à princesa, o rei revela 
sua determinação de casar- se com a própria filha e imediatamente pede sua mão. 
Apavorada e horrorizada com semelhante proposta, a princesa pensa em como sair 
dessa enrascada. Ela, ao contrário do rei, se dá conta da transgressão incestuosa que 
seria cometida caso a união se consumasse. (CORSO e CORSO, 2006, p. 94). 
 
 Desesperada com a intenção do pai, a princesa vaiem busca de sua madrinha, a Fada 
dos Lilases, que tem a ideia de pedir ao rei a confecção de vestidos praticamente impossíveis 
de serem concluídos: “[...] um com a cor do tempo, outro com a cor da lua e, por último, um 
que imite o sol.” Contudo, o rei está tão determinado de fazer a princesa, sua esposa, que ele 
força os artesãos do reino a fabricarem os vestidos. 
 A princesa já não tem para onde recuar, quando sua madrinha lhe dá um último 
conselho: pedir a pele do asno que seu pai tem na estrebaria (esse asno é encantado, pois, ao 
invés de esterco, ele produz ouro). Entretanto, o rei atende ao pedido da filha, mostrando que 
não há limites ou barreiras em sua vontade, só restando uma opção à princesa: fugir. 
 A madrinha lhe presenteia com um baú, onde a princesa guardará seus vestidos e joias. 
Ela então se suja, cobre-se com a pele do asno e sai sem rumo. Por onde passa, Pele de Asno 
pede trabalho, mas ninguém a aceita, até que ela chega em um sítio, e a deixaram limpar o 
chiqueiro. 
 Em seus dias de folga, Pele de Asno ficava em seu quarto, e com a porta bem fechada, 
limpava-se, abria o baú e vestia um de seus vestidos. A granja que ela trabalhava, era de um 
rei muito poderoso e seu filho passava por ali quando retornava da caça para descansar; em 
uma dessas visitas, Pele de Asno viu o príncipe e se encantou. Certa vez, o príncipe, passando 
em frente à porta da princesa, a viu adornada pelas joias e seu belo vestido, “[...] 
contemplando-a, o príncipe ficou à mercê de seus desejos e tal foi seu alumbramento que mal 
conseguia recobrar o fôlego ao olhá-la.” (PERRAULT, 2010, p. 41). 
 No palácio, o príncipe se isolou, e logo caiu doente. Sua mãe se desesperou, e tentou 
fazê-lo dizer qual era o seu mal, mas ele nada disse. Declarou apenas que desejava que Pele 
de Asno lhe fizesse um bolo, a rainha então, mandou chamarem a menina. 
 Assim, Pele de Asno atendeu ao pedido do príncipe, e preparou o bolo em seu quarto, 
e acabou deixando cair na massa um de seus anéis. Perrault (2010) diz que foi de propósito 
que o anel foi largado na massa: 
 
Palavra que, de minha parte, posso acreditar nisso perfeitamente. É que estou 
convencido de que, quando o príncipe a espiou pelo buraco da fechadura, ela soube 
muito bem o que estava acontecendo. Nesse ponto a mulher é tão esperta e seu olho 
35 
 
tão rápido que não a podemos olhar um só momento sem que ela saiba que está 
sendo olhada. Tenho toda a certeza, posso até jurar, que ela sabia que o anel seria 
muito bem-recebido por seu jovem amante. (PERRAULT, 2010, p. 43). 
 
 Perrault conta que jamais houve um bolo tão saboroso, e o príncipe quase engoliu o 
anel também. Ele guardou a joia, e novamente ficou doente. Os médicos do palácio decidiram 
que o príncipe estava doente de amor, e resolveram casá-lo. Com o anel nas mãos, ele disse 
que só se casaria com a pessoa em que a joia servir. 
 Então se iniciou uma busca por todo o reino a procura da mulher que serviria o anel. 
Todas as mulheres do reino experimentaram a aliança: princesas, duquesas, condessas, as 
camponesas, as criadas, mas em nenhuma o anel serviu; até que só sobrou Pele de Asno. O 
príncipe ordenou que a trouxessem, e quando ela estendeu a mão, o anel ajustou-se 
perfeitamente em seu dedo. Os criados do príncipe quiseram levá-la imediatamente ao reino, 
mas ela pediu que antes, pudesse trocar de roupa. 
 Pele de Asno surgiu, exibindo uma beleza nunca antes vista. Os reis ficaram 
encantados com tamanha perfeição, e logo foi marcado o casamento. Foram convidados todos 
os reis das redondezas, inclusive o pai da noiva. Chorando de alegria, pai e filha se abraçaram 
e se perdoaram, fazendo a alegria do príncipe; em seguida, a madrinha da noiva chegou à 
festa e contou tudo o que havia acontecido, aumentando as glórias de Pele de Asno. 
 Diana Lichtenstein Corso e Mário Corso (2006) explicam o pedido que a rainha faz 
antes de morrer: “Evidentemente esse pedido é uma cilada, pois [...] o verdadeiro objetivo da 
moribunda é não ser substituída. Se não tivesse absoluta confiança em ser insuperável em seus 
atributos, não teria solicitado o juramento do marido.” (CORSO e CORSO, 2006, p. 93). A 
esposa tem por objetivo não ser trocada ou superada, pois acredita que seus encantos são 
únicos. 
 Quando o rei pede a protagonista em casamento, a princesa fica apavorada, 
percebendo que cometeriam um incesto se a união fosse realmente consumada. A Fada dos 
Lilases, com a intenção de retardar a vontade incestuosa do pai, solicita vestidos impossíveis 
de serem confeccionados, mas nem assim o rei desiste do seu desejo: 
 
Os pedidos são de fato impossíveis, mas tão determinado está o rei que força seus 
artesãos a executar os caprichos da princesa. Apesar do absurdo da situação, é 
indisfarçável o encanto que as vestes incríveis produzem na jovem. (CORSO e 
CORSO, 2006, p. 95). 
 
 Em outro trecho da análise, Diana e Mário Corso (2006) acreditam que: 
 
36 
 
Embora as princesas acreditem que o pedido dos vestidos visa a retardar o assédio 
paterno, não deixa de ser curioso que, nas aventuras que as esperam, sejam essas 
mesmas indumentárias as que irão revelar sua nobreza e beleza. Os vestidos são as 
armas com que conquistarão depois seus príncipes. Perrault, nos comentários que 
entremeia à história, observa com perspicácia que as moças pedem os vestidos e se 
encantam com eles como uma quase vacilação, afinal o que o pai tem a lhes oferecer 
é bem tentador. (CORSO e CORSO, 2006, p. 95-96). 
 
De acordo com Bettelheim (2010), os contos de fadas desenvolvem a fantasia, 
oferecem recursos necessários para falar sobre o medo, a ansiedade, ódio, rejeição que as 
crianças sentem. Podemos relacionar ao conto de Pele de Asno, pois, 
 
Os contos de fadas, diferentemente de qualquer outra forma de literatura, direcionam 
a criança para a descoberta de sua identidade e vocação, e também sugerem as 
experiências que são necessárias para desenvolver ainda mais o seu caráter. Os 
contos de fadas dão a entender que uma vida compensadora e boa está ao alcance da 
pessoa apesar da adversidade – mas apenas se ela não se intimidar com as lutas 
arriscadas sem as quais nunca se adquire a verdadeira identidade. [...] As histórias 
também advertem que aqueles que são temerosos e tacanhos a ponto de não se 
arriscarem à autodescoberta devem se contentar com uma existência enfadonha – se 
um destino ainda pior não recair sobre eles. (BETTELHEIM, 2010, p. 34). 
 
 O tema psicológico denominado por Freud como Complexo de Édipo descreve a 
situação que ocorre no conto: a princesa consegue o amor do pai, que afirma que nenhuma 
outra mulher chegará aos seus pés, pois a mãe que era considerada perfeita, está morta, e a 
princesa é vista como uma versão melhorada e rejuvenescida da rainha. 
 Quanto ao vestido da pele do asno morto, de acordo com Diana Lichtenstein Corso e 
Mário Corso (2006) representa a morte simbólica da infância, pois é o momento em que a 
princesa sai de casa, buscando a sua independência e não é mais a filha do rei. 
 No fim do conto, o pai de Pele de Asno chega no dia do seu casamento com o 
príncipe, a abraça e aparentemente ela o perdoa. Os autores de “Fadas no Divã” acreditam que 
isso se deve a uma dedução que ocorre nas histórias de princesas: 
 
[...] algum tipo de reconciliação com o pai é necessária. É preciso algum acordo para 
que se possa transferir o amor que o pai e a filha tinham entre si para outro homem. 
No fim, ele deve comparecer para entregá-la ao herdeiro desse afeto inaugural. 
(CORSO e CORSO, 2006, p. 99). 
 
 Embora no conto, Pele de Asno se sinta contrariada por ter sido escolhida para ser a 
esposa do pai, segundo Corso e Corso (2006),

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