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AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA Profᵃ.: Fernanda Sarges A avaliação neurológica faz parte da anamnese e do exame físico geral do paciente SISTEMA NERVOSO ORGANIZAÇAO GERAL DO SISTEMA NERVOSO ORGANIZAÇAO GERAL DO SISTEMA NERVOSO ORGANIZAÇAO GERAL DO SISTEMA NERVOSO ORGANIZAÇAO GERAL DO SISTEMA NERVOSO FUNÇÃO CEREBRAL O EXAME NEUROLÓGICO • A avaliação neurológica compreende 5 etapas: – Função cerebral – Nervos cranianos – Sistema motor – Sistema sensitivo – Reflexos AVALIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA • Percepção do indivíduo consigo mesmo e com o meio ambiente em que vive. • Significa que o mesmo responde às perguntas e/ou comandos de forma clara, objetiva e orientada. • O nível de consciência expressa o grau de alerta comportamental do indivíduo, o estado de alerta e vigília. AVALIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA • Necessária capacidade cognitiva preservada para a maior parte do exame; • No conteúdo são realizadas as seguintes avaliações: • atenção e concentração, • memória, • estado afetivo, • linguagem, • raciocínio e orientação. ORIENTAÇÃO • É a consciência de tempo, espaço e pessoa. Pode-se fazer algumas perguntas sobre identificação pessoal, nome, profissão, etc. • Na avaliação temporal: perguntar mês, dia da semana, dia do mês. • Na avaliação espacial: perguntar sobre o local onde o paciente se encontra, o endereço de sua casa, etc. AVALIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA • Elementos básicos para a avaliação do nível de consciência: – Perceptividade: corresponde a respostas complexas, como gestos e palavras, ou mais simples, como piscamento à ameaça. – Reatividade: relacionada com mecanismos presentes desde o nascimento, como visão, audição, reação de despertar, reação de orientação e reações focais e gerais à dor. ESTÍMULOS • Auditivos: inicialmente tom de voz normal, se não houver resposta elevar tonalidade. Na presença de respostas, avaliar o grau de orientação do paciente. • Táteis: podem ser aplicados junto aos auditivos para despertar o paciente. Se não ocorrer resposta, estímulos dolorosos devem ser aplicados. ESTÍMULOS • Dolorosos: método mais indicado é a aplicação de uma compressão perpendicularmente ao leito ungueal proximal (mãos ou pés), com a ajuda de instrumentos (caneta, lápis ou a própria unha). • Outras áreas: região supra orbital, músculo trapézio e esterno. • Estímulos intensos e repetidos podem causar lesões na pele, hematomas ou outros traumatismos locais e psicológicos. ALTERAÇÕES NO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA • Rebaixamento do nível de consciência é o parâmetro mais sensível de insuficiência encefálica. • Pode ter início com pequena confusão mental, com dificuldade de elaboração de frases e armazenamento de informações, podendo chegar à sonolência até o coma. ALTERAÇÕES MAIS COMUNS Letargia ou sonolência Estado confusional agudo ou delirium Obnubilação Estupor ou torpor Coma ALTERAÇÕES MAIS COMUNS • Letargia ou sonolência: paciente acorda ao estímulo auditivo, está orientado no tempo, espaço e pessoa, responde lenta e vagarosamente ao estímulo verbal, à elaboração de processos mentais e à atividade motora. • Cessado o estímulo verbal, retorna ao estado de sonolência. ALTERAÇÕES MAIS COMUNS • Estado confusional agudo ou delirium: sintomas de início agudo, de caráter flutuante e com intervalos de lucidez. • Pode apresentar um ou + sintomas: inatenção aos estímulos, diminuição da capacidade de concentração, desorganização e incoerência do pensamento, desorientação em relação ao lugar e ao tempo, distúrbios de memória, rebaixamento do nível de consciência (sonolência), entre outros. ALTERAÇÕES MAIS COMUNS • Obnubilação: paciente muito sonolento, ou seja, necessita ser estimulado intensamente, com associação de estímulo auditivo mais intenso e estímulo tátil. • Pode responder a comandos simples (p. ex.: quando solicitado para colocar a língua para fora da boca). • Responde apropriadamente ao estímulo doloroso. ALTERAÇÕES MAIS COMUNS • Estupor ou torpor: • É uma falta profunda de resposta caracterizada por somente se conseguir despertar a pessoa durante um período breve de tempo e só com uma estimulação enérgica e repetida, mas sonolento, não responsivo, necessitando de estimulação dolorosa para responder. • Responde apropriadamente ao estímulo doloroso, apresenta resposta com sons incompreensíveis e/ou com abertura ocular. ALTERAÇÕES MAIS COMUNS • Coma: estado em que o indivíduo não demonstra conhecimento de si próprio e do meio ambiente, com ausência do nível de alerta, ou seja, inconsciente, não interagindo com o meio e com os estímulos externos, permanecendo com os olhos fechados, como em um sono profundo. • Neste estado o paciente apresenta apenas respostas de reatividade. • A monitorização neurológica é uma avaliação e acompanhamento de dados fornecidos por aparelhagem técnica das alterações do sistema nervoso e é a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) o local destinado para este tipo de monitorização. Estas unidades possuem espaço físico específico, recursos humanos especializados e instrumentais tecnológicos avançados que permitem o melhor controle de pacientes com alterações neurológicas Avaliação Neurológica Clínica: → Escala de coma de Glasgow → Pupilas → Força muscular → Sinais de Babinski, Kerning, Brudzinsk Escala de Coma de Glasgow Pontos 1. Abertura ocular Espontânea 4 Comando verbal 3 Estímulo doloroso 2 Ausente 1 2. Melhor resposta motora Obedece comandos 6 Localiza estímulos dolorosos 5 Flexão/retirada inespecífica 4 Postura de decorticação 3 Postura de descerebração 2 Ausente 1 3. Melhor resposta verbal Conversa orientada 5 Conversa desorientada 4 Palavras inapropriadas 3 Sons incompreensíveis 2 Ausente 1 Total (3-15 PONTOS) ESCALA DE GLASGOW ESCALA DE GLASGOW 2013 1972 Solta!Almoço!Não Em que ano estamos? Hugh! Ahrr! ESCALA DE GLASGOW Escala de Coma de Glasgow Pediátrica Pontos 1. Abertura ocular Espontânea 4 Comando verbal 3 Estímulo doloroso 2 Ausente 1 2. Melhor resposta motora Obedece comandos 6 Localiza estímulos dolorosos 5 Flexão/retirada inespecífica 4 Postura de decorticação 3 Postura de descerebração 2 Ausente 1 3. Melhor resposta verbal Balbucio 5 Choro irritado 4 Choro à dor 3 Gemido à dor 2 Ausente 1 Total (15 PONTOS) Coma Grave Moderado Leve Score < 8 9 – 12 13 – 15 Classificação do paciente A escala de coma serve para classificar os paciente em coma. ESCALA DE COMA DE GLASGOW ESCALA DE COMA DE GLASGOW • Quando a pontuação for inferior ou igual 8, faz-se necessário a avaliação dos demais parâmetros: – Pupilas – Motricidade ocular – Padrão respiratório – Padrão motor GRAUS DO COMA • Coma grau I – Vigil, o paciente mantém resposta à dor, reflexos tendinosos e SSVV +; • Coma grau II – Leve, a resposta a dor ausente e os reflexos tendinosos ausentes, mas os SSVV +; • Coma grau III – Profundo, a resposta a dor e os reflexos tendinosos ausentes, mas os SSVV presentes; • Coma grau IV – dépassé, a resposta a dor, os reflexos tendinosos e os SSVV ausentes. ESCALA DE RAMSAY NÍVEIS 1-3: PACIENTE ACORDADO Nível 1: ansioso e agitado, ou inquieto, ou ambos. Nível 2: cooperativo, orientado e tranquilo. Nível 3: responde apenas a comandos. NÍVEIS 4-6: PACIENTE DORMINDO, RESPONDE A ESTÍMULOS GLABELARES LEVES OU AUDITIVOS ALTOS Nível 4: respostas altas. Nível 5: respostas lentas. Nível 6: sem respostas. APLICAÇÃO CORRETA DA ECG Analisa o paciente nos parâmetros de abertura ocular, resposta verbal e motora. NÍVELDE CONSCIÊNCIA DA VÍTIMA EXAME PUPILAR Avaliar diâmetro, simetria, assimetria e reflexo fotomotor; Comparar uma pupila à outra; Diâmetro normal: em média 3,5mm; A- ISOCÓRICAS MIDRIÁTICAS C- ANISOCÓRICAS B- ISOCÓRICAS MIÓTICAS D- ISOCÓRICAS NORMAIS ANISOCORIA ANISOCÓRICAS ISOCÓRICAS PUPILAS PADRÃO RESPIRATÓRIO Diencéfalo Mesencéfalo Disfunção pontina baixa Bulbo Respiração cíclica, em três fases, com movimentos cada vez mais profundos atingindo amplitude máxima, seguidos de uma diminuição gradativa, chegando à apnéia. Pode ser observada em idosos e recém-nascidos Respiração de Cheyne-Stokes Respiração arrítmica, com movimentos superficiais ou profundos e cessação dos mesmos por curtos períodos. Causas: meningite e lesão cerebral. Respiração de Biot É caracterizado por amplas e rápidas inspirações interrompidas por períodos curtos de apnéia, após os quais ocorrem respirações profundas e ruidosas, seguidas de pequenas pausas de apnéia. Causas: (cetoacidose diabética). Respiração de Kussmaul FORÇA MUSCULAR • Manobras de oposição de força muscular: • 0 –nada • 1 –só contrai, sem deslocar segmento • 2 –desloca, mas não vence a gravidade • 3 –vence a gravidade • 4 -vence alguma resistência • 5 -vence bem a resistência SINAL DE BABINSKI Está presente em grande parte das lesões neurológicas. Faz-se uma fricção na planta do pé, artelhos se contraem e se unem. Em pacientes com comprometimento do SNC os artelhos se estendem dorsalmente e se afastam SINAL DE KERNING: Paciente em decúbito dorsal,flexionar uma das coxas em ângulo de 90º sobre o quadril, e a perna sobre o joelho, o paciente não deverá sentir dor ao longo do trajeto do nervo ciático, se presente indica meningite, hemorragia subaracnóide SINAL DE BRUDZINSKI Manter os MMII relaxados na posição dorsal ao flexionar a cabeça, quando há flexão dos MMII é sinal de irritação meníngea A Morte Encefálica (ME) é estabelecida pela perda definitiva e irreversível das funções do encéfalo por uma causa conhecida, comprovada e capaz de provocar o quadro clínico. Só existe ME após a perda definitiva e irreversível de todas as funções do tronco cerebral. MORTE CEREBRAL OU ENCEFÁLICA Paciente não responde a comandos Paciente está flácido e sem reflexos nos membros Pupilas não reagem (fixas) Reflexo óculocefálico ausente Reflexo de córnea ausente Reflexo oculovestibular ausente Ausência de respiração espontânea MORTE ENCEFÁLICA Para o diagnóstico de ME é essencial que todas as seguintes condições sejam observadas: 1) Pré-requisitos – diagnosticar a presença e a causa da lesão encefálica responsável pelo quadro atual e a sua irreversibilidade, excluindo possíveis causas reversíveis que simulem o mesmo quadro; MORTE ENCEFÁLICA 2) Exame Clínico - determinar a ausência de função do tronco cerebral em todos os seus níveis; 3) Teste de Apnéia - confirmar a ausência de movimentos respiratórios após estimulação máxima dos centros respiratórios com hipercapnia de 55 mmHg; MORTE ENCEFÁLICA 4) Exames Complementares – determinar a ausência de função do encéfalo através da realização de exames complementares ou como uma complementação ao exame clínico, nos casos em que parte dele não possa ser realizado; MORTE ENCEFÁLICA 5) Repetição do Exame Clínico - confirmar a persistência da ausência de função do tronco cerebral após um período mínimo de observação. INTERVALOS MÍNIMOS ENTRE DUAS AVALIAÇÕES CLÍNICAS NA ME a) de 7 dias a 2 meses incompletos 48 horas b) de 2 meses a 1 ano incompleto 24 horas c) de 1 ano a 2 anos incompletos 12 hora d) acima de 2 anos 6 horas MORTE ENCEFÁLICA B - Ausência de distúrbio hidroeletrolítico, ácido-básico/ endócrino intoxicação exógena severos e não corrigidos. Na presença ou na suspeita de alguma destas condições, a determinação da ME não poderá ser realizada até corrigi-las; MORTE ENCEFÁLICA C - Ausência de hipotermia severa. A temperatura corporal (retal ou oral) deverá ser 32ºC. COMPLICAÇÕES DA ME Principais: Hipotensão; Diabetes insípido; Hipotermia; Distúrbios eletrolíticos (hipopotassemia e hipernatremia) TESTE DE APNÉIA • Ventilar paciente com O2 a 100% por 10 minutos • Descontinuar a ventilação e manter a paciente com cateter com fluxo de 6 l/min (ventilação de difusão) • Observar o paciente por 10 minutos ou até que a PCO2 se eleva para 60 mmHg, valor adequado para estimular o centro respiratório. • Em pacientes com morte cerebral não deve ser constatado movimentos respiratórios. EXAME CLÍNICO A - Pré-requisitos: 1.temperatura corporal 36,5º C; 2. pressão arterial sistólica 90 mmHg (com ou sem drogas vasopressoras); 3. PaO2 normal (ideal 100 mmHg obtido após ventilação com FiO2 100% por, no mínimo, 10 min); 4. PaCO2 normal (ideal 40 mmHg pela diminuição da ventilação-minuto). EXAME CLÍNICO B - Técnica 1. colher gasometria arterial inicial; 2. desconectar a respiração mecânica; 3. instalar oxímetro digital e cateter intratraqueal, ao nível da carina, com fluxo de O2 de 6 litros/min; 4. observar a presença de qualquer movimento respiratório por 8 a 10 minutos; 5. colher gasometria arterial final; 6. reconectar a respiração mecânica. EXAME CLÍNICO C - Interrupção do teste: Caso ocorra hipotensão (PA < 90 mmHg), hipoxemia significativa ou arritmia cardíaca, deverá ser colhido uma gasometria arterial e reconectando o respirador, interrompendo-se o teste. Realiza um giro horizontal da cabeça para um lado, ocasionando desvio conjugado do olhar para o lado oposto, isto mostra que não há lesão cerebral, se forem observados movimentos oculares assimétricos, desconjugados ou ausentes são indicativos de lesão cerebral. REFLEXOS OCULOCEFÁLICO OLHOS DE BONECA REFLEXO DE CÓRNEA Cotonete é passado na córnea com o olho aberto; o cérebro vivo faz com que o olho pisque; o cérebro morto não; isto é feito nos dois olhos. REFLEXOS OCULOVESTIBULAR Consiste na irrigação de água gelada em cada ouvido com a cabeceira do leito a 30º. No paciente acordado a resposta é a presença de nistagmo, na presença de lesão cerebral ocorre um desvio dos olhos para o lado que está sendo irrigado ou ausência de reação. Paciente acordado: Presença de nistagmo Lesão Cerebral: Desvio dos olhos para o lado estimulado ou ausência de resposta Eletroencefalograma Contínuo (EEG contínuo) • As características do EEG contínuo podem auxiliar no prognóstico e na evolução neurológica de doente comatoso, e um sistema de graduação, baseado principalmente na amplitude, mostrou-se útil em tipos específicos de encefalopatias. Eletroencefalograma Contínuo (EEG contínuo) • O EEG contínuo tem sido utilizado em UTI para: • Monitorizar isquemia hemisférica instável; • Detectar a progressão de uma lesão focal; • Diagnosticar convulsões ou potencial para convulsões; • Manejo da sedação e, especialmente, do coma barbitúrico; • Revelar distúrbios cerebrais secundários a medicamentos • Alterações metabólicas, entre outros Eletroencefalograma Contínuo (EEG contínuo) • Status epilepticus convulsivos ou não e isquemia cerebral • vasoespasmo pós Hemorragia Subaracnóidea (HSA) • Em pacientes comatosos • Convulsões agudas ocorrem em até 35% dos pacientes com TCE ou Acidente Vascular Encefálico (AVE) Eletroencefalograma Contínuo (EEG contínuo) Doppler Transcraniano (DTC) • O DTC geralmente é utilizado em UTI para detecção e acompanhamento do: • Vasoespasmo • Avaliação da hipertensão intracraniana • Confirmação de morte encefálica Oximetria Cerebral• O valor normal é de 63% a 70%, sendo que valores inferiores indicam redução na oferta de O2 por hipertensão intracraniana, vasoespasmo e/ ou oclusão vascular. Valores superiores a 70% podem ocorrer no coma barbitúrico ou na hipotermia. • Indicada em pacientes com risco de complicações neurológicas, pois detecta rapidamente hipoxemia cerebral Monitorização da Temperatura Cerebral A temperatura cerebral é determinada por três fatores: Produção local de calor (metabolismo cerebral); Temperatura do sangue arterial (geralmente menor que a cerebral); Fluxo sanguíneo cerebral (que dissipa o calor produzido). A monitorização é através de cateteres intracranianos. Monitorização da Temperatura Cerebral Nos períodos de queda do Fluxo Sanguíneo Cerebral (FSC), existe uma tendência em aumentar a TºC Intracraniana, seguida de queda rápida, se morte encefálica acontecer. A hipertermia (> 38ºC) piora o prognóstico de lesões neurológicas graves. Nos casos tratados sem hipotermia, a temperatura cerebral dever ser mantida em 36,5 a 37,5º C, com hipotermia entre 32 e 34ºC. “Esta vida é uma estranha hospedaria, De onde se parte quase sempre às tontas, Pois nunca as nossas malas estão prontas, E a nossa conta nunca está em dia.” Mário Quintana